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A Inquisição

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Mensagem por William de Baskerville 8/2/2020, 16:24


Genocídio? Assassinato? Se me disserem que as penas eram duras, ok. Mas não vamos exagerar. As punições eram compatíveis com o período... aplicáveis tanto para hereges quanto para criminosos. E mais, a maioria dos processos não terminou em morte. Uma parcela pequena das mortes foi pela fogueira. Na maioria das vezes os réus não eram queimados vivos... tinham os pescoços quebrados e só depois o corpo era queimado. Fiz transcrições paleográficas de alguns processos da Inquisição portuguesa, e nenhum foi concluído com pena capital. Nem ao menos houve tortura física... foi tudo na base do Direito Romano, interrogatórios, arrolamento de testemunhas e vestígios materiais que comprovassem alguma coisa. Tudo muito moderno até. É claro, que tortura existia... e muita, mas tudo dentro do contexto. Ora, até Aristóteles identificava, como um dos recursos para a verdade ser atingida, a tortura, vide "A arte poética". De acordo com o modelo de justiça de nosso tempo, o período anterior ao século XIX parece bastante irracional e violento, mas era coisa da época... não faço julgamentos acerca disto. Não sou religioso, mas prefiro adotar uma postura não-panfletária. Sou historiador antes de tudo.
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Mensagem por Norman, o herege 8/2/2020, 21:13


Mas então, você acha normal torturar uma pessoa para saber se ela pratica o que lhe foi passado por seus ancestrais???
Pois bem, para que se tenha uma ideia, em Lavaur, em 1211, o governador foi enforcado e a esposa lançada num poço e esmagada com pedras; além de quatrocentas pessoas que foram queimadas vivas. No massacre de Merindol, quinhentas mulheres foram trancadas em um celeiro ao qual atearam fogo. Os julgamentos em Toulouse, na França, em 1335, levaram diversas pessoas à fogueira; setecentos feiticeiros foram queimados em Treves, quinhentos em Bamberg. Com exceção da Inglaterra e dos EUA, os acusados eram queimados em estacas. Na Itália e Espanha, as vítimas eram queimadas vivas. Na França, Escócia e Alemanha, usavam madeiras verdes para prolongar o sofrimento dos condenados. Ainda, a noite de 24 de agosto de 1572, que ficou conhecida como "A noite de São Bartolomeu", é considerada "a mais horrível entre as ações inquisidoras de todos os séculos". Com o consentimento do Papa Gregório XIII, foram eliminados cerca de setenta mil pessoas em apenas alguns dias.

Além da Europa, a Inquisição também fez vítimas no continente americano. Em Cuba iniciou-se em 1516 sob o comando de dom Juan de Quevedo, bispo de Cuba, que eliminou setenta e cinco hereges. Em 1692, no povoado de Salem, Nova Inglaterra (atual E.U.A.), dezenove pessoas foram enforcadas após uma histeria coletiva de acusações. No Brasil há notícias de que a Inquisição atuou no século XVIII. No período entre 1721 e 1777, cento e trinta e nove pessoas foram queimadas vivas.
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Mensagem por William de Baskerville 8/2/2020, 21:28


Nossa...

... que mistura. Onde se liga a instituição Inquisição, a Noite de São Bartolomeu (nem sabia que a Catarina de Médici era do clero) e o caso das "Bruxas de Salem"???
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Mensagem por William de Baskerville 8/2/2020, 21:34


Não é o caso de achar normal ou não. Só recomendo não transpormos a nossa moralidade para outras épocas e outras culturas. Cada sociedade tem suas particularidades. A prática da tortura não é aceita nem legalmente e nem moralmente na atualidade, todavia, até bem pouco tempo era um procedimento institucionalizado. Ainda existem países em que isto é prática cotidiana, como em Cuba, China e Coréia do Norte. E isto independe de religião! Isto independe de qualquer ensinamento ou não da Igreja Católica. Se você me disser que isto tem relação com controle, tudo bem. Se você disser que tem relação com manutenção da ordem, melhor ainda. Mas a tortura não é instrumento da Igreja, é prerrogativa dos poderes laicos, mais precisamente dos reis! A Inquisição só atuava com a permissão dos reis, sem isto não haveria processo e nem investigação. E não era uma perseguição ciumenta contra a ''Deusa Mãe'' ou algo assim. É algo muito mais complexo. Ainda mais que tal ''divindade'' jamais foi cultuada no passado. Eu diria que é uma ''divindade da Antiguidade inventada no mundo contemporâneo''. É um constructo teórico que não foi fundamentado em análises de fontes, mas que tem uma aceitação incrível devido à sua simplicidade. Lamento dizer que isto é um mito contemporâneo ultra valorizado em um contexto de certo movimento feminista, que busca uma identidade, inclusive religiosa em oposição ao ''Deus pai todo poderoso''. Em resumo, falar de Inquisição não é algo simples e que não dá para ser tratado em poucas linhas. Não sou especialista no tema, mas o que posso dizer é que as mortes não foram tão grandes assim. O que existe é uma perspectiva anticlerical bastante forte, fato que possibilita o exagero de determinadas situações. Houve mortes pela Inquisição? Sim, mas pouquíssimas pessoas foram queimadas vivas.
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Mensagem por William de Baskerville 8/2/2020, 21:37


A maioria dos casos terminava com penitência pública, ou seja, era obrigado a ir todo dia à missa, vestir um tipo de roupa que identifique o seu crime, etc., etc. Eu só posso recomendar que se evite clichês...
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Mensagem por William de Baskerville 8/2/2020, 21:38


As sentenças eclesiásticas só tinham força de lei com apoio dos poderes laicos, como adverte André Vauchez. Contudo, a referência de que as prisões de criminosos religiosos tem origem em mosteiros só vi no bizonho filme "Rei Arthur" (Pô, que decepção eu tive com este filme!). Pelo que me consta, as punições físicas eram prerrogativas dos poderes seculares... bom... que autor cita a os cárceres monásticos?
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Mensagem por William de Baskerville 8/2/2020, 21:42


Especulação, bom, todos nós temos liberdade para isso. Mas não devemos confundir ilações com hipóteses. Vou partir da reflexão do José D’Assunção para quem a ''hipótese'' é um tipo de uma formulação provisória que, com o tempo, iremos demonstrar ao longo da pesquisa. A hipótese precisa ser sempre na afirmativa e com base sempre em situações possíveis e admissíveis. Eu, por formação, baliso minhas análises desta maneira. Se eu for menos científico eu viro romancista. O fato de acompanharmos as reflexões de outros autores não significa de maneira alguma que não temos liberdade para pensar. O uso de bibliografia é a demonstração de que pensamos com nossas próprias cabeças. Reconheço a utilidade dos trabalhos de pessoas que trilharam um dado caminho antes de mim. Eu não tenho, no momento, como levantar uma farta documentação, produzida por um período amplo e em uma extensão geográfica nem um pouco pequena. Ou seja, não é possível começar nada do zero! Sem fontes o nosso trabalho vai p’ro brejo. Sem bibliografia também! Eu faço conjecturas com base em testemunhos do passado. Os dados produzidos por uma sociedade em uma determinada época são limites seguros para as ''especulações''. Sem isso, nós apenas ''viajamos na maionese''. Sendo assim, eu não posso concordar com a ideia de que a Igreja usou os poderes laicos para se eximir da culpa das torturas. A Igreja nunca pensou desta maneira! Procure saber sobre a ''Teoria dos Dois Gládios'' (ver Walter Ulmann). Cada ''gládio'', ''celeste'' ou ''terreno'', tem as suas atribuições! A Inquisição se propôs a superar um grande mal! Portanto, a Igreja e os poderes laicos não se esforçaram para esconder nada! Uma coisa que posso ter plena segurança é que os únicos documentos confiáveis são aqueles produzidos pela Igreja.
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Mensagem por Vlad Tepes III 8/2/2020, 22:03


Estou lendo muitas coisas sobre a inquisição e em mim se instalou uma dúvida, mas não sei se saberei dizer com exatidão o que quero questionar, mas vou tentar: É sobre o suplício das torturas e os requintes de crueldade e consequentemente a morte do réu. É sobre os instrumentos utilizados para sacrificar e humilhar as criaturas... Qual era verdadeiramente o "motivo" dos tribunais? Seria impor o domínio pelo medo? Ou seria um meio de resgatar a alma pelo suplício do corpo terreno e corruptível? Será que os inquisidores tinham em mente por intermédio das torturas e condenações resgatar a alma atemporal? Talvez a mentalidade da época era redimir os pecadores através dos meios utilizados, talvez "eles" - os inquisidores - acreditavam que aquilo era o correto, bem, eu não sei mesmo como fazer a pergunta. Uns defendem a ideia de ter sido um crime contra a humanidade, um pecado da igreja, mas na cabeça do clero - naquele tempo - talvez, não acreditavam que estavam cometendo um ato horrível, mas resgatador? Qual é a verdade da inquisição? Alguém poderia me dar uma luz?
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Mensagem por William de Baskerville 8/2/2020, 22:19


Vlad, o negócio não é simples. Existiram dois momentos em que a Inquisição foi empregada. No começo da Baixa Idade Média e no começo da Idade Moderna. No primeiro momento, o surgimento desta instituição se relaciona com a Reforma Gregoriana, ou seja, relaciona-se com a necessidade da Igreja em suprimir desvios ainda presentes. Isto se insere em um contexto mais amplo não apenas relativo à Igreja, mas também às instituições punitivas das realezas da Baixa Idade Média. Quem aplicava o suplício e a pena de morte era a realeza e não a Igreja. Estamos em um momento em que os entraves feudais (no sentido de fragmentação territorial e poliarquia) foram sendo progressivamente superados pelos reis capetíngios, por exemplo. Tal situação de centralização política e administrativa, ocorria paralelamente com a concentração nas mãos dos reis de poderes de julgar e punir que antes eram partilhados por um número bastante alto de nobres e aristocratas. Falo no período que se segue após o século XII. Os suplícios são instrumentos do governo laico! Não eram apenas um instrumento para perseguir desvios religiosos... eram os mesmos instrumentos para punir o ladrão comum. Uma coisa que não podemos nunca esquecer é que religião e política eram bem próximos, nas instituições de governo na Europa Ocidental, até o século XVIII. Eu nunca li um processo de inquisição medieval, apesar de ter o processo dos Templários na íntegra em latim (surgiu a dúvida, foi a Inquisição ou foi o rei Felipe o Belo que pegou os caras?). Mas li sim alguns processos inquisitoriais portugueses no século XVII. Para minha tristeza, ninguém morreu! Segundo um professor, especialista no setor, raros foram os casos de pessoas queimadas vivas... tal punição não era usada a torto e a direito. A crueldade aplicada aos acusados era a violência do sistema penal da própria época... tanto para hereges quanto para criminosos comuns... Tem muito exagero do Edgar Allan Poe, em "O poço e o pêndulo", que caiu no senso comum...
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Mensagem por Vlad Tepes III 8/2/2020, 23:08


Por que Joana D'arc foi queimada em praça pública? Ela era apenas uma menina heróica - com visões -, e por que Carlos VII não pôde fazer nada por ela, a não ser reabilitar publicamente a sua memória? O que havia por detrás da acusação de heresia, se ela era tão religiosa e ordenada por Santa Catarina e Santa Margarida (ordenando-lhe salvar a pátria)? Eu não entendo...
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 01:48


Ai, ai... e o senso comum continua... Marc Bloch e Lucien Febvre devem estar se revirando no túmulo agora...
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 01:51


Não olhe com os olhos de alguém dos séculos XX e XXI. Procure compreender as sociedades do passado com base na lógica delas mesmas. Usar os termos ''crimes contra a humanidade'', ''requintes de crueldade'', ''mistério'' ou ''verdadeiros motivos dos tribunais'' atrapalham um pouco, pois assim não se poderá entender as dinâmicas que possibilitam a existência da Inquisição. Vamos, portanto, por partes. Vamos tentar analisar cada um dos elementos passo a passo.
1) Não existe verdade mascarada. A Inquisição não era uma conspiração secreta. Suas motivações eram públicas. O mistério é criado pelos homens de nosso tempo que não tiveram oportunidade de analisar uma bibliografia dedicada ao tema ou as fontes do período. O ''mistério'', na verdade, é desconhecimento. A missão da Inquisição era identificar, punir e corrigir desvios dentro da sociedade cristã. Não há o que se esconder quanto a isto. As suas ações eram bem compreendidas pelos homens de seu tempo, pois estava inserida dentro de uma visão de mundo que era compartilhada pelas pessoas da Baixa Média, por exemplo. Não é nossa visão de mundo! E isto faz toda a diferença. É como se estivéssemos vendo uma cultura exótica, uma outra sociedade, e não o nosso passado. É aí que a influência da Antropologia tem que se fazer presente. Devemos tirar de nossos olhos os preconceitos dos contemporâneos e buscar respeitar as diferenças existentes de nossas sociedades com relação às outras. Creio que o Jacques Le Goff adverte sobre isto no livro ''Para um novo conceito de Idade Média'', Ed. Estampa. Este é um importante ponto de reflexão.
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 01:55


2) Outra coisa que não deve ser nunca esquecida é que a Cristandade, até o começo da Baixa Idade Média, estava fracionada (isto não significa em conflito, devo advertir!). Este fracionamento era decorrente de distâncias geográficas, tradições locais, da velocidade de avanço do cristianismo sobre a Europa, etc., situação que deu origem a uma diversidade ritualística, calendário litúrgico, santos, etc., diversidade chamada, por Peter Brown, de ''Microcristandade'' (ver ''A ascensão do Cristianismo'', Ed. Presença). Somente no avançar do século X e XI vai-se desenvolvendo a ideia de maior integração entre as demais regiões católicas, que passam a experimentar um processo de homogeneização de ritos, calendários e hierarquia eclesiástica. Pois é, o Papa, no período precedente a este movimento não era poderoso, era uma pessoa de prestígio na Cristandade Ocidental. Investiu-se na unificação institucional da Igreja em boa parte da Europa. Isto se relaciona com aquilo que chamamos de ''Reforma Gregoriana''.
3) A ''Reforma Gregoriana'', proposta por Urbano II e Gregório VII, foi um projeto de tentativa de reorganizar, moralizar e libertar a Igreja Católica. Reorganizar diante da fragmentação e dispersão do período precedente. Moralizar devido aos evidentes casos de simonia e nicolaismo. Ou seja, os membros do alto-clero corrompidos eram bastante criticados pela população. O comportamento dissoluto, a avareza, a concupiscência e o apego aos bens materiais começaram a ser duramente questionados. Agrega-se a isto a intensa ingerência imperial nos assuntos da Sé de Roma. Os Imperadores Germânicos interferiam nos assuntos políticos, administrativos e religiosos de competência papal. A eleição do papa dependia da formação de um colégio de bispos indicado pelo imperador. Os cargos eclesiásticos eram vendidos para o benefício imperial. Contra isto muitos clérigos se rebelaram, participando ativamente da renovação e libertação da Igreja os monges de Cluny.
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 02:00


4) Como eu havia comentado... o negócio não é simples! A história da Igreja se entrecruza com outras dinâmicas, que possibilitaram o surgimento da Inquisição. Ela não está isolada do mundo! Ela sofre as injunções de seu tempo! Por exemplo, o processo de ''fortalecimento das monarquias medievais''. A superação da fragmentação feudal (não confundir com a divisão existente com a ''Microcristandade'') foi a meta das realezas da Baixa Idade Média. Só para resumir, o fortalecimento monárquico envolvia a centralização da administração e do fisco, além da formação de um sistema judiciário que se confronta com aqueles possuídos pelos ''senhores feudais''. Neste contexto, ainda não existiam tribunais, na acepção contemporânea do termo, ao contrário, até então, praticamente não havia nada parecido. A punições corporais e outras de outro tipo quase não existiam. Não havia alguém que tivesse o direito legítimo de aplicar tal coisa. Numa sociedade ainda marcada pela ausência de leis escritas, mas sim guiadas pelos costumes, o ''vergeld'' e a ''faida'' imperavam. O ''vergeld'' era o pagamento, uma taxa paga pelo crime cometido. Quando o ''vergeld'' não funcionava, quando a parte lesada e a parte que provocou a lesão não entram em acordo (coisa extremamente comum!), aplicava-se a ''faida''... a vingança de sangue! Esta é a justiça privada! Olho por olho, dente por dente! Justiça feita com as próprias mãos. Tal cenário era prejudicial à manutenção do bem estar social... é nesta situação que os reis vão agir. Os reis fortalecidos, como Filipe Augusto, começaram a criar um sistema penal inerente ao próprio governante. O rei, na concepção do tempo, era o mantenedor da ordem e da paz. A lei emana da atividade régia! O rei agia por meio das ações, também, de seus agentes e de suas leis. É aí que começa (ou recomeça) o uso da tortura pelos governantes contra um prisioneiro! São instrumentos do governante! São ferramentas da justiça do rei! É o rei quem pune, é o rei que manda matar. O rei tem a ''majestas'' a ser aplicada em seu reino!
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 02:04


5) Estou excluindo, para fins didáticos, as resistências à aplicação desta ação, ok? A tentativa das monarquias de se libertarem da fragmentação do cenário precedente é mais ou menos similar ao vivenciado pela Igreja Católica. A diferença está no fato de a Igreja não dispor de uma justiça régia. A violência era prerrogativa do rei! A justiça era aplicada sobre um súdito do rei... nunca se deve esquecer isto. A Inquisição foi aplicada na França? Claro! Com a permissão do rei! Em Portugal, no Medievo, a Inquisição parece não ter atuado. E isto não causou constrangimento algum no seu tempo. Esqueça esse negócio de dizer que foram ''crimes contra a humanidade''. Isto é totalmente errado e anacrônico! Você pode não gostar... isto é direito seu! Não se deve repreender algo assim... isto é de foro íntimo. Só chamo a atenção para o fato de não se levar em consideração a visão de mundo do tempo em questão. A violência aplicada naquele tempo é compreensível! Não é nossa! Nós temos a nossa violência! O ponto que não deve ser perdido de vista é que a violência, a tortura, a crueldade é algo pertinente exclusivamente ao rei! O criminoso-herege era investigado... interrogado, entregue ao ''braço secular'', ou seja, ao governo, que fazia a parte dele, enviando novamente ao tribunal do Santo Ofício, que liberava ou não o indivíduo. Dependendo da situação, o herege era entregue ao ''braço secular'' novamente, que se encarregava de ''amaciar'' o cara. Se o crime fosse muito, muito grande, o herege era morto. Dependendo do crime, haveria uma maneira de punir e matar. Isto é trabalho do rei e seus agentes! Só deles! Com ou sem Inquisição, era assim que a justiça régia agia. A tortura não é algo aceitável na atualidade... isto é fato! Todavia, estamos falando de um mundo em que ela era um instrumento legítimo para se chegar à verdade... Até Aristóteles, na "Arte Poética", elenca entre os meios de se chegar à verdade a própria tortura...
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Mensagem por Vlad Tepes III 9/2/2020, 02:23


Mas, e a Joana?
Se era católica e, portanto, muito religiosa. Se recebeu permissão do rei de ir à frente de dez mil homens socorrer Orleans, se venceu e aprisionou o célebre Talbot, permitindo a Carlos VII entrar em Reims, onde foi coroado rei de toda a França, por que o rei permitiu que os ingleses anulassem o prestígio da heroína da França? É sabido que a guerra prosseguiu ainda alguns anos, sempre com a vitória dos franceses animados com o exemplo que ela deixou, de confiança inabalável.
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 03:09


Olha, creio que o caso da Joana D'arc não se relaciona à Inquisição, exatamente, mas, parece, a um caso de política. Não é o caso do rei francês permitir ou não a captura... o fato é que a captura houve, pela ação dos ingleses e seus vassalos... a Joana foi transferida para território sob domínio ou sob esfera de influência inglesa, lugar onde se aplicava a justiça do rei inglês. O resto é o resto. Agora, se você me perguntar: "Alguém poderia pagar um resgate por ela?"... Eu responderia: "sim!". O resgate ou "redemptio" existia, mas nem sempre era aplicada, pois, uma das partes precisaria aceitar a oferta e/ou deveria haver alguém interessado em resgatar o cativo... via de regra, os interessados eram parentes. O rei não resgatava os seus súditos. Estamos, neste caso, nos afastando do tema religião e estamos nos direcionando para o campo da política e do direito medieval... Uma dúvida, Vlad, você é de História?
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Mensagem por Conde de Monte Cristo 9/2/2020, 05:33


Joana D'Arc foi morta num tribunal inquisitorial ilegítimo, do qual a Santa Sé depois de muito tempo ficou sabendo, sob a atroz observância do Rei da Inglaterra, diretamente interessado na morte de uma inimiga política...

Depois deste fato, não demorou muito, dez anos depois, um cardeal proclamou a irrazoabilidade da ação. Um cardeal representante da Santa Sé.

E não existe só um fato onde um tribunal eclesiástico foi gerado ilegitimamente por causa de um anseio político exacerbado.Tanto por parte de membros da Igreja quanto por parte de membros do poder secular.

Felipe, o Belo, e os Templários é um exemplo disto...

Marquês de Pombal e o padre jesuíta Malagrida, padre que foi queimado injustamente ...

Mas o tribunal da inquisição não pode ser taxado por conta de julgamentos à revelia...

A inquisição foi criada para expurgar a heresia cátara...

E não é difícil deduzir do que aconteceria com a civilização se esta heresia tivesse tomado proporções maiores e tivesse domado o ocidente ...
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Mensagem por Conde de Monte Cristo 9/2/2020, 05:35


Apesar da inquisição estar intrisecamente ligada ao ideário religioso de uma época, não podemos negar que ela tinha um fim secular: MANTER A ORDEM.

Em outros tempos sabemos bem como era vista uma desarmonia entre alguma realidade estatal-religiosa, não só na Idade Média. Esta desarmonia era manifestada por meio de uma crença religiosa ou não que poderia ser considerada perniciosa.

No Egito Antigo também se punia hereges com morte, e não só no Egito.

Era uma questão de ordem manter o equilibrio e o purismo de uma determianda crença ligada, em algum grau, ao poder do estado.

Claro que não podemos acreditar que existia uma sintonia plena entre poder secular e religioso. O citado aqui Felipe, o Belo, até sangue papal tinha em mãos, como bem sabemos...
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 13:45


Isso mesmo... ainda mais quando tratamos de civilizações em que as esferas política e religiosa não eram de todo separadas... o vocabulário político medieval, por exemplo, expressava-se com base no vocabulário religioso. Portanto, questionamentos religiosos poderiam muito bem se reverter em perigo político. Creio (devo admitir que não conheço direito a história) que o caso dos Albigenses ilustraria bem tal situação. Uma coisa que havia esquecido de dizer e relacionar é que a formação de um aparato complexo de administração e punição envolve custos financeiros... aí entra a arrecadação de impostos e também o confisco de bens daqueles que passavam pelo Tribunal do Santo Ofício. Não tenho certeza plena (como disse, não é minha área de especialização) que isto também valeria para o caso medieval, mas para o moderno isto ocorria. Cheguei a transcrever alguns processos portugueses durante um curso na Graduação, e todos indicavam a prática do confisco. A tomada dos bens dos acusados era muito bem visto pelo tesouro régio.
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 13:46


Acrescento ainda outra coisa na discussão... existe uma forte perspectiva anti-clerical que atrapalha uma melhor compreensão do fenômeno histórico chamado Inquisição. Para se empreender uma análise apurada sobre o tema, o pesquisador precisa evitar determinados clichês que o cercam. Às vezes as respostas não estão exatamente na análise sobre a religião por si só, faz-se necessário trazer outros campos para enriquecer a análise.
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 13:59


Outra dúvida... Vlad, que livros exatamente você está lendo sobre a Inquisição?
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Mensagem por Vlad Tepes III 9/2/2020, 14:36


Você acha válido discutir - para esclarecer - o conhecimento sobre o período inquisitorial, sob a perspectiva de sua influência através dos séculos, desde que excetuemos o ponto de vista dos dogmas ou registros de quaisquer religiões? E respondendo sua pergunta: Não estou lendo nada específico, mas Joana D'arc de Luc Besson, me chamou a atenção sobre o tema.
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Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 14:51


Acho legal levar em consideração não apenas a religião em si mesma, mas também a sua inserção em uma sociedade, em um tempo e um lugar específicos. Questões relativas às doutrinas, canones ou dogmas são vitais, mas não podem ser vistas sozinhas (vide a obra do André Vauchez). Como eu disse no começo, o tema é complexo. O caso da Joana D'Arc é "sui generis", aí, efetivamente, a política falou mais alto. É uma pena que eu não li as crônicas dedicadas à Guerra dos Cem anos ou as atas do processo da Joana, isto ajudaria em delimitar a situação deste personagem histórico. Conhecer os pontos de vistas da documentação da época seria primordial, infelizmente não disponho de muito tempo para isso. Estes materiais estão disponíveis no Books Google e na Gallica (site da Bibliteca Nacional de França) em formato pdf. Creio que uma visita às fontes e à bibliografia ajudaria a elucidar certas dúvidas. De uma maneira geral, eu apenas isolo um objeto de análise para fins didáticos e para circunscrever meu ponto de análise. Todavia, para enriquecer o debate e evitar distorções, torna-se necessário dialogar o objeto "isolado" com um todo mais amplo.
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A Inquisição Empty Re: A Inquisição

Mensagem por William de Baskerville 9/2/2020, 14:53


Vlad, concordo contigo com relação ao filme do Luc Besson, é impossível ficar indiferente diante da história da "Pucelle d'Orléans". E é aí que entra outra coisa, a construção do mito da própria Joana D'Arc... mito nacional ou mito canonizado, mas isto são outros quinhentos...
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