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Samurais

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Mensagem por Lobo do Leste 23/1/2024, 14:41

Já tinha lido sobre isso antes e queria comentar, mas como o mestre acima disse tudo e até se estendeu um pouco, vale lembrar só uma coisa: os japoneses sempre foram um povo com um pequeno porte físico, naquela época então... eles também viviam fechados em suas ilhas, sem contato com outros povos, não se desenvolviam fisicamente nem estrategicamente. Eram um povo dividido que vivia com guerras internas e não dominavam grandes máquinas de guerra, de fato, as derrotas dos mongóis e chineses se deveram em sua maior parte à tempestades e tufões sem falar das dificuldades de terreno e alimentação que a ilha oferecia, os japoneses raramente recuavam e isso causava muitas mortes dentre seus exércitos, e é importante lembrar, ou seja, como povo, eles não estavam protos para enfrentar os invasores.
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Mensagem por Sir Galahad 23/1/2024, 14:42

Mas o japoneses sào mestres armeiros mesmo

Poucos meses após o primeiro contato (pacífico) com armas de fogo e portugueses, os japoneses já começaram a fabricar as suas em Tanegashima, a ilha deu nome aos primeiros mosquetes no Japão. Mas houve mita resistência dos tradicionalistas, as armas de fogo de então realmente tinham mitas limitações frente ao arco e por muito tempo os japoneses custaram a integrar as armas de fogo as suas táticas. Em Sekigahara houve corpos pequenos de mosqueteiros. No cerco final a Osaka (1600) também. Mas as armas de fogo só foram realmente bem aceitas e usadas com a ocidentalização (1868).
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Mensagem por Eremita 8/2/2024, 02:07

As origens do povo e da cultura japonesa

O Japão possui uma cultura extremamente rica e fascinante, formada por uma combinação única de vários fragmentos culturais trazidos do exterior com a cultura naturalista e ritualística interna, cujo desenvolvimento tão peculiar foi possível por causa do isolamento geográfico do arquipélago japonês. Esse mesmo isolamento também foi responsável pela formação do povo japonês, que igualmente é resultado de uma miscigenação genética, que isolada no arquipélago gerou um povo único e homogêneo.


O Japão, cujo nome oficial é Nippon, que significa “terra do sol nascente”, é um arquipélago do extremo oriente composto por quatro grandes ilhas alem de centenas de outras menores. Seu território é bastante hostil, possui em torno de 70% de sua superfície inabitável. Atualmente é formado por um povo homogêneo geneticamente e com uma cultura extremamente rica e muito singular, bem distinta de seus vizinhos asiáticos que tanto contribuíram para sua formação cultural.


Pesquisas arqueológicas afirmam que existem vestígios de que o território japonês já era ocupado durante o período Paleolítico. O Japão era conectado ao continente asiático durante as eras glaciais por faixas de terra depois convertidas em estreitos, o que possibilitava as migrações para o arquipélago.


Com o fim da glaciação de Würm, por volta de 15.000 anos a.C. houve um gradual aumento das temperaturas em todo o globo que durou até 3.000 a.C., o Japão desligou-se do continente asiático, ficando sujeito ao seu atual isolamento geográfico. O clima mais quente acabou propiciando um grande enriquecimento de toda a fauna e a flora.


Após o período conhecido no arquipélago como “pré-cerâmico”, que era habitado por grupos de caçadores-coletores que produziam artefatos de pedra lascada, surge o fascinante período Jomon (8.000 a 300 a.C.), que é marcado pelo início das atividades ceramistas, pela fabricação de artefatos de pedra polida refinados e pelo desenvolvimento de técnicas de caça avançadas, como o arco-e-flexa. Os “Jomons” eram grupos de caçadores-coletores que apesar de fabricarem objetos de cerâmica, não eram agricultores, viviam exclusivamente da caça, da pesca e mariscos e da coleta de frutos e raízes. Seus assentamentos eram semi-sedentários e formados por aglomerados de cabanas semi-subterrâneas com teto de colmo, cujo interior possuía uma fogueira. Foi o grupo que fabricou as mais antigas cerâmicas do mundo. Conforme Jarod Diamond, foi no Japão que há 14 mil anos surgiram as primeiras cerâmicas do mundo, de acordo com ele, a cerâmica “pode ter surgido a partir de observações do comportamento da argila, um material natural muito comum, quando seca ou aquecida” (1). A técnica de produção cerâmica ocasionou uma melhoria nas condições de vida, possibilitando aos Jomons cozinhar os alimentos, armazená-los e o transportar água durante seus deslocamentos, além de marcar o início de uma bela produção artística no Japão, como pode-se perceber nos vasos cerâmicos da época, que já identificam uma notável vontade de não somente produzir os artefatos para sua utilidade mas também como manifestação artística. Muitas peças eram decoradas através de impressão com cordas, ramos ou bambu no barro ainda mole.


Por volta de 250 a.C a difusão de novas técnicas de olaria e das primeiras técnicas de plantio marcam uma nova época cultural, conhecida como período Yayoi. Eram grupos agricultores, cujo cultivo principal era o de arroz, trazido do sul China, onde era cultivado na bacia do Yangzi desde o ano 5.000 a.C., de onde provavelmente, pequenos grupos levaram esta nova cultura para o oeste do Japão, onde foi adotado primeiramente como suplemento esporádico de alimentação. Com o decorrer do tempo o papel da cultura do arroz foi aumentando até se tornar extremamente importante na alimentação do povo, o que ocasionou em profundas implicações sociais. Como o arroz pôde sustentar altos níveis de população, o período Yayoi foi marcado também por um grande aumento populacional. Além da agricultura, os Yayoi já confeccionavam tecidos produzidos com fibras vegetais, faziam sinos cerimoniais de bronze e armas de metais.
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Mensagem por Eremita 8/2/2024, 02:07

O Japão sempre foi capaz de tirar proveito das culturas que teve contato no decorrer da história, mas sem nunca substituir sua cultura interna e seus próprios valores. “Como o Japão é uma ilha, o mar o protegeu – nunca foi invadido com sucesso – e ajudou a alimentar seu povo (...) por um longo tempo o Japão foi capaz de extrair do exterior o que precisava, enquanto mantinha afastado o que não precisava”. (2). Sua região possui relevo e clima bastante hostis, com constantes catástrofes naturais como tufões, terremotos, maremotos e vulcões, além disso, somente 20% de seu território é propício para agricultura. Todas estas dificuldades, unidas à característica inerente de se esforçar ao máximo para enfrenta-las, contribuíram para gerar um povo extremamente disciplinado e com uma incrível capacidade de administrar problemas e situações das mais diversas gravidades.


Devido ao isolamento geográfico do resto da Ásia, a história do Japão apresenta características distintas com uma forte cultura nativa de um homogêneo grupo étnico. Muitas pessoas acreditam que a origem do povo japonês é a China, mas essa crença é completamente errada, o que prova isso é a existência de diferenças básicas na linguagem, no governo e nas crenças religiosas e filosóficas quando os dois povos entraram em contato na primeira vez. Na realidade o povo japonês é resultante de uma miscigenação de diversas raças, sendo que as que mais contribuíram para sua formação foram os mongóis amarelos que invadiram o arquipélago, os brancos que vieram do norte e de acordo com evidências lingüísticas, os polinésios. Estudos antropológicos recentes sugerem uma imigração da Sibéria via Coréia e/ou Polinésia como ancestrais dos mais antigos assentamentos japoneses. Atualmente, a teoria predominante da origem do povo japonês é de que ele surgiu da miscigenação do homem Jomon com estes migrantes.


Essa miscigenação em uma região isolada como o arquipélago japonês, depois de milênios acabou formando uma etnia praticamente homogênea, assim surgindo o povo nativo do Japão cujo esse mesmo isolamento geográfico que garantiu a formação da sua etnia, garantiria durante milhares de anos sua estabilidade genética.


Mesmo quando os primeiros povos imigrantes chegaram no arquipélago japonês, um povo de origem desconhecida já ocupava boa parte da região: os ainos. Assemelhando-se mais aos ocidentais que os orientais, os ainos eram muito diferentes dos atuais japoneses. Eram brancos, possuíam olhos redondos com pestanas onduladas, cabelos grossos e crespos, o que lembra muito mais um caucasiano do que um japonês, o que leva a crer que um povo de descendência caucasiana deve ter migrado para o extremo oriente há milhares de anos. Nos registros antigos japoneses, os ainos eram chamados de Emishin ou Ezogin. No decorrer das invasões e imigrações para o arquipélago, os nativos ainos, foram sendo empurrados cada vez mais para o norte, acabando por estabelecer como refúgio a ilha de Hokkaido, também chamada no passado de Ezo, daí a denominação para o povo aino de Ezogin.


Em relação ao restante da Ásia a pré-história japonesa durou bastante tempo, só terminando no século VI, quando através do estreitamento de laços culturais com os outros países asiáticos, chega ao país a escrita ideográfica chinesa (que ficaria conhecida como Kanji) e as religiões confucionistas e budistas, que exercem uma duradoura influência no povo nipônico até hoje.


Os registros escritos mais antigos da história japonesa, são duas crônicas semi-míticas, que explicam como a terra e o povo do Japão foram criados pelos deuses, o Kojiki (registro de assuntos antigos), compilado em 712 d.C., e o Nihon shoki, ou Nihonji (crônicas do Japão), compilado em 720 d.C. Além de contar sobre a criação da terra, conta também os sucessos do período entre os séculos VII a.C. e VII d.C. Juntamente com fontes chinesas e coreanas são as principais fontes da historia antiga nipônica. Mas os primeiros documentos a mencionar o Japão são as crônicas oficiais chinesas da dinastia Han, essas crônicas descrevem um Japão repleto de numerosos estados em 57 d.C., com uma sociedade de organização hierárquica bastante desenvolvida e marcada por um comércio de intercâmbio. As peculiares características geográficas de relevo variado e acidentado foi o responsável por dividir o arquipélago nestes numerosos pequenos estados, que se diferenciavam em características próprias, cada um com distintos dialetos e inclusive diferentes deidades.
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Mensagem por Eremita 8/2/2024, 02:08

Bierlein em seu livro “Mitos Paralelos” descreve o mito japonês da criação, retirado da história mítica do Japão descrita na crônica semi-mítica chamada de Kojiki:

No início não havia nada, a não ser um vasto mar oleoso do Caos, que continha uma mistura de todos os elementos. Havia três espíritos ou “kami” no céu, que olharam para o mar e decidiram que um mundo devia ser criado. Os espíritos produziram muitos deuses e deusas, incluindo Izanagi (“o macho que convida”) e Izanami (“a fêmea que convida”). Izanagi recebeu uma lança mágica incrustada com jóias para esta obra. Izanagi e Izanami desceram dos céu e Izanagi mexeu a lança dentro do mar. Quando ela a retirou do Caos, algumas gotas coagularam na ponta da lança. Então as gotas caíram de volta no mar, onde formaram uma ilha. (3)


De acordo com Bierlein em seu livro, os dois deuses, Izanami e Izanagi começaram a criar, então, as ilhas do arquipélago nipônico e muitos elementos da natureza, como as cachoeiras e as montanhas. Mas quando Izanami criou o espírito do fogo, este queimou seu coração e ela adoeceu, do seu vomito nasceu o príncipe e a princesa da fonte de todas as minas: a montanha de metal. “Suas fezes se tornaram argila, e sua urina, o Espírito da Água Fresca.” Enquanto Izanami descia na Terra da Noite, Izanagi chorou e a implorou para que ela voltasse, mas ela não podia, pois tinha comido alimentos do mundo inferior. Então Izanagi decidiu ir até ela na Terra da Noite. Quando chegou, ficou tão aterrorizado com a imagem de sua esposa apodrecendo que saiu correndo imediatamente. No seu caminho, muitas outras coisas foram criadas como as vinhas e os brotos de bambu. Depois da fuga, Izanagi estava muito cansado e refrescou-se tomando banho num rio para limpar-se das impurezas da terra dos mortos, enquanto banhava-se, muitos deuses e deusas foram produzidos como Tsukiyomi-no-Mikoto, quando lavava o olho direito, Susano-O, o deus da tempestade, lavando o nariz e quando lavava o olho esquerdo nasceu a deusa sol Amaterasu Omikami (a mais venerada divindade do panteão Shinto até hoje), ancestral do primeiro imperador.


De acordo com essas fontes no século V o governo japonês já era centrado num imperador, Jimmu Tenno, que em ordem de legitimar seu trono, havia comissionado coleções de poemas mitológicos que afirmavam que ele era descendente da deusa sol Amaterasu Omikami, via seu neto Niniji, o qual clamou ser um ancestral da regente família imperial.


Cavaleiros vindos da Mongólia invadiram o Japão por volta de 250 d.C. e tomaram o controle do país. O que teria sido o primeiro imperador de um estado consolidado no Japão, o lendário Jimmu Tenno, estabeleceu a famosa dinastia Yamato e aos poucos conseguiu reunir a maioria das regiões do arquipélago num estado, o estado Yamato, consolidando seu poder criando uma forma primitiva de xintoísmo, que além de religião servia de instrumento político. Iniciou-se assim, uma linhagem imperial que chega até o presente numa linha ininterrupta totalizando 125 monarcas. Segundo o historiador J.M.Roberts (4), às vezes a continuidade dessa linhagem era ajudada pela adoção.


As classes dominantes desse primeiro governo japonês eram compostas de clãs tribais, “principais unidades da sociedade japonesa, assim como da chinesa” (5), que eram os proprietários de terra, chamados em japonês de Uji. Os Ujis, por sua vez, eram compostos de integrantes de ancestralidade em comum, que muitas vezes, possuíam divindades protetoras distintas das de outros Ujis. Eles lutavam entre si, faziam alianças através de casamentos e recebiam titulações conhecidas como kabane, de acordo com sua validade e serviços prestados no estado Yamato. Os chefes eram chamados de Okimi, cujas responsabilidades, além de governar soberanamente o clã, eram de executar os rituais tribais, invocar suas divindades, conhecidas como kamis, e dirigir os cultos aos ancestrais. Ou seja, os chefes tribais eram ao mesmo tempo os líderes sociais e religiosos.


Os clãs reuniam uma comunidade trabalhadora, que recebe o nome de be. Eram grupos semi-servis que executavam as tarefas gerais dos clãs, composta de grupos trabalhadores especializados em tarefas distintas, como os pescadores, tecelões, produtores de armas e papes, entre outras atividades, sendo o maior grupo os compostos por cultivadores de arroz, conhecidos por tanabe. Bem abaixo dos grupos trabalhadores encontravam-se os escravos (yatsuko) que eram prisioneiros de guerra ou descendestes de tal.
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Mensagem por Eremita 8/2/2024, 02:08

Na época Yamato eram construídos gigantescos túmulos, alguns tão grandes como as pirâmides do Egito, dentro dos quais eram depositadas peças de barro denominadas Haniwa, cuja forma representava seres humanos e animais. Nessa época a pratica do junshi, uma espécie de suicídio ritual japonês no qual quando os grandes chefes de clãs morriam eram acompanhados pelo enterro também de muitos de seus parentes era um costume comum. A pratica durou muito tempo, e era comum em muitos paises como a China, a Babilônia e a Índia (onde, muitas vezes, as mulheres eram cremadas vivas após a morte de seus maridos). O costume foi abolido por volta do século V pelo imperador Suinin, que substituiu os familiares pelas magníficas estátuas de terracota, que simbolizavam as pessoas que provavelmente faziam parte da vida do morto. Mas mesmo depois da abolição o costume do acompanhamento voluntário na morte continuou.


O príncipe Shotoku Taishi, governando em nome de sua tia, a imperatriz Suiko, restringiu o poder dos clãs decretando no ano 604 d.C. uma série de normas com o fim de fortalecer a unificação do estado, criando a primeira constituição do Japão. Com sua morte em 622 d.C. inicia no Japão uma sangrenta guerra civil que só terminou em 645 com o fim do grande clã Soga, que havia sido derrotado por seus adversários. Com o fim de construir uma nação sólida, foi dado início a uma reforma política onde, através de consultas a japoneses que tinham ido estudar na China, foi estabelecido o sistema político então vigente nesse país, que na época estava na dinastia Tang. Essa reforma, que ficou conhecida como Reforma Taika, consistia entre outras ações, a sujeitar todas as terras, a população e os clãs ao governo central. As terras da família imperial e dos clãs foram transformadas em propriedade pública, o serviço militar tornou-se obrigatório e os fazendeiros ficaram obrigados a pagarem impostos. Todo esse estreitamento com a China foi uma das mais importantes eras para o Japão. Foi um período marcado por um grande florescimento cultural, religioso e artístico, na qual as tradições budistas e confucionistas vindas da china, estavam em alta, e unindo-se as tradições xintoístas japonesas foram responsáveis por um estrondoso desenvolvimento cultural que marcou a cultura japonesa para sempre. Magníficos templos budistas de incrível valor artístico foram construídos, a escrita chinesa (kanji) , adaptada para escrever o idioma japonês começou a ser amplamente disseminada e a literatura iniciou seu florescimento, o Japão tornou-se o extremo oriental da Rota da Seda, as regras confucionistas começaram a serem usadas como um caminho para a retitude, a honra, estabelecer a ordem e para governar o império. Foram enviadas cinco missões, compostas por estudiosos e monges à China, para que com isso o Japão fosse capaz de absorver este novo sistema político e cultural bem mais avançado.


A China possuiu um papel excepcional e indiscutível na formação cultural japonesa. Muitos dos avanços culturais que foram de grande importância na história do desenvolvimento do povo e da cultura japonesa vieram da China, como o arroz, a escrita, a metalurgia do bronze, o trigo, a cevada, o budismo, o confucionismo, o sistema político, entre outros. Para se ter uma idéia de como o prestígio da cultura chinesa, o Japão até hoje não planeja descartar seu sistema de escrita derivado do chinês, mesmo com todas as desvantagens do sistema em representar a língua japonesa falada, bem distinta da chinesa. Certamente a China influenciou amplamente a cultura japonesa, mas não é correto acreditar que todos os progressos culturais do Japão partiram do exterior. Conforme o historiador britânico J.M. Roberts:


Tudo isto pode dar a impressão de que o Japão tomou emprestado tudo o que o transformou numa nação civilizada. Dada a magnitude da China T’ang e à freqüente evidência da influência budista na arte japonesa, seria fácil compreender se isto fosse verdade, mas de fato isto não é assim: as raízes do governo e da civilização japonesa é interna. (6)
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Mensagem por Eremita 8/2/2024, 02:09

Realmente o Japão aproveitou o que vinha de fora, que acreditava ser útil para o país, mas essa cultura exterior foi adaptada à cultura nativa do Japão, muitas vezes gerando uma rica cultura interna, como é o exemplo do zen-budismo, filosofia que preocupa-se exclusivamente com a idéia de iluminação pessoal, e que possui a crença, herdada do taoísmo, de que as palavras de maneira alguma poderiam expressar a verdade absoluta. Fridjof Capra, que passou anos estudando filosofias orientais, cita o Zen como “um modo de vida tipicamente japonês, muito embora reflita o misticismo indiano, o amor taoísta a naturalidade e a espontaneidade e o sólido pragmatismo da mente confucionista” (7).


Mesmo na arte, apesar do Japão não se afastar do modelo chinês, com o tempo os artistas japoneses acabaram formando uma imagem própria, que diferente da intelectual e lírica arte chinesa, consistia numa abordagem muito mais naturalista, de caráter simples e perfeitamente harmoniosa, como os arranjos florais (ikebana) , o paisagismo, as árvores em miniatura (bonzai) , ou as magníficas espadas japonesas (katana) .


Jarod Diamond também confirma a idéia de que o papel da China na cultura japonesa, mesmo com toda a sua importância, também não deve ser exagerado ao ponto de acreditar que o Japão não desenvolveu nada próprio:


Ao descrever o papel da China na civilização asiática oriental, devemos tomar cuidado para não exagerar. Não é fato que todos os progressos na Ásia oriental partiram da China e que os coreanos, japoneses e asiáticos do sudeste fossem bárbaros tacanhos que não deram nenhuma contribuição. O japonês antigo desenvolveu uma das cerâmicas mais antigas do mundo e estabeleceu-se como caçador-coletor em aldeias, sobrevivendo dos ricos recursos do mar do Japão, muito antes da chegada da produção de alimentos. Certas plantas provavelmente foram domesticadas primeiramente no Japão, na Coréia e no sudeste da Ásia tropical. (8 )


Mas não há como comentar sobre cultura desenvolvida internamente no Japão sem citar a numerosa classe guerreira que tanto colaborou para a formação cultural japonesa vista hoje: os samurais. Emergindo aos poucos como classe guerreira no Japão, os samurais através de seus ideais de honra, devoção e patriotismo logo começaram a servir de inspiração para o restante dos japoneses. Eram guerreiros que viviam, lutavam e morriam pela honra. O termo samurai possui origem chinesa e significa tanto na China como Japão “aquele que serve”, o que representa o ideal primeiro de um samurai, o de servir honrosamente ao seu senhor e ao seu país. “A guerra japonesa anterior envolvia combates isolados entre samurais, que ficavam ao ar livre, faziam discursos rituais e se orgulhavam de lutar elegantemente” (9). Alem de serem exímios guerreiros, os samurais eram muito cultos, sabiam ler e escrever, conheciam bem a matemática, pintavam e escreviam poemas.
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Mensagem por Eremita 8/2/2024, 02:10

O Bushido, que significa “Caminho do guerreiro” (Bushi=guerreiro, Do=caminho) era o código de honra que devia ser seguido por todos os samurais. Composto de um conjunto de regras de ética passadas oralmente, fornecia os parâmetros para que o guerreiro pudesse viver e morrer com honra. O bushido também foi profundamente influenciado pela China. As crenças Budistas de vida após a morte contribuíram para o código fornecendo ao Samurai a falta de medo perante os perigos e a morte. Outra grande contribuição do budismo ao bushido foi a idéia de desapego, os samurais não possuíam apego as coisas materiais. Estes conceitos fizeram com que os samurais aos poucos abandonassem as matanças sem sentido, fazendo com que, inclusive, alguns se tornassem monges quando perceberam o quão infrutífero as matanças que realizavam eram. A meditação Zen tornou-se muito importante, fornecendo ensinamentos sobre como acalmar a mente e manter a paz. Mas a tradição que mais influenciou o bushido samurai, talvez pelo fato de a base intrínseca do samurai ser o ato de servir, foi certamente o Confucionismo que veio da China junto com o Budismo no início do século XII, ressaltando as relações sagradas de dever do samurai perante seu país, senhor, terra, sociedade, amigos e família, mostrando a importância da honra e da retidão para o caráter de um homem, além do cumprimento do dever a qualquer custo. As influências das filosofias chinesas certamente tiveram uma gigantesca e indiscutível contribuição no modo de pensar dos samurais e consequentemente do povo japonês, mas o Xintoísmo nacional também teve importância na formação do bushido através dos preceitos xintoístas de lealdade, patriotismo e reverência aos antepassados. Outras virtudes pregadas pelo bushido são a justiça, a benevolência, o amor, a sinceridade, a honestidade e o autocontrole.


Qualquer desrespeito às regras do bushido proporcionava uma imensa vergonha a um samurai, de maneira que somente o suicídio ritual poderia restaurar sua honra. O suicídio ritual dos samurais é conhecido como “seppuku” e consistia em uma morte muito dolorosa, na qual o samurai, ritualisticamente, cortava seu próprio ventre em forma de cruz ou “L” até que as vísceras fossem expostas Após isso ocorrer, um outro samurai previamente escolhido lhe decepava a cabeça a fim de acabar com a dor. Tirando sua própria vida desta maneira acreditava que a sua honra estaria reconstituída. A exposição de suas vísceras e uma morte tão dolorosa mostrava até que ponto podia ir a sua honra e simbolizava que ele estaria oferecendo seu interior para ser purificado.


Os samurais utilizavam em combate muitas armas, mas a que mais ficou marcada na história foi a katana, uma espada que representava o espírito do samurai. No início as espadas japonesas eram meras cópias das chinesas, que eram retas e possuíam cortes em ambos os lados. Conforme uma lenda, um ferreiro chamado Amanuki desenvolveu a katana cerca de 700 d.C., mas o primeiro vestígio que se tem da utilização da katana é de cerca de 900 d.C. Produzida cuidadosamente com aço-carbono, era bem distinta das espadas chinesas, possuíam curvatura e corte somente em um lado da lamina, a empunhadura era coberta com couro e um magnífico trançado de seda. Sua fabricação era considerada uma arte sagrada e poderia durar dias.


A katana era manuseada tanto com uma como com ambas as mãos, dependendo do estilo de esgrima, que variava de clã para clã. Um dos estilos que ficou mais conhecido é o do clã Nitto-ryu, no qual utilizava-se uma técnica conhecida como “dois céus”, onde se manuseava duas espadas ao mesmo tempo, uma técnica desenvolvida pelo famoso samurai e estrategista militar Miyamoto Musashi, autor do “livro dos cinco anéis”, que reúne o conjunto de suas técnicas. Durante muito tempo no Japão somente os samurai podiam carregar espadas. Os japoneses conferiam um enorme valor às katanas, que envolveu e muito da cultura japonesa, onde foram desenvolvidos diversos métodos complexos e ritualísticos de se carregar, manusear, limpar, afiar ou até guardar uma espada. A espada era tão importante para os samurais que mesmo depois das armas de fogo terem chegado ao Japão em 1543, trazidas por dois aventureiros portugueses, só foram totalmente aceitas após 1853 quando uma frota americana convenceu os japoneses de como era importante para sua segurança retomarem a fabricar armas.
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Mensagem por Eremita 8/2/2024, 02:10

No decorrer do tempo, os samurais foram ganhando muita importância e influência no governo japonês, até que em 1192, o samurai Yoritomo Minamoto se tornou o primeiro Xogun, responsável pela segurança governo do país, dando início a um importante período da história japonesa conhecido por Xogunato. Marcado por sangrentas batalhas, cujo objetivo principal era o de reunificar o país ao controle do governo central, o xogunato foi um período onde os samurais ocupavam o topo da hierarquia social no país. O período manteve o Japão durante 700 anos sob o comando de três clãs, mas talvez o mais significativo para compreender o desenvolvimento peculiar da cultura japonesa tenha sido a dinastia Tokugawa, pois as mudanças aplicadas nesse período influenciaram extremamente a cultura do Japão. Na era Tokugawa, o Japão foi completamente fechado para os estrangeiros, que eram considerados más influencias para o país. Em 1633 foram proibidos a entrada de navios vindos do exterior e também a saída de japoneses para fora do arquipélago, o que só foi possível devido a ilha ser populosa e isolada. O Japão permaneceu isolado do exterior durante anos, o que permitiu que a cultura interna japonesa se desenvolve-se, florescesse e se consolidasse livre de influencias externas, e permitiu ainda, que os antigos hábitos japoneses fossem preservados e fortalecidos. Quando as portas do Japão foram novamente abertas na segunda metade do século XVIII, ele já era completamente distinto de todas as civilizações que o influenciaram e possuía uma cultura rica e consolidada.


Uma das bases para um desenvolvimento tão peculiar da cultura japonesa foi certamente o seu isolamento geográfico, que possibilitou o Japão a absorver culturas do exterior, principalmente da China, mas mantendo suas bases culturais nativas, ele pode assim mesclar essas culturas produzindo uma própria, sólida e distinta das demais. Contudo o pensamento nativo japonês constitui a base de todo o desenvolvimento cultural do Japão no decorrer da história e ainda hoje. Ele é apoiado na extrema importância dada não ao fim, e sim na maneira como as coisas são feitas, em todos os mínimos detalhes envolvidos, o que diferente do pensamento ocidental. Toda a produção cultural no Japão é baseada nesse pensamento, desde a ritualística forja de uma espada katana até o traço firme de um ideograma. Tudo o que era absorvido pelo país, foi ganhando vida e identidade própria através dessa ideologia japonesa. Esse característico modo de pensar japonês desenvolveu um país extremamente cerimonial cuja cada obra realizada era produzida com a máxima perfeição possível.


Notas:

(1) DIAMOND, Jarod. Armas, germes e aço – os destinos das sociedades humanas. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004, p.255.

(2) ROBERTS, J.M. O livro de ouro da história do mundo. 13. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004, p.333.

(3) BIERLEIN, J.F. Mitos paralelos. 2. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003, p.70.

(4) ROBERTS, J.M. Op. cit., p334.

(5) ROBERTS, J.M. Op. cit., p.334.

(6) ROBERTS, J.M. Op. cit., p. 334.

(7) CAPRA, Fritjof. O tao da física. São Paulo: Cultrix, 1983., p.95.

(8 ) DIAMOND, J. op. cit.

(9)DIAMOND, J. op. cit. , p.258.


Referências

BATH, S. Japão: Ontem e Hoje. São Paulo: Ática, 1993.

BIERLEIN, J.F. Mitos paralelos. 2. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.

CAPRA, Fritjof. O tao da física. São Paulo: Cultrix, 1983.

DIAMOND, Jarod. Armas, germes e aço – os destinos das sociedades humanas. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Japão : Passado e Presente. São Paulo: Aliança Cultural Brasil-Japão, 1997.

ROBERTS, J.M. O livro de ouro da história do mundo. 13. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.

YAMASHIRO, J. História da Cultura Japonesa. São Paulo: IBRASA, 1986.
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Mensagem por Eremita 8/2/2024, 02:26

Bushidô: O Caminho do Guerreiro

"Estável como uma montanha, ataque como fogo, firme como uma floresta, rápido como o vento. Na terra e no céu, eu, sozinho, estou para ser respeitado."
— Lema na bandeira de guerra de Takeda Shingen (1521-1573)


Quando pensamos na história do Japão medieval, a primeira imagem que nos vem à cabeça é a figura do samurai. Semelhantes em muitos aspectos aos cavaleiros medievais da Europa, os samurais influenciaram em todos os aspectos a cultura nipônica, não só no que diz respeito à área militar, mas também na política, cultura e modo de vida.


Cercado de mitos e lendas, muitas vezes mescladas à realidade, os samurais eram vistos como os guerreiros supremos, que enfrentavam a morte de frente para defender os interesses da honra e da coragem. Como vassalos, seu dever supremo consistia exclusivamente em defender os interesses de seu senhor e lembrar sempre da honra de poder colocar a sua vida a serviço de um grande feudo, de glorioso passado, e onde seus antepassados também serviram com dedicação a virtuosos senhores.


Entretanto, a classe samuraica nem sempre foi vista como uma classe guerreira. A palavra samurai deriva-se do termo saburau ou saburai-bito, que em íntegra, significa: “sevir, seguir o senhor ou acompanhar um superior para servi-lo” (YAMASHIRO, 1993. p. 29)


Inicialmente, era designado de saburais aqueles que serviam na corte palaciana, principalmente aos interesses da imperatriz ou das concubinas do soberano. Entretanto, apesar de sua posição não ser a de um simples serviçal, ainda não era designado como pertencente à carreira militar, ou seja, exerciam funções civis.


A partir de 797 d.C., o termo samurai (ou ainda bushi, bujin, buke, mononofu etc.) já passa a ser associado a guerreiros adestrados na arte militar. Mas ainda não se constituem como uma casta com interesses próprios, como mercadores ou artesãos.


Essa situação não tardaria a ser modificada. Nos séculos que se seguiram, as grandes famílias samuraicas conseguiram mudar sua posição de servos militares dos grandes senhores para se tornarem eles próprios os grandes senhores. Com o poder da espada, os samurais conseguiram se apoderar do controle sobre o Japão.


Dentro destas grandes famílias samuraicas, surgiu o germe para o crescimento dos poderosos clãs e Daimyos. Estes grandes feudos advinham das mais antigas, as mais "nobres", ou simplesmente as mais cruéis entre as muitas famílias de Samurais. Neste período, somente o poder da espada garantia a sobrevivência do mais forte. E mesmo imersos em constantes lutas, os samurais deveriam seguir um código de honra. Muitos – a maioria, na verdade – o seguiam até a morte. Esse código era chamado bushidô, "o caminho do guerreiro".
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