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Deuses do Egito

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Mensagem por Ave de Rapina 7/1/2024, 21:59

Deuses Egípcios

MON (Amen, Amun) - O grande deus de Tebas de origem incerta; representado
como um homem, o sol e algumas vezes como o falo; identificado com Re como
AMON-RA; seus animais sagrados eram o cordeiro e o ganso.
ANAT - Deusa de origem síria, com caráter guerreiro, representada como uma mulher segurando um escudo e um machado.
ANUBIS (ANPU) - O Deus-chacal, patrono dos embalsamadores, curadores e cirurgiões; tanto em cerimonias de cura quanto em mumificasses, Anubis era
a deidade patrona que preparava o morto e curava o vivo. Anubis é considerado o grande deus-necropolitano.
ANUKIS (ANQET) - Deusa da região de cataratas de Aswan; mulher de Khnum.
ASTARTE (As-start-a) - Deusa de origem síria, introduzida no Egito durante a decima oitava dinastia. Também conhecida como 'Deusa do Céu' e seu culto era freqüentemente misturado com as adorações de Isis.
ATEN - Deus do Disco-Solar, venerada como o grande Deus Criador .
HARPOCRATES (HOR-PA-KHRED) - Uma forma posterior de Horus em seu aspecto
de filho de Isis e Osiris, representado como uma criança nua usando um cinto de castidade e com um dedo colocado sobre a boca.
HATHOR - Deusa de muitas funções e atributos, representada freqüentemente
como uma vaca ou mulher-cabeca-de-vaca, ou como uma mulher com chifres; o
bezerro do reino, o bezerro dourado; centros de culto em Menfis, Cusae, Gebelein, Dendera; a deidade patrona da região mineradora do Sinai; identificada pelos gregos com Afrodite. Foi enviada por Re para limpar a terra de pessoas descrentes. Após escravizar todos que se opunham a Re, pediu para descansar e tornou-se o equivalente grego de Afrodite, a deusa do amor, da fertilidade, das mulheres - e também protetoras dessas ultimas. Ha' muitos mitos em volta da figura da deusa Hathor.
HEQET - Deusa-Sapo de Antinoopolis onde era associada a Khnum; ajudante
das mulheres na hora do parto.
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Mensagem por Ave de Rapina 7/1/2024, 22:00

HORUS (Haroeris, Harpocrates, Harsiesis, Re-Harakhty) - o deus falcão, originalmente o deus-ceu, identificado com o rei enquanto fosse esse vivo. Melhor conhecido como o filho de Osiris e Isis. Horus foi também o vingador de seu pai Osirius, morto por Set. O olho de Horus veio de um mito de suas batalhas onde Horus abriu mão de seu olho direito em batalha. Desde então o Olho de Horus tem sido usado para representar forca, vigor, e auto-sacrificio. Seus centros de culto encontravam-se em muitos lugares, Behdet no Delta, Hierakonpolis e Edfu no Alto Egito.
ISIS - Conhecida como a divina mãe e esposa de Osiris, mãe de Horus; Isis é uma das quatro grandes Deusas protetoras (Bast, Nephytes e Hathor) guardiã de túmulos e urnas mortuárias. Isis é irmã de Nephytes com quem atuava em conjunto como carpidora divina para o morto, e divinamente é representada pela Cruz Ansata (Ankh).No ultimo período Pilasse foi seu principal centro de culto. Ela é conhecida também com Rainha do Céu (similarmente a Astarte) e rege sobre todos os assuntos que concernem a vida, a maternidade e a bruxaria. Na origem do mito de Re e do mundo, foi escrito que ela encontrou o nome "Re" fazendo com que uma serpente
venenosa mordesse Re por encantamento. A serpente mordeu Re e a única maneira de curá-lo foi pela descoberta de seu verdadeiro nome. Conhecendo esse nome, ela obteve um poder do mesmo porte do dele e a partir disso tornou-se conhecida como a feiticeira divina. Outro mito de Isis concerne a ambos, Osiris e Horus. Nesse mito, Set assassina Osirius e dispersa seu corpo em seis pedaços, um em cada canto do mundo. Isis vai ao encontro desses pedaços quando estava com Horus em seu ventre. Durante esse tempo Osiris tornou-se Senhor dos mortos. Horus foi dado à luz e comprometeu-se a vingar a morte de seu pai pelo assassinato de Set. Isis viveu a partir de então como pranteadora divina na terra e no céu.
KHEPRI - O deus-escaravelho, identificado a Re com deus criador; freqüentemente representado como um besouro com o disco solar.
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Mensagem por Ave de Rapina 7/1/2024, 22:00

KHONS - O deus-lua, representado como um homem; com Amun e Mut como seu pai e sua mãe, formando a tríade thebana.
MAAT - Deusa da verdade, do direito e da conduta adequada; representada como uma mulher com uma pena de avestruz em sua cabeça. Diz-se que no julgamento do morto ela segura a balança que pesa o coração humano.
NUN (NU) - Deusa do caos primevo, Nu era também vista como a água primordial a partir da qual os deuses, a terra e os humanos foram criados, ou seja, o caos a partir do qual criou-se a ordem.
NUT (NUIT) - Deusa do céu, mulher de Geb, o deus-terra; representada como mulher, seu corpo nu curvado para formar o arco celeste.
OSIRIS (Asar) - Deus do mundo subterrâneo, identificado como deus dos mortos; também um deus da inundação e da vegetação; representado como um rei mumificado; principal centro de culto Abydos. Osiris é visto como o grande juiz dos mortos.
RE (RA) - O Deus-Sol de Heliopolis; cabeça do grande eneagrama, juiz supremo; freqüentemente vinculado a outros deuses que aspiram à Universalidade, por exemplo Amon-Ra, Sobk-Ra; representado como o deus-cabeca-de-falcao. Assemelha-se ao pai de todos os deuses, a partir dele todos os outros deuses e deusas foram criados. Ele e' conhecido também por três aspectos, que correspondem às posições do Sol, Amen na aurora, Re no ocaso e Set no crepúsculo.
REHARAKHTY - Deus em forma de falcão, corporificando as características de Re e de Horus (aqui chamado "Horus do Horizonte").
RENENUTET (Ernutet, Thermuthsi) - Deusa da colheita e da fertilidade, representada como uma serpente ou mulher-cabeca-de-serpente.
SETH (Set, Suteck) - Deus das tempestades e da violência; identificado a muitos animais, inclusive o porco, o burro, o ocapi (mamífero da família das girafas) e o hipopótamo; representado como um animal nao-identificado, irmão de Osiris e de seu assassino, o rival de Horus; comparado a Typhon pelos gregos.
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Mensagem por Ave de Rapina 7/1/2024, 22:01

SOBK (Sebek, Suchos) - O Deus crocodilo, venerado por todo Egito mas especialmente no Faiyum, e em Gebelein e Kom Ombo no Alto Egito.
TEFNUT - Deus do orvalho, formando com SHU o primeiro par do panteão de Heliopolis.
THOTH - O Deus-cabeca-de-ibis de Hermopolis; o escriba dos deuses, o inventor da escrita, e grande deus de todo conhecimento; tanto o macaco quanto o íbis são consagrados a ele. No julgamento do morto ele era o escriba que registrava as confissões e afirmações do morto em seus papiros, mantendo assim um registro de quem adentrava o paraíso e quem era devorado pelos cães do julgamento.
UNNEFER (Wenen-nefer, Onnofhris) - Nome que significa "aquele que nunca chora", o deus que esta' sempre feliz, dado a Osiris após sua ressurreição.
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Mensagem por Ave de Rapina 8/1/2024, 00:58

Sekhmet

Quase 40 deusas são associadas com leoas. A cabeça de leoa é símbolo de força e poder de destruição de inimigos. É representada a maioria das vezes sentada em um trono, com o pé esquerdo à frente, sugerindo movimento. Sekhmet foi profundamente temida por seus inimigos. Os ventos escaldantes do deserto eram sua respiração e os egípcios acreditavam que sua aura impetuosa cercava seus corpos. A praga e a peste foi criação dela. Considerada como "Senhora da Vida", foi considerada a "Patrona dos Médicos e Ortopedistas". No período do ano em que os raios do Sol estão mais fracos, Sekhmet mostra seu lado mais generoso. Ela jamais deve ser tratada sem reverência, pois Sekhmet merece o nosso maior respeito e consideração. Segundo a lenda egípcia, ela tortura as pessoas malignas e desrespeitosas, mas é protetora dos fracos e desassistidos. Seus poderes abrangem proteção, banimento e destruição do negativo.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 9/1/2024, 23:45

Maat

O que eu sei é: Tradicionalmente, acreditava-se que MAAT, a deusa-justiça, a Verdade personificada, ou melhor, divinizada, era filha de Rá. Tem muita lógica associar o Sol à ideia de justiça - o Sol "nasce para todos", o Sol "tudo vê" na medida que sua luz penetra em quase todos os lugares, durante o dia, que "só não alcança quem está em trevas" etc.
Após o Antigo Império uma ideia de sede de justiça permeava, pelo menos teoricamente, o poder. O faraó ainda é Hórus vivo, mas também é filho de Rá, "devendo governar com Maat" (Verdade e Justiça) e ser o "pastor de seu povo". Maat esposa mítica do faraó.

A representação visual de Maat era uma bela mulher alada, que usava uma de suas plumas para comparar em uma balança de braços (tal balança poderia ser o próprio corpo da deusa) o peso do coração da alma do nobre recém-morto, inclusive o rei. Tal ritual "no além" fazia parte do julgamento da "alma " do morto e o veredito decidia entre pós-vida eterna ou uma segunda morte (da alma, devorada por um deus-monstrengo).

Mas parece que também se acreditava que Maat era esposa do deus Thot, estabelecendo uma relação entre justiça e razão.

A similaridade entre Geburah (o rigor divino na kabalah) e Maat é grande.

Há também uma relação entre Amon e Maat durante a criação dos seres vivos que eu não conheço bem, mas tem relação com os títulos "Mâe de Deus", "Esposa de Deus" e "Filha de Deus". Não sei se esta relação é anterior ou posterior á fusão, de ordem política, entre os deuses Rá e Amon, com o predomínio de Tebas/Uaset. Mas uma relação deste mito com as raízes egípcias do cristianismo é muito provável.
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Mensagem por Eremita 31/1/2024, 22:25

O asno de ouro: uma análise do culto da deusa Ísis


A fonte analisada no presente post é a obra O asno de ouro, uma mistura de características de estilos grego, romano e africano do século II d.C. A obra é considerada helenística, sendo uma mescla de vários mundos: Oriente, Grécia, helenismo e literatura latina. O autor, Lúcio Apuleio, faz uma crítica à sociedade em que vive e descreve algumas crenças dos romanos.


O título original da obra é Libri Metamorphoseon, escrita por volta de 160 d.C., sendo a denominação Asinus Aureus dada por Santo Agostinho. O asno de ouro é uma sátira, dividida em onze livros – onze capítulos –, onde Apuleio narra as aventuras de Lúcio, metamorfoseado em burro, em virtude de um engano. A obra é narrada em primeira pessoa, pelo próprio protagonista. Durante uma viagem à Grécia, hospeda-se na casa de uma feiticeira e experimenta uma de suas pomadas e se transforma em asno, mas continua com mente humana. Passou por donos sucessivos, servindo a um sacerdote, um moleiro, um jardineiro, um confeiteiro, um cozinheiro, até que a deusa Ísis lhe ensina como retornar à forma humana. Em troca, Lúcio deve aceitar ser iniciado nos mistérios da deusa e tornar-se um sacerdote. A sátira da obra está na mitologia pagã, o autor está profundamente interessado nos cultos de mistérios, no maravilhoso e no sobrenatural, sendo o cristianismo também criticado indiretamente, quando descreve com muita ironia os personagens que cultuam apenas um deus. O público alvo do autor são os educados e cultos, pois é a sua sociedade que está sendo ridicularizada.


Para que Lúcio voltasse à forma humana, deveria comer algumas rosas, as quais encontra somente após algum tempo, quando já passou por todas as etapas de aprendizado, ou seja, por toda sua peregrinação. A rosa tem um grande significado na Antigüidade, designa a perfeição acabada, uma obra sem defeito. Segundo Luís Mucillo (1995), a rosa e sua cor eram os símbolos do primeiro grau de regeneração e de iniciação aos mistérios. Lúcio somente encontra as rosas no final de sua peregrinação, logo que volta à forma humana e começa a ser iniciado no culto de mistério da deusa Ísis, realmente, a rosa aparece na primeira etapa de sua iniciação.


A obra caracteriza-se pelas histórias e aventuras, juntamente com a religião de mistérios e idéias platônicas, misturando o pitagorismo, o platonismo e as superstições. Toda a obra tem o caráter místico, mas o interesse maior está no livro XI (1) , onde Lúcio volta à forma humana com a ajuda da deusa Ísis e é iniciado em seu culto, com este capítulo, podemos entender um pouco de como era o culto de mistério da deusa Ísis no Império Romano. Para isso, utilizo como metodologia, o autor Mikhail Bakhtin (1988). Para este autor, O asno de ouro é considerado como “romance de aventuras e de costumes”. O tempo e espaço são coerentes e conhecidos na obra, Lúcio é apresentado metamorfoseado e depois segue todo um caminho de peregrinação, em forma de asno. Neste período passa por vários lugares, todos são descritos e conhecidos. A peregrinação de Lúcio simboliza sua preparação para ser iniciado no culto de mistério. A metamorfose está ligada à identidade, sendo esta muito importante. O asno é o que melhor expressa as características do personagem, como teimoso e imprudente, o burro também pode simbolizar o mal e o bem, isso porque o deus Seth, inimigo de Ísis e Osíris, é apresentado como este animal, no Egito eram oferecidos em sacrifício ao deus Seth. O lado bom é que asno carrega a divindade nas procissões, portanto simboliza o animal que está protegido pela deusa, assim, o protagonista está protegido a todo o momento. Nos mistérios Eleusis, o asno era o animal que carregava as bagagens dos iniciados desde Atenas até Eleusis, a carga transportada representava o corpo da divina criança Dioniso, Apuleio era iniciado neste culto, portanto as peregrinações do asno Lúcio são analogias das etapas de iniciação. No Egito, o asno foi o mais antigo animal doméstico, este transportava os cereais, que eram associados a Osíris, o fato de carregar a carga associada ao corpo de Osíris significa que o animal é o inimigo de Ísis, ligado a Seth, que carregou o corpo do marido morto. Além disso, o asno é o animal que tem orelhas grandes, por isso ouve muito bem, portanto, sendo um dos objetivos do autor da obra descrever a sociedade romana da época em que viveu, o burro é o que melhor pode narrar esta sociedade, mostrando tudo o que ouve dos personagens.


A metamorfose significa um aprendizado para Lúcio, é um momento de ruptura e de crise, onde o personagem só voltará à forma humana quando estiver preparado. Com isso, Bakhtin mostra que o romance apenas quer apresentar o momento de crise, não se preocupando em dar uma biografia do personagem. Lúcio tem três imagens: Lúcio antes da metamorfose, Lúcio em forma de asno e Lúcio em forma humana já purificado.


Lúcio Apuleio, autor da obra, nasceu em Madaura, na Argélia, na época do imperador Adriano, vivendo entre os anos 152 a 170 d.C. Foi educado em Cartago e Atenas, onde se aperfeiçoou na filosofia, sendo advogado em Roma.


Apuleio viajava muito, em uma de suas viagens estabeleceu-se na casa de um amigo em Oea, desposando sua mãe, Emília Prudentila. Por se casar com uma viúva rica, foi acusado de conquistá-la por artes mágicas. O processo ocorreu por volta do ano 158, Apuleio defendeu-se e foi absorvido, tal processo está descrito em sua obra Apologia.


O autor foi orador, novelista, filósofo popular místico, possuía cargos políticos e sagrados nas religiões de mistérios, sendo um dos mais brilhantes literários da época dos Antoninos. Seu conhecimento filosófico e suas iniciações em cultos de mistérios, adquiridos ao longo de suas viagens, são expressas na obra O asno de ouro.


Na época dos Antoninos, no século II, surge uma nova tendência para a retórica africana, denominada “africista”. Era uma mistura de características do africano e do Império Romano, sendo Lúcio Apuleio um dos maiores representantes.


O século dos Antoninos foi um período de expansão, onde o Império Romano afirmou unidade e coesão. A obra O asno de ouro revela o homem deste tempo, o qual está preocupado com a investigação acerca das experiências mágicas; a religião e a filosofia foram substituídas por uma mescla religioso-filosófica, contendo aspectos pitagóricos e platônicos, juntamente com superstições e ritos orientalizantes.


Os romanos sentem a necessidade de uma religião espiritual, é neste período que entram em contato com as religiões orientais. Os mistérios greco-orientais deram um senso de espiritualidade superior, colocando o homem em contato direto com a divindade e pensando a vida do além-túmulo.


O culto da deusa Ísis tornou-se popular em Roma no fim da República. Ísis é a deusa egípcia que, por ter recomposto o corpo do marido, Osíris, e ter-lhe dado nova vida, ganhou a fama de poderosa. Em Roma, seu sucesso se deve ao fato de seu culto ter sido o primeiro com caráter de salvação pessoal, ajudando os homens a suportar as dificuldades do cotidiano e prometendo uma vida de felicidade após a morte. O culto da deusa era predominantemente, não exclusivamente, feminino. Em Roma, o Senado foi contra o culto da deusa Ísis por várias gerações, sendo o altar da deusa destruído muitas vezes. Sob Calígula, foi erguido o grande templo da deusa, no Campus Martius.


Segundo Walter Burkert (1987), as religiões de mistérios são de origem, estilo e espírito orientais. Os mistérios são cerimônias de iniciação, são cultos onde a admissão e a participação dependem de algum ritual pessoal, sendo a magia uma das principais raízes dos mistérios. Nos mistérios de Ísis, a deusa assegura ao iniciado prolongar-lhe a vida além do termo fixado pelo destino e lhe dar uma nova vida. A deusa Ísis foi muito bem aceita no Império Romano, desde o Egito era ligada à magia, portanto no culto de mistério ela cabe perfeitamente, além disso, a maior parte dos seguidores da deusa são mulheres, que se identificam com a deusa na magia e nas questões de fertilidade.


Ísis e seu esposo Osíris tinham grande prestígio no Egito, por isso a deusa também teve sucesso em Roma. Ísis, na mitologia egípcia, era a esposa-irmã de Osíris, juntos reinavam e difundiam a paz. Certo dia, Osíris viaja para levar a paz pelo mundo, quando volta, é morto pelo irmão Seth, que o esconde. Ísis sai à procura do marido, quando o encontra, esconde seu corpo em um pântano. Seth estava caçando quando encontrou o corpo de Osíris, então, furioso, o parte em quatorze pedaços e espalha-os pelo Egito. Ísis, novamente, sai à procura e encontra treze pedaços, os quais une e forma a primeira múmia. Ísis também é fecundada pelo marido morto e nasce Hórus, que irá combater Seth. O resultado foi a divisão do Egito entre o Alto e o Baixo Egito, para Seth e Hórus. Por ter restituído a vida do marido morto, Ísis tem como função primordial curar os enfermos. A ressurreição de Osíris simboliza a renovação vegetal, assim, Ísis é também a deusa agrária e da fertilidade, assim como a mãe universal.


Os adoradores de Ísis em Roma imitavam a deusa, batendo no peito e gritando por Osíris, mas explodindo de júbilo quando o deus é reencontrado. O templo era a morada dos deuses, os sacerdotes tinham que ser puros, por isso raspavam a cabeça e suas funções eram: lavagem das estátuas, transporte da divindade em procissões, oferendas rituais de alimentos e bebidas, instalação da presença divina na estátua, etc. Assim, em Roma, os mistérios de Ísis eram prolongamentos das cerimônias egípcias. Apuleio ([s.d], p.192) mostra parte de um ritual à deusa,


[..] o ancião me conduziu logo até a porta do imponente edifício, onde, depois de ter celebrado, na forma consagrada, o rito de abertura do templo, cumpriu o sacrifício matinal. Tirou de um recesso do fundo do santuário livros em que estavam traçados caracteres desconhecidos. Alguns eram figuras de animais de toda a espécie, expressão abreviada de fórmulas litúrgicas.


Os mistérios de Ísis e Serápis – identificado ao deus Osíris – comportavam festas públicas, um culto diário e ritos secretos. Os sacerdotes de Ísis sabem o que fazer porque são avisados pela deusa em sonho.


Durante a iniciação ao culto de mistério, recomenda-se a abstinência por dez dias de comer carne e de beber vinho,


[...] toda gente recomendou-me que me abstivesse durante dez dias seguidos dos prazeres da mesa, que não comesse carne de nenhum animal nem bebesse vinho, abstinência que observei com religioso respeito (APULEIO, [s.d], p.192).


O nome Lúcio significa “peixe”, este é relacionado ao sagrado. Ao peixe é atribuído o nascimento e a restauração, por se reproduzir rapidamente e com muitos ovos, é símbolo da vida e fecundidade. No Egito, o peixe fresco ou seco, era consumido pelo povo, mas proibido aos sacerdotes. A peregrinação de Lúcio, ou seja, do “peixe”, mostra seu caminho para o renascimento, a iniciação tem este caráter, deixar a vida para renascer em uma nova vida espiritual. Sendo a peregrinação de Lúcio etapas para sua purificação, em certo momento, Lúcio compra peixes para o jantar, encontrando seu amigo Pítias, este destrói sua compra, dizendo que foi roubado no preço pago pelos peixes, privando Lúcio de seu jantar, assim, durante o aprendizado, Lúcio já não poderia comer os peixes.


Na noite da iniciação, a massa de fiéis honra-o com presentes diversos, em seguida, vestido com o manto de linho, é conduzido pelo sacerdote para a capela mais retirada do santuário. O sacerdote que inicia o personagem no culto chama-se Mitra, mesmo nome da divindade indoiraquiana, que significa “intermediário”, este realmente é o intermediário entre Lúcio e a divindade.


Lúcio, que estava na forma de um asno, é salvo pela deusa Ísis. A deusa aparece na obra como a guia de Lúcio, que o conduz para a purificação, é ela quem lhe aparece em sonho e indica o caminho a seguir, assim, Lúcio volta à forma humana, mas deve ser iniciado nos mistérios de Ísis e servi-la por toda a vida. A deusa Ísis muda o destino do personagem, era assim que os romanos acreditavam. Quando a deusa aparece em sonho para Lúcio, ela diz:


Venho a ti, Lúcio, comovida por tuas preces, eu, mãe da Natureza inteira, dirigente de todos os elementos, origem e princípio dos séculos, divindade suprema, rainha dos Manes, primeira entre os habitantes do Céu, modelo uniforme dos deuses e das deusas. Os cimos luminosos do Céu, os sopros salutares do mar, os silêncios desolados dos infernos, sou eu quem governa tudo isso, à minha vontade. Potência única, o mundo inteiro me venera sob formas numerosas, com ritos diversos, sob múltiplos nomes (APULEIO, [s.d], p.182).


A vida de Lúcio como asno é uma vida de aprendizagem, por isso passa por várias dificuldades, principalmente castigos físicos, no final do romance, já sob a forma humana, Lúcio deixa a vida ruim e vai para a boa, ou seja, volta a ser humano, é iniciado nos mistérios de Ísis e tem a proteção pelo resto da vida. O nome do personagem da obra é Lúcio, mesmo nome do autor, Lúcio Apuleio, por isso se discute se o nome do autor é realmente Lúcio ou este é confundido com o personagem, além disso, sendo o próprio autor iniciado no culto de mistério da deusa Ísis, o romance pode ser identificada à sua própria vida. O autor também é iniciado em outros cultos de mistérios, por isso encontramos em algumas etapas da peregrinação do asno como similares às etapas de rituais de iniciação aos cultos, principalmente ao culto de Mitra e Eleusis.
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