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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:01

Para recompensá-lo, o agradecido rei Tíndaros convenceu seu irmão Icários a dar-lhe Penélope, cujo nome relacionava-se a penelops, “pato”, significando uma divindade protetora, bondosa. Dispôs as coisas de modo que Ulisses vencesse uma corrida disputada pelos pretendentes que não haviam conseguido conquistar Helena. Ulisses venceu, mas Icários somente aceitou entregá-la se ambos permanecessem em Esparta, contrariando a vontade do futuro rei de Ítaca. Tíndaros mandou buscar a moça. Quando Ulisses lhe pegou a mão ela enrubesceu, cobrindo a face com o véu. Casaram-se ali mesmo. E, num dado momento, quando tiveram a oportunidade de ficarem sozinhos, o filho de Laertes obrigou a princesa a escolher entre ficar com o pai e acompanhá-lo a Ítaca. Penélope decidiu segui-lo, mas esconderam essa decisão. E assim o fez, em companhia de sua criada Áctoris, mais velha que ambos.

Icários, aborrecido pelos acontecimentos, ergueu um monumento à Modéstia, perto de Esparta, no lugar em que a filha tomara a decisão de partir.

Chegando a comitiva de Ulisses em Ítaca, trazendo consigo Penélope e Áctoris, foram bem recebidos, e Laertes abraçou filho e nora com demonstrações de amor e carinho.

— Estou ficando velho, e posso agora abandonar o trono com o coração tranqüilo. Meu filho tornou-se homem e, tendo uma tão bela e boa moça, para ocupar o trono a seu lado, poderá Ulisses governar Ítaca em meu lugar.

OS FILHOS DE MENELAUS E HELENA

Helena e Menelaus viviam felizes em Esparta e, assim que o rei Tíndaros veio a falecer, definitivamente a coroa passou para seu genro Menelaus, que passou a reinar sobre toda a Lacedemônia.

A princesa Helena deu a Menelaus um casal de filhos: Córitos e Hermíone. Helena tinha uma filha chamada Ifigênia, que havia tido de Teseus e que havia sido criada em Esparta. Menelaus não quis reconhecê-la como sua, e a menina ficou sob a tutela do rei Tíndaros. Fora esse contragosto, os recém-casados viveriam felizes por, mais ou menos, dez anos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:02

Agamémnon e Clitemnestra, por amor e consideração a Helena, decidiram adotar a pequena Ifianassa, “a que governa poderosamente”, que era filha de Teseus, repudiada por Menelaus (Ifigênia seria um nome mais apropriado à deusa Ártemis).

Quanto aos pretendentes de Helena, encontraram, todos ao seu tempo, outras moças para desposarem, e com elas constituíram família. Na maioria, tinham esquecido quão pressurosos estiveram de conquistar a bela Helena, e riam-se rememorando aquela loucura de sua mocidade; nenhum deles se lembrava mais do juramento que haviam feito. No entanto, ainda se achavam ligados por ele, como o futuro iria prová-lo. Negra nuvem estender-se-ia em breve sobre as vidas de Helena e Menelaus, Agamémnon e Clitemnestra, e as crianças que brincavam felizes ao sol de Esparta e Micenas.

AS PREVISÕES DE CALCAS

Quando Aquiles contava nove anos de idade, mas um homem no porte e na virilidade, Peleus levou-o ao adivinho Calcas para revelar sobre o seu destino, que tanto lhe tirava o sono.

— Preciso saber o que o Destino reserva para ele.

O sábio Calcas, após consultar seus augúrios, declarou, finalmente:

— A longínqua Tróia, condenada à ruína pelo poder dos aqueus, não poderá ser conquistada sem o concurso do menino.

E completou a previsão com outra, agora funesta:

— Seus pés, contudo, jamais pisarão o chão da cidade sagrada, eis que antes disso baixará à casa de Hades pela seta infalível do grande Apolo.

O tempo passou, e a profecia chegou também aos ouvidos de sua mãe, Tétis, no fundo do mar. E concebeu um plano:

— Se o destino de Aquiles está em perecer diante das muralhas de Tróia, então a sua salvação estará em jamais participar dessa campanha.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:03

MENELAUS EM TRÓIA

Certa noite, Páris teve um sonho. Estava diante de Afrodite, que lhe concedia o presente que lhe havia prometido: um mulher, extremamente bela, que de seu rosto emanava um brilho intenso. Era uma filha de Zeus, e Páris, assim que acordou, acreditou ter sido uma premunição. Conforme a deusa Afrodite lhe havia prometido, o senhor do Olimpo lhe daria proteção, e agora lhe daria também a sua bênção. E Páris levantou-se mais disposto e confiante. Quando, de repente, um nome surgiu: “Helena”, e lembrou-se das últimas palavras de Afrodite:

— Não temas, querido. Não é a própria deusa do amor quem te propõe a ser a fiadora e garantia do teu amor?

Páris estava imerso nestes pensamentos quando ouviu um arauto declarar a seu pai que Menelaus, rei de Esparta, estava prestes a chegar em Tróia. E foi consultar seu pai.

— Que Menelaus?

— É um homem importante, rei da longínqua Esparta, no sul da Hélade. Ele é dono de grande parte das terras do Peloponeso e divide o poder com seu irmão Agamémnon, que alastra seu poderio para além de seus limites.

— Para que vem?

— Os dois reis mantêm uma aliança com Tróia, apesar das nossas desavenças no passado. O Oráculo de Delfos determinou que Menelaus viesse até nós para reaver os ossos de dois de seus mais ilustres guerreiros que aqui pereceram durante a famosa expedição que Héracles fez outrora à nossa Pátria.

— E não foi nessa ocasião que levaram Hesíone de nossa casa? Haverá alguma negociação?

— Tentaremos um acordo. Certamente retribuiremos a visita e vamos recuperar a nossa amada Hesíone. Mas será feito uma coisa por vez. Devemos recebê-los com hospitalidade e, protegidos pelas leis de Zeus, esperar que façam o mesmo conosco.

A notícia era importante demais para que Páris se mantivesse afastado. E não pôde conter a sua curiosidade:

— Vem sozinho?

— Traz apenas uma comitiva. Estará neste palácio amanhã, pela manhã.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:03

No dia seguinte, chegava o visitante com sua comitiva. O rei de Tróia recebeu-o com toda pompa. Junto, com o anfitrião, estavam seus filhos Heitor, Deífobos e Páris. Este último arregalou os olhos quando viu Menelaus, tão famoso rei em sua terra. E, num aperto de mão, o soberano de Esparta não deixou de comentar ao cumprimentá-lo:

— Um filho que, sem dúvida, faz jus ao próprio pai.

Páris percebeu nas palavras de Menelaus o seu caráter generoso, a sua nobreza e a sua sinceridade. De forma tímida, baixou a cabeça, um tanto encabulado, e afastou-se dando lugar para que Príamos o conduzisse à mesa para o banquete.

Durante aqueles dias de permanência da comitiva espartana, Páris afeiçoou-se de tal forma com o rei visitante, que ofereceu-se para ajudar a encontrar os ossos dos guerreiros helênicos. E sua ajuda foi valiosa.

— Se não fosse a tua ajuda, jovem príncipe, não sei se teria sucesso em minha missão. Por isso quero que um dia tu visites o meu reino, em Esparta, para que eu possa retribuir à altura o tratamento que me dispensaste. Te darei uma esposa, mais bela do que teus olhos já viram.

O coração de Páris quis saltar pela boca, pois ouvia da boca do hóspede de seu pai a realização da promessa de Afrodite. Seria uma filha de Zeus?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:04

NOVA EMBAIXADA À HÉLADE

Hesíone, irmã de Príamos, havia sido levada de Tróia para a Salamina, como presa de guerra do herói Télamon, após a conquista da cidade pelo semi-deus Héracles, há bastante tempo. Apesar de haver Télamon elevado a donzela à dignidade de sua esposa e de princesa, Príamos e os seus nunca se tinham conformado com o rapto. E, agora, ao falar-se novamente na corte daquele ato de violência, e ao exprimir o rei toda a saudade que sentia da irmã desaparecida, Páris, que participava com os irmãos dos conselhos, declarou que, se o enviassem com uma frota à Hélade, ele, com o auxílio dos deuses, a traria de volta amigavelmente e, se a recusassem, arrebataria dos inimigos a irmã de seu pai e voltaria vitorioso e coberto de glória. Ao mesmo tempo, assentava a esperança no favor de Afrodite, pelo que narrou ao pai e aos irmãos o que lhe ocorrera, quando vivia entre os seus rebanhos. Príamos teve a certeza de que seu filho Páris obteria a especial proteção dos Imortais; Deífobos também exprimiu a sua confiança de que os gregos consentiriam em entregar Hesíone, se o irmão se apresentasse a Télamon com o auxílio do grande Menelaus. E Príamos aprovou a idéia de seus filhos:

— Sim, Páris, quero que vás com Enéias, Polídamas e teus irmãos a Esparta retribuir a visita que Menelaus nos fez. Se preciso for, convence-o a dar-te ajuda e interceder diante do grande soberano Télamon, de Salamina, e traz de volta minha irmã Hesíone.

— A tua palavra, meu pai, será sempre o leme de meus atos.

Dentre os inúmeros filhos de Príamos havia um, chamado Hélenos, dotado do dom da profecia, que imediatamente prorrompeu em exclamações fatídicas, afirmando:

— Se Páris voltar da Hélade trazendo dali uma mulher, os gregos virão a Tróia, arrasarão a cidade e passarão a fio de espada Príamos e seus filhos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:04

A profecia dividiu as opiniões dos que assistiam ao conselho. Troilos, o melhor dos filhos de Príamos e Hécuba, quase que menino ainda, não quis saber da profecia do irmão, censurou-lhe a covardia e aconselhou a que se não renunciasse à luta por temor a tais ameaças. Outros, em troca, demonstraram-se hesitantes. Mas Príamos, que anelava vivamente recuperar a irmã, pôs-se do lado de Páris.

Príamos, então, reuniu uma assembléia do povo e nela explicou o que acontecera quando ele enviara à Hélade uma embaixada, chefiada por Antenor, com a finalidade de resgatar Hesíone. Pensava o rei, se o povo reunido lhe aprovasse a ideia, em enviar seu próprio filho com um poderoso exército para conseguir pela força o que pela diplomacia não havia sido logrado. Antenor manifestou-se favorável à resolução, descreveu com desgosto a vergonha suportada na Hélade, ao se apresentar como emissário pacífico; descreveu o povo grego como insolente na paz e covarde na guerra. As suas palavras excitaram de tal modo o povo, que este, unanimemente, se decidiu pela guerra, já que orgulhavam-se de sua força diante dos demais reinos da Ásia. Mas o prudentíssimo rei Príamos, não desejando tomar resoluções levianamente, convidou a falar todos os que tivessem um reparo, ou hesitassem. Levantou-se, então, Pantous, um dos varões mais velhos de Tróia, e contou o que lhe confiara seu pai Ótris, quando ele era ainda muito moço, instruído por um Oráculo dos deuses,confirmando as palavras de Hélenos:

— No dia em que um príncipe real da casa de Laómedon trouxer ao palácio uma esposa da Hélade, os troianos estarão frente a frente com a ruína total. Sendo assim, não devemos deixar-nos extraviar por uma glória enganadora, meus amigos. Pelo contrário, deixemos que a nossa vida transcorra em paz e tranqüilidade, e não a exponhamos em batalhas, para perdermos tudo, inclusive a liberdade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:05

O povo recusou aceitar aquela proposta e bradou ao monarca que não desse de maneira nenhuma ouvidos às medrosas palavras de um velho, e que pusesse em prática o que já resolvera no coração.

Foi quando Cassandra, a filha profetisa de Príamos, resolveu falar, predizendo, num ataque histérico:

— Páris, meu irmão! Desiste desta funesta expedição, porque será o primeiro passo de nossa ruína! Concede teu lugar para outro de teus irmãos!

E disse um dos que ali se encontravam:

— Vede! É Cassandra, a profetisa que os deuses privaram o dom da persuasão!

Um grasnar insolente de risos espalhou-se no ar como um bando de aves barulhentas. Porém, a voz poderosa de Páris se fez ouvir:

— Silêncio, rufiões! Respeitai a profetisa Cassandra, pois também é filha do rei!

Calaram-se todos, e Páris continuou:

— Quanto a ti, minha irmã, que me ajudaste a encontrar meu pai, minha mãe e meus irmãos, serena tua alma, pois são bons ventos que nos levam até a pátria do generoso Menelaus. Usarei da diplomacia e trarei de volta a Tróia quem um dia pertenceu a Tróia.

Por conseguinte, Príamos ordenou se construíssem navios com a madeira do monte Ida e mandou seu filho Heitor à Frígia, Páris e Deífobos à Peônia e à Trácia, em busca de prováveis aliados, se preciso fosse enfrentar uma guerra. Em seguida, mandou chamar o engenheiro dos navios, Hapmônides, que houvera adquirido seus dons de Palas-Atena, a fim de passar-lhe instruções.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:06

O RAPTO DE HELENA

Naqueles dias, Catreus, filho do famoso rei Minos, de Creta, já dominado pelo peso da idade, sentindo que seus membros estavam fraquejando, há muito exilado de Creta, havia partido para Rodes a fim de procurar o filho Altêmenes, pois ansiava entregar-lhe o trono que dividiria com o irmão Deucálion. Chegou com sua gente a um lugar deserto, longe da cidade de Cretênia, e os pastores do filho julgaram estar tratando com piratas, e açularam contra eles os cães. Em meio à gritaria e latidos, Catreus não pode se fazer ouvir e entender. Ia sendo lapidado pelos pastores quando Altêmenes acorreu e acabou matando-o com um dardo. Confirmava-se assim uma velha profecia sobre a sua morte.

Enquanto isso, os homens de Tróia, aptos à guerra, armaram-se também, e em pouco tempo se reuniu poderoso exército que o rei pôs às ordens de Páris-Alexandre, dando-lhe como assistentes seu filho Deífobos, Polídamas, filho de Pantous, e o príncipe Enéias, que até então era um simples acompanhante, mais conhecido pela gente da casa de Príamos por ser parente do rei.

Entretanto, antes de partir, Páris foi despedir-se de sua esposa, a ninfa Enone. Novamente não a encontrou, mas foi ainda procurá-la no rio Cébren. Enone, prevendo uma futura desgraça em sua vida e na vida de seu esposo, proferiu suas palavras vindas de algum lugar do leito do rio:

— Lembra-te, meu esposo: só eu mesma poderei aliviar a tua dor, no caso de um dia precisares com extrema urgência.

Páris, percebendo então que não mais voltaria a ver Enone, a mãe de seus filhos, voltou para Tróia para jamais um dia voltar à sua antiga morada, nos bosques do Ida. Ele nada entendeu, não imaginava o que iria acontecer futuramente, nem mesmo ela sabia de todos os detalhes.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:06

E a imponente coluna fez-se ao mar, rumo à ilha grega de Cítera, a primeira em que projetavam desembarcar, para oferecer um sacrifício a Afrodite e Ártemis num templo consagrado a ambas as deusas. Deixaram para trás as praias de Tróade e lançaram-se ao alto-mar, recortando as inúmeras ilhas do Arquipélago.

A frota troiana chegou felizmente a Cítera. Dali, Páris pensava em dirigir-se a Esparta para entrar em negociações com Menelaus e os filhos de Zeus, Cástor e Polideuces, a fim de que se incumbissem da irmã de seu pai, Hesíone, e intermediassem no que fosse preciso. Se os heróis gregos se negassem, tinha Páris ordem de seu pai para dirigir-se com a frota a Salamina e arrancar à força a princesa das mãos do rei Télamon.

Enquanto os navios troianos dirigiam-se para Cítera, e durante uma curta viagem de Menelaus a Pilos, do rei Nestor, Helena, a rainha de Esparta, tirou um tempo para respirar ar puro e pôs-se a colher flores. Helena era virtuosa, digna filha de Zeus e Leda. A ela não cabia o Destino que estava por vir. Deveria ser poupada. Por isso, ressentida com Afrodite, que havia recebido de Páris o prêmio da beleza, a deusa Héra, sabendo das intenções do príncipe troiano, viu Helena colhendo rosas, adormeceu-a e, secretamente, transportou-a para a longínqua ilha de Fáros, no Egito, e encarregou Proteus de protegê-la. Em seu lugar, sem o conhecimento de qualquer ser humano ou deus, Héra colocou um espectro com os traços de Helena e atitudes contrárias, a Helena nascido de Zeus e Nêmesis, a deusa da vingança; ela, a exemplo da mortal Helena, havia nascido de um ovo. Ela passava por ser o lado obscuro, adverso da filha de Zeus e Leda. Helena, a virtuosa, foi encaminhada ao rei Cetes, que acolheu-a como filha.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:07

A falsa Helena, inteirando-se da chegada da magnífica frota do filho de um rei estrangeiro, em Cítera, sentiu despertar a feminina curiosidade de vê-lo e também ao seu séquito marcial. Desejosa de satisfazer a curiosidade — de uma forma longe de ser virtuosa — resolveu dirigir-se àquela ilha para oferecer solene sacrifício no Templo de Ártemis. Deixou a filha Hermíone no berço e seguiu com seu séquito para Cítera; entrou no santuário no momento em que Páris acabava o seu sacrifício. Mal o príncipe viu aquela bela mulher, caíram-lhe as mãos que mantinha erguidas em atitude de oração e ficou pasmado, pensando que estava a contemplar, mais uma vez, a própria deusa Afrodite. E Páris perguntou a um homem que ali estava a oferecer seus sacrifícios:

— Quem é aquela bela mulher?

— É a formosa Helena, a rainha de Esparta. De vez em quando ela vem até este templo erguer preces a Afrodite.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:07

Helena... já ouvira este nome antes. A fama da formosura da rainha havia algum tempo que chegara à corte do rei Príamos, e Páris sentia evidentemente desejos de admirar-lhe os encantos em Esparta; mas julgava que a mulher que lhe fora oferecida pela deusa do amor devia ser muito mais bela do que prometia a descrição de Helena. Pensava também que a beleza oferecida seria uma donzela e nunca a esposa de outro homem. Mas agora, vendo a princesa espartana e dando-se conta de que a sua beleza rivalizava com a da própria deusa do amor, compreendeu imediatamente que só aquela mulher é que poderia ser a sua recompensa. Naquele momento, foi-se-lhe da memória a incumbência que lhe dera o rei seu pai, e todo o objetivo daquela mobilização e daquela viagem. Pareceu-lhe ter sido enviado, à frente de um bom número de guerreiros, apenas para se apoderar de Helena. Enquanto permanecia, embevecido, na súbita contemplação, Helena, por sua vez, considerava com complacência o elegante príncipe asiático, de ampla cabeleira, magnificamente trajado de ouro e púrpura, no estilo oriental; a imagem do esposo empalideceu no seu falso espírito, substituída pela altiva figura do jovem estrangeiro.

De retorno ao palácio real de Esparta, conflitavam o espectro e a imagem de Helena: apagar do espírito a recordação do formoso príncipe e reclamar, na mente, a volta de Menelaus, o qual estava em Pilos, ou entregar-se à Volúpia, que lhe atormentava os pensamentos... Entretanto, Aetra, sua serva confidente, iludia Helena, aconselhando-a a abandonar Menelaus, talvez com o intuito de vingança, por ter sido outrora arrebatada de Atenas pelos Dióscuros, os irmãos de Helena.

Porém, enquanto vacilava o coração de Helena, voltava de Pilos o amado esposo Menelaus, seguido de seu séquito. No caminho, Menelaus ouvira a notícia da chegada da frota troiana, e, por isso, retornou o mais depressa possível.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:13

— Helena querida, é preciso que os recebamos como nunca antes visitante algum foi recebido. Façamos que a sua estada em nossa Pátria seja lembrada ainda por muitos anos como exemplo de cortesia e amizade.

E Helena, ouvindo essas palavras animadoras, recolheu-se em seus aposentos.

— Preciso, então, fazer-me ainda mais bela, se tal é a importância de nosso hóspede. Pois o que dirão da esposa de Menelaus, se não sabe estar à altura da cortesia de seu marido?

Helena, assim pensando, desnudou-se inteira diante do espelho. Depois de admirar um quadro que somente seu marido tinha o privilégio de admirar e tocar, fez com que uma delicada esponja percorresse suas formas perfeitas, embebendo sua pele de um aromático perfume. Assim, vestiu seus melhores trajes e enfeitou-se com as jóias mais faiscantes que possuía.

Helena sentou-se, enquanto compunha sua maravilhosa cabeleira, cujos fios pareciam ter sido descosidos da própria Noite e tecidos outra vez sobre a sua cabeça. Abaixo deles fulguravam duas esmeraldas, que despediam o brilho intenso de duas estrelas, e logo em seguida, abaixo de seu nariz aquilino, uma harmoniosa e úmida boca, de lábios naturalmente escarlates.

Primeiro, os troianos foram a Âmiclas a fim de encontrarem os irmãos Dióscuros, que levou-os, enfim, a Esparta. Apresentou-se o próprio Páris em Esparta, com um seleto séquito, acompanhado do qual rumou para o palácio do rei, apesar de estar este ausente. A esposa de Menelaus acolheu-o com a habitual hospitalidade devida a um estrangeiro e com a pompa adequada a um príncipe real. Anfitriões da casa de Menelaus, Cástor e Polideuces ofereceram a Páris e Enéias um festim no palácio. O talento musical, a agradável conversação e o impetuoso ardor do jovem transtornaram o coração incauto da rainha, cujo espectro ainda não havia-se habituado ao seu falso caráter.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:14

Algumas horas depois, Aetra veio lhe chamar. Ela, a passos largos, apressou-se a atender o chamado do marido, que, trajando de forma igualmente esplêndida, lhe disse:

— Importa muito, minha amada, que os recebamos tão logo pisem o solo de Esparta.

O cais estava devidamente preparado para a recepção. Músicos e gente comum estavam misturados aos membros das melhores famílias. E, adiante de todos, estava o casal real, Menelaus e a belíssima Helena.

— Eis que chegam, Helena!

A rainha, contudo, apesar de compartilhar da ansiedade de seu marido, está um tanto confusa com o alarido que a plebe promovia ao redor, tirando-lhe a vista dos navios. Voltou-se, ainda com sua personalidade conflitante, então, para ver no rosto de seu esposo a satisfação que toda aquela balbúrdia lhe trazia, e pensou:

— Menelaus é de fato um homem nobre!

Nesse instante os visitantes desembarcaram e se aproximaram do local onde Menelaus e sua esposa estavam. Contudo, antes mesmo que lá chegassem, os olhos ansiosos de Páris já reencontravam os olhos serenos de Helena. Mas deveria manter-se firme, pois acreditava que a deusa lhe havia preparado ainda uma escolha mais propícia, menos problemática do que uma mulher casada, especialmente com um homem tão nobre e generoso como Menelaus. Mas Enéias, um de seus acompanhantes, não deixou de observar:

— Vê, Páris, é uma mulher infinitamente bela!

— Sim, é o tipo de mulher que invade os meus sonhos...

E, subitamente, quebrando os pensamentos vagos do príncipe, Menelaus lhe estendeu a mão.

— É com prazer infinito que meus olhos contemplam outra vez a ti, filho de meu amigo Príamos!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:19

Páris, meio desconcertado, retribuiu as palavras do rei com um agradecimento improvisado. Enquanto isto, Helena aguardava a sua vez de cumprimentar o jovem, que até então não lhe provocara mais que uma natural admiração. Via-o agora como alguém que conhecia há muito tempo. Entretanto, Éros, o deus do amor, já assestava a sua pontaria para o coração da rainha. E ele, antes de lançar a seta, murmurou:

— Já conheces o Amor, encantadora filha de Zeus, porém chegou a hora de conheceres a quintessência da Paixão!

Tão logo os olhos da conflitante Helena pousaram finalmente nos olhos do príncipe troiano, uma seta certeira com a inscrição “paixão” varou implacavelmente o coração frágil da rainha.

Helena, então, aturdida, pensou:

— Afrodite soberana, o que sinto...?

Uma chama ardente subiu de seu peito e tingiu de vermelho suas faces quando seus olhos se cruzavam.

— Uma honra nunca imaginada me chega agora como uma dádiva dos deuses: a de poder contemplar neste instante a mais sublime rainha de quantas a Hélade inteira pôde gerar...!

E Páris curvou a cabeça, num estratagema sutil que lhe permitia recobrar um pouco o autocontrole.

E pensou:

— Ó, Zeus supremo! Como ocultar doravante o amor divino que brilha em meus olhos, sem que outros mil profanos o devassem?

Helena,a seu turno, estava que imersa num sonho e, sentindo agora que suas cores lhe fugiam do rosto, abaixou também a cabeça. Quando a ergueu novamente estava misteriosamente sentada diante de uma grande mesa, em algum lugar que até lhe parecia familiar. Reconheceu a voz de seu esposo, que parecia mencionar o seu nome. Quando se voltou assustada para o lado, porém, quem seus olhos encontraram era aquele mesmo jovem que a atordoara. Ele estava sentado entre ela e Menelaus, que entretinha uma conversa animada com o troiano Enéias. E, de repente, Helena ouviu uma voz indistinta:

— Uma viagem é sempre um enigma, meu caro rei.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:23

Despertando do sonho, Helena viu rostos vagos começarem a se desenhar à sua frente. Comensais e glutões de toda espécie, que interesses políticos obrigavam o soberano a manter em sua mesa, ali estavam alegremente refestelados, erguendo brindes de todo jeito, junto com Cástor e Polideuces, seus irmãos.

Refazendo-se, voltou os olhos para o lado e encontrou seu esposo Menelaus, que carinhosamente lhe perguntou:

— Estás bem, querida? Não comes?

— Estou bem, não te preocupes. Só estou um pouco abatida, porque há muito não temos uma festa como esta.

Passou quase todo o tempo assim, pensativa, distante, e cada vez que ouvia a voz do príncipe Páris, imaginava que se referia constantemente a ela. E, ao final da recepção, Helena estava exausta e foi direto para seus aposentos. Menelaus lhe perguntou:

— Então, o que achaste de nossos convidados?

— Enéias parece ser um homem muito determinado.

— E quanto ao filho de Príamos?

Helena gaguejou:

— Ah... não reparei. É... talvez um tanto inexpressivo.

Passaram-se alguns dias, e a rainha Helena fez de tudo para não cruzar com o forasteiro, até que certo dia as Moiras decidiram armar-lhe uma cilada, que poria por terra todas as defesas, já que até o espectro inserido na vida de Helena às vezes vacilava. No décimo dia da estada dos troianos em Esparta, chegava a notícia da morte de Catreus, o avô de Menelaus. Imediatamente, a notícia se espalhou, e emissários espartanos foram enviados para Micenas a fim de avisar também a Agamémnon.

— Helena querida, tenho de partir imediatamente.

— Como?

— Catreus, meu avô materno, faleceu. Devo partir ainda no dia de hoje para assistir aos seus funerais.

E abraçou-a fortemente.

— Confio que saberás entreter os nossos hóspedes de tal modo que não sintam a minha ausência!

— E quanto ao motivo para que vieram?
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A Guerra de Tróia - Página 6 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:27

— Darei ordens para que tudo seja providenciado. Enviarei teus irmãos, Cástor e Polideuces, a fim de interceder pelos embaixadores de Tróia, para que consigam encontrar uma solução sobre o caso de Hesíone, a rainha da Salamina. Estou certo que teus irmãos saberão o que fazer.

— Volta logo, meu marido. Sê breve.

Antes do final do dia, o rei, acompanhado de uma tripulação de guerreiros espartanos, já singrava os mares em direção de Creta, enquanto a Noite descia seu manto sobre Esparta. Helena estava sozinha no palácio. Os dedos de suas mãos entrelaçavam-se convulsamente, enquanto ela observava da janela um céu carregado de nuvens.

De repente, sentiu que às suas costas alguém se aproximava. Ela não precisou voltar-se para saber quem era.

— És tu, Páris?

— Perdoa-me, amável rainha, mas preciso muito te falar.

— A hora talvez não seja a mais propícia, jovem imprudente... Nem este seria o lugar mais apropriado...

— Imprudência... Talvez seja isto mesmo, encantadora rainha. Os Fados me obrigam agora a fazer uso desta perigosa palavra.

— Que dizes?

— Não, imprudência não... ousadia, talvez seja o termo apropriado, pois sem isto o amor será sempre uma palavra vã!

Helena, certamente surpreendida pela agradável ousadia do príncipe estrangeiro, voltou-se para ele e recuou alguns passos.

— Páris, abusaste dos dons de Dionisos?

— Não, divina rainha... Bebi foi a beleza de teus encantos... Esta embriaguez está prestes a me levar ao último extremo da ousadia e, quem sabe, até mesmo, da perversidade.

Helena reconheceu, então, que havia chegado a hora tão temida por ela. E disse para ele o que também se referia a si mesma:

— Vamos, procura te acalmar...

— Deixa-me falar-te.

Helena baixou seus olhos, corando terrivelmente. Páris, por sua vez, percorreu com os olhos todo o aposento. Helena, erguendo a cabeça, perguntou-lhe:

— O que procuras?

— Não procuro, bela Helena... Eu temo...

— Não entendo...
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A Guerra de Tróia - Página 6 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:28

— Oh, como temo... Temo os olhos de todos! Eu os vejo por toda a parte, me observando, me inquirindo, me espionando...

A rainha ficou aturdida, e sua mão cobriu seu rosto. De repente, porém, ela sentiu que algo a afastava num brusco repelão. Por um breve instante enfureceu-se com o visitante, até descobrir que não fora ninguém, senão ela mesma, quem afastara com a própria mão. Ao mesmo tempo algo dentro dela obrigou-a a fixar as feições daquele homem.

— São meus olhos, jovem Páris... São meus próprios olhos, feitos em mil, que incessantemente te buscam!

E Helena deixou cair os braços lentamente, ao longo do corpo. Então, notando que a fidelidade dela vacilava, completamente esquecido da missão que lhe fora confiada pelo pai, entregou-se por completo ao pensamento da ilusória promessa da deusa do amor. E sussurrou, tentando abafar a custo o seu entusiasmo:

— Então... sentes o mesmo que eu?

Um silêncio afirmativo iluminou os olhos de Helena.

— Helena, Helena... Só haverá esta oportunidade...

Durante alguns instantes ambos se estudaram avidamente. Então, bruscamente, os lábios se encontraram num sôfrego beijo.

— Sim, eu te amo, Páris...

Depois de trocarem ardentes beijos, Páris tomou a cabeça da rainha em suas mãos e propôs:

— Helena adorada! Vem comigo para Tróia!

— Não posso!

Helena tentou desvencilhar-se daquelas mãos firmes. Mas ela sabia que seu destino estava selado.

— Serás chamada Helena de Tróia!

Páris já lia nos olhos da amada que nada a impediria de unir-se a ele. Por isso, sem mais delongas, durante toda a noite, fizeram-se os preparativos para a fuga. E, enquanto encaixotava seus pertences com a ajuda de Aetra, sua escrava, que apoiava a atitude de Helena, pois com isso tinha certeza que retornaria para Atenas, a rainha, quase histérica, exclamou:

— Afrodite suprema, proteja-me da fúria de Menelaus!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:28

Páris, reunindo os sequazes mais íntimos, bem armados, entre eles Glaucos, filho de Antenor e Téano — menos Enéias, que jamais aceitaria tal conspiração — induziu-os, mediante a perspectiva de um rico despojo, a colaborar no crime que pretendia perpetrar. Assim, fazendo alguns mortos, assaltou o palácio, obrigando algumas servas a segui-lo. Inclusive Aetra, que, achando-se livre da servidão, foi obrigada a partir também, já que Helena insistia que a levassem também para Tróia. Assim, Aetra ficaria ainda mais distante de seu filho Teseus e de seus netos, mas tinha certeza de que, um dia, iriam buscá-la e trazê-la de volta.

Depois de apoderar-se dos tesouros do rei grego, Páris levou a formosa Helena à ilha aonde se encontrava ancorada a frota troiana, e a rainha teve que abandonar seu filho Córitos e a filhinha Hermíone, com apenas nove anos de idade. Assim, antes que o Sol rompesse os portões do dia com seus cavalos de fogo, partiam de Esparta os navios, levando consigo as riquezas do reino e a maior delas, Helena. E quando Enéias percebeu o que haviam feito, era tarde demais; teve que resignar-se, pois devia se submeter a um príncipe de Tróia. A rainha sabia que deixava tudo para trás, em nome de uma paixão, perdendo o respeito e a dignidade. Mas agora, que havia dado o primeiro e fatal passo, estava disposta a tudo.

— Seja o que Zeus, meu pai, e Afrodite protetora determinarem... não poderei voltar atrás.

E aninhou-se nos braços do príncipe Páris, enquanto divisava afastando-se de seus olhos a sua Pátria e tudo o que um dia foi seu. Este dia decisivo marcaria para sempre o seu destino.

Enquanto isto, Cassandra, a profetisa cuja voz ninguém conseguia ouvir, estava caída diante dos degraus do Templo de Zeus, em Tróia. Chovia, e suas vestes estavam em tiras. A cinza que recobria a sua cabeça lhe escorria pelo rosto, dando-lhe o aspecto de uma louca. Ela, com os lábios colados nos degraus frios da escada, exclamou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:29

— Ai de ti, Tróia infeliz! Eis que se aproxima a hora de tua perdição!

Um riso sarcástico ainda ficou pairando longo tempo no ar, depois que o último ébrio passou por ela, aos tropeços.

Durante o rapto da princesa Helena, aconteceu em Rodes que Altêmenes soube que o homem que havia matado era seu próprio pai, fazendo cumprir um velho Oráculo a esse respeito, já que o falecimento de Catreus havia-se tornado conhecido. O jovem, desolado, desejou ser engolido pela Terra, e os deuses lhe atenderam o pedido.

A PROFECIA DE NEREUS

Quando estava em alto-mar, com o precioso botim, apesar da reprovação de Enéias e alguns troianos, uma repentina calmaria se abateu sobre os navios em pleno Egeus, nome que se dava ao mar Arquipélago, em homenagem a Egeus, o pai de Teseus. Diante do navio-almirante que conduzia o raptor e a princesa, abriram-se as águas, e o velhíssimo deus marinho Nereus ergueu a cabeça coroada de juncos. Ter-se-ia dito que o barco estava cravado no mar, cujas ondas pareciam uma vala de bronze unida dos costados do barco. Nereus lançou a sua fatídica predição:

— Aves de mau agouro precedem a tua viagem, detestável raptor! Os gregos virão, mediante um poderoso exército, destruir o teu criminoso enlace e o velho reino de Príamos. Ai, quantos corcéis, quantos homens estou vendo! Quantos mortos não haverás de causar ao povo dárdano! Palas-Atena apronta o elmo e o escudo e se excita. A sangrenta luta durará anos e mais anos, e somente a cólera de um herói porá termo à ruína da tua cidade. Mas quando o número determinado de anos tiver passado, as achas gregas devorarão as casas de Tróia.
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A Guerra de Tróia - Página 6 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:30

Foi essa a profecia do velho antes de tornar a mergulhar nas águas. Páris ouviu-o com terror. Mas apenas a aragem começou a soprar mais uma vez, esqueceu-se da predição nos braços da princesa raptada, e, com toda a frota, ancorou em Crane, “a ilha rochosa”, onde a falsa e infiel esposa de Menelaus lhe ofereceu voluntariamente a mão e a ele se uniu em solene himeneu. Os dois, esquecidos da pátria e do lar, desfrutaram durante muito tempo dos tesouros que haviam trazido, e levariam um bom tempo até retomarem o caminho de Tróia. A magoada Héra suscitou contra os amantes uma grande borrasca, que os lançou para fora do Arquipélago. Jogados para o oriente do Grande Mar, a nau troiana foi parar na cidade portuária de Sidon, na costa da Síria; de lá, trariam maravilhosos presentes para distribuir aos troianos quando regressassem.

OS GREGOS SE REÚNEM

A deusa Íris, cumprindo ordens de Héra, foi à casa de Nestor, em Pilos, a fim de dar notícias sobre o rapto da esposa a Menelaus, que, depois de presenciar os funerais e os jogos fúnebres em honra de Catreus, havia partido para aquele reino, para uma nova visita ao velho soberano, filho do famoso rei Neleus. Menelaus, surpreso e muito nervoso, apressou-se em deixar a Messênia, voltando imediatamente para Esparta.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:32

A violação do direito das gentes e da hospitalidade cometida por Páris em Esparta, na sua qualidade de embaixador, produziu sem demora os seus frutos e ergueu contra ele todos os principais e influentes príncipes da Hélade. Todos respeitavam Menelaus, soberano de Esparta, e Agamémnon, seu irmão mais velho, soberano de Micenas, que descendiam de Tântalos, eram netos de Pélops e senhores da casa de Tíndaros e de Atreus, sendo que Agamémnon já era conhecido como ánax andrôn, “o rei dos heróis”, rei dos reis da Hélade, visto que sucedia a Euristeus e Atreus, reis anteriores da mais importante cidade daquela terra. Estavam também unidos por aliança aos soberanos do resto da Hélade, dos descendentes de Hélenos. Por isso, assim que Menelaus recebeu a notícia do rapto de sua esposa Helena, correu ao encontro do irmão, em Micenas. Agamémnon partilhou as dores e a cólera do irmão e, querendo consolá-lo, prometeu-lhe relembrar aos antigos pretendentes de Helena o juramento que haviam prestado.

Consultado o Oráculo de Delfos acerca da oportunidade de se iniciar uma expedição militar contra Ílion, ele respondeu, pela boca da Pítia. E um intérprete do Oráculo assim disse:

— Que se ofereça a Atena-Prónoia, porque é preciso tê-la como aliada, um colar que Afrodite outrora concedera a Helena.

Desejando vingar-se do príncipe Páris, a deusa Héra imediatamente posicionou-se ao lado do rei Menelaus e tudo fez para reunir os heróis aqueus contra ele.

Então, mandaram seus arautos percorrerem todos os cantões da Hélade, a fim de solicitarem aos príncipes que participassem de uma guerra contra a cidade de Tróia. E a cada rei e príncipe que convocavam, lembrava-lhes o arauto segundo as ordens do soberano Agamémnon:

— Deveis, agora, cumprir o vosso juramento e ajudar-nos a trazer de volta a princesa Helena, esposa de vosso aliado.

Aceitando a ordem dos Átridas, Ájax ouviu os conselhos do pai, Télamon, que disse-lhe:

— Meu filho, tu deves vencer com a lança, mas jamais negligencies o auxílio dos deuses.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:33

Ao que Ájax respondeu:

— Todo e qualquer covarde também pode vencer o inimigo com o auxílio dos deuses.

Depois, retirou do escudo a imagem de Atena, provocando assim a hostilidade da deusa para com ele.

Os primeiros que se uniram aos Átridas, em Esparta, foram Ájax e Teucros, filhos do rei Télamon, de Salamina, Tleopólemos, famoso príncipe de Rodes, filho de Héracles, oferecendo-se para contribuir com noventa barcos na campanha contra os troianos, e Diómedes, rei de Árgos e filho do herói Tideus, que se comprometeu a contribuir com oitenta barcos tripulados pelos mais corajosos guerreiros do Peloponesos. Antes de partir, Diómedes havia confiado o cuidado de sua casa a Cometes, filho de Estênelos e neto de Perseus. Não imaginava que o mesmo um dia trairia a sua confiança e persuadiria sua mulher, a rainha Egiálea, a traí-lo.

Depois de os quatro primeiros príncipes celebrarem em Esparta um conselho com os Átridas, o convite foi aceito também, evidentemente, pelos Dióscuros, Polideuces e Cástor, irmãos de Helena. Eles, depois de um duelo contra Ídas e Linces, há alguns anos, haviam-se tornado semi-deuses, passando a viver um tempo entre os deuses e um tempo entre os homens; de quando em quando apareciam em Esparta para rever os seus irmãos e amigos. Só que não perderam um minuto sequer; à primeira notícia do rapto da irmã, partiram em perseguição ao raptor, chegando até Lesbos, bem perto da costa troiana. Ali, todavia, uma tempestade lhes fez naufragar o barco, e desapareceram, embora não tivessem se afogado, mas Zeus transferiu-os para o Céu, convertidos na Constelação dos Gêmeos, onde eternamente serviriam como protetores da navegação e dos marinheiros.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:33

Em seguida, os Átridas utilizaram os preciosos encantos e a eloqüência do príncipe Palámedes, de Eubéia, para convencer os demais príncipes a reunirem-se em Esparta. Porém, Ehépolos, filho de Anquises, um homem de Sícion, mandou para Agamémnon um presente, a égua Aete, a fim de persuadi-lo a aceitar a sua ausência na expedição à Tróia. Ehépolos havia recebido de Zeus grandes riquezas e preferia, portanto, em Sícion permanecer. Este foi um dos casos raros de recusa entre os príncipes da Hélade.

Acamas e Demofóon, filhos do herói Teseus, juntando-se a Eléfenor, rei de Eubéia, também aceitaram reunir-se aos demais gregos, principalmente depois de que souberam que sua avó, Aetra, também havia sido raptada, junto com Helena.

Naqueles tempos, Penélope, agora esposa de Ulisses e rainha de Ítaca, dava à luz um filho, destinado à semi-orfandade. Pois, nesse meio tempo, um Oráculo advertiu Ulisses de que, se algum dia fosse para Tróia, só regressaria depois de vinte anos. E, talvez por isso, adiou o dia para dar um nome à criança, e preferiu guardar segredo e não revelar a Penélope sobre a previsão do Oráculo.

AQUILES
NA CÔRTE DE LICÔMEDES

Aquiles estava agora com dezessete anos de idade, quase o dobro da idade quando ele havia sido levado até o sábio Calcas. Graças à sua precoce vocação para as armas, era comandante de um exército de Mirmidões, povo de bravos guerreiros da Hemônia. Inclusive, ele havia participado, liderado e vencido algumas batalhas em prol dos confederados, cujo soberano, Agamémnon, de Micenas, pretendia expandir o seu domínio e transformar na Hélade um único e poderoso império.

No entanto, houve um alvoroço em toda a corte, em Ftia. As notícias desencontradas ferviam por todos os recantos, indo desaguar no seu escoadouro natural: o palácio real, onde reinava Peleus, o filho de Éacos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:34

— A notícia parece ser mesmo verdadeira. Um comandante troiano, de nome Páris, infringindo todas as regras da hospitalidade, raptou Helena, a esposa de Menelaus, rei de Esparta. Todos os mais poderosos reis da Hélade preparam-se para reunir suas hostes e seguir para um ponto em comum, provavelmente em Áulis, onde os côncavos navios serão construídos e organizados.

Houve tumulto entre as autoridades de Ftia reunidas na sala do trono. E um dos generais tomou a palavra:

— Mas por que tanto alvoroço em nosso reino? Que parte devemos tomar nisto tudo, afinal?

— Lembro-vos que há um pacto entre todos os povos aliados da Hélade. Desde que a bela Helena fora indicada para ser esposa de Menelaus, todos os demais pretendentes ficaram obrigados a defender a sua honra, em qualquer circunstância. E lembro-vos que haviam pretendentes mirmidões em Esparta naquela ocasião. Isso é tudo.

Aquiles estava presente, e não deixou de observar:

— Então, sem dúvida, chegou essa circunstância...

Peleus fez-lhe um sinal para que se calasse, enquanto que, invisível aos olhos de todos, Tétis a tudo ouvia, e, com os olhos rasos de água, pensou:

— Zeus poderoso! Faz com que meu querido Aquiles desista de participar desta funesta guerra!

E, sussurrando ao seu ouvido, chamou-o até o seu quarto, enquanto os demais discutiam sobre o assunto. E a mãe, aparecendo para ele, como fazia quase todos os dias, disse-lhe:

— Meu filho, querido Aquiles, é preciso que tu saibas agora que há algo de muito terrível para ti ligado a esta guerra.

— Não estou entendendo...

— Aquiles, se tu fores a Tróia, morrerás muito, muito cedo!

O jovem ficou pasmo, e seus rubros lábios tremeram levemente quando falou:

— Quem te disse esta bobagem?

— Calcas disse a teu pai. Tu eras muito pequeno para entender. Mas agora chegou a hora de saberes tudo e de fugires ao teu destino.

Aquiles ficou abalado, pois sabia que os oráculos de Calcas eram infalíveis, e, apesar de valente e destemido, não tinha vontade alguma de morrer tão cedo.
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A Guerra de Tróia - Página 6 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:35

— E o que a minha mãe sugere que eu faça para escapar de tão negro destino?

— Vou levar-te, agora, para a ilha de Ciros. Já preveni anteriormente o rei Licômedes de que tu irás te esconder em sua corte por algum tempo, até que esta guerra funesta se acabe.

Aquiles sentiu triunfar em si a vontade de viver, que era bem mais forte do que o desejo de fazer guerra, principalmente por motivos alheios ao seu interesse. Afinal, jovem com ele era, ainda teria muito tempo para saborear o amargo, ainda que vibrante, sabor das batalhas.

Então, a mãe escolheu roupas femininas para vesti-lo, a fim de despistar as sentinelas e poder infiltrá-lo na corte do rei Licômedes sem levantar suspeitas.

— Mãe, isto é uma humilhação, uma infâmia...

— Ouve o que te digo, meu querido filho: isto não abalará a tua dignidade, mas apenas a ocultará. Ninguém jamais saberá de nada, eu prometo!

Ajeitando o laço que prendia o delicado peplo ao ombro do rapaz, Tétis prosseguiu:

— Em Ciros, tu viverás cercado pelas mais belas moças do Egeus; que mais pode querer a tua virilidade? Mas, cuidado: não permitas jamais que o desejo por uma delas te faça revelar a tua real identidade, pois então estarás perdido e o teu destino acabará sendo aquele que o velho Calcas vaticinou, o de perder a vida diante dos muros da pérfida Tróia.

E, no cair da noite, Tétis conduziu-o sorrateiramente até o ancoradouro. E, com o auxílio das Nereidas, suas irmãs, conduziram a pequena embarcação com filho para Ciros, a corte do rei Licômedes, “de pensamentos de lobo”, aonde ele passou a viver como uma das moças, entre as filhas do rei, e foi educado em trabalhos de mulher. Seu nome, entre as donzelas, era Pirra, por causa de seus cabelos louros. No entanto, às vezes, pela sua forma de agir diante das demais, foi também chamado de Issa e Cersísera. “Ela” evitava despir-se para não se revelar, e escondia-se sempre que as moças o fizessem.
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