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As Olimpíadas

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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:15

OS JOGOS DA ANTIGA HÉLADE

O PATRONO DOS GINASTAS

O jovem deus Hermes, ao completar em pouco tempo sua educação na corte do rei Licáon, tendo o filho Ácacos como mentor, retornou ao Olimpo, e foi ter com seu pai. Zeus ficou muito satisfeito. Deu-lhe um forte abraço, e disse-lhe:

— Escuta, meu filho, toma cuidado para, no futuro, não voltares a roubar e nem contares mentiras. Tu pareces um garoto realmente esperto, pois aceitaste muito bem as coisas de Apolo e seguiste os meus conselhos.

— Então faze-me o teu arauto, pai! Eu prometo nunca mais contar mentiras, como fiz a Apolo, muito embora às vezes possa ser melhor não contar toda a verdade.

— Assim seja, não se esperaria isso de ti. E tu ficarás encarregado de todos os tratados, de todas as compras e vendas e de proteger o direito do viajante de ir e vir pelo caminho que quiser, desde que o faça em paz.

Vendo que Hermes era um moço capaz de tantas invenções, escolheu-o para ser seu mensageiro direto. Ele adorava viajar, era extremamente curioso e tinha enorme talento para aprender os diferentes idiomas dos homens. Tendo tomado essa resolução, Zeus deus a Hermes seu bastão e as fitas brancas — que pareciam mudar-se em serpentes entrelaçadas. Deu-lhe também um chapéu de ouro para protegê-lo da chuva e sandálias aladas, também de ouro, para que pudesse voar mais rápido do que o vento.

Então, já com suas sandálias aladas presas ao pé, Hermes aproximou-se de uma das janelas do Olimpo. A noite estava cálida e estrelada — perfeita para um delicioso voo experimental. Dando um impulso às suas pernas, o deus menino lançou-se à vastidão do espaço negro, isento de qualquer receio — porque o pequeno Hermes fora brindado com esta inexcedível virtude: nascera sem medo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:16

Pela primeira vez o filho de Zeus cortou a imensidão dos ares, levado por suas sandálias mágicas. Incumbido por seu pai das mais diversas missões — na maioria das vezes urgentes e inadiáveis —, Hermes haveria de se notabilizar justamente por este seu atributo básico: o da irrequieta mobilidade, chegando a ser mais útil que a própria deusa Íris, que até então fazia o seu trabalho de mensageira. Nenhum deus mais ágil, mais expedito, mais voluntarioso e, ao mês mo tempo, mais disciplinado do que Hermes. Condutor de recados, não se limitou, porém, à função de mensageiro, podendo ser também condutor de almas. Hádes também o empregou como arauto, para convocar o moribundo gentil e eloquentemente segurando o bastão de ouro diante de seus olhos. A ele, o mais atarefado dos deuses, coube também a tarefa de conduzir as almas dos mortos até as margens do sinistro Aqueronte.

Então, para completar seus atributos, assistiu as três Moiras na composição do Alfabeto, inventou a Astronomia, a escala musical, as artes do pugilato e da ginástica, pesos e medidas e o cultivo da oliveira.

POSEIDON E OS JOGOS ÍSTMICOS

Os enormes mares que às vezes ameaçam engolir as mais fortes embarcações ou que de outras lambem delicadamente seus cascos eram o reinado de Poseidon. O deus dos terremotos era irmão de Zeus e filho do temível Cronos.

Igual aos mares, esse deus era às vezes duro de coração e, às vezes, gentil e cheio de boa-vontade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:17

Quando tomado por terríveis acessos de fúria, Poseidon não se importava com quem estivesse nos mares. Ele agitava as águas com seu tridente até que as ondas atingissem a altura de montanhas, atirando-se descontroladas contra as praias arenosas e as pontas rochosas. Azar do navio que estivesse longe do porto, enfrentando os mares tempestuosos... Provavelmente, ele estava condenado. Mas, quando a zanga de Poseidon acabava, ele passava delicadamente seu tridente na superfície das águas e, pouco a pouco, as ondas se acalmavam. Com isso, as menores embarcações conseguiam singrar os mares enquanto os golfinhos seguiam brincando alegres no rastro de espumas deixado para trás.

Sendo um povo navegador, os gregos tinham o maior respeito por Poseidon e sempre lhe invocavam a proteção.

Igual aos demais deuses, Poseidon sonhava em ter uma cidade especial que lhe rendesse culto e para a qual ele pudesse oferecer ajuda e proteção.

Cécrops havia engrandecido a velha cidade do rei Acteus, dando-lhe o nome de Cecrópia, dando ao povo novas leis. Porém, era preciso pôr a nova cidade sob a proteção de uma divindade. Decidiu-se que se tomaria por protetor da cidade o deus que produzisse a coisa mais útil. De fato, o senhor dos mares tinha uma certa preferência pela Ática, lugar onde uma nova cidade, Cecrópia, estava sendo construída. O rei da cidade chamava-se Cécrops, filho da Mãe-Terra. Da cintura para baixo, segundo os boatos, ele tinha corpo de serpente. Não se sabia exatamente a verdade, mas o rei evitava mostrar-se de corpo inteiro.

Então, Poseidon foi para o reino da Ática, antes de qualquer outro deus, e encontrou Cécrops na Acrópole. O rei estava supervisionando a construção da nova cidade. Poseidon, pretensioso, pediu-lhe que lhe fosse dedicada a cidade que, em sua honra, deveria ter o nome de Poseidônia.

— Faze o que te peço, e esta cidade será a rainha dos mares. Teus navios singrarão tranquilos os oceanos, e ninguém se atreverá a medir forças convosco.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:17

Dizendo essas palavras, o poderoso Poseidon bateu a terra com o tridente e fez surgir o cavalo, animal maravilhoso que ainda não existia naquela terra (interpretando-se apenas que o cavalo existia mas ainda não havia sido domesticado pelo homem), e ergueu o tridente e bateu-o em uma rocha. No ponto que acertou brotou uma fonte de água salgada, que mais tarde levaria o nome de “mar de Erecteus”.

— Aí está o meu presente. Quando fordes partir para terras distantes, ajoelhai-vos e encostai o ouvido na fonte. Se ouvirdes o rugir dos mares, não deveis partir. Se partirdes, enfrentareis muitas tempestades pelos caminhos e vossos navios serão engolidos pelas águas.

Em seguida, Poseidon desapareceu.

Cécrops mal havia-se refeito da surpresa, quando Atena, a deusa da sabedoria, também lhe apareceu. Ela pediu-lhe que a cidade lhe venerasse.

— Se fizeres o que te peço, tua cidade será o centro da beleza e da sabedoria. Nela a Arte, a Literatura e a Ciência florescerão e deste lugar o espírito da Liberdade se espalhará até os últimos recantos da Terra.

Então, Atena domou o cavalo para o transformar em animal doméstico, e, batendo na mesma rocha em que estava a fonte, com a ponta da lança, fez surgir uma árvore carregada de frutos, a oliveira, carregada de azeitonas, pretendendo com aquilo mostrar que o seu povo seria grande pela agricultura e pela indústria.

— Este é o meu presente: a “kekyfia”. Toda a Cecrópia se cobrirá com os brotos verde-prateados que nascerão desta árvore. Os frutos matarão a fome do povo, produzirão óleo para iluminar vossas casas e seus ramos serão um símbolo de paz entre os homens.

Cécrops ficou maravilhado com o presente de Atena e achou ótimo que a sua cidade se transformasse na capital da cultura. Mas como Poseidon havia pedido primeiro, ele não sabia qual escolher.

Inesperadamente, apareceu de novo Poseidon e, furioso, desafiou Atena:

— Eu só desisto do que quero se me venceres em combate.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:18

O deus bem sabia que era muito mais forte do que Atena e que ela não teria a menor vantagem. Atena também o sabia, mas ela não tinha medo, e prontamente aceitou.

— Vamos lá! Vem!

E deu alguns passos para trás, agarrando a lança com ambas as mãos. Poseidon também tomou posição de luta, erguendo seu tridente de um modo ameaçador.

Os dois deuses do Olimpo já estavam prontos para a batalha, quando Zeus em pessoa apareceu entre eles. Com a inesperada chegada do senhor do mundo, os combatentes baixaram as armas porque Zeus era a lei para eles.

Embaraçado, consultou o povo, para saber a que deus preferia entregar-se. Contudo, não se tendo naqueles tempos tão remotos imaginado que as mulheres não pudessem tão bem quanto os homens exercer direitos políticos, todos votaram. Ora, sucedeu votarem todos os homens por Poseidon e todas as mulheres por Atena; mas como entre os colonos que acompanhavam Cécrops, houvesse uma mulher a mais, Atena raptou-a. Poseidon protestou contra essa maneira de julgar a divergência, e apelou para o tribunal dos Doze Grandes Deuses.

Zeus, mesmo o mais justo dos deuses, tinha uma especial afeição por Atena e queria entregar-lhe aquela cidade. Sabia, de outro lado, que não podia se esquecer do gênio esquentado de Poseidon. Por isso, resolveu mesmo convocar os demais deuses para que chegassem a uma definição através do voto.

Pouco depois, todos os grandes deuses do Olimpo estavam reunidos na Acrópole, onde o velho Cécrops e Crânaos, testemunhas da votação, contou-lhes tudo o que estava acontecendo. E acrescentou:

— Eu e os moradores da Ática respeitaremos a vossa decisão. Que os templos e as estátuas que adornarão a Acrópole sejam dedicados ao deus que escolherdes para ser o guardião da cidade!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:19

Logo, os Olímpicos votaram, um por um. As deusas votaram em Atena. Os deuses em Poseidon. Como Zeus não tomou partido, como juiz, Atena ganhou por um voto, novamente. Por isso, não teve jeito: a cidade recebeu a tutela de Atena. Esse ato de Zeus fez com que Cécrops a ele concedesse o título de Hípatos, “o altíssimo”.

Em recompensa, a deusa Atena passou a auxiliar Cécrops a fortificar a Acrópole e a construir belos edifícios em seus pontos mais elevados.

Além disso, fora a fortificação de Cecrópia ou Anagyrous, Atena ajudou-o a erguer mais onze cidade: Epakría, Dekeleia, Elefsina (Elêusis), Afidnai (Afidnas), Vravrona, Kythyros, Sfettos, Kifisía, Thoricos, Aixone e Oinoe (Ênoe). E dividiu os habitantes em quatro raças: Kekropía, Aktaia, os Aftohthones (aborígenes) e Paralioi, e uniu esses povos, cuja realização haveria de ser celebrada no festival da synoikia.

Assim que Cécrops instituiu a primeira assembléia geral na cidade-sede, ele mandou que cada habitante trouxesse uma pedra, “laas”, e a depositasse no meio da ágora, e foram contadas vinte mil pessoas, sem contar crianças e pessoas debilitadas que não puderam comparecer. Apresentou-lhes as leis que deveriam ser respeitadas, tanto as dos Imortais quanto às dos homens. Oficializou, sob a proteção de Atena, a instituição do casamento no país, repudiando o acasalamento promíscuo. Implantou o costume de sepultar os mortos na terra, de modo que eles, por assim dizer, fossem depostos no seio da Grande-Mãe. Ensinou-os a semear o trigo nos sítios de enterramento, os quais, dessa maneira, em vez de serem reduzidos a cemitérios, eram devolvidos puros aos vivos. Deveriam comer o repasto fúnebre com grinaldas na cabeça e entoar canções em louvor dos que haviam partido. E decretou a punição contra malfeitores e mentirosos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:19

Essas e muitas outras leis foram implantadas por Cécrops, com o aval de Atena, a filha de Zeus, e a vida digna de seres humanos só assim principiou naquela região. Talvez por esse motivo a Ática tenha sido a mais requintada e civilizada das regiões gregas.

Tal disputa e tal derrota desencadeou a ira de Poseidon. Sua fúria tornou-se incontrolável! Atirando ondas para cima, ele fez inundar toda a planície da cidade, destruindo o templo da deusa e as quintas e aldeias do seu povo. Assim, levados pelo terror, os então atenienses foram consultar o Oráculo de Delfos e obtiveram a resposta do que deveriam fazer para acalmar o deus ofendido. A Pítia explicou que a zanga de Poseidon só cessaria se todas as mulheres de Atenas fossem castigadas. Para isso, teriam de perder o direito de votar e não poderiam mais ser consideradas cidadãs. Quanto a seus filhos, eles só poderiam herdar o nome do pai, não mais o da mãe, como acontecia até então.

Foi desse jeito que aconteceu. Como resultado da decisão do Oráculo, perderam-se os últimos vestígios do antigo poder exercido pelas mulheres desde quando as matriarcas regiam as clãs.

Apesar de Poseidon haver perdido a cidade em favor de Atena, os atenienses honraram-no; por isso, ergueram na Acrópole um suntuoso altar ao Olvido, no cabo Sounion, monumento de reconciliação de Poseidon e Atena; em seguida, Poseidon participou das honras da deusa. Assim, os atenienses se tornaram um povo navegador e ao mesmo tempo agrícola e manufatureiro.

Em todo caso, os presentes de Atena e Poseidon perpetuam. Até hoje existe um poço na Acrópole, em Atenas. Segundo dizem, é o mesmo que Poseidon abriu com o golpe de seu tridente. Quando venta no sul, pode-se ouvir um estranho e distante ronco. Parece mesmo uma tempestade em um mar tormentoso.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:20

Poseidon, depois de perder a disputa de Cecrópia para Atena, não a perdoou, pois, mais tarde, voltaria a atacá-la roubando-lhe Troézen, acarretando a intervenção de Zeus, que decidiu pela partilha da cidade. O próprio Zeus seria alvo de sua cobiça a respeito da ilha de Égina, também Dionisos, que por pouco perderia a ilha de Náxos. Mas Poseidon continuou a disputar com os demais deuses a posse das novas cidades. E em todas elas fracassou. Só depois de lutar com Hélios, o deus-Sol, pela cidade de Corinto, a Sorte começou a sorrir-lhe.

Nessa oportunidade, foi Briareus, filho de Úranos, quem entrou na arena para ajuizar a causa. Desempenhando suas funções com bom senso e sabedoria, Briareus resolveu entregar a fortaleza mais alta, a de Acrocorintos, a Hélios. Para Poseidon, ele entregou o Istmo e, com isso, o deus dos mares contentou-se.

Os habitantes de Corintos prestavam honrarias ao deus do mar. Uma das mais famosas comemorações na Grécia foram os Jogos Istmicos, muito conhecidos por suas disputas atléticas e artísticas. Nos locais onde aconteciam tais competições havia um esplêndido templo dedicado ao deus do mar. Em seu interior havia uma bela estátua de Poseidon, de pé, altivo, empunhando o tridente.

Por fim, Poseidon reclamou uma terra que pertencia a Héra. Desta vez Zeus não conseguiu chamar seu irmão à razão. Chamou-o para uma reunião no Olimpo para julgar a sua pretensão.

— Está mais do que provado que os deuses todos estão contra mim.

Zeus enfureceu-se:

— Os deuses-rios são honestos. Aceitarás o que eles e o rei dentre os homens daquela terra decidirem?

Poseidon sacudiu os ombros e resmungou:

— Posso tentar.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:21

Esperava que os deuses-rios da Ápia não se atrevessem a desagradá-lo. Todavia, Ínacos, Astérion e Céfisos, os principais dentre os rios daquela terra, não tiveram receio de dar o seu parecer em favor de Héra. E Foroneus, juiz da querela, deu a palavra final, desagradando a Poseidon, que acabou perdendo toda a região da Ápia conquistada pela deusa Héra, sua irmã. Especialmente graças a Foroneus, Poseidon passou a guardar rancor contra o seu povo.

Então, em vez de inundar aquela terra, fez secar os rios em que viviam os deuses, transformando-os em lama e caminhos de pedras e expulsando os deuses e Ninfas para as margens áridas. Só quando vieram as chuvas do Inverno os rios tornaram a correr, e, desde então, todos os verões os rios secariam e desapareceriam.

APOLO E JÁCINTOS

Jácintos era o mais jovem dos filhos do rei Âmiclas. E conquistou a simpatia do deus Apolo, que pretendia, um dia, raptá-lo e levá-lo para o Olimpo, rivalizando tal intenção com o vento Zéfiros, que o amava. Mas o Destino não permitiu ao mortal essa glorificação e o arrebatou em tenra juventude.

Frequentemente, Apolo deixava a sagrada Delfos para divertir-se com o seu favorito nas margens do Eurotas, nas vizinhanças da cidade sem muro de Esparta. Esquecia sua lira e suas setas para jogos mais fortes e não desprezava o vaguear pelos rudes píncaros do Taígetos, à caça com Jácintos, que dedicava-se em levar a rede quando pescava e conduzir os seus cães no interior das florestas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:22

Certa vez, quando brilhavam perpendiculares os raios de Hélios, tiraram ambos as vestes, untaram de óleo o corpo e começaram a disputar o lançamento de discos. Apolo tomou, em primeiro lugar, o pesado disco de bronze, balançou-o no braço, sopesando-o, e lançou-o no ar com tamanha força, que o projétil atravessou uma nuvem, no céu. E muito tempo passou antes que o disco caísse no chão rochoso, devolvido ainda com maior força pela mão do vento Zéfiros. Ansioso por imitar o seu divino mestre, o rapaz correu a apanhar o disco, que, na queda, quicou e foi bater no rosto do rapaz, que desabou feito uma árvore ao ser cortada.

Pálido, Apolo correu a tomar nos braços o corpo desfalecido. Tentou aquecer os membros inertes, enxugou o sangue da horrível ferida, aplicou ervas salutares para conter a alma que insistia abandonar aquele corpo. Mas foi em vão. E a cabeça de Jácintos tombou para o lado, sobre o peito do inconsolável deus, que por sua vez chamava-o pelos mais carinhosos nomes e cobria-lhe o semblante com lágrimas amargas.

— Morreste, Jácintos, roubado por mim de tua juventude...! O sofrimento é teu, e meu o crime. Pudesse eu morrer por ti! Mas é impossível, viverás comigo, na memória e no canto. Minha lira há de celebrar-te, meu canto contará teu destino e tu te transformarás numa flor gravada com a minha saudade.

Enquanto Apolo falava, o sangue que escorrera para o chão e manchara a erva, deixou de ser sangue; uma flor de colorido mais belo que a púrpura tíria nasceu, semelhante ao lírio, exceto na cor. E seria assim chamada: jacinto, o que não bastaria, pois, para conferir ainda maior honra, deixou seu pesar marcado nas pétalas, e nelas escreveu: “Ai, ai”, como até hoje se vê. Assim, a cada primavera, ressuscita essa flor, o jacinto, como a imagem da transitória vida da beleza sobre a Terra.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:22

Jácintos foi enterrado em Amicléia. A partir de então, na Lacedemônia, todos os anos, ao chegar o verão, haveriam de se realizar grandes festas a Jácintos e a seu divino amigo. — a Hyakinthia, com a realização de jogos atléticos, para lamentar o rapaz morto precocemente e, principalmente, para recordar a sua divinização.

PÉLOPS E OS PRIMEIROS JOGOS OLÍMPICOS

Pélops, acompanhado de sua irmã, Níobe, e seus servos e todo o ouro que pôde carregar, abandonando a Meônia dominada pelas forças dárdanas, foi para a Hélade, depois de muito perambular. Encontraram a região da Ápia. Havia por toda parte vestígios da antiga grandeza no meio dos quais o povo vivia quase em condição de indigência.

Muitos anos antes, vivera na ilha de Creta, poderosa e rica nação, cujos habitantes colonizaram o sul da Hélade, fazendo de Micenas sua capital. Também esta cidade tornara-se rica e poderosa, mas, com a queda da nação cretense, entrara em decadência. Não havia nenhum rei bastante poderoso para governar o país, nem ao norte nem ao sul da estreita faixa de terra que, mais tarde, levaria o nome de Istmo de Corinto. Cada aldeia, vale ou planície pertencia a um chefe, que reinava sobre pouco mais que sua própria família e seus apaniguados, vivendo do produto de suas pequenas lavouras e criações.

Nessa época, de todos esses régulos, eram Pandíon de Atenas e Enômaus da Élide os mais famosos. Foi na Élide, situada no quadrante noroeste da grande península, que encontrou Pélops, de início, a região onde gostaria de estabelecer seu novo lar, com o fito de pedir asilo a Enômaus, o “rei do vinho”, onde, diziam, caía neve em abundância sobre uma colina sem nome que os visitantes da futura Olímpia, depois da época do herói Héracles, passariam a conhecer como Colina de Cronos. Tanto ele como seus companheiros foram recebidos cordialmente pelo rei Enômaus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:23

Pélops apaixonou-se pela filha do rei e de sua legítima esposa, Estérope, o “raio”, uma bela moça chamada Hipodâmia, “a que doma cavalos” — já que aprendera a fazer isso muito bem —, e que estava condenada a ser solteira pelo resto de seus dias. Enômaus queria obrigar a filha a manter-se solteira, talvez por sentir-se instintivamente apaixonado pela própria filha, ou ainda por um fatídico Oráculo:

— Não posso recusar-te, Pélops, conquanto não possa, tampouco, dar-te meu consentimento. Tu deves ter ouvido falar da profecia segundo a qual o homem que for meu genro há de me tirar a vida.

— Desde que entrei neste país tenho ouvido muito a respeito disto.

— Ora, não tenho o menor desejo de morrer, Pélops; assim sendo, fiz o juramento de que o homem que quiser casar com minha filha terá primeiro de me vencer numa corrida de carros. Se o conseguir, casar-se-á com Hipodâmia; mas, se for vencido por mim, deverá estar pronto para morrer. É uma compensação. E não adianta que insistam através de riquezas ou promessas, como fez certo dia um rei de Sérifos chamado Polidectos, que tentou presentear-me com cavalos, e nada conseguiu, pois acovardou-se e não teve coragem de me desafiar.

Enômaus tinha cavalos, ou melhor, duas éguas, Psila, “a pulga”, e Hárpine, “a que agarra”, que levara o mesmo nome da mãe de seu dono, e que corriam como o vento ou como as Hárpias: desejando afastar os pretendentes à mão de Hipodâmia, anunciara que, para obtê-la, era preciso o pretendente vencê-lo na corrida de carros, no entanto, ele mataria impiedosamente os que, tendo querido medir-se com ele, não tivessem logrado a vitória. Outras vezes, chegava a usar uma técnica estranha, onde colocava junto do competidor, na carruagem, a própria filha. Este artifício geralmente inibia, distraía ou ofuscava os concorrentes rivais. E, como sempre, os perdedores acabavam mortos, ou durante ou depois da corrida, e pendurava suas cabeças nas paredes de seu palácio, com o objetivo de inibir os pretendentes, que já contavam treze em sua coleção.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:23

A vitória era sempre de Enômaus. Aliás, ele sempre tinha certeza da vitória, assim como os pretendentes já previam a própria morte, pois sabiam que Enômaus era o melhor áuriga de sua época. Aliás, Enômaus freqüentemente sacrificava a Zeus e lhe pedia proteção. E era atendido. Tanto que o próprio Zeus lhe concedera as duas éguas incrivelmente velozes. Porém, mesmo com o risco de morrer, a beleza de Hipodâmia já havia levado treze candidatos a aceitar o desafio, arriscando sua perícia contra o rei de Pisa. Todos eles, porém, mesmo com a vantagem de conduzirem carros puxados por quatro cavalos, foram derrotados e morreram transpassados pela ponta da lança certeira. Sabendo disso é que Pélops compreendeu por que razão a princesa ainda era solteira.

Fora Pélops, em sua juventude, na Meônia, hábil condutor de bigas, e estava assim decidido a tentar a sorte e a arriscar a vida, na esperança de conquistar Hipodâmia, por quem se sentia profundamente apaixonado. Mas, pensando naqueles jovens todos que haviam perdido a vida em semelhante tentativa, não desafiou de pronto o rei para a corrida, e retirou-se para meditar calmamente antes de fazê-lo. Pélops, então, conhecedor das artimanhas do rei, resolveu pedir proteção a Poseidon, na praia, durante a noite:

— Poderoso deus, se até mesmo a ti são agradáveis os dons da deusa do amor, permite então que eu seja poupado da lança de Enômaus. Leva-me pelo caminho mais rápido e conduz-me à vitória.

O soberano dos mares emergiu das profundezas e, atendendo os seus pedidos, deu-lhe uma carruagem de ouro, com quatro belos cavalos, velozes como flechas. Depois que Pélops recebeu a visita de seu protetor, resolveu enfrentar Enômaus, pois havia-se apaixonado por Hipodâmia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:24

E Pélops, a fim de encontrar graça perante Afrodite, a deusa do amor, prometeu uma estátua de madeira de murta à deusa se ele pudesse conquistar o coração de Hipodâmia; de certa forma, a murta, “myrtos”, em grego, estava relacionada ao nome Mírtilos, o cocheiro do rei Enômaus, e, certamente, serviria de ponte para dar um termo à vida desse soberano.

Hipodâmia, alvo das flechas infalíveis de Éros, também apaixonou-se por Pélops. Por isso, a princesa suplicou-lhe que não inscrevesse seu nome na longa lista de heróis mortos.

— Os cavalos de meu pai são os mais velozes do mundo e em toda a Hélade não existe áuriga mais hábil do que ele. Eu te suplico que vás embora e nunca mais voltes a ver-me! Prefiro isso a ver-te perder a vida por minha causa!

— Não perderei a vida! Enômaus quem perderá a filha. Minha carruagem e meus cavalos são um presente de Poseidon e são velozes como o Vento. Os deuses estão a meu favor e me ajudarão a vencer.

Dessa maneira, Pélops apareceu diante de Enômaus, pediu-lhe a mão da filha em casamento e declarou-se pronto a aceitar o desafio.

— Muito bem... Como é mesmo o teu nome?

— Pélops.

— Pélops... Muito bem, Pélops. Como tu não dás valor a tua vida, também eu não darei. Concedo-te o mesmo favor que concedi aos outros candidatos e permitirei que tu saias muito antes de mim. Além do mais, te concederei cavalos velozes que tu terás a honra de conduzir. Mas assim mesmo, quando eu alcançar... eu te mandarei para Hádes!

— Não, Majestade, não te incomodes, pois eu tenho meus próprios cavalos.

— Muito bem, seja como queres. Prepara-os e leva-os amanhã pela manhã para junto do Templo de Zeus.

Pélops, porém, acreditava poder contar com a ajuda de seu amigo Hermes. E esse deus consultou o pai Zeus:

— Por acaso vamos deixar Pélops morrer agora, depois do trabalho que tivemos para desfazer o crime de Tântalos?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:25

Zeus estava pensando a mesma coisa. Então, dando sua bênção paterna a Hermes, ordenou-lhe que partisse à procura de seu filho Mírtilos que ocupava o cargo de principal áuriga do rei de Pisa, a fim de prepará-lo para receber Pélops como seu melhor amigo. Depois, foi a vez de Pélops:

— Quais as possibilidades que tenho de vencer o rei?

— Nenhuma. Não existem, no mundo, cavalos tão velozes como os do rei Enômaus. Além disso, é longo o percurso, de mais ou menos 100 milhas, e o rei conhece esse trajeto palmo a palmo. Competir com ele, na corrida, é ir ao encontro da Morte.

— Entretanto, um dia o próprio rei há de morrer, e nesse dia deverá perder o trono.

— Ora, Pélops, a princesa terá a liberdade de se casar com quem quiser, e seu marido será o futuro soberano. Porém, Enômaus é vigoroso e sadio; não te enganes. Muitos anos ainda se poderão escoar antes que ele venha a falecer.

Apesar do presente de Poseidon, Pélops, para certificar-se ainda mais da vitória, em conformidade com Hipodâmia, tentou corromper Mírtilos, o áuriga de Enômaus, que então servia como seu cocheiro.

— Isso é verdade, a menos que venha a sofrer algum acidente. Eu daria a metade do meu reino para desposar Hipodâmia imediatamente.

— Não deves falar a sério... Prometes mesmo dar-me a metade do teu reino quando subires ao trono?

— Juro pelas águas do Estige.

Mírtilos pôs-se a pensar, apesar de todas as suas dúvidas. No entanto, para mostrar-lhe que sabia o que fazer, se preciso fosse, disse-lhe:

— É... eu poderia fazê-lo...

— E de que maneira o conseguiria?

— A cavilha que prende a roda ao eixo do carro do rei está gasta e frágil; eu já ia substituí-la. Mas, se eu deixar em seu lugar a cavilha velha, e o rei competir na corrida contigo, então a cavilha não resistirá e, cedo ou tarde, durante o percurso, há de se partir. Nestas condições, não terás dificuldade em ganhar a corrida.
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As Olimpíadas Empty Re: As Olimpíadas

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:25

— Ele não irá se certificar de que trocaste a peça defeituosa? Tudo irá por água abaixo...

— É certo. Mas a revestirei de cera, que parecerá nova. Mas não te prometo nada ainda. Terei que pensar no assunto.

Independentemente da resposta de Mírtilos, Pélops estava decidido a conquistar o prêmio da competição. Pensava que valia a pena arriscar, apesar das tentativas de seus amigos em fazê-lo mudar de ideia. Foi ter à presença do rei.

— Tão grande é o meu amor por sua filha, a princesa, que apesar de tudo, aceito teu desafio para a corrida, rei Enômaus, com a condição de casar-me com tua filha se vencer e com a garantia que não serei traído pela gente de tua corte.

— Tudo bem, Pélops, se é o que queres, tens a minha palavra, e minha gente te será fiel. Assim ordeno. Amanhã, pela manhã, todos se reunirão fora dos muros da cidade para presenciar esse evento.

Os arautos saíram pela cidade anunciando a competição. Mas, Mírtilos, à noite, ainda se ocupava em pensar sobre o assunto que lhe atormentava e lhe enchia de dúvidas; já estava desistindo de ajudar aquele estrangeiro; era fiel ao seu rei e jamais obedeceria ao estrangeiro, exceto se seu pai assim o quisesse. E assim ocorreu. Hermes foi até seu filho e lhe disse:

— Ouve, Mírtilos, desta vez quero que Enômaus morra em vez de morrer o desafiante. Dá um jeito de que aconteça algo ao carro de teu rei durante a corrida. Este é o desejo de Zeus e o meu desejo.

Mas não foi o suficiente. Ele próprio estava apaixonado pela princesa, e não poderia ajudar o seu rival a conquistá-la. Para tanto, como último recurso, a própria Hipodâmia, sentindo que Mírtilos resistia, teve que procurá-lo e prometer que passaria com ele uma noite se ajudasse Pélops a conquistar a vitória; e não foi preciso mais nenhum outro recurso para convencê-lo, passando a ser o daimon daquele casamento, a quem a primeira noite pertencia de um modo especial.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:26

Como Mírtilos era tão engenhoso quanto seu pai Hermes. Por isso, naquela mesma noite, ele foi até a biga de Enômaus e retirou o pino que segurava a roda ao eixo e revestiu-o de uma quantidade de cera. Depois, poliu o pino e deu-lhe o aspecto de novo. E ainda serrou um pouco os raios das rodas do carro de Enômaus. Em seguida, foi procurar Pélops, no meio da noite, a fim de dizer-lhe ter mudado de ideia, desejando ajudá-lo.

A corrida foi marcada para a manhã seguinte. Hipodâmia foi ocupar o seu lugar num castelo fora dos limites de Pisa, de onde podia apreciar melhor a competição. E quando o rei Enômaus viu chegando seu concorrente, que conduzia os cavalos de Poseidon, reconheceu que os deuses o auxiliavam, por isso tentou persuadi-lo a desistir, mas Pélops já estava decidido, e o rei não pôde fazer nada a respeito.

Em disparada, Pélops saiu do Templo de Zeus, no lugar onde mais tarde surgiria a cidade de Olímpia, correndo rumo leste, em direção ao istmo de Corinto e procurando chegar ao Templo de Poseidon antes do por-do-sol. Como de costume, Enômaus deu a Pélops uma vantagem muito boa, enquanto fazia um sacrifício a Zeus-Hércios, no pátio do palácio, bem perto de onde estavam penduradas as cabeças dos ex-pretendentes Pelargos e Périfas. Terminado o sacrifício, Pélops já estava bem à frente. Enômaus, então, despreocupado, tomou seu carro e disparou na velocidade de um raio. Como o filho de Tântalos também possuía cavalos rápidos, o rei de Pisa teve que correr muito sem sequer avistá-lo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:27

Enômaus começou a ficar assustado e começou a bater nas suas éguas para que corressem mais rápido. Finalmente, ele viu a quadriga de Pélops ao longe, com uma boa vantagem. Isso renovou-lhe as esperanças, e seus cavalos correram como se tivessem ganho novas forças. A distância entre os dois corredores diminuía cada vez mais. Virando a cabeça, Pélops viu o ameaçador Enômaus que avançava feroz como uma tempestade. Começou a disputa desesperada. Os animais de Pélops relampejavam rápidos ganhando terreno como que sentindo-se perseguidos por um inimigo mortal. Enômaus conseguiu diminuir ainda mais a distância entre eles, mas em um esforço sobre-humano, Pélops imprimiu maior velocidade a seus cavalos. Os dois disputantes ganhavam terreno, tinham o coração quase saltando pela garganta, pois sabiam que aquela era uma corrida de vida ou morte.

Enômaus fez outro esforço desesperado, furiosamente espancou seus animais que começaram a ganhar mais terreno ainda. Os cavalos de Pélops não conseguiam ser mais velozes, a distância entre eles diminuía de um modo assustador. Nada mais conseguiria segurar Enômaus. Ansioso, ele batia os pés no fundo do carro, e a mão segurava firme a lança mortal. Um diabólico sorriso de satisfação apareceu-lhe nos lábios porque já antevia o momento final da vitória, porque mais e mais se aproximava. O rei tinha certeza absoluta do resultado da corrida quando, a pouca distância, já se avistavam os contornos do Templo de Poseidon.

Enômaus conseguiu ser ainda mais veloz! Desesperado, Pélops tentava manter-se na dianteira. Entretanto, suas montarias já haviam dado tudo o que podiam. E suplicou:

— Ó deuses! Por que me abandonam agora depois de me haverem devolvido a vida que meu pai me tirou?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:27

Parecia mesmo que os deuses haviam-se esquecido dele, pois o pino revestido de cera continuava segurando firme a roda ao eixo. Enômaus aproximava-se ameaçador como um furacão, as rodas da biga iam deixando um sulco firme no caminho semeado de pedras. O momento que ele tanto esperava havia chegado. Com um grito de arrepiar os cabelos, ele ergueu a lança para dar o golpe mortal nas costas de Pélops quando, de repente, a roda direita do carro voou pelos ares. O carro real tombou, e Enômaus caiu de cabeça nas pedras. Pélops parou seus cavalos e retornou para ver se Enômaus ainda vivia, e encontrou estendido e ofegante. Pélops, amarrando as rédeas ao carro, desceu depressa e foi acudi-lo para ouvir suas últimas palavras.

— Rei Enômaus!

— Foi uma bela corrida, Pélops, e sinto-me satisfeito que tu vivas para me suceder ao trono. O patife do Mírtilos... aquele irresponsável... avisei-o de que a cavilha estava fraca... disse-me que ia trocá-lo... por outra nova. Castiga-o por mim, Pélops, pois vou morrer pela sua... desídia...

Foram suas derradeiras palavras. Pélops levou seu corpo de volta a Pisa. Assim terminou seus dias o sangrento rei Enômaus, terminando também a corrida para a Morte. Graças a Mírtilos, o filho do deus Hermes, Pélops foi declarado vitorioso.

Zeus, do alto do Olimpo, muito irado pela morte de seu protegido, mandou o filho Hefaístos produzir seus raios e os atirou no castelo onde estava Hipodâmia. Quando Pélops retornou da corrida, levando o corpo do rei para ser enterrado, o palácio real estava em chamas. Apenas uma das colunas estava ainda de pé e era aí que sobrevivia, por um milagre, a bela noiva. Então Pélops, com o auxílio de seus cavalos, que se tornavam alados, fez com que sua carruagem voasse por sobre o palácio e conseguiu a salvação de sua amada, com a qual seria muito feliz.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:28

Mais tarde, esse mesmo pilar que sobrou das ruínas do castelo, assinalado por uma lâmina de bronze, passaria a ser o marco sagrado das corridas dos gregos nas disputas festivas, o recinto do Rei dos Deuses, no Áltis, em Olímpia.

Pélops desposou Hipodâmia. Mas Mírtilos, querendo o seu quinhão no acordo que fizera com Hipodâmia, foi reclamar a Pélops o que deviam a ele. No entanto, alegando que não soubera do trato e não estava de acordo, recusou entregar-lhe a esposa para a primeira noite de núpcias, e Mírtilos, sentindo-se iludido, retirou-se e foi reclamar aos deuses no Templo de Zeus. Enquanto isso, Pélops, ao lado de Hipodâmia, tornava-se o novo rei da terra antes governada por Enômaus. Muitos e muitos dias se passaram sem que o rei Pélops se pronunciasse a cumprir sua promessa.

O nome de Pélops era citado pela boca de todo homem que vivia sobre a Hélade, e a terra na qual ele escolheu morar, desde o istmo de Corinto até os confins da Lacedemônia, recebeu seu nome: Peloponesos, cujo cetro, inicialmente forjado por Hefaístos ao pai Zeus, havia sido dado a ele pelo próprio deus Hermes, do Olimpo. E, para engrandecê-lo, ainda mais, foi considerado o primeiro grande soberano desse imenso reino, chegando a centralizar todo o seu poder, e acreditou-se mesmo que Hermes, tal qual Mírtilos, fosse seu pai, sendo sua mãe Cálice, “o botão”, ninfa da região de Élis. E o Peloponesos foi assim denominado, a “ilha de Pélops”, porque dava-se a volta por toda essa região, por mar, partindo do porto de Corinto, e chegava-se de novo em Corinto, pelas costas.

Quando Pélops ficou sabendo que Mírtilos havia salvo sua vida graças a Hermes, decidiu construir um templo em honra daquele deus. E, segundo boatos da época, teria sido o primeiro templo construído a algum deus naquele país. Em seguida, chamou Mírtilos de volta para falar-lhe de sua recompensa:

— Pede o que quiseres e eu te concederei, meu amigo. Mas sabes que Hipodâmia não pode fazer parte de teus planos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:28

Como lhe foi recusado uma noite com Hipodâmia, não tendo mais nada a perder, Mírtilos decidiu pedir o mesmo preço que achava valer pelo que não havia recebido:

— Quero a metade de teu reino. Nem mais nem menos. Tu me prometeste.

Pélops, surpreso, ficou muito apreensivo. A idéia de cumprir a palavra empenhada foi muito difícil. O novo soberano passou a noite toda pensativo, sem dormir, e, na manhã seguinte, bem cedo, mandou chamar Mírtilos. Sob o pretexto de irem ver os limites das novas terras que lhe seriam entregues, da parte central até o outro lado da Ápia, bem longe de Pisa. Enquanto percorriam o território, com Mírtilos conduzindo a biga, este lembrou-lhe:

— Tu sabes, rei Pélops, que não foi somente com a ajuda dos deuses que ganhaste a corrida. Fui eu que fiz com que se desprendesse a roda do carro do falecido rei Enômaus. Bem sabes que deves recompensar-me.

— É verdade, admito.

Pélops fez-lhe sinal para subir o monte, onde ficava um templo, desejando sacrificar aos deuses. Chegando bem próximo do penhasco, Mírtilos puxou as rédeas para deter os corcéis. E o rei continuou:

— Em seus últimos instantes falou-me o rei de ti, Mírtilos, pedindo-me que te castigaste. Talvez fosse um demente.

— Tu não poderias agir por essa forma, já que foi por causa de tuas promessas de recompensa que eu não substituí a cavilha.

Pélops apenas olhou-o e desceu do carro. E o rei, antes de se dirigir ao altar, aproximou-se do penhasco e mostrou-lhe o território que lhe prometera, até onde a vista podia alcançar.

— Vê, Mírtilos, eis a terra que te prometi. Poderás tornar-te rei e construir uma bela cidade. Ou, quem sabe, se preferires ser um grande proprietário de terras cultivadas...

Mírtilos interrompeu-o:

— Rei Pélops, sinto que desconfias de minha fidelidade. Sei que me portei como um traidor, mas...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:29

— Queres que eu seja perseguido pelas Erínias por desobedecer às ordens de um rei moribundo? Além disso, traíste teu soberano, sem dúvida, em meu benefício, somente para receber uma recompensa. Como terei certeza de que tu não vais me trair, a mim também?

Mírtilos, por algum tempo ficou calado, estranhando a desconfiança de Pélops. Talvez não tivesse intenção alguma de traí-lo, apesar de ter vários motivos para isso. E, pensando em defender-se de qualquer acusação, tentou explicar-se:

— Ora, Pélops, eu...

Pélops não esperou resposta; com um inesperado empurrão, atirou-o ao mar, pretendendo matá-lo. Mírtilos foi caindo, bateu nas saliências rochosas, feriu-se gravemente, quebrou braços e pernas e caiu na falésia. Quando tentou erguer-se, todo dolorido, foi tragado pelas águas nervosas do Arquipélago. Enquanto mergulhava para a Morte, Mírtilos lançou uma maldição sobre Pélops e seus descendentes, que certamente se cumpriria por muitas desgraças, por várias gerações:

— Pélops, verme maldito! Caia minha maldição sobre a tua cabeça e sobre todos da tua estirpe! Possam a desonra e a traição perseguir-te pelo resto da tua vida e levá-lo à Morte, assim como atentaste contra a minha! Recaia minha maldição sobre tu e tua família para sempre!

Uma onda lhe calou a boca agonizante. Mírtilos submergiu, desaparecendo para sempre. Por longo espaço de tempo, ficou Pélops imóvel e pensativo a contemplar as rochas manchadas de sangue e o embate espumoso das ondas.

O filho de Tântalos implorou a Hermes que o protegesse contra a maldição, mas apesar de o haver salvo antes duas vezes, na terceira Hermes se fez de surdo. Pélops havia-lhe assassinado o filho como ainda havia traído o amigo que lhe salvou a vida. Portanto, a maldição de Mírtilos haveria de se cumprir, de uma geração para a outra, através de desgraças, crimes graves e hediondos, todos punidos pelo castigo divino.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:30

Mas Pélops ignorava o seu destino e, encolhendo os ombros, tornou à biga e, calmamente, dirigiu-se para Pisa, onde foi recebido pela esposa Hipodâmia.

— Saíste cedo com Mírtilos... mas voltaste só. Onde está ele, meu esposo?

Pélops desceu de sua biga e entregou-a ao servo. Lentamente voltou-se para a esposa e lhe disse:

— Morreu. Foi a última vontade de teu pai.

Tanto a expressão de seu rosto como o tom de sua voz advertiram Hipodâmia de que não deveria prosseguir nas indagações. Assim era o homem tenebroso e terrível que viera do Oriente para estabelecer sua realeza na Élide, e, mais tarde, estender seu domínio a todas as terras do sul.

O deus Hermes, pela morte de seu filho, abandonou Pélops e deixou seu reino à mercê dos seus vizinhos. E Pélops, pensando em encontrar alguma graça diante dos deuses e dos homens pelo assassinato que cometera, honrou Mírtilos com um sepultamento ilusório e dando ao mar onde morrera o nome de Mirtos. Mas tudo em vão.

No entanto, o que aconteceu foi que o corpo de Mírtilos foi levado pelas ondas até uma pequena ilha próxima da costa, Esféria, e o seu fantasma passou a levar o nome de Ésferos.

Assim, consumado o seu casamento e a sua soberania sobre todos os reinos da Ápia, ao sul da Hélade, durante algum tempo sentiu-se Pélops feliz com sua formosa esposa e seu novo reino. Grande foi sua felicidade quando Hipodâmia deu-lhe um filho a que puseram o nome de Piteus. Passado um ano, mais ou menos, começou ele a estender suas vistas pelas planícies e vales da Élide, fazendo incursões a cavalo cada vez mais distantes, para tomar conhecimento dos reinos que confinavam com o seu e saber que qualidade de gente os governava.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:30

Com o correr dos anos, à medida que se tornava mais rico e poderoso, esquecia-se Pélops da maldição do áuriga Mírtilos, que o ajudara a conquistar sua esposa Hipodâmia e o reina da Élide. Sem dúvida, aparentemente, era Pélops um dos homens mais felizes do mundo. O casal tinha agora mais três filhos: Atreus, Tiestes e Alcátous, e uma formosa menina de nome Nícipe.

E não foram poucos os outros filhos que nasceram de Pélops e Hipodâmia: mais sete filhos varões, chamados Plístenes, Copreus, Troézenos, Hipálimos, Dias, Hípasos e Cínon, e três filhas, que foram Astidâmia, Lisídice e Hipótoe, e todos estavam destinados a ter descendência. No entanto, Pélops havia tido também um filho com outra mulher, Axioquéia, e chamava-se Crísipos, “o dos cavalos de ouro”, que não conseguiu obter a simpatia de Hipodâmia.

Em desagravo pela morte de Enômaos, Pélops fundou um grande festival que se celebraria a cada quatro anos em honra do rei morto, e se chamou Jogos Olímpicos. Mais tarde, Héracles, neto de Pélops, decretaria que seriam em honra de Pélops e que os sacrifícios que haveriam de ser feitos deveriam acontecer antes que os dedicados a seu pai Zeus.

Em seguida, Hipodâmia fundou, por gratidão a Héra, a rainha dos deuses, um festival em sua honra que também deveria se realizar de quatro em quatro anos e incluía uma corrida para moças. E Clóris, a filha de Anfíon e Níobe, foi a primeira vencedora dessa competição. E Hipodâmia, ela própria, preferia haver-se com cavalos e carros, uma de suas melhores habilidades.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 01:31

APOLO E DAFNE

Dafne (“laurel”) era mais uma das inúmeras caçadoras jovens e independentes que abominavam o amor e o casamento, segundo as narrativas de Ovídio. A jovem Dafne concordava plenamente com as palavras das Oceânides a respeito de entregar-se ao amor divino; era extremamente perigoso, e o melhor que poderia esperar era o exílio, pior que a morte. Seu pai, o deus-rio Peneus, foi submetido a grandes provocações por ter ela recusado todos os jovens belos e altamente qualificados que a cortejavam. Censurava-a com brandura e lamentava-se:

— A prosseguires com tuas recusas, jamais serei avô!

Mas ela o abraçava e adulava, temendo o casamento como a um crime:

— Amado pai, deixa-me ser como Ártemis! Concede-me esta graça! Faze com que eu não me case jamais!

A contragosto, ele consentiu, observando, ao mesmo tempo, porém:

— O teu próprio rosto é contrário a este voto.

E Dafne então mergulhava nas profundezas dos bosques, extasiada com sua liberdade.

No entanto, havia um jovem chamado Lêucipos, filho de Enômaus e da plêiade Astérope, segundo uns, ou de Evárete, filha do rei Acrísios. Apaixonado pela oréade Dafne, disfarçou-se em mulher, para seduzi-la, mas essa astúcia valeu-lhe a perdição.

Apolo andava envaidecido a respeito de sua vitória sobre a terrível Píton, quando viu o pequeno Éros brincando com seu poderoso arco e suas flechas. Sem ser notado, Apolo parou para observar a postura do menino. Com um dos pés escorado sobre uma saliência da rocha, o deus do amor procurava ganhar o máximo de equilíbrio para assestar com perfeição a sua cega pontaria, já que o fazia por puro instinto. Seu braço esticado, que segurava o arco, era firme sem ser musculoso; o outro, encolhido, segurando a flecha, tinha o cotovelo apontado para suas costelas; todo o conjunto, desde o porte até a dignidade dos gestos, demonstrava elegância.
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