Quando os padres deixaram de casar?

Olá amigos. Eu tenho uma dúvida e nunca consegui responder. Sei que na Alta Idade Média os padres ainda se casavam com mulheres, pois não era obrigação eclesiástica o celibato, apesar de que conhecidos eclesiásticos como Santo Agostinho (séc V) deixaram suas esposas para poder dedicar-se exclusivamente à Igreja.

Me parece que esse tipo de celibato era opcional, como outras medidas mais extremas que foram tomadas por eclesiásticos. Mas em algum momento da História isso deixou de ser opcional e tornou-se regra. Também me parece que essa mudança foi gradual e não foi totalmente absorvida, sendo que muitos padres devem ter continuado tendo amantes, ou em lugares mais longes dos grandes centros, até mesmo vivendo como casado.

O problema é: quando foi que essa mudança ocorreu? Qual foi sua extensão? De onde ela partiu?

Eu imagino que o fato de os padres da Igreja Ortodoxa Grega se casaram ainda hoje, indica que essa mudança ocorreu depois do Grande Cisma da Igreja em 1054, mas isso não é certeza absoluta pois a Igreja de Roma e de Constantinopla sempre apresentaram diferenças culturais e políticas desde o século IV EC.

Enfim, nunca consegui resolver essa questão, e se alguém puder me esclarecer eu agradeço.

Abraços!!

Uma breve história do celibato na
Igreja Católica

Pedro do primeiro século
, o primeiro papa, e os apóstolos que Jesus escolheu eram, em sua maioria, homens casados. O Novo Testamento implica que as mulheres presidiam as refeições eucarísticas na igreja primitiva.
Era do Gnosticismo do Segundo e Terceiro Séculos
: a luz e o espírito são bons, as trevas e as coisas materiais são más. Uma pessoa não pode ser casada e ser perfeita. No entanto, a maioria dos padres eram casados.
Século IV
306- Concílio de Elvira, Espanha, decreto nº 43: um padre que dormir com a esposa na noite anterior à missa perderá o emprego.
325- Concílio de Nicéia: decretou que após a ordenação sacerdote não poderia casar. Proclamou o Credo Niceno.
352- Concílio de Laodicéia: as mulheres não devem ser ordenadas. Isto sugere que antes desta época havia ordenação de mulheres.
385- O Papa Sirício deixou sua esposa para se tornar papa. Decretou que os padres não podem mais dormir com suas esposas.
Quinto Século
401- Santo Agostinho escreveu: Nada é tão poderoso para atrair o espírito de um homem para baixo como as carícias de uma mulher.
Século VI
567- 2º Concílio de Tours: qualquer clérigo encontrado na cama com a esposa seria excomungado por um ano e reduzido ao estado laico.
580- Papa Pelágio II: sua política era não incomodar os padres casados, desde que eles não entregassem os bens da igreja às esposas ou filhos.
590-604- O Papa Gregório, o Grande, disse que todo desejo sexual é pecaminoso em si (o que significa que o desejo sexual é intrinsecamente mau?).
França do século VII
: documentos mostram que a maioria dos padres eram casados.
São Bonifácio, no século VIII,
relatou ao papa que na Alemanha quase nenhum bispo ou padre era celibatário.
Século IX
836 - O Conselho de Aix-la-Chapelle admitiu abertamente que abortos e infanticídios ocorriam em conventos e mosteiros para encobrir as atividades de clérigos não celibatários.
Santo Ulrich, um santo bispo, argumentou com base nas escrituras e no bom senso que a única maneira de purificar a igreja dos piores excessos do celibato era permitir que os padres se casassem.
Século XI
1045 -
Bento IX dispensou-se do celibato e renunciou para se casar.
1074- O Papa Gregório VII disse que qualquer pessoa para ser ordenada deve primeiro prometer o celibato: os padres [devem] primeiro escapar das garras das suas esposas.
1095- O Papa Urbano II mandou vender as esposas dos padres como escravas, as crianças foram abandonadas.
Século XII
1123 -Papa Calisto II: O Primeiro Concílio de Latrão decretou que os casamentos clericais eram inválidos.
1139 -Papa Inocêncio II: Segundo Concílio de Latrão confirmou o decreto do concílio anterior.
O Bispo Pelágio, do século XIV
, queixa-se de que as mulheres ainda são ordenadas e ouvem confissões.

Transição do Século XV ; 50% dos padres são casados ​​e aceitos pelo povo.
Século XVI
, 1545-63 - O Concílio de Trento afirma que o celibato e a virgindade são superiores ao casamento.
1517 -Martinho Lutero.
1530 -Henrique VIII.
Inquisição do século XVII
. Galileu. Newton.
Século XVIII
, 1776 - Declaração de Independência Americana.
1789 -Revolução Francesa.
Século XIX
, 1804- Napoleão.
1882 -Darwin.
1847- Marx, Manifesto Comunista.
1858 -Freud.
1869- Concílio Vaticano I; infalibilidade do papa.
Século XX
, 1930 - Papa Pio XI: o sexo pode ser bom e santo.
1951 -Papa Pio XII: casado com pastor luterano e ordenado sacerdote católico na Alemanha.
1962 –Papa João XXIII: Concílio Vaticano II; vernáculo; casamento é igual à virgindade.
1966 –Papa Paulo VI: dispensas de celibato.
Década de 1970 -Ludmilla Javorova e várias outras mulheres checas ordenadas para servir as necessidades das mulheres presas pelos comunistas.
1978- Papa João Paulo II: congela as dispensas.
1983 –Novo Direito Canônico.
1980- Pastores anglicanos/episcopais casados ​​são ordenados sacerdotes católicos nos EUA; também no Canadá e na Inglaterra em 1994.
 

Papas que se casaram

São Pedro, Apóstolo
São Félix III 483-492 (2 filhos)
São Hormidas 514-523 (1 filho)
São Silverus (Antônia) 536-537
Adriano II 867-872 (1 filha)
Clemente IV 1265-1268 ( 2 filhas)
Félix V 1439-1449 (1 filho)
 

Papas que eram filhos de outros papas, outros clérigos

Nome do Papa	Papado	Filho de
São Damasco I	366-348	São Lourenço, sacerdote
Santo Inocêncio I	401-417	Anastácio I
Bonifácio	418-422	filho de um padre
São Félix	483-492	filho de um padre
Anastácio II	496-498	filho de um padre
Santo Agápito I	535-536	Gordioso, sacerdote
São Silvero	536-537	São Homidas, papa
Deusdedit	882-884	filho de um padre
Bonifácio VI	896-896	Adriano, bispo
João XI	931-935	Papa Sérgio III
João XV	989-996	Leão, sacerdote

 

Papas que tiveram filhos ilegítimos depois de 1139

Inocêncio VIII	1484-1492	várias crianças
Alexandre VI	1492-1503	várias crianças
Júlio	1503-1513	3 filhas
Paulo III	1534-1549	3 filhos, 1 filha
Pio IV	1559-1565	3 filhos
Gregório XIII	1572-1585	1 filho

 
Fontes históricas:
Dicionário Oxford dos Papas; HC Lea História do Celibato Sacerdotal na Igreja Cristã 1957; E. Schillebeeckx A Igreja com Rosto Humano 1985; J. McSorley Esboça a História da Igreja por Séculos, 1957; FAFoy (Ed.) 1990 Almanaque Católico 1989; DL Carmody The Double Cross - Ordenação, Aborto e Feminismo Católico 1986; PK Jewtt A Ordenação de Mulheres 1980; AF Ide God's Girls - Ordenação de Mulheres nas Primeiras Igrejas Cristãs e Gnósticas 1986; E. Schüssler Fiorenza em memória dela 1984; P. DeRosa Vigários de Cristo 1988.
 

Mitos e Fatos

Mito: Todos os padres fazem voto de celibato.
Fato: A maioria dos padres não faz votos. É uma promessa feita diante do bispo.
Mito: O celibato não é a razão da escassez de vocações.
Fato: Uma pesquisa de 1983 sobre igrejas protestantes mostra um excedente de clero; só a Igreja Católica tem escassez.
Mito: O celibato clerical tem sido a norma desde o Segundo Concílio de Latrão em 1139.
Facto: Os sacerdotes e até os papas continuaram a casar e a ter filhos durante várias centenas de anos após essa data. Na verdade, a Igreja Católica Oriental ainda tem padres casados.
     Na Igreja Latina, pode-se ser padre casado se:

• um é primeiro um pastor protestante; ou
  
  
• se alguém for católico ao longo da vida, mas promete nunca mais ter relações sexuais com a esposa.
  
  

Mito: A escassez de vocações se deve ao materialismo e à falta de fé.
Fato: Pesquisa (doação da Lilly em 1985): não há evidências que apoiem a perda de fé por menos vocações...o voluntariado juvenil e o ministério universitário estão aumentando.

Muito interessante. Estou avaliando esses dados.

Acredito que por volta do século XI, XII.

Essa mudança na realidade ocorreu com as pessoas que eram indicadas pelos duques, condes e outros aristocratas na época, o Papa Gregório VII, se não me engano, fez uma nova regra impedindo a nomeação de bispos pelos aristocratas o que era uma prática comum na época, e também exigiu o celibato oficialmente. Na minha opinião, o celibato foi apenas uma forma de afastar mais os leigos do poder de decisão da Igreja. Bom, se alguém tiver alguma discórdia sobre essa informação se manifeste.

Devemos distinguir o celibato do voto de castidade feitos pelos religiosos.

Clérigo é a pessoa que recebe as ordens sacras, sendo que o sacerdote e o bispo recebe a ordem para celebrar a eucaristia. Religioso não necessariamente é um clérigo, mas uma pessoa que decidiu se consagrar a Deus de uma maneira especial fazendo os votos de pobreza, castidade e obediência. Aos poucos, introduziu-se o costume de ordenar religiosos para os ministérios sagrados.

O clérigo não religioso, ou secular, não era obrigado a fazer promessa de celibato, e como não era religioso não fazia voto de castidade. No oriente a regra era e continua sendo a mesma: os clérigos seculares podem se casar, mas os religiosos fazem voto de castidade.

No Ocidente, a Reforma Gregoriana quis separar as esferas do poder religioso e laico, para fortalecer a disciplina e liberar a Igreja da influência do poder secular. Foi então que foi adotada a prática do celibato para os clérigos seculares. No entanto, já havia várias recomendações na Alta Idade média em relação ao celibato para os clérigos seculares, tanto é que dificilmente um bispo se casava.

Primeiro, a pergunta não foi sobre religioso, mas sobre padres.
Segundo, os bispos na IM não se casavam por motivos outros. É que para subir na hierarquia da Igreja Católica daquele tempo, o padre tinha que se conservar celibatário.
O que não impediu a grande maioria de ter filhos, deixar suas fortunas como herança para eles e desobedecerem ao que a IC tinha como preceito: celibato mesmo.

Existem padres religiosos e padres seculares, o Marco Polo citou o exemplo de Santo Agostinho e da Igreja Oriental, tive que esclarecer que santo Agostinho foi celibatário primeiramente por que resolveu viver uma vida religiosa e que os padres religiosos orientais também não se casam, só os seculares.

Depois, já existiam várias recomendações de concílios e sínodos locais na Alta Idade Média para que os clérigos em geral não se casassem.

O problema é interpretar o celibato como uma questão meramente econômica. Ao fazer isso se coloca-se de lado primeiramente o ideal cristão do celibato pelo reino, já explícito no evangelho de Mateus e nos Atos dos Apóstolos, além do fato que a Igreja queria se preservar da influência do poder secular, que através de alianças de casamento passavam a colocar questões de linhagem acima dos interesses da Igreja. Por isso é muito relevante que celibato tinha sido imposto numa época de luta da Igreja que pensa em propósitos universais contra a influência localista dos nobres.

A questão é: será que a Igreja só queria se afastar da influência do poder secular por questões econômicas? Será que o grande objetivo da Igreja no Ocidente era expandir suas posses? Devemos levar em conta outros fatores como a universalidade, a ideologia, a disciplina romana etc.

Bom, eu sou historiador, e venho me voltando mais para as questões do cristianismo, principalmente o primitivo, mas a história da Igreja em geral é muito interessante pra mim.

Quando eu iniciei a discussão, eu estava pensando no clero como um todo. Realmente o clero regular e as tradições monásticas são obviamente celibatárias desde os primórdios do cristianismo, e isso por motivos puramente ideológicos, nada a ver com relações de poder ou interesses políticos.

Pelo que eu notei, é verdade que concílios locais desde a antiguidade e na Alta IM reforçavam a tradição do celibato para o clero secular, e isso ao meu ver me parece puramente teológico, sem relação com a questão da investidura que se torna tão clara no pontificado de Gregório VII. Mas concílios como esse de Elvira, recebem hoje maior importância do que eles realmente tinham à época. Esse concílio de Elvira, por exemplo, é uma dos mais citados quando o assunto é celibato, e provavelmente é um dos menos relevantes quanto à sua eficiência. Principalmente por que ele estava totalmente voltado para o clero local, e não foi um concílio ecumênico como o seu contemporâneo de Nicéia.

Mas a imposição de Gregório VII, tendo em vista a personalidade desse pontífice, me parece também uma preocupação de livrar a igreja da Influência dos príncipes do Sacro Império e dos nobres da Europa. A ideia é preservar o cristianismo, preservar o comprometimento do clero com os ideais do cristianismo, e impedir que o clero se tornasse uma mera função figurativa onde nobres iriam influir livremente, causando dissenções entre feudos, patrocinando a guerra e a ruptura da unidade instável da Igreja da IM. Uma interpretação marxista aqui empobreceria muito a análise do problema.

Recentemente assisti ao filme "Em nome de Deus" e no mesmo um professor de filosofia tem um comportamento casto. Não ficou claro se esta era uma condição necessária aos professores da época (o filme se passa na Idade Média) ou se era apenas opção do professor mencionado.
Agradeço aos colegas se puderem me esclarecer esta dúvida.

Abelardo (o prof em questão) e Heloísa.
Abelardo foi o fundador da Universidade de Paris.
As correspondências dos dois pode ser encontrada por aí, se não me engano tem um livro da Martins Fontes só com elas, entre outras editoras.

Nem todos os nobres era iletrados, isso depende da época.
Sem dúvidas que o sexo não era banalizado como hoje em dia, tanto em razão do cristianismo e seu moral. Vale lembrar que o sexo é pecado, o pecado original.
A mentalidade medieval é muito interessante e não pode ser deixada de lado.
Tanto por isso, que o sexo é dito como uma tentação do diabo, e precisa ser reprimido.

Sobre os preceitos de castidade

Há muita representação negativa a esse respeito sobre sexualidade na Idade Média. A castidade era ensinada como meta a ser atingida. Quanto ao comportamento dos homens, C. Meiners observa "que nunca tantas damas nobres e tantas jovens foram raptadas e violentadas como nos séculos XIV e XV quando a cavalaria estava no auge. Quando, durante estes dois séculos, os guerreiros enfurecidos conquistavam as cidades, ou se apoderavam das cidadelas, era considerado como um direito de guerra o de poder violentar as mulheres e as jovens que eram, frequentemente, mortas em seguida". A devoção cavalheiresca da mulher toma força com os trovadores e com os Fiéis do Amor. Mas o imaginário feminino sempre esteve presente na Idade Média, onde até os homens, demostrados nos quadros dos grandes pintores, eram pintados de tal modo que sobressaiam os elementos puramente femininos. Será que era uma indignação ao papel insignificante da mulher? Pois é, a castidade era uma virtude muito bem trabalhada na igreja, no feudo, só não sei com que propósito.

Em verdade

Se estudarmos os escritos do sepher de Moisés (Osarsif) à luz da simbologia empregada pelo mesmo, poderemos inferir que o sexo não é o pecado original, mas as volições ligadas a prática do sexo, são em suma, o pecado original.

Sexo-pecadinho X pecadões

Apesar do mito de Adão muito bem descrito pelo colega acima, a bronca da Igreja com sexo existiu sim, mas foi fruto de influencias de outras religioes na formação do cristianismo , principalmente do platonismo e do zoroastrismo que praticamente igualavam Matéria=Mal.
Logo multiplicar a matéria e aprisionar almas em corpos eram pecado para eles.
Mas ainda assim nem mesmo estas religioes, e nem o judaismo original, não apontavam o sexo como Pecado Original dos humanos.
E mesmo para a corrente principal da Igreja ainda haveria um outro Pecado Original (o do Anjo Rebelde).
Historicamente este mito estaria ligado a crenças muito antigas dos cananeus quando um deus menor , Filho da Aurora e astronomicamente identificado com o planeta Venus, tentou ocupar o trono de El ( o deus maximo).
É importante lembrar que o celibato só se tornou " altamente aconselhavel" com o papa Gregorio Magno no seculo VI, e obrigatorio para sacerdotes catolicos no seculo XII!

A supremacia da condição feminina na Idade Média era concebida a partir de certos enfoques metafísicos. A mulher não era uma exposição erótica, carnal, sensual, ia mais além. Talvez nem existisse uma ética para regular os relacionamentos. As atrocidades eram normais, e o fator sexo, da posse física, momentânea, se fazia presente sem qualquer sentimentalismo. A Mulher era o poder em sua passividade e a causa de tanta brutalidade. Evola, em Metafísica do sexo assevera: "Embora esse quadro possa ser um pouco exagerado não se pode, contudo, contestar o desvio que existia no conjunto entre as relações reais predominantes na Idade Média entre os dois sexos, e o papel que a mulher desempenhou, ao contrário, em certos costumes cavalheirescos". Assim como os muçulmanos morrem pelas virgens, o cavaleiro medieval, para possuir sua Dama, necessitava de uma empresa perigosa: consagrar sua vida, por exemplo. Ou seja a mulher alimentava o desejo do guerreiro e o incitava ao combate e à morte.

Acho que não devemos nos esquecer que o amor cortês era um modelo, e sendo um modelo, não era algo fielmente seguido, pelo contrário. Um cavaleiro, em geral, interessava em estabelecer matrimônio com uma dama (de ascendência nobre, não nos esqueçamos) para poder ter pra si as terras que ele ganharia como dote. Na literatura medieval, temos exemplos de textos que deixam claro que apenas a nobre deveria ser cortejada (vejam os Carmina Burana). Resumindo, o modelo de amor cortês só servia como modelo base de relacionamento entre os nobres.

Ah, e esqueci de dizer. Claro que a Igreja teve influência nesse modelo. É possível notar inclusive características de Maria como precedentes para a dama ideal de se contrair matrimônio (resignação, pureza, etc.).

Catarismo

Acho que há uma relação boa entre os cátaros, que acreditavam numa Redentora, e a origem do trovadorismo no sul da França.Infelizmente estou sem tempo pra digitar.
Outra possivel conexão seria a ideia de amor em Platão?

Acredito que também tenha relação com a própria corte de Provença e o maior desenvolvimento linguístico que essa se encontrava, e dai surgir um modelo de amor cortês e a disseminação (pelos trovadores andarilhos).

O amor cortês e a elevação da condição feminina

"Amour courtois" surgiu na Idade Média européia, nas cortes francesas por volta do século XI. O amor cortês enaltecia a mulher, que geralmente (não necessariamente sendo regra) era mais velha e casada, e seu amante jovem e fiel. Sabe-se que antes mesmo desse tipo de tratamento para com a mulher ter sido difundido, ela não era tratada com nenhum carinho, pelo contrário. Por exemplo, Guillaume d'Ascon, católico, desconfiava que sua mulher tinha contatos ilegais com hereges cátaros. Então disse a ela:

"Grandíssima porca (...) tu e a tua cúmplice Rixende, a mulher de Pierre Amiel de Ascou, essa grandíssima leprosa e herética, deviam ambas ser queimadas (...) E não me importava muito em arrancar o fígado e os intestinos a uma porca velha como ela!"

Já um outro texto da época diz que "o homem pode aquecer os pés no seu sangue; desde que, voltando a cosê-la, ela sobreviva".

As mulheres então eram surradas, apanhavam e o mais comum era levarem socos no nariz. Dessa forma, não raro encontravam carinho nos braços de solícitos amantes. A meu ver, o amor cortês surgiu sob o signo da infidelidade (e infelicidade extrema) conjugal, levando a sociedade a uma mudança quanto aos relacionamentos.

Os livros do Georges Duby podem ajudar: "Eva e os padres", "Idade Média, Idade dos Homens", "Damas do século XII". Há ainda "Misoginia Medieval" do Howard Bloch. No campo da literatura há as contribuições da Maria do Amparo Maleval sobre a literatura trovadoresca portuguesa. As edições críticas das cantigas medievais portuguesas feitas por Carolina Michaelis e J. J. Nunes são de grande valia, pois as fontes são comentadas e, quando possível, são apresentadas pequenas biografias de seus compositores. Em todo caso, dependendo da faculdade, creio que os textos do Duby sejam mais acessíveis. Já os trabalhos da C. Michaelis e J. J. Nunes podem ser encontradas em sebo.

E qual seria a relação entre o amor cortês nos textos e na vida real?
Havia relaçao com heresia albigense?
Com Platao?
Com a reforma papal a exigir celibato?
Com a preservacao do patrimonio da familia senhorial?

Não há relação entre amor cortês e qualquer movimento herético. Esta manifestação cultural, mesmo como tendo o principal foco na Provença, não se relacionava com as atividades do albigenses. A cultura cortesã espalhou-se para o norte da França e também para a Península Ibérica. Trovadores franceses poderiam ser encontrados também na corte Plantegeneta. Pode ser considerada como a primeira manifestação cultural laica no medievo. Apesar de Chretien de Troyes ser um clérigo, seu público "consumia" a temática do amor cortês em suas novelas de cavalaria.