Heresias e Paganismo

Divulgo aqui um artigo que discute o conceito de "Heresia", e que apresenta uma discussão historiográfica sobre as Heresias na Idade Média:

http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf5/texto1.pdf

Autor: José D'Assunção Barros
Revista Brasileira de História da Religião

Só uma dica para o autor que escreveu o artigo: "Igreja Ocidental" seria melhor traduzido por "Western Church".

Heresias de Johann O' Grady.
Concentra-se mais em heresias dos primeiros 5 séculos, mas fala muito dos cátaros. Pequeno e denso. Não enrola. Existe em português, mas tem que garimpar em sebos.

Aleister Crowley escreveu:Só uma dica para o autor que escreveu o artigo: "Igreja Ocidental" seria melhor traduzido por "Western Church".

Hã... bom... galera, o José D'Assunção é Historiador Profissional. Tem conhecimento de causa e anos de atividade acadêmica...

Mesmo profissionais podem aprender com novatos, não concorda?

Se tiverem um bom fundamento em Teoria da História, uma vasta leitura e alguma pesquisa em andamento, sim... caso contrário...

Em nenhum momento a pesquisa realizada por ele foi criticada (muito pelo contrário).
Foram apenas sugestões, não críticas.

Não, você não me entendeu, cara. Eu não falei que você estava criticando... eu só falei da importância de trabalhos com fontes, artigos, etc. É só um comentário...

Vejam o livro Heresias Medievais do Nachman Falbel, prof. da USP.

Gosto da discussão do Le Golff de que não temos como falar com propriedade da existência de uma "cristandade" na "Idade Média" (sic), a despeito da retórica dos próprios da época...

Alguém já leu o "Inventar a Heresia: Discursos Polêmicos e Poderes Antes da Inquisição"?

A org. do livro é da Monique Zerner.

Eu comprei para usar no tcc...

Jerome Baschet chegou a citá-la na "Civilização Feudal", mas, texto dela mesmo só agora. Muito bom, mais uma obra disponível em português. Só é uma pena que o acesso às fontes inquisitoriais não estarem disponíveis. Há alguma coisa em fac-símile no BooksGoogle, mas está tudo em latim. Há, se não me engano, no site da Bibliotheque Nationale de France (ver ''gallica''), o processo dos Templários na íntegra. A documentação inquisitorial medieval tem o ''problema'' de estar em língua latina, mas a Inquisição portuguesa está toda em português do século XVI e XVII. A leitura é meio complicada, mas anda. O único empecilho (ou estímulo à pesquisa) é o fato de muitos destes processos modernos nem foram trabalhados ainda. Muitos estão ainda selados e intactos, conforme certo professor comentou em uma palestra.
LADURIE, Emanuel Le Roy. Montaillou: cátaros e católicos numa aldeia francesa – 1294-1324. Lisboa: Edições 70, 2008.
MACEDO, José Rivair. Heresia, Cruzada e Inquisição na França medieval. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.
BROWN, Peter. A ascensão do Cristianismo. Lisboa: Presença, s.d.

Meus caros,
Eis um artigo interessante sobre o tema:
A heresia como forma de resistência à exclusão social: o caso dos Beguinos (sul da França e norte da Itália – 1307–1323), de Ana Paula Tavares Magalhães.

Onde consigo achar o livro do José Rivair Macedo? Se não me engano, está esgotado.

A Estante Virtual é um site de sebos. Vale a pena dar uma olhada:
http://www.estantevirtual.com.br

Não sei se este tópico é o mais propício para falar do assunto que irei abordar abaixo, mas percebo pelo grau de seriedade dos membros que ele será devidamente respondido.
Ainda não pesquisei a fundo o tema, por isso advirto que posso cometer grandes divagações.
Pensando um pouco sobre supertições, lendas e bruxaria que são coisas do nosso mundo contemporâneo, e que também era muito mais presente na Idade Média, venho percebendo que estas são práticas e crenças desvinculadas do seu devido contexto religioso.
Ora, a própria igreja permitiu a continuidade delas, como podemos entrever na carta do Papa Gregório Magno publicada no livro de Beda, onde ele recomenda aos evangelizadores da Bretanha a "adaptarem" o Cristianismo para que ele seja mais facilmente assimilado.
Bem, o que não foi assimilado pelo Cristianismo - o paganismo germânico, celta e até mesmo romano - se tornou com o tempo as chamadas práticas e crenças heréticas: supertições, lendas e bruxaria.

Tenho uma amiga que estuda a origem dos medicamentos fitológicos através de "feitiços" medievais. E são medicações usadas até hoje...

Seria demasiado interessante retomar a origem destes feitiços, seguindo a hipótese de que eles possuem um fundo religioso.
Perceber o sincretismo religioso em suas práticas.
Vejo que pouco tem-se estudado com seriedade as religiões e as práticas religiosas, principalmete as pagãs.
Acho que um estudo sobre elas permitiria uma melhor compreensão dos atos e de como pensavam as pessoas da Idade Média.

Sim, creio que as práticas consideradas mais tarde como heréticas eram os restos, o que não foi assimilado, das práticas pagãs da alta idade média. Contudo, creio que houve um certa mixagem ou alteração de algumas práticas com o tempo.

Com certeza, Kbr, podemos dizer que com a fusão destes dois povos (germânicos e romanos) nenhuma tradição conservou-se integralmente, na própria sociedade da onde ela proveio, ela vai sofrendo mutações que representa os novos anseios ou uma nova forma de ver o mundo, mas sempre há um referencial, ou melhor dizendo, um núcleo da onde se constrói as novas interpretações.

E as práticas modificam-se de acordo com a necessidade e a praticidade.

Agora eu li o que escrevi antes do seu comentário, Kbr.
Por isso que falei "Perceber o sincretismo religioso em suas práticas."

Falando em religião, alguém conhece livros que falam sobre a "germanização do cristianismo"?

Achei um trecho interessante do livro "Bruxaria e História" de Carlos Roberto Figueiredo Nogueira, onde ele fala da continuidade das tradições pagãs:
"A Igreja irá estabelecer uma política de tolerância para com os velhos costumes, mas suplantando-se os antigos deuses por um novo Deus que parecia possuir atributos muito parecidos aos das divindades precedentes (...)
Politica evangelizadora que possibilitou, sob a cobertura e tolerância da autoridade eclesiástica, a permanência dos antigos costumes, que, perdendo mais e mais sua relação com os antigos sistemas de crenças, constituíram as "supertitiones", às quais a Igreja não possuía os meios apropriados para erradicar."

De fato, a igreja católica só foi promover a erradicação do paganimo com as cruzadas e a santa inquisição na idade média, antes disso se vê uma política de tolerância com as outras religiões tentando transformar vários deuses em um, tentando modificar a própria religião para conseguir mais adeptos. Assim a igreja cresceu.