A Inquisição

Sim, Imhotep, obrigada. Mas ainda tenho dúvidas... algumas das heresias ou algum elemento delas prevalece ou é tolerado por mais tempo pela Igreja? Lembro de ter lido que a difusão do cristianismo na Irlanda, por exemplo, recorria a fé arianista. Alguma destas heresias da Alta Idade Média sobrevive nos séculos seguintes?

De novo eu...

Para sabermos mais detalhadamente sobre como é feito este combate a estas heresias seriam: Através das decisões de Concílios e ou Sínodos que são bastante informativos sobre condenações e novos dogmas, assim como bulas papais; e ou relatos de viajantes, ou da época a que você pretende ver estas permanências.
Acho muito difícil dizer com 100% de certeza que não existia mais nestorianismo, arianismo, simonia, nicolaismo, monofisismo a partir de determinada data. De repente o caso que você cita é de uma destas permanências.
Mas acredito que a partir das reformas cluniacenses do século XI e Gregório VII, tenha diminuído bastante as heresias dogmáticas dentro da Igreja Católica.

Lilith escreveu:
Alguma destas heresias da Alta Idade Média sobrevive nos séculos seguintes?

O nestorianismo (cuja origem remonta ao final da Idade Antiga) desenvolveu-se durante toda a Idade Média como a forma predominante do cristianismo na Armênia. Com a ascensão dos mongóis, essa heresia foi assumida e disseminada. Houve um grande khan que professava o cristianismo nestoriano: Mongka (1251-1259) e outros khans, budistas, aliaram-se aos nestorianos para combater as facções muçulmanas.

A Inquisição não foi criada de uma só vez, nem procedeu do mesmo modo no decorrer dos séculos. Por isto distinguem´se:
1) A lnquisição Medieval, voltada contra as heresias cátara e valdense nos séculos XII/XIII e contra falsos misticismos nos séculos XIV/XV;
2) A lnquisição Espanhola, instituída em 1478 por iniciativa dos reis Fernando e Isabel; visando principalmente aos judeus e muçulmanos, tornou´se poderoso instrumento do absolutismo dos monarcas espanhóis até o século XIX, a ponto de quase não poder ser considerada instituição eclesiástica (não raro a lnquisição Espanhola procedeu independentemente de Roma, resistindo à intervenção da Santa Sé, porque o rei de Espanha a esta se opunha);
3) A lnquisição Romana (também dita “o Santo Ofício”), instituída em 1542 pelo Papa Paulo III, em vista do surto do protestantismo. Apesar das modalidades próprias, a Inquisição medieval e a romana foram movidas por princípios e mentalidade características. Passamos a examinar essa mentalidade e os procedimentos de tal instituição, principalmente como nos são transmitidos por documentos medievais.

Complementando

Aqui vão três propostas para se estudar o Tribunal em seus diferentes aspectos:

1 - LEIGH, Richard & BAIGENT, Michael - Inquisição, A - Ed. Imago, 2001, Rio de janeiro - RJ

2 - LADURIE, Emmanuel Le Roy - Montaillou, Cátaros e Católicos numa Aldeia Occitana (1294 - 1324) - Ed. Edições 70, 2008 - Lisboa - Portugal

3 - _ - Tribunal da História Vol. II Processos de Formação da Identidade Judaica e do anti-Semitismo - Centro de História e Cultura Judaica - Ed. Imago, 2008 - Rio de Janeiro - RJ

Os períodos abrangidos pelas obras são relativamente próximos e referem-se o nascedouro do Tribunal do Santo Ofício com comentário interessantes acerca do mundo latino (principalmente França e Península Ibérica). Vale mesmo a pena conferir.

De fato, sempre que se aborda o tema "inquisição" é muito provável que encontremos diversos preconceitos e exageros por parte dos demais dialogantes. Frequentemente jogam nas costas da Igreja e atribuem uma motivação muito simplista para as execuções e julgamentos.
Não há dúvida que Igreja, tal como o Estado, tem a culpa em suas mãos em maior ou menor grau. E que as execuções foram absurdas, desnecessárias e condenáveis, independente do número de vítimas.