O que é Metafísica?

Creio que Parmênides pode ter sido sim um dos precursores da metafísica, digo ''pode'' porque acaba se tornando muito obscuro pela falta de registros saber se existiram outros pré-socráticos que abordaram também o tema. Parmênides ,aliás, é considerado o pai ontologia.

Apenas uma pequena correção quanto a sua colocação: na verdade, Aristótéles nunca usou termo "metafísica". O termo foi empregado séculos depois da sua morte em ocasião da organização de seus escritos, por Andrônico de Rodes.

Platão nunca mencionou o termo "metafísica" em seus diálogos. Nem mesmo Aristóteles se remete à "metafísica" e sim à "filosofia primeira" em alguns momentos.

O conteúdo que vocês estão afirmando e que é chamado de "metafísica", se for no sentido de supra-sensível, acredito eu que Anaximandro tenha dado o primeiro passo ao afirmar o "ápeiron", assim como os pitagóricos afirmaram o limitado e o ilimitado.

Platão tem sim uma teoria do supra-sensível referente às "formas" (eidos).

É difícil dizer quem pensou nisso primeiro, mas que é fato em Platão se remeter ao supra-sensível é, mas não ao termo "metafísica".

Bom... estou de acordo. Posto que realmente Platão não chegou a relacionar nada em seus diálogos e suas cartas com a "Metafísica", termo que foi posteriormente atribuído aos livros "além" da física de Aristóteles.

Agora sobre o Anaximandro, tenho que discordar de você. Não penso que Anaximandro iniciou o estudo do supra-sensível. Ele apenas evidenciou, mas não fez uma investigação mais precisa.

Citando um post anterior, penso que Parmênides já elucida muito melhor acerca de uma teoria além da physis, quando este evidencia o ser em seu poema:

Só ainda (o) mito de (uma) via
resta, que é; e sobre esta indícios existem,
bem muitos, de que ingênito sendo é também imperecível,
pois é todo inteiro, inabalável e sem fim;
nem jamais era nem será, pois é agora todo junto,
uno, contínuo; pois que geração procurarias dele?
Por onde, donde crescido? Nem de não ente permitirei
que digas e pense; pois não dizível nem pensável
é que não é; que necessidade o teria impelido
a depois ou antes, se do nada iniciado, nascer?
Assim é totalmente necessário ser ou não.
(SIMPLÍCIO, Física, 114, 29 vv. 1-11)

Em metafísica, o ser é aquilo que existe realmente e todos os entes são apenas uma derivação deste ser. Alguns dizem ser o ser, a verdade. O não ser, é o afastamento daquilo que realmente existe e passa para uma não-existência. A ausência do ser, a não verdade ou a falsidade. Santo Agostinho disse que isso que chamamos de não ser, é o próprio mal. Ele não é ontológico, pois o mal é uma não existência.

Muita gente confunde metafísica com teologia, astrologia, o esoterismo atual etc.

A palavra "Metafísica" significa "além do físico, do material". Um nome que foi dado ao "movimento de pensamento", e que afirma e comprova que não somos seres passivos frente a um destino aleatório (cruel ou risonho, mas tão indecifrável quanto indeterminado) e sim agentes constantemente ativos, mesmo que nem sempre conscientes, de tudo aquilo que nos acontece de agradável ou desagradável.

Essas ideias teriam encontrado terreno fértil, aliando-se a profundos conhecimentos espiritualistas já atualizados, assimilados e experimentados por boa parte das pessoas que aqui se interessam em conhecer a vida de um jeito mais claro e mais significativo.

A metafísica sugere que fenômenos antes taxados de místicos ou sobrenaturais seriam expressões de uma natureza ainda pouco estudada e pouco levada em conta pelas chamadas ciências acadêmicas.

Ela se ocupa em procurar responder perguntas tais como: O que é real? O que é natural? O que é sobrenatural?

O ramo central da metafísica é a ontologia, que investiga em quais categorias as coisas estão no mundo e quais as relações dessas coisas entre si. Também tenta esclarecer as noções de como as pessoas entendem o mundo, incluindo a existência e a natureza do relacionamento entre objetos e suas propriedades, espaço, tempo, causalidade, e possibilidade.

Uma questão deixo para os colegas...

Metafísica científica - é possível?

É possível abordar cientificamente (ou seja, sobre o método científico) a metafísica?

Se não, por que?

Não, por definição são tipos de conhecimento diferentes.

Embora a fotografia de um objeto não seja aquele objeto, ela, a fotografia, também é outro objeto.

Entendo o mundo metafísico como sendo o mundo das imagens e sensações mentais, mas, este nome, "metafísico", no fundo, não pode se referir a algo não físico, pois o não físico é não existente.

Kant, no seu livro "Crítica à razão pura", explica bem o conceito de conhecimento puro e conhecimento empírico. Sim, é possível aplicar o Método Cartesiano para explicar o que existe através da dedução negativa do que não existe.

Se você pode transformar os fatos em grandezas e medi-los rigorosamente, poderá após muito esforço construir uma tese científica.

A cognição é uma estruturação do pensamento com base na percepção. Duas pessoas podem perceber a mesma matéria de formas distintas, um objeto visual por exemplo pode ser percebido maior ou mais agressivo para um e mais suave e menor para outro, dependendo da personalidade e atitudes referidas.

Um labor físico, por exemplo, pode diferir de uma atividade mental, assim a construção do espaço/tempo pode diferenciar-se em matéria intelectual e motor.

Uma das brigas mais homéricas da história da ciência (ou da filosofia da ciência) foi a tentativa de dizer que a ciência poderia ser tratada por meio do pensamento metafísico (filosófico) a fim de validar as suas descobertas. Ou seja, a famosa briga entre o positivismo científico do círculo de Viena e Karl Popper.

Fazer a coisa neste sentido de fluxo (metafísica -> ciência) parece que gerou alguns frutos e muita polêmica.

No sentido oposto (ciência -> metafísica) me parece impossível, pois o método científico não abarca o conteúdo da metafísica por definição.

Tudo o que existe é real, mas nem tudo o que é real existe.

Ver Hegel e as bases de seu idealismo.

A ciência se vale de pressupostos metafísicos, entre eles causalidade.

A causalidade não é um objeto físico, é um conceito... portanto, pergunto, causalidade existe?

Um método para a metafísica:

Alguns até ousaram desenvolver métodos nesse campo, mas o fato é que para cada método que criarmos na tentativa de tornar a metafísica uma ciência ela se modifica e se adapta, inviabilizando uma lei, mas isso não impede que formulemos hipóteses. A simples presença de um observador já altera a previsibilidade metafísica.

Enquanto soubermos que não sabemos de tudo, haverá metafísica na ciência. Há metafísica guiando todo um conjunto de programas de pesquisa, há metafísica quando criamos certas teorias, etc... Há suposições metafísicas, inclusive, que me parecem fundamentais para a própria possibilidade de ciência. Por exemplo, a suposição de que há uma realidade objetiva, independente das nossas mentes. Sem essa suposição, é possível fazer algum tipo de ciência?

Agora, por outro lado, se é possível uma metafísica científica... Acho que Kant teria muito a dizer sobre isso. Inclusive já disse. Não é possível estabelecer uma metafísica científica, do mesmo modo que ele concebia a Física e a Matemática.

Alguns filósofos (parece que Kant é um deles) dizem que não somos capazes de responder questões metafísicas porque "o nosso conhecimento é limitado pelas nossas capacidades específicas e estreitamente circunscritas de organizar o nosso campo de sensações" ("sensação" tem aqui o sentido de perceber a realidade através dos órgãos dos sentidos, uma ideia corrente em filosofia e também em ciência.).

Se esse é o caso, se essa incapacidade é real, por que então somos capazes de fazer perguntas metafísicas? Como somos capazes de fazer uma pergunta para a qual somos incapazes de dar uma resposta?

Adianto duas possibilidades para solução. Uma, a pergunta é respondível mesmo que a resposta seja desconhecida no momento, e descobri-la é uma questão de tempo. Duas, a pergunta não tem resposta porque é uma pergunta falsa.

Acho que nem uma coisa... nem outra...

"Em matemática, dizemos que os números inteiros são fechados quanto à adição. Somar dois números inteiros, resulta em outro número inteiro. Nunca pode resultar em uma fração. Mas isso não significa dizer que o conjunto de números inteiros seja finito. Os pensamentos humanamente pensáveis são fechados quanto ao funcionamento de nossas faculdades cognitivas e podem nunca abranger as soluções e mistérios da Filosofia, mas, ainda assim, o conjunto de pensamentos pensáveis, pode ser infinito." (Steven Pinker, p. 589, Como a Mente Funciona - 1998)

Como distinguir uma pergunta metafísica das outras que não seriam metafísicas?

Sobre a resposta do Geômetra citando o Steven Pinker (um gajo porreiro) tenho só este comentário por enquanto. Concordo, sim, que o conjunto de pensamentos pensáveis pode ser infinito, mas não no sentido literal e objetivo de infinito (na verdade nós não podemos conceber o infinito nesse sentido objetivo), mas apenas no sentido subjetivo de que desconhecemos os limites de uma coisa e portanto a chamamos de infinita. Mas esses limites podem ser reduzidos à medida que o pensamento humano se desenvolve. É justamente por isso que eu disse que a resposta pode não ser conhecida agora, mas pode vir a ser conhecida em algum tempo no futuro (se a pergunta não for falsa). E tanto a história da Ciência como a da Filosofia mostram que é assim.


Sobre a pergunta do Prof. Black. Usei a expressão "questão metafísica" no sentido de uma inquirição que visa determinar o que é que deve ou não deve fazer parte da realidade que se tenta compreender. Por exemplo, "A realidade é apenas material ou existe alguma coisa no universo que não é matéria mas que pode ser percebida, que pode ser concebida como objeto de conhecimento?" Isso é uma pergunta metafísica no sentido que usei a expressão.

Associo o metafísico ao desconhecido.
Mas não é um desconhecido qualquer.
O metafísico é o desconhecido enquanto ele não pode ser fisicamente conhecido (por nada e por ninguém).
Passado ao conhecimento, aquele particular metafísico, desaparece.
Considerando, no entanto, que o desconhecimento sempre supera o conhecimento (em número de coisas ), o metafísico sempre será maior (se associado ao desconhecimento).

Não há, objetivamente, um "conhecimento metafísico", mas o reconhecimento sincero da presença do desconhecido.

Ao admitirmos sinceramente o desconhecido, não passamos a conhecê-lo, mas passamos a contar com a sua presença.

Penso que a Metafísica não tem relação alguma com o conhecimento das coisas, porque para se pensar metafisicamente não se pode ter relação com nada que é empírico.

Portanto, a Metafísica não poderia ser associada ao desconhecido, pois a Metafísica não necessita do conhecimento das coisas (entendimento). O sobrevoo da Metafísica tem sua autonomia em relação às condições do pensamento e de suas próprias entidades, exemplo dessas produções imaginárias temos: Causa, Liberdade, Deus, Conhecimento, Belo.

Gárgula escreveu:
Sobre a resposta do Geômetra citando o Steven Pinker (um gajo porreiro) tenho só este comentário por enquanto. Concordo, sim, que o conjunto de pensamentos pensáveis pode ser infinito, mas não no sentido literal e objetivo de infinito (na verdade nós não podemos conceber o infinito nesse sentido objetivo), mas apenas no sentido subjetivo de que desconhecemos os limites de uma coisa e portanto a chamamos de infinita. Mas esses limites podem ser reduzidos à medida que o pensamento humano se desenvolve. É justamente por isso que eu disse que a resposta pode não ser conhecida agora, mas pode vir a ser conhecida em algum tempo no futuro (se a pergunta não for falsa). E tanto a história da Ciência como a da Filosofia mostram que é assim.


Sobre a pergunta do Prof. Black. Usei a expressão "questão metafísica" no sentido de uma inquirição que visa determinar o que é que deve ou não deve fazer parte da realidade que se tenta compreender. Por exemplo, "A realidade é apenas material ou existe alguma coisa no universo que não é matéria mas que pode ser percebida, que pode ser concebida como objeto de conhecimento?" Isso é uma pergunta metafísica no sentido que usei a expressão.

Gárgula, sua pergunta inicial é confusa, e está ficando cada vez mais abstrusa. Existe muita coisa no Universo que não é matéria. Fótons não são matéria. O que não possui massa de repouso não é matéria. Há algumas décadas se questionava se neutrinos teriam massa de repouso. Grávitons, se existirem e se não tiverem massa de repouso, não são matéria.

Por fim, o fato de não ser material não é o que determina ser objeto de estudo da Metafísica e não da Física.

Pessoal sumido... esgotaram o assunto?

Metafísica é o ponto fraco da filosofia?

Até onde a especulação metafísica pode ir sem esbarrar na superstição?

Ela dispensa a lógica e as evidências?

Em que se baseia a argumentação sobre o sobrenatural?

Estou tentando ordenar meus próprios pensamentos:

- A palavra "Metafísica" significa "além do físico, do material''.

- Platão dizia que a vida vai além do físico e que aquilo que vemos é consequência de um poder maior invisível, e pode ser percebido pela nossa inteligência e pela nossa intuição (metafísica).

- A metafísica, no entanto, não tem conotação religiosa ou doutrinária, as ideias metafísicas independem de qualquer opção de religiosidade.

Pergunto (se alguém puder me responder, obrigada): a metafísica é um ramo espiritualista da filosofia? A metafísica implica na aceitação de um deus e vida depois da morte?