Lógica Aristotélica

Existe uma apresentação de todo o Organon num volume único na Edipro-Edições profissionais ltda (São Paulo).
Não sei se se pode dizer que é uma boa tradução e edição, mas já é a existência de uma, o que não deixa de ser apreciável no Brasil.

Na verdade preciso do "Segundos Analíticos" (analitic posteriori, que talvez tenha alguma tradução diferente em alguma publicação).
Obrigada pela atenção. Se conhecer alguma boa tradução me avise assim que puder.

Pois é, Monalisa. Há uma esperança! Há uma tradução muito boa em português feita pelo prof. Lucas Angioni, da Unicamp. Faz parte de uma coleção chamada "Clássicos da Filosofia: Cadernos de Tradução". Os Segundos Analíticos saíram nos números 7 e 4 (respectivamente, o livro I e o livro II). A tradução é muito boa, mas é bastante áspera. É literal na medida do possível, e o grego do prof. Lucas é muito bom.

Valeu a força.

Vou providenciar o mais breve possível.

Eu comprei esta tradução do Segundos Analíticos e não gostei muito. Eu não conheço do grego para comparar, mas, comparando com versões em inglês e em espanhol, vi que o tradutor (o prof. Dr. Lucas Angioni) chamava de "a coisa em si" o que os das outras línguas chamavam de essência, e chamava de essência o que o tradutor do espanhol chamava de substância.
E me pareceu uma tradução um pouco travada, muito difícil de ler se comparada com a versão em espanhol, por exemplo (a leitura desta versão em espanhol parece fluir mais fácil e o texto não parece mais difícil do que ele realmente é). Não sei se o tradutor do espanhol simplificou exageradamente, ou se de alguma forma o prof. Dr. Lucas Angioni complicou mais do que precisava.
E não encontrei nas notas sobre a tradução nada sobre a palavra grega que ele fez a opção de chamar de "a coisa em si"; falha que pode ser facilmente corrigida. Se alguém tiver o e-mail dele eu até poderia fazer diretamente esta sugestão.
Por fim, não entendi porque só o livro 2 saiu na forma bilíngue, já que o livro 1 é considerado mais importante por vários comentadores e, até onde eu sei, é muito mais citado.
O quê acham?

O professor Dr. Angioni teve em suas traduções diversos conceitos já consagrados pela tradição. Por exemplo, o conceito concomitante, que ele prefere a acidente, ou o conceito de subjacente a sujeito... Em seu livro Introdução à teoria da predicação de Aristóteles, o professor explica o porquê de suas opções, e qualquer coisa que eu escrevesse aqui não resumiriam de maneira adequada nenhuma delas.
Devo ressaltar ainda dois fatos: i) os cadernos de tradução são versões não definitivas de tradução; ii) que o professor não desenvolve apenas um trabalho de tradução; ele, enquanto filósofo e historiador da filosofia, desenvolve teses e aprofunda a discussão através de seus comentários...

Muito obrigado, Dom Diniz!
Bom saber dessas coisas.

Adendo

Obras doutrinais de Aristóteles:

I. Escritos lógicos: cujo conjunto foi denominado Órganon mais tarde, não por Aristóteles. O nome, entretanto, corresponde muito bem à intenção do autor, que considerava a lógica instrumento da ciência.

II. Escritos sobre a física: abrangendo a hodierna cosmologia e a antropologia, e pertencentes à filosofia teorética, juntamente com a metafísica.

III. Escritos metafísicos: a Metafísica famosa, em catorze livros. É uma compilação feita depois da morte de Aristóteles mediante seus apontamentos manuscritos, referentes à metafísica geral e à teologia. O nome de metafísica é devido ao lugar que ela ocupa na coleção de Andrônico, que a colocou depois da física.

IV. Escritos morais e políticos: a Ética a Nicômaco, em dez livros, provavelmente publicada por Nicômaco, seu filho, ao qual é dedicada; a Ética a Eudemo, inacabada, refazimento da ética de Aristóteles, devido a Eudemo; a Grande Ética, compêndio das duas precedentes, em especial da segunda; a Política, em oito livros, incompleta.

V. Escritos retóricos e poéticos: a Retórica, em três livros; a Poética, em dois livros, que, no seu estado atual, é apenas uma parte da obra de Aristóteles. As obras de Aristóteles as doutrinas que nos restam - manifestam um grande rigor científico, sem enfeites míticos ou poéticos, exposição e expressão breve e aguda, clara e ordenada, perfeição maravilhosa da terminologia filosófica, de que foi ele o criador.

Apenas para complementar o catálogo supra de obras de Aristóteles...

Lógica ("Organon", literalmente, "instrumento"): Categorias; Sobre a Interpretação; Primeiros Analíticos (2 livros); Segundos Analíticos (2 Livros); Tópicos (8 livros); Refutações Sofísticas.
Física e Concepção do Universo: Física (8 livros); Sobre o Céu (2 livros); Sobre a Geração e a Corrupção (2 livros); Meteorológicos (4 livros).
Psicologia: Acerca da Alma (3 livros); "Parva Naturalia" (4 tratados), incluindo: Acerca da percepção dos sentidos; Acerca da memória e reminiscência; Acerca do sono; Acerca dos sonhos.
Biologia: História dos Animais (10 livros, com autoria duvidosa em algumas partes); Acerca das partes dos animais (4 livros); Acerca do movimento dos animais; Acerca da marcha dos animais; Acerca da geração dos animais (5 livros).
Metafísica: Metafísica (14 livros). Nota: Na verdade, como o colega D. Diniz já salientou, foi Andrônico de Rodes, a partir de material cedido por Tirânio, que atribuiu a estes 14 livros a denominação de "Metafísica" (literalmente, "depois da Física"), pelo fato de eles se seguirem aos seus apontamentos que tratavam da Física. Antes da "organização" de Andrônico, os diálogos de Aristóteles eram amplamente conhecidos e difundidos, mas os tratados sistemáticos tinham sido perdidos.
Ética: Ética a Nicômaco (organizada por Nicômaco, seu filho); Ética a Eudemo (7 livros, organizados por Eudemo, discípulo de Aristóteles); Grande Moral (2 livros, com fragmentos das éticas anteriores e de autoria questionada).
Política: Política (8 livros); Constituição de Atenas.
Linguagem e Estética: Retórica; Poética.

Estou terminando o livro "Introdução à lógica simbólica" do Prof. Paulo Roberto Margutti Pinto e pretendo, após terminar essa leitura, me aprofundar mais em lógica visto que este livro é bem introdutório. Tenho aqui o "Lógica de primeira ordem" do Raymond Smullyan, mas achei que o tratamento que ele faz do conteúdo ainda está fora do meu alcance. Já verifiquei o Livro do prof. Marguti e parece que ele me atende, mas queria saber a opinião de quem já estudou lógica, qual seria a melhor bibliografia para continuar meus estudos nessa área? Prefiro livros em português ou francês, mas inglês também tá valendo.

O livro do Smullyan é excelente. É uma das melhores introduções à lógica, se não for a melhor. Outra sugestão: Quine, Methods of Logic.

Uma vantagem em ler isso é que você já está lendo os clássicos.

Também tem as introduções do Carnap e do Tarski. Esses livros são fáceis e os autores são clássicos.

Eu indico Language, Proof and Logic, J. Barwise e J. Etchemendy.

Há um livro essencial sobre lógica: KNEALE, W.; KNEALE, M. O Desenvolvimento da lógica. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1980.

Gostei das sugestões. Vou procurar esses livros e ver qual seria o ideal para que eu continue nos meus estudos.
Muito obrigado pelas sugestões!

Minha opinião sobre um post anterior...

A matemática está profundamente ligada à lógica. A lógica está limitada dentro da capacidade mental humana. O mundo é entendido por conceitos. A lógica em si não é um objeto da realidade. Sendo assim, a capacidade de abstração humana é limitada, por isso ao analisar racionalmente qualquer coisa, precisamos de uma base axiomática, inclusive ao analisarmos racionalmente a matemática.

Uma vez, numa palestra do professor Newton da Costa, havia uma garota sentada na primeira fila com o livro "O Teorema de Gödel e a Hipótese do Contínuo" (um calhamaço de umas mil páginas) sobre o colo.

A primeira frase dita pelo professor Newton foi:

"Não me venha falar de teorema de Gödel quem não tiver pelos menos três anos de estudos em lógica".

A garota, sabiamente, guardou o livro e não disse nada. Seu exemplo deveria ser seguido.

Alguém anima abrir um tópico sobre Lógica Medieval?

Sugestão de temas para debate:

Logica formalis, logica materialis. A quaestio e a disputatio. Ars inveniendi e ars demonstrandi. Os universais. Extensionalismo vs. intensionalismo. O estudo das categorias. Praedicabilia e praedicamenta. A definição e a divisão. Teorias semânticas. As diversas divisões dos termos. Teorias da suppositio. Intenções e imposições dos termos. Relações entre extensão e compreensão. As modalidades. As eduções e oposições proposicionais. Teorias da consequência. Estudo do silogismo categórico, modal e hipotético. A conversão de figuras. Falácias in dictione e extra dictionem. A analogia. A indução. Insolubilia. Obligatio. Os futuros contingentes. A gramática especulativa. Ad infinitum.

Por acaso vi em algum lugar (que não me lembro exatamente onde) a informação de que Aristóteles atrasou a ciência em quase 2 mil anos, isso procede?

Isto é e não é verdade. É verdade na medida em que a visão de Universo Aristotélico-Ptolomaica foi o que imperou até Copérnico, Galileu... Não é verdade na medida que não é culpa de Aristóteles. O que aconteceu foi o seguinte: a Idade Média cristã, que é genuinamente a idade das trevas para a ciência (embora o mesmo não valha para muitos outros campos do conhecimento) cristalizou as teorias "astronômicas" de Aristóteles e dos Ptolomaicos em DOGMA, porque eram "coerentes" com a ideia de que a Terra era um lugar todo especial, pois aqui Deus criou o homem em sua imagem e semelhança etc. Logo, a terra deveria ser o centro do Universo... Bom, a questão é bem mais complexa, nós poderíamos falar na "história" da astronomia, de como funcionavam as esferas, mas não cabe aqui, creio eu. A coisa só veio a se modificar quase na Idade Moderna, quando a invenção do telescópio (uma simples luneta apontada para o céu) veio a trazer mais luz (e polêmica) sobre a questão... A partir daí a teoria heliocêntrica começou a tomar espaço e finalmente sair hegemônica da disputa. Mas veja bem: a culpa não foi de Aristóteles, mas sobretudo do cristianismo medieval.

Gárgula escreveu:Minha opinião sobre um post anterior...

A matemática está profundamente ligada à lógica. A lógica está limitada dentro da capacidade mental humana. O mundo é entendido por conceitos. A lógica em si não é um objeto da realidade. Sendo assim, a capacidade de abstração humana é limitada, por isso ao analisar racionalmente qualquer coisa, precisamos de uma base axiomática, inclusive ao analisarmos racionalmente a matemática.

Logikon tem conotações linguísticas, o que envolve O USO DE CONCEITOS. Com a revolução protagonizada por Wittgenstein na filosofia moderna, e, especialmente, com o livro de John Mcdowell, está exposta a medida em que a estrutura conceitual permeia nossas vidas, i.e.: totalmente! Os conceitos estão ativos na própria experiência!