Mestres do Conhecimento
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

Os Mistérios de Elêusis

2 participantes

Página 2 de 3 Anterior  1, 2, 3  Seguinte

Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:25

Metanira, com a criança no colo, caiu por terra, suplicando. Deméter ficou irredutível. A rainha, fugindo ao compromisso, interferindo nos seus cuidados, quebrara o encantamento com o qual Deméter estava criando o pequeno príncipe, para que ele crescesse como uma criança celestial, dotada de força sobre-humana, inteligência suprema e imortalidade.

Veio Céleos e apoiou Metanira na sua súplica. Fez os maiores juramentos e as maiores ofertas, e concluiu:

— Minha casa é desafortunada!

— Agora é tarde. Vosso filho terá de crescer como todos os outros filhos de rei ou de gente do povo. Crescerá, poderá ser fraco, poderá ser forte, poderá ser bom, poderá ser mau. Tomara que seja homem bom, que é tão raro entre os homens... Poderá até ser um rei coberto de glórias, mas um dia morrerá como todos os homens e todos os reis, na guerra ou na doença... Seca tuas lágrimas, mulher. Ainda tens três filhos aos quais pretendo conferir grandes dons para que esqueças tua dupla perda.

Céleos e Metanira não entenderam suas palavras. Tinham cinco filhos varões, Triptólemos, Eubuleus, Eumolpos, Abante e o pequeno Demófon; não sabiam que Abante havia desaparecido para sempre, desconheciam o destino do filho menor e nem reconheceram Deméter pelo seu poder. E, beijando os pezinhos do príncipe, que se acalmou, por um instante, Deméter afastou-se do palácio, desta vez decidida que fosse para sempre... E a criança tornou a chorar.

Ainda em Elêusis, Triptólemos, o príncipe mais velho do rei Céleos, que além de servir a Deméter também cuidava das vacas de seu pai, veio-lhe ao encontro, dizendo:
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:26

— Ó Deméter, temo estar te trazendo más notícias. Meus irmãos Eubuleus, que cuida dos porcos, e Eumolpos, o pastor, me disseram que há dez dias atrás estavam dando de comer aos porcos em Colonas, não muito longe daqui, quando ouviram um tropel de patas e viram passar uma carruagem tirada de corcéis negros, que recém levantava voo da terra. Nela estavam um rei de rosto obscuro, parecendo invisível, usando uma armadura negra, e uma moça muito assustada que parecia ser tua filha Core; mas não tiveram certeza ser ela. Mas viram que havia um enorme buraco na terra, que antes não havia. Por isso, perdemos todos os nossos porcos que caíram no buraco, que, diante dos seus olhos, se fechou num piscar de olhos.

Deméter temia que Hádes fosse o causador do rapto de sua filha. Mas não se precipitou. Procurou saber mais. Não poderia desistir, pois amava muito sua filha, nem ia desanimar tão facilmente. Era deusa-mãe, deusa da fecundidade, tinha o dom da vida em suas veias e, acima de tudo, era mãe de uma bela mocinha.

Continuou viajando, portanto, com uma tocha na mão, dia e noite interrogando a todos os que encontrava pelos caminhos e batendo a todas as portas. Mas ninguém dava notícia. Ninguém a vira, nem sabia informar, pelo menos algo diferente do que já sabia. Uma ou outra vez, quando via no chão uma flor emurchecida, Deméter a recolhia e beijava, fazendo-a renovar-se, e a escondia no seio. Talvez tivesse caído das mãos de Core, talvez tivesse pousado em seus lábios.

O Sol, inclemente, iluminava seus passos na procura inútil. O frio da Noite enregelava seu corpo. E nem o calor do dia nem os Ventos imprevistos nem as trevas noturnas detinham sua triste caminhada.

Numa tarde, longe de todos os lugares onde os homens moravam, Deméter chegou à boca de uma caverna sombria onde parecia luzir, lá no fundo, uma pequena tocha.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:27

Outro qualquer fugiria. A caverna assustava. Mas Deméter parou, espreitou, chamou. A pequena tocha acesa era indício de haver alguém ali. Quem seria?

Como ninguém respondesse, entrou, cautelosa, iluminando-a um pouco mais com a pequena tocha que trazia acesa.

— Tem alguém aí?

Ninguém respondeu.

— Tem alguém aí? Por favor, aparece! Core?!

Ouviu então um resmungo que parecia um lamento, soturno e rouco. Deméter, sem querer, trêmula, pensou em voz alta:

— Aqui mora gente ou monstro?

Ouviu um gemido ao fundo.

— Posso me aproximar?

— Entra.

Era voz de mulher.

Iluminando melhor a caverna com sua tocha, Deméter viu ao fundo um vulto de mulher, que aos poucos foi tomando forma, diante de seus divinos e aterrados olhos.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:27

Não era muito bela, mas era uma mulher, feiticeira ou deusa. Achegando-se para mais perto, viu que a cabeça era de cão e tinha, como ornamento, no pescoço, um rolo de serpentes. Mas não atacava, não ameaçava, não parecia agressiva. Apenas gemia no tom mais lamentoso, como se tivesse perdido não uma, mas uma centena de filhas. E logo Deméter percebeu de quem se tratava, apesar de conhecê-la vagamente. Era Hécate, verdadeira encarnação de certas pessoas que sentiam prazer na própria desgraça e que se refugiavam na sua miséria como se o sofrimento fosse em si mesmo um consolo. Estava sentada sobre um monte de folhas e suspirava e gemia, indiferente à presença da forasteira. Dizia-se que As Empusas eram suas filhas e saíam do submundo durante à noite com sede de sangue, à maneira dos Vampiros. Possuíam uma perna de mula e outra de bronze. Para seduzir os homens, mudavam de forma, assumindo aspecto de mulheres maravilhosas.

Deméter, percebendo apenas que se ela encontrava diante de uma deusa que sofria, pensou:

— Pelo menos, ela é capaz de entender o meu sofrimento.

Cansada de tanto caminhar, Deméter aproximou-se e deixou-se cair sobre o chão de folhas secas.

— Teu nome é Hécate, não é?

Hécate confirmou, agitando a cabeça de cão e acariciando uma das cobras do pescoço.

— Sabe quem sou?

— Uma colega.

Hécate deu um longo suspiro.

Deméter levou as mãos ao pescoço e à cabeça, para ver se não tinha mudado. Hécate pareceu compreender seu pensamento, e continuou, quase em tom de volúpia:

— Colega de sofrimento. Basta olhar-se, para saber que és uma criatura infeliz. Não tanto como eu, é claro. Mas infeliz, infeliz, infeliz...

E, olhando para a deusa, perguntou:

— Acertei?
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:28

— Acertaste. Sou Deméter, filha de Cronos e Réia e irmã daquele que governa do Olimpo. Eu era aquela que abençoava os campos e enchia de frutos as mãos dos trabalhadores da Terra. Hoje sou apenas uma triste mãe à procura de sua filha. Não viste, por acaso, minha filha, que desapareceu de maneira misteriosa, nas proximidades de Colonas? Tens notícia dela por acaso?

Hécate começou a gemer e lamentar-se em voz alta. Deméter assustou-se.

— Soubeste alguma coisa?... Hécate?!

— Choro por não saber. É mais uma desgraça minha. Não posso ajudar-te.

E quase arrancou as cobras do pescoço, de tanto desespero.

Nisso, fulguraram seus olhos.

— Foi há quantos dias?

— Dez...

— Tinha voz infantil?

— É uma criança.

Hécate, a personificação da Noite Escura, suspirou.

— Ver, eu não vi. Eu não costumo sair desta caverna sombria. Mas os meus ouvidos foram feitos para recolher todos os suspiros, todos os gritos de dor, todos os sofrimentos do mundo... Graças a eles eu estou sempre em dia com as últimas desgraças sofridas...

— Tu me assustas, terrível Hécate...

— Eu não assusto, pobre infeliz... Eu informo.

— Então explica-te. Fala!

— Pois bem...

Hécate fez suspense. Deu um profundo suspiro, gemeu, informou que era a criatura mais sofredora da Terra, entre todas as divindades ctonianas.

— Sabes o que eu tenho sofrido?

E já ia falar de suas desgraças, quando Deméter a interrompeu:

— Por Zeus, Hécate, fala de minha filha...!

— Ah! sim...

E, novamente suspirando e gemendo, e quase arrancando as suas cobras, Hécate contou que, nove dias antes, ouvira o pranto e os gritos e o clamor de uma voz infantil que corria pelo Céu, como se estivesse no maior desespero, conduzida por um vivo rumor de carro no espaço, a enorme velocidade.

— Seria ela?

— Devia ser! Ela gritava “socorro, mamãe! Socorro!”

— E então?

— Não sei. Não ouvi mais nada.

— E o carro ia a que direção?

— Desapareceu na direção do nascer do Sol...
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:29

Deméter ergueu-se, num sobressalto.

— Eu vou partir na direção do Sol! Adeus!

— Não vás, fica! Não adianta perder tempo. Pelo jeito, era rumor de carro de dragão e asas de monstro o que eu ouvi, abafando os gritos da menina, puxando o carro veloz que passava. Não adianta lutar contra o Destino ou contra as forças mágicas da Natureza.

— Eu vou lutar!

Deméter estava decidida, e acabava de conseguir uma coisa notável: convenceu Hécate a deixar por algum tempo a sombria caverna em que habitava. Iria ajudá-la a procurar sua filha. Sair da escuridão, abandonar a treva, enfrentar as claridades, era, para a soturna senhora de cabeça de cão, algo quase impossível. Para ela, o bem era sofrer e se lamentar. Bom era o sombrio, o trágico, o triste. Positivamente não era boa companheira para ninguém. Mas Deméter precisava de um apoio qualquer. Insistiu para que Hécate a acompanhasse em suas novas andanças. E como ela se regozijasse, no fundo de seu negro coração, com o espetáculo daquele coração de mãe despedaçado, acabou concordando.

— Está bem, infeliz. Eu vou contigo. Vamos perder tempo em canseiras inúteis e em procuras vãs. Vamos sofrer juntas, minha pobre coitada. Consolar-te-ás com as minhas queixas. Eu me confortarei com a tua desgraça irremediável. E juntas elevaremos as nossas lamentações e havemos de chorar nosso trágico destino. Ainda tens lágrimas para chorar?

Deméter estranhou a pergunta, e Hécate continuou:

— Sim, porque vais ter que chorar muito... Mas não faz mal. Eu sou uma fonte de lágrimas. Conta comigo. Bem, vamos. Tens a tua tocha?

— Sim.

— Levo a minha também.

— Mas vamos caminhar durante o dia, muitas vezes.

— Eu prefiro a minha tocha. Ela dá sombra, em vez de iluminar... e distrai a minha vista do Sol. Odeio o Sol!

Deméter já ia desistir de companhia tão amarga, quando a referência feita por Hécate ao Sol lhe deu uma ideia animadora.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:30

— Poderoso Zeus! E eu que não tinha pensado no Sol! Vamos procurá-lo. Talvez ele nos possa ajudar.

E começou a caminhar. Hécate foi logo atrás, resmungando o tempo todo.

— Que ideia mais idiota! Procurar aquele vadio... Um irresponsável... Um boêmio... Um músico frívolo... Um rapaz que não leva nada a sério... Vê tudo cor-de-rosa... Acha tudo lindo... Está satisfeito com tudo... Que é que esperas dele?

— Apolo? Não... refiro-me a Hélios, filho dos Titãs. Ele pode dar-me notícias de minha filha.

— Apolo... Hélios... qualquer um deles! Vai dar coisa alguma! Olha, querida infeliz, eu só te acompanho porque sei que vais ter a maior decepção do mundo...

Hécate não se convencia. Não admitia a luz do Sol, mesmo representado por seu avô Hélios e por Apolo, que às vezes servia de cocheiro à flamejante carruagem. E continuava resmungando. Apolo era ocioso, leviano... E ainda tinha uma coisa desagradável, para Hécate: era radiante como o próprio Hélios, o Sol.

— Não gosto de luz! O Sol é um chato!

— Então volta para a tua caverna...!

— Não. Eu comecei, eu vou até o fim. Quero ter o prazer de te consolar, contando as minhas tristezas, quando te sentires a mais desgraçada das mães sem esperança...

Felizmente estavam atravessando um campo de agapantos e, nas flores que luziam ao Sol, Deméter sentiu renascer um bom pensamento:

— Essas flores não seriam tão lindas se não tivessem a esperança de serem vistas por ela... Minha filha está viva!

— Olha, Hécate! Só pode ser ele! Não encontramos Hélios, mas eis Apolo, que poderá nos servir!

— Eu sabia...

Haviam caminhado muito e, para ela, só avistar, de longe, aquele jovem tão belo, de cabelos encaracolados, que pareciam feitos de raios do Sol, já valia a pena ter andado tanto.

Já Hécate pensava exatamente o contrário:

— Não faço fé nesse cabeludo! Esse tipo não é de nada!

E, apontando a lira, que Apolo tangia, com os olhos nas nuvens, disse ainda:
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:30

— Tem jeito isso? Observa só, Deméter... Em vez de trabalhar, de produzir alguma coisa em benefício dos deuses ou dos homens, ele fica tocando música, como se fosse o melhor que sabe fazer...

— Mas ele é um artista.

Deméter apressou o passo.

— Muito me admira que tu, uma deusa respeitável, a rainha dos campos e das plantações, que preside a produção e a colheita dos frutos...

— ...e das flores.

— ...tu, divindade encarregada de coroar o trabalho duro dos homens do campo, não devias favorecer a ociosidade...

— Cada um tem a sua missão neste mundo. Um planta o trigo, outro faz o pão, um cultiva as flores, que perfumam a Terra, outro produz beleza, que torna a vida dos que trabalham duro mais agradável... Ouve só a doçura de sua melodia...

E aproximaram-se.

— É impossível que ele não me dê notícia de minha filha...

— Queres apostar?

Hécate, ofuscada pela intensa luminosidade que irradiava daquele deus, cobriu os olhos. As cobras de seu pescoço chiavam de raiva, participando do pessimismo e da irritação da sombria senhora das cavernas. Deméter correu ao seu encontro.

— Apolo! Nobre Apolo!

Ele deixou de tocar e voltou-se para a deusa, que vinha-lhe ao encontro desesperada.

— Deméter?! Que desejas? Queres que te escreva um poema? Que componha para ti uma nova canção?

Hécate, baixando a cabeça devido à luminosidade e para que o belo jovem não lhe visse a horrenda cabeça de cão, murmurou para suas cobras:

— Olhai só que cara de pau! Em vez de prestar serviço, em vez de desiludir logo a infeliz, ele quer cantar, compor, vadiar... E suas canções são ridículas, sem nenhum contato com a realidade. Se ele ao menos cantasse as desgraças do mundo, nós ainda podíamos tolerar... Mas não: é inconsciente...

Mas Deméter já estava ao lado de Febo-Apolo, com as mãos unidas numa súplica:

— Quero, sim, quero um poema. Quero uma nova canção. Mas para traduzir a minha alegria, quando me deres notícia de minha filha que desapareceu e que eu não consigo encontrar...
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:31

Hécate não resistiu:

— E tu pensas que ele sabe de alguma coisa? Pensas que ele se interessa por alguma coisa? Ah!

— Ele é amigo de Hélios flamejante, ele tem os olhos do Sol que tudo vê!

Deméter afastou a companheira. E, voltando-se para Apolo, disse-lhe:

— Estou certa?

— A quem procuras?

— Core. Desapareceu há pouco mais de dez dias. Procurei-a por todos os caminhos, ninguém deu notícia. Apenas esta “boa” amiga teve a impressão de ouvir os gritos de socorro, confundidos com um tropel de cavalos ou dragões que passavam no Céu...

— ...e com certeza rumo ao Inferno.

Deméter virou para Hécate, e esta continuou:

— É... já deve estar morta, entendes?

E, assim dizendo, enxugava com as cobras as lágrimas que chorava, na sua voluptuosa mania de sofrer.

Febo-Apolo olhou com repugnância aquela estranha figura. E pensou:

— Vais ser feia assim nas profundezas do Tártaros!

Apolo não era capaz de ferir oralmente qualquer ser, mesmo a um ser como ela, com horrenda cabeça de cão e tão tenebrosos pensamentos. E, voltando os olhos para Deméter, disse-lhe:

— Eu acho que ouvi também esse tropel de cavalos... Ouvi também uma vozinha linda que pedia socorro...

— Só podia ser minha filha... Quando foi?

— Há oito ou dez dias... Mas se realmente era tua filha e se pedia socorro...

— Já está liquidada.

Apolo não se deixou abalar pela conclusão de Hécate.

— Pelo contrário. Se é tua filha, está salva e deve estar agora na maior felicidade.

— Será possível?

— Duvido.

De súbito, Hécate recebeu um olhar desprezível e zangado de Apolo e Deméter, que fez a sombria senhora das cavernas estremecer. E Apolo continuou:

— É possível e é natural. O que eu ouvi foi o tropel dos cavalos que puxavam o carro maravilhoso de Hádes.

— Hádes?! Meu irmão? Eu temia! Zeus deve ter planejado isso! Ah, eu hei de me vingar...!
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:32

— Sim... E se tua filha teve o privilégio de ser convidada para conhecer o palácio de Hádes, ela deve ter-se assustado, mas deve estar agora deslumbrada e feliz, carregada de presentes...

Hécate e Deméter se entreolharam.

— Hádes é deus poderoso, como sabeis. Não conheço meu tio muito bem, pois nunca aparece no Olimpo. Mas, pelo que sei de meu pai Zeus, é o mais rico dos Imortais.

Ao contrário de Hécate, que se comprazia com o lado negativo das coisas, com o seu tenebroso pessimismo, Febo-Apolo viu apenas o lado bom. Não amava a tristeza nem a maldade. Deliciava-se com o lado róseo da vida. E facilmente esquecia o que havia ou sabia de mau.

Falando do possível destino da pequena Core, que caíra nas garras de Hádes, que era irmão de Zeus, Poseidon, Héra, Héstia e mesmo de Deméter, ele a consolava falando-lhe do esplendor do palácio de grande beleza arquitetônica, de salões vastíssimos, de elegantes colunas e da riqueza de todos os objetos que nele existiam.

— Segundo meu irmão Hermes, que vive indo lá, Hádes é o rei das minas, o senhor supremo do ouro, dos diamantes, das pérolas, das pedras preciosas. Se tua filhinha agradou a Hádes, ela só pode estar feliz, mesmo sentindo tua falta...

— Mas eu prefiro minha filha comigo...

Hécate complementou:

— E a riqueza jamais fez a felicidade plena de ninguém. Eu posso garantir, Deméter, que Core não há de fugir à regra. Ela deve estar sofrendo...

— Ah, língua de cobra!

Apolo sentiu o desejo de atirar a lira contra sua cabeça de cão, mas conteve-se. Hécate já se encontrava de costas, cansada de esconder o rosto com as mãos.

— Espera, Apolo, nisso a minha amiga tem razão. Feliz ela não pode estar. Se Hádes fosse, pelo menos, o rei dos jardins e das flores... é tudo o que ela mais gosta...

— Ora, Deméter, as flores lá são de ouro, o tempo não desgasta...
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:33

— Minha filha, como eu, prefere as flores que perecem, de vida curta, mas de perfume suave, delicado...

Houve uma pausa, até que Apolo, levantando-se, pôs a mão no ombro da triste mãe.

— Eu acredito que tua filha esteja feliz. Honestamente acredito. Mas tens que resignar-te ao Destino...

— Como assim?

— Porque as Moiras já devem ter fiado o destino de Core...

— Eu preciso de minha filha e ela precisa de mim!

E começou aos prantos. Deméter, apontando para o infinito, dirigiu-se a Zeus:

— Zeus, austero soberano, sempre segui teus passos e bem mais te fui fiel, porém, agora, eu exijo que arranques das sombras a minha filha, que também é tua, que Hádes, o infernal Hádes, tirou de meu convívio! E te advirto, senhor do raio, incendiarei o mundo na desgraça e na miséria, fazendo o fogo alcançar o teu Olimpo, secando a fonte das honras aos poderes imortais, caso me negues atender o que agora suplico por amor à nossa filha Core!

Apolo, surpreso, agora sabia o que ninguém antes sabia: Core era filha de Zeus. Não se surpreendeu. Não seria de admirar, pela forma que Deméter havia concebido aquela menina.

Diante de tal ameaça de Deméter, Apolo observou:

— Ela está sofrendo, eu tenho certeza!

— O sofrimento, às vezes, é a melhor escola... Deixa-a sofrer, Deméter... Até que é bom...

Apolo não se conteve.

— Essa tua amiga é de morte, hein?

— Tenho a Morte na alma!

— Por Zeus! Por Zeus! Pelo Olimpo todo! Cala-te!

Hécate se afastou, resmungando, e Apolo observava:

— Com um Sol luminoso como o de hoje, com tanta beleza nos campos, com tanta música no ar, essa criatura só fala em coisas fúnebres...!

Tomando sua lira em posição, disse a Deméter:

— Vou compor uma canção falando nas alegrias que tua filha terá, se ela tem a tua sensibilidade, admirando os tesouros que há nos domínios de Hádes.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:33

E começou a dedilhar a lira, improvisando uma canção. Mas, angustiada, Deméter o interrompeu:

— Não, meu querido Apolo. Eu sei que estás procurando consolar-me de uma desgraça que parece irremediável. És amigo de Hélios, o Sol, e Heméra, o Dia. Queres que eu veja só o lado amável da vida. Mas eu não consigo. Eu preciso reaver minha filha. Dize-me, com sinceridade: posso ter esperança?

Uma nuvem de tristeza passou pelos olhos antes luminosos de Apolo.

— Talvez não, minha amiga. Até onde eu posso ir...? Tu não podes ignorar estas coisas... Quem uma vez entrar nos domínios de Hádes não voltará mais. Tens que aceitar! A menos que o próprio Hádes permitir que saia...

— Não aceito, não posso aceitar! Eu preciso salvá-la das mãos de meu irmão! Ajuda-me, Apolo!

— Vai ser difícil.

— Leva-me até Hádes, ajuda-me a falar com ele. Todos te amam, todos te admiram!

— É... mas Hádes tem uma diferença comigo. Ele não gosta muito de mim. Mais ou menos como esta senhora que trouxeste contigo...

— Então eu irei sozinha. Ensina-me o caminho.

— Esquece, querida. O sofrimento é dos homens e dos deuses. Mas a sabedoria e a resignação só aos deuses pertencem. Não és uma deusa também?

— Quem sou eu? Apenas uma pobre mãe desesperada... Eu vou, Apolo! Conheces ou não o caminho para os Infernos?

— Mesmo que eu conhecesse, não te ensinaria.

— Por quê?

— São muitas as entradas, mas todas vão dar no Érebos, lugar defendido por um terrível mastim... Píton não era páreo para ele...

— Que mastim?

— Um cão feroz de três cabeças... É pelo menos a mais terrível criatura que já se ouviu falar. Talvez mais terrível que o próprio Inferno!

— Então ele deve ter devorado minha filha!

— Não... Cérberos está ali para impedir a entrada dos que não foram convidados pelo rei, não os que chegam com o rei... No teu lugar, eu não iria...

— Eu vou. Adeus.

— Sinto não poder fazer mais nada...
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:34

— Já fizeste muito. Pelo menos já tenho certeza onde encontrar minha filha. E eu adorei as tuas canções...

Deméter já se afastava, quando viu que Hécate a chamava. Deteve-se um momento.

— Não vais aborrecer-te se eu não te acompanhar? Volto para a minha caverna...

— Tudo bem, Hécate.

Despediram-se sem aperto de mão, dando um grande alívio a Deméter. Afinal, “melhor sozinha do que mal-acompanhada”.

Hécate retornou para o sombrio lugar onde tinha morada, sempre a gemer e a lamentar-se. Verdadeiramente, a deusa Hécate conhecia as entradas que davam para os Infernos, pois era a deusa da magia e servia ao deus Hádes. Porém, temendo a ira do deus, evitou informar e acompanhar Deméter.

Sem destino certo, Deméter saiu pelo mundo, com sua humilde tocha acesa, na sua angustiada procura. Toda a sua esplêndida beleza fenecera ao peso de tanto sofrimento. Já não se interessava por coisa alguma. Já não via as árvores, nem as flores, nem sequer via os frutos, que eram antes o seu encanto e o seu cuidado, agora pareciam tristes também, galhos caídos, flores murchando, frutos apodrecidos.

Seus olhos se iluminavam somente à visão das crianças humanas. Todas lhe lembravam a sua filha roubada. E apesar de seu jeito vencido, pois havia envelhecido em poucas semanas, parecia uma camponesa dobrada pelos duros trabalhos. As crianças que via, inesperadamente, aproximavam-se e vinham brincar ao seu lado, e as menores lhe saltavam no colo e perguntavam seu nome.

E tal era ainda o seu dom de abençoar as sementes e dar vida ao solo que, quando as crianças corriam para Deméter, e brincavam ao seu lado, viam-se nos arbustos vizinhos flores desabrochando como por encanto.

E era assim que os dias passavam por Deméter, procurando sem achar, caminhando em vão, mas fazendo desabrochar as flores e sorrisos por onde passava.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:35

Gozando o fato de ser filho de Zeus e acreditando que tudo pudesse fazer, Tântalos abusava de vaidade e ambição, e ousou apoderar-se de Lélape, o prodigioso cão pertencente ao rei Minos. Mas, uma vez mais o amor paterno falou mais alto, e nem dessa oportunidade Tântalos foi punido. Em lugar de ficar contente com a generosidade de Zeus, Tântalos considerou aquele gesto do pai mais como fraqueza do que bondade. Confiando cegamente no amor que Zeus lhe tinha, Tântalos achou que poderia cometer o maior dos crimes sem sofrer nenhum castigo. Depois que a doentia ideia da impunidade lhe veio à cabeça, Tântalos começou a maquinar o mais horrível e cruel crime que alguém seria capaz de imaginar. Pretendia, com isso, humilhar os Imortais e mostrar ao mundo que eles não eram tudo aquilo que os homens veneravam. Queria se certificar se os deuses realmente possuíam clarividência plena, se sabiam de tudo e estavam em todos os lugares ao mesmo tempo.

Desde as primeiras horas da manhã, o palácio do rei Tântalos estava movimentado. E não era para menos, pois seu pai divino estava prestes a chegar para um amigável banquete. Além dele, foram convidados também os divinos Hermes, dos pés ligeiros, e Deméter, deusa da fecundidade.

Tântalos estava preocupado.

— O que irei oferecer a Zeus, no banquete?

Pensando em agradar semelhantes convivas, na sua qualidade de rei bárbaro, pensou que sacrifícios humanos seriam bem vistos pelos Imortais, os deuses da Hélade.

Levando ao extremo a sua intenção de agradar e, ao mesmo tempo, testar a divindade de seus convidados, mandou chamar seu filho Pélops, que ainda dormia.

— Pélops, meu filho, hoje tu terás o prazer de estar à mesa junto com os deuses!

— Oh! Meu avô Zeus vem nos visitar?!

— Não só ele, mas ainda outras duas divindades!

— Divino! Maravilhoso! Não vejo a hora de contar a meus amigos! Eles não vão acreditar! Vou vestir a minha melhor túnica!

— Isso, meu garoto...

Depois que o príncipe saiu, Tântalos chamou às pressas o seu cozinheiro.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:36

— Nem uma palavra, apenas faz o que te digo: vai atrás dele, mata-o e faz um assado magnífico com ele.

O cozinheiro, a princípio, achou que o rei estivesse brincando, mas, ao notar a sua aparência malévola, começou a tremer, e ficou sem ação.

— Vamos, idiota, faz o que eu disse! Não vês que hoje é um dia especial?

E pensava, enquanto o cozinheiro desatava a correr:

— Zeus ficará encantado ao descobrir que lhe sacrifico o meu próprio filho! Quantas vidas já sacrifiquei em sua honra... mas desta vez eu serei admitido na lista dos deuses!

Em seguida, viu seu cozinheiro trazendo-lhe o garoto.

— Idiota! Não disse para matá-lo de uma vez?

— Mas...

— Pai, por que fazes isto? Tu não disseste que eu estaria à mesa, daqui a pouco, com os deuses?

— Sim, e estará! Vamos, escravo, faz rapidamente o que eu te ordenei!

Depois, enquanto o filho era arrastado para o cepo, tentou acalmá-lo:

— Vamos, rapaz, deixa de fricotes. É por uma boa causa. Pedirei a Zeus que te recompense com a Imortalidade!

Então, a um sinal, a lâmina desceu e cortou-lhe a cabeça. Em seguida, o cozinheiro, já acostumado com a ideia, fatiou e salgou todas as partes nobres do corpo esquartejado.

Apaziguada a sua consciência perversa, Tântalos chamou as escravas e ordenou que preparassem a mesa com o maior requinte possível, que, sem de nada suspeitarem, obedeceram.

O Sol já estava no alto quando os visitantes do Olimpo se aproximaram do palácio, na Meônia. Todos pareciam pouco animados, enquanto outros retiravam-se de lá para nunca mais voltar. Os deuses estranharam, pois achavam que fossem queridos naquela terra. Enquanto Hermes vinha à frente, distraído, como sempre, mais atrás vinha o seu pai, de braço dado com sua irmã Deméter.

— Vê, pai, já chegamos ao palácio de meu irmão Tântalos... Não é uma beleza?

— Não fosse o mau-humor de Deméter...

A deusa estava ali contra sua vontade, já que ainda buscava o paradeiro da filha Core, que havia sumido, e não tivera mais notícias suas. E respondeu:
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:36

— Vamos de uma vez! Se tem de ser, que seja logo!

Enquanto as três divindades adentravam-se pelas portas do salão, um escravo foi anunciá-los ao rei, que se concentrava, murmurando:

— Como seria mesmo? “Deus Tântalos”... ou então “Divino Tântalos”... ou melhor “Poderoso Tântalos”.

— Bondoso rei, as visitas já chegaram.

Disse o escravo curvando-se.

Tântalos despertou em sobressalto.

— Ótimo! Manda-os entrar! Vamos, imbecil, por que estás demorando?

— Sê bem-vindo, poderoso Zeus, meu pai, diante do qual todos os poderes celestes e terrenos se humilham.

E foi beijar-lhe os pés.

Em seguida, querendo chegar logo até a bela deusa, beijou rapidamente um dos pés de Hermes. Quando, porém, chegou até os pés da encantadora Deméter, esta lhe ofereceu distraidamente a sola empoeirada das sandálias.

— Divina Deméter, teus encantos superam, hoje, os da própria Afrodite!

Disse com a boca coberta de pó.

Tântalos levantou-se e conduziu os convidados até os seus assentos. E, sentando-se também, perguntou a Zeus:

— Como vão as coisas lá em casa, pai?

Zeus ficou um tanto confuso, mal percebendo que Tântalos se referia ao Olimpo.

— Vão bem, vão bem...

Zeus, na verdade, detestava aquelas visitas anuais que era obrigado a fazer ao filho bastardo, cuja mãe já deixara de procurar há muito tempo.

— Hermes, tens viajado muito?

Tântalos esforçava-se por ser atencioso e simpático, mas aparentava segundas intenções. E Hermes assentiu, sem dar muita conversa.

E o rei, aproximando seu rosto vil ao da deusa, de maneira quase obscena, observou:

— E tu, Deméter, sempre muito formosa, hein? Foi boa a colheita este ano?

E começou a cheirar-lhe os cabelos.

Zeus e Hermes entreolhavam-se, enquanto a deusa lhe respondia ao mesmo tempo em que estendia o guardanapo, sem olhar para o rosto do interlocutor:

— É... bastante.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:37

De repente, surgiram quatro escravos carregando uma imensa bandeja, que foi depositada com pompa sobre a mesa, diante de Zeus. E despertou os ânimos. Tântalos esfregava as mãos sob a mesa, na expectativa da reação favorável de seu pai. E pensava:

— A um passo da Imortalidade!

A tampa foi descoberta. Entre tâmaras, amêndoas e nozes descansavam partes nobres de um assado digno dos deuses.

Tântalos arremessou-se para a bandeja junto de Zeus e expulsou o escravo com um safanão.

— Faço questão de servir-te eu mesmo. Preferes carne branca ou escura, meu pai?

— Branca.

Depois de escolher várias vezes, o anfitrião selecionou um grande pedaço de carne branca. Em seguida, serviu também a deusa, com pequenos pedaços de carne.

— Miúdos não, obrigada. Deixa, que eu mesmo escolho.

E Tântalos, assim que ela escolheu, serviu-a com mil trejeitos, e só depois pôs um pouco de carne no prato de Hermes. Zeus parecia não estar com muita vontade de comer, ensaiava várias vezes, e nada. Quanto a Hermes, antes de começar a comer, percebeu que havia recebido a pior porção. Na verdade, era implicância de Tântalos, que tinha ciúmes do filho predileto de Zeus, cuja mãe ainda procurava às ocultas.

Hermes parou os olhos sobre o pedaço ossudo que tinha no prato, depôs os talheres e observou:

— Mas... isto aqui parece um pé humano...!

Zeus quase ia por na boca um pedaço, quando Deméter, que estava com muita fome, comeu uma bela porção do ombro. Ela tinha o hábito de comer com avidez ao sentir-se nervosa ou preocupada. E, distraída, nada ouviu.

Tântalos pensou:

— É agora.

E dirigiu-se para o pai Zeus, como se este fosse o autor da descoberta:

— Sim, meu pai, é o pé de meu querido Pélops!

— Mas que...

— E aqui está uma das mãos... peito... lombo...

Zeus ergueu um olhar ao rei da Meônia, de tal forma feroz, que o tornou branco como a parede de mármore.

— Como te atreves, maldito, a me oferecer a carne do próprio filho, que é meu neto?
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:38

Hermes levantou-se da mesa, enojado, enquanto Deméter, se dando conta, era acometida de náuseas.

— Mas pai, é um sacrifício humano! E é dedicado a ti! Quis provar a minha dedicação extrema oferecendo-lhe, em holocausto, o meu próprio filho!

O pai dos deuses não havia sido enganado: o rosto do senhor dos deuses e dos homens ficou sombrio por uma incontrolável fúria; trovões e relâmpagos castigaram a Terra, e todos evitaram olhá-lo para não ficarem cegos.

— Idiota! Não sabes que a prática dos sacrifícios humanos já foi há muito tempo abolida?

Enquanto isso, Hermes, penalizado da sorte de Pélops, espiava-o dentro da imensa tigela.

— Pai, vamos tentar trazê-lo de volta à vida!

Zeus, apesar de tudo, manteve-se firme e não puniu Tântalos, mas rompeu suas relações amistosas com ele, e os deuses abandonaram Tântalos à própria sorte.

Hermes foi incumbido por Zeus de reunir e lavar todas as partes separadas do menino Pélops e de colocá-las numa caldeira mágica, de onde a moira Cloto, que ainda não lhe determinara a morte, retirou-o em perfeito estado. Mas, ao notar que faltava o ombro comido por Deméter, que escondera-se envergonhada, Hermes foi até seu irmão Hefaístos e pediu a ele que substituísse o pedaço, fazendo uma peça de marfim, com propriedades de curar as doenças de quem a tocasse.

Terminada a obra, enquanto Pan dançava euforicamente em torno do fogo, A divina Réia, mãe dos deuses, soprou vida nas narinas de Pélops, que renasceu, agora com um transplante de marfim no ombro. A partir de então, toda pessoa que tivesse manchas brancas no corpo seria chamada de “descendente de Pélops”.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:38

Então Poseidon, vê-lo divinamente refeito, imaginou fazê-lo imortal, e, raptando-o, levou-o no seu carro ao palácio de Zeus, no Olimpo. E o menino, refeito, na companhia dos Imortais, agradeceu a Zeus e pediu-lhe que não castigasse o seu pai, que quis agradar os deuses, mesmo que de maneira errada. E desejou ardentemente retornar para casa. Confuso, mas apiedado, o senhor do Céu mandou que Hermes reintegrasse Pélops ao cruel rei da Meônia. Ele obedeceu e entregou o menino ao rei, e fê-lo jurar pelo Estige que jamais voltasse a cometer abusos contra os Imortais, pois haveria de receber uma terrível punição, o que certamente não cumpriria, e seria seu derradeiro infortúnio.

A morte e a ressurreição do jovem Pélops trouxe a Deméter uma nova e arriscada esperança; ao ganhar a estrada, Deméter exclamou, olhando o Sol que brilhava:

— E agora, aconteça o que acontecer, eu vou recuperar minha filha!

Estava disposta a tudo. Encontraria o caminho do reino de Hádes. Enfrentaria, se precisasse e quando a encontrasse, a fúria de Cérberos e salvaria Core.

— Os homens e os deuses têm que me ajudar! Do contrário, não haverá mais alegria nem para os homens nem para os deuses!

E, naquela disposição desesperada de luta, Deméter lembrou-se de que dependia dela o destino das sementes que davam aos homens as flores e os frutos, usufruídos também pelos deuses.

Lembrou-se de que dependiam dela a firmeza dos ramos e o verde das folhas. E as ervas humildes. E as árvores frondosas. E a relva e os arbustos que alimentavam os rebanhos. E as hortaliças e os grãos e as espigas que alimentavam os homens.

E, lembrando tudo aquilo, Deméter decidiu:

— Não fecundarei mais as sementes, não darei mais alento às árvores, deixarei morrer as flores ao desabrocharem, não haverá mais frutos sobre a Terra enquanto não recuperar minha filha.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:39

Assim pensou, assim falou, assim resolveu. E a partir daquele instante a relva mais rasteira e as árvores mais altas, as pequenas plantas de vida curta, que davam alimento aos homens e árvores centenárias que eram, o deslumbramento de seguidas gerações, tudo começou a fenecer e murchar.

Não havia mais flores no campo. Os homens mergulhavam as mãos calosas no solo onde havia antes raízes e tubérculos comestíveis e nem embaixo da terra nem nos ramos mais altos encontravam qualquer alimento.

E como as ovelhas e as cabras, as galinhas e as outras aves, os jumentos, os cavalos e os bois também raramente encontravam o que comer, neles o homem encontrava menos comida para si e para seus filhos.

Muitos a conheciam e não desconheciam o seu poder. E poderosos senhores de terras e humildes lavradores assalariados, quando a surpreendiam, caíam aos seus pés e lhe pediam socorro.

— Ajuda-nos, ó deusa, ou morreremos de fome!

— Eu tenho uma filha, de nome Core, roubada pelo terrível senhor dos Infernos. Eu a quero de volta. Ou os homens ou os deuses, alguém tem que devolver minha filha. Do contrário, os homens acabarão sem comida e os deuses sem adoradores.

E resumindo a sua resolução:

— O primeiro verde que vai haver sobre a Terra, de hoje em diante, será o da relva do caminho de volta que vai ser percorrido por minha filha...

Assim, Zeus fez Héra mandar sua mensageira Íris descer pelo seu arco com uma mensagem para Deméter.

— “Por favor, minha querida irmã, sê sensata e deixa a vegetação crescer de novo, pelo bem dos mortais que tanto amas...”

Como Deméter não dera a menor atenção a seu pedido, Zeus mandou Poseidon, Héstia e a própria Héra entregarem-lhe presentes maravilhosos, mas Deméter, gemendo de angústia, disse:

— Levai tudo embora. Não farei nada por nenhum de vós enquanto minha filha não voltar para casa, para mim!!
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:40

A situação ficou tão séria, a fome se alastrava, o gado desesperado definhava. Zeus, então, pediu que Deméter fosse visitá-lo Olimpo. Mas ela recusou. Ao invés, de volta à Trinácria, começou a lançar a culpa sobre a Terra inocente:

— Ingrato solo, que tornei fértil e cobri de ervas e grãos nutritivos, não mais gozarás de meus favores!

O gado morria, o arado quebrava-se no sulco, as sementes não germinavam. Por isso, ouvindo os insultos de Deméter, a ninfa Aretusa apareceu e disse-lhe:

— Não culpes a Terra, ó deusa. Ela se abriu de má vontade para dar passagem à tua filha. Esta não é minha terra natal; venho da Ápia. Era uma ninfa dos bosques e comprazia-me na caça. Exaltavam minha beleza, mas eu não cuidava disso, e antes me vangloriava de minhas proezas venatórias. Certo dia, estava voltando do bosque, aquecida pelo exercício, quando vi um regato que corria sem ruído, tão claro que podiam contar-se as pedrinhas do fundo. Os salgueiros o sombreavam e as margens, cobertas de relva, desciam até a água, numa rampa suave. Aproximei-me, toquei a água com o pé. Entrei até ficar com água pelo joelho e, não contente com isto, deixei minhas vestes nos salgueiros e entrei no rio. Enquanto lá estava, ouvi um murmúrio indistinto, vindo do fundo, e apressei-me em fugir para a margem próxima. Era Alfeus, o deus daquele regato, e pôs-se a me perseguir. Não era mais rápido do que eu, mas era mais forte e insistente, e alcançou-me quando minhas forças fraquejaram. Gritei pedindo ajuda, e logo a deusa Ártemis me atendeu e envolveu-me numa nuvem. O deus-rio procurou-me, ora aqui, ora ali, e duas vezes aproximou-se de mim sem me ver. Eu tremia, como um cordeiro cercado pelo lobo. Um suor frio cobriu-me, meus cabelos caíram como correntes de água e onde estavam seus pés formou-se uma lagoa.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:40

E continuou:

Em resumo: em menos tempo do que levo para contar, tornei-me uma fonte. E, sob essa forma, fui reconhecida e tentou misturar sua corrente com a minha. Ártemis abriu o solo e eu, tentando escapar à perseguição, mergulhei na fenda e, através das entranhas da Terra, cheguei até aqui. Ao passar pelas camadas inferiores da Terra, vi tua Core. Ela estava triste, mas já não refletia susto em sua face. Seu aspecto era de uma rainha: a rainha do Érebos; a poderosa esposa do monarca Hádes.

— Minha filha rainha de Hádes? Não vou permitir! E por isso vou até o Olimpo falar com meu irmão Zeus.

E assim, graças à ninfa Aretusa, Deméter decidiu atender ao pedido de Zeus e foi até a corte celestial.

— Minha irmã, por que insistes em...

— Na verdade, Zeus, eu só estou aqui porque preciso da tua ajuda. Quero que obrigues teu irmão Hádes a devolver-me minha filha, ou seja, nossa filha!

Zeus, olhando para todos os lados, pediu para Deméter baixar o tom de voz, como se temesse que alguém os ouvisse.

— Deméter, minha querida, Hádes é senhor em seus domínios... tu sabes... e também é teu irmão.

— Ele que vá para o Inferno!

— Ele já está lá, querida...

Deméter, olhando-o atravessado, não estava para gracejos.

— Não tenho tempo nem ânimo de rir, Zeus!

— Então volta lá para baixo, que é teu lugar, e coloca em ordem outra vez a Terra, da qual tu tens te descuidado há meses.

— Não, ela vai continuar assim, sem brotar mais um pé de couve sequer, enquanto eu não tiver minha filha de volta!

O grande Zeus, ao perceber que sua esposa Héra já se aproximava para ver o que estava acontecendo, resolveu contemporizar, pois sabia que duas mulheres iradas não era um bom negócio.

— Está bem, está bem, façamos então assim: tua filha, ah! perdão — nossa filha poderá retornar para a Terra, mas terei que primeiro mandar Hermes falar com Hádes, que certamente irá impor alguma condição. Por ora, desce para a Terra e espera.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:41

Deméter não tinha outra alternativa senão aguardar a decisão de Hádes, mas pensava seriamente em ir buscá-la pessoalmente. Então, os homens e os deuses resolveram convocar o mensageiro Hermes. Ele deveria entender-se pessoalmente com Hádes e libertar Core, pois era ele o único entre os Olímpicos que entrava livremente nos Infernos. Neste momento, doce água perfumada caiu como chuva. Deméter percebeu, neste sinal, que Zeus estaria do seu lado. E conteve-se a esperar. Retirou-se para o seu templo em Elêusis.

Naquele meio tempo, uma menina tinha vivido horas, dias e meses de maior aflição, num estranho palácio onde não entrava a luz do Sol e onde tudo era riqueza e esplendor, mas onde a alegria não tinha morada.

Era Core.

Passou todo aquele tempo sem provar qualquer alimento. Por mais que Hádes convocasse os melhores cozinheiros, não conseguia vencer sua resistência passiva. Era a sua maneira de protestar contra o sequestro que havia sofrido. Ela possuía um dom inexplicável e misterioso. Algo de sobrenatural a preservava. Porque de aparência continuava a mesma, sempre bela, bem disposta e natural. Havia suspeitas que ela comia às escondidas e apenas fingia não comer para não dar aquele gosto de satisfação ao rei Hádes. Ou nutria-se de esperança. Chegavam a deixar frutas, doces e toda sorte de guloseimas em seu quarto, à espera de que fraquejasse. Mas quando iam ver, a menina não havia cedido. E aquilo preocupava Hádes. Porque só havia um meio seguro de retê-la para sempre em seus domínios: ela precisaria comer os seus manjares de poderes mágicos, tornando-se um de seus habitantes.

— Morrer ela não morre, ainda que não coma. Ela tem uma natureza especial. Não é uma mortal. Mas nunca estarei garantindo contra a sua fuga, mais cedo ou mais tarde, por esta ou por aquela maneira, se ela não comer. É lei eterna que ninguém pode mudar.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:42

Apesar disso, Core não vivia inteiramente infeliz no palácio.

Certamente, sofria de saudade. Certamente, pensava dia e noite em voltar para os queridos braços maternos. Jamais se perdoava haver desobedecido aos conselhos da mãe. E queria e pensava libertar-se. Mas havia tanta coisa bonita nos domínios de Hádes que, como criança que ainda era, sempre achava um meio de se distrair.

Entre os dotes da pequena havia um vago brilho solar que irradiava. E, ao penetrar num lugar escuro, sem janelas, em que tudo era ouro, brilhantes e pérolas de uma austera tristeza, todas as peças se iluminavam pelo menos a seus olhos e as flores de ouro frio ganhavam perfume e novas cores e uma vida que palpitava enquanto ela estivesse presente.

E graças àquele dom e fascinados pela sua presença, os antigos e soturnos moradores do palácio e o próprio Hádes a seguiam, para partilhar da irradiação de alegria e do toque de beleza humana ou divina que ela a tudo comunicava.

— Ah, eu só queria que ficasses para sempre comigo, mas por tua vontade, Core.

— Por vontade minha eu nuca ficarei.

— Eu amo a tua alegria.

— Minha alegria não existe. Existe apenas a minha resignação e a minha esperança...

— Eu tudo farei para dar-te uma alegria real, parecida com a alegria que transmites. Pede-me o que quiseres...

— Deixa-me sair. Deixa-me voltar para minha mãe. E quando eu reconquistar a alegria de estar naqueles braços amados terei um pensamento alegre de gratidão para contigo.

Mas aquela solução não agradava, de maneira alguma, ao senhor das minas e das riquezas que ficavam nas profundezas da Terra. E, vendo que ela continuava a recusar todo e qualquer alimento que lhe oferecia, ele e seus artistas cozinheiros continuavam a inventar maravilhas.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 03:42

— É inútil, Hádes. Nunca levarei aos lábios qualquer iguaria que te pertença. Eu não tenho apetite para coisa alguma, a não ser por um pouco de pão que minha mãe preparasse ou por uma frutinha qualquer dos pomares e dos sítios fecundados e abençoados pelas mãos de Deméter minha mãe.

Foi então que Hádes teve uma ideia que já lhe devia ter ocorrido há mais tempo. Em vez de encomendar a seus cozinheiros os pratos mais sutis, para seduzi-la, mandaria seus mensageiros à Terra, para colher os frutos das árvores de Deméter e oferecê-los à teimosa jovem. Esses, ela aceitaria... E os comeria... E, portanto, segundo a eterna lei que presidia os seus destinos, jamais sairia de seu reino.

Os mensageiros de Hádes partiram para a superfície da Terra. Só que chegaram tarde, depois que Deméter resolvera secar as árvores e esterilizar as plantas...

Nem os servos de Hádes, que haviam subido à Terra à procura dos frutos e dos alimentos de Deméter, nem Core, que estava a contragosto resignada à sua prisão naquele palácio, mas não chegava a odiar o rei, afinal tão carinhoso com ela, nem eles nem ela, nem ninguém, sabiam que o alado Hermes havia astuciosamente penetrado no palácio e conversava com Hádes.

Hermes, graças ao seu poder de flutuar, driblava alegremente as três cabeças ferozes de Cérberos. O triste cão sombrio e feroz ficara imóvel sobre as quatro patas fincadas no chão, sem poder despegar-se, porque cada cabeça dava, ao mesmo tempo que as outras, seu bote mortal, querendo abocanhar Hermes, que, naquele momento, era invasor. E quando Hádes menos esperava, tinha diante dele e do seu trono, a figura sagaz, astuciosa, maliciosa e matreira de Hermes, mensageiro dos deuses e, naquele momento, esperança dos homens.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

Os Mistérios de Elêusis - Página 2 Empty Re: Os Mistérios de Elêusis

Mensagem por Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 2 de 3 Anterior  1, 2, 3  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos