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Helenismo e a Grécia

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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 02:59

Frio em grego é krios, mas o significado de Afrika, não é de origem grega, A=sem fri=Frio?
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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 02:59

Ou neste caso (Afrika)
... se trata de um hibridismo greco-latino como "televisão"? (Tele= longe, em grego) e (visão, latim).
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Mensagem por Eremita 30/1/2024, 03:00

Deve ser híbrido, porque os gregos chamavam tudo ao sul do Mediterrâneo e a oeste do Egito de Líbia.
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Mensagem por Dom Diniz 30/1/2024, 03:01

África

Quem sugeriu que "África" significa "sem frio" foi Leo Africanus, historiador árabe-granadino do início da Idade Moderna, que sugeriu a etimologia grega a- (negação) e phrike (tremor ou calafrio, tanto de medo quanto de frio). Mas a ideia não faz muito sentido: para começar, os gregos e romanos antigos não pronunciavam ph (a letra fi) como f e sim como p, mesmo. A pronúncia como f surgiu na Idade Média.

O nome África originalmente se aplicava apenas à região de Cartago, a atual Tunísia. Provavelmente deriva do nome de uma tribo berbere da região, conhecida como Afri (singular Afer), cujo nome pode estar relacionado ao fenício (púnico) 'afar, "poeira".
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Mensagem por Dom Diniz 30/1/2024, 03:02

Só que a explicação da Wikipedia se confunde quanto ao significado de phrike - não significa "frio" ou "horror", como está lá, mas o calafrio que pode acompanhar essas sensações.
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Mensagem por Dom Diniz 30/1/2024, 03:03

O ph grego (fi) era um p aspirado (seguido por um leve sopro), mais ou menos como em inglês se pronuncia um "p" inicial antes de vogal. Mutatis mutandis, o mesmo vale para o th (teta) e ch (qui). Essa sutileza fonética era comum nas línguas indo-europeias mais antigas, mas desapareceu das línguas ocidentais modernas e do grego moderno.
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Mensagem por Dom Diniz 30/1/2024, 03:04

Cólquida

O que se sabe sobre a língua e cultura da Cólquida na Idade do Bronze e na Antiguidade clássica além do que conta Heródoto, que julgava que o povo da Cólquida era uma colônia egípcia?

For the people of Colchis are evidently Egyptian, and this I perceived for myself before I heard it from others. So when I had come to consider the matter I asked them both; and the Colchians had remembrance of the Egyptians more than the Egyptians of the Colchians; but the Egyptians said they believed that the Colchians were a portion of the army of Sesostris. That this was so I conjectured myself not only because they are dark-skinned and have curly hair (this of itself amounts to nothing, for there are other races which are so), but also still more because the Colchians, Egyptians, and Ethiopians alone of all the races of men have practised circumcision from the first.
The Phenicians and the Syrians who dwell in Palestine confess themselves that they have learnt it from the Egyptians, and the Syrians about the river Thermodon and the river Parthenios, and the Macronians, who are their neighbors, say that they have learnt it lately from the Colchians. These are the only races of men who practise circumcision, and these evidently practise it in the same manner as the Egyptians. Of the Egyptians themselves however and the Ethiopians, I am not able to say which learnt from the other, for undoubtedly it is a most ancient custom; but that the other nations learnt it by intercourse with the Egyptians, this among others is to me a strong proof, namely that those of the Phenicians who have intercourse with Hellas cease to follow the example of the Egyptians in this matter, and do not circumcise their children.
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Mensagem por Dom Diniz 30/1/2024, 03:05

Now let me tell another thing about the Colchians to show how they resemble the Egyptians:--they alone work flax in the same fashion as the Egyptians, and the two nations are like one another in their whole manner of living and also in their language: now the linen of Colchis is called by the Hellenes Sardonic, whereas that from Egypt is called Egyptian.
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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 03:06

Visão de urartuanos

Assírios e urartuanos nos seus avanços em direção ao rico (terra fértil e minas) vale do rio Araxe, citam a região. O topônimo usado, claro não era Cólquida ,mas ele aparece no livro de Garelli e Nikiprowetzky: O Oriente Próximo Asiático: Impérios Mesopotâmicos e Israel. Vou tentar achá-lo.
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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 03:07

No livro que supracitei...
...fala que os exércitos do rei urartuano Sardur (II ou III?) conquistou parte dos territórios de Kulha/Kilki/Kalkis. A Wikipedia em inglês está ótima sobre o assunto (digitar Colchis). Diz que o país passa a ser chamado de Lazica no século IV dC.
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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 03:08

A origem egípcia dos "colcos"...

...parece-me mais uma "viagem" (com trocadilho, por favor) do Heródoto, mas não serei preconceituoso porque às vezes surgem as conexões mais inesperadas. Porém gostaria de apontar alguns casos onde um povo pede uma origem de outro só pelo prestígio do putativo ancestral. Ou porque estudiosos que não pertencem a nenhuma das etnias envolvidas não se acredita na capacidade autóctone de gerar algo poderoso.
romanos=troianos?
hebreus=sumérios?
bretões=troianos?
francos=troianos?
francos=Jesus? (esta conexão vende livros até hoje)
irlandeses=galícios (até aí legal)=egípcios da época atoniana!!!?
ciganos=indianos?
irlandeses=citas?
Haja deportações e migrações!
olmecas=chineses?
marajoaras=fenícios?
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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 03:12

História inicial de Atenas

1) Os atenienses acreditavam que a unificação da Ática foi realizada pelo herói rei Teseu que também os livrou da suserania cretense. A evidência histórica aceitável da existência dele e destas realizações?
2) Os atenienses deveriam agradecer parcialmente à Esparta o estabelecimento de sua democracia?!
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Mensagem por Dom Diniz 30/1/2024, 03:14

1) Não. Segundo o mito, Teseu teria vivido na Idade do Bronze, antes da Guerra de Tróia. A Atenas histórica foi unificada muito depois, ao longo do século VII a.C., mas não se sabe em detalhes como isso ocorreu.

2) Não. Clístenes, em 508 a.C., recebeu alguma ajuda dos espartanos para depor o tirano Hípias. Mas isso foi principalmente um resultado de lutas entre as classes da própria Atenas e, logo em seguida, os espartanos voltaram a intervir em apoio a seu rival Iságoras, que tentou implantar uma oligarquia. Mas Iságoras foi deposto por uma revolta popular e Clístenes chamado de volta para liderar a implantação da democracia, contra a vontade dos espartanos.

Mais tarde, após a derrota de Atenas na guerra do Peloponeso, os espartanos voltaram para impor outro governo oligárquico, o dos "trinta tiranos". Mais uma vez, o povo ateniense se revoltou e implantou novamente a democracia. Foi em consequência dos rancores criados por esse episódio que Sócrates - que tinha laços de amizade com vários dos "tiranos" - acabou sendo condenado a beber cicuta. Seu "ateísmo" foi mero pretexto.
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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 03:16

Mas ...
... o fato é que a ajuda foi dada ainda que de má vontade. Houve até intervenção dos sacerdotes de Apolo em Delos. Toda vez que rei espartano ía consultar o deus eles diziam "o deus manda dizer que antes de mais nada, lembre-se dos atenienses..." insinuando que deveriam tentar derrubar o tirano.
Outro fato é que o governo de Atenas, depois de derrubada a monarquia, oscilou por muito tempo entre um ditador ou uma oligarquia, só a segunda intervenção espartana (a primeira em 511aC fracassou), a democracia "radical" teve chance de se instalar derrubando o fantoche dos espartanos. Claro que venho uma terceira intervenção espartana para concertar as coisas, mas aí os democratas atenienses já tinha muita força em 507aC.
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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 03:18

Helenização da religião romana

Tendemos a aceitar deuses romanos e gregos como entidade idênticas com correspondências exatas. Mas há um deus Juno sem correspondente grego. Leto é Latona. O Apolo romano é o grego? Prosérpina é Perséfone Kória? Se isso foi realmente alcançado, certamente não foi um processo instantâneo. Quando inicia a helenização deles? Do contato comercial com etruscos e com Cumae e Massilia. Com a conquista do sul da Itália? Com o círculo cipiônico? Com a intervenção antimacedônia de Flamínio? Com a conquista escancarada de Lucio Emílio Paulo? Como eram os componentes não-gregos da religião romana? Os romanos em geral (massa, não elite) eram mais crentes que os gregos (massa, não elite)? A religião grega tardia mais exposta a metáforas ou a abstrações pelos filósofos foi a adotada pelos romanos?
A interpretação de que os deuses, se existissem, ou eram indiferentes ao homem ou não tinham ética nenhuma com ele ou ainda que tinham uma ética não-permitida aos humanos foi também exportada para Roma?
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Mensagem por Dom Diniz 30/1/2024, 03:20

Acho que houve uma helenização da mitologia, não propriamente da religião romana, cujos ritos permaneceram inalterados até o fim do paganismo.

Os povos antigos costumavam supor que seus deuses eram universais e que os deuses de outros povos eram seus próprios deuses com outros nomes. Mesmo as semelhanças mais superficiais davam lugar à identificação. Mais ou menos como, no Brasil colonial, o candomblé de origem iorubá identificou os santos católicos com seus orixás - Ogum com São Jorge por ser um guerreiro, Iansã com Santa Barbará por ser a santa à qual os portugueses rezavam nas tempestades etc.

Quando os gregos tiveram contato com o Egito, consideraram que Thoth era Hermes, Ammon era Zeus etc. Quando chegaram à Índia, julgaram que Krishna era Héracles, Shiva era Dioniso etc.

Para os romanos, era igualmente natural supor que os deuses gregos (e, por tabela, os deuses egípcios, indianos etc.) eram os mesmos velhos deuses etruscos e latinos que eles reverenciavam. Em alguns casos - como Júpiter e Zeus - isso fazia sentido. Em outros - como Saturno e Cronos - era muito mais forçado (Saturno era um deus benigno das colheitas, nada a ver com o devorador de crianças grego). E em outros, era impossível: Jano, por exemplo, não tinha correspondente grego, pois não havia deus grego do tempo com duas cabeças.

Mas os antigos romanos tinham uma atitude mais pragmática que os gregos, e só viam os deuses como objeto de troca de favores e sacrifícios e ancestrais de famílias nobres, não como inspiração para os poetas. Quando a cultura romana se helenizou, os poetas romanos, com prazer, adotaram a mitologia grega, muito mais rica, como se fosse sua.

Os deuses celtas e fenícios também foram identificados com deuses gregos e romanos. Baal-Hammon de Cartago foi identificado com Saturno, Baal-Hadad dos sírios e fenícios, com Júpiter. O próprio Javé foi identificado pelos romanos com Saturno.
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Mensagem por Dom Diniz 30/1/2024, 03:21

Vale lembrar também que as religiões dos povos de língua indo-européia possuem muitas semelhanças, levando a crer que todos derivam de uma mesma religião proto-indo-européia.

http://en.wikipedia.org/wiki/Proto-Indo-European_religion
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Mensagem por Sir Galahad 30/1/2024, 03:23

Eu já li
...este verbete da wikipedia .É bom mesmo.
Diniz tu és 10 mesmo! Ah, eu errei mesmo Juno foi sincretizada com a deusa helena Hera, e Jano era um deus masculino guerreiro, este não teve sincretismo, mas não imaginei que fosse por causa da aparência.
Além disso, não era dedicado a Jano o templo em Roma que só ficava aberto em tempo de guerra? Logo ficava quase sempre aberto?
O mês da Janeiro na Europa foi dedicado a ele, mas o melhor mês para ir a guerra era depois da colheita, então Juno tinha outros atributos?
O mês de Março dedicado a Ares/Marte seria um mês bom para iniciar hostilidades?
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Mensagem por Obelix 30/1/2024, 18:00

Origem dos gregos

Gostaria de saber qual era a verdadeira origem dos eólios, dos dórios, dos aqueus e dos jônios, os povos que deram origem aos gregos e se os gregos modernos tem ancestrais dos antigos, ou os gregos da antiguidade foram verdadeiramente mortos, como diz alguns contos.
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Mensagem por Eremita 31/1/2024, 02:42

Niké: considerações sobre a primeira maratona

Quem “venceu” a primeira maratona?

Feidípedes! Esta é sem dúvida a resposta, se levarmos em conta a tradição, no que se refere à corrida inspirada na batalha entre gregos e persas ocorrida na planície homônima em agosto de 490 a.C. Este é também o “vencedor”, para os inúmeros locutores e comentaristas esportivos.

Mas afinal, foi ou não foi Feidípedes?

Calma! Há muitas coisas que precisamos considerar primeiro, antes de uma conclusão definitiva.

Primeiramente, precisamos entender porque nosso corredor famoso é apontado como aquele que venceu os 42 km (algumas notas de estudiosos apontam 35 (1), e até mesmo, 16 km (2), como a distância percorrida, ou seja, até mesmo a distância exata é controversa), entre o local em Maratona à cidade de Atenas, morrendo logo após informar seus compatriotas sobre a vitória grega frente ao enorme exército persa.

Noite de 4 de agosto de 490 a.C. Feidípedes parte de Atenas em direção à Esparta, com a missão de apresentar o pedido de ajuda aos espartanos em face da latente ameaça aos atenienses com o desembarque das tropas bárbaras em Maratona, cerca de 30 mil guerreiros, contrastando em número com o efetivo grego de apenas 10 mil hoplitas (termo que designa a infantaria grega). Ao entardecer do dia seguinte, 36 horas depois da partida, apesar de todos os obstáculos das péssimas estradas, nosso atleta arauto entregava a mensagem aos líderes espartanos. Tinha ele percorrido cerca de 250 km em um dia e meio. Todos estes fatos chegaram até nós, graças a Heródoto (485-425 a.C.), conhecido como o pai da história cuja obra “Histórias”, é a fonte primária sobre as guerras persas. Para não deixar dúvidas da possibilidade ou não do feito de Feidípides, em 1983, atletas da Real Força Aérea Inglesa, repetiram a corrida, pelo mesmo trajeto acidentado, com o tempo de 34 horas e meia, o que foi noticiado na edição de 24 de setembro de 1983 no The Economist.

Infelizmente, apesar de todo seu esforço, o valoroso corredor ouviu dos seus interlocutores que só poderiam enviar o tão aguardado reforço após a lua cheia, por volta de 11 ou 12 de agosto (por causa de um tabu religioso). Era então noite de 5 de agosto. Com certeza Feidípedes, descansou pelo menos um dia e retornou, não sabemos se novamente correndo, ou de outra forma, com as péssimas notícias aos atenienses. De qualquer forma, podemos inferir com grande possibilidade de acerto, que nosso personagem estava de volta a Atenas, dois ou três dias depois de sua missão.

12 de agosto de 490 a.C., 6h da manhã, sem nenhum reforço de Esparta, atenienses e persas se enfrentam.

Nove horas da manhã, apenas três horas depois, 6.400 persas estão mortos, os demais dispersos e correndo para as suas trirremes (embarcações náuticas da época). Do lado ateniense, apenas 192, isso mesmo apenas 192 tombaram em Maratona. Mas o perigo ainda ronda Atenas, pois os persas que fugiram pelo mar, foram se juntar ao restante que na calada da noite anterior navegaram para a cidade dos gregos, para cercá-la por mar, contando com a vitória certa em terra. Os gregos então só tinham uma coisa em mente, correr até Atenas e chegando lá avisarem aos seus concidadãos, niké, niké (vitória, vitória), com este objetivo, os sobreviventes, cada um por si, não mais como um exército, mas todos correndo, alguns feridos, até mesmo sangrando, trajes enlameados, não pararam até alcançarem a livre Atenas, e em meio aos gritos de vitória presenciarem a retirada dos estupefatos persas, aceitando a derrota, para um exército inferior em número, mas de homens livres que defenderam sua liberdade.

Voltemos então à pergunta: Quem venceu a corrida, a primeira maratona? Vimos que se olharmos para as datas é grande a possibilidade de Feidípedes ter estado na batalha, houve tempo hábil para isso, e cada ateniense era essencial, pois seu exército, não era profissional como o de Esparta, mas composto de seus cidadãos aptos a lutar, sendo cada um neste momento, indispensável.

A possibilidade da vitória do homem mais veloz daqueles dias, Feidípides era enorme. Consideremos que como cerca de apenas 2% dos atenienses morreram na batalha, Feidípedes teve 98% de chances de sobreviver, e correr rumo a Atenas. Mas ele sobreviveu? Estava ferido? Impossível dizer. Como o mais rápido corredor da região seria claramente o favorito, nossas apostas cairíam todas sobre ele; contudo como saber o que houve exatamente naquele dia da vitória? Quem sabe, ele estivesse bem à frente dos demais, e algum dos persas que se dispersaram o tenha interceptado, fazendo-o perder tempo (lembrem da maratona da última olimpíada).

Conclusão: Se prevaleceu o favoritismo, Feidípedes chegou primeiro a Atenas, gritando, niké, niké, morrendo em seguida. Mas na vida, como no esporte, as zebras acontecem.


Notas

(1) Segundo o historiador Alan Lloyd em seu livro Maratona, p. 213 (Ediouro-2004).

(2) Segundo Mário da Gama Kury, tradutor e autor da introdução e notas da edição do clássico História de Heródoto, da Editora da Universidade de Brasilia, nota 682, livro VI, p. 517.


Referências

HERÓDOTOS. História, UNB, 1988, livro VI, 326-327.

GREEN,P. The Greco Persian Wars, University of California Press, 1998, 3-40.

STARR,C.G.A. History of The Ancient World, Oxford University Press, 1991, 283-285.

HARVEY,P. Dicionário Oxford de Literatura Clássica, JZE, 1987, 255-256.

LLOYD,A. Maratona, Ediouro, 2004.

THE NEW Encyclopaedia Britannica, Encyclopaedia Britannica, 1993, vol 7, micropaedia, 815.

THE PENGUIN Atlas Of Ancient Greece,Penguin Books, 1996, 74-75.
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Mensagem por Eremita 31/1/2024, 02:45

Nome: Heródoto
Local e ano do nascimento: Halicarnasso, 480 a.C.(?)
Local e ano do falecimento: Túrio, 425 a.C.(?)

Nascido em Halicarnasso, cidade grega da Ásia Menor fundada por colonos dórios (na costa sul do mar Egeu), era filho de uma influente família. Seu pai, Lixes, foi uma importante liderança do segmento democrático da pólis de Heródoto. Seu tio era um renomado poeta épico, Paníasis. Foi exilado, em sua juventude, em razão das disputas políticas que conduziram o grupo anti-democrático ao poder em Halicarnasso.

Iniciou uma longa série de viagens pelo mundo antigo, passando pelas costas do Mar Negro; Cítia (sul da Rússia); Lídia (na Turquia); Egito; Líbia; boa parte da própria Grécia e, talvez, Pérsia e Mesopotâmia. Ao longo de suas viagens coletou informações sobre os costumes, mitos e histórias dos diversos povos e culturas que conheceu.

Seguindo o caminho de vários outros intelectuais helênicos, foi para Atenas, grande centro cultural e econômico da Hélade (nome que os gregos davam à Grécia). Em Atenas conheceu muitos dos intelectuais que por lá viviam, desenvolvendo uma grande amizade com o tragediógrafo Sófocles, que fez menção das informações coletadas por Heródoto em suas peças, como Antígona. Também em Atenas apresentou o resultado final de suas investigações, no que se transformaria em sua célebre obra História (publicada em nove livros, entre 430 e 424 a.C.), que tratava, ainda, das guerras entre os gregos e os persas, as Guerras Médicas. Foi por esta obra que o romano Cícero chamou Heródoto de o “Pai da História”.

Participou da fundação de uma colônia ateniense na Magna Grécia (sul da Itália), chamada Túrio (443 a.C.), onde parece ter vivido o resto de seus dias, mas tendo retornado algumas vezes a Atenas.


Referências

HARVEY, Paul. Dicionário Oxford de literatura clássica: grega e romana. Tradução portuguesa de Mário da Gama Kury, Rio de Janeiro: Zahar, 1987.

HERÓDOTO. História. Tradução portuguesa de Mário da Gama Kury, 2.ed., Brasília: Universidade de Brasília, 1988.

Histórias – livro 1º. Tradução portuguesa de José Ribeiro Ferreira e Maria de Fátima Silva, Lisboa: Edições 70, 1994.

LLOYD, A. B. Herodotus book II. Leiden: E.J. Brill, v.1, 1993.
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Mensagem por Eremita 31/1/2024, 02:54

Sangue, suor e honra

“De todos os espartanos e théspios que combateram com bravura, a maior prova de coragem foi dada pelo espartano Dienekes. Dizem que antes da batalha um nativo da Trácia lhe disse que os arqueiros persas eram tão numerosos que, quando disparavam seus arcos, a massa de flechas bloqueava o sol. Dienekes, no entanto, completamente impassível diante da força do exército persa, simplesmente comentou: - Ótimo. Combateremos, então, à sombra".
Heródoto, História.

Na Europa Medieval, os grandes cavalheiros seguiam certos "códigos" que os conduziam a honra e mediavam sua virtude no campo de batalha. No Japão, entre o fim do período Sengoku e no início do shogunato Tokugawa, foi escrito o “Bushido” - um código guerreiro semelhante que determinava o modo de vida e de morte dos samurais. Mas entre tantos signos de honra, glória e coragem destaca-se na Antiguidade as “Leis de Licurgo”, seguidas com paixão suprema pelos lacedemônios, ou como são mais conhecidos, os espartanos.

Forjados durante anos com árduo treinamento, eram submetidos a diversas técnicas para controlar seu Phobos (medo) e adquirir resistência física e mental para seu derradeiro ato, morrer em batalha.

Diferente do solipsismo encontrado nas demais ordens guerreiras, o lacedemônio lutava não somente por si, mas por seu companheiro e pela sua polis. O hoplon (escudo feito de carvalho e bronze) da falange existia para proteger a vida que estava ao seu lado e não a sua, e caso seu companheiro perecesse diante de uma batalha era seu dever lançar-se ante ao inimigo e resgatar o corpo para um sepultamento digno.

O escudo, além de ser um instrumento de defesa, era um objeto simbólico de grande importância. Muitos eram passados de geração a geração e era a representação do poderio da falange hoplita.

Este é meu escudo.
Em combate, eu o levo a minha frente, mas ele não é só meu.
Protege o meu irmão à minha esquerda.
Protege a minha cidade.
Nunca deixarei o meu irmão fora de sua proteção nem minha cidade sem o seu resguardo.
Morrerei com meu escudo a minha frente enfrentando o inimigo.
(Poema Lacedemônio)

Diante de uma batalha, o hoplita que perdesse sua armadura ou seu elmo não seria punido, pois deste modo ele estaria expondo a sua vida, o que até certo ponto era uma atitude que demonstrava coragem, mas, caso ele perdesse seu escudo, seria punido com a morte, pois estaria colocando a vida de seu companheiro em perigo.

Seu equipamento completo, incluindo a panóplia (armadura e escudo) pesava cerca de quarenta quilos. Utilizavam como armas uma lança de dois metros e meio e uma espada bastante curta, chamada xiphos e apesar do grande peso dos utensílios que utilizavam eram bastante hábeis e rápidos no campo de batalha.

A contagem dos mortos era feita de maneira peculiar: traçavam em seus braços braceletes improvisados de galhos aonde escreviam seu nome de modo a distinguirem seus corpos, caso fossem de algum maneira mutilados, a ponto de não serem reconhecidos (utilizavam madeira por não ter nenhum valor como saque para os inimigos), faziam o mesmo com outro pedaço de galho e os colocavam, então, em uma cesta. No final da batalha, todos deveriam ir buscar na cesta o galho com seu nome, os galhos que sobrassem seriam, então, pertencentes aos mortos na batalha.

Apesar de toda esta coragem viril (chamada também de andrea) os espartanos choravam. Era comum ver após a batalha centenas de homens ajoelhados no chão, tremendo e chorando, sem forças para se levantar. Chamavam este momento de hesma phobou (extravasando o medo) e não era considerado afeminado aquele que se encontrasse nesta situação.

Guerreiros supremos ou assassinos sem piedade, foram um povo singular na história da Grécia Antiga, e podemos visualizar sua glória nos monumentos levantados em Termópilas, local de sua mais importante batalha:


O xein angellein Lakedaimonios hoti tede Keimetha tois keinon rhemasi peithomenoi
Digam aos espartanos, estranhos que passam, Que aqui, obedientes a lei, jazemos. (Simonides - Poeta Grego)
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Mensagem por Eremita 31/1/2024, 02:57

Nome: Tucídides
Local e ano do nascimento: Atenas, 460 a.C.(?)
Local e ano do falecimento: Atenas, 400 a.C.(?)

Um ateniense nascido no distrito de Halimunte, filho de Óloros, cuja família tinha antecedentes na Trácia. Foi vitimado pela grande peste que atingiu Atenas entre 430 e 427 a.C., sobrevivendo. Exerceu funções públicas em Atenas, inclusive como comandante das forças atenienses na luta contra os espartanos durante a Guerra do Peloponeso. Após a derrota ateniense em Anfípolis (424 a.C.), Tucídides foi considerado responsável e condenado ao exílio por 30 anos. No entanto, em 404 a.C., os atenienses o chamaram de volta. A tradição conta que foi assassinado e que seu túmulo podia ser visto fora dos muros de Atenas.

Foi profundamente influenciado pelas grandes figuras do apogeu de Atenas, como o grande líder Péricles, o sofista Górgias de Leontinos, o orador Antifon e o pensador Anaxágoras. A tradição diz que resolveu escrever sobre o passado depois de se emocionar ao ouvir, na adolescência, uma apresentação de Heródoto em Olímpia.

Entretanto, ao escrever sua obra, A Guerra do Peloponeso, criticou Heródoto e elaborou uma forma diferente para narrar o passado. Contou sobre uma guerra (entre os espartanos e os atenienses) na qual ele mesmo tinha participado, falando de um passado tão recente que quase se confundia com o presente. Apesar de a guerra ter durado 27 anos (431 a 404 a.C.), Tucídides escreveu apenas sobre o período compreendido entre 431 e 411 a.C. Para alguns estudiosos, isto representa que, apesar de ter sobrevivido ao final da guerra, Tucídides considerou que o sentido principal da mesma, a instalação do regime democrático ateniense em toda a Hélade, fracassou quando os atenienses passaram a exercer sua hegemonia não como aliados, mas como senhores dos demais estados gregos que se posicionaram ao lado de Atenas na guerra contra Esparta. Tratava-se da desilusão de Tucídides com os destinos da democracia ateniense que ele havia glorificado durante a liderança de Péricles.


Referências

HARVEY, Paul. Dicionário Oxford de literatura clássica: grega e romana. Tradução portuguesa de Mário da Gama Kury, Rio de Janeiro: Zahar, 1987.

TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Tradução portuguesa de Mário da Gama Kury, 3.ed., Brasília: EdUnB, 1987.

TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso – livro I. Tradução portuguesa de Anna Lia Amaral de Almeida Prado, São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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Mensagem por Eremita 31/1/2024, 03:02

Sobre a homossexualidade na Grécia Antiga

Antes de nos aprofundarmos no tema em questão, faz-se necessário definir o que significa homossexualidade. Recorrendo ao dicionário Aurélio da Língua Portuguesa encontramos homossexual como relativo à afinidade, atração e/ou comportamento sexuais entre indivíduos do mesmo sexo. No entanto, a palavra homossexual é originária do século XIX a partir do grego homo (igual) e do latim sexus. Com isso enfatizamos que na Grécia Antiga tal expressão inexistia.

Encontramos a pederastia, que para os gregos era o amor de um homem (geralmente com idade acima de trinta anos) por um adolescente (entre os quatorze e dezesseis anos). A relação sexual entre pessoas adultas do mesmo sexo não era comum e, quando ocorria, era reprovada, principalmente entre dois homens, pois havia a preocupação com a questão da passividade. Um homem não podia ter complacências passivas com outro homem, muito menos se este fosse um escravo ou de classe inferior.

A prática da homossexualidade dentro do contexto da pederastia não era excludente. Ou seja, o fato do homem ter sua esposa não era impedimento para que se relacionasse com um adolescente. E nem o fato de se relacionar com o adolescente significava o fim do seu casamento. A pederastia dificilmente alterava a imagem do homem perante a sociedade, pois o amor ao belo, ao sublime e o cultivo da inteligência e da cultura não tinha sexo. Condenável era a busca do sexo pelo sexo.

Além do componente etário, a relação de pederastia incluía a questão do status social, nesse sentido o homem deveria ter ascendência intelectual, cultural e econômica sobre o adolescente. Afinal, ele complementaria a formação do jovem, iniciando-o nas artes do amor, no estudo da filosofia e da moral.

Havia toda uma ritualização envolvendo a aproximação do homem que estivesse interessado por um adolescente. A “corte” era necessária para que a relação tivesse o caráter de bela e moralmente aceita. Os papéis nesse caso eram bem definidos, o homem (erastes) fazia a corte e o adolescente (erômeno) era o cortejado, podendo deixar-se conquistar ou não.

O homem, ao cortejar, presenteava, prestava favores, ia ao ginásio ver o adolescente se exercitar (e geralmente se exercitava nu) e praticava com ele os exercícios físicos até a exaustão, uma vez que não possuía o mesmo vigor físico da juventude. O adolescente, por sua vez, deveria ser gentil e ao mesmo tempo por à prova o amor do pretendente. A conquista era incerta, pois caberia ao jovem a palavra final.

Quando deveria acabar a relação de pederastia? Tão logo aparecesse no adolescente os primeiros sinais de virilidade, a primeira barba, que por volta dos 17 ou 18 anos já era evidente. Permanecer nessa relação após o advento da virilidade era reprovável, principalmente para o homem, já que estaria se envolvendo com outro homem.

A relação entre pessoas do mesmo sexo teve lugar também em Esparta, porém com um sentido um pouco diferente da vista em Atenas. Além das relações de pederastia, eram estimuladas as relações entre os componentes do exército espartano e tinha por objetivo torná-lo mais forte. O que levava os comandantes do exército a estimular esse tipo de relação era o fato de acreditarem que um amante, além de lutar, jamais abandonaria outro amante no campo de batalha. O Batalhão Sagrado de Tebas, famoso por suas vitórias, era formado totalmente por pares homossexuais.

A homossexualidade feminina também teve seu lugar na Grécia Antiga. E, embora a mulher não ocupasse lugar de destaque e, por isso, a escassez de registros, é da antiguidade grega que provém o termo lésbica, para indicar a mulher homossexual. Lesbos é o nome da ilha onde viveu a Safo, a famosa poetisa, que não escondia sua preferência sexual pelo mesmo sexo. E, já que citamos Safo, vale nomear outros nomes conhecidos. Zeus, o deus grego, enamorou-se de tal forma pelo jovem Ganimedes, tal era sua beleza, que o levou para o Olimpo. Teseu seduziu não apenas donzelas no labirinto, mas também os monstros. Os filósofos Sócrates e Platão e o legislador Sólon foram pederastas no sentido aqui explicitado.

Na Grécia Antiga, as relações entre homens, que hoje nomeamos de homossexualismo, eram quase sempre orientadas para finalidades específicas e ultrapassavam a simples busca do prazer sexual. A pederastia visava a formação do jovem, tanto em Esparta quanto em Atenas. No exército espartano o amor entre soldados fortalecia o exército. Em nenhum dos dois casos estava excluída a relação com uma mulher, no presente ou no futuro. É com o advento do cristianismo que essas relações passam a ser vistas como pecaminosas.


Referências

AMES, Philippe; BÈJIN, André. Sexualidades ocidentais. São Paulo: Brasiliense, 1982.

DOVER, Kenneth J. A homossexualidade na Grécia antiga . São Paulo: Nova Alexandria, 1978.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2 : o uso dos prazeres. Rio de Janeiro: Graal, 1984.

SPENCER, Colin. Homossexualidade: uma história . São Paulo: Record, 1996.

TANNAHIL, Reay. O sexo na história . Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.
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Mensagem por Eremita 31/1/2024, 03:15

Nome: Heinrich Schliemann

Local e ano do nascimento: Neubukow, Alemanha, 1822
Local e ano do falecimento: Atenas, Grécia, 1890

Johann Ludwig Heinrich Julius Schliemann nasceu em 6 de janeiro de 1822, em Neubukow, Alemanha, filho de Luise Therese Sophie e de Ernst Schliemann. Seu pai era pastor luterano e por conta de seu ofício, os Schliemann se mudaram, em 1823, para Ankershagen. Nessa cidade alemã, que se tornaria a cidade preferida de Heinrich Schliemann, ele viveu nove anos e voltou para visitá-la em três vezes: 1852, 1879 e 1893. No natal de 1829, Schliemann ganhou de seu pai um presente, que segundo ele, mudou sua vida: a “História do Mundo”, de George Ludwig Jerrer, um livro infantil repleto de ilustrações que contava fatos da história mundial, entre eles, a história da Guerra de Tróia. Magnetizado pela história da Guerra de Tróia, Schliemann interrogou seu pai sobre a veracidade da guerra e sobre os vestígios dela. Seu pai disse que a história era verdadeira, mas que não existia resquícios dela. Intrigado com a possibilidade de uma cidade tão grande ter desaparecido sem deixar vestígios, Schliemann disse ao seu pai que um dia a encontraria. Hoje, os biógrafos de Schliemann acreditam que ele exagerou ao narrar o acontecido, supervalorizando o ocorrido em sua infância e dando a ela um caráter de predestinação.

A vida em Ankershagen foi interrompida em 1831, quando sua mãe faleceu. Sem ter como cuidar dos filhos e acusado de desviar os fundos da igreja onde pregava, seu pai resolveu mandar Schliemann, seus quatro irmãos e sua irmã morarem com o tio Frederich, em Kalkhorst. Entre 1833 e 1836, Schliemann estudou os últimos anos do que seria o nosso Ensino Fundamental em Neustrelitz e no último ano conseguiu seu primeiro emprego em uma mercearia em Fürstenberg, uma outra cidade alemã. Nesse emprego, Schliemann passou quatro anos e conheceu um jovem moleiro, Hermann Niederhoffer, que recitava, em grego, alguns versos da Ilíada, de Homero. Mesmo sem entender uma única palavra, Schilieman adorava ouvi-lo recitar sua história preferida.

Aos 19 anos, Schliemann pensava em se mudar para Venezuela. Tomou um navio e partiu para a América do Sul. No entanto, o navio encalhou na costa da Holanda e ele se viu obrigado a arrumar um emprego como office-boy em uma empresa de Amsterdã. O trabalho lhe deixava um tempo livre e assim, ele começou a desenvolver o estudo de idiomas. Com uma incrível capacidade para aprendê-los, Schliemann foi aos poucos aprendendo o inglês, francês, holandês, espanhol, português, italiano, árabe, latim e o grego antigo e moderno. Por causa de sua capacidade com vários idiomas, Schliemann arranjou um novo emprego em março de 1844, na B.H. Schoreder e Cia., uma empresa de comércio de importação e exportação. Suas habilidades acabaram levando-o, em 1846, para São Petersburgo, Rússia, como representante da firma. Enquanto comercializava para a B.H Schoreder e Cia., Schliemann iniciou seu próprio negócio, comercializando índigo e depois outros produtos, tais como, vinho, salitre, açúcar, chá e café, permitindo-lhe iniciar a construção de uma fortuna considerável.

Em 25 de maio de 1850, Schliemann soube que um de seus irmãos, Ludwig, havia falecido em Sacramento, Estados Unidos, deixando uma agência bancária como herança para ele. Schliemann mudou-se para Sacramento em dezembro de 1850, disposto a fazer prosperar o negócio de seu irmão falecido. Ao chegar aos Estados Unidos, se envolveu com o comércio de ouro em pó e se tornou mais rico ainda. Em 1852, Schliemann fechou o negócio de seu irmão e voltou à Rússia. Ao voltar para São Petersburgo, Schliemann se casou com Katerina Petrovna Lyshin, uma sobrinha de um amigo seu. No entanto, o casamento foi um fracasso. Ela se mantinha distante e demonstrava pouco amor por Schliemann. Mesmo assim tiveram três filhos, Segrue (1855), Natalia (1858) e Nadezhda (1861). Foi durante seu casamento com Katerina, que Schliemann se dedicou ainda mais ao estudo do grego antigo e ao trabalho, enriquecendo-se ainda mais, principalmente com a venda de armamentos durante a Guerra da Criméia (1853-56). Sem ter o apoio de sua esposa, Schliemann viajou por várias partes do mundo: Índia, Cingapura, China, Japão, Nicarágua, Cuba, México, Itália, Grécia, Síria, Egito e outros países. Em 1863, optou pela separação e foi morar em Paris.

Milionário, Schliemann resolveu se dedicar à Arqueologia e até estudou em Sorbonne, Paris, entre 1866 e 1867. Em 1868, esteve novamente nos Estados Unidos onde conseguiu a cidadania estadunidense e por meios obscuros, o divórcio de sua esposa russa. Como um homem desimpedido, Schliemann mudou-se para a Grécia para iniciar sua nova carreira: arqueólogo. No mesmo ano, fez suas primeiras escavações na ilha de Ítaca, tentando achar o palácio de Ulisses. Encontrou uma estátua de barro, osso de animais e 20 vasos com cinzas humanas, que ele declarou, sem comprovação alguma, que eram de Ulisses e Penélope ou de seus descendentes.

Em 23 de setembro de 1869, Schliemann casou-se novamente, com uma grega de 19 anos, Sophia Engastromenos. Sua nova esposa havia sido escolhida pelo seu amigo e professor de grego antigo, o arcebispo Theocletos Vompos, que havia recebido um pedido de Schliemann para que encontrasse uma grega pobre, bonita, de cabelos escuros, bem-educada e que gostasse de Homero. Enquanto Ernst Ziller construía a nova casa de Schliemann em Atenas, que hoje é sede de um Museu Numismático e um dos melhores exemplos da arquitetura neoclássica, Schliemann se dirigiu à Turquia para tentar escavar na colina de Hissarlik, onde ele acreditava estarem os restos de Tróia.

As duas últimas décadas de vida de Schliemann foram dedicadas às pesquisas arqueológicas. A partir de 1871, Schliemann e uma centena de trabalhadores turcos escavaram a colina onde ele acreditava que a lendária Tróia ficava. Em maio de 1873, as escavações revelaram as fundações de um palácio, que Schliemann acreditou ser o palácio de Príamo. Além disso, as pesquisas revelaram jóias de ouro, baixelas, armas e uma infinidade de objetos. Mas foi no final daquele mês, que Schliemann e sua esposa, após dispensarem os trabalhadores turcos, escavaram sozinhos um rico tesouro, que ele chamou de Tesouro de Príamo. Os vários objetos encontrados: caldeirões de cobre, vasos de prata, garrafas de ouro, cálices de ouro, punhais de cobre, lâminas de faca de prata, diademas de ouro, brincos e outros objetos foram contrabandeados para Grécia, provocando um processo do governo turco contra Schliemann, que havia prometido metade das descobertas ao governo turco. Após alguns desentendimentos, Schliemann pagou uma indenização aos turcos e pôde continuar escavando livremente em Hissarlik.

Em 1874, Schliemann resolveu escavar em outro local citado por Homero, Micenas. Até 1876, ele encontrou um palácio, desenterrou túmulos, encontrou esqueletos, que novamente e equivocadamente afirmou serem de Agamênon e Clitemnestra, e várias jóias.

Famoso com suas descobertas que eram divulgadas em jornais de todo mundo, Schliemann resolveu retornar ao local de suas primeiras pesquisas, Ítaca. Em julho de 1878, ele reiniciou as escavações em um local onde pensava encontrar o palácio de Ulysses, mas ficou frustrado com sua descoberta. Ele achou pouco o fato de ter encontrado ruínas de 190 casas e resolveu voltar à Turquia para uma nova temporada de escavações em Hissarlik. Em outubro de 1878, Schliemann descobriu um pequeno tesouro com 20 brincos de ouro, duas pulseiras de electro, 11 brincos de prata e 158 anéis de prata.

Entre 1881 e 1882, Schliemann escavou em Orcômeno, Grécia, onde revelou o palácio que ele achava ser do rei Mínias. Nesse mesmo ano, retornou à Tróia, mas acompanhado pelo arqueólogo Wilhelm Dörpefeld, que iria revisar algumas interpretações errôneas de Schliemann e que após a morte dele continuaria escavando o local. Entre 1884 e 1885, Schliemann escavou o palácio de Tirinto.

Em novembro de 1890, Schliemann viajou para Halle para uma operação em seu ouvido. Sem respeitar seus médicos, viajou após a operação para Leipzig, Berlim e Paris. Seus ouvidos inflamaram. Tentando voltar para Atenas antes do natal, parou em Nápoles para visitar as ruínas de Pompéia. Muito doente, acabou falecendo em um quarto de hotel no dia 26 de novembro de 1890.
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