Amor Cortês

Estou produzindo um trabalho sobre Trovadorismo e Amor Cortês e gostaria de receber referências para a pesquisa... agradeço desde já a quem puder me ajudar!!!

Os livros do Georges Duby podem te ajudar: "Eva e os padres", "Idade Média, Idade dos Homens", "Damas do século XII". Há ainda "Misoginia Medieval" do Howard Bloch. No campo da literatura há as contribuições da Maria do Amparo Maleval sobre a literatura trovadoresca portuguesa. As edições críticas das cantigas medievais portuguesas feitas por Carolina Michaelis e J. J. Nunes são de grande valia, pois as fontes são comentadas e, quando possível, são apresentadas pequenas biografias de seus compositores. Em todo caso, dependendo da faculdade, creio que os textos do Duby sejam mais acessíveis. Já os trabalhos da C. Michaelis e J. J. Nunes podem ser encontradas em sebo.

Posso encontrar algum destes livros que você citou em PDF?

E qual seria a relação entre o amor cortês nos textos e na vida real?
Havia relação com a heresia albigense?
Com Platão?
Com a reforma papal a exigir celibato?
Com a preservação do patrimônio da família senhorial?

Sêo Vlad, não há relação entre amor cortês e qualquer movimento herético. Esta manifestação cultural, mesmo como tendo o principal foco na Provença, não se relacionava com as atividades dos albigenses. A cultura cortesã espalhou-se para o norte da França e também para a Península Ibérica. Trovadores franceses poderiam ser encontrados também na corte Plantegeneta. Pode ser considerada como a primeira manifestação cultural laica no medievo. Apesar de Chrétien de Troyes ser um clérigo, seu público "consumia" a temática do amor cortês em suas novelas de cavalaria.

Sêo D. Diniz, não sei se tem algum dos livros que citei em pdf. O negócio é visitar a biblioteca de sua cidade mesmo e fotocopiar as partes importantes.

Estou aceitando qualquer referência sobre a literatura medieval, principalmente se for em PDF... Urgente!!!

Parceiro, lamento, mas recomendo uma busca na biblioteca da sua cidade, pois os livros, pelo menos em português, que poderiam te ajudar, não estão em pdf, pelo menos não que eu saiba... Não sei ao certo, mas creio que o Books Google tenha alguma compilação de textos de amor cortês, como as novelas de Chrétien de Troyes. Uma parte dos textos deste autor estão traduzidos em português e foram publicados nos anos de 1980 pela editora Francisco Alves.

Recomendo procurar em bibliotecas públicas a obra:
A DEMANDA DO SANTO GRAAL, de Augusto Magne, em 3 volumes, edição do Instituto Nacional do Livro, MEC, impresso na Imprensa Nacional, Rio de Janeiro, 1944.
A introdução da obra, pelo Prof. Américo Facó, estuda a literatura do Amor Cortês, e o terceiro volume é um notável estudo do idioma português no século XV. Sucesso no seu trabalho...!!!

Há ainda:

Jerome Baschet. "A Civilização feudal", Ed. Globo, 2006.

''Ética cavaleiresca e amor cortês" (pp. 118-126)
       
"Grand Chansonnier Manuscrit de Heidelberg" (Codex Manesse - Cod. palat. germ, nº 848 / Biblioteca da Universidade de Heidelberg, Alemanha), algumas ilustrações deste códice medieval exemplificam o AMOR CORTÊS. Podem ser de utilidade para ilustrar o seu trabalho.

Em PDF há os artigos do professor José D'Assunção Barros. É só jogar no google que você acha muita coisa dele.

O "Amour courtois" surgiu na Idade Média européia, nas cortes francesas por volta do século XI. O amor cortês enaltecia a mulher, que geralmente (não necessariamente sendo regra) era mais velha e casada, e seu amante jovem e fiel. Sabe-se que antes mesmo desse tipo de tratamento para com a mulher ter sido difundido, ela não era tratada com nenhum carinho, pelo contrário. Por exemplo, Guillaume d'Ascon, católico, desconfiava que sua mulher tinha contatos ilegais com hereges cátaros. Então disse a ela:

"Grandíssima porca (...) tu e a tua cúmplice Rixende, a mulher de Pierre Amiel de Ascou, essa grandíssima leprosa e herética, deviam ambas ser queimadas (...) E não me importava muito em arrancar o fígado e os intestinos a uma porca velha como ela!"

Já um outro texto da época diz que "o homem pode aquecer os pés no seu sangue; desde que, voltando a cosê-la, ela sobreviva".

As mulheres então eram surradas, apanhavam e o mais comum era levarem socos no nariz. Dessa forma, não raro encontravam carinho nos braços de solícitos amantes. A meu ver, o amor cortês surgiu sob o signo da infidelidade (e infelicidade extrema) conjugal, levando a sociedade a uma mudança quanto aos relacionamentos.
Assim sendo, caríssimos, gostaria de saber a opinião de vocês a respeito dos motivos que levaram ao surgimento do amor cortês, se vocês concordam que a Igreja teve influência (pois condenava a promiscuidade), enfim...

Pois é.
A supremacia da condição feminina na Idade Média era concebida a partir de certos enfoques metafísicos. A mulher não era uma exposição erótica, carnal, sensual, ia mais além. Talvez nem existisse uma ética para regular os relacionamentos. As atrocidades eram normais, e o fator sexo, da posse física, momentânea, se fazia presente sem qualquer sentimentalismo. A mulher era o poder em sua passividade e a causa de tanta brutalidade. Evola, em Metafísica do sexo, assevera: "Embora esse quadro possa ser um pouco exagerado, não se pode, contudo, contestar o desvio que existia no conjunto entre as relações reais predominantes na Idade Média entre os dois sexos, e o papel que a mulher desempenhou, ao contrário, em certos costumes cavalheirescos". Assim como os muçulmanos morrem pelas virgens, o cavaleiro medieval, para possuir sua Dama, necessitava de uma empresa perigosa: consagrar sua vida, por exemplo. Ou seja, a mulher alimentava o desejo do guerreiro e o incitava ao combate e à morte.

Acho que há uma relação boa entre os cátaros, que acreditavam numa Redentora, e a origem do trovadorismo no sul da França. Infelizmente estou sem tempo pra digitar.
Outra possível conexão seria a ideia de amor em Platão?

Freud explica escreveu:
Assim como os muçulmanos morrem pelas virgens, o cavaleiro medieval, para possuir sua Dama, necessitava de uma empresa perigosa: consagrar sua vida, por exemplo. Ou seja, a mulher alimentava o desejo do guerreiro e o incitava ao combate e à morte.

Acho que não devemos nos esquecer que o amor cortês era um modelo, e sendo um modelo, não era algo fielmente seguido, pelo contrário. Um cavaleiro, em geral, interessava em estabelecer matrimônio com uma dama (de ascendência nobre, não nos esqueçamos) para poder ter pra si as terras que ele ganharia como dote. Na literatura medieval, temos exemplos de textos que deixam claro que apenas a nobre deveria ser cortejada (vejam os Carmina Burana). Resumindo, o modelo de amor cortês só servia como modelo base de relacionamento entre os nobres.

Ah, e esqueci de dizer. Claro que a Igreja teve influência nesse modelo. É possível notar inclusive características de Maria como precedentes para a dama ideal de se contrair matrimônio (resignação, pureza, etc.).

Vlad, acredito que também tenha relação com a própria corte de Provença e o maior desenvolvimento linguístico que essa se encontrava, e daí surgir um modelo de amor cortês e a disseminação (pelos trovadores andarilhos).

Pessoal, peço desculpas por fugir um pouco do assunto, mas já que o tema matrimônio na Idade Média foi discutido aqui, alguém já ouviu falar sobre uma indenização paga ao Senhor pelo adultério cometido pela esposa do servo?

Nota-se a condenação e punição de práticas adúlteras (femininas apenas, o adultério masculino somente é passível de condenação quando realizado em público) pela Igreja. É ela, a Igreja, que julga, condena e puni, e não o senhorio.
Numa obra de referência para o estudo medieval no Brasil, Hilário Franco Jr em ''A Idade Média – O Nascimento do Ocidente'', na página 130, nos fala alguma coisa a respeito do adultério como: ''O sexo oral e a sodomia, a magia para atrair o desejo de alguém, as práticas anticonceptivas e abortivas, as relações incestuosas e ADÚLTERAS eram pecados duramente castigados: De 6 a 15 anos de jejum e de excomunhão, geralmente acompanhados de interdição perpétua de qualquer relação sexual e casamento.''
Adultério feminino na Idade Média é, antes de tudo, PECADO, e, como tal, ''o caráter remissível dos erros e o monopólio que a Igreja exerce sobre o poder de perdoar os pecados e de prescrever punições situam o binômio erro-castigo no interior de um sistema de trocas entre o mundo terreno e o Além'', como nos fala Jacques Le Goff. Notamos que a Igreja era quem julgava e punia os crimes de pecado, prescrevendo penitências públicas ou privadas. Desconheço qualquer pagamento servil ao Senhor feudal para o caso de adultério, geralmente o pagamento imposto pela igreja era o jejum, a reza, a abstinência sexual, o ''passeio'' da adúltera nua pelas vilas, etc... O pagamento era feito à Igreja e a Deus...

Interessante, como "a Lady Godiva" de um pobre camponês?

Aparentemente pelos registros que tenho, sim, mas quando dizem de Godiva ter cavalgado nua pelas ruas, pode-se também interpretar que Godiva andou sem adornos e jóias, e não literalmente nua... vai saber... kkkkk.

Nunca escutei falar disso. Você podia subornar os membros da igreja, sim, mas não pagar indenização, contudo, vale lembrar que muitas vezes o culpado era penitenciado duas vezes pois o senhor de terras também tinha direito de aplicar sua lei em suas terras, além das leis da igreja. Lógico, ele não podia ir CONTRA a igreja, como condenar um padre, mas podia punir juntamente com a igreja ou dissociadamente desta punindo uma segunda vez... mas essa de pagar nunca ouvi falar.

Quanto a matar, inclusive, saindo da Europa e indo para o leste, para a Faixa de Gaza mais ou menos (ainda na Idade Média), os muçulmanos tinham um jeito bem interessante de evitar os assassinatos das esposas; eles tinham que ser pegos no flagra por, ao menos, 4 testemunhas válidas. Agora, eu pergunto, quem iria se deixar flagrar por 4 pessoas juntas? (Detalhe: são 4 pessoas MAIS o marido)
Acontecia umas raras vezes, mas era muito difícil, e a armação pra pegar os dois no flagra não valia!!!

Também nunca tinha ouvido falar, mas é bem plausível e tal direito de idenização deve ter sido herdado do direito privado romano, creio eu, já que tal direito disponha acerca de vários assuntos da vida privada e existem muitos casos em que a idenização era adotada como pena!