A Pólvora

Pessoal, tenho aqui umas dúvidas...

Como foi a adoção da pólvora nos exércitos? Foi rápida ou lenta? Predominante em que regiões?

E o que mais me deixou curioso: Quais as possíveis mudanças e influências que a utilização dela gerou na sociedade? Por exemplo, seu uso além do bélico? Ou por exemplo, o fato de um camponês qualquer, ou outro indivíduo sem instrução estar hábil a matar um nobre cavaleiro encouraçado? Como estas mudanças refletiram na sociedade a curto, médio e longo prazo?

A pólvora foi descoberta por acidente, quando tentavam descobrir o elixir da longa vida, já que o imperador tinha verdadeira obsessão por viver para sempre. hehehe O problema foi que a coisa explodiu. Portanto, a primeira pólvora a ser descoberta foi a negra, que é altamente explosiva.

O problema não era só a pólvora.
O difícil era fazer um canhão.

A partir de quando os canhões começaram a fazer a diferença no campo de batalha?

Para derrubar muralhas ou no campo de batalha?

No começo do século XV os canhões já serviam bem para abrir brechas nas fortalezas, mas no campo de batalha, como artilharia, Napoleão foi o mestre.

A pólvora foi criada ainda na primeira dinastia chinesa como remédio. Embora fosse usada fortuitamente em guerra, desde então, como era perigosa pra quem manuseava, os caras ficavam mais na pirotecnia e no efeito moral do clarão e do barulhão contra inimigos que não conhecessem a coisa. O grande impulso no uso da pólvora foi quando ela chegou na Europa via islâmicos e se encontrou com a tecnologia da fabricação de sinos de metal. Quem diria, foram os sinos que inspiraram os canhões! Como já falamos, eles eram antes de mais nada armas de assédio e tiveram um rival de peso na época de sua introdução, o trebuchet, invenção islâmica provavelmente inventado no Egito. O rei inglês Eduardo I chegou a usar canhão e trebuchet no mesmo assédio a um castelo escocês.

Armas de fogo portáteis só foram substituir o arco muito tardiamente no século XVIII, porque a cadência de tiro dos mosquetes era sofrível. Os caras tentaram cobrir esta deficiência com formações se alternando conforme a fase do ciclo disparo-recarga. No Japão esta alternância mudou as guerras samurais intermináveis e possibilitou mobilidade social e unificação, porém o governo do Japão recém-unificado, vendo o perigo social da arma de fogo, deu uma congelada na evolução militar do Japão em nome da manutenção da uniao e da independência de europeus.

A questão de se a arma de fogo na Europa liquidou a cavalaria pesada medieval me parece um mito. O renacimento das cidades, do estado nacional capaz de recrutar, equipar e treinar infantes me parece ser a causa militar mais crítica. Um quadrado de besteiros e piqueiros suíços parou a cavalaria pesada feudal da Borgundia e do Sacro Império sem arcabuzes ou canhões.

Parece, Vlad, que foi encontrado um manuscrito chinês (aliás, foi escrito em tiras de bambu, costuradas umas nas outras), que relata como eram fabricadas certas armas que usavam, já na primeira dinastia, a pólvora como explosivo. E os historiadores chineses tentaram refazer essas armas, inclusive uma espécie de granada feita de um recipiente de barro cheio de pólvora e com um pavio... Parece que a pólvora também era usada em canhões muito rudimentares. Mas os chineses não usaram a pólvora somente para fazer fogos de artifício. Eles já conheciam o uso dela para a guerra.

Vlad Tepes III escreveu:
A pólvora foi criada ainda na primeira dinastia chinesa como remédio. Embora fosse usada fortuitamente em guerra, desde então, como era perigosa pra quem manuseava, os caras ficavam mais na pirotecnia e no efeito moral do clarão e do barulhão contra inimigos que não conhecessem a coisa. O grande impulso no uso da pólvora foi quando ela chegou na Europa via islâmicos e se encontrou com a tecnologia da fabricação de sinos de metal. Quem diria, foram os sinos que inspiraram os canhões! Como já falamos, eles eram antes de mais nada armas de assédio e tiveram um rival de peso na época de sua introdução, o trebuchet, invenção islâmica provavelmente inventado no Egito. O rei inglês Eduardo I chegou a usar canhão e trebuchet no mesmo assédio a um castelo escocês.

Boa explicação, só um adendo:
O Trebuchet é uma arma de origem chinesa, de acordo com a wikipédia, inventado no ano 400 a.C.

Bom, de acordo com a boa wikipedia inglesa:

It is believed that the first traction trebuchets were used by the Mohists in China as early as in the 5th century BC descriptions of which can be found in the Mojing (compiled in the 4th century BC).

AQUI, estava se falando claramente do trebuchet de tração. Há uma longa evolução da funda ao trebuchet que conhecemos que é o trebuchet de contrapeso. Funda > funda-bastão (que parece com bastão do jogo lacroix) > trebuchet de tração > trebuchet de tração portátil (invenção bizantina) e finalmente o trebuchet de contrapeso. Mas adiante o texto fala...

The Chinese named the later counterweight trebuchet Huihui Pao (Muslim Weapons, "huihui" means Muslim) or Xiangyang Pao (襄陽砲), where Pao means bombard.

ORA, se o trebuchet clássico (de contrapeso) tivesse sido criado pelos chineses, o seu nome em chinês seria lançador de pedra dos islâmicos (huihui=islâmicos)?

The traction trebuchet next appeared in Byzantium. The Strategikon of Emperor Maurice, composed in the late 6th century, calls for "ballistae revolving in both directions," (Βαλλίστρας έκατηρωθεν στρεφόμενας), probably traction trebuchets (Dennis 1998, p. 99). The Miracles of St. Demetrius, composed by John I, archbishop of Thessalonike, clearly describe traction trebuchets in the Avaro-Slav artillery: "Hanging from the back sides of these pieces of timber were slings and from the front strong ropes, by which, pulling down and releasing the sling, they propel the stones up high and with a loud noise."

O trebuchet de tração chinês atravessou a estepe com os ávaros e chegou aos bizantinos da pior forma pra bizantinos.

O trebuchet de tração também alcançou os árabes e logo, avaros, bizantinos e árabes estavam usando o trebuchet de tração. Então provavelmente no Egito islâmico o conceito do trebuchet de tração se combinou ao imemorial faraônico shaduf, um aparato pra tirar água do Nilo para um plano mais alto em terra de várzea, nascendo o trebuchet de contrapeso. O trebuchet de contrapeso bem mais devastador foi então exportado pra China, bizantinos e cruzados. O trebuchet de contrapeso nada mais é que uma gangorra de braços desiguais. No braço curto é posto um enorme peso calibrável. No braço longo, uma corda, na outra ponta da corda, um saco com o projétil.

The earliest written record of the counterweight trebuchet, much more powerful than the traction version, appears in the work of the 12th century Byzantine historian Niketas Choniates. Niketas describes a trebuchet used by Andronikos I Komnenos, future Byzantine emperor, at the siege of Zevgminon in 1165 which was equipped with a windlass, an apparatus which was required neither for traction nor hybrid trebuchets to launch missiles. Chevedden dates the invention of the new artillery type back to the Siege of Nicaea in 1097 when the Byzantine emperor Alexios I Komnenos, an ally of the besieging crusaders, was reported to have invented new pieces of heavy artillery which deviated from the conventional design and made a deep impression on everyone.

Aqui então atribui-se a criação aos bizantinos durante a dinastia Comneno, porque é a fonte escrita mais antiga e além disso um povo cristão não poderia ser diferente para um cronista cristão. Resta saber se achados arqueológicos não seriam mais antigos que este texto de 1097. O Egito de então já não era mais província bizantina, mas parte do sultanato ayubida.

Certamente nascido no Oriente Médio, o trebuchet de contrapeso seria exportado pra leste (China) e oeste (Europa Ocidental).

Na China, o trebuchet de contrapeso teve seu molinete aperfeiçoado, posto um molinete chinês - carretel duplo com raios diferentes que puxa mais facilmente o braço longo para a posição de remuniciamento. O trebuchet de contrapeso é filho da estrada da seda em atividade. O trebuchet de contrapeso ajuda a entender como arqueiros montados mongóis tomaram cidades fortificadas populosas do centro da Ásia. Eles não eram só arqueiros montados, eram operadores de trebuchet de contrapeso.

Pedaços de madeira amarrados com corda??? E não explodiam na mão de quem os usava????

Mas não restam dúvidas sobre a valentia de quem usava essas armas assim tão rudimentares. Muitas devem ter explodido nas mãos de quem as manuseava...

Isto até faz-me lembrar de uma foto de um canhão construído pelos alemães na 2ªGG, montado em um super tanque, que ao sair da estrada cimentada para o campo de terra afundou no solo, de tão pesado que era...

E já que os amigos gostam tanto de artefatos polvoreiros, ou polvorentos, alguém já leu o science fiction "DA TERRA À LUA", de Jules Verne, com o seu poderoso canhão construído dentro de um buraco profundo?

Precisa ler o livro inteiro, em uma edição literal, pois existem várias edições em português com muitos cortes. Mas, segundo informam os especialistas, os cálculos de balística, engenharia, metalurgia, pirotecnia, astronomia, etc. são extremamente precisos.
Uma das edições em português, integral, com ilustrações originais e capa com cópia colorida , da 1ª edição francesa, é da RMA Coleccionables S.A., 2003 Madrid.

Mas, amigos... Júlio Verne foi muito avançado para o seu tempo. Não só Da Terra à Lua, mas Vinte Mil Léguas Submarinas, Viagem ao Centro da Terra, e muitos outros livros dele acabaram por se tornarem realidade. O homem chegou à lua, os submarinos estão aí cruzando mares, existem minas que já atingiram profundidades enormes... Portanto, ele foi a inspiração para muitos cientistas que conseguiram levar adiante suas ideias. Eu li quase todos os livros dele quando ainda era menino e me entusiasmei muito. Depois vi vários filmes dos livros dele. Acho que um dos melhores foi Vinte Mil Léguas Submarinas.

Meu irmão era fã incondicional do Júlio Verne e comprou a coleção completa dele. hehehe E eu devorei muitos dos livros. Tanto que alguns eu nem lembro muito bem, de tão rápido que eu li. Se não me engano havia um chamado Miguel Strogoff... Era a história de um guarda do Czar da Rússia que é incumbido de uma tarefa muito difícil. E ele viaja por toda a Ásia... O livro é muito bom... Mas eu devorei o livro num só dia e não estou mais lembrando direito do enredo...

E tem A volta ao Mundo em Oitenta Dias... Que livro... E que filme...!!!!!!!

Em 2003 foi lançada aqui no Brasil a edição em português das obras completas de Jules Verne, da RMA Colecionables, de Madrid, com as capas coloridas da primeira edição original, bem como as ilustrações originais. Os volumes foram vendidos quinzenalmente em bancas de revistas, são ao todo 18 volumes ricamente encadernados, e em vários tamanhos.
Quanto aos filmes, a versão de Hollywood de "Volta ao Mundo" com o mexicano Cantiflas no papel do "Passe-par-Tout", e David Niven, é realmente antológica, e há a versão com o Jackie Chan, muito divertida, própria para as crianças do século 21. As "20.000 léguas submarinas", com Kirk Douglas é uma magnífica realização na inovação da técnica fantástica dos filmes de aventuras. "Viagem ao Centro da Terra", com James Mason, outra notável realização.