Domenico Scarlatti

K. 455 - Divino...

Esplêndido!

O som exato do barroco italiano. (K.455)

Putz, acabei de ouvir essa.
Nuss, realmente, meu gosto muda a cada audição, realmente difícil definir a melhor, principalmente nas performances em cravo.

E olha que Scarlatti modestamente chamou as suas sonatas de ''Exercícios para cravo''.

Essa aí, a K. 455, o cravista Roberto de Regina batizou como ''Fuga das Galinhas'', em homenagem a Rameau.

Vocês sabiam que o compositor Chopin em pleno Romantismo admirava Scarlatti e dava suas sonatas para seus alunos estudarem? Olha o que o compositor polonês declarou a respeito de Scarlatti:

''Meus colegas, professores de piano, estão insatisfeitos por eu estar ensinando Scarlatti aos meus alunos. Mas estou surpreso que eles sejam tão cegos. Em sua música, há muitos exercícios para os dedos e uma boa quantidade de alimento espiritual elevado. Se eu não tivesse medo de desfazer muitos tolos, tocaria Scarlatti em meus concertos. Eu afirmo que chegará um momento em que Scarlatti será tocado em concertos e as pessoas o apreciarão e o amarão.''

Muito interessante, Vladimir Horowitz que o diga.

Caros colegas, recomendo a gravação da integral das 555 Sonatas para Cravo de Domenico Scarlatti interpretadas pelo cravista Scott Ross.

As sonatas de D. Scarlatti são um pouco diferentes das sonatas mais comuns (do período clássico p/ frente), por ele pertencer ao período barroco ainda não obedecia o padrão de 3 movimentos (rápido-lento-rápido, que fora usado por seu pai, Alessandro Scarlatti, nas aberturas de suas óperas, e que dera origem à abertura italiana e por fim à essa tendência desses movimentos das sonatas, concertos e etc..), mas as sonatas de D. Scarlatti são peças no formato A-B (binário), e que ele escrevia como se fossem diversos tipos de peças, como Gavotta, Toccata, Pastorale, e até Fuga, a fuga mais conhecida é a Fuga "do Gato" K.30, que ele se inspirou no seu gato, quando pisava em cima do teclado do cravo.

Mas essas peças não deixam de ser sonatas somente por serem curtas ou por serem inspiradas em outros estilos de peças. A palavra sonata, vem do verbo suonare=soar. A sonata foi feita para soar, como a cantata feita para cantar, e a toccata feita para se tocar!

Vocês precisam ouvir também as sonatas do padre espanhol Antonio Soler. Ele se considerava um discípulo de Domenico Scarlatti, mas não sei se chegou a ter aulas com ele (Scarlatti passou o resto da sua vida na Espanha, a serviço do Rei Felipe V e seus filhos).

Elas são muito parecidas com as de Scarlatti, mas com um sabor mais espanhol e um estilo pré-clássico. Inclusive, algumas de suas sonatas são em 4 movimentos: allegro, lento, minueto e allegro.

A NAXOS lançou a integral com o cravista inglês Gilbert Rowland. São mais de 13 volumes com 150 sonatas.

Não só esse padre se interessou pelas sonatas de Scarlatti como também Haydn as estudou... creio que isso teve alguma influência nele, e posteriormente em seus alunos, entre eles Beethoven...

Ah! Tem um disco maravilhoso do cravista Andreas Staier: "Variaciones del Fandango Español" (Teldec-Das Alte Werk), onde ele toca o Fandango do Soler. Vale a pena!!! É quase delirante!!

O nosso Nicolau de Figueiredo gravou Sonatas de Scarlatti também!

A propósito, os dois tipos de numeração usados no catálogo do Scarlatti, L e K, se referem ao nomes de Alessandro Longo e Ralph Kirkpatrick, os dois maiores estudiosos da obra dele.

Citaram, com muito acerto, as sonatas de Antonio Soler. Este padre espanhol, que morava no Escorial (onde também reside o avô de Don Carlo, na homônima ópera de Verdi), estudou em Madri com o próprio Domenico Scarlatti.

Compôs numerosas sonatas para cravo (cerca de 120, algumas para fortepiano), escreveu tratados de teoria musical, e era um virtuose do órgão (entendia até de construção deste instrumento).

Algumas de suas obras das mais interessantes são os Concertos para Dois Órgãos (sem acompanhamento de orquestra), o Fandango em Ré Menor, e várias sonatas.

Fabiano, complementando sua mensagem, o norte-americano Ralph Kirkpatrick, que estudou cravo com Wanda Landowska, foi autor de uma biografia de Scarlatti e de um catálogo de suas obras.

É válido dizer que ele gravou várias (não sei se todas) sonatas de Scarlatti, pela Deutsche Grammophon.

Ainda não debatemos aqui a seguinte questão: quais os instrumentos mais adequados para se executar a música de Scarlatti ? Embora provavelmente as últimas sonatas tenham sido compostas visando o pianoforte, é comum escutá-las ao cravo, assim como é usual escutar as iniciais ao piano. Além disso, diversos pianistas que normalmente não se aventuraram no Barroco tinham em seu repertório alguma coisa de Scarlatti.

Caro Alquimista, você está equivocado.

Ora, o pianoforte nunca esteve em mente de Domenico Scarlatti para suas sonatas. Mesmo porque ele morreu em 1759, quando o piano estava começando a se impor, ainda muito lentamente, em posição bastante inferior a do cravo. Os instrumentos conviveram pacificamente até as últimas decadas de 1700, quando definitivamente o piano ganhou o lugar.
Muitas obras da segunda metade do século XVIII foram dedicadas ao mesmo tempo para o clavicembalo e para o pianoforte. Vide certas sonatas de Mozart e os Concertos de Haydn.

Todas os treze volumes de sonatas (ou essercizi, como ele chamou alguns) que Scarlatti organizou com trinta sonatas cada, em 1752, foram consagradas ao clavicembalo.

Foram quase que todos escritos quando Scarlatti já havia se estabelecido na Espanha. O primeiro volume impresso em Londres, em 1738, foi dedicado a Dom João V de Portugal, com o título "Essercizi per Gravicembalo di D. Domenico Scarlatti, Cavaliero di S. Giacomo e Maestro dei Serenissimi Prencipe e Prentipessa delle Asturie".

O fato de Domenico Scarlatti ter dedicado maior atenção ao cravo em idade já avançada é ainda um enigma. Alguns estudiosos têm buscado explicações numa repentina soma de aperfeiçoamentos técnicos que o instrumento conheceu, a partir de certa época (acredita-se que entre 1720 e 1730), melhorias essas que teriam entusiasmado a inventividade do compositor.

Já quanto às sonatas de Antonio Soler, algumas foram compostas tanto para o cravo quanto para o pianoforte e algumas, especificamente para o pianoforte.

Vou citar a fonte de onde bebi (uma delas), em uma tradução meia-boca de minha lavra:

"O instrumento para o qual algumas das obras foram especificamente compostas é questão de debate; a maioria das peças foi sem dúvida escrita para o instrumento de som claro e límpido, de caráter Italo-Hispânico: o cravo.

No entanto, pelo menos algumas poucas foram compostas para o órgão, e muitas devem ter sido escritas para o piano, que foi inventado durante a vida de Scarlatti (ele provavelmente conheceu o inventor do instrumento, Bartolomeo Cristofori, em Florença, durante suas estadias nessa cidade) e se tornou popular durante a década de 1740; Maria Bárbara (N.T.: filha de João V de Portugal, que empregou Scarlatti em Lisboa e, em seguida ao seu casamento, na corte madrilenha) possuía comprovadamente cinco pianos."

O texto é de Harvey Sachs (1994), e se encontra no livreto do CD de Kirkpatrick constante da coleção Classikon, da DG.

Obrigado Alquimista.

Eu desconhecia tais informações. Mas ainda assim, não acredito que ele tenha composto suas sonatas para nenhum outro instrumento, senão o cravo.

O fato de sua aluna, a princesa portuguesa Maria Bárbara (que ele acompanhou para a Espanha quando esta se casou com o príncipe das Astúrias) possuir pianos, não me surpreende.

Eram novidades e todas as cortes os tinham naquela época (lembre-se que Frederico II, rei da Prússia, quando da visita de Bach a Berlim, o convidou a experimentar um pianoforte construido por Silbermann, do qual ele não teria gostado da sonoridade).

Creio que provavelmente não teremos certeza disso, a menos que surja das trevas algum documento revelador.

Afinal, ainda que Scarlatti tenha conhecido o pianoforte, pode ou não ter gostado do som (como você afirmou, JS Bach sugeriu várias mudanças quando o conheceu, e o próprio Mozart anos mais tarde via grandes diferenças na qualidade dos diversos instrumentos que utilizou). E Maria Barbara, que executava com primazia as obras de Scarlatti, poderia ou não gostar de tocá-las no pianoforte.

Ou seja, conjecturas.

A primeira vez que ouvi Soler foi no filme ''Entrevista com o Vampiro''.

Nas cenas em que a Cláudia está a tocar pianoforte, ela está executando uma sonata de Soler.

Antonio Soler - Sonata 90 - Joanna Leach

São nada mais nada menos do que 550 sonatas, ao que parece, todas maravilhosas. Existe uma integral com 34 cds do selo Erato, que é caríssima. Conhecia apenas três, tocadas ao piano por Michelangeli (Série Great Pianists da Philips), mas depois descobri um cd estupendo da Paulus em que Roberto de Regina interpreta várias sonatas ao cravo. Não fazia muita fé naquele sujeito meio amalucado, mas sua interpretação extremamente "quente" das sonatas me surpreendeu. Aliás, as sonatas que me surpreenderam. No encarte do cd, há um texto do próprio Roberto de Regina que é até engraçado. Já havia reparado que, pela dinâmica das sonatas, elas parecem retratar verdadeiras imagens do cotidiano, e, no texto, Regina fala exatamente disso, dizendo até ser uma injustiça do acaso o compositor ter chamado suas sonatas apenas de "exercícios". O que há de engraçado são as descrições do que Madame Landowska e do que o próprio Regina vêem em determinadas sonatas, e que passo agora a transcrever.

Diz Roberto de Regina (e Landowska citada por ele):
"Eis como Wanda Landowska descreveu a sonata L 257 ou K 296: 'À primeira vista, ela parece heterogênea porque Scarlatti introduz um tema de amor interrompido abruptamente por um tema que sugere uma decisão enérgica. Mas essas interrupções mistificadoras e a oposição dos dois temas são explicadas pela sua alternação. Eles enfatizam os acentos do drama que está para se revelar. De fato, estamos presenciando uma pequena ópera. Os primeiros compassos criam a atmosfera da peça; no silêncio uma voz de mulher se ouve sustentada pelos arpejos de uma guitarra. Mal ouvimos esse terno canto e ele some. Um tema decidido entra como os passos de um homem ressoando no chão. Esse tema, por sua vez, é interrompido. Um silêncio... Então mais uma vez a voz da mulher se levanta mais implorativa, mais voluptuosa! O tema da decisão se mistura com os acentos mais e mais apaixonados da mulher! Seu diálogo se torna uma luta em que o tema da decisão triunfa. O destino ordena que o homem deve partir! Mais uma vez, os passos são ouvidos , primeiro bem perto, depois sumindo na distância... A mulher fica só. Nos últimos compassos, um sumário da tragédia e expresso no pungente adeus da mulher abandonada.' Seria isto um exagero visionário de madame Landowska? Que pensar? Para ajudar nesse impasse, passo a descrever o que eu vi na sonata L 286 ou K 427 em sol maior, a segunda faixa desse cd. Num apartamento, de madrugada, amigos se reúnem numa quentíssima roda de samba. No apartamento contíguo, um casal quer dormir e não consegue. O home se enfurece e bate com os punhos na parede. O samba continua quente. Ele bate novamente - nada acontece. A mulher intervém, dizendo que a violência não resolve o impasse. Ela usa a diplomacia e bate muito delicadamente na parede. Os sambistas nem ouvem. Então, o homem tomado de fúria quase derruba a parede com murros violentos. O samba não pára definitivamente. Já que não conseguem dormir, a solução é uma só: sambar juntos, eles também! Os técnicos acadêmicos e puristas questionarão: 'Quem é mais louco - Madame Landowska ou Roberto de Regina?" Resposta: nenhum dos dois. Apenas se deixam levar na torrente de imaginativa fantasia que o incrível Scarlatti desperta na nossa sensibilidade."

Infelizmente, a sonata a que Landowska se refere não está no cd, mas há várias outras sonatas que realmente, com suas bruscas mudanças de temas, com seus contrastes (e repletas de criatividade), dão "asas à imaginação". De fato, muitas obras de grandes compositores ganham posteriormente nomes por causa daquilo que elas parecem sugerir ao ouvinte, o que não era necessariamente a intenção do compositor.

Para quem não sabe, Roberto de Regina é aquele senhor que, num outro cd muito bom em que toca a obra completa para cravo de Rameau, aparece na capa vestido com roupas de época (como também no cd de Scarlatti) e apontando para um galo, que está no seu colo, como se estivesse discutindo com ele. O sujeito não tem nada de louco.

Roberto de Regina foi o grande maestro da Camerata Antiqua de Curitiba, e montou ali grandes obras. Tem várias delas gravadas também. O sujeito é bem simpático e de louco não tem nada!
Vale à pena comprar os discos com ele tocando cravo. Se não me engano, é ele mesmo quem constrói (!!) os instrumentos, no Rio de Janeiro.

Scarlatti não compôs uma sonata baseada num "tema" que o seu gato "tocou" ao passar pelo teclado do cravo?

Qual será a razão para Pieter-Jan Belder usar órgão e pianoforte em algumas sonatas? Não deve ter sido uma escolha arbitrária. Será por causa da sonoridade de algumas sonatas? O pianoforte seria utilizado em sonatas mais tardias? Não sei ao certo, mas creio que não deixa de ser um anacronismo utilizá-lo em Bach, Handel e Domenico Scarlatti (os três nasceram em 1685 - Ô ano bom!!!).