Zheng He, capitão chinês

Cativo da Dinastia Ming, castrado na infância, de personalidade brilhante e grande inteligência, construiu a maior esquadra de navios de madeira que o Mundo viu. Nascido em 1371, conseguiu convencer o Imperador chinês a construir uma esquadra com 337 navios de grande porte e mais 188 menores para transporte de carga, que zarparam da China e chegaram até a costa leste da África, comercializando e impondo-se como a maior potência naval da época. A Nau Capitânia tinha 135 metros de comprimento e foi o maior navio de madeira jamais construído. Após sua morte, em 1433, o Imperador reinante misteriosamente decidiu fechar a China aos outros povos e mandou queimar a esquadra de Zheng He.
Esse é o mistério que proponho estudarmos. Por que, tendo a maior esquadra do mundo, podendo tornar-se a maior potência naval da época, o Imperador resolveu queimá-la?

Realmente, eles tinham a maior esquadra do mundo. Foi uma atitude drástica demais. Mesmo com as hordas mongóis na porta, o poderio já era deles...

Legal o tópico, Alquimista, esse assunto é muito interessante. A China tinha a tecnologia naval mais desenvolvida da época - superando até mesmo os portugueses, espanhóis e outras potências marítimas da época!

Zheng He esteve na América?

Num livro publicado na China por volta de 1418 existem vários mapas que descrevem as suas viagens à volta do globo, 100 anos antes dos grandes navegadores como Vespúcio, Colombo, Magalhães, Cabral, Gama e Cook o fazerem… será que tiveram ''inspiração'' chinesa?

É essa mesma a história. Antes de 1433, os chineses construíam barcos que eram algumas dezenas de vezes maiores que as caravelas... Há, inclusive, um artigo de uma revista (que não me lembro qual é), com as figuras em proporção dos barcos chineses, europeus e modernos. Os chineses eram do tamanho de transatlânticos atuais...

Essa história dele ter estado na América ainda é controversa. Dizem haver um mapa, mas o dono do mapa não quis mostrar o original. Só apresentou cópias, portanto, os arqueólogos não puderam constatar se esse mapa é antigo mesmo, ou não...

Havia muita pressão dos mongóis sobre a fronteira - a própria capital foi mudada de Nanjing (Nanquim) para Beijing (Pequim) para ficar mais próxima da Muralha e das operações de defesa. Ante o risco crescente de invasão, a corte chinesa acabou acreditando que devia concentrar todos os recursos no Exército e que as aventuras marítimas eram um desperdício de recursos.

E não só os mongóis eram problema para a China, como também os piratas japoneses, que os chineses chamavam de Wokou e os próprios japoneses de Wakou.

Vlad Tepes III escreveu:
Realmente, eles tinham a maior esquadra do mundo. Foi uma atitude drástica demais. Mesmo com as hordas mongóis na porta, o poderio já era deles...

Mas o fato de já terem se libertado do jugo mongol não significou o fim do problema mongólico para a China. Só no século XVII, com a conquista manchu da Mongólia é que os mongóis deixam de incomodar a China.

Puxa, Bafomé. A história da China e dos problemas que ela enfrentou com os nômades é muito interessante. E eu não sei quase nada a respeito. Li há pouco tempo um livro sobre a vida de Genghis Khan. O livro é científico e de difícil leitura, porque cita muitos locais e territórios que a gente não consegue visualizar muito bem em mapas. E fala das conquistas mongóis sobre a China, mas um amigo me disse que eles nunca conseguiram conquistar todo o território chinês. Queria saber se isso é verdade e qual o território chinês que ficou livre da conquista mongol.

Os mongóis conquistaram toda a China sim. Primeiro o norte submetendo o reino de Xixia e a dinastia Jin (conquista essa concluída em 1234 com a tomada de Kaifeng) e depois o sul conquistando os Song (conclusão em 1276). Tanto é que terminada a conquista total da China, Kublai Khan tentou, sem muito sucesso, submeter algumas das nações do sudeste asiático, incluindo o Vietnã, a Birmânia e Java.

ALQUIMISTA, alvíssaras...!!!!!!!
O Mestre GB vai sugerir para V. o DVD "GENGIS KHAN", filme com Omar Sharif e Telly Savalas, James Mason e Stephen Boyd, produção de 1965... Espero que V. faça bom proveito...!!!!!!

Amigo... Esse filme eu já tenho em DVD... É ótimo, porque o elenco é de primeira. Omar Shariff faz o papel de Genghis!!! Um egípcio fazendo papel de mongol... Muito interessante!!!!

Li há pouco tempo o livro Genghis Khan, Conqueror of the world, de Leo de Hartog. O livro, apesar de citar muitos lugares e a gente não conseguir entender bem a geografia daquele tempo, é interessante, porque narra bem a forma de pensar dos mongóis. Eles eram produto da vida dura da estepe, vivendo em tendas, comendo somente carne e bebendo leite azedo... Aliás, assisti um documentário sobre a China, onde narraram a sina horrível das princesas chinesas mandadas para os chefes mongóis como um presente para aplacar a vontade deles de entrarem China a dentro. E um texto escrito por uma dessas princesas foi lido. Ela diz que sua casa é uma tenda e só tinha para beber o tal de leite azedo. E que ela sonhava em se transformar numa garça para voar de volta para a casa do seu pai.

Alquimista escreveu:
Amigo... Esse filme eu já tenho em DVD... É ótimo, porque o elenco é de primeira. Omar Shariff faz o papel de Genghis!!! Um egípcio fazendo papel de mongol... Muito interessante!!!!

Sim, isso mesmo. E no Brasil ele foi dublado pelo Carlos Campanile, o mesmo dublador do Freeza no Dragon Ball Z, do Thor de Fekda no Cavaleiros do Zodíaco, do Demon no Samurai Warriors e do rei Thedeon no Senhor dos Anéis.

Alquimista escreveu:
Li há pouco tempo o livro Genghis Khan, Conqueror of the world, de Leo de Hartog. O livro, apesar de citar muitos lugares e a gente não conseguir entender bem a geografia daquele tempo, é interessante, porque narra bem a forma de pensar dos mongóis. Eles eram produto da vida dura da estepe, vivendo em tendas, comendo somente carne e bebendo leite azedo... Aliás, assisti um documentário sobre a China, onde narraram a sina horrível das princesas chinesas mandadas para os chefes mongóis como um presente para aplacar a vontade deles de entrarem China a dentro. E um texto escrito por uma dessas princesas foi lido. Ela diz que sua casa é uma tenda e só tinha para beber o tal de leite azedo. E que ela sonhava em se transformar numa garça para voar de volta para a casa do seu pai.

E por um acaso esse documentário que você falou não é um documentário que passava nos canais Discovery?

Eu acho que sim, mas não tenho certeza, porque eu sempre assisti mais o National. Acho que não é um documentário sobre como os imperadores chineses tentaram defender a China. Fala da Grande Muralha e que depois ela se tornou muito cara para conservar. E os imperadores resolveram usar as pobres princesas como uma forma de deixar os povos das estepes felizes e não invadissem a China. Coitadas das moças... Acostumadas com o requinte da corte chinesa, de repente serem jogadas nas estepes, vivendo em tendas e aturando um marido que não tomava banho porque era tradição um homem mongol nunca se lavar. Hugh...

Tal política de fornecer esposas para os bárbaros do norte os chineses já faziam no mínimo desde os últimos séculos da era pré-cristã, com os Xiongnu/hunos. E lembrando também que os chineses, quanto a ameaças ao norte da Grande Muralha, não tinham que lidar apenas com os povos das estepes da atual Mongólia, como também os povos originários da taiga manchuriana, tais como os khitanos, os jurchens e os manchus. Todos eles chegaram a estabelecer dinastias (os khitanos estabeleceram a dinastia Liao, os jurchens estabeleceram a dinastia Jin e os manchus a Dinastia Qing) e logo se achinesaram, mas apenas os manchus chegaram a dominar toda a China durante a Dinastia Qing (1644 - 1912). E quanto aos povos das estepes, não só a China como também a Rússia e o Irã tiveram que lidar com eles ao longo de suas respectivas histórias. Com a diferença que para os russos esses vinham do sul e para os persas esses vinham do norte.

Existia uma rivalidade muito grande entre os chineses e os manchus, não é??? Sei que o último imperador era de origem manchu. Mas gostaria de saber mais sobre ele ter dado ênfase à sua origem antes de ser destronado. Foram mesmo os japoneses que destronaram o último imperador???

Sim, havia tal rivalidade, até por que os manchus eram um dos vários povos que os chineses olhavam como bárbaros. E os japoneses não destronaram Puyi, o último imperador da China, não. Puyi foi derrubado pela revolução de 1912, liderada por Sun Yat-Sen, e em 1931 foi empossado pelo Japão como o chefe do estado fantoche Manchukuo.

Mas Puyi já não era o imperador antes da China ter sido invadida pelos japoneses???

Sim, foi o imperador de 1908 a 1912.

E ele foi praticamente levado à força para a região Manchu e foi lá que os japoneses começaram a usá-lo como um chefe de estado fantoche... Coitado. Foi uma das figuras trágicas do século XX.

Artigo sobre a ''Esquadra dos Tesouros'', que zarpou em 1405 do porto chinês de Longkiang, capitaneada pelo almirante Zheng He.

Uma frota enorme de 200 navios, com 27.800 tripulantes, entre oficiais, marinheiros, soldados, intérpretes, médicos, cientistas. A nave capitanea tinha 140 metros de comprimento e 60 de largura, que são inacreditáveis 8400 m² (maior que um campo de futebol oficial, que tem 110x70 metros = 7,700 m²).

Como eram movidas à vela, sua navegabilidade era restrita, pois só podiam ser impulsionadas por ventos de popa. Ou seja, precisavam aguardar as estações propícias (as monções) para navegar. Mas isso não os impediu de chegar às costas da África, e depois retornar. No total, foram 7 expedições, até 1424, quando morreu o imperador visionário que as ordenou.

Seu filho e sucessor, a meu ver, foi um palerma. Tudo indica que atualmente deve ter alguns descendentes em Brasília.

http://www.herodote.net/histoire/evenement.php?jour=14050711&ID_dossier=11

O imperador Ming que patrocinou as esquadras de supernavios tinha assumido de modo ilegítimo. Para justificar sua usurpação com façanhas indiscutivelmente heróicas e benéficas ao império e calar a oposição, tomou aquela iniciativa que foi muito bem sucedida apesar da China não ter grande tradição marítima anterior. E uma das razões era exatamente que a tradição heroica chinesa seria uma expedição por terra para desvastar os perigosos nômades do Norte. Como tanto os nômades do norte como os piratas japoneses desta época estavam bem quietinhos, essas façanhas soariam como uma "piada" em nada envaidecendo o regime usurpador.

Ele teve sucesso com o competente Zheng He.

Este imperador Ming morreu e pouco tempo depois de assumido trono, seu sucessor julgou que a ameça de invasão mongol (que na época não era tão séria como na época de Gengis Khan) era mais prioritária (e barata) que manter a supermarinha. Seu poder não era facilmente contestado como de seu antecessor e ele foi obedecido prontamente. Supernavios e superportos foram desativados e recursos materais e humanos desviados para a muralha norte que já havia se demonstrado ineficaz em passado distante. A costa em torno de Nanquim virou paraíso de piratas japoneses e okinawanos, sendo que alguns destes eram na verdade chineses ex-membros das superesquadras. Que as superesquadras eram caríssimas ninguém duvida, o problema é que os verdadeiros lucros de um domínio chinês do Índico e talvez do Pacífico ainda não tinham aparecido.

Quanto ao alcance das superesquadras chinesas, como já foi levantado, não barlaventear restringiram bastante seu alcance. Ida e volta entre leste africano e sul asiático era garantido pelas Monções (ventos previsíveis). Mas a ida do sul da África para América do Sul em latitudes altas ou da China para a Califórnia por Trópico de Câncer ia ser punk porque há poucas ilhas com água, correntes e ventos não tão previsíveis e quando são estão em sentido contrário ao desejado. Um domínio de todo Índico e do Mar da China, do Japão até norte da Austrália seria o âmbito mais realista destas superesquadras chinesas.