Música Medieval

Com respeito à sonoridade da música anterior ao período de 1500, não sabemos praticamente nada ao certo. Mas sabemos do sentimento do estilo musical e a interpretação da música antiga.
A música profana era baseada em improvisações, mais ou menos submetidas a regras. Na época, a composição musical não elaborava as obras em formas esmeradas e definitivas como ocorre nas composições de períodos posteriores.

Com relação a um grande número de obras, não se pode falar em um estilo próprio, vocal ou instrumental, destinado a certos instrumentos. Fazia-se ao contrário, música apropriada aos instrumentos em que era executada e para os quais era adaptada oferecendo-se a substância musical que, de acordo com o instrumental disponível, podia ser interpretada nas mais diversas combinações onde as figurações sonoras características de cada instrumento eram improvisadas no decorrer da execução.
À medida que na busca pelos compositores de formas mais definitivas em suas obras, a notação musical se tornou mais complexa e elaborada.
Na Idade Média os compositores ainda eram intérpretes e praticamente todos os músicos também compunham.
Em todo o caso, os bons músicos dominavam as regras da composição e improvisação, o que naturalmente fazia com que a forma final de uma obra se definisse sempre durante a sua execução. Este procedimento pode ser verificado nas tablaturas para alaúde, cravo e órgão.

Existia uma rica variedade de instrumentos que era contraposta à voz humana, o único instrumento que permanece inalterado até hoje.
O instrumento mais amplamente utilizado era por certo a viela, que tinha diversos formatos.
O alaúde medieval servia geralmente para execução de uma só linha melódica. Com a transição ocorrida pouco antes de 1500, para o alaúde renascentista, as cordas, agora de tripa, passaram a ser dedilhadas e o instrumento começou a ser executado polifonicamente. Do ponto de vista estritamente musical, o órgão portátil deve ser classificados na categoria dos instrumentos suaves. Era sempre usado em conjunto com os instrumentos desta categoria. A charamela, dentre todos os instrumentos de sopro, possuía a mais potente sonoridade, pois era utilizada na música de dança e em solenidades ao ar livre.

À medida que se aprimora a técnica de composição, o que foi uma das características marcantes do período pós Josquin des Prez, os compositores buscavam sonoridades mais homogêneas para melhor expressar o aspecto harmônico mais acentuado nesta música. No começo da música polifônica e em algumas regiões, provavelmente até o século XVI, a entonação e a afinação eram baseadas no sistema pitagórico, o qual produzia belas linhas melódicas e intervalos puros e perfeitos de quartas, quintas e oitavas. As terças soavam alargadas e, sendo assim percebidas, eram empregadas como dissonâncias. Ao final do século XVI, descobriu-se a beleza sensual das terças, e aos poucos a afinação pitagórica foi sendo abandonada, substituída por uma afinação em terças justas.

A música cantada na igreja pelos clérigos, herdeira do canto litúrgico oriental, era, nos primórdios da Idade Média acompanhada por inúmeros instrumentos. Mais tarde, à época da cavalaria, a prática instrumental passou a ser cultivada principalmente por artistas ambulantes, que eram socialmente desprezados e considerados uma corporação de pecadores desonestos. Os instrumentos de música na Europa medieval eram, em parte, derivados de seus predecessores da Antiguidade.

Até 1500 à execução da música de dança, não se compunha música puramente instrumental. Quando se pretendia fazer música usando conjuntos de instrumentos, prática bem frequente então, aproveitavam-se as obras vocais existentes. Surge assim no século XVI, sob a influência dos mestres franco-flamengos, estabelecidos na Itália, a forma da canzona instrumental, logo desenvolvida em seus aspectos sonoros e formais pelo grupo de compositores venezianos liderado pelos dois Gabrieli.

Obs: viva a corporação de pecadores desonestos!

Para ajudar na visualização... a viella era um protótipo da viola renascentista... ou do violino que todos conhecemos.

Vai uma imagem aê...!


Ela possuía cinco cordas, sendo uma usada como bordão! (nessa foto, parece até um baixo acústico... mais ela é MUITO menor que ele)

Abaixo uma foto de um alaúde:


É bem explicativa ela!

Uma foto da Charamela:

Acrescentando umas coisas... nessa época também se usavam as flautas tradicionas e transversais... Época dos trovadores*, onde a dança era mais importante... seguida da música instrumental!

*trovadores era, NESSA ÉPOCA (se não me engano século XII), qualquer um que escrevesse uma peça ou compusesse!

Era isso que eu ia pedir, imagens... mil vezes melhor pra saber como era.

Com certeza, precisamos entender um pouco mais sobre História da Música, para que possamos entender na prática sobre cada um de nossos instrumentos. Saber da história, como tudo se iniciou, e qual as influências que temos no dia de hoje, é genial, e mais ainda saber distinguir que muitas coisas de hoje foram beber na fonte de anos atrás!

Bem amigos, fazendo-se uma comparação da Música Medieval com o período seguinte, a música renascentista, do século XV que incluiu:
1. Imitação de melodias inteiras ou trechos mais frequentes;
2. Surge a subdivisão binária, isto é, a notação métrica;
3. Abandonam-se teorias de ritmos medievais;
4. As cores das figuras tornam-se brancas para as longas e pretas para as curtas;

Na Renascença, o interesse pela música profana era grande, mas a Igreja guarda muitas joias musicais. Surgiu um estilo chamado Polifonia Coral, era uma música contrapontística onde cada cantor se responsabilizava por uma parte vocal, e era cantada sem acompanhamento, ou seja, a Cappella. Os acidentes ocorriam com uma frequência maior. Na tessitura, os compositores procuravam uma malha polifônica contínua.

Galera, achei aqui mesmo no fórum algumas informações bacanas sobre Música Medieval:

https://mestredoconhecimento.forumeiros.com/t59-que-som-voce-esta-a-desfrutar#2322

https://mestredoconhecimento.forumeiros.com/t59-que-som-voce-esta-a-desfrutar#3184

Estou escrevendo sobre o teatro medieval e incrivelmente só encontro coisas sobre teatro religioso. Por que será que se tem uma ideia tão pobre do profano no medievo? Colhi vários Romans franceses que, como são musicados e às vezes tem até gravuras como cenas, reconheci uma certa teatralidade possível, além de teatros provados como o próprio Roman de Fauvel, maravilhoso. A jogralidade é um caso a parte de forma teatral que não citei, mas que também é subestimada. Tanto que tinham festivais de jograis todo ano!!! Onde estão os medievalistas profanos?

O Roman de Fauvel é uma "peça" medieva de Gervais du Bus do século 14. Nessa peça Fauvel é um burro, em que cada letra do nome é um pecado. Fauvel é o próprio Filipe o Belo, que tenta dominar o mundo, subjugar a igreja e matar os Templários. Ele ser uma figura subversiva é já uma imagem da época. Satirizada nesse roman, por exemplo. Vale a pena dar uma olhada. Além de ser uma importante fonte de música medieval durante a Ars Nova.

Joker escreveu:Estou escrevendo sobre o teatro medieval e incrivelmente só encontro coisas sobre teatro religioso. Por que será que se tem uma ideia tão pobre do profano no medievo? Colhi vários Romans franceses que, como são musicados e às vezes tem até gravuras como cenas, reconheci uma certa teatralidade possível, além de teatros provados como o próprio Roman de Fauvel, maravilhoso. A jogralidade é um caso a parte de forma teatral que não citei, mas que também é subestimada. Tanto que tinham festivais de jograis todo ano!!! Onde estão os medievalistas profanos?

Se escondendo da perseguição a hereges...
Vai ser difícil mesmo, uma vez que este tipo de apresentação não era tão divulgada e publicada assim... pouca coisa se salvou e, pode ter certeza, mesmo a arte profana está toda permeada pelo pensamento cristão (vide o Decameron).

Joker, tente ver alguma coisa sobre os primórdios da comédia dell'arte. Teatro saltimbanco, realizado nas estradas, vilarejos, onde os atores improvisavam textos a partir de personagens fixos, que muitas vezes eram representados pelos atores durante toda a vida. Talvez por este viés você encontre alguma coisa sobre o teatro que está chamando por profano.

Além disso, uma boa pesquisa pode ser a própria transformação do teatro romano - absolutamente profano e político - que era realizado por prostitutas e vagabundos, para o teatro medieval.

Mas acredito que inevitavelmente você vai chegar à igreja como produtora dos espetáculos.

A coisa muda de figura mesmo com o teatro renascentista e quando o palco passa do teatro jesuítico com o tablado na frente da capela, para o palco elisabethano e italiano...

Boa pesquisa, e vai nos atualizando dos achados...

Abraços,

FREDERICO MERCÚRIO, ALQUIMISTA MEDIEVAL

A igreja detinha os meios...

Provavelmente não se encontra muito da cultura secular do medievo, porque a igreja é quem detinha os meios de registro, como a escrita, escrita musical, e os melhores escribas e copistas (monges).
Procure sobre a obra Carmina Burana, que apesar de ser profana foi escrita, já que boa parte dos autores eram monges.
No séc XX foi transformada em uma espécie de musical, onde apenas seu texto é fiel ao original.

A cultura secular do medievo é riquíssima e abundante, tanto como a religiosa. Em relação ao teatro, na verdade na Idade Média não há teatro no sentido moderno, existem sim representações dramáticas populares de outro tipo (entremezes, por exemplo). Mesmo um autor como Gil Vicente, que viveu no Renascimento português, é considerado um autor de transição entre o drama medieval profano (profaníssimo!!!) e o teatro renascentista.

Eu concordo com os outros em relação à Igreja, pois ela detinha o poder na idade média. Penso que quase toda a produção cultural que nos foi transmitido deve ter sido feito ou compilado por clérigos. O profano era confundido com heresia e por isso, reprimido.

O profano nunca foi confundido com heresia nem reprimido. A produção profana é tão rica como a religiosa, e a grande maioria dos autores não tem qualquer ligação com a igreja.

Veja-se por exemplo a literatura portuguesa medieval, cujos grandes nomes são seculares (D. Duarte, D. Dinis, todos os trovadores, etc.; não me lembro de nenhum religioso, assim de repente), e cujas grandes obras são praticamente todas profanas (a exceção é a literatura hagiográfica). O mesmo na restante literatura europeia.

Não se trata de concordar ou deixar de concordar. Consulta uma história da literatura sobre a época medieval, é bastante elucidativa.

O Hauser, em sua história da literatura e da Arte, comenta sobre algo que faz pensar: será que a cultura medieval era em sua totalidade do anonimato mesmo? Ele explica o anonimato nas artes sacras como sendo fruto de ciúmes dos mosteiros, que não aceitavam assinaturas nas obras de monges que eram de fora de seus mosteiros (e que eram muitos). Hauser consegue reunir milhares de assinaturas em livros e arquiteturas (todo arquiteto deixava alguma pilastra com sua assinatura) e no profano, em sua maioria, eram assinadas. Claro que há escritos de monges se desculpando por estarem escrevendo e que eles são nada, apenas Deus é. Mas será que era uma cultura tão totalitária assim?

É, a Idade Média tinha uma noção de autoria bastante diferente. Parece-me que é uma falsa questão, um olhar com olhos condicionados pelo século XX/XXI aquilo que deve ser olhado com outros olhos. Mesmo na literatura profana a autoria é difusa, por vezes atribuída sem bases consistentes, e o próprio autor não encara a sua obra como sua nem como definitiva, mas aceita e permite acréscimos e alterações posteriores (aditamentos).

Verdade, a questão dos escritos "abertos" e de assinaturas duvidosas são factuais. Mas entra outra questão: a jogralidade e os contos musicados são escritos de forma a permitirem apenas que seus "performancers" a entendam, elas abrem espaço a se colocar frases (muito comum o uso dos "Senhores feirantes, o seu servo aqui merece uma moeda" no meio de contos musicados). Mas não são frases abertas a qualquer um. Estou pesquisando exatamente esse espírito de "especialidade" na era gótica, e estou apostando que o racha da Igreja com o profano na época obrigou esse espírito e que vai dar espaço ao renascimento.

Na Idade Média a ideia de indivíduo ainda não é bem clara, o mundo medieval é um mundo do coletivo, das ordens e das irmandades.
Assinar obras é uma prática que vai se desenvolvendo junto da burguesia, de onde vai se desenvolver o individualismo e o Renascimento.