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Música Renascentista e Barroca

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Mensagem por sombriobyte 5/5/2019, 03:25


A música, ao contrário das outras artes renascentistas, não tem a ideologia centrada no homem e na cultura da antiguidade clássica.

Alguns chegam a afirmar que o Renascimento, na música, só aconteceu no Barroco, quando a temática da antiguidade foi incorporada nas óperas e a música desvencilhou-se do culto religioso.

Mas seriam Palestrina, Lassus, Gabrieli, etc, artistas menores? Uma missa de Palestrina vale menos que um afresco de Michelangelo?

sombriobyte

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Mensagem por sombriobyte 5/5/2019, 03:28


Uma das premissas que temos que utilizar é que a música renascentista não é menor ou maior que qualquer outro tipo de música, ela apenas segue princípios diferentes!

Uma outra visão a ser adotada é que não é só na música religiosa que encontramos a Renascença: Josquin fez vários motetos populares, com temas mundanos...

Não podemos esquecer de Janecquin, e o seu "Le chant des oiseaux", onde o coro imita o cantar dos pássaros...

Mateo Flecha, e o Cancioneiro de Upsala. Numa delas, a Teresica Hermana, chegaram a censurar algumas de suas estrofes, substituindo por: dela fararirira.

"Teresica Hermana, dela farariria, hermana teresa..."

O que tivemos é uma maior preocupação com a harmonia, com o trabalho orquestral, após o barroco, nas figuras dos mestres Bach e Handel.

Antes do barroco tudo era polifônico, difícil de interpretar e de entender, mas o resultado era extasiante. Bach e Handel fizeram deixar a música mais fácil de ser entendida (entendam que estou usando como parâmetro para fácil, a dificuldade da música renascentista), deixando, também, extasiados aqueles que a ouvem.

Esses mestres barrocos deram uma nova forma de visão para a construção sonora.

Pessoalmente não acho o renascimento da música foi o barroco, prefiro pensar que são tipos de músicas diferentes entre si e ponto final.

sombriobyte

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Mensagem por Siegfried 5/5/2019, 16:20


Sombriobyte,
Sim, no Barroco também, e me reluto para não dizer que o mesmo ocorre no Classicismo. Basta ver que não havia mecenato para compositores, estes estavam ligados (muito profundamente) ao culto religioso. Embora sua temática seja, decerto, humanista, ou coisa que o valha. A música era artigo efêmero, de fato que era, considerada parte de um culto, ou de comemorações oficiais. Sabe-se lá quanta música um Byrd ou um Orlando de Lassus compôs para eventos públicos.

O Barroco também, basta imaginar que as próprias óperas (e TODA música barroca) eram feitas para uma pequena duração, para serem descartadas, não imagino isso como sendo arte, não na acepção atual. Ou no sentido de um Velazquez ou Rafael.

Mas isso não diz que a estupenda polifonia de Palestrina seja inferior a uma escultura de Michelangelo (inclusive Palestrina é um de meus compositores preferidos!), a qualidade de um Bach, de um Des Prez não se prende ao mundo das "obrigações", mas era vista, e tratada, na época como sendo menor. Basta ver a situação de da Vinci e de Victoria, contemporâneos, quase conterrâneos. Mas com certeza isso influi na parca divulgação da música renascentista e barroca.

Sds
Siegfried
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Mensagem por Necromante 5/5/2019, 20:00


A Renascença é um dos períodos mais lindos da história musical mundial.
Gostaria de saber mais informações sobre o menestrel espanhol JUAN DE ENCINA.
Sua música é altamente expressiva, e ele compôs melodias com o sotaque espanhol característico, obtido pela citação ou imitação de canções ou danças folclóricas. Sua carreira coincide precisamente com os grandes eventos de 1492.
O séc. XVI assistiu à publicação de uma vasta coleção para alaúdes, um dos instrumentos mais intimistas e mais belos do período.
Alguém poderia me dizer mais sobre esse compositor?
Necromante
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Mensagem por sombriobyte 6/5/2019, 03:03


Gosto muito de duas canções dele:

Triste España
Hoy comamos y bebamos

sombriobyte

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Mensagem por sombriobyte 6/5/2019, 03:05


Gostaria de indicar pra você, caso não o conheça, o disco do grupo Hespèrion XX, sob a direção de Jordi Savall, "Romances & Villancicos", pela Astrée [ES 9925 (1999)], gravação de 1991. Trata-se de um Juan Del Enzina belíssimo.
Saudações renascentistas.

sombriobyte

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Mensagem por sombriobyte 6/5/2019, 03:07


Uma pequena retificação. A gravação de Jordi Savall referida na mensagem anterior é de 1988, e não 1991. Equivoquei-me.
Saudações.

sombriobyte

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Mensagem por sombriobyte 6/5/2019, 03:10


Confesso que nestas duas últimas semanas estava em uma febre serial. Por uma obra do acaso, ontem caiu em minhas mãos O Orfeu de Monteverdi. Que coisa maravilhosa! Fiquei impressionado com a beleza dessa obra, isso desencadeou uma febre Monteverdiana, é certo que uma febre controlada, mas escuto à exaustão L'Incoronazione de poppea e a missa de Vésperas. Já acrescentei no meu acervo o Orfeo de Gardiner e o Vespro Della Beata Virgine (idem).

Vou falar de Monteverdi. Já disse que Bach foi o que mais se destacou dentre seus contemporâneos. É mentira. Ao menos Vivaldi e Haendel são compositores razoáveis. Monteverdi é de LONGE, o maior de seu tempo. Mas é longe mesmo! É uma superioridade impressionante. Ele é o único barroco que eu compararia com Bach, prefiro as obras vocais do primeiro, por mais herético que pareça.

Orfeu impressiona, é verdade. L'Incoronazione de poppea é outra ópera interessantíssima. Amo Monteverdi!

Seria este o maior gênio fora da trindade BMB?
Acho que não, toda sua importância e qualidade (embora se conheça muito pouco dele) fazem que ele "talvez" se insira nessa trindade formando um BBMM, porque eu digo que ele é um gênio, mas um gênio tremendamente injustiçado. Haendel e Vivaldi têm muito mais fama que ele. Se vocês compararem Orfeu com Giulio Cesare e Orlando Furioso verão que diferença, em Orfeu a preocupação é a música e o texto, e nunca o virtuosismo vocal que destrói Vivaldi e Haendel. E o Vespro della Beata Virgine...

Sds. Monteverdianas

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Mensagem por Siegfried 6/5/2019, 12:26


Aprecio imensamente Monteverdi, e sua ópera Orfeu é realmente fabulosa, entre todas que já houvi só perde para Boris Godunov.
Tenho uma excelente versão com o Harnoncourt.

Concordo com você quanto diz que Monteverdi foi o maior de seu tempo, mesmo porque ele morreu no final do sec.17, quando Bach ainda era um jovem. Essas grandezas portanto não me parecem conflitantes, ambos foram os maiores de seu tempo, em minha humilde opinião.
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Mensagem por Alquimista 7/5/2019, 00:23


Meu caro Sombriobyte, como a discussão se enveredou para o Barroco, tomei a liberdade de mudar o título do tópico para Música Renascentista e Barroca.

Me diga se aprova!
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Mensagem por Alquimista 7/5/2019, 00:26


Prezado Sombriobyte, por acaso estou lendo o volume sobre a ópera barroca italiana da monumental obra em 15 volumes de Lauro Machado Coelho, A História da Ópera.

Transcrevo para você o que ele diz no primeiro parágrafo do capítulo em que trata de Monteverdi e, especialmente, do Orfeo:

"Então, de repente, surge o primeiro grande nome da história de um gênero que dará à música alguns de seus maiores gênios. O primeiro compositor a ser não apenas uma curiosidade histórica mas um excepcional dramaturgo cujas criações, encenadas hoje, continuam perfeitamente capazes de capturar a atenção do espectador moderno. O primeiro músico capaz daquela proeza de que a História da Ópera é tão fértil: a de escrever uma melodia - como a da Sinfonia do Orfeo - que ouvida uma única vez, nunca mais é esquecida. E que o público, ao sair do teatro, continua a cantarolar. O primeiro artista a criar para o palco obras de um tal vigor e frescor de inspiração que nem parecem ter sido concebidas quase 400 anos atrás."

Parece que Monteverdi é mais uma unanimidade da música.
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Mensagem por sombriobyte 7/5/2019, 02:28


Ficou ótimo, Alquimista!

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Mensagem por sombriobyte 7/5/2019, 02:29


Alquimista,
Eu não conheço uma pessoa que conheça Monteverdi e não goste dele, ainda que pouco. Eu falo sinceramente.

sombriobyte

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Mensagem por sombriobyte 7/5/2019, 02:31


Siegfried, Quer indicações?

Vespro della Beata virgine - Gardiner
Orfeo - Gardiner
L´Incoronazione de poppea - Gardiner.

Gardiner é o único maestro que o respeita, seja em interpretações ultra-ortodoxas, seja em interpretações mais mixadas (Um da Decca).

Sds. Monteverdianas

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Mensagem por sombriobyte 7/5/2019, 02:33


Siegfried,
Eu disse exatamente isso. Eu não comparei um com outro. Eu nem acho a superioridade bachiana contestável. Aliás um não foi nem contemporâneo do outro, quando Monteverdi morreu, Bach teve de esperar 42 anos para nascer. Orfeu é de 1607. Eu (ainda) prefiro Bach pelas suas obras instrumentais. Mas Monteverdi é um poço de qualidade a ser descoberto. Assim como Mussorgsky é.

Sds. Monteverdianas

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Mensagem por sombriobyte 7/5/2019, 02:35


Caros,

Monteverdi foi revolucionário na música.

Foi o introdutor do trêmulo e do pizzicato nos instrumentos de corda, pois na sua ópera Orfeu ele quis retratar a tensão da luta e os barulhos das espadas...

Mas a sua música fora da ópera também é marcante.

O Magníficat é uma pérola da música erudita.

sombriobyte

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Mensagem por sombriobyte 7/5/2019, 02:36


Esse bailado do primeiro ato de Orfeo mata. É maravilhoso. Bem italiano, sem ser medíocre. Outra coisa interessante é a qualidade dos recitativos, estes são muito melhores que as árias, os duetos e similares são bastante interessantes. O que me deixa pasmem é como algo tão maravilhoso pode gerar tantas barbaridades (Scarlatti, Meyerbeer...), aliás deve ser por causa disto mesmo.

Sds. Monteverdianas

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Mensagem por Alquimista 7/5/2019, 05:40

sombriobyte escreveu:
Gardiner é o único maestro que o respeita, seja em interpretações ultra-ortodoxas, seja em interpretações mais mixadas (Um da Decca).

Gardiner também interpreta Mozart maravilhosamente.

As gravações que ele fez do Rapto do Serralho e do Idomeneo estão entre as melhores, e eu possuo a integral dos concertos para piano de Mozart com Malcolm Bilson como solista.
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Mensagem por Siegfried 7/5/2019, 18:10


Imagine quantos Magnificats desconhecidos existem? Meu sonho é ir para Itália pesquisar a música renascentista-barroca.

Monteverdi é um gênio. Fora Bach, o melhor barroco. Seu Orfeo é realmente fantástico.
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Mensagem por Siegfried 7/5/2019, 18:11


Estou ouvindo as Vésperas da Bem-Aventurada virgem.

Assustador esse começo, certeiro, preciso, uma força e segurança incomuns a qualquer outro compositor. Como uma afirmação gloriosa da Fé. Nunca ouvi nada tão seguro, e nenhuma melodia tão bela.

Tchau!
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Mensagem por sombriobyte 8/5/2019, 00:58


Mais uma obra de Monteverdi que conheci:
Oitavo livro de Madrigais. Cada vez mais esse cara me impressiona mais ainda. Não sei aonde essa "paixão" vai chegar.

Sds. Monteverdianas

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Mensagem por sombriobyte 8/5/2019, 00:59


Povo,
O quinto livro é o mais interessante de todos os madrigais. Começa com declarações de amor muito normaizinhas, muito Palestrinianas, de repente ele resolve sair chutando tudo quanto é convenção harmônica, salpica de dissonâncias a música, e a música fica perfeita. Vocês tem de conhecer essa música, é indispensável em qualquer discoteca.

Sds. Monteverdianas

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Mensagem por sombriobyte 8/5/2019, 01:02


Siegfried,
Essa é uma das mais complexas e variadas músicas já criadas. É impressionante a quantidade de efeitos emotivos, timbrísticos, melódico, harmônicos e orquestrais que são utilizados nessa música. Sem sombra de dúvida uma das maiores de todos os tempos, e a melhor de Monteverdi. Para ter uma ideia, olhe o tanto de gente que trabalha nela:

7(!) solistas
-Dois sopranos (no caso é comum encontrarmos masculinos)
-Um contratenor
-Dois tenores
-Um barítono
-Um Baixo

Um coro adulto
Uma orquestra
Um conjunto de metais
Um coro infantil

No contínuo:
Um cravo
Dois(!) órgãos
Um alaúde
Um cello

Fico imaginando o que os contemporâneos de Monteverdi pensaram ao ver aquele início, deve ter sido um assombro. Porque é assombroso, até para ouvintes do nosso século, aquele início.

Sds. Monteverdianas

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Mensagem por sombriobyte 8/5/2019, 01:09


Lendo um pouco da biografia de Monteverdi nós passamos a ver que a história é muito mais interessante que uma ficção. Vamos lá.

Monteverdi cresceu na corte de Mântua, mas de começo ele não aderiu à moda da ópera crescente naquela região da Itália: por volta de 1595 ele resolveu ser compositor de madrigais (Tarefa na qual ele foi muito bem sucedido, diga-se de passagem) cerca de 13 anos depois ele resolveu (talvez por falta de dinheiro) aderir à nova moda da ópera (que havia começado 10 anos antes, com Peri). Mas nessa ópera primitiva tudo não passava de fala com alguns acordes. E Orfeo tem muito disso. O que Monteverdi desenvolveu para sua primeira obra:

-A introdução desses pequeninos temas para designar algum lugar (mais tarde ele aprimorou essa arte, e nas obras maduras esses tamazinhos são quase perfeitos. Na verdade aí está todo o embrião da música posterior! A definição de um tema.
-Criação do recitativo. Antes ou era fala ou canto, Monteverdi, sabendo dos potenciais da música, inseriu notas na fala, criando o recitativo.
-Escritura polifônica para o coro. O coro das óperas primitivas apenas falava, Monteverdi escreveu partes cantadas e em várias vozes contrastantes, ou seja: polifonia.
-Introdução das cordas e da percussão na orquestra.
-Definição do papel do baixo-contínuo.
-Entendimento que estados de espírito diferentes requerem músicas diferentes.

Mas apesar desses avanços, Monteverdi tranformou a ópera em música de valor, mas esta não deixou de ser o drama. Monteverdi buscou em sua vida o mesmo que Wagner buscou: uma música completamente integrada ao drama, por causa disso temos alguns pontos de contato entre essas duas visões.

René Jacobs diz uma coisa interessante: na época de Monteverdi a ópera não era madura, mas era uma criança bastante promissora, infelizmente esta criança se perdeu na puberdade, em vez de evoluir, involuiu, deixou de ser um drama musical para ser um espetáculo mundano, mas capaz de gerar lucros fabulosos, compositores posteriores a Monteverdi alteraram todas as características das inovações da segunda fase da criação operística de Monteverdi.

Pois então, por volta de 1609, Monteverdi desistiu de compor óperas (havia compostou mais umas seis), talvez por causa de críticas à sua capacidade (ou incapacidade) de escrever música polifônica, mas também porque ele almejava alguma coisa com a Igreja. Em 1610 ele homenageia o papa com as formidáveis "Vésperas...", obra que tenta de certa forma mostrar todas as qualidades de sua composição. Se é isso ou não o fato é que o papa gostou e Monteverdi passou a ser contratado da Igreja e deixou de fazer a ópera para fazer música sacra (mais balés, madrigais e toda sorte de "bicos" que apareciam). Pois bem. Trinta anos mais tarde, Monteverdi tem uma ópera sua representada em Veneza (Arianna), e os empresários do teatro o convidam para escrever óperas para a casa local. Bem, antes de tudo é bom dizer que em trinta anos a ópera deixara de ser uma aventura e passara a ser um empreendimento que já gerava algumas divisas. Mas o interessante que muitos dos compositores da época ou foram seus pupilos ou tinham profunda admiração pela obra de Monteverdi.

Agora o mais surpreendente: Aos 74 anos de idade, dois anos antes de sua morte. Monteverdi não apenas compõe uma boa ópera, ele compõe duas obras primas que abalaram as estruturas da música na época. Aquele senhor, demonstrando uma lucidez e uma inteligência fora do comum, agrega todas as inovações surgidas na época, com suas próprias ideias em torno do drama, e compõe duas óperas "Il Ritorno d'Ulisse in Patria" e "L'incoronazione de Poppea". Musicalmente e dramaticamente bem à frente de Orfeo. Vamos às novas invenções (estas nem tão intuitivas):

-Não havia uma repetição sequer das linhas do baixo, não ocorreu nenhum intervalo repetido. Um avanço e tanto para a época.
-Em cartas ele revela a intenção de descobrir utilidades para os diferentes timbres, esboça isso em "Il ritorno d'Ulisse...".
-Ele inventa a variação de um tema. De forma primitiva é óbvio, mas inventa. As personagem de Penelope e Nero tem um tema claro no baixo-contínuo, certos lugares tem um tema claro. Monteverdi combina esses temas usando o ritmo de um e a melodia de outro.
-Cada personagem tem uma forma diferente de cantar, totalmente adaptada ao seu caráter. Uma personagem sóbria como Penólpe, por exemplo, recita muito mais que canta.
-Cenas unicamente orquestrais, com função clara, como a (perdida) chegada do barco a Ítaca.

Tudo isso combinado a uma melodia extremamente fácil, cativante e oportuna, ao mesmo tempo que tem uma obra severa, que se impõe ao público, para vocês terem uma ideia de quem reeditou as obras de Monteverdi nesse século: Berio e Dallapicola.

Sds. Monteverdianas

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Mensagem por Necromante 9/5/2019, 00:28


Baixei L'Orfeo ontem e já o escutei. É uma obra maravilhosamene primitiva, o drama é inexistente, completamente linear. E a estrutura vocal é muito estranha. Mas, em termos de ideias ela é cheia delas. Vejo que Monteverdi esboça leimotivs ao establecer duas sinfonias uma para a região terrena(onde Orfeo mora), e outra para o inferno. Outra coisa é o tecido dramático é contínuo, ou seja, não é aquela coisa: ária-recitativo-ária-recitativo-ária-coro-ária-recitativo. É evidente que há uma leve tentavia de exprimir o caráter dos personagens de acordo com o timbre do acompanhamento (Caronte tem um, a mensageira tem outro, Orfeo tem o cravo, os pastores os alaúdes...) e com a maneira de cantar, os mais alegres cantam os mais severos recitam em momentos de desespero muda a maneira (igual Moisés e Aarão de Schoenberg)... Se Monteverdi tiver desenvolvido isso, creio que a Coroação de Popéia seja uma verdadeira obra-prima digna de um Wozzeck. Orfeo já mais inteligente que quase todas as obras barrocas.

Outra coisa que me impressionou é como Monteverdi fixa o tema de maneira tão precisa (ao ponto de esboçar leimotivs, ao ponto de explorar timbres), muitos procedimentos que ele usa (nas fugas corais) achei que só Bach havia feito, mas parece que não, inclusive muitos procedimentos de Bach já são traçados por Monteverdi, o único problema é que o Baixo-contínuo ainda é muito pobre, mas, ele pode ter melhorado muito. Não vejo a hora de me apoderar da Coroação de Popéia!
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