Psicanálise e Mitos

História Mestra, em minha opinião...

Eu ouço contos de fada desde os 8 meses de idade, meu pai me contava antes de dormir e ainda hoje sou apaixonada por qualquer conto. Tenho um livro que amo, "Volta ao mundo em 52 histórias" pois tem contos do mundo inteiro.
Gosto muito de todos os contos, porém, gostaria de compartilhar com vocês um, que na minha opinião é a principal história, a moral de todas... Aí vai ela:

Espíritos Libertos
Um menino coreano gostava muito de ouvir histórias, mas, em vez de contá-las para os outros, guardava-as para si, do mesmo jeito que um avarento esconde suas moedas. Toda vez que escutava uma história nova, prendia seu espírito numa bolsa velha, que logo estava estourando de cheia.
O tempo passou, e o menino virou homem. No dia em que ia se casar, seu criado ouviu vozes murmurando na velha bolsa. Eram os espíritos das histórias, que resmungavam, irritados: "Estamos sufocados aqui dentro! E ele nem se importa! Mas hoje podemos finalmente lhe dar o troco!".
Um espírito segueriu que colocassem uns morangos venenosos no caminho do rapaz e o fizessem sucumbir à tentação de comê-los. Outro propôs que ele se queimasse ao pegar um tiçoeiro em brasa. E um terceiro declarou que, se tais recursos falhassem, cuidaria para que uma cobra o eliminasse em pleno leito nupcial!
Ouvindo tudo isso, o criado tratou de evitar os desastres. Depois de cortar a cabeça da cobra, contou ao patrão que ouvira os espíritos das histórias conspirarem contra ele.
"Não pode mantê-los presos desse jeito", falou."Precisa libertá-los."
O jovem reconheceu seu erro, abriu a velha bolsa e deixou os espíritos saírem. E desse dia em diante contou suas histórias a todos os que quisessem ouvi-las"

Observação embaixo da história:
Escrever contos de fadas equivale mais ou menos a prendê-los numa bolsa velha. Podemos sufocá-los. Por isso, abra logo este livro e liberte os espíritos das histórias!

Espero que tenham gostado dessa história e pratiquem a moral que ela nos dá!
Obrigada

Vocês conhecem os livros que estão sendo publicados pela editora Landy? Eles contém as principais coletâneas que os compiladores românticos fizeram dos contos de fada e contos populares de seus países. Por exemplo, alguns títulos publicados são: Contos de Fada Russos, Contos Populares Noruegueses, Contos de Fadas Celtas, Contos Populares Chineses, etc., onde entre os selecionadores e organizadores aparecem nomes consagrados como os de Grimm, Joseph Jacobs, Aleksandr Afanas'ev, Peter Christen Asbjornsen, Jorgen Moe etc. Eu achei a iniciativa da editora fantástica, e os contos estão na versão completa, da forma como foram colhidos originalmente.

Alguém já leu "Psicanálise dos Contos de Fada", de Bruno Bettelheim? o que achou?..

Os contos de fada possuem um valor terapêutico para as crianças. Pois uma criança pequena ainda não consegue verbalizar ou entender discursivamente todos os complicados conflitos familiares em que ela se envolve. O conto de fadas, em sua linguagem simbólica, é um forma de dirigir uma mensagem para o inconsciente da criança: o único modo dela compreender sua situação é alegoricamente. Bruxas em contos simbolizam a mãe em seu lado mau, dominador, perverso, negligente, etc., a fada representa o lado materno bom, as qualidades nutridoras, protetoras e amorosas da mãe; Gigantes simbolizam o pai no seu aspecto mais assustador; enquanto um Rei, um caçador, etc., simbolizam o pai nas formas mais positivas. Histórias como joão e maria, mostram crianças enfrentando o abandono e rejeição por parte pais, tendo de enfrentar uma fase oral (a casa da bruxa feita de chocolate...), e, depois, conseguindo ouro para voltarem para casa; Branca de Neve e Cinderela mostram a perseguição louca que uma mãe ciumenta pode fazer a filha, e como a filha supera essas perseguições e assim por diante... Cada conto de fada simboliza um conflito familiar pelo qual um criança ou adolescente passa, de modo que ela identifica-se inconscientemente com a situação e adquire um modelo alegórico para compreender o mundo a sua volta e como deve agir. Um conto de fadas legítimo sempre possui um final feliz, a ordem das coisas restauradas, dando para criança, assim, uma mensagem de otimismo e confiança na vida, por mais que sua situação atual possa estar ruim.

Creio que os contos de fadas são um poderoso aliado das crianças na projeção e representação de suas fantasias inconscientes, inclusive na resolução de alguns conflitos. A possibilidade de simbolicamente matar ou manter uma relação amorosa com a mãe ou com o pai torna-se uma possibilidade real nos contos, além de outros desejos que as crianças não se permitem pensar mas precisam resolver. No ofício de educadora, como mãe e professora, me detive em analisar a identificação das crianças com um ou mais contos, levando-as a pedir insistentemente para serem lidos repetidas vezes, era como se a audição lhes acalmassem, lhes dessem alento. Tenho tentado divulgar entre pais e professores a leitura dos livros Psicanálise da alfabetização e Psicanálise dos contos de fadas, do mesmo autor, mas acredito que ambas precisam ser precedidas de leituras introdutórias sobre psicanálise.

"A Linguagem Esquecida - Uma Introdução ao Entendimento dos Sonhos, Contos de Fadas e Mitos", do Erich Fromm. Entre outras coisas, ele analisa no livro alguns contos de fada de um modo muito interessante e (ao contrário da maioria de seus escritos) não se desvia muito da teoria psicanalítica.

Animus Anima

De Emma Jung é um livro muito interessante que relaciona os problemas relacionados ao animus e a anima em contos mitológicos.

E estou no começo da leitura de "Fadas no Divã', estou achando maravilhoso...

O livro vem com bula, para ser lido de acordo com seu interesse: vc pode simplesmente focar a leitura nas suas obras prediletas ou pode ter uma leitura mais sistemática, porque os contos são postos em ordem, organizados de acordo com questões relacionadas a cada etapa do desenvolvimento da criança/adolescente.

Utilizo a linguagem junguiana para interpretar, pois a considero mais interessante. Por exemplo, a explicação do livro de Bettelheim é uma explicação mais freudiana, que enxerga os símbolos comparando-os com as fases de desenvolvimento que as crianças passam, mas eu acredito que há algo mais nos contos que remontam a nossa história da humanidade, pois os contos de fadas nada mais foram construídos por gerações e gerações que foram recontando as historias... que podem ser comparadas com as histórias da mitologia, há muito em comum entre os contos de fadas e os mitos... tenho alguns livros que mostram a visão junguiana sobre os contos, "A interpretação dos contos de fadas" e a "individuação nos contos de fadas" ambos são de Marie-Louise von Franz, uma das discípulas mais famosas de Jung. Vale a pena conhecer essa outra visão dos contos.

Li também o livro "O que conta o conto" de J. Beneviste. Li os livros da famosa junguiana M. Louise Von Franz que é especialista neste assunto: A sombra e o mal nos contos de fada, O gato, O feminino nos contos de fada e tantos outros livros dessa ótima estudiosa dos contos de fada. Quem já leu "A sombra e o mal nos contos de fada". Gostaria de conversar sobre este assunto.

A obra de Marie Louise Von Franz é um material excelente para análise dos contos de fada.
Vou tentar fazer um resumo do livro.

A sombra e o mal nos contos de fada

A autora analise vários contos, tendo em vista a sombra e o mal nestes contos. A sombra seria a parte obscura, a parte não vivida e reprimida do ego. Podemos dizer que a sombra é tudo aquilo que faz parte da pessoa mas ela desconhece. Ela consiste de elementos pessoais e elementos coletivos. A sombra se constrói a partir das qualidades reprimidas, não aceitas ou não admitidas porque incompatíveis com as que foram escolhidas pela pessoa. Na análise, muitas pessoas são capazes de reconhecer suas sombras mas não são capazes de integrá-las em suas vidas. É um ato de grande coragem enfrentar e aceitar uma qualidade que não nos é agradável, que se escolheu esconder por muitos anos. Mas se a pessoa decidir não aceitá-la, acabará sendo apanhada pelas costas. Exemplificando, diz a autora, que pessoas do tipo sentimento estão sempre prontas a serem cruéis e mesquinhas ao julgar seus amigos. Aborda, também, e, principalmente, a sombra coletiva dizendo que é particularmente ruim porque cada um apóia o outro em sua cegueira - é somente nas guerras ou nos ódios entre nações que se revela algum aspecto da sombra coletiva. Afirma, ainda, que o próprio diabo exemplifica tal personificação da sombra coletiva. Por outro lado, podemos dizer que se os demônios coletivos nos afetam, é porque devemos ter algo deles em nós. Quando parte de nossa sombra pessoal não estão integradas, a sombra coletiva pode nos alcançar. Enfim, a autora pretende mostrar nos contos analisados neste livro o aspecto do mal presente no ser humano e que deve ser reconhecido e integrado e não negado.

O mal nos contos de fada

Um outro aspecto abordado neste livre é que o Mal, às vezes, é uma félix culpa, isto significando, que, por exemplo, quando Eva pega a maçã do Paraíso e a dá à Adão, isto é um mal, pois Deus os expulsa do paraíso, mas por outro lado isto é uma "felix culpa" pois tira o homem do estado da natureza e lhe dá a consciência, indicando um progresso na sua evolução. Na mitologia grega acontece, mais ou menos a mesma coisa, com Prometeu. Roubou o fogo sagrado e o ofertou aos homens. Zeus zangado o condenou ao suplício que todos conhecemos. Também, aí, teríamos o Mal, mas é o mal que causa uma "Félix culpa". Tudo que estou afirmando faz parte do referido livro. Sugestão: poderíamos abordar o Mal em obras de ficção do séc. XX, XXI e apontar nelas a "felix culpa", ou o próprio Mal e a Sombra. Poderíamos falar também da Sombra de cada um, ou da sombra coletiva.

Os livros de Marie-Louise Van Franz sobre Contos de fadas são baseados nas ideias de Jung. São muito esclarecedores: O mal e a sombra nos contos de fada, o feminino nos contos de fada, o gato, interpretação dos contos de fada; Dickman: Contos de fadas vividos; J. Bonaventure: O que conta o conto?, etc.

Psicologia e mitologia

Esse é o nome do livro que li, da autora Jean Shinoda Bolen (Ed. Cultrix). Ela faz uma interpretação marcante, baseada na psicologia analítica (de Carl G. Jung), fornecendo uma ponte para as nossas vidas. Através desse livro percebi que muitos de nós ansiamos por tomar posse do Anel dos Nibelungos para dominarmos os outros, e que isso se deve à renúncia ao amor dos que nos maltrataram.

Perseu e as Górgones

Mantendo hoje, agradável troca de informações com um de nossos colegas de fórum, lancei uma charada e percebi que ele pouco conhecia a respeito de belo episodio mitológico – A luta de Perseu contra as Górgones.

Por se tratar de episódio que pode ser interpretado como sendo a luta e busca do homem por seus objetivos, tomo a liberdade de fazer essa postagem.

Lançando também, a seguinte pergunta aos colegas: Quem ou o que poderiam representar as três Górgones em nossas vidas e lutas cotidianas? De acordo com o estudioso alexandrino Apolodoro, Perseu, o lendário fundador de Micenas, nunca teria nascido se seu avô tivesse conseguido seu intento.

Acrísio, rei de Argos, era pai de uma linda filha, Dânae, mas estava desapontado por não ter um filho. Quando consultou o oráculo sobre a ausência de um herdeiro homem, recebeu a informação que não geraria um filho, mas com o passar do tempo teria um neto, cujo destino era matar o avô.
Acrísio tomou medidas extremas para fugir deste destino. Trancou Dânae no topo de uma torre de bronze, e lá permaneceu numa total reclusão até o dia em que foi visitada por Zeus na forma de uma chuva de ouro; assim deu à luz a Perseu.

Acrísio ficou furioso, mas ainda achava que seu destino poderia ser evitado. Fez seu carpinteiro construir uma grande arca, dentro da qual Dânae foi forçada a entrar com seu bebê, sendo levados para o mar. Entretanto, conseguiram sobreviver às ondas, e após uma cansativa jornada a arca foi jogada nas praias de Sérifo, uma das ilhas das Ciclades. Dânae e Perseu foram encontrados e cuidados por um honesto pescador, Dictis, irmão do menos escrupuloso rei de Sérifo, Polidectes.
Com o passar do tempo, Polidectes apaixonou-se por Dânae, mas enquanto crescia Perseu protegeu ciumentamente sua mãe dos indesejados avanços do rei. Um dia, durante um banquete, Polidectes perguntou a seus convidados que presente cada um estava preparado a oferecer-lhe.

Todos os outros prometeram cavalos, mas Perseu ofereceu-se a trazer a cabeça da górgone. Quando Polidectes o fez cumprir sua palavra, Perseu foi forçado a honrar sua oferta.
As górgones eram em número de três, monstruosas criaturas aladas com cabelos de serpentes; duas eram imortais mas a terceira, Medusa, era mortal e assim potencialmente vulnerável; a dificuldade era que qualquer um que a olhasse se transformaria em pedra.

Felizmente, Hermes veio em sua ajuda, e mostrou a Perseu o caminho das Gréias, três velhas irmãs que compartilhavam um olho e um dente entre si. Instruído por Hermes, Perseu conseguiu se apoderar do olho e do dente, recusando-se a devolvê-los até que as Gréias mostrassem o caminho até as Ninfas, que lhe forneceriam os equipamentos que necessitava para lidar com Medusa.

As Ninfas prestimosamente forneceram uma capa de escuridão que permitiria a Perseu pegar a Medusa de surpresa, botas aladas para facilitar sua fuga e uma bolsa especial para colocar a cabeça imediatamente após a ter decepado. Hermes sacou uma faca em forma de foice, e assim Perseu seguiu completamente equipado para encontrar Medusa.

Com a ajuda de Atena, que segurou um espelho de bronze no qual podia ver a imagem da górgone, ao invés de olhar diretamente para sua terrível face, conseguiu finalmente despachá-la. Acomodando a cabeça de modo seguro na sua bolsa, retornou rapidamente a Sérifo, auxiliado por suas botas aladas.Ao sobrevoar a costa da Etiópia, Perseu viu abaixo uma linda princesa atada numa rocha. Esta era Andrômeda, cuja fútil mãe Cassiopéia tinha incorrido na ira de Posídon ao espalhar que era mais bonita do que as filhas do deus do mar Nereu.

Para puni-la, Posídon enviou um monstro marinho para devastar o reino; apenas poderia ser parado se recebesse a oferenda da filha da rainha, Andrômeda, que foi assim colocada na orla marítima para esperar o terrível destino. Perseu apaixonou-se imediatamente, matou o monstro marinho e libertou a princesa.

Os pais dela, em júbilo, ofereceram Andrômeda como esposa a Perseu, e os dois seguiram na jornada para Sérifo. Polidectes não acreditava que Perseu pudesse retornar, e deve ter sido bastante gratificante para Perseu observar o tirano ficar lentamente petrificado sob o olhar da cabeça da górgone. Perseu deu então a cabeça a Atena, que a fixou como um emblema no centro de seu protetor peitoral.

Perseu, Dânae e Andrômeda seguiram então juntos para Argos, onde esperavam se reconciliar com o velho rei Acrísio. Mas quando Acrísio soube desta vinda, fugiu da presença ameaçadora de seu neto, indo para a Tessália, onde, não conhecendo um ao outro, Acrísio e Perseu acabaram se encontrando nos jogos fúnebres do rei de Larissa. Aqui a previsão do oráculo que Acrísio temia se realizou, pois Perseu atirou um disco, o qual se desviou do curso e atingiu Acrísio enquanto estava entre os espectadores, matando-o instantaneamente.

Perseu com sensibilidade decidiu que não seria muito popular voltar a Argos e reivindicar o trono de Acrísio logo após tê-lo morto; assim, ao invés, fez uma troca de reinos com seu primo Megapentes. Megapentes se dirigiu a Argos enquanto Perseu governou Tirinto, onde é considerado como responsável pelas fortificações de Midéia e Micenas.

Interessante!
Não acho que eu possa saber ou interpretar o que, exatamente seriam as três górgones.
Mas se duas eram imortais, acho que são coisas, sentimentos, instintos, que temos e não podemos vencer.
Já a Medusa, algo mortal, algo que possa ser morto ou transformado em nós, ou seja, evoluído de alguma forma.

Meu bem.

Suas suposições estão quase corretas.

Digamos que as três irmãs podem ser interpretadas como sendo impulsos básicos.

Hah!

Então é "o que" e não "quem", como mencionou na sua pergunta.

Alguns autores trabalham com a ideia de que as irmãs Górgones simbolizem também a mulher e seus aspectos.

Por esse motivo, deixei em aberto as duas possibilidades.

Se forem então aspectos da mulher... três, com certeza não são suficientes. rs

Aguardo ansioso a resposta!
Achei muito interessante o post e belíssima a estória, que não conhecia na íntegra, desde o nascimento do herói.

As três irmãs Górgones - Ésteno, Euríale e Medusa - representam impulsos pervertidos que arrastam o ser humano ao sofrimento.

Ésteno - Representa a perversão social

Euríale - Representa a perversão sexual

Medusa - Representa o impulso evolutivo estagnado

São símbolos do inimigo que o ser humano precisa combater. E que causam a deformidade da Psiqué, tornando-o prisioneiro.

Segundo a lenda, duas das irmãs são imortais e o homem terá sempre que lutar contra ambas - A deformidade social e a sexual.

Uma porém, pode ser morta - o impulso evolutivo estagnado - e ao ser cortada sua cabeça, libera o impulso evolutivo, a vontade de evoluir.

Liberando o impulso evolutivo, as outras irmãs podem se modificar.
Não podem morrer, mas podem ser transformadas e transmutadas.

Seria possível evoluir e transmutar a sexualidade e a sociedade como as conhecemos?