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Filosofia Medieval

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Refael Balinha
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:52

A assertiva, de que o homem aspira a verdade universal e o bem universal, equivale a dizer, que todo o homem aspira, em última instância, ser Deus. Mas o consegue com um pouco menos, qual seja, possuindo a Deus, conhecendo-o pela inteligência e usufruindo-o pela vontade, e que são faculdades limitadas.

Ato e Potência

Funda-se a ética tomista no ser e sua divisão em ato e potência. Ela aponta o ato como o fim da potência. Potência é a capacidade de realização e atualização dos seres. Ato é a plenitude e perfeição do ser. Todos os seres se movem da Potência para o Ato. Fica evidente, pois, que a vontade humana, tem como fim primeiramente sua própria perfeição, que consegue por atualização da potência. Este fim é Deus, no qual está a realização e a beatitude do homem. Deus é o Ato Puro, sem Potência. O homem é o ser de Potência, se encaminhando para o Ato Puro, Deus. O caráter necessitante imposto pela ontologia das relações de ato e potência, impõe determinado tipo de ato a potência. Por isso é que o fim último se apresenta à vontade humana como uma obrigação nascida de sua própria constituição ontológica de ser. O Fim Último atrai todos os seres.

Há, também, aqueles atos intermediários de tal modo relacionados com o último, que sua omissão implicaria na renuncia ao último. Por isso também se envolvem na obrigação.

Deus é o fim último do homem. O ato, ou os atos, enquanto concordes com o fim último, assumem a qualidade de bons, ou seja, são moralmente bons; se se afastam do fim último, são maus. Portanto, o bom e o mau se dizem em função ao fim último como norma. O fim último enquanto norma, é o critério de moralidade.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:53

A Lei e a Vontade

A vida moral consiste na submissão da vontade a Lei. Entretanto, se a vontade não determina a ordem moral, é a vontade que executa livremente esta ordem moral. Tomás afirma e demonstra a liberdade da vontade, recorrendo a um argumento metafísico fundamental. A vontade tende necessariamente para o bem em geral. Se o intelecto tivesse a intuição do bem absoluto, isto é, de Deus, a vontade seria determinada por este bem infinito, conhecido intuitivamente pelo intelecto. Ao invés, no mundo a vontade está em relação imediata apenas com seres e bens finitos que, portanto, não podem determinar a sua infinita capacidade de bem; logo, é livre.

É preciso acrescentar que, para a integridade do ato moral, são necessários dois elementos: o elemento objetivo, a Lei, que se atinge mediante a razão; e o elemento subjetivo, a intenção, que depende da vontade. A Lei é o caminho e a regra para se atingir o Fim Último.

O ato humano que é sempre individual nunca é indiferente moralmente. A indiferença moral resulta da carência de conformidade ou da inadequação com relação à regra moral. O ato humano moralmente mau é denominado pecado. O pecado consiste na privação de conformidade e adequação com a regra moral e na aversão e ofensa ao fim último que é Deus.

A lei é um princípio racional que estabelece ordenação dos atos humanos para o bem comum, para o bem da comunidade e pela comunidade é promulgada. Sendo uma ordenação da razão, é a própria razão a reguladora dos atos humanos, em função do bem último a que se ordenam tais atos. Quis Deus por sua providência dar-nos a conhecer, em nossa mente, por participação, a sua Lei Eterna. Esta é a lei natural inscrita na mente humana e que é a participação da lei eterna de Deus.

"O primeiro preceito da lei é: deve-se fazer o bem e evitar o mal. Este é o fundamento de todos os outros preceitos da lei natural" (S. theol. I-II, q. 94, a.2).

Há uma Lei Divina revelada por Deus aos homens e que consiste nos Dez Mandamentos.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:54

Há uma Lei Eterna que é o plano racional de Deus que ordena todo o universo e uma Lei Natural que é conceituada como a participação da Lei Eterna na criatura racional ou seja aquilo que o homem é levado a fazer pela sua natureza racional. Considerando que a realidade ontológica se fundamenta, em última instância, em Deus, resulta que toda a lei moral, de base ontológica, se diz Lei Eterna. Como se realiza nas coisas criadas, é Lei Natural, quer física, quer moral.

A Lei Positiva é a lei feita pelo homem de modo a possibilitar uma vida em sociedade. Esta se subordina à Lei Natural, não pode contrariá-la sob pena de se tornar em lei injusta; não há a obrigação de obedecer a lei injusta.

A Justiça consiste na disposição constante da vontade em dar a cada um o que é seu; e se classifica em Comutativa, Distributiva e Legal, conforme se faça entre iguais, do soberano para os súditos e destes para com aquele, respectivamente.

As Virtudes

As virtudes morais: um ato humano bom isolado não constitui hábito bom e nem um ato humano mau isolado constitui hábito mau. Mas a constância e a repetição de um ato humano bom dispõem o hábito bom e a repetição de um ato humano mau dispõe o hábito mau. Decorrente de um hábito bom a ação boa constitui-se como força e perfeição da natureza; e de um hábito mau, a ação má constitui uma deficiência ou privação de perfeição da natureza. Por isso, denomina-se virtude o hábito operativo bom e vício o hábito operativo mau.

São propriedades das virtudes: (1) ser o justo meio termo entre o excesso e a deficiência; (2) tornar a ação fácil e deleitável; (3) relacionar-se com outras virtudes e com o fim último e (4) não se verter em mal. As virtudes morais são adquiridas pela repetição dos atos. Regra que também vale e se aplica aos vícios. Neste sentido temos: o ato repetido gera o hábito e o hábito, segundo o bem ou o mal, gera ou a virtude ou o vício.

As virtudes morais se dividem em quatro virtudes, ditas cardeais, visto que sobre elas se fundam outras virtudes:
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:54

São elas: a prudência, que é virtude racional por essência e se dispõe a aperfeiçoar a razão; a justiça, que é racional por participação e dispõe ordenar a vontade; a fortaleza, que modera o apetite sensitivo irascível; e a temperança, que modera o apetite sensitivo concupiscível.

A Sociedade

Analisando a natureza humana, resulta que o homem é um animal social (político) e portanto forçado a viver em sociedade com os outros homens. A primeira forma da sociedade humana é a família, de que depende a conservação do gênero humano; a segunda forma é o estado, de que depende o bem comum dos indivíduos. Sendo que apenas o indivíduo tem realidade substancial e transcendente, se compreende como o indivíduo não é um meio para o estado, mas o estado um meio para o indivíduo. Segundo Tomás, o estado não tem apenas função negativa (repressiva) e material (econômica), mas também positiva (organizadora) e espiritual (moral). Embora o estado seja completo em seu gênero, fica, porém, subordinado, em tudo quanto diz respeito à religião e à moral, à Igreja, que tem como escopo o bem eterno das almas, ao passo que o estado tem apenas como escopo o bem temporal dos indivíduos.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:56

MORAL AGOSTINIANA

Nota característica da sua moral é o voluntarismo, a saber, a primazia da vontade, do prático, da ação, do amor - própria do pensamento latino -, contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento - próprio do pensamento grego. A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. A virtude não é uma ordem de razão, não é um hábito conforme à razão, como dizia Aristóteles, mas uma ordem do amor. A felicidade está mais em amar do que em conhecer.

A vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. A vontade é má quando escolhe um bem inferior de preferência ao Bem Supremo. A vontade, no entanto, não é a causa eficiente do pecado, mas causa deficiente, porquanto o mal não tem realidade metafísica. A vontade escolhe erroneamente pois é livre e pelo pecado original encontra-se enfraquecida. O pecado é o mau uso da liberdade. O pecado é o uso errado da capacidade humana de escolher entre diversos bens. O mal e o bem só existem, porque existe a liberdade, isto é a capacidade de escolha. A natureza é decaída, isto é, é má por causa do pecado original, mas ao mesmo tempo é boa, enquanto natureza criada por Deus. A natureza é um bem no qual o mal existe.

Deus, sendo imutável e a plenitude do ser, é o Bem absoluto. Ele criou todas as coisas boas, e o mal é uma corrupção ou degeneração da criação. O mal vem das criaturas e não de Deus. Para Agostinho o mal é ausência de algum bem, e não possui substância, mas está inserido nas substâncias como falta de ser ou bem. O mal é carência e privação de um bem e não foi criado por Deus, que criou boas todas as coisas. Mesmo a matéria e o corpo são bons em si mesmos, pois foram criados por Deus.

O pecado, pois, tem em si mesmo imanente a pena da sua desordem, porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, determinando a dilaceração da sua natureza. A fórmula agostiniana em torno da liberdade é:
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 22:56

- antes do pecado original: poder não pecar;
- depois do pecado original é: não poder não pecar;
- nos bem-aventurados será: não poder pecar.

Para Agostinho o homem só é verdadeiramente livre quando encontra-se de tal forma confirmado pela graça, que não pode mais pecar. Este estado só será pleno na vida eterna.

A vontade humana é impotente sem a graça. O problema da graça - que tanto preocupa Agostinho - tem, além de um interesse teológico, também um interesse filosófico, porquanto se trata de conciliar a causalidade absoluta de Deus com o livre arbítrio do homem. Como é sabido, Agostinho, para salvar a importância da graça, tende a descurar o livre arbítrio (liberdade).

Quanto à família, Agostinho, como Paulo apóstolo, considera o celibato superior ao matrimônio; se o mundo terminasse por causa do celibato, ele alegrar-se-ia, como da passagem do tempo para a eternidade. Agostinho tem uma visão bastante pessimista quanto a sexualidade, considerando as relações sexuais como um mal necessário, e que dirige-se somente a procriação. Agostinho inclusive recomenda aos casais que fujam do prazer sexual e procurem evitá-lo. Esse é o ponto mais frágil da moral agostiniana.

Quanto à política, ele tem uma concepção negativa da função estatal; se não houvesse pecado e os homens fossem todos justos, o Estado seria inútil. Consoante Agostinho, a propriedade seria de direito positivo, e não natural. Nem a escravidão é de direito natural, mas conseqüência do pecado original, que perturbou a natureza humana, individual e social. Ela não pode ser superada naturalmente, racionalmente, porquanto a natureza humana já é corrompida; pode ser superada sobrenaturalmente, asceticamente, mediante a conformação cristã de quem é escravo e a caridade de quem é amo.
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Mensagem por Galego 13/11/2022, 23:15

Prezado, São Tomás trata da virtude da veracidade, e das suas negações (mentira, simulação, hipocrisia, jactância e ironia), nas questões 109 a 113 da Segunda parte da Segunda parte da Suma.
A veracidade é incluída entre as virtudes sociais, que dizem respeito ao relacionamento dos homens entre si.
Na 2a.2ae. questão 109, ele trata da virtude da veracidade. Na questão 110, trata da mentira propriamente dita. Na 111, da simulação e da hipocrisia, na 112 da jactância e na 113 da ironia.
Na edição bilingue da Suma, latim-castelhano, da BAC, isso está no volume IX. Creio que será fácil encontrar isso já em português, na tradução do Prof. Alexandre Correia.
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Mensagem por Galego 13/11/2022, 23:15

Ocultar a verdade

«Uma coisa é calar a verdade, outra é dizer uma mentira. Em certos casos, calar a verdade é permitido. Não se é obrigado a dizer toda a verdade, mas apenas aquela que o juiz pode e deve exigir segundo a ordem da justiça (...). Por outro lado, nunca é legítimo fazer uma declaração falsa»

Suma Teológica II-II 69,2
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Mensagem por Galego 13/11/2022, 23:16

Mentira

Será que toda a mentira é pecado?

«No que toca ao terceiro ponto, parece que nem toda a mentira é pecado:

«Objecções 1. Porque é evidente que os evangelistas não pecaram ao escrever os Evangelhos. Mas parece que eles disseram algumas coisas falsas, pois os seus relatos das palavras de Cristo e de outros, frequentemente diferem uns dos outros, pelo que evidentemente um deles deve ter dado um descrição falsa. Portanto nem toda mentira é um pecado.

«2. Além disso, ninguém é recompensado por Deus pelo pecado. Mas as parteiras do Egipto foram beneficiadas por Deus por uma mentira, pois está escrito: “Deus erigiu as suas casas” (Ex 1, 21). Por isso uma mentira não é pecado.

«3. Além disso, os actos dos santos são relatados na Escritura para serem modelos da vida humana. Mas lemos que vários homens muito santos mentiram. Assim é-nos dito (Gn 12 e 20) que Abraão disse que a sua mulher era sua irmã. Jacob também mentiu quando disse que era Esaú, e ainda recebeu uma benção (Gn 27, 27-29). Judite é louvada (Jd 15, 10-11), apesar de ter mentido a Holofernes. Por isso, nem toda a mentira é pecado.

Suma Teológica II-II 110, 3
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Mensagem por Galego 13/11/2022, 23:16

Mentira (continuação)

«4. Além disso, uma pessoa deve escolher o mal menor para evitar o maior. Por isso um médico corta um membro para que o corpo todo não pereça. Mas vem menos mal de se levantar uma opinião falsa na mente de uma pessoa do que de alguém matar ou ser morto. Por isso, uma pessoa pode legitimamente mentir para impedir outro de cometer assassínio, ou para salvá-lo de ser morto.

«5. Além disso, é uma mentira deixar de cumprir o que se prometeu. Mas não se é obrigado a cumprir tudo o que se prometeu, pois S. Isidoro diz (Synonym. ii) “quebra a tua promessa quanto prometeste o mal”. Por isso nem toda a mentira é um mal.
«6. Além disso, uma mentira é pecado porque por ela enganamos o próximo. Por isso diz S. Agostinho (Lib. De Mend. xxi): “Quem pensa que há qualquer tipo de mentira que não é pecado engana-se vergonhosamente, pois pensa ser um homem honesto quando engana os outros”. Mas nem toda a mentira é causa de engano, pois ninguém é enganado por uma mentira brincalhona. Estas mentiras são ditas, não com o propósito de serem acreditadas, mas apenas com a finalidade de dar prazer. Por isso também encontramos expressões hiperbólicas na Escritura. Por isso nem toda a mentira é pecado.»

«Sed contra. Mas, pelo contrário, está escrito (Eclo (Sir) 7, 14) “Não digas qualquer tipo de mentira”
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Mensagem por Galego 13/11/2022, 23:17

Mentira (continuação _3)

«Respondo: Uma acção que é naturalmente má em género não pode, de maneira nenhuma, ser boa e legítima, pois para uma acção ser boa é preciso que todos os elementos que para ela concorrem sejam bons. Pois o bem resulta de uma causa íntegra, enquanto o mal resulta de um qualquer defeito, como diz S. Dionísio (Div. Nom. iv). Ora uma mentira é má no que respeita ao seu género. Ela é uma acção que recai sobre uma matéria indevida. Pois como as palavras são os sinais dos actos intelectuais, é anti-natural e indevido que alguém signifique por palavras algo que não está na sua mente. Por isso diz o Filósofo (Ethic. iv, 7) que “mentir é em si mesmo um mal que deve ser rejeitado, enquanto a veracidade é boa e digna de louvor”. Por isso toda a mentira é um pecado, como também S. Agostinho declara (Contra Mend. i).

«SOLUÇÕES: À primeira objecção digo que, é ilegítimo dizer que qualquer asserção falsa está contida quer no Evangelho, quer em qualquer Escritura canónica, ou que os seus autores disseram falsidades, porque assim a fé seria privada da sua certeza, que é baseada na autoridade da Sagrada Escritura. Que as palavras de várias pessoas sejam relatadas de formas diferentes no Evangelho e noutros livros sagrados não constitui uma mentira. Por isso diz S. Agostinho (De Consens. Evang. ii) “quem tem inteligência para entender que, para compreender a verdade é necessário chegar ao seu sentido, concluirá que não deve ser perturbado, quaisquer que sejam as palavras pelas quais esse sentido é expresso”. Por isso é evidente, como ele acrescenta, (De Consens. Evang. ii) “não devemos pensar que alguém está mentir se várias pessoas não descrevem da mesma forma e com as mesmas palavras aquilo que eles se lembram de ter visto ou ouvido”.
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Mensagem por Galego 13/11/2022, 23:18

Mentira (continuação_4)

«À segunda objecção digo que, as parteiras foram recompensadas, não por terem mentido, mas pelo seu temor de Deus, e pela sua boa vontade, que depois as levou a dizer uma mentira. Por isso é dito expressamente (Ex 2, 21) “e porque as parteiras temeram a Deus, Deus erigiu as suas casas”. Mas a mentira subsequente não é meritória.

«À terceira objecção digo que na Sagrada Escritura, como S. Agostinho observa (Lib. De Mend. v), os actos de certas pessoas são relatados como exemplos de perfeita virtude, e não devemos acreditar que essas pessoas fossem mentirosos. Se, no entanto, algumas das suas afirmações parecem ser falsas, devemos entender essas afirmações como figurativas e proféticas. Por isso S. Agostinho diz (Lib. De Mend. v) “Devemos acreditar que o quer que seja relatado daqueles que, em tempos proféticos, são mencionados como dignos de crédito, foi dito ou feito por eles profeticamente”. Como Abraão, “quando disse que Sara era sua irmã, ele desejava ocultar a verdade, mas não dizer uma mentira, pois ela é chamada sua irmã porque é filha do pai dele”, diz S. Agostinho (QQ. Super. Gen. xxvi; Contra Mend. x; Contra Faust. xxii). Por isso o próprio Abraão afirma (Gn 20,12) “ela é realmente minha irmã, a filha do meu pai, mas não de minha mãe”, sendo sua parente do lado do pai. A afirmação de Jacob ser Esaú, o primogénito de Isaac, foi dita num sentido místico, pois a primogenitura era-lhe devida por direito. Ele fez uso deste tipo de linguagem movido pelo espírito de profecia, para significar um mistério, que o povo mais novo, os gentios, iria suplantar o mais velho, os judeus.
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Mensagem por Galego 13/11/2022, 23:18

Mentira (continuação_5)

«Alguns, no entanto, são apresentados na Escritura, não por causa da sua virtude perfeita, mas por uma certa disposição virtuosa, vendo que era por causa de certo sentimento louvável que eram movidos a fazer certas coisas indevidas. É assim que Judite é louvada, não por ter mentido a Holofernes, mas pelo seu desejo de salvar o povo, por cuja finalidade ela se expôs ao perigo. Mas também se pode dizer que as suas palavras contém alguma verdade em sentido místico.

«À quarta objecção digo que uma mentira é pecadora, não apenas porque ofende o próximo, mas também por ser desordenada, como foi dito antes neste artigo. Não é permitido fazer nada de desordenado para evitar injúrias ou defeitos de outro, como não é permitido roubar para dar esmola, excepto talvez em caso de necessidade, quando todas as coisas são comuns. Por isso não é legítimo dizer uma mentira para livrar um outro de qualquer perigo. No entanto é legítimo ocultar a verdade prudentemente, sob alguma dissimulação, como diz S. Agostinho (Contra Mend. x).
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Mensagem por Galego 13/11/2022, 23:18

Mentira ( final)

«À quinta objecção digo que um homem não mente enquanto tem a pretensão de cumprir o que prometeu, porque não fala de forma diferente do que tem na mente. Mas se ele não cumpre a promessa, parece agir de má fé, ao mudar de ideias. Pode, no entanto, ser desculpado por duas razões. Primeiro, se prometeu algo evidentemente ilegítimo, porque pecou ao prometer, e fez bem ao mudar de ideias. Segundo, se as circunstâncias mudaram no que toca às pessoas ou ao assunto em questão. Pois, como diz Séneca (De Benef. iv) para um homem estar ligado a uma promessa, é necessário que tudo se mantenha inalterado. Em caso contrário, nem ele mente ao prometer, pois prometeu o que pretendia fazer dadas as circunstâncias subentendidas, nem está de má-fé quando não cumpre a promessa, porque as circunstâncias não são as mesmas. Por isso o Apóstolo, embora não tenha ido a Corinto, apesar de ter prometido ir (2Co 1), não mentiu, porque surgiram obstáculos que o impediram.

«À sexta objecção digo que uma acção pode ser considerada de duas formas. Primeiro, em si mesma. Segundo, no que toca ao agente. Assim, uma mentira brincalhona, pelo próprio género da acção, é de natureza a enganar. No entanto, na intenção de quem a diz, não é dita para enganar, nem engana pelo modo como é dita. Não há semelhança na expressões hiperbólicas ou de qualquer tipo de figurativas que encontramos na Sagrada Escritura. porque, como diz S. Agostinho (Lib. De Mend. v), “não é mentira fazer ou dizer qualquer coisa figurativamente, porque cada afirmação tem de ser referida à coisa afirmada. E quando uma coisa é dita ou feita figurativamente, ela afirma aquilo que aqueles para quem ela é dirigida compreendem que ela significa.» (Suma Teológica : II-II 110, 3)
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 23:31

Epistemologia

É possível ter certeza de algo?

Você tem certeza que você existe?

Responder a essa pergunta é um bom começo para saber se é verdade que a parede branca é branca.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 23:31

Agostinho e o "se me engano, existo"

"Quem duvidará que vive, que recorda, que entende, que quer, que pensa, que sabe e que julga? Pois se duvida, vive; se está em dúvida acerca daquilo que de que duvida, lembra-se (ou tem consciência disso); se duvida, sabe que está duvidando; se duvida, é porque quer ter certeza; se duvida, pensa; se duvida, sabe que não sabe; se duvida, julga que não se deve assentir temerariamente. E ainda que se pudesse duvidar de tudo o mais, disto não se pode duvidar. Caso contrário, já não haveria do que duvidar, o que tornaria impossível a própria dúvida."
Da Trindade, X, 10; 981.

"Quem não existe, não pode se enganar. Por isso, se me engano, existo. Logo, se existo porque me engano, como posso enganar-me, crendo que existo, quando é certo que existo se me engano? Embora me engane, sou eu que me engano e, portanto, enquanto conheço que existo, não me engano. Segue-se também que, enquanto conheço que me conheço, não me engano. Como conheço que existo, assim conheço que conheço."
A Cidade de Deus, XI, 26; 551, 6 s.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 23:32

Vejam a explicação do tomista Carlos Nougué, da editora Sétimo Selo:
https://www.youtube.com/watch?v=8liwiKAu-SE&feature=related

Carlos Nougué é sensacional.

Além de filósofo DE VERDADE, suas traduções dos clássicos são estupendas.

Agora mesmo estou lendo a obra "Do sumo bem e do sumo mal" de Cícero, traduzida por ele (e com uma apresentação também dele que é de cair o queixo, tamanha a capacidade de síntese aliada à beleza formal).
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 23:33

A Filosofia Primeira

Desde os seus primórdios, a Filosofia se pergunta acerca desse tema. A obra fundamental e fundadora que O investiga é a Metafísica de Aristóteles (384-322 a. C.). Nela, há uma passagem muito famosa:

"Se, portanto, nessa feliz condição em que às vezes nos encontramos [a vida contemplativa], Deus se encontra perenemente, isso nos enche de maravilha; e se Ele se encontra numa condição superior, é ainda mais maravilhoso. E Ele se encontra efetivamente nessa condição."

"E Ele também é vida, porque a atividade da inteligência é vida, e Ele é, justamente, essa atividade. E sua atividade, subsistente por si, é vida ótima e eterna. Dizemos, com efeito, que Deus é vivente, eterno e ótimo; de modo que a Deus pertence uma vida perenemente contínua e eterna: isto, portanto, é Deus." - Livro 7, 1072b, 23-30.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 13/11/2022, 23:35

A Filosofia discute as visões correspondentista e coerentista da verdade, e também a visão pragmática, mas se o telos do homem é a felicidade como dizia Aristóteles, nada como estar na Presença do Senhor, o que para alguns é estar em um determinado nível de consciência e neste caso os experts em Filosofia da Mente e Ciências Cognitivas têm variadas reflexões.

Enquanto desenvolvia sua dúvida hiperbólica nas Meditações, Descartes talvez se sentisse na Presença do Senhor, abençoado pela Luz Natural, a buscar, junto com o Senhor, a solução de questões filosóficas, a tal ponto que a garantia de seu Cogito foi a existência de Deus sob a forma de Deus epistemológico, garantidor da existência do Cogito, mesmo que houvesse um gênio maligno ou um Deus enganador a querer enganá-lo; se a dúvida leva ao prazer de pensar ela é bem-vinda; se leva a estados angustiantes de consciência, vade retro...
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Mensagem por Ser ou Não Ser 14/11/2022, 04:46

Agostinho - Amor

Pessoal, alguns pensamentos de Santo Agostinho sobre o Amor...


"Ama e faze o que quiseres"

"Que bom é amar! Amar é possuir!"

"Não podes ser bom amigo dos homens, se primeiro não o fores da verdade"

"Quanto mais amas, mais alto sobes"

"Todo homem busca o amor. Busca só o que ama"

"Quando o amor busca e anela o que atrai, converte-se em desejo; quando o possui e goza, em felicidade; quando evita o que lhe desagrada, em medo; e quando o sofre e suporta, em tristeza. Todas essas afeições ou movimentos da alma são bons se estão amparados por um amor bom, e maus se estão amparados por um amor mau"

"Os homens inflamam-se com o fogo da raiva. Tambem inflamam-se com o fogo do amor. O primeiro é como o ardor de uma úlcera; o segundo, como o fervor da saúde"

"O médico não ama o enfermo a não ser que odeie a sua enfermidade. Para livrá-lo da febre, busca e combate a causa. Sê como um bom médico ao tratar com teus amigos. Se os amas como é devido, odeia seus vícios"

"Quando se ama uma coisa, se está sempre atento aos pormenores que permitem acercar-se dela ou ajudam a não a perder de vista. O amor é a força motora do mundo humano, a razão que governa os homens e os faz dançar a seu som"

"Dize-me quais são teus amigos e dir-te-ei quem és. Todo homem se une com sua própria imagem, e se aparta dos que não se lhe assemelham"

"No ato de amar, que é que se ama senão o amor?"

"Bons amores fazem boas condutas"

"É tão grande a força do amor que transforma amante em imagem do amado"

"Sem amor o rico é pobre; com amor, o pobre é rico"

"A medida do amor é amar sem medida"

"Amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo nos tornamos mundanos"

"Queres saber que tipo de pessoa és? Põe à prova teu amor. Se amas as coisas terrenas, és terra. Se amas a Deus, não tenhas medo de dizer: és Deus"

"A caridade é como o andar do espírito. Se tens dois pés, não coxeies. Ama a Deus e ama a teu próximo".

"Se queres evitar um tormento, não ames o que te é impedimento"
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Mensagem por Ser ou Não Ser 14/11/2022, 04:47

"É tão grande a força do bem que até os maus o buscam"

"Os objetos materiais são atraídos para baixo por seu peso e para cima por sua leveza. O peso coloca a cada um no lugar que lhe corresponde pela natureza. Assim também o homem é levado para cima ou para baixo, dependendo da natureza de seu amor".

"Caridade é a virtude pela qual o homem ama o que deve ser amado"

"Como podes amar ao Senhor se amas a farsa e o vinho, as pompas do mundo e suas vaidades enganosas? Aprende a não amar para que aprendas a amar; afasta-te, para poderes acercar-te; esvazia-te, para que possas encher-te de verdade".

"Pouco importa quanto fazes, o que importa é quanto amas"

"Para o bem ou para o mal, de amor vive cada qual"

"Amando a Deus nos tornamos divinos; amando ao mundo nos tornamos mundanos"

"Cada homem é aquilo que ama".

"Não é bom aquele que conhece o bem, mas aquele que o ama".

"Caridade é a virtude pela qual o homem ama o que deve ser amado"

"A virtude é a ordem do amor"

"Amamos indevidamente o que Deus nos dá quando, por causa disso, nos
esquecemos de Deus"

"O amor é evidentemente mais grato quando não é perturbado pela aridez da necessidade, mas deriva da bondade fecunda"

"O amor ordenado não ama o que não deve, nem deixa de amar o que deve. Não ama mais o que deve amar menos, nem ama menos o que deve amar mais. Não ama por igual o que deve amar mais ou menos, nem ama mais ou menos o que deve amar por igual"
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Mensagem por Ser ou Não Ser 14/11/2022, 04:48

Agostinho - o Mal

Agostinho foi profundamente impressionado pelo problema do mal - do qual dá uma vasta e profunda explicação. Foi também longamente desviado pela solução dualista dos maniqueus, que lhe impediu o conhecimento do justo conceito de Deus e da possibilidade da vida moral. Os maniqueus diziam que havia dois princípios absolutos: O Bem e o Mal. A solução deste problema por ele achada foi a sua libertação e a sua grande descoberta filosófico-teológica, e marca uma diferença fundamental entre o pensamento grego e o pensamento cristão. Antes de tudo, nega a realidade metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é ausência de luz; o mal é não-ser; carência de plenitude; privação de bem. Tal privação é imprescindível em todo ser que não seja Deus, enquanto criado, limitado.

Agostinho distinguiu três formas de mal:

(1) mal físico - o sofrimento, a dor, a doença, tristeza.
(2) mal moral - o pecado, a maldade, a imoralidade.
(3) mal metafísico - a finitude humana, tanto temporal (mortalidade) quanto cognitiva (ignorância).

O mal metafísico, não é verdadeiro mal, porquanto não tira aos seres o que lhes é devido por natureza. O mal metafísico diz respeito a limitação natural de tudo o que é criado. Somente Deus é ilimitado, infinito e perfeito.

Quanto ao mal físico, que atinge também a perfeição natural dos seres, Agostinho procura justificá-lo mediante um velho argumento, digamos assim, estético: o contraste dos seres contribuiria para a harmonia do conjunto. Mas é esta a parte menos afortunada da doutrina agostiniana do mal. Também, o mal físico é a consequência do mal moral. O pecado, pois, tem em si mesmo a pena da sua desordem, porquanto a criatura, não podendo lesar a Deus, prejudica a si mesma, determinando a dilaceração da sua natureza.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 14/11/2022, 04:49

Quanto ao mal moral ou pecado, finalmente, existe realmente a má vontade que livremente faz o mal; ela, porém, não é causa eficiente, mas deficiente, sendo o mal não-ser. Para Santo Agostinho, o mal moral no mundo é resultado da liberdade humana. Deus criou o homem livre, que, por livre escolha, pecou. Com isso surgiu o mal moral. A vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. Escolhendo as criaturas ao invés do Criador, o homem peca.
E, como dissemos, a vontade deve ser considerada não causa eficiente, mas deficiente da sua ação viciosa, porquanto o mal não tem realidade metafísica (o mal é não-ser e não ser).

Agostinho segue Platão, para quem o mal, a rigor, não existe. O mal nada mais é do que a não existência de algo, a ausência do ser. O mal não possui ser, é antes a falta de ser. Assim como para um cego o mal é a ausência de visão.

O mal, que é não-ser, pode unicamente provir do homem, livre e limitado, e não de Deus, que é puro ser e produz unicamente o ser. O mal moral entrou no mundo humano pelo pecado original e atual; por isso, a humanidade foi punida com o sofrimento, físico e moral, além de o ter sido com a perda dos dons gratuitos de Deus.

Como se vê, o mal físico, deste modo, é explicado como uma consequência do mal moral, ou pecado. Remediou este mal moral a redenção de Cristo, Homem-Deus, que restituiu à humanidade os dons sobrenaturais e a possibilidade do bem moral; mas deixou permanecer o sofrimento, consequência do pecado, como meio de purificação e expiação. E a explicação última de tudo isso - do mal moral e de suas conseqüências - estaria no fato de que é mais glorioso para Deus tirar o bem do mal, do que não permitir o mal.

Resumindo a doutrina agostiniana a respeito do mal, diremos: o mal é, fundamentalmente, privação de bem (de ser); este bem pode ser não devido a natureza (mal metafísico) ou devido a natureza (mal físico e moral).
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Mensagem por Ser ou Não Ser 14/11/2022, 04:51

São Boaventura

Amigos(as), alguns pensamentos de um santo que gosto muito: São Boaventura.


SÃO BOAVENTURA (1218 - 1274)

Boaventura nasceu em 1218, no centro da Itália. Foi bispo e reconhecido doutor da Igreja de Cristo, que chamou pescadores, camponeses para segui-lo no carisma de Francisco de Assis, mas também homens cultos e de ciência. Boaventura era um destes homens de muita ciência, porém de maior humildade e conhecimento de Deus.
Certa vez Boaventura ao ficar muito doente recebeu a cura por meio de uma oração feita por São Francisco de Assis, que percebendo a graça tomou-o nos braços e disse: "Ó, boa ventura!"
Entrou na Ordem Franciscana e pelo estudo e oração exerceu sua vocação franciscana e sacerdócio na santidade, ao ponto do seu mestre qualificar-lhe assim: "Parece que o pecado original nele não achou lugar".
São Boaventura antes de se destacar como santo bispo, já chamava - sem querer - a atenção pela sua cultura e ciência Teológica, por isso ao lado de Santo Alberto Magno e Santo Tomás de Aquino caracterizaram o século XIII como o tempo de sínteses teológicas. Certa vez um frei lhe perguntou se poderia salvar-se, já que desconhecia a ciência teológica; a resposta do santo não foi outra: "Se Deus dá ao homem somente a graça de poder amá-lo isso basta...Uma simples velhinha poderá amar a Deus mais que um professor de teologia". O Doutor Seráfico, assumiu muitas responsabilidades, como ministro geral da Ordem Franciscana e como bispo.
Feito cardeal, teve então que aceitar a consagração episcopal, que antes, por humildade tinha recusado. Recebeu do papa Gregório X a missão de preparar o segundo Concílio de Lião. Morreu no dia 15 de julho de 1274,assistido pessoalmente pelo papa. Entre os seus livros mais conhecidos está “O Itinerário da Mente para Deus”.
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Mensagem por Ser ou Não Ser 14/11/2022, 04:54

PENSAMENTOS DE SÃO BOAVENTURA

"A abundância dos bens temporais é um impecilho para a alma, impedindo-a de voar para Deus".

"Mais segura e humilde está a alma no ouvido do que na língua".

"A ciência que por amor da virtude se despreza, pela virtude se adquire melhor".

"Se eu nada mais puder fazer, meu Jesus, procurarei vossas chagas e aí permanecerei".

"Se o meu Redentor, por causa de meus pecados; me atirasse longe de Si, lançar-me-ia aos pés de sua Mãe e, prostrado, não me levantaria enquanto Ela não me obtivesse o perdão. Ela não deixaria de fazer violência ao Coração de Jesus para que me perdoe".

"Se quereis progredir no amor de Deus, meditai todos os dias na paixão do Senhor".

"Interroga a graça, não a doutrina; o desejo, não o intelecto; o gemido da oração, não o estudo do que vê; o esposo, não o mestre; Deus, não o homem; a fuligem não a clareza; não a luz, mas aquele fogo que tudo penetra com sua chama e reporta a Deus com excessivas unções e com ardentíssimos afetos".

"A Missa é a obra na qual Deus coloca sob os nossos olhos todo o amor que ele nos teve: é de certo modo, a síntese de todos os benefícios que ele nos fez".

"Ó Jesus, trespassaram vosso lado para nos abrir uma porta; feriram vosso coração para nos abrir nessa sagrada vinha, um asilo seguro de toda perturbação externa".

"Não basta a leitura sem a unção, não basta a especulação sem a devoção, não basta a pesquisa sem maravilhar-se; não basta a circunspecção sem o júbilo, o trabalho sem a piedade, a ciência sem a caridade, a inteligência sem a humildade, o estudo sem a graça".

"Cada sacerdote no altar deveria ser inteiramente identificado com Nossa Senhora, porque como por meio dela é que nos foi dado este Santíssimo Corpo, assim é pelas mãos dela que Ele deve ser oferecido a nós".

"Todas as coisas criadas são sombras, ecos, imagens ou semelhanças de Deus, que é a Causa Primeira de todas as coisas"

"Já que toda a natureza divina esteve nas entranhas da Santíssima Virgem, não duvido dizer que em toda distribuição de graças tem certa jurisdição essa Virgem, de cujas entranhas como de um oceano da divindade, emanam os rios de todas as graças"
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