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A Trilha Sonora do Holocausto

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Mensagem por sombriobyte 26/4/2019, 01:38


Creio que o Flautista se refere a um estado latente que perdurará por anos sem fim. Uma raça tradicional, guerreira que passará de geração em geração a SUA história.
Bem sabemos que a história é escrita pelos vencedores e, jamais os vencidos têm direito de se manifestarem. Talvez essa a razão do ''cuidado''. Não creio que a Alemanha tenha perdido seus valores culturais, muitos menos na música, apenas foi ''americanizada'' e sua juventude poluída pelas falsas ideologias que imperam no mundo capitalista. As tradições musicais de Beethoven, Bach, Mozart, Haydn, jamais perecerão ante seu próprio povo. Wagner, um tanto agressivo e pesado tornou-se o sustento do nazismo como forma imperativa, é o que Wagner transmite em algumas de suas composições. A febre da disputa e a luta pela sobrevivência não permitem ao homem moderno ''perder tempo'' com composições que não lhe rendam bons euros ou bons dólares. Mas esteja certo Apocalipse, a disputa entre raças ou entre poderes jamais terminará. A música, seja ela qual for, ainda será o elo de ligação entre os povos. A linguagem Universal.

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Mensagem por sombriobyte 28/4/2019, 03:27


Transcrevo matéria publicada a alguns anos no Estadão.
Ouvindo os autores silenciados pelo regime nazista
Concertos e gravações trazem à tona produção rica de músicos mortos durante a 2.ª Guerra

ALLAN KOZINN
The New York Times

Os músicos vêm descobrindo um recanto perdido do mundo musical do século 20, uma galeria de compositores que haviam estabelecido estilos distintos e catálogos significativos nos anos 30, antes do nazismo varrer a Europa. Eles eram na maioria judeus da então Checoslováquia e estavam no centro de uma próspera vida cultural em Praga. A maioria foi enviada primeiro para o campo de Theresienstadt, em Terezin, Checoslováquia - onde escreveram suas últimas obras -, e dali para Auschwitz, onde foram assassinados.

Em alguns casos, as obras sobreviveram porque os compositores confiaram pilhas de manuscritos a amigos, que esconderam as partituras em sótãos e se esqueceram delas até os anos 80 e 90, quando pesquisadores, tendo ouvido falar dos artistas, saíram em busca dessas peças. É o caso de Viktor Ullmann, Erwin Schulhoff, Hans Krasa, Gideon Klein e Pavel Haas, autores que, aos poucos, se tornam mais conhecidos por meio de gravações e concertos.

Um músico que recentemente abraçou esta causa é o americano James Conlon, regente titular da Ópera Nacional de Paris desde 1995. Conlon supervisiona a série Recuperando um Patrimônio Musical, que foi inaugurada no fim de março com concertos em diversas salas de Nova York.

Conlon chegou a essa música por meio de Alexander Zemlinsky, compositor cuja vida também foi importunada pelos nazistas - mas que, como Schoenberg, Weill, Korngold e Goldschmidt, conseguiu escapar deles. Nos últimos anos, o maestro dedicou-se à tarefa considerável de gravar a integral de Zemlinsky, e isso parece tê-lo levado a esses compositores, se unindo a um esforço que, de certa forma, teve início quando a ópera corajosamente satírica de Ullmann, Der Kaiser von Atlantis (O Imperador de Atlântida) estreou tardiamente em 1975.

Uma década depois, Joza Karas publicou Music in Terezin, um estudo sobre os músicos que viveram naquele campo superlotado e a vida musical que eles criaram para manter algum senso de civilização. A Fundação de Música de Câmara de Terezin, que apóia pesquisas, apresentações e gravações desde 1988, e a série Entartete Musik (Música Degenerada) da Decca Records, que explorou compositores considerados degenerados pelos nazistas (tarefa ultimamente desempenhada também por outros selos), ajudaram a reviver essa música.

Alusões - O Kaiser de Ullmann foi a abertura perfeita para a série de Conlon. Composta em Theresienstadt, a peça estava para ser estreada em outubro de 1944, quando Ullmann foi enviado a Auschwitz. Com libreto em alemão de Petr Kien, a obra descreve o reino do Imperador Überall (algo como Imperador Acima de Tudo), que declara guerra ao restante do mundo. Ele claramente representa Hitler, e sua companheira, a Garota do Tambor, pode ser vista como Eva Braun. A Morte considera a guerra do imperador tão obscena que abandona sua terrível colheita, criando o caos ao negar o último suspiro aos mortalmente feridos. O final de Ullmann: o imperador enxerga o erro de sua conduta e concorda em ser o primeiro a morrer se a Morte retomar seu trabalho.

A produção de Edward Berkeley, com cenários de John Kasarda e figurino de Hilary Rosenfeld, foi sincera e teve alguns toques afiados, como o Imperador como um cruzamento entre Hitler e Drácula, e a Morte com uma túnica vermelha e um capacete da época da 1.ª Guerra Mundial. Mas em geral ela evitou o simbolismo pesado. Os cantores e o grupo de câmara regidos por Conlon eram da Juilliard School e deram a interpretação polida e afiada que a obra requer.

Houve apenas um momento desnecessariamente chocante na apresentação, realizada no santuário de uma sinagoga. Como parte de uma preparação de clima que incluiu uma interpretação dolorosamente bela do sexteto de cordas do Capriccio, de Strauss (que teve sua estréia logo depois de Ullmann chegar a Theresienstadt), trechos de discursos de Hitler foram emitidos pelo sistema de som. A intenção era capturar o clima da época, o que teria funcionado numa sala de concerto, ou mesmo no saguão social da sinagoga. Mas tocar fitas de Hitler no santuário mostrou falta de consideração para com a natureza do espaço.

No concerto de música de câmara em São Bartolomeu, Conlon e Mark Ludwig, violista do Quarteto Hawthorne e fundador da Fundação de Música de Câmara de Terezin, falaram brevemente sobre várias das obras e seus compositores e lideraram uma série de interpretações profundamente tocantes. Conlon começou com uma de suas especialidades, a comovente Maiblumen Blühten Überall (Flores de Maio Germinadas por Toda Parte), de Zemlinsky, escrita em 1903-04 e oferecida aqui como uma obra introdutória, de uma época em que a linguagem musical era essencialmente romântica, mas já em mutação.

O coração do programa, no entanto, era a música para cordas. O Quarteto Hawthorne tocou, de Krasa, o Quarteto de Cordas (1921), de uma fase inicial, no qual um sotaque expressionista é temperado com toques de cabaré no estilo de Weill, e a última obra do compositor, uma vigorosa e às vezes transcendente Passacalha e Fuga para trio de cordas (1944). O Quarteto n.º 3, de Ullmann (1943), tinha o mesmo tipo de intensidade e inventividade cromática que a Noite Transfigurada, de Schoenberg. Como bis, o grupo tocou o Scherzo do Quarteto, de Klein, composto em 1940, quando o autor tinha 20 anos. Ele foi morto cinco anos depois.

Os concertos dedicados inteiramente a compositores atingidos pelo Holocausto têm servido bem à música, mas o que essa música precisa agora é ser absorvida pela corrente dominante: adotada pelos intérpretes como obras de repertório e oferecida em programas ao lado de tudo, de Mozart a Copland.

Ela pode suportar a prova. (Tradução de Alexandre Moschella)

sombriobyte

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Mensagem por sombriobyte 28/4/2019, 03:28


Tem uma ópera maravilhosa chamada "Der Gewaltige Hahnrei", de Goldschmidt, uma das obras-primas líricas do século passado. Pouco conhecida, mas existe uma ótima gravação que saiu pela DECCA na série "Entartete Musik". Ouçam!

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Mensagem por sombriobyte 3/5/2019, 02:21


Galera, e a discussão aqui, esgotamos o assunto?

Pra dar uma provocada, vamos voltar a Wagner. Que ele foi um notório anti-semita, disso não há dúvidas. Se bem que, vale ressaltar, naquela época estava em voga nos meios acadêmicos esse tipo de pensamento. Era a época do "darwinismo social", em que a sociedade era dividida em raças, e a cada uma era atribuído um valor diferente, ou antes, uma capacidade intelectual e artística diferente. Um dos escritos famosos de Wagner é "O judaismo na música" que ataca a arte produzida por judeus.

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Mensagem por Marley 3/5/2019, 12:30


A doutrina nazista é a própria negação do humano, como demonstra, por exemplo, Hannah Arendt em Origens do Totalitarismo.
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Mensagem por Siegfried 3/5/2019, 15:54


De novo, a associação de Wagner com o Nazismo é um absurdo dialético.
Hitler, um desvairado apreciava Wagner, como apreciava artes pláticas, sendo mau pintor.
Inúmeras pessoas apreciam Wagner, montam suas óperas, pessoas compram ingressos, compram CDs, DVDs, e nem por isso saem matando judeus.
Metha, à frente de IPO, tocou Wagner, e não foi para o calabouço.
A associação é tão estapafúrdia do ponto de associação dialética, que daqui a pouco poderemos dizer que Carlos Gomes é o mentor da monarquia.
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Mensagem por Siegfried 3/5/2019, 15:55


Wagner morreu 50 anos antes da ascenção do nazismo. Sua obra foi apropriada por uma familia maluca e racista. O maestro que ele próprio escolheu para estrear Parsifal se chamava Hermann Levi e era filho de rabino. Chega de jogarem culpa em cima de Wagner.....além das que ele realmente merece ter, como egocentrismo, etc, etc....
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Mensagem por sombriobyte 5/5/2019, 03:38


"O que Barenboim fez foi descarado, arrogante, incivilizado e insensível."
Ehud Olmert, prefeito de Jerusalém, referindo-se ao maestro Daniel Barenboim, que regeu músicas de Richard Wagner, adorado pelos nazistas.

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Mensagem por sombriobyte 5/5/2019, 03:39


http://andrewhurle.com/27/aa062998.htm
"Webern's Dodecaphonic Conspiracy"

Uma matéria atribuída à Associated Press, dizendo que Webern era um espião nazista que criptografava dados sobre energia atômica em suas músicas. O site prova depois que é tudo um boato.

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Mensagem por Frederico Mercúrio 30/6/2019, 13:43


Acho que talvez a figura mais difícil de desculpar, por suas profundas ligações com o nacional-socialismo alemão, é mesmo Carl Orff. Em contraparte, Richard Strauss - como já o fizera Hindemith - trocou muitas farpas com o regime nazista (embora não devamos esquecer que, inicialmente, houve uma certa colaboração artística de Strauss com o regime).

Conta-se que certa feita, Hitler teria pedido a R. Strauss que reescrevesse Sonho de uma Noite de Verão, de Mendelssohn - que era judeu. Strauss imediatamente se recusou, dizendo que não seria capaz de escrever música melhor que aquela. Imagine-se o descontentamento do Führer: um alemão ser "incapaz" de escrever música melhor que um judeu...
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Mensagem por Frederico Mercúrio 30/6/2019, 13:44


Eu tenho um livro aqui em casa sobre o Wagner que contém uma foto com parte da família Wagner caminhando em Bayreuth com Hitler, incluindo o então jovem Wolfgang Wagner (aproximadamente 22 anos, acho eu), que estava muito sorridente na foto, feliz da vida de estar passeando com aquela gentalha...
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Mensagem por Frederico Mercúrio 30/6/2019, 13:45


De fato, Strauss trombou várias vezes com a arrogante inteligentzia nazi. Quando Strauss indicou Stefan Zwieg (judeu) para seu libretista, a partir do romance deste último "A Mulher Silenciosa", houve muita pressão para que ele desistisse de Zweig. O velho e digno compositor todavia, bateu o pé e não abriu mão da parceria com o escritor. E os nazis tiveram que engolir a ópera, anunciada com o nome de um judeu nos cartazes.
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Mensagem por Frederico Mercúrio 30/6/2019, 13:47


Que terreno contaminado e minado que entraram! Devemos lembrar que nenhuma guerra foi relatada pelos vencidos. Com absoluta certeza, todas elas são escritas e historiadas pelos vencedores e narram fatos existenciais sempre pejorativamente ao inimigo ou ex-inimigo. Apenas uma isolada opinião: ainda que não julguem assim, o aspecto conotativo é político eis que versa o estado deste sobre esse ou aquele compositor. Trata-se, pois, de um pedido de zelo e respeito sobre uma época sofrida e plena de tristeza para a humanidade.
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Mensagem por Frederico Mercúrio 30/6/2019, 13:50


Colaboração de artista com regimes políticos em que viveram é sempre um tema muito delicado de discutir e que muitas vezes deturpa o próprio sentido da arte. Tem que ser abordado com muita isenção para não se desviar dos verdadeiros objetivos de uma boa discussão sobre arte.
Sobre o tema "colaboração", recomendo um excelente filme do diretor húngaro Istvan Szabó, denominado Mephisto, baseado numa estória real e que permite muitas reflexões sobre o tema colaboração com o regime nazista, mas que pode ser extrapolado a outras situações, tal sua universalidade.
Outro aspecto, visto no documentário Música do Séc. XX, apresentado pelo Sir Simon Rattle, comenta a relação do compositor Shostakovich com o ditador Stalin e ele cita o que alguém muito sábio dissera:
O verniz que os ditadores impõem às obras de arte, desaparece com o devido tempo, surgindo depois sua verdadeira cor.
Frederico Mercúrio
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