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Música Renascentista e Barroca

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Mensagem por Arcano 11/6/2019, 00:32


Beeeeeem...

não entendo nada do assunto pesquisa de música antiga, assim posso ser impreciso, mas os intervalos de quintas e quartas são ''medidos'' desde a antiguidade pelo seu aspecto físico. O intervalo de quinta ou, para ser mais exato, de oitava mais quinta, pode ser obtido simplesmente prendendo uma corda na exata terça parte da sua extensão.

Se pegamos uma corda homogênea e criamos um ''nó'' exatamente no centro, ela toca a oitava de sua fundamental (primeiro harmônico). Se a partir desta nota base colocamos este ''nó'' na terça e quarta parte, temos uma quinta acima do primeiro harmônico (segundo harmônico) e uma quarta acima do segundo (terceiro harmônico). Assim a ''noção auditiva'' destes intervalos certamente é conhecida desde a antiguidade (na verdade, Pitágoras cansou de brincar com coisas assim). Logo, os intervalos de quinta e sua inversão, a quarta, são muito óbvios de serem obtidos.

Os harmônicos soam na verdade um pouco mais altos do que deveriam soar matematicamente. Eles só soariam matematicamente perfeitos naquilo que os físicos chamariam ''corda ideal'', ou seja, uniforme, sem massa nem espessura, perfeitamente unidimensional. Coisas de físicos...

Talvez tudo que eu falei aqui seja óbvio para a grande maioria. Quando a gente se aprofunda numa matéria (Matemática no meu caso) pode perder um pouco a noção do que é de conhecimento geral.

Caso eu só tenha enchido espaço, peço desculpas. Abraços.
Arcano
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Mensagem por Necromante 11/6/2019, 00:46


Nunca seria possível reproduzir a maneira exata como se tocava àquela época. Muitas águas já rolaram, nosso ouvido está cheio de outras coisas e não seria possível fazer música igual ao que eles faziam. Há o exemplo clássico das Big Bands americanas: no começo dos anos 90 (ou final dos anos 80, por aí) uma gravadora americana reuniu alguns músicos que chegaram a fazer parte da orquestra de Glenn Miller - que foi o rei das Big Bands no final dos anos 30/começo dos anos 40 - para regravar músicas que fizeram sucesso àquela época. O que se desejava era que o resultado fosse rigidamente fiel à maneira como se tocava então. Mesmo assim não conseguiram reproduzir a sonoridade "daquelas" orquestras de outrora. Pois bem, se este exemplo é de uma música que se fazia há + - 60 anos, que dizer de uma música feita há séculos?

É só uma ideia a se pensar. Até mais!
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Mensagem por Siegfried 11/6/2019, 00:48


De maneira nenhuma Arcano, pra mim isso é uma imensa bruma, e não é nada óbvio! Isso que você disse é muitíssimo interessante. Eu sabia da importância de Pitágoras, mas nunca tinha ouvido uma explicação tão "acessível".
Siegfried
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Mensagem por Arcano 11/6/2019, 00:54


Embora eu tenda a concordar com Necromante, não sei quais são os critérios de pesquisa, nunca esmiucei o assunto, e creio muito na capacidade de pessoas estudiosas que, com poucos elementos a analisar, constroem às vezes uma teoria sólida. Ainda na Grécia antiga um homem calculou o diâmetro da Terra com bastante precisão. Como ele o fez? Pela diferença de ângulo de sombra de dois bastões do mesmo tamanho, fincados em cidades diferentes... Às vezes com poucos elementos e uma linha sólida de raciocínio a gente pode chegar a conclusões difíceis de ser explicadas depois!
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Mensagem por Arcano 11/6/2019, 00:55


Obrigado pelas suas palavras, Siegfried. Eu estudei Matemática e não gosto muito da tendência de algumas pessoas de a tornarem obscura. Fico feliz se ajudei.
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Mensagem por Siegfried 11/6/2019, 01:00


Já li que nos primórdios da "pauta musical", o semitom era marcado com uma cor diferente entre os sinais (ou neumas). A noção de tom e semitom também é facilmente descrita matematicamente? Ou seria talvez por decomposição dos intervalos justos, uma quarta = 2 + 1/2 tons?
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Mensagem por Arcano 11/6/2019, 01:09


Matematicamente qualquer coisa é descrita facilmente, caro Siegfried. Em termos físicos a gente demora um pouco para achar um tom inteiro como dois harmônicos consecutivos.

A gente pode montar uma Progressão Geométrica dentro da oitava temperada e encontra a razão da distância entre dois semitons quaisquer, mas para nosso fins práticos ''auditivos'' isto não ajuda em nada.

Existem coisas sendo pesquisadas a respeito do nosso sistema tonal que vão um pouco mais longe. Buscam estabelecer uma relação entre o sistema pentatônico, o sistema tonal ocidental com 12 semitons e a escala oriental que, segundo uma pessoa me disse, teria 81 notas em uma oitava. Esta pessoa conhecida minha escreveu coisas a respeito, envolvendo um pouco de metafísica junto com a Física e a Matemática. Mas ele agora está idoso e se desinteressou em seguir adiante na pesquisa, e não deixa ninguém chegar muito perto dos papéis... eu adoraria revisar este material.

Um professor me disse uma vez que existem modelos de escalas pentatônicas em diversas manifestações musicais ao redor do mundo, e todas elas seriam ''iguais'' na relação intervalar. Alguém pode me confirmar isto?
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Mensagem por sombriobyte 11/6/2019, 01:49


Muitas vezes querer reproduzir o passado pode ser inútil, ou ainda um retrocesso.

Leiam o "Discurso dos sons" de Nikolaus Harnoncourt.

Primeiramente, antes de nos perguntarmos se o Mozart do Harnoncourt soa mais como soava o Mozart do Mozart do que o Mozart do Klemperer. Deveríamos nos perguntar qual a necessidade do nosso Mozart soar como o "original", que pretensiosamente associamos a "legítimo".

O Mozart "legítimo" está associado a procedimentos que não gostaríamos de adotar ou sequer ouvir. Primeiramente, é sabido que a técnica dos instrumentos de hoje é muito melhor que a técnica do passado. Isso significaria que o Mozart de Mozart soaria inevitavelmente mais desafinado que o Mozart, tanto de Klemperer quanto de Harnoncourt. Muito provavelmente é impossível alcançar muitos desses procedimentos já que significariam um inacreditável retrocesso, que não traria nada de novo ou ao menos revelador na interpretação de Mozart.

É notória a liberdade com que os cantores (e solistas em geral) tratavam a música, editando partes, fazendo bises inesperados, inserindo notas em lugares "errados", incompreensíveis para nós mas perfeitamente condizentes para os ouvintes e para o próprio compositor, já que ele mesmo inseria "pontes" e "deixas". Isso quer dizer, também, que a interpretação do século XVIII estava inserida em um meio e era feita para esse meio. Apenas sendo um ouvinte do século XVIII é que se pode entender, por completo, a música como era tocada no século XVIII. É bobagem, pois, tentar reproduzir a música como era, pois é completamente inútil.

Espero que meus toscos comentários sejam úteis para seguir adiante essa interessante discussão.

Sds. mozartianas

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Mensagem por Trovador 11/6/2019, 13:30


Caros,

O terreno da interpretação da música antiga é um terreno caudaloso... Difícil...

Vou buscar mais informações para poder discutir, mas gostaria de salientar a complexidade dos motetos de Machaut...

Cantei um deles - dificílimo - onde eu cantava como contratenor solista (não saía do sol, lá, si ), cantando uma letra, e ao mesmo tempo, outro contratenor solista cantando outra letra. E abaixo da gente - bem abaixo - duas vozes de "cantus" para os barítonos onde eles só entoavam as notas, com som de ó... Foi complicado, mas ficou bem bonitinho...
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Mensagem por Arcano 11/6/2019, 14:05


Lembro de uma pessoa que respeito muito musicalmente que disse uma vez mais ou menos o seguinte: A Música é criada dentro de um contexto, e nela recebe uma interpretação. De nada adianta tentar ressuscitar a interpretação porque o próprio mundo mudou, as pessoas não são as mesmas, não pensam como na época.

Eu acho interessante esta linha de pensamento.

Outra discussão, que exemplifica o que estamos falando: As repetições das, por exemplo, Suítes barrocas precisam ser feitas hoje? Elas eram feitas numa época em que as pessoas não conheciam a música intimamente como a conhecemos hoje, assim serviam para que o público apreendesse melhor a obra. Hoje eu vou assistir uma Partita de Bach sabendo-a de cor e tendo ouvido umas (por baixo) 12 gravações. As repetições servem pra quê dentro desta ótica?

Minha posição: Há quem diga que tradições também importam, e eu me coloco ao lado destas pessoas.

Outra coisa: Certas obras precisam que se faça a repetição por terem longas "casa 1". Notadamente lembro dos primeiros movimentos do Octeto e da Quarta Sinfonia de Mendelssohn. Além de longos, os ritornellos são belíssimos.

Enfim, foge um pouco ao tópico, mas são discussões que acho válidas.
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Mensagem por Arcano 11/6/2019, 14:07


Agora, eu quero deixar claro que acho as pesquisas musicológicas muito úteis. Se elas não existissem, ainda se tocaria Bach no violino à Heifetz (ou Joachim). Há quem as chame de Arqueologia Musical, mas creio que sempre serão úteis como referência. A forma de se tocar Bach no violino mudou para melhor graças a elas.
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Mensagem por Siegfried 11/6/2019, 15:21


A pesquisa histórica é algo muito louco, visto que não apenas os fragmentos de música escrita são considerados, mas também o que foi escrito sobre a música nas mãos dos pensadores, e toda a realidade da época.
Não discordo do fato de termos um Bach magnificamente interpretado por grupos excelentes de música barroca, mas se você quisesse realmente ouvir o Bach como ele ouviu, você teria que procurar músicos horríveis, como os que ele tinha a disposição!
E um Machaut? Até hoje me questiono se até as notas e os intervalos eram os mesmos como na Ars Nova... rs..
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Mensagem por Alquimista 11/6/2019, 16:59


Quando estudamos qualquer peça de Bach ao piano nos deparamos com um grande problema: como executar Bach "corretamente".

Há quem diga que temos que imitar o cravo e tocar tudo "plano" (sem crescendos e diminuendos), fazendo uma dinâmica de níveis - ora forte, ora piano - sem estágios intermediários.

Há também quem diga o seguinte: se o cravo é tão bom então por que é que ele quase não é mais tocado? Por que o piano o substituiu? E sendo assim, por que não tocar Bach ao piano utilizando-se todos os recursos pianísticos à mão? Essa escolha de interpretação de Bach é muito difícil.

Há ainda mais detalhes: de que deve-se tocar a melodia que "acompanha" como "portato" (staccatto mas não tanto).

Isso está me dando problemas enormes ao criar minha interpretação da Invenção No. 14.

Pessoalmente, eu tendo a achar que deve-se executar Bach utilizando-se os recursos pianísticos, mas sem exageros e sem dinâmicas extremas: pppppppp ou fffffff. E acho também que o tempo deve ser o mais quadrado possível.
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Mensagem por Alquimista 11/6/2019, 17:02


Eis um texto de A. Owen sobre a interpretação de Bach:

(...)
MYTHS AND MYTHOLOGY

Never use the sustaining pedal in Bach.- Rubbish! In Bach's day, there was no such thing as a sustaining pedal, therefore all notes were un-damped. It is also safe to assume that the locations used for performances were very resonant (much more so than today's acoustically subdued environments), due to a lack of soft furnishings, wall paper etc.

The only rule, is that the sustaining pedal should not be used in such a way that is obscures the harmonic detail and contrapuntal flow.

Because a harpsichord cannot crescendo nor should you. - There is a grain of truth to this. (But only a grain.) This prescriptive advice supposes that crescendo and diminuendo were foreign to Bach.This is, of course, nonsense. But, because it was not within the capacity of the keyboard instruments of his day to gradually alter the dynamic, you should take into account the fact that Bach imagined and composed his music without having this option available.Remember though that you are playing on a piano, and to deliberately deny yourself access to its expressivity would be,as I have already observed, perverse!

Use "Terraced Dynamics" - DO NOT! So called "terraced dynamics", (that is loud followed by soft, without intermediate dynamic gradations), are used to imitate the abrupt changes in tonal characteristics/timbre of which an organ or harpsichord are capable. To do this in the course of a piece is wrong on almost all occasions.

There are several reasons for this:-

It is, usually, physically impractical to make rapid changes to the settings of a keyboard instrument, therefore, Bach would not/could not have done so himself.

They cut across the contrapuntal flow. It is a fundamentally harmonic technique, and Bach is a contrapuntal composer.
(...)
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Mensagem por Siegfried 11/6/2019, 17:27


Eu acho que deve-se buscar a simplicidade em Bach, evitando certos "arroubos românticos"... é bem pertinente lembrar que toda sua obra exala uma sincera religiosidade.
Agora é meio dificil definir o que é certo ou errado, cada intérprete tem sua visão. Gould excêntrico, Martins romântico, Argerich alucinada... rs...
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Mensagem por Alquimista 11/6/2019, 20:39


Vou falar um pouco do Barroco.
Dependendo do tipo de afinação (os diferentes sistemas de afinação, de temperamento que se pode optar para um cravo), as quintas justas podem ser um pouco maiores do que estas que estamos acostumados hoje, assim como outros intervalos podem ficar maiores ou menores.
E também existem as discussões se as execuções de música antiga podem ser feitas em lá 440hz ou devem necessariamente ser executadas em lá 415hz. O fato é que o Barroco é um período tão complexo e até mais que o Romantismo nas suas diferenças e descobertas. Cada compositor tinha a sua tabela de ornamentação, cada um tinha o seu sistema de afinação e cada região dentro de cada país da Europa tinha a sua particularidade musical. Por exemplo, a ópera "Orfeu" de Monteverdi que geralmente é classificada como o marco de início do Barroco, já foi interpretada e redescoberta diversas vezes de acordo com manuscritos, cartas e documentos que atestam as suas primeiras audições, orquestração, afinação, etc. Tem muita gente que realiza esta ópera com afinação 415hz só porque é música antiga, mas os documentos atestam que Monteverdi usou uma afinação superior a 440hz! E foi descoberto recentemente que ele não utilizou em sua orquestração metais, então cai por terra todo o estudo feito sobre "Orfeo" por Harnoncourt!
Há de se ter muito cuidado com grupos e intérpretes de música antiga quando se quer ter boas referências. Deve-se levar em conta grupos que fazem uma intensa pesquisa nos manuscritos e documentos da época, como o "Concert des Nations" do Jordi Savall que conta com o excelente Manfred Kremer na sua formação e, claro, o competentíssimo "Il Giardino Armonico". Ah, e o William Christie que dirige o "Les Arts Florrissants".
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Mensagem por Siegfried 11/6/2019, 23:32


Obrigado pelas informações. Realmente eu já vi algo sobre afinações, e também pareceu espinhoso pra minha pobre cabeça, eu sei que no temperamento ''igual'' (do piano, me corrijam se estiver errado) foi retirado 1/12 de algo chamado ''coma'' de cada uma das doze notas da oitava. Isso permitiu ''ajustar as quintas'', já que realmente as no ciclo das quintas naturais, as oitavas são maiores... Será que estou certo??
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Mensagem por Arcano 12/6/2019, 00:37


Mais ou menos, Siegfried.

O que me ensinaram nos meus tempos de teoria (não vou citar logaritmos nem raiz duodécima, não se preocupem) foi que o Tom inteiro seria dividido em 9 comas auditivamente iguais.

Na afinação não-temperada o sustenido seria 5 comas acima do natural e o bemol 5 comas abaixo. Logo, Ré bemol seria ligeiramente mais baixo que Dó sustenido.

Creio que todos conseguem visualizar isto de cabeça, mas como eu disse antes não tenho muita noção da intuição matemática "geral" das pessoas. Se for um pouco complicado enxergar isto peço que digam, que posso exemplificar facilmente.

Já na afinação temperada simplesmente define-se que o semitom tem SEMPRE 4 comas e meia, e fim de papo. Nada disso interfere na posição das oitavas, que soam sempre "iguais". Mas, de fato, as quintas tendem a ser um pouco maiores quando não-temperadas. Razão de desafinação de muitas Orquestras.

Confesso que esta ideia de 9 comas para o tom inteiro existe há muito tempo na minha cabeça, e não recordo se li em algum lugar, ou se foi ensinado pela minha professora de Teoria (que ruim não era, diga-se de passagem). Alguém pode confirmar?
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Mensagem por Alquimista 12/6/2019, 06:54


Espero que isso ajude:

Alquimista escreveu:
A Afinação Temperada

O Ciclo das Quintas:

Se saltarmos em 5ª justas consecutivas a partir de "C", vamos ter o seguinte:
C-G-D-a-e-b-f#-c#-g#-d#-a#-e#-b#...

Quantos saltos houve?

12 saltos.

A 5ª justa tem uma valência de 702 cents. Esse valor é para a 5ª pura (ou seja, perfeitamente afinada), então se multiplicarmos o 702 cents pelos 12 saltos, vai dar 8424 cents.

Considerando o valor em cents do intervalo de 8ª justa, que é 1200 cents, nesses 12 saltos de 5ª justa, quantas oitavas foram percorridas? Vão no piano e vejam: vai dar 7 oitavas. Então agora a gente multiplica 1200 por 7 e o resultado é de 8400 cents.

Essa diferença entre o nosso cálculo sobre o ciclo das 5ª, do ponto de vista dos intervalos de 8ª justas percorridas e 5ª justas, é de 24 cents. Esse é o valor da distensão. O famigerado Coma Diatônico.

Esse é o valor que falta para "fechar" essa sequência de 5ª justas.

Da mesma maneira, se a partir de "C" fizermos 4 saltos de 5ª justa, temos:

"C-g-d-a-e"

(Vamos observar que as extremidades da sequência marcam "C" e "E", que é um intervalo de terça maior.)

Agora vamos multiplicar por 4 sobre o valor em cents da 5ª justa, que é 702. O resultado dá 2808 cents.

E quantas 8ª justas existem dentro desses 4 saltos de 5ª justas? Duas.
Multiplicando pelo valor da 8ª justa em cents, dá 2400 cents.

Agora vamos diminuir o resultado das contas:

2808 - 2400 = 408.

Esses 408 cents que sobram é o que falta para "fechar" essa sequência. Lembram-se das extremidades deles? C – E, uma terça maior?! Mas esse valor não é de uma terça maior perfeitamente "afinada" (o valor é 386 cents... se você então diminuir esse valor dos 408, que é a terça "desafinada" que a gente achou, vai dar uma diferença de 22 cents.).

Essa diferença de 22 cents é o que chamamos de Coma Sintônico, ou mais conhecido como a Terça Pitagórica.

Então, o que fazer com isso?

Através da história, a "luta" foi (e está sendo) distribuir esse excedente, o "comma", através dos intervalos entre uma 8ª justa.

O primeiro sistema conhecido importante foi o Padrão Pitagórico. No padrão pitagórico as notas eram "afinadas" em onze quintas: c-g-d-a-e-b-f#-c#-g#-eb-bb-f... com o ciclo se fechando em "f-c".

As quintas vão sendo puras até C#-G#, pois o comma (aqueles 24 cents) é depositado, assim, entre o eb-bb (essa é a quinta "lobo").

Dessa maneira, as terças maiores serão pitagóricas (um pouco mais altas, mais "desafinadas" como as conhecemos), é por isso que se pegarmos qualquer "partitura" do Leonin ou Perotin a gente não vai encontrar muitas terças, sejam maiores e menores. Os intervalos "prediletos" eram os de 5ª justa, uníssono e 8ª justa. Podia até ir uma 4ª, mas para momentos secundários. Peguem o Sederunt Principes de Perotin e analisem e vão entender.

O tempo vai passando na linha da história da Música e de repente nos deparamos com toda aquela onda do Fabordão (inversões de terças, sextas, etc..), e quando você percebe já estão usando terças adoidado na música. A música chega a criar um corpo para o que mais tarde amadurece com o Tonalismo.

A essa altura do campeonato, as terças começam a ter o privilégio que antes não tinham na música: o intervalo 3-5 (a "quinta fissa" medieval, considerado uma combinação cadencial) passa a surgir nas grandes polifonias em momentos de repouso e ao mesmo tempo se consolida um novo padrão de temperamento, o Meantone, ou Temperamento Mesotônico.

O princípio passa a ser tentar manter as consonâncias "puras" entre as terças maiores em detrimento da "afinação" das 5ª justas (que não se tornam tão justas assim), o que dá em cents cerca de 386. Como foi feito isso? Distribuíram o comma entre as 5ª e tentaram ao máximo preservar a sonoridade "pura" das terças.

Distribuindo o comma para cada salto de 5ª justa, para cada 4 saltos de 5ª justa temos um intervalo de 3ª maior "pura" em 386 cents. Então dizemos que as quintas estão temperadas. O problema disso é que surgiria uma enorme discrepância de pouco mais 36 cents na 5ª "lobo" (G#-Eb). Isso tornará inviável a prática da música em todas as tonalidades, sendo esse tipo de temperamento muito usado em toda Renascença e parte do Barroco, pois tornará a música como prática em alguns grupos de tonalidades (como C, D, A e etc...).

A pendenga de Bach reside aí: o Mestre era apaixonado por contraponto e detestava a ideia de estar limitando sua absurda criatividade a apenas algumas tonalidades.

Ele ficou maravilhado com as possibilidades de um temperamento criado por um organista, Andreas Werckmeister, que não é o temperamento igual aos dos nossos pianos de hoje.

Quando Bach escreveu o CBT (Cravo Bem Temperado), era para demonstrar as diferenças funcionais que existiam entre cada tonalidade, mas que era possível e prático compor em qualquer uma delas.

Ou seja, BACH NÃO CRIOU O TEMPERAMENTO IGUAL!

Hoje em dia você encontra milhões de gravações nas mais diferentes afinações: pitagórica, mesotônica, etc... Me refiro aos CDs dos grupos de música antiga com performance historicamente informada.

Na verdade, essa questão é um tanto mais profunda que o que se pensa. Quando Bach escreveu seus prelúdios e fugas "bem temperados", ele não queria provar que dava pra dividir uma 8ª justa de 1200 cents em intervalos iguais (o que sabemos que não é possível até hoje).

CONCLUSÃO:

1. O temperamento igual não é "igual".

2. O que Bach estava buscando era uma maneira de se trabalhar contrapontisticamente "bem" em todas as 12 tonalidades, e seus prelúdios e fugas do CBT eram uma prova que se podia fazer isso.

3. Bach não criou o temperamento igual que conhecemos hoje. Não havia maneira para se medir frequências sonoras na sua época, nem quantificá-las exatamente.

4. Bach usou a afinação de um organista, Andreas Werckmeister, que não é o temperamento igual.
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Mensagem por Arcano 13/6/2019, 00:12


Grato, Alquimista. Acho que ficou bem entendido agora.
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Mensagem por Frederico Mercúrio 20/6/2019, 00:04


Em uma dedicatória de alguma partitura de Frescobaldi, este dizia:

"Embora tenham estes versículos sido escritos para o Kyrie, alguns poderão servir, caso julgue oportuno, a outros usos".

Convoco os que discutiam Harnoncourt para falar aqui, pois é um problema sério a incompatibilidade entre o barroco e o nosso tempo. Naquela época, para se ter uma ideia, a ideia de plágio não existia. Pois bem, até quando nós estamos ouvindo música "barroca", não seria esta música historicamente correta apenas uma interpretação moderna? Pois nós nunca veremos a música como um barroco a via.
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Mensagem por Siegfried 20/6/2019, 01:08


Até que ponto podemos conhecer o barroco? Diria até certo ponto. O que nos resta são os tratados, documentos, partituras e metodologias escritos no período. Tudo isso nos serve de base de sustentação para que possamos desvendar, em um nível muito pouco abrangente, a forma como eles faziam música naquela época. Mas a importância do contexto é fundamental, acredito que a ideia mais aproximada que se pode ter da música da época continua sendo a documentação deixada. O que não vejo com bons olhos é a insistência de alguns intérpretes em fazer uma música dita ''historicamente correta'', com instrumentos de época, mas desprovida de paixão.
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Mensagem por sombriobyte 20/6/2019, 01:42


Iria escrever isso no tópico do ''Rock'' (rs), mas aqui é muito mais apropriado.

Compreender o barroco não é muito difícil, difícil é ser fiel ao que nós descobrimos.

O conceito de "arte" não existia no barroco, essa ideia de arte como sendo eterno e universal não existia naquela época, esse conceito é um conceito puramente romântico. A música barroca de certa forma se assemelhava ao cinema atual "queimava rápido", o que era bom numa certa data, no ano seguinte já não era.

É bom entrarmos na exata função da música barroca. Era uma música para a corte dos reis, muito mais que no período clássico, era para divertir sobretudo o rei (alguém lembrou de Lully por aqui?), e também a execução no barroco era muito importante, o improviso, a centelha do intérprete era muito prezada, visto a fama meteórica dos castrati e das prima-dona. A música barroca tinha uma produtividade imensa, nunca igualada na história. Para se ter uma ideia, Telemann compôs por volta de 600 cantatas, A. Scarlatti compôs 120 óperas, Vivaldi 400 concertos, D. Scarlatti 500 sonatas. Mas porque, não se repetia, a música era momentânea e não visava a reprodução, consumiam música como se consome filmes hoje em dia.
Ora, nisso quase não há preocupação quanto a qualidade, o que é verdade, por isso Bach e Monteverdi são o que são. Então o próprio fato de estarmos escutando uma música barroca significa que estamos fugindo dos propósitos da época, estamos tão equivocados quanto aos propósitos do compositor quanto estaríamos ao inserir um rubato na Sagração da Primavera.

Sds

sombriobyte

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Música Renascentista e Barroca - Página 10 Empty Re: Música Renascentista e Barroca

Mensagem por Trovador 20/6/2019, 13:49


Sombrio!!!!

Pela primeira vez concordo plenamente com o que você diz!!!! O Boulez numa entrevista sobre Execuções Autênticas, disse que seria favorável às execuções ditas originais se o público também fosse original!!!! É ridículo acharmos que o que o Colegium Musicum faz é original. Num certo sentido tem uma qualidade e uma afinação e um som tão rebuscado que não seria reconhecido pelos próprios autores. As Sinfonias de Beethoven com o Gardiner soam mais diferentes da época de Beethoven do que os mastondontes desencontrados do Klemperer... isto no aspecto junção e perfeição sonora. Só podemos avaliar as coisas do século XIX para cá. O Mundo pré revolução francesa é tão diferente, e especialmente o barroco e a renascença, tem que ser vistos de uma forma realmente que renuncie à compreensão total. Apenas podemos admirar o que existe de atemporal naquelas notas geniais de Bach, Haendel e Monteverdi...
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Música Renascentista e Barroca - Página 10 Empty Re: Música Renascentista e Barroca

Mensagem por Alquimista 20/6/2019, 14:18


É como eu costumo dizer: nada mais moderno do que uma execução historicamente informada de música antiga em instrumentos de época. Tem muito mais a ver com o nosso tempo do que com o passado, sem dúvida.
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