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Filosofia Medieval

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Refael Balinha
Ser ou Não Ser
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Mensagem por Ser ou Não Ser 12/11/2022, 04:54

Tópico destinado à reflexão acerca de Filosofia Medieval. Nosso objetivo é agregar todos os que pesquisam e se interessam pelo tema, visando, sobretudo, resgatar os pensadores, conceitos e escolas desse período, demonstrando como a modernidade e a contemporaneidade beberam dessa copiosa fonte.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 12/11/2022, 04:55

Filosofia medieval sem Deus!

Para vocês isso é possível?
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Mensagem por Ser ou Não Ser 12/11/2022, 04:56

Minha resposta:

Impossível!

A Filosofia Primeira (Teologia, para Aristóteles) é a ciência que se ocupa das realidades que estão acima das realidades físicas, e trata: 1) das causas e os princípios primeiros, 2) o ser enquanto ser, 3) a substância e 4) Deus (substância supra-sensível).

Essa tradição - a aristotélica - está em harmonia com a tradição filosófica anterior. Para Platão, Teologia é a ciência que estuda "Deus tal como ele realmente é" (República, 379a).

Os medievais APROFUNDARAM isso, cristianizando a "substância supra-sensível", e acrescentando várias coisas, mas NESSA tradição.

Essa é a Filosofia Primeira - primeira porque antecede todos os demais ramos da Filosofia, e dá razão e sentido a eles.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 12/11/2022, 04:58

Como disse anteriormente, a filosofia medieval "nada" mais fez do que aprofundar a Metafísica antiga.

De Platão a Aristóteles, o mundo medieval conheceu a filosofia grega e seus pressupostos apriorísticos, e os desenvolveu.

E nem é preciso recuar até Platão. Já o filósofo estóico Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.) afirmou:

“Sem a divindade, ninguém pode ser um homem de bem (...) Se penetrares num bosque cheio de velhas árvores, de altura fora do comum e tais que a densidade dos ramos entrelaçados uns nos outros oculta a vista do céu, a própria grandeza do arvoredo, a solidão do lugar, a visão magnífica dessa sombra tão densa e contínua no meio da planura, tudo te fará sentir a presença divina”.

Cartas a Lucílio, 41.
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Mensagem por Refael Balinha 12/11/2022, 13:15

Ainda estou intrigado com essa questão. Nos próximos meses eu vou trabalhar um texto de Santo Agostinho sobre a música. Mesmo havendo citações sobre o divino, sei que vou extrair reflexões voltadas à estética.
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Mensagem por Refael Balinha 12/11/2022, 13:16

Agostinho seria um dos exemplos mais claros da inseparabilidade entre filosofia e religião (Deus), entre razão e fé. Ele fala até do "amor intelectual" de Deus, que impulsa a alma para este, sua meta.
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Mensagem por Refael Balinha 12/11/2022, 13:17

É impossível separar teo-logia do divino (Grego) ou do Deus (Religião/Teologia/Medievo). No entanto, é preciso saber que o Medievo é um período muito longo com muitas perspectivas que não permitem uma simples conclusão do tipo: para os medievais filosofia é teologia! Não é isso, a Filosofia, por ser uma reflexão sobre a "causas primeiras", passa a ser "auxílio" para a compreensão das Verdades reveladas nas Escrituras. O método é filosófico, herdado da tradição, mas o fim, em alguns autores, é Deus. Digo em alguns autores porque, dentro mesmo do medievo, você terá vários pensadores que separam os campos da Filosofia natural e da teologia revelada. Quando falei sobre a estética, não quis dizer que não dá para afirmar que não há Deus, mas mostrar que existem outras questões importantes no medievo que não passam, necessariamente pela reflexão sobre Deus. Questões de linguagem, educação, lógica, ciência... mas realmente é difícil pensar o homem medieval sem a perspectiva de Deus.
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Mensagem por Refael Balinha 12/11/2022, 13:18

Digo isso, porque a filosofia medieval é mal interpretada por estudantes que acham que vão estudar teologia. Pois já ouvi isso de algumas pessoas, e acredito que seja esse o motivo pelo qual os estudantes não se interessem tanto por esse período, que ao meu ver, é riquíssimo.
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Mensagem por Refael Balinha 12/11/2022, 13:20

Na linha do que comentou o colega Hamlet acima, eu lembrei de Plotino (uma das maiores influências sobre Sto. Agostinho), para o qual a estética não se separa da ética nem do desejo pelo divino, pelo Uno:

"Deve-se subir de novo para o Bem, para aquilo que toda alma deseja. Se alguém viu isto, sabe o que eu digo, em que sentido ele é belo (...) mas somente o obterão aqueles que subirem até o alto e se converterem, e ao se despirem das vestimentas que receberam ao vir para baixo (...)".

(Enéada I.6.1.7)
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 15:10

Estética e Deus

A origem da "estética" é divina, na filosofia clássica. E desde Platão, pois o Belo é manifestação do Bem.

Há uma excelente obra sobre o tema:

"Introdução às Artes do Belo", de Etienne Gilson (É Realizações, 2010).

Abraço
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 15:18

Proposta para debates: Lógica Medieval

Logica formalislogica materialis. A quaestio e a disputatioArs inveniendi e ars demonstrandi. Os universais. Extensionalismo vs. intensionalismo. O estudo das categorias. Praedicabilia e praedicamenta. A definição e a divisão. Teorias semânticas. As diversas divisões dos termos. Teorias da suppositio. Intenções e imposições dos termos. Relações entre extensão e compreensão. As modalidades. As eduções e oposições proposicionais. Teorias da consequência. Estudo do silogismo categórico, modal e hipotético. A conversão de figuras. Falácias in dictione e extra dictionem. A analogia. A indução. InsolubiliaObligatio. Os futuros contingentes. A gramática especulativa. Ad infinitum.




A todos os interessados no estudo da Lógica medieval, seu desenvolvimento histórico e sua relevância filosófica.
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Mensagem por Refael Balinha 13/11/2022, 16:19

Muito bom, e fico contente que tem alguém destoando de um "consenso" completamente arbitrário e danoso que impera em certos meios...

Em certos cursos de história da filosofia usar termos (e sobretudo querer discutir dentro do universo intelectual que eles implicam) como "teologia", "metafísica" e análogos parece que virou uma espécie de sacrilégio, quando não já se suspeita de algum desarranjo mental da parte de quem insiste no uso de tais palavras - sei disso por experiência-, quando se trata simplesmente de compreender e interpretar os antigos (e medievais) em seu sentido integral.

Parece isto: se quer projetar no passado uma divisão que é apenas moderna - entre filosofia e religião/teologia-, ou uma hostilidade antimetafísica que é apenas contemporânea - ou seja, "pós-moderna"-, fazendo-se uma caricatura/leitura esquizóide desse passado.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 16:50

Boa tarde.

Hoje mesmo presenciei aqui em casa o que você acabou de descrever: um aluno, ao saber que meu projeto de pesquisa do ano que vem terá como tema a alma (em Avicena e Ramon Llull), brincou que isso era um tema mais propício às fadas...
Disse-lhe que era um tema clássico da Metafísica. Perguntei se ele havia lido "A República", ou o "Timeu" ou qualquer outra obra de Platão (que se preocupa muito com o destino das almas após a morte, e a necessidade de se levar uma vida correta, justa e ética). Ele respondeu que não, não leu.
Para piorar, muitos colegas mascaram a Filosofia Antiga e eliminam toda e qualquer transcendência, para agradar os alunos, e jogam a "culpa" desses temas na Filosofia Medieval (claro, a Igreja Católica é culpada a priori). Assim, de fato, inventam o passado a seu bel-prazer. Isso é típico de professores heiddegerianos, nietzschianos, etc., etc., etc.
Estou lendo a "Filosofia da Arte" de Schelling, obra escrita no início do século XIX. Ele começa a obra com... Deus!
Em resumo: os alunos se formam hoje com pouquíssima leitura, e falam o que dá na telha. Serão os futuros professores. Isso já acontece há alguns anos.
Por fim, a palavra "teologia" está em "A República", e a primeira lei da cidade-ideal de Platão é o respeito ao theós, pois ele só é capaz de fazer o Bem...

Abraço
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Mensagem por Refael Balinha 13/11/2022, 17:08

Sei como é triste.

Uma vez, numa aula universitária que assisti, um professor de filosofia antiga começou dizendo que a filosofia era algo da razão, questionável e falível, e a religião era algo da fé, dogmática, e assim havia uma tensão grande entre elas.

Com toda singeleza, apenas comentei que esta divisão tinha sentido em alguns casos, mas não valeria tal e qual para autores como Plotino e Agostinho (e outros). Ora, o primeiro tinha Deus (ou o Uno) como meta de sua filosofia, alcançável através não dá fé, nem da religião popular do vulgo, mas da contemplação espiritual e da união mística, e que ele claramente dava à faculdade intuitiva (noesís) um status superior à razão, meramente discursiva e analítica... E no caso de Agostinho, era evidente o projeto neste de harmonizar razão e fé, filosofia e teologia...

O professor respondeu - para minha surpresa - de modo irônico, talvez irritado porque estava contestando o que ele dizia com tanta firmeza, afirmando que o Uno em Plotino era uma 'hipótese' (sic) [imagino que ele quis dizer 'hipóstase'...], e não um dogma [o que cá entre nós, é óbvio ululante, e em nada implica uma cisão entre filosofia e religião em Plotino], e além disso, que Agostinho era claramente um beato, convertido à fé cristã.

Houve até alunos que chegaram a rir de mim, apesar de eu não ter entendido qual era a piada, e sinceramente, duvido que alguém ali tenha lido uma linha de Plotino, ou sequer conhecesse quem foi este filósofo (o que não seria de estranhar, pois nesta universidade se estuda mais autores modernos, e de todo modo, Plotino não é um autor muito conhecido nem estudado no Brasil, sequer se dispondo de uma tradução integral das 'Enéadas' nestas plagas).

Nessa altura achei melhor ficar calado, não por receio de desagradar estas pessoas, mas porquanto talvez o professor poderia tomar isto como insolência da minha parte, e minha insistência em refutar sua interpretação (bizarra) como uma espécie de arrogância, querendo "saber 'mais' que o mestre".
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Mensagem por Refael Balinha 13/11/2022, 17:12

Bom, cito o próprio Plotino, cônscio que não cometo nenhum abuso hermenêutico ante suas palavras:

“Muitas vezes, despertando-me do corpo voltando-me para mim mesmo, saindo das coisas externas e entrando em mim mesmo, vejo uma beleza extraordinariamente maravilhosa. Convencido então mais que nunca de que pertenço à parte superior dos seres, atualizo a forma de vida mais exímia e, unimesmado com a divindade e nela estabelecido, exercito aquela forma de atividade e me situo acima de todo o resto do inteligível. Mas quando, após essa estância na região divina, descendo da inteligência ao raciocínio, me pergunto perplexo como é possível esta minha descida de agora e como é possível que minha alma tenha chegado a estar dentro de um corpo, apesar de ser tal como se me manifestou em si mesma, ainda que esteja num corpo” (IV.8[6]1).


“É preciso, então, ascender novamente ao bem, ao qual toda alma almeja. Se alguém o viu, sabe o que digo, como ele é belo. Ele é desejável por ser bom e o desejo tende a ele, mas a obtenção do bem é para aqueles que se alçam ao superior, que estão convertidos e que se despem do que vestimos ao decair - assim como para aqueles que se alteiam aos ritos sagrados dos templos há purificações, despojamentos das vestes de antes e o avançarem nus -, até que, ultrapassado na ascensão tudo quanto tudo quanto é alheio a deus, um o veja, solitário ao solitário imaculado, simples, puro, de quem todas as coisas dependem e para quem olham, por quem existem e vivem e inteligem: pois ele é causa da vida, do intelecto e do ser” (I.6[1]7).



“...aquele que vê já não vê nem julga nem imagina duas coisas, mas, como que se tendo tornado outro e não sendo ele mesmo nem de si mesmo, pertence àquele lugar e, tendo-se tornado daquele, é uno como se tivesse feito seu centro coincidir com o centro dele [do Uno]” (VI.9[9]10).
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 19:36

A vaca foi para o brejo...

Caríssimo,

Pois é, Plotino é MUITO elevado.

Ainda há esse problema: a distância entre aquelas filosofias (Platão, Plotino, etc.) e os espíritos atuais.

Hoje, ao ler uma passagem da Metafísica de Aristóteles, fiquei meditativo, pensando o quão elevada era essa ideia: devemos agradecer a todos os que pensaram antes de nós, mesmo os que erraram, mesmo os que não concordamos, pois eles nos fizeram pensar, e hoje estamos onde estamos graças a eles (Metafísica, Livro 2, 1).

O conhecimento para os antigos deveria ser cumulativo. Hoje, ficamos felizes em sempre negar o antecessor, sempre sermos "revolucionários".

Como chegamos a esse ponto tão baixo de afirmar coisas de um autor sem tê-lo lido? Como nos tornamos tão pretensiosos?

Estou me preparando espiritualmente para o primeiro semestre de 2023.

Abraço
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Mensagem por Refael Balinha 13/11/2022, 19:56

A coisa tá feia mesmo, meu caro!

É engraçado, pois vejo por aí muitos "críticos" da metafísica, que porém me dão
a impressão de não entenderem do assunto realmente, se é que chegaram a estudá-lo - quando muito, estudam um único autor, e se escondem na especialização, e quando o assunto extrapola seu digamos feudo intelectual, dizem, 'não vou discutir, não é minha área'. Sabemos que ninguém aprende o mínimo sobre metafísica sem alguns bons anos de estudo, dedicação e esforço intelectual, e que pressupõe de saída uma formação cultural sólida e universalista para se começar a pensar no assunto... A julgar pelo nível das teses e escritos da nossa classe universitária, afora juízos apressados que emitem, com mais base no preconceito que na realidade, é de se desconfiar de sua capacidade sim.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:42

Boa noite.

Refael, há muita ignorância sobre esse assunto. Poucos são os que leem bons livros, pouquíssimos as fontes primárias (em edições confiáveis).

Geralmente, o que eu percebo é que as pessoas hoje formam sua opinião com pouca base. Nós, brasileiros, lemos pouco, cada vez menos. A verdade é que a minha geração fracassou em cultivar e difundir o apreço pela leitura.

Assim, perpetuamos estereótipos em relação ao passado.

Em relação à filosofia medieval, há o agravante do anti-catolicismo do século XX, que cria um verdadeiro bloqueio compreensivo.

Ademais, como não têm uma boa base de filosofia clássica, pensam que muitos temas metafísicos da filosofia antiga foram "inventados" pelos filósofos medievais. Basta ler a "Metafísica" de Aristóteles, a "República" de Platão, as "Cartas a Lucílio" de Sêneca, e o "Sonho de Cipião" de Cícero, para ver que a importância da transcendência para a filosofia medieval.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:44

Proposta para pesquisa:

A transcendência na Filosofia Medieval em três tempos: os atributos divinos no Dionísio Pseudo-Areopagita (séc. V), em Bernardo de Claraval (1090-1153) e em Ramon Llull (1232-1316) e suas raízes clássicas.

***

O presente trabalho pretende investigar o tema filosófico das dignidades divinas tratadas nas obras Dos Nomes Divinos (séc. V), do Dionísio Pseudo-Areopagita, Da consideração (1149-1152) de Bernardo de Claraval (1090-1153), e no Livro da contemplação (c. 1275), do filósofo catalão Ramon Llull (1232-1316), bem como suas raízes na tradição filosófica clássica, particularmente Aristóteles e Sêneca.

***

Subprojetos:
1. Deus na Metafísica de Aristóteles – Onildo de Souza Moraes
2. “A divindade está perto de ti, está contigo, está dentro de ti”: as dignidades divinas nas Cartas a Lucílio de Sêneca (4 a.C. - 65 d.C.) – Dionne Miranda Azevedo
3. Os nomes divinos na filosofia do Pseudo-Dionísio, o Areopagita (séc. V) – Raphael Leite Teixeira
4. Ecos da filosofia estóica de Sêneca no tratado Da Consideração (1149-1152) de Bernardo de Claraval – Braulino Antônio dos Reis Neto
5. O Ócio no tratado De Consideratione (1149-1152) de Bernardo de Claraval (1090-1153) – Ana Gláucia Oliveira Motta
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:45

Também estudo a doutrina dos "transcendentia" da filosofia de João Duns Scotus, mais precisamente nas "passiones disiunctae". Centro-me nos seguintes textos: Ord. I, d. 2 e d. 8 e no "Tractatus de primo principio". Analiso a possibilidade de inconsistência da prova apresentada no "de primo" se comparada com a teoria da Ordinatio.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:47

Os Copistas e a preservação dos textos antigos:

Graças ao trabalho artesanal dos copistas, quase 8 mil manuscritos foram preservados, entre eles, obras clássicas de Cícero, Virgílio e Tácito...

Que importância teve os copistas para a disseminação da cultura, do conhecimento e das obras de Platão, Aristóteles... enfim, das obras dos antigos...?

Comentem.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:48

Salvaram a civilização.

Os copistas medievais foram fundamentais para a preservação do manancial clássico. Para você ter uma ideia, as fontes mais antigas de boa parte dos textos clássicos são do século IX (do chamado "Renascimento Carolíngio").
Isso está muito bem exposto na obra do filósofo alemão Kurt Flash, "El pensament Filosòfic a l'Edat Mitjana - d'Agustí a Maquiavel", Obrador Edèndum.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:50

Os 4 graus de amor em São Bernardo:

Pessoal, São Bernardo (1091–1153), classificava os graus de santidade segundo os graus de amor.

São Bernardo classificava as etapas da vida espiritual de acordo com o grau de amor atingido pelo homem, e distinguia 4 graus de amor:

* 1º o amor carnal – o homem começa amando a si mesmo por si mesmo; pois sendo ele carne, está fora de condição de degustar o que quer que seja fora de si mesmo.

* 2º o amor a Deus por interesse – o homem percebe que não pode subsistir por si só, ele começa a procurar a Deus na fé e a amá-lo. É o segundo grau: ama-se a Deus não por Ele mesmo, mas por causa de si.

* 3º ama-se a Deus por Ele mesmo – à medida que se começa a conviver com Deus, a familiarizar-se com Ele, pensando nele, lendo e pedindo-lhe e servindo-o, aos poucos a gente o descobre nessa familiaridade e começa-se a apreciá-lo. Quando se aprendeu, assim, a degustar como Deus é suave, passa-se ao terceiro grau, que consiste em amar a Deus por si mesmo, não mais por causa de si.

* 4º ama-se tudo e todas as coisas unicamente por causa de Deus – a perfeição do quarto grau, consiste em que não se ame mais a si mesmo de forma alguma, senão em Deus. Esquecido-se, ele de si próprio, de uma maneira admirável, volta-se todo inteiro para Deus e, aderindo a Ele, não forma senão um só espírito com Ele.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:51

MORAL TOMISTA

Santo Tomás de Aquino revelou vasto poder de síntese no que se referia à filosofia moral. Elaborou as exposições de Aristóteles (Ética a Nicômaco), de Agostinho, dos patrísticos, e de Alberto Magno. Por efeito desta elaboração, foi Tomás o primeiro escolástico a criar uma ética em termos rigorosamente aristotélicos.

Tomás tratou sistematicamente da ética: nos Comentários dos Livros das Sentenças, de Pedro Lombardo; no Contra Gentios, nas Questões Disputadas, nos Comentários dos Livros da Ética a Nicômaco e, especialmente, na Suma Teológica. Para o Aquinate a ética é ciência moral, ou seja, ciência dos costumes e é conhecimento especulativo-prático: é especulativo, na medida em que nasce da ordem que a própria razão procura estabelecer, a partir dos seus princípios, nos atos da vontade; e é prático, na medida em que é ciência dos costumes e dos atos humanos, que são sempre circunstanciais, singulares e práticos

Na moral, Tomás se distingue de Agostinho, pois a moral tomista é essencialmente intelectualista, ao passo que a moral agostiniana é voluntarista, quer dizer, para Tomás a vontade tem como fim o conhecimento, e é o conhecimento que determina e dirige a vontade. A ordem moral, pois, não depende da vontade arbitrária de Deus, e sim da necessidade racional da divina essência, isto é, a ordem moral é imanente, essencial, inseparável da natureza humana, que é uma imagem da essência divina. Assim, agir moralmente significa agir racionalmente, em harmonia com a natureza racional do homem. O caráter geral da moral tomista é realista. Fundamenta-se na análise do ser.

É uma moral ontológica, não depende do livre querer de Deus em estabelecer o que é certo ou errado, mas depende da natureza de Deus e do próprio homem. A obrigação moral ganhou em Tomás um fundamento essencialmente ontológico e não resulta da decisão da vontade legisladora de Deus como poderia ter parecido aos agostinianos. Assim, a lei não depende de um poder meramente coercitivo. A Lei nasce do ser e da razão, não primeiramente da vontade.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:51

Ações humanas

Segundo Tomas a ética consiste num agir de acordo com a natureza racional. Todo homem é dotado de livre-arbítrio orientado pela consciência e tem uma capacidade inata de captar, intuitivamente, os ditames da ordem moral. O primeiro postulado da ordem moral é: faz o bem e evita o mal.

Em princípio toda a ação, também a de Deus criador e a do homem, quando se exerce, visa um fim. A ação implica em um sujeito em busca de um fim, como objeto. Neste caso tem-se a potência que busca o seu ato. Tem pois o ato, como se disse, a posição de fim, ou objeto. As potências humanas têm como fim o bem e a própria perfeição. Tomás diz que a vontade tende para o bem ou o que parece ser o bem. Também se pode buscar o fim pura e simplesmente sem implicar em nova perfeição do sujeito.

Concentra-se Tomás de Aquino em determinar o objeto específico da vontade. Pergunta, destinando um artigo para discutir cada quesito:

"se a beatitude consiste nas riquezas";
"se nas honras";
"se na fama ou na glória";
"se no poder";
"se em algum bem do corpo";
"se no prazer";
"se nalgum bem da alma";
"se em algum bem criado".

De negativa em negativa, mostrou que tais bens são relativos e que a vontade humana só alcança plenitude em um objeto ilimitado, Deus. Da mesma forma, a verdade universal buscada pela inteligência, só a encontra em Deus.

"A beatitude ... é o bem perfeito, que repousa totalmente o apetite; ao contrário, se algo ainda restasse a apetecer, não seria o fim último. Ora, o objeto da vontade, que é o apetite humano, é o bem universal, como o do intelecto é a verdade universal. Donde resulta claro, que nada pode satisfazer a vontade do homem senão o bem universal. Ora, disto não é capaz nenhum bem criado, mas só Deus, porque toda a criatura tem a bondade participada. Por onde só Deus pode satisfazer a vontade do homem, conforme o Salmo: o que enche de bens o teu desejo. Logo, só em Deus consiste a beatitude do homem" (S. theol. I, q.2, a.8, c.).
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