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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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A Guerra de Tróia - Página 5 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:45

Então, meio a contragosto, entregou-lhes o touro, pedindo que lhe dessem um passe livre para que pudesse também participar dos jogos fúnebres. O líder deles aceitou, e Páris foi correndo vestir seu melhor manto e pegar seu arco e seu carcaz.

Enone, que sabia ler o futuro, tentou persuadi-lo para que ficasse, e não fosse a Tróia; mas não foi ouvida. Entretanto, como nada conseguisse, disse-lhe:

— Se não posso persuadir-te, pelo menos me ouve: se fores um dia ferido gravemente, por favor, volta, pois só eu terei o poder de curar-te...

Páris apenas sorriu, pois sabia que logo estaria de volta. Em seguida, após dar um beijo no rosto de sua mãe e de sua esposa, correu para alcançar o grupo de emissários que seguiam de volta para Tróia.

E Páris rumou para a cidade, aonde nunca havia posto os pés. Não havia visto seu pai, Agelaus, talvez estivesse na cidade. Mas não se preocupou, porque sabia que poderia recuperar o seu touro e retornar para casa.

Muitas pessoas encaminhavam-se para a arena. E Páris, misturando-se a elas, ouvia os comentários que mais ou menos já conhecia:

— Quando a rainha Hécuba teve um terceiro filho, o segundo do rei Príamos, ela sonhou que dera à luz uma tocha flamejante que incendiou a cidade. Quando Príamos veio a saber disto, entregou a criança secretamente a um servo, com instruções para abandoná-la na encosta da montanha, onde com certeza viria a morrer prontamente de frio e de fome ou devorada pelas feras selvagens.

Páris, intrometendo-se, disse-lhe:

— Mas todos sabem que a criança morreu no parto.

— Isto é o que contaram para encobertar a verdade, forasteiro. Aqui as notícias voam como o Vento. Mas ninguém ousa levantar esta acusação. Agora, porém, está o rei Príamos arrependido e realiza esses jogos em honra de seu falecido filho, que, se estivesse vivo, seria agora um homem feito.

Páris ficou intrigado, mas pouco significava isso para ele. Queria apenas conquistar a palma da vitória e levar o touro para Enone, provando a ela estar errada sobre seus temores.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:46

Esperou um tempo, assistiu ao sacrifício e às libações em honra dos deuses, à cerimônia ao príncipe morto, e, em seguida, foi fazer a sua inscrição para poder participar dos jogos. E foi recebido com escárnio, pois os competidores eram todos de famílias nobres.

— Quem é este pastorzinho atrevido que ousa nos desafiar desta maneira?

— É, Deífobos, pelo menos ele podia ter tomado um banho, não achas?

A gargalhada correu solta. Páris, no entanto, mantinha-se calado, pois deveria resignar-se.

— Quem sabe, deve ser muito pobre.

— Não te preocupes, Deífobos. Já na primeira disputa será esmagado como os piolhos que ele tem na cabeça.

Ninguém conseguiu segurar o riso.

Então, Príamos mandou que seu arauto elegesse como prêmio destinado ao vencedor no pugilato um touro oriundo dos seus rebanhos do monte Ida. Esse animal era precisamente o predileto de Páris, e este, não podendo segurar-se, resolveu arriscar-se à luta, para ganhá-lo. Com efeito, nos jogos de pugilato, usando somente a astúcia, passando-lhes rasteiras e aplicando-lhes golpes baixos, venceu a todos, na verdade seus irmãos, inclusive Heitor, o mais forte e valente. Porém, Deífobos, cegado pela Cólera e pela humilhação da derrota, ameaçando-o com uma adaga, não se conteve:

— Basta, boiadeiro! Vais pagar agora por teu infame atrevimento! Nunca desafies um filho de Príamos!

Heitor, mais prudente e justo, tentou persuadi-lo a deixar o forasteiro em paz, mas Páris, desarmado, tratou de fugir e esconder-se no altar de Zeus, aonde a princesa Cassandra concentrava-se nos seus afazeres. Cassandra, que tinha o dom da adivinhação, ficou horrorizada, reconheceu nele o irmão que havia morrido, que ela mesma jamais conhecera:

— Por Zeus! És tu meu irmão funesto!

Páris, no entanto, como não a conhecia, pediu-lhe:

— Sacerdotisa! Socorre-me! Jovens perversos querem privar-me da vida!

Nesse instante, Deífobos e seus sequazes já adentravam o templo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:47

— Cassandra, afasta-te deste patife! Ele é um farsante, que por meio das fraudes mais vis pretendeu ganhar o prêmio que não merece! É um desaforo ao bom nome de nosso pai!

Cassandra, sabendo que não acreditariam em uma só palavra que dissesse em favor de Páris, já que a maldição de Apolo a perseguia por toda a vida, baixou a cabeça e afastou-se. Nem Príamos nem seus filhos acreditariam nas palavras da profetisa que tinha fama de mentirosa e incrédula.

Heitor, mesmo que quisesse, não poderia evitar o pior, pois todos os seus irmãos presentes incentivavam a punição do forasteiro. Justo no instante, porém, em que Deífobos estava prestes a enterrar a adaga no peito de Páris, que estava acuado pelos demais, ouviu-se um grito vindo das pessoas que a tudo assistiam:

— Pára, Deífobos, filho de Príamos! Este que aí está não é outro senão sangue do teu sangue, em honra do qual se realizam estes jogos!

Era Agelaus, o pai adotivo de Páris, que havia seguido os seus passos desde que partira para Tróia, pois temia que chegava a hora de toda a verdade vir à tona.

Deífobos deteve-se, mas continuava a apertar a adaga nas mãos com todas as suas forças, estalando os ossos dos dedos.

— O que diz este velho louco?

Cassandra tomou a palavra:

— Sim, imprudente Deífobos, acalma a tua cólera, pois este pobre boiadeiro é Páris, filho de nosso pai Príamos e de nossa mãe Hécuba.

E posicionou-se entre a adaga e o irmão aflito.

— Cassandra, tu és tola. Ele mesmo disse chamar-se Alexandre. A vida no templo te transformou numa profetisa neurótica.

— Alexandre... Páris... que importa! Ele é teu irmão!

Suas palavras, entretanto, por força da maldição que pesava sobre ela, mais uma vez não foram ouvidas.

— Cala-te, Cassandra! Haverá aqui alguém ainda disposto a dar ouvidos a teus disparatados delírios?

Num último recurso, o pastor Agelaus sacou de sua túnica um velho chocalho que havia pertencido a Páris ao nascer.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:47

— Isto pertenceu à suposta criança que morreu. Levai-o até a rainha e vos digo se sua mãe será capaz de reconhecer o próprio filho só em vê-lo.

Deste modo Páris foi levado, muito confuso com toda aquela conversa, à presença do rei e da rainha. Hécuba, assim que o viu, achegou-se até o rapaz e, depois de observá-lo atentamente, entregou-se ao amor materno; chorando, abraçou-o e beijou-o: era mesmo o seu filho.

Príamos não se conteve:

— O que está acontecendo? Quem é este rapaz?

Agelaus, estendendo para ele o chocalho, entregou-se:

— Eis teu filho, que julgavas erroneamente morto.

Todos ficaram estupefatos.

Os irmãos, começando por Heitor, o único que reconheceu (e conheceu) o irmão, abraçaram-no instintivamente. Príamos, por sua vez, apesar de encolerizado com a desobediência do seu servo, cedo viu este sentimento desaparecer por completo de seu coração, por força do orgulho que agora de si transbordava. Há muito havia-se arrependido pelo que cometera ao seu próprio filho, e chorara dias seguidos sempre que a Compaixão lhe batia no peito. O bravo e destemido rapaz, que vencera ainda que de forma sagaz, era mesmo o seu filho. E era muito belo, tal qual sempre desejou que fosse. E apesar de toda a oposição que os sacerdotes moveram para que Príamos se desvencilhasse daquele filho amaldiçoado, nada pôde mudar os sentimentos paternais do rei, e jamais ele levantaria a mão outra vez contra o seu próprio filho.

— Que a cidade venha abaixo! Que não reste amanhã uma única coluna em pé no meu reino, mas nem hoje nem nunca mais alguém ousará levantar um dedo contra este meu filho que vi de repente retornar do Hades sombrio para os meus braços. E digo que qualquer pai ou mãe de Tróia faria o mesmo por seus filhos!

Todos da família, também o povo troiano, acolheram-no como deviam, e Príamos, seu pai, cedeu-lhe um lugar no seu palácio.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:48

E a primeira atitude nobre de Páris foi buscar no Ida a esposa, Enone, também chamada Calírroe, seus dois filhos e os rebanhos do reino, para em Tróia, como príncipe real, receber esplêndida morada. Não encontrou Enone, talvez houvesse se ocultado para não segui-lo, e Páris, decidido a voltar imediatamente para a cidade, abandonou-a.

Vestiram-no com vestes principescas; apresentaram-no aos seus outros irmãos e irmãs e a todos os nobres da grande e próspera cidade, de maneira que ele ficou completamente tonto com todos esses acontecimentos inesperados e os esplendores do palácio real. Porém, preferiu não falar no nome de Enone aos seus pais, pois sabia que Afrodite não o esqueceria e cumpriria a sua promessa. E agora, a mais feia donzela de Tróia parecia-lhe a mais linda mulher do mundo, que estava com certeza à sua espera em algum lugar.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:48

Agora, a casa de Príamos estava completa. Príamos, o grande rei de Tróia, desposara em segundas núpcias a princesa Hécuba, de nome divino, filha do rei Dimas, da Frígia, fortalecendo assim suas alianças e seu poder. Além do filho Ésacos, que Príamos tivera com Arisbe, tivera com Hécuba vários filhos: Heitor, Páris, Deífobos, Polites, Ântifos, Hélenos, Pámon, Hipónoos, Democóon e Méstor, e as filhas Ilíone, Creúsa, Cassandra, Laódice e Políxena, além de Príamos assumir a paternidade de Troilos, filho de Hécuba com o deus Apolo. Com sua concubina Laotoe, teve os filhos Polidoros e Licáon, e com outra teve Deiópites. Com Castinira, teve um filho chamado Gorgítion. Teve um filho com a cunhada Cila, irmã de Hécuba, mas para cumprir um Oráculo, teve que sacrificar mãe e filho. Além desses teve ainda, com mulheres desconhecidas, Ideus, Filêmon, Hipótoos, Glaucos, Agáton, Quersidamas, Evágoras, Hipódamas, Atas, Melânipos, Híera, Forbas, Cáon, Dóriclos, Dríops, Bias, Crômios, Astígonos, Telestes, Evandros, Cébrion, Mílion, Arquêmacos, Antifontes, Díon, Áxion, Laódocos, Équefron, Idomeneus, Hiperíon, Ascânios, Áretos, Clônios, Equémon, Hipérocos, Egéonos, Lisítous, Polimédon, e as filhas Medusa, Medesicastis, Astíoque, Licasta, Lisímaca, Arquêmace e Aristodeme. Se fosse reunir seus filhos para a guerra, teria um exército à sua disposição.

A DISPUTA
ENTRE ATREUS E TIESTES

Em outros tempos, quando Heracles deixou o mundo dos vivos, o rei Euristeus iniciou uma série de perseguições contra seus filhos Heráclidas, expulsando-os da Argólida e de todo o Peloponeso. Os filhos de Héracles foram-se estabelecer em Atenas. No entanto, rebelaram-se e voltaram como um exército e, comandados por Hilos e Íolas, conseguiram vencer as tropas guerreiras do rei de Micenas. Ele próprio foi capturado e condenado à morte.

Como Euristeus não tivesse filhos vivos, Atreus, filho de Pélops, ficou herdeiro do reino de Micenas. Euristeus, morrendo, deixou uma porta aberta para Atreus, que adiantou-se para eleger-se o novo rei.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:49

Quando mesmo não tivessem os filhos de Pélops trucidado seu irmão Crísipos e sido forçados a se exilarem, não teriam prosperado mais do que o fizeram. De fato, um deles estava para ser rei em Micenas, enquanto que Alcátous reinava em Mégara e Piteus em Troézen. Quanto a Tiestes, o terceiro filho, ainda poderia vir a ter a mesma sorte que os irmãos. Pelo menos era assim que pensava o velho Pélops, quando já havia esquecido a morte de Crísipos e procurava saber como se tinha havido cada um de seus filhos, isoladamente.

Apesar disso, começava a maldição de Mírtilos a projetar sua sombra sobre sua estirpe. O assassínio de Crísipos, a quem Pélops tanto amara, não era senão o começo de uma longa série de perversidades e desgraças, que se iriam abater sobre seus filhos e os filhos de seus filhos, com o decorrer dos anos, empanando o brilho de sua fortuna e de seu poderio, maculando-o com as horríveis nódoas da traição e do homicídio, que foram os meios empregados por Pélops, quando ainda simples exilado meônio, para conquistar seu primeiro reinado na Hélade. Aproximava-se o castigo. Somente mais tarde, porém, quando toda a história ficou sendo conhecida, se tornou claro que a sombra tenebrosa projetada sobre a sua raça proveio, inicialmente, da mão do cocheiro Mírtilos, no momento da sua morte.

Envelhecia Pélops. E antes de morrer, contudo, ainda iria saber de um ato sanguinário a mais em sua própria família.

Quando Atreus tentou subir ao poder, foi logo informado o irmão Tiestes, em Midéia, que se apressou em reclamar para si uma parte do reino. Tiestes era um homem selvagem e de maus instintos, e Atreus repeliu sua pretensão, sob pretexto dele ter-se mudado para Midéia e ter abandonado os propósitos de Micenas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:50

Porém, um Oráculo aconselhou aos micênios a que tomassem como novo rei qualquer um dos dois estrangeiros, hóspedes da casa de Euristeus. Seria mais sábio que houvesse uma disputa pelo trono. Isto atiçou a esperança de Tiestes e a rivalidade entre os dois irmãos. Atreus teve que recuar. O reino de Micenas, agora à espera de um rei, pertenceria àquele a cujos rebanhos Hermes mandasse o Cordeiro de Ouro da Soberania, saído do mesmo rebanho de onde se originara aquele da expedição dos Argonautas. E o Oráculo se pronunciou:

— Aquele que tiver o carneiro do velo de ouro será rei de direito.

Atreus exclamou:

— Um carneiro de ouro?! Nunca ouvi falar...!

— Nem eu, irmão. Mas podemos procurar.

Zeus, no entanto, reconhecendo que Atreus, sendo o mais velho, deveria ser o rei, mandou Hermes ter com Atreus.

O carneiro foi dado por um pastor (o deus Hermes disfarçado) a Atreus.

Ateus sacrificou o animal, escondendo o velo num cofre. No entanto, sua mulher, Aérope, viúva de seu irmão Plístenes, sendo amante de Tiestes, roubou o tosão e deu-o ao amante às escondidas. No debate, diante dos micênios, Tiestes propôs que deveria ser de fato o rei aquele que conseguisse o tosão de ouro, proposta que Atreus imediatamente aceitou, ignorando a perfídia da mulher e do irmão. Foi Tiestes naturalmente quem exibiu o troféu e foi eleito. E Atreus precisou abandonar a cidade.

Mas Zeus preveniu a Atreus, por intermédio de Hermes:

— Foste enganado por um Oráculo equivocado e pela perfídia de uma mulher. Deves ser tu o rei, porque o carneiro te pertence e não ao teu irmão. O verdadeiro rei será designado por um prodígio, prova da vontade dos deuses: se o Sol seguir o seu caminho natural, será Tiestes o rei; no entanto, se recuar, serás o novo rei.

Atreus, então, voltou para Micenas e contou para seu irmão, diante de todos, sobre o que lhe dissera o deus-mensageiro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:50

— Que disparate é esse, Atreus? Não concordamos que fosse o Oráculo a decidir? Parece que não estás contente com a resposta, e agora queres discutir.

Tiestes, rindo-se dele, aceitou sujeitar-se a uma demonstração ridícula como essa:

— Pois pode nascer um dia no Ocidente se fores tu o verdadeiro rei!

A discussão continuou pela noite adentro. Veio a madrugada, mas o nascer do Sol era demasiado estranho. Normalmente, a luz surgia pela janela junto da qual estavam sentados e que dava para as colinas a Oriente. Mas naquele amanhecer o pátio em frente ainda estava escuro. Cheios de espanto, desceram as escadas e saíram para o ar livre e voltaram-se para o Ocidente. E daquele lado a luz batia-lhes em cheio nos olhos, porque Hélios começava a subir no céu do lado supostamente errado. O Sol, voltando-se para o Nascente, havia desandado o caminho. Perante aquele sinal indiscutível, Tiestes desistiu, e Atreus, objeto do favor divino, passou a reinar em Micenas. E Tiestes teve que exilar-se. Nunca, depois de Pélops, um rei teve tanto poder no Peloponeso. Nem mesmo Euristeus.

Mas não só o poder Atreus herdou de seu pai, e sim ainda a maldição de pertencer à descendência de Tântalos, cuja família já estava sobrecarregada de desgraças. Desde que ele serviu a mesa dos deuses com a carne do próprio filho, desde que Pélops assassinara Mírtilos, desde que Atreus e Tiestes tiraram a vida do irmão Crísipos. E não deveria acabar no seu reinado.

OS FILHOS DE TIESTES

Tiestes, “o homem do sacrifício”, enciumado de seu irmão Atreus, que a tudo conquistava, inclusive a mulher de seu irmão Plístenes, resolveu seduzi-la novamente para com ela preparar um novo plano. Cortejou secretamente a bela e jovem Aérope, esposa de Atreus. Como fosse muito bem apessoado e soubesse fazer-se insinuante quando o desejava, conquistou-a e, consumado o ato, engravidou-a. Descoberto o caso, foi expulso do reino por seu irmão. Mas não teve coragem de punir a esposa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:51

De sua união com Tiestes, Aérope, a esposa de Atreus, teve os filhos Plístenes, Tântalos e Pelópia. Tendo conhecimento de um Oráculo acerca do nascimento de um filho de Pelópia com o próprio pai, Aérope resolveu abandonar a pequena Pelópia, mandando-a para Sícion, ficando somente com os outros dois filhos. Tiestes, vindo a saber, ficou inconformado pelo desaparecimento de sua filha e, tendo relações com uma náiade, durante o seu exílio, nasceu-lhe três meninos, Áglaos, Orcômenos e Calíleon, e mandou-os a Aérope para que ela tomasse conta das crianças, e ela, prontamente aceitou. Atreus sentiu-se ofendido pelas atitudes de Aérope, e acabou por repudiá-la.

Atreus se surpreendeu pela ousadia de Tiestes, que fazia o que queria sem se importar com a sua derrota. Então, não se julgando suficientemente vingado, Atreus, incentivado pela ignorada esposa Aérope, “de rosto de névoa branca”, reconciliou-se com o irmão, perdoando-lhe fingidamente a intriga que tivera com sua mulher, com segundas intenções de vingar-se. Tiestes, ainda que meio desconfiado, voltou para Micenas enganado pelas pérfidas solicitações.

Atreus, pretendendo servir a Tiestes um banquete de reconciliação, mandou matar os filhos do irmão, Áglaos, Orcômenos e Calíleon e, cortando-os em pedaços, convidou o irmão para o festim e mandou lhe servissem a refeição. Essa oferenda já tinha sido profanada por Tântalos e era agora ainda mais profanada por Atreus para que Tiestes, comendo-o, se tornasse ele mesmo pecaminoso e fosse totalmente destruído. Tiestes, assim que percebeu o que comia, dando um salto, horrorizado, caiu da cadeira, vomitou a comida e entrou em desespero. Virou a mesa com um pontapé e lançou uma maldição a sua família, para que ela virasse da mesma forma. O Sol recuou ao ver tamanho crime, e ocultou-se bem mais cedo, confundindo a Noite, sem saber o que fazer. Tiestes fugiu, só pensando na vingança, enquanto que Atreus lhe enxotava abaixo de ameaças de morte se insistisse em voltar ao seu reino.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:51

Tiestes, com medo de morrer às mãos de Atreus, resolveu afastar-se o mais que podia, viajou por países longínquos, remoendo as injustiças de que se dizia vítima e tramando vingança contra seu irmão. E fugiu para junto do rei Tésprotos, no Épiro, aonde passou a viver durante alguns anos.

FÊNIX

Ligíron havia sido tratado carinhosamente pelo centauro Quíron, que curara todas as suas feridas. E entregou-o de volta ao pai, em Ftia, informando-lhe sobre as boas intenções de Tétis em relação ao filho. Mas era tarde demais, pois Tétis jamais voltaria a rever Peleus.

No tempo em que Héracles ainda viva, havia um rapaz chamado Fênix, filho de Amíntor, soberano de Eléon, na Beócia, e neto do famoso Órmenos, o fundador da cidade de Ormênio. O rapaz fora acusado injustamente por Fítia, uma concubina de seu pai, que teria Fênix usado da violência contra ela. E o rei, seu pai, furioso por atitude tão indigna, mandou que o cegassem e o tornassem impotente a pedido da mãe enciumada, para que não pudesse ter filhos. Fênix teria fugido, mas os parentes não lhe permitiram fazê-lo. Banquetearam-no durante nove dias e, à noite, lhe trancavam a porta do quarto e vigiavam ao pé das fogueiras, do lado de fora e no pátio murado.

Na décima noite, Fênix arrombou as portas e encontrou os guardas adormecidos nos braços das mulheres, pois lhes dera vinho sem mistura. Em desespero, tateando tudo em sua frente, escalou o muro e, a muito custo, escapou, fugindo à cólera paterna. Com os olhos vazados, Fênix, depois de muito perambular, alcançou a Ftia e foi refugiar-se junto a Peleus, soberano dos Mirmidões da Hemônia, que o recebeu bondosamente. Este conduziu-o ao sábio centauro Quíron, que lhe deu cura. Um tempo depois, após recuperar-se, voltou para a corte, em Ftia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:52

Já havia anos que Fênix servia a Peleus; era um homem de confiança, e Peleus sabia disso. Por isso, o rei de Ftia, como morava sozinho, resolveu confiar-lhe o filho Ligíron, que já completava seis anos de idade. E, para celar a sua gratidão, fez de Fênix rei dos dólopes. Ligíron passou a morar por algum tempo na casa de seu mentor, que sabiamente o instruiu e o educou.

AQUILES EDUCADO POR QUÍRON

Conforme crescia, em vista do grande aproveitamento que Ligíron demonstrava, Tétis quis que seu filho recebesse a educação primorosa do centauro Quíron. E, em sonhos, pediu a Peleus que o levasse de volta ao Sábio Mestre, em virtude dos vastos conhecimentos de que era ornado.

Ligíron foi exercitado na caça e no tratamento de cavalos, na arte da guerra, ao mesmo tempo que Quíron incutia no tenro espírito de seu tutelado a prática mais difícil da virtude. O menino desejava, ainda, tal novo Apolo, ser iniciado nos mistérios da música e da poesia. Para tanto, ofereceu a Calíope, musa da poesia heróica, um soberbo sacrifício. Calíope, porém, concedeu-lhe apenas o necessário para tornar agradáveis seus ócios e lazeres e para acalmar seus desgostos e preocupações nos momentos difíceis da vida. Contudo, aprendeu com Quíron a tanger habilmente a lira.

Tudo quanto comia, era com o fito de assimilar a força e a coragem dos animais. Quíron, então, deu-lhe um nome que o tornaria célebre: Aquiles. E Aquiles, ao completar seis anos de idade, começou a caçar os animais selvagens. Aprendeu a curar e a domar cavalos, a manejar as armas, especialmente o dardo, que tão logo mostrou destreza.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:53

PÁTROCLOS

Mais tarde, chegou de Opoeis, na Lócrida, um homem chamado Menoécios, filho de Áctor e Égina — portanto meio-irmão de Éacos —, que trazia consigo um filho seu chamado Pátroclos, à casa de Peleus. Menoécios pediu-lhe exílio, pois o menino, num inocente jogo de dados e num incidental acesso de fúria, havia matado Clesônimos, filho de Anfídamas, e tivera que fugir. Então, Peleus, apiedado, reconhecendo-os como seus parentes, abrigou a ambos, educando Pátroclos junto de seu filho, que já havia retornado da casa de Quíron, e tornou-o seu escudeiro.

Os dois príncipes tornaram-se muito amigos, como irmãos, e cresceram juntos. Eram primos, por parte dos pais, e netos da ninfa Égina. Enquanto Aquiles descendia de raça divina, através de Tétis, Pátroclos tinha por mãe Periópis, que era filha de Féres e irmã dos famosos reis Admetos e Licurgos.

TIESTES VIOLENTA PELÓPIA

Ao atravessar de noite um bosque consagrado a Atena, em Sícion, após ouvir os conselhos de um oráculo, encontrou Tiestes uma jovem que, durante um sacrifício de Atena, dirigia a dança das virgens no festival. Enquanto dançava, escorregou e manchou o vestido com o sangue da vítima. Deixando as outras donzelas, desceu até o rio para tirar das roupas as manchas de sangue. Quando se despiu, Tiestes, que se escondera no meio de algumas moitas, colocou-lhe um véu na cabeça e violentou-a sem conhecê-la; tratava-se de Pelópia, sua própria filha, que também não reconhecera aquele homem. Mas, na fuga de Tiestes, este deixara cair seu punhal, e a moça, não pretendendo esquecer facilmente aquele terrível acontecimento, apanhou-a e guardou consigo, e um dia talvez viesse dela precisar.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:53

Por isso, fruto de um estupro, o menino que lhe nasceu foi exposto num bosque. O deus Hermes encontrou a criança, mandou uma cabra amamentá-la, e deu-lhe o nome de Egistos (Aígistos), o “menino da cabra”. Em seguida, apresentou-o aos pastores da região e ordenou-os o levassem até Atreus. E assim foi feito. O rei, desconhecendo o incesto, tomou o menino para si, como seu legítimo filho.

Atreus, que, ao saber do Oráculo sobre o que lhe preparava o Destino, começou a amedrontar-se, mandou raptar Pelópia em Sícion. A moça, assim que viu que o filho que tivera estava sendo criado na corte, ofereceu-se para cuidar dele. Em seguida, escondendo ser filho seu, contou ao rei o que lhe havia acontecido em Sícion. Condoeu-se de sua sorte e ficou tão encantado com a sua beleza que acabou por desposá-la, a fim de substituir Aérope que ele havia repudiado. Seu filho, Egistos, que havia tido de Tiestes, foi criado sem conhecer o verdadeiro pai, e na companhia dos dois filhos adotivos de Atreus, Agamémnon e Menelaus, seus primos.

A MORTE DE ATREUS E A FUGA
DE AGAMÉMNON E MENELAUS

Atreus vencedor dos Heráclidas no Peloponeso. E Adrastos, o rei de Árgos, tratou de buscar, através de seus emissários, aliados para empreender a luta contra Tebas em favor de Polínices, pretendente ao trono. O próprio Polínices, secundado por Tideus, foi para Micenas e pedir auxílio ao rei Atreus; no entanto, Zeus impediu que os micenenses participassem da guerra enviando-lhes ainda sinais aterradores

Tiestes nutria sempre os seus projetos de vingança, ano após ano, e Atreus, que o temia, não cessava de lhe armar ciladas. Tiestes desprezava a proibição de seu irmão, tornando-se tão turbulento e indesejável que Atreus ordenou que o procurassem para jogá-lo numa masmorra em Árgos. Tiestes, descoberto em Delfos por Agamémnon e Menelaus, foi levado a Micenas, e o atiraram imediatamente à prisão. Atreus, então, por um requinte digno da época e daquela família, encarregou Egistos, seu filho de criação:
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A Guerra de Tróia - Página 5 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:54

— Nunca gozaremos a paz ou a segurança neste reino enquanto Tiestes viver. São de tal monta as suas ofensas que ele bem merece a morte. Tomaste punhal, Egistos, vai à prisão de Árgos e tira a vida desse homem perverso.

Tiestes entregou-lhe o punhal que um dia Pelópia guardara par si. Já não mais nutria ódio algum e achara por bem entregar a arma a seu esposo Tiestes. E Egistos, por instinto, de certa forma sentiu-se extasiado pelo brilho da lâmina daquele punhal. E, guardando sob seu manto, com muita ansiedade, partiu para Árgos, levando consigo a permissão do rei Atreus de agir sem ser incomodado ou questionado pelos guardas da prisão.

Porém, lá chegando, quando preparava-se para degolar aquele homem com seu punhal, Tiestes reconheceu a arma como sendo sua, e deu um grito que deteve a mão de Egistos.

— Onde achaste esse punhal, meu jovem? Não a uses antes de responder-me, te peço!

— Foi-me entregue pelo rei Atreus. Recebi-o de suas próprias mãos.

— Sabes como ele a obteve?

— Sei, mas por que te interessa?

— Egistos, este punhal me pertencia. É a mesma que havia perdido num bosque consagrado a Atena, em Sícion.

— Sícion? O que sabe sobre o sacrifício em honra de Atena?

— Amarga-me a lembrança do dia em que violentei uma jovem sem ao menos saber quem era. Naquela noite, depois que cometi esse ato indigno, deixei cair este punhal e, depois de muitos anos, este instrumento retorna para me tirar a vida. Jamais voltei a encontrar aquela moça que...

— É minha mãe.

— Tua mãe?! Então... tu és o meu filho?

Tiestes sorriu com amargor e, abrindo os braços, disse:

— Tu vieste aqui a mandado de teu rei para me matar. Faze-o então. Não resistirei.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:55

Pai e filho reconheceram-se, e Egistos, porém, largou o punhal e prostrou-se aos pés de seu pai pedindo-lhe perdão. Depois de abraçar o pai com ternura e resignação, reconhecendo que a sua vingança devia ser realizada a outro. Libertou Tiestes da prisão, sem ser impedido, e dirigiu-se com ele para Micenas e ocultou-o. O rei Atreus, certo de que àquelas horas seu perverso irmão já estava morto, se dirigia para o templo, onde ia ofertar um sacrifício em ação de graças. No momento, porém, em que lhe transpunha o limiar, encontrou Egistos inesperadamente.

— Oh, Egistos, que susto levei. E então, Tiestes está morto? Espero não que não o tenha feito sofrer muito.

Egistos, que só o fitava, precipitou-se contra ele, brandindo o punhal de Tiestes.

— Homicida!

Varou-o com o punhal, ao pé do altar. Atreus caiu agonizante aos seus pés. Era o fim de Atreus. A notícia correu pelas ruas de Micenas. Egistos foi ter com sua mãe para lhe contar as novidades do retorno do pai. E Pelópia, ao saber que o estrangeiro que a violentara era seu próprio pai, depois de tantos anos, matou-se de desespero.

Ficaram horrorizados os habitantes de Micenas com este acontecimento. Como o filho mais velho do rei não tivesse atingido a maioridade, não era possível recusar o trono a Tiestes. Agamémnon e Menelaus, temendo uma vingança, tiveram que fugir secretamente da cidade. Os dois jovens foram procurar asilo na casa do velho Catreus, o avô-materno residente em Creta, que tomou a guarda dos jovens fugitivos. Entretanto, temendo a ira de Tiestes, pois tinha um acesso fácil, já que Catreus também era seu sogro, retiraram-se para Cálidon, na Etólia, onde reinava Oineus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:56

No reino da Lacedemônia, muito ao sul de Micenas, elevava-se a antiga cidade de Esparta onde vivia o rei Tíndaros com sua bela esposa Leda. A mãe do rei, Gorgófone, era filha de Perseus e de Andrômeda. Desta maneira, eram os dois filhos órfãos seus parentes, e o rei Tíndaros fez-lhes calorosa acolhida depois que deixaram Cálidon e chegaram à sua corte, fugidos das perseguições do rei Tiestes. E o povo passou a tratá-los como seus compatriotas. E não menos atenção teve a rainha Leda para com seus hóspedes, que dedicou-lhes cuidados de mãe. Inclusive Cástor e Polideuces, os príncipes, se ligaram a eles com laços de sincera amizade. Estavam os dois proscritos destinados a ali permanecerem e constituírem família.

AGAMÉMNON, REI DE MICENAS

Mais uma vez, tinha a maldição do áuriga ferido fundo à estirpe de Pélops. E o seu coração não mais resistiu. Após a morte de Pélops, foi-lhe erguido um túmulo no meio do Áltis, em Olímpia, apenas um cenotáfio, “túmulo de emergência”, para que pudessem adorá-lo. Preservaram-se os seus ossos em vinhedos do território da cidade desaparecida de Pisa, perto do Templo de Ártemis-Cordaca. Nesse túmulo “de emergência”, entretanto, perto do Templo de Héra, passaram a sacrificar anualmente um carneiro preto. Ninguém que comesse da carne dessa criatura podia entrar no Templo de Zeus, mas, antes de cada sacrifício ao rei do Olimpo, o herói era lembrado com uma oferenda da qual nada se comia. Depois, quando se construiu o Templo de Zeus, cujas colunas hoje abatidas são ainda contempladas, sua empena oriental ostentava figuras que imortalizaram a cena antes da corrida de carros entre Pélops e Enômaus. De um lado estavam o rei e a rainha Estérope, de outro Pélops e Hipodâmia e, no meio, o Olimpiano. Contemplavam a cena os dois carros e seus assistentes, incluindo Mírtilos, nos preliminares do feito da fundação.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:56

Dentro de pouco tempo se apaixonava Agamémnon pela filha do rei, Clitemnestra. Mas Agamémnon, para tomar Clitemnestra, irmã de Helena, por esposa, aconselhado pelo próprio rei Tíndaros, seu futuro sogro, assassinou-lhe o marido Tântalos, filho de Brontes. Então, após arrancar o filho dos braços de Clitemnestra e jogá-lo impiedosamente ao chão, tomou-a ousadamente e conduziu-a para o altar, e fê-la sua esposa. Foi a primeira atitude de Agamémnon que trouxe ódio ao coração de Clitemnestra.

Tal acontecimento provocou a ira de Cástor e Polideuces, que desafiaram Agamémnon e passaram a persegui-lo, montados nos seus corcéis. Sem ter saída, Agamémnon foi refugiar-se junto de Tíndaros, em Esparta. E, foi graças a este que conservou a vida, já que Tíndaros conseguiu convencer os perseguidores a poupá-lo e aceitá-lo. Ainda assim, os irmãos conservaram o rancor contra seu cunhado.

Casaram-se Agamêmnon e Clitemnestra, que deu ao soberano e esposo duas filhas, Electra (ou Laódice) e Crisotêmis, e um filho, Orestes.

Bom tempo depois, atingindo a maioridade, Agamémnon e Menelaus decidiram marchar contra Micenas. Reuniram um poderoso exército de espartanos e, acompanhados de Tíndaros, rumaram para a Argólida. Agamémnon, sozinho, adentrou os muros da cidade, escondendo sua identidade. Pouco a pouco, sem muito esforço, conseguiu levantar o povo contra o governo de Tiestes. Reunindo-se aos seus, que se encontravam próximos, cercaram e ameaçaram invadir Micenas. Não tendo Tiestes conseguido conquistar o amor de seus súditos, estes não ofereceram resistência, obrigando Tiestes a implorar o auxílio dos deuses no altar de Héra, e a deusa poupou-lhe a vida, ajudando-o a fugir para a ilha de Cítera. E Egistos sumiu de vista, pelo menos por um tempo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:57

Então, após entrarem na cidade, em triunfo, realizaram-se os funerais em honra de Atreus, e seu túmulo foi erguido em Micenas, e pouco tempo depois, após a morte de Tiestes, ergueu-se um túmulo em sua honra, coroado por um carneiro de pedra, à beira da estrada que conduzia a Árgos.

Agamémnon, filho mais velho de Plístenes, tornou-se rei de Micenas, e resolveu reconquistar a amizade de Egistos. Esperava ele mesmo herdar o trono do pai Tiestes, porém, agora, desvanecera-se essa esperança e ele julgava-se feliz por não perder também a vida, já que em outros tempos assassinara Atreus. Por uma ou outra razão, entretanto, Agamémnon mostrou-se clemente, permitindo a Egistos viver pacificamente em seus domínios, com a condição de não atentar contra sua soberania. Egistos e sua nova prima Clitemnestra tornaram-se bons amigos. Não se opunha Agamémnon a esta amizade de sua esposa e rainha de Micenas por Egistos, porque gostava dele e era seu irmão de criação.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:57

OS PRETENDENTES DE HELENA

Depois de ajudar ao seu irmão mais velho, Agamémnon, a conquistar o trono de Micenas, voltou Menelaus para Esparta. Estava loucamente apaixonado por outra filha do rei Tíndaros, que se chamava Helena. Helena, na verdade filha de Zeus, era a mais bela jovem do seu tempo. Transformada, ao lado do padrasto Tíndaros, em magnífica donzela, atraiu a sua beleza um exército de pretendentes, que foram-se reunir em Esparta. Desde que seus irmãos, Polideuces e Cástor, trouxeram-na de volta de Atenas, todos iam para fazer-lhe a corte, não só pela sua beleza, mas também porque desejavam ser genros de Zeus. Príncipes, e até mesmo monarcas iam a Esparta para conhecê-la, sendo que os solteiros nunca retornavam a seus países sem a terem solicitado em casamento. Inclusive Menelaus, de beleza simples, loiro, de olhos azuis, fizera parte do cortejo. Todos levavam ricos presentes ao rei e prometiam majestosos dotes como pretendentes de Helena. Também Ájax, o filho de Télamon, que, de sua ilha, a Salamina, não poderia prometer muita coisa, mas ofereceu-lhe, ao pé do ouvido, saquear todos os rebanhos de Troézen, Epidauros, Égina, Mégara, Corinto, Hermíone, Mases e Asine. E poderia fazê-lo, se quisesse.

Não respondia, o rei Tíndaros, nem sim nem não a esses jovens, pois achava que se não devia apressar em escolher o marido de sua formosa filha, enquanto não alcançasse, esta, idade para se casar. À medida que crescia, porém, alastrava-se a fama de sua beleza, de maneira que se via o soberano de Esparta importunado pela impaciência dos pretendentes que o aborreciam e ao mesmo tempo o preocupavam. Era provável que, qualquer que fosse o marido que escolhesse para Helena, ficariam os outros despeitados e ressentidos, podendo mesmo vir a lhe declararem guerra e lhe tirarem não somente o trono como também a vida.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:58

ULISSES E PENÉLOPE

A fama da beleza de Helena estendera-se até a ilha de Ítaca, onde vivia o príncipe Ulisses, o filho de Laertes. Ele só pensava em ir a Esparta para conquistar o seu amor. Afinal, preparava-se para assumir o trono no lugar de seu pai Laertes, que envelhecia, e precisava casar-se. Porém, em Esparta, ao vê-la, achou-a ainda mais linda do que rezava a lenda. Quando, porém, viu a quantidade de jovens e belos príncipes que a rodeava, viu que todos levavam consigo ricos presentes, mas Ulisses, vindo da pequena e pobre Ítaca, sabia não ter a mínima chance de desposá-la. Estava longe de ser belo, tinha traços vulgares e seus cabelos ruços. Mesmo assim quis conhecê-la. Sábio, ele sabia que “ir é melhor do que ficar”, acreditava que o divino Acaso só ocorria quando em movimento.

Mas foi durante todo esse tumulto que conheceu Penélope, uma prima de Helena. Ela era filha de Icários, irmão do rei Tíndaros. Ainda que não fosse tão formosa como Helena, tinha uma beleza toda especial, diferente, e Ulisses pensou que esta serviria perfeitamente como sua esposa. Preferiu afastar-se do grupo de pretendentes e esperou melhor momento para de Penélope se aproximar. Todos estavam ocupados com a maravilhosa Helena e em saber quem a iria desposar, de maneira que Ulisses e Penélope poderiam encontrar-se a sós, sem que ninguém os percebesse.

Sobre a origem de Penélope, ao nascer, foi atirada ao mar, sob as ordens de seu pai, Icários, que desejava um filho homem, enciumado pela prole de seu irmão Tíndaros. Porém um bando de cisnes de penas cor de púrpura, que passavam pelo local, resgataram a criança, alimentaram-na e levaram-na até a praia, diante dos olhos estupefatos de Icários. Impressionado pela prodigiosa sobrevivência, o pai arrependeu-se do que tinha feito e tomou consciência de que a filha era especial e que tinha um futuro promissor.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:58

A ESCOLHA DE HELENA

Com pretendentes mirmidões, Aquiles havia-os acompanhado, não como um deles, mas como um simples e curioso acompanhante, já que era demasiadamente jovem. Aquiles teve a curiosidade de conhecer Helena, já que diziam que era a mais bela das moças de sua época e que tinha a virtude de conservar-se sempre jovem. E quis conhecê-la ainda antes que fosse escolhido um pretendente a sua mão. Afrodite e Tétis arranjaram-lhe uma entrevista num ponto afastado. Entretanto, não envolveu-se amorosamente com a princesa, pois era tão-somente um garoto. Aliás, nada se sabe a respeito do que exatamente conversaram.

Tíndaros, ao perceber que Helena, sua filha de criação, se demorava a decidir por algum dos inúmeros pretendentes, que formavam uma legião, disse-lhe:

— Helena, minha querida, é necessário que te decidas logo... há tantos pretendentes. Além do que, com todos esses varões aqui, Esparta fica aberta e indefesa!

Helena soltou um longo suspiro e, com olhar perdido no horizonte, respondeu:

— Meu coração deseja mesmo um príncipe, um príncipe que viesse montado no Pégasos, o corcel alado...

Entretanto, o rei Tíndaros estava preocupado demais com a segurança da cidade, que já havia sofrido invasões em outros tempos, e não podia esperar que tal sonho da filha se realizasse. E Tíndaros, verificando que os nervos se exaltavam no meio daquele exército de pretendentes, temeu que, se escolhesse um deles por genro, conquistaria a inimizade dos demais. Chegou até a pensar em realizar jogos atléticos para revelar o vencedor. Por isso, reuniu seu irmão Icários e o conselho de Esparta para, juntos, decidirem sobre o futuro daquele evento. Mas Ulisses, o astuto príncipe da Ítaca, que sabia não ser páreo para os inúmeros príncipes pretendentes, entrou sorrateiramente no local e, inesperadamente, quando ninguém mais sabia que resolução tomar, uma voz se ouviu:

— Só há um meio de resolver isto.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 18:59

Todos voltaram-se para ele.

— Sou Ulisses, príncipe de Ítaca. Meu pai é o famoso Laertes, um dos tripulantes do Árgo que conquistaram a glória do Tosão de Ouro. Estou aqui como um pretendente, mas devo resignar-me e aconselhar o grande rei Tíndaros.

Tíndaros fez-lhe sinal para se aproximar. Ulisses disse-lhe ao pé de seu ouvido:

— Quer me parecer que todos esses jovens que pretendem a mão de sua filha estão se tornando um fardo para ti.

Tíndaros suspirou:

— Isto é verdade. Queria poder casá-la com um de vós para que os outros fossem embora para suas casas. Porém, cada um considera o fato de ser escolhido para marido de minha filha, um ponto de honra para sua família. Só posso escolher um. Mas receio que os demais não se conformem, e o levem a mal. Verdadeiramente, não sei o que fazer. É por isso que reuni este conselho. E o que tens tu a oferecer-me?

— Supõe que tu encontres um meio de fazer com que eles assistam pacificamente às bodas de tua filha, separando-se em seguida amistosamente, de ti e dos outros pretendentes.

— Se tiveres mesmo uma solução, podes pedir-me a recompensa que quiseres.

— Agradeço-te, rei Tíndaros. Pedirei pouco, mas me lembrarei de tua promessa.

— Ulisses, é o teu nome? Pois bem, o que tens a dizer?

Ulisses sabiamente lhe disse:

— Eis o meu plano: reúne todos os jovens que pretendem casar com sua filha e faze-os prestar um juramento solene: primeiro, que a própria princesa escolherá aquele com quem deseja casar-se. Segundo: que os outros se acharão unidos numa grande irmandade para proteger a sua honra e a do homem que ela houver escolhido; para defendê-los contra qualquer pessoa que tente separá-los, e vingar qualquer ofensa que venham a sofrer.

— Isto não é normal, Ulisses...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:00

— Eu sei, Majestade, escuta: Reunirás os pretendentes de tua filha nessa irmandade antes que Helena revele a sua escolha. Todos terão, assim, esperança de ser escolhidos, e prestarão com prazer um juramento que lhes dará não somente paz no presente, mas, também, segurança no futuro. Quem não aceitar essa condição, não terá chance alguma.

— Estás sugerindo haver uma aliança entre todos os reinos da Hélade? Um compromisso em favor de uma única princesa?

O rei ficou encantado com a ideia, apesar de achar que essa solução poderia falhar. No entanto, não tendo nada a perder, apressou-se em anunciá-la. Seguindo o conselho de Ulisses, Tíndaros mandou chamar a todos no salão do palácio e obrigou-os a jurar:

— Deveis jurar que sereis sempre amigos do homem que minha filha escolher para esposo. Se algum perverso conseguir raptá-la ou violentá-la, todos ajudarão seu marido a encontrá-la e vingá-la. Somente nesta condição minha filha se casará.

Houve muito barulho, pois, indiretamente, o rei sugeria uma aliança a todos os povos da Hélade, já que haviam representantes de todos os lugares, desde o Épiro à Eubéia, desce Creta até os confins da Hemônia e da Macedônia.

Depois de muita desordem e ressentimentos, já que haviam inimigos entre eles, juraram, porque cada um pensava, certamente, ter boas chances de ser o escolhido. Por isso, cada príncipe adiantou-se para ser visto pela princesa, formando um tumulto ainda maior, e o rei Agamémnon, vendo que o seu tímido irmão mais moço, Menelaus, permanecia inerte, começou a requestá-la em favor dele. E Helena, procurando-o entre a multidão de pretendentes, viu-o e tomou sua decisão:

— Meu desejo é escolher Menelaus, da casa de Atreus.

Houve silêncio. Helena escolhia o irmão de um dos reis mais odiados, autor de uma conspiração para subir ao poder de Micenas. Poderia haver revolta e um protesto geral, mas todos estavam ligados por um juramento, e tiveram que resignar-se.
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A Guerra de Tróia - Página 5 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 19:01

Tíndaros, por sua vez, muito satisfeito, deu-lhe permissão de desposá-la, e junto haveria de lhe entregar o reino de Esparta.

O rei Tíndaros aproveitou a presença de tantos heróis em seu palácio, resolvendo realizar a cerimônia de casamento entre sua filha Helena e o escolhido Menelaus. Helena entrou no salão com uma coroa de flores, e após relancear todos os príncipes que a haviam cortejado, depositou a coroa na cabeça de Menelaus, o mais abastado entre os aqueus, destinado a reinar sobre Esparta. Casaram-se com grande pompa. E os outros heróis sopitaram seu amargo desapontamento para não empanar a alegria dos festejos.

A DISPUTA POR PENÉLOPE

Os ex-pretendentes de Helena e já convidados para a festa do himeneu começavam, aos poucos, a retirar-se e voltar pacificamente para suas casas. Outros começavam um debate sobre quem deveria desposar a filha de Icários, Penélope. Quando parecia que tudo havia-se acalmado, surgia um batalhão de pretendentes que não pretendiam sair de Esparta de mãos vazias. Então o rei, vendo que tudo a respeito de Helena havia se sucedido segundo os conselhos de Ulisses, mandou-o chamar:

— Casaste minha filha com o homem que ama; ainda estou vivo, e sou muito feliz e grato. Tudo isto nós te devemos, Ulisses. Portanto, diz agora como poderei recompensar-te. Desejas ouro?

Ulisses tinha muito a ganhar e nada a perder, já que não permanecia mais em Esparta por Helena. De uma forma ou outra, pretendia conquistar a confiança de Agamémnon, e respondeu:

— Não, Majestade, acima de tudo neste mundo, desejo casar-me com sua sobrinha Penélope.

— Penélope? Minha sobrinha Penélope?

Tíndaros pensou um pouco, pois esse estava sendo mais um problema para ser resolvido, mas sabia que deveria ajudá-lo a conquistá-la.

— De todo o coração, Ulisses.
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