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Ares, o deus da guerra

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Marco Polo
Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:01

Depois que Zeus houvera vencido os Titãs, com a ajuda de seus irmãos, decidiu ele unir-se às esposas e filhas de seus inimigos vencidos, como Métis, Têmis, Eurínome e Mnemósine. No entanto, há muito apaixonara-se por sua irmã Héra. E houve o dia em que realizou com ela a festa do himeneu. De sua união com a deusa, teve um filho logo repudiado, Hefaístos, e em seguida uma deusa adorada, Ilítia, deusa que haveria de presidir os nascimentos, mas sem possibilidades de sucedê-lo. Então, Zeus teve de Métis uma filha guerreira e muito inteligente, Atena, e amou-a como sua predileta. E, tão logo Afrodite foi apresentada aos Olímpicos como uma possível filha de Zeus (na verdade uma filha de Úranos), isso causou a ira de Héra, devido à intensa infidelidade do marido e irmão. Para sobressair-se às demais deusas, precisava gerar um filho seu que pudesse representá-lo ou sucedê-lo, conforme os desígnios de Móros, o Destino.

Segundo a tradição, não houve detalhe maravilhoso ou extravagante a respeito da concepção ou do nascimento de Áres, o novo deus, senão que era apenas filho de Zeus e Héra. No entanto, numa versão apócrifa, houve um dia em que Héra, depois de fugir do Olimpo devido o nascimento inoportuno de Atena, foi consolada pela deusa Clóris, e lhe ofereceu refúgio em um de seus templos nos campos de Óleno, na futura região de Acaia. Então, rogou à rainha que colhesse de seu jardim uma de suas flores e a escondesse em seu seio; daí, concebeu o turbulento deus de um contato que teve com a flor cultivada, na verdade uma forma de Zeus transmutado. No entanto, a mutação de Zeus e a forma com que Áres foi concebido, em meio aos pássaros e às flores, certamente em nada combinava o caráter rude desse deus que haveria de crescer e se tornar brutal e sanguinário.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:01

Cresceu com um belo porte marcial, e recebeu das mãos dos divinos artífices uma soberba e reluzente armadura de bronze e um elmo de ouro com penacho cor de púrpura. Passou a ser temido, deixando de devotar a menor simpatia por parte dos deuses, nem mesmo a seu pai, o poderoso Zeus, que lhe repreendia seguidamente, chegando até a lhe rotular de “detestável”.

Áres possuía um carro puxado por fogosos corcéis, misturava-se aos combatentes sedentos por sangue. Não defendia qualquer ideal, não tinha amigos nem inimigos, não era partidário da justiça, porque não respeitava as leis, não protegia o bravo nem o covarde, desferindo golpes ao acaso. Somente defendia aqueles que a ele respeitavam e sacrificavam clamando proteção e força. Seu brado de luta ressoava como um grito de terror que fazia tremer até os mais valentes guerreiros. Sua presença levava à morte sem glória, à devastação sem propósito, à vitória sem merecimento. Constituía um mal necessário, utilizado como último recurso, especialmente nos saques, para evitar a servidão.

Áres haveria de ganhar um séquito, comum a todos os grandes deuses. Para segui-lo no campo de batalha, rodeado de uma matilha de lobos, teria em sua companhia seus dois filhos horrendos, Deimos e Foibos (presidindo Terror e Medo), na condição de arautos, anunciando que a fúria das batalhas estaria prestes a se desencadear. Também, com seus cabelos de serpentes, seguia na frente a temível Éris, a Discórdia, espalhando a intriga e a calúnia. Depois, seguia o próprio deus Áres, causando a chacina por onde passava, acompanhado de sua melhor guerreira, a temível Ênio, personificando a própria Guerra. Por fim, entre mastins e outras feras violentas, seguiam as “cadelas de Hádes”, as Queres, deusas sanguinárias, antecessoras dos futuros vampiros, que mergulhavam sobre as vítimas abatidas para dilacerar suas carnes e beber seu sangue, arrastando-as depois para a morada das sombras.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:01

No entanto, apesar de seu espírito bélico, temido por todos os mortais, seriam em maior número suas derrotas do que as vitórias, pois Áres representava a guerra desordenada, instintiva, furiosa, enquanto que Atena, que já se encontrava entre Áres jamais era aceito inteiramente pela sociedade grega. Provinha de um povo belicoso — os trácios —, que os helenos consideravam bárbaro e desprezível. Atena colocava-se sempre ao lado dos gregos, enquanto que Ares aliava-se geralmente aos inimigos.

A sua falta de popularidade era tão grande que foi a divindade que menos inspirou os artistas gregos. Existem hoje poucas representações suas, e muito simples: inicialmente era figurado como um deus guerreiro, de certa idade, e armado dos pés à cabeça. Em obras posteriores, aparece como um belo jovem nu (representado assim no Parthenon), absorvido em pensamentos e sonhos. Não existem moedas com sua efígie, pois nenhuma cidade grega o fez seu protetor. Mars ou Marte, considerado pai de Rômulo e Remo, tornou-se logo a divindade mais importante dos romanos, superando Júpiter (Zeus). Inclusive os etruscos e os sabinos, que lhe erigiram vários templos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:02

A INFIDELIDADE DE AFRODITE

Houve um dia em que Zeus, após nutrir-se de Métis, teve uma terrível dor de cabeça, e mandou seu filho Hermes buscar Hefaístos em Lemnos para ajudá-lo. Hefaístos atendeu-o prontamente e, após abrir-lhe a cabeça com seu machado mágico, saiu dela a belíssima deusa Atena, pronta para a guerra — e para o matrimônio. Desejou-a para si como recompensa pelos serviços prestados. Mas nada dela conseguiu. Por isso, ficou para a próxima vez em que fosse requisitado.

Um dia, Hefaístos construiu para Héra um trono magnífico, que ela não resistiu, e sentou-se na primeira oportunidade em que se viu sozinha, pois há muito repudiara esse filho e não dava o braço a torcer. Mas o trono, engenhado perfidamente, prendeu-a, e ela não conseguiu se soltar, até ser descoberta. Não havendo forma de se soltar, admitiu que chamassem Hefaístos para libertá-la.

E Héra, fulminando o filho com o olhar, disse-lhe:

— Vamos, filho ingrato, dize o que queres para me libertar desta situação ridícula!

Hefaístos, que sabia ser melhor argumentar com Zeus, seu pai, retirou-se da frente da mãe e foi ter com Zeus.

— Hei! volta aqui! Eu quero sair!

Hefaístos propôs a Zeus:

— Meu pai, eu libertarei minha mãe, com a condição de me permitires habitar convosco no Olimpo.

Héra, ela mesma concordou:

— Está bem, agora tira-me daqui!

E lembrou-se ainda o deus-ferreiro:

— Ah! Quero também que me concedas por esposa Afrodite, pois amo-a perdidamente.

Héra, ela mesma discordou:

— Quê?! Afrodite... casada contigo?

— Sim, bem sei que sou feio, mas conheço algo das mulheres para saber que não desprezam a segurança, a inteligência e a fidelidade do marido. E com meu trabalho digno, posso sustentá-la e dar-lhe todo o luxo e riqueza que sua beleza merece.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:02

Héra pensou um pouco, e viu que ele tinha razão, principalmente no tocante à fidelidade, já que seu esposo Zeus não era um bom exemplo. Até Zeus achou uma boa idéia, pois percebia que a deusa, por ele adotada, era alvo de cobiça e desentendimento entre seus filhos.

Zeus mandou chamar Afrodite, que, diante de proposta tão vantajosa, aceitou imediatamente. Hefaístos tomou suas delicadas mãos e depositou nelas o beijo de seus rudes lábios, e remeteu à mais bela das deusas o seu melhor sorriso. E Afrodite, virando-se para uma de suas amigas, as Cárites, sussurrou-lhe:

— Ele me ama mesmo, pois, na minha presença, chora de felicidade!

— É mesmo...

Esta atrevida proposta suscitou grande surpresa e indignação aos deuses que pretendiam desposar Afrodite. Mas não houve remédio senão aceitar as condições impostas pelo deus. Héra foi libertada, e ambos fizeram as pazes. E o deus coxo casou com a mais bela deusa do Olimpo, para a qual edificou um resplandecente palácio de ouro e pedras preciosas, junto às moradas de seus irmãos. E deu-lhe de presente um esplêndido cinturão, que tinha a propriedade de fazer se apaixonar quem o vestisse, pensando em se beneficiar. No entanto, Hefaístos não conhecia os limites da mágica que continha o cinturão e, sem ele saber, a tornaria sedutora e infiel, pois haveria de ceder aos cortejos de Áres, Hermes, Poseidon, Dionisos e até ao próprio Zeus, sem contar os casos que teria com mortais, como Anquises e Adônis.

Diante de Afrodite sentava-se à mesa dos Olímpicos o deus Áres, o irmão alto, bonito, fanfarrão e cruel de Hefaístos, e que lutava só pelo prazer de lutar. Áres e Afrodite estavam sempre de mãos dadas e soltando risinhos pelos cantos, o que provocava o ciúme de Hefaístos. Mas, se por acaso ele se queixava ao Conselhos, Zeus ria-se dele e dizia:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:02

— Tolo, por que foste dar o cinto mágico à tua mulher? Podes culpar teu irmão de apaixonar-se por ela quando ela o está usando?

O trono de Áres era feito de bronze, muito forte e feio. Tinha grandes relevos em forma de caveiras e uma almofada forrada de pele humana! Áres tinha maus modos, era ignorante e tinha muito mau gosto. Mesmo assim, Afrodite o achava maravilhoso. Seus símbolos eram um javali selvagem e uma lança ensanguentada. Ele tinha uma casa de campo no meio da mata virgem da Trácia.

Áres, o deus da guerra, foi de muitas formas um deus repelido, pois estava associado aos conflitos e ao derramamento de sangue, sendo que Zeus e Atena nutriam nenhuma simpatia por ele, principalmente por causa de sua força bruta e falta de refinamento. As mulheres que ousavam rechaçar seu amor terminavam sendo violentadas brutalmente, pois Áres partia para a conquista amorosa como se marchasse para a guerra: confiando em sua força. Entretanto, Afrodite, a deusa do amor, ironicamente não pensava da mesma forma e, impressionada pela beleza e pelo vigor do jovem guerreiro, não conseguiu deixar de compará-lo com o marido, o deus-ferreiro Hefaístos, doente e aleijado, e apaixonou-se pelo deus-guerreiro.

E foi imediatamente correspondida. Para obter seu amor, Áres, abandonou suas atitudes brutais. Aproximou-se lhe oferecendo seu corpo perfeito, como um desafio à capacidade amorosa da bela deusa. Disse-lhe palavras de afeto. Deu-lhe muitos presentes. Áres, sem o menor escrúpulo com relação à ausência do marido de Afrodite, maculou o leito matrimonial do casal. Enquanto Hefaístos trabalhava sem descanso em sua forja, durante a noite, ora em Lemnos, ora no Etna, Áres visitava clandestinamente a sensual amante.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:03

Sentiam-se felizes. Mas um só problema podia atrapalhar os amantes: Hélios, o Sol, uma divindade que adorava revelar os casos mais secretos. Para evitar ser descoberto, Áres, cada vez que visitava a sua amada, punha de guarda um jovem gênio de segunda ordem, chamado Aléctrion, seu confidente. Assim, enquanto se deleitava nos braços de Afrodite, o amigo vigiava a porta do palácio com a missão de adverti-lo no momento em que o Sol apontasse no horizonte.

Uma noite, o fiel guardião, exausto e aborrecido por tantas noites mal dormidas, deixou-se entregar ao Sono. Ares e Afrodite amavam-se intensamente e distantes de preocupações. O dia amanheceu, claro e formoso. Aléctrion não viu nem passar Éos com seus dedos róseos anunciando o novo dia. O Sol despontou e surpreendeu aos amantes, que dormiam abraçados.

Hélios, indignado pela traição ao deus amigo, foi em busca de Hefaístos e lhe contou o que havia visto. Hefaístos, descobrindo o adultério, deixou cair o ferro que forjava. Sentiu as forças diminuírem. agradeceu ao amigo e, sentindo-se envergonhado e humilhado, recolheu-se à solidão. Depois de muito refletir, planejou sua vingança. Em segredo, forjou uma rede muito fina, quase invisível, tal qual a teia da aranha, mas muito forte, que nem mesmo um deus poderia rompê-la, e pendurou-a sobre o leito onde os amantes costumavam se encontrar. Já a havia utilizado antes, prendendo sua mãe Héra ao trono, e só a libertou com a promessa de lhe entregar Afrodite como esposa.

Ao terminar sua obra, foi ao encontro de Afrodite. Ocultando seu ódio e sua tristeza, dissimuladamente armou a rede no leito manchado pela desonra e, sem mais explicações, foi despedir-se da esposa:

— Querida esposa, vou passar alguns dias em Lemnos, minha ilha favorita. Tenho muito trabalho a fazer. Espero que não te aborreças.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:03

— Oh, não, meu esposo! Eu fico muito feliz. Gostaria muito de acompanhar-te, mas tenho os deveres de nosso lar. Não te apresses em voltar, pois tomarei conta de tudo sozinha, com muita dedicação. Esperarei ansiosa pelo teu regresso.

E seguiu para mais uma noite de trabalho.

Áres, ao cair da Noite, apenas viu distanciar-se Hefaístos, correu para os aposentos de sua amante. Mal deparou com Afrodite, sem conseguir conter seu forte desejo, disse-lhe:

— Vem, querida, para o leito; grande prazer é o amor; Hefaístos está de viagem, segundo penso, a caminho de Lemnos.

Deitaram-se felizes e se abraçaram para mais uma vez bem-sucedidos. Amaram-se muito. Depois dos prazeres do sexo, saciados e cansados, os dois adúlteros caíram no sono, despreocupados, já que tinham Aléctrion como seu aliado. Mas Hefaístos, secretamente, voltou um pouco mais cedo e expulsou Aléctrion a pontapés. Em seguida, chamou todos os deuses para que servissem de testemunhas do adultério de sua esposa e Ares.

Hefaístos regressou, seguido dos demais deuses. Hélios surgiu no horizonte, estendendo seus longos braços à Terra. Áres e Afrodite, nus, acordaram, de repente, pela claridade que irritavam seus olhos, e viram-se emaranhados, presos numa rede quase invisível e indestrutível.

Parado no umbral da porta, Hefaístos chamou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:03

— Pai Zeus e todos os demais deuses, vinde a ver uma cena ridícula e intolerável! Por eu ser coxo e desprovido de beleza, Afrodite me cobre continuamente de desonra e prefere o pernicioso Áres, o destruidor, que é belo e tem pernas direitas! Eu, porém, sou aleijado, cheio de defeitos. A culpa, todavia, não é minha, mas de meus pais, que nunca me deveriam ter gerado. Vinde ver este lamentável espetáculo: como dormiram um nos braços do outro em meu próprio leito. Mesmo que muito se amem, não creio que desejem ficar aí para sempre. Vão desejar sair, mas a armadilha que preparei os reterá, até que meu sogro, que é meu pai, decida me devolver todos os presentes que lhe dei pela sua imprudente filha. Tu és belíssima, Afrodite, mas não tens decência, pois não consegues dominar teus raptos passionais. Por isso, eu hei de desposar outra deusa mais digna, que certamente Zeus me concederá.

Os deuses acorreram, mas as deusas, por um senso de delicadeza, não foram presenciar tal cena. Apolo, cutucando Hermes, perguntou ironicamente em voz baixa:

— Tu não ias achar ruim estar no lugar de Áres, apesar da rede, não é mesmo?

— Não... não mesmo! Nem que fossem três vezes mais redes, e com todos os deuses olhando.

E os dois riram estrondosamente. Afrodite não gostou nenhum pouco da resposta de Hermes, encarou-o irada, mas manteve-se calada, pois já havia tido um caso com ele, inclusive um filho, que teve que ocultar.

Zeus estava tão enojado, que se recusou a devolver os dotes de casamento, ou a interferir. Poseidon, que de vez em quando ia instalar-se no Olimpo, querendo ser útil diante dessa situação, fingiu simpatizar com Hefaístos:

— Já que Zeus recusa ajuda, vou conseguir com que Áres, como preço de sua libertação, pague o equivalente aos dotes em questão.

Hefaístos coçou a barba e respondeu:

— Isso é muito bonito. Mas se Áres não pagar, tu vais ter de ficar em seu lugar sob a rede. Deves te comprometer.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:04

— Não penso que Áres vá deixar de pagar. Mas se ele o fizer, estou disposto a pagar e me casar eu mesmo com Afrodite.

A deusa olhou o velho deus da cabeça aos pés, e não achou-o nada mal. Chegou a desejá-lo, mas acordou com os gracejos dos demais. Afrodite, toda nua, numa posição parcialmente humilhante, passava por ser alvo da cobiça de cada deus presente. Afinal, era a única deusa que ali se encontrava.

Hefaístos estava decidido mesmo não soltar os dois amantes, mas Apolo conseguiu convencê-lo através de um juramento: que Zeus lhe daria por esposa uma de suas filhas Cárites: Aglaia. Hefaístos, contente com a esposa que teria, aceitou e libertou-os. Afrodite, envergonhada, se retirou para Cipros, no Oriente, e Áres foi para a Trácia a fim de esquecer a humilhação entre os ardores da guerra. Porém, antes de partir, castigou o pobre Aléctrion, que, por esquecer-se de seu dever, havia provocado toda aquela situação. E transformou-o numa ave, que hoje chamamos de galo, condenado para sempre a advertir os homens da chegada de um novo dia, sempre que o sol desponta no horizonte.

A paixão do deus da guerra jamais foi suplantada pela vergonha, e meses depois de sua união com Afrodite nascia uma filha, Harmônia, cujas características seu nome sugeria, a “harmonia”, e que veio para estabelecer uma ligação equilibrada entre o amor e a paixão. No entanto, segundo a gente da Samotrácia, Harmônia era filha de Zeus e Electra, e havia-se tornado esposa de Cadmos.

Áres e Afrodite tiveram também os filhos Éros (o Amor), Himéros (o Desejo), Ânteros (o Amor dividido), Foibos (o Medo) e Deimos (o Terror), todos resultantes da harmonia entre o Amor e a Guerra.

Um tempo depois, enquanto se banhava nas praias de Cipros, Afrodite recebeu a visita de Poseidon, e, agradecida pela intervenção que tivera em seu favor, a ele entregou-se, e deu-lhe um filho chamado Herófilos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:04

HALIRRÓCIOS E ÁLCIPE

Aglaura, a filha de Cécrops, ao morrer, deixou órfã a filha, que tivera do deus Áres. Álcipe viveu na casa de seu avô Cécrops até Crânaos ocupar o trono de Cecrópia.

Certo dia, Halirrócios, jovem filho de Poseidon e da ninfa Êurite, aproveitando um momento de fragilidade da virgem Álcipe, resolveu violentá-la, já que a moça não se decidia em aceitá-lo. E, impiedosamente, usou a força para satisfazer seus desejos. O que causou a fúria do deus da guerra. Halirrócios conheceu seu Destino. Áres foi intimado a um julgamento, acusado de sua morte.

Áres defendeu-se diante de todos e de sua filha cabisbaixa:

— Próximo de uma fonte, em Atenas, eu passeava, despreocupado, usufruindo a calma beleza da paisagem. De repente, gritos de pavor feriram-me os ouvidos e detive a caminhada. Meus olhos rapidamente procuraram em redor, e deparei-me com uma cena de violência. Correndo sobre a relva, uma jovem fugia de um rapaz que tentava agarrá-la. Tinha as vestes parcialmente rasgadas. O belo rosto estampava terror. As mãos ergueram-se, trêmulas, tentando defender a pureza ameaçada. Seus pedidos de socorro silenciaram o canto dos pássaros. Então interferi. Rápido e preciso, segurei a moça, e defendi-a com meu corpo. Ao ver-me, o perseguidor parou, perplexo. Não sabia o que fazer, e fugiu. Um dia, o rapaz, enviado por seu pai a cortar as oliveiras sagradas da deusa Atena, ao dar um golpe com seu machado, feriu-se a si mesmo, e então morreu. O sangue escorreu como um pequeno rio. Mas a água da fonte continua a jorrar, mansamente, como se nada houvesse acontecido. Os olhos daquela moça choravam com tanta violência. Ela sequer esquece a cena terrível. Foi assim que aconteceu.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:04

Os Imortais que se faziam presentes ouviam atentamente suas palavras. Pela primeira vez um homicídio estava sendo julgado por todas as divindades do Olimpo.

Poseidon mal podia conter sua irritação:

— Presunçoso maldito, todos aqui sabem que a moça era Álcipe, tua filha, e o jovem que ficara morto perto da fonte, enfeiando a paisagem, era Halirrócios, meu filho. Relatas uma história mentirosa.

— O rapaz ainda estava ofegante de desejo, mas também cheio de medo. À sua frente, então, crispado de ódio, lancei um grito de guerra e o ataquei, como faria um pai por sua filha violentada. Mas o que mudará este fato? Agi em legítima defesa, como sempre ocorre a qualquer dos deuses que tem um filho seu ultrajado.

Tivesse o deus dos mares se vingado pessoalmente da afronta sofrida, as coisas certamente estariam resolvidas. Mas, ao invés, resolvera conduzir-se de modo racional, e convocara as divindades para julgar o crime cometido pelo senhor da guerra.

Ares defendeu-se com eloquência. Foi convincente. Murmúrios ecoaram por todos os lados. Os deuses confabulavam. Passaram-se momentos angustiantes. Até que surgiu o veredicto final:

— Ares é inocente. Afinal, não há testemunhas que comprovem o contrário, que tenham presenciado algum alto indigno.

Não havendo mais acusadores, foi absolvido. Pouco a pouco, os Imortais retiraram-se. Foi a primeira sentença pronunciada contra o autor de um delito de sangue e no monte que mais tarde veio a chamar-se Areópago, “colina de Ares”, seu mais famoso santuário. Na colina de Atenas restam apenas os ecos das palavras, e passou a servir de cenário aos tribunais humanos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:05

CADMOS

Uma tarde, depois de muito procurar sua irmã Europa em terra estrangeiras, na Hélade, caminhando por entre um rebanho, Cadmos avistou uma vaca malhada muito formosa. Parou a contemplá-la. A vaca olhou-o também, como se Cadmos fosse um velho conhecido. E, erguendo-se, sempre a olhá-lo, como se o chamasse, começou a caminhar vagarosamente.

Foi então que viu em suas ancas duas luas cheias estampadas, e Cadmos se lembrou, pela primeira vez, do último conselho ouvido no Oráculo de Delfos. Por isso, em agradecimento, ergueu uma prece ao deus Apolo, a primeira vez que fazia isso a um deus estrangeiro. Mais do que depressa, pagou um alto preço pelo animal ao rei daquele país e, em seguida, resolveu segui-lo. Imaginava que seria curta a jornada. Não foi. A vaca malhada parecia incansável. Abaixava-se às vezes para abocanhar uma relva mais tenra e marchava de novo, assim dia e noite, em direção do Oeste. Cadmos já estava cansado, mas continuava, agora já convencido de que aquele era o animal anunciado pelo Oráculo. Cruzou toda a região de Pito (mais tarde Fócida), sem parar para descansar, depois prosseguiu rumo à região de Ogígia (mais tarde Beócia, a “terra da vaca”).

Camponeses, curiosos, observando o misterioso animal que nunca parava, sempre seguido pelo jovem de ar principesco e olhar valente, começaram também a acompanhá-lo. Nunca havia visto uma vaca marchadeira como aquela. No caminho, Cadmos seguia contando-lhes a profecia de Delfos. E como se tratava realmente de uma vaca especial, pois fascinados a seguiam, abandonando seus lares, com a esperança de um reino futuro onde seriam felizes.

Afinal, depois de alguns dias, depois de passar o rio Céfisos e atravessar os campos de Pânope, a vaca se deteve, ergueu a cabeça e soltou um mugido; parou não para abocanhar um pouco de relva, mas para repousar. Em seguida, olhou para seus seguidores, soltou um mugido alto, depois dobrou os joelhos deitou-se sobre o seu lado direito e, tranquila, ficou ruminando.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:05

Cadmos, após beijar a terra estrangeira e dirigir votos às montanhas e às planícies do país, resolveu oferecer um sacrifício a Géa e também a Zeus, que os camponeses disseram ser seu deus maior, e disse aos demais:

— Viva! Viva! É aqui! Vamos construir a nossa cidade. Vamos construir um novo reino! Temos de aspergi-la com água sagrada para o sacrifício. Deve haver uma fonte aqui perto, sobre a colina, visto que desce um córrego. Entrai no bosque e enchei um elmo com água!

E todos saíram a juntar pedras e material para suas casas. Alguns foram providenciar lenha e a água para o sacrifício, entrando no bosque próximo que ficava sobre a colina, onde encontraram um riacho, aos pés de uma colina, cuja fonte chamava-se Areia, a “fonte de Áres”. Quando entraram no bosque, e mergulharam seus barris na água, ergueu-se, no fundo da caverna do riacho, um vulto terrível e ameaçador. Era o dragão de Áres, que subitamente estendeu a cabeça e fez um barulho assustador.

Os barris caíram das mãos dos homens apavorados. O susto fez com que o sangue parasse em seus corpos. O dragão eriçou as escamas preparando-se para o bote. Erguendo-se, olhou para a floresta embaixo e por fim investiu contra eles, matando alguns a mordidas e esmagando outros com seus abraços, não lhes dando a menor possibilidade de fugir. Outros, que conseguiram afastar-se pelo menos um pouco, morreram sufocados pelo seu hálito maligno ou por sua baba venenosa.

Cadmos, satisfeito, contemplava a paisagem e fazia seus planos. Foi quando um imenso rugido, toda uma série de horríveis rugidos, abalou aquelas paragens. Vestindo sua pele de leão e apanhando a sua lança, Cadmos correu em direção do bosque, de onde vinham também gritos humanos, vozes de pavor, pedidos de socorro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:05

Já chegava tarde. Seus últimos companheiros estavam sendo devorados por um espantoso dragão azulado de crista vermelha e bocarra feroz. De seus olhos saía fogo, seu corpo estava inflamado e suas três línguas sibilavam sobre as três fileiras de dentes. E muitas patas que terminavam em garras e cauda monstruosa que se agitava como um açoite. A fonte pertencia ao deus Áres, que ali mantinha o imenso dragão de guarda.

— Ah, monstro miserável!

Como um relâmpago, Cadmos pegou uma pedra enorme e lançou-a sobre o monstro, mas as escamas do dragão eram mais duras do que a pedra, e o impacto não lhes causou nenhum dano. Esse contratempo não desencorajou o filho de Agenor, que sacou da espada e fincou-a entre as escamas do monstro, atingindo sua espinha. Os estrondos que se seguiram foram como os de um terremoto. A horrenda criatura contorceu-se de dor, debatendo-se contra as pedras e jogando-as por todos os lados. Batia nas árvores com a cauda, quebrando-as como se fossem galhos secos, empinava e corcoveava. Cadmos pulava de um lado para outro para se esquivar do dragão e esperava uma última oportunidade de dar cabo da fera, segurando uma lança em seu braço direito.

Até que finalmente surgiu a oportunidade que ele esperava, e, quase sem pensar, Cadmos avançou para vingar seus companheiros. Entrou correndo de lança em riste pela enorme caverna espantosa que era a boca do dragão. Tão de repente foi que o monstro nem teve tempo de fechar a bocarra e triturá-lo; Cadmos cravava a lança por dentro, indo a mesma cravar-se numa árvore milenar, fazendo o monstro estrebuchar e amolecer, soltando um rugido de dor e arrancando do chão a árvore em que estava presa. No abrir agonizante da boca, Cadmos saltou fora como um gato, e pôde ver assim o rápido estremecer do medonho dragão que havia devorado seus companheiros. E, sem esperar reação do monstro, esmagou-lhe a cabeça com uma rocha.
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Ares, o deus da guerra Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:06

Cadmos cantou vitória, porém mal acreditava que havia conseguido. Ficou ali, perplexo, por alguns instantes, e entristeceu por estar sozinho de novo. Olhou para a vaca malhada que a tudo assistia, e parecia a tudo saber.

— E agora?

Como num passe de mágica, a vaca se dissolveu no ar, desaparecendo ante seus olhos. E perguntou a si próprio:

— Que prodígio é esse? Talvez um deus tenha me dado a força necessária para matar esse monstro, pois nenhum homem o faria sem ajuda divina. Que deuses são venerados nesta terra? Ao deus desconhecido eu agradeço do fundo do coração.

E uma voz soou aos seus ouvidos, subindo da terra ou descendo do céu: era Atena, que já sentia antecipadamente cheiro de carne assada e descia do Olimpo para lhe prestar auxílio.

— Os deuses ajudam os bravos e destemidos. Essa grande façanha foi somente tua, ó filho da Ásia. Mas fica avisado de que o dragão pertencia a Áres, o terrível deus da guerra, e talvez um dia ele te faça pagar por essa perda, por mais justificada que ela tenha sido. Ouve com atenção e segue meu conselho: arranca os dentes do dragão e planta-os na terra como sementes! Faze o que te digo, antes que seja tarde.

O herói Cadmos, surpreendido pela voz, olhou rapidamente para todos os lados e não viu ninguém. Era uma ordem estranha. Mas Cadmos não costumava hesitar. Apanhou uma grande pedra, esfacelou a cabeça do dragão e, pacientemente, foi arrancando, um por um, os enormes dentes do monstro. E, depois, examinando-os, imaginou:

— Que é que se faz com isto?

— Planta-os, Cadmos, planta-os.

— Mas...
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Ares, o deus da guerra Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:06

Cadmos, de novo, tentou encontrar a dona da voz misteriosa, e começou a perceber que se tratava mesmo de uma divindade. Por isso, sem hesitar mais, tratou de obedecer. Com sua lança, fez os buracos, e começou a plantar os dentes como se fossem enormes sementes. Cobriu, com eles, uma grande área. E não esperou muito tempo. Dentro de minutos, a terra com que cobrira sua sementeira começou a agitar-se. Depois vieram apontando, de todas as covas, lâminas brilhantes como o aço — pareciam pontas de lanças. As lâminas iam subindo muito rápidas, apontando lanças e, sem seguida, capacetes de bronze. E cabeças se prolongavam em corpos robustos de soldados, cujos olhos faiscavam de ódio, e, em segundos, já havia todo um pequeno exército feroz que parecia preparado para a guerra.

— Ora essa! Mais essa agora?!

Ao deparar-se com estranhas criaturas, fez menção de desembainhar a espada ensanguentada., quando a voz já conhecida de Cadmos soou suavemente:

— Não toques na espada, Cadmos. Apenas apanha uma pedra e atira no meio deles! Verás que voltarão as armas uns contra os outros, e tu estarás salvo.

Cadmos obedeceu, mesmo sabendo que os estaria provocando. Lançou a pedra e, amedrontado, foi esconder-se atrás de uma rocha. A pedra caiu sobre um capacete, rachando-o com o golpe. O soldado atingido, julgando que o golpe viera de seu companheiro de trás, avançou contra ele. E começaram a provocar-se, um a um, dois a dois, três a três, e, em fúria insana, começaram a lutar entre si, como num combate em que todos eram inimigos entre si, numa ferocidade sem limites. Durou muito o combate sem razão começado. E Cadmos, temendo ser atacado, empunhou a espada, mas a voz lhe impediu de avançar:

— Refreia a tua mão, eis que esta é uma luta entre irmãos!

O misterioso exército se destruía a si mesmo. Até que restaram apenas cinco soldados que se entreolhavam com ódio, dispostos a uma última autodestruição. Cadmos olhava a tudo estupefato.
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Ares, o deus da guerra Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:07

Foi quando a voz falou de novo:

— Ordena a esses cinco guerreiros que embainhem as espadas. Eles te ajudarão a construir uma próspera cidade.

Cadmos, revoltado contra aquele espetáculo monstruoso e inexplicável de ferocidade, contra o qual nada podia fazer, pois encontrava-se movido e provocado por forças estranhas, apressou-se em ordenar, com voz irretorquível:

— Embainhai vossas espadas! Já!

Os cinco guerreiros, estonteados de ódio estúpido e feridos, detiveram-se bruscamente, ouvindo e temendo a voz autoritária de Cadmos. Ainda faziam movimentos quase instintivos de ataque, mas o olhar de Cadmos dominava-os.

— Agora calma. Acabaram-se os ódios. A luta acabou. Vamos agora construir uma cidade, juntos, e atrair moradores, homens de paz,, que queiram viver tranquilamente num mundo menos brutal. Entendido?

Os cinco sobreviventes quase nada entenderam. Mas sentiam, sabiam no íntimo, que agora havia um senhor e que era preciso obedecer-lhe. Deram-se as mãos, como bons amigos, ajoelharam-se na frente de Cadmos e juraram-lhe lealdade e dedicação eterna. Cadmos tratou de seus ferimentos e cuidou deles até que se refizessem. Muito gratos, os cinco juraram obedecê-lo, tanto na paz quanto na guerra, se preciso fosse.

Como eram rijos e fortes e precisavam dar ocupação a seus braços, enchendo o seu tempo aproveitando suas energias, puseram-se no mesmo instante a trabalhar.

Os Spartói, “homens semeados”, também conhecidos, daí então, como “sementes com elmo de ouro”, eram seres de potência sobrenatural, incansáveis e muito ágeis. Seus nomes eram Éveres ou Udaios (homem do chão), Ctônios (homem da terra), Peloros (gigante), Hiperénor (mais do que homem) e Equíon (homem-serpente). Seus descendentes, a família reinante de Tebas, diriam nascidos da Terra e trariam uma lança tatuada no corpo como sinal de nascimento.
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Ares, o deus da guerra Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:07

Suas energias se multiplicavam, e a obra de suas mãos crescia e subia como por milagre. E logo, casas e ruas foram-se erguendo, e camponeses e filhos de outras cidades, vendo aquela surgir rapidamente, tão bela, juntaram-se ao seu trabalho, ajudando-os. Os cinco guerreiros nascidos dos dentes do dragão, mais tarde, se tornariam nos fundadores das cinco grandes famílias da futura Tebas. A nova cidade passou a ser chamada de Cadméia, em homenagem ao seu rei, e o país de Beócia, “terra da vaca”. E, ao redor de Cadméia, mais tarde, nasceria a poderosa Tebas.


Cada um dos Spartói, saídos dos dentes do dragão, e cada um dos voluntários que haviam surgido para ajudar a construir a cidade tinha a sua casa. Eram belas as casas, alinhadas em ruas largas e ensolaradas.

Faltava agora construir, para Cadmos, que voltava ao convívio dos demais, um palácio, digno do seu nome e do futuro que esperava o seu reino. Cadmos e seus companheiros saíram, portanto, a escolher o local. Foi eleita uma colina que dominava a cidade nascente.

— Bem, ide descansar agora. Vós precisais dormir um pouco. Amanhã nós começaremos a construir o palácio mais esplêndido que já existiu!

Não foi preciso. Na manhã seguinte, quando todos despertaram, viu-se com surpresa que, no alto da colina, já brilhava, aos primeiros clarões da Aurora, o palácio real, todo feito de mármore espelhante e de nobres colunas de majestosa austeridade.

Cadmos, cheio de alegria, foi o primeiro a penetrar no palácio, deslumbrado com a bela obra dos deuses que ele não conhecia e jamais ouvira falar. E seus novos e fiéis servidores bradaram:

— Longa vida ao nosso rei, no seu belo palácio!

Havia um amplo salão, ladeado por colunas imponentes. Ao fundo, viu Cadmos um suave e delicado vulto feminino. Cadmos, certo de que aquele devia ser o coroamento de suas longas e penosas jornadas, alegrou-se.

— É minha irmã Europa, que eu encontro afinal!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:07

Mas quando se aproximou da maravilhosa mulher, atordoado pela sua beleza, compreendeu que se enganara. Não era conhecida sua. Não lembrava em nada sua irmã, de aspecto oriental. Era loura, quando todos os seus eram morenos. A voz que lhe vinha falando, nos últimos momentos, confirmou-o:

— Não é tua irmã, Cadmos. É tua esposa. Não se chama Europa; seu nome é Harmônia. E, com ela, terás filhos e fundarás um grande reino, e farás a felicidade de milhões! Em Harmônia, a filha do Céu, encontrarás reunidos todos os que amaste!

Realmente assim foi. E quase todos os deuses quiseram assistir às suas núpcias, realizadas na cidade recém-fundada. Quase, pois somente Héra havia recusado sair de casa para assistir àquele casamento. Cada um levou um presente a Harmônia de cabelos dourados, “a congraçadora”, entre os quais, Afrodite, sua mãe legítima, entregou-lhe também um colar e um peplo, que se tornariam famosos entre as gerações futuras daquele povo. Apolo homenageou os noivos tocando a sua lira, enquanto cantavam as Musas. E Zeus, para honrar o casal, fez questão de sentar-se na mesma mesa que eles, na hora do banquete.

Para a procissão nupcial o casal foi trazido por um grupo notável, com um javali e um leão jungidos à carruagem. Apolo caminhava ao lado da carruagem, com as Musas puxando o coro: “O belo é sempre caro” e o verso “Um objeto de beleza é uma alegria para sempre”.

As bodas de Cadmos e Harmônia — que os próprios tebanos pensavam ser filha de Zeus e Electra (esta, na verdade, a mãe adotiva) —, foram inesquecíveis, com a presença quase completa do panteão olímpico, cujos tronos foram então colocados no mesmo lugar em que, mais tarde, haveria de ser construído o mercado de Tebas, e com a presença imprescindível dos novos amigos de Cadmos.
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Ares, o deus da guerra Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:08

Entre os convivas, dois convidados especiais, Dárdanos e Iásion, parentes da noiva. Iásion prendeu a atenção de Deméter, que por ele se apaixonou. Inflamados pelo néctar, os amantes saíram da festa e se deitaram em um campo que havia sido lavrado três vezes. Quando voltaram, Zeus, adivinhando o que tinha acontecido, ficou irado e, por ter Iásion tocado em Deméter, começou a planejar o seu fim.

Além de Héra, dois Imortais também não compareceram à cerimônia: Áres, o deus da guerra, porque Cadmos havia matado o seu dragão, e Éris, a deusa da discórdia, porque não podia tolerar a companhia dos que se amavam verdadeiramente. Pois, além do esplendor, outro motivo tornou aquelas bodas memoráveis: naquele momento, deuses e homens juntaram-se para celebrar um dos mais sinceros casos de amor que o mundo já vira.

A ela se uniu e teve filhos que foram sua grande alegria, prêmio de tantos sacrifícios passados. Foi rei de um povo grande e poderoso. Tornou seu povo feliz, governando com sabedoria.

Para que seu povo e seus filhos se tornassem sábios e bons, aperfeiçoou para eles o alfabeto, com quatro novas letras, que fora inventado nas terras de seu pai, Agenor.

Em sua honra, por unanimidade, a cidade levou o nome de Cadméia, a mesma que um dia se chamaria Tebas. E, em memória de sua irmã raptada pelo touro misterioso, chamou de Europa o seu palácio, o mesmo nome que levaria todo o continente... E Cadmos, convencido de que sua árdua viagem chegava a um fim, decidiu definitivamente instalar-se naquelas paragens, onde a população do lugar já espalhava um boato que um novo grupo de estrelas havia surgido, e assinalava na forma de um touro, o mesmo que havia levado Europa. Era a Constelação do Touro (Taurus), que Zeus havia desenhado no Céu para eternizar o mais glorioso de seus raptos.
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Ares, o deus da guerra Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:08

Cadmos e Harmônia viveram e reinaram com alegria e ternura durante muitos anos, constituindo para toda a Hélade um modelo de casamento perfeito. Adotaram uma jovem ninfa, Místis, destinada a ser ama de seus futuros filhos. Mais tarde, nasceu-lhe um filho, Polidoros, “o de muitos dons”, também chamado de Pínacos, “o que escreve em lâminas”, porque seu pai Cadmos trouxera de Sídon as letras que foram aperfeiçoadas, fazendo surgir o alfabeto grego. E teve também quatro filhas, Autónoe, Ino, Sémele e Agave (Agaúê), “a augusta”.

Quando Áres se queixou da morte cruel de seu dragão de estimação, o Conselho dos Olímpicos condenou Cadmos a ser criado do deus da guerra durante noventa e nove meses. Após entregar o trono a seu servo Equíon, Cadmos, sempre acompanhado de Harmônia, partiu para a Trácia para cumprir o seu destino e evitar que outras desgraças se abatessem sobre seus descendentes. E foi nessa época que o deus, aproveitando um momento de solidão de Harmônia, levou-a para a Acmônia frígia e fê-la mãe das primeiras rainhas das Amazonas. Otrera, “ágil”, foi considerada a mãe legítima de Hipólita, Antíope, Melânipe e Pentesiléia, e teve-as do deus Áres. Foi considerada uma deusa por seu povo, tanto que comumente às rainhas foi outorgado esse título de distinção.

Cadmos e Hermíone tiveram mais um filho: Ilírios, onde cresceu e viveu. E, a fim de torná-lo forte, os deuses acalentaram o menino entre os anéis de uma serpente.

Contudo, se o amor de Cadmos e Harmônia durou até o fim, com sua felicidade não aconteceu o mesmo, pois, das quatro filhas que tiveram, duas — Sémele e Ino— foram vítimas do ciúme da deusa Héra, e isso lhes custou a vida. Cadmos pensou que aquelas trágicas mortes estavam, de algum modo, ligadas ao deus Áres, que nunca lhes perdoara a morte de seu dragão, e deveria sofrer. Teve que aceitar a punição outorgada por Zeus: deveria se tornar escravo do deus da guerra.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:08

No entanto, desejava que o trono pertencesse ao seu filho Polidoros, que deveria passá-lo ao seu neto Penteus, filho de Equíon. No entanto, essa responsabilidade era grande demais para jovens inexperientes, e preferiu entregar o trono ao seu fiel general Equíon.

Após entregar o trono a seu servo Equíon, Cadmos, sempre acompanhado de Harmônia, partiu para a Trácia para cumprir o seu destino durante os noventa e nove meses e evitar que outras desgraças se abatessem sobre seus descendentes. E foi nessa época que o deus, aproveitando um momento de solidão de Harmônia, levou-a para a Acmônia frígia e fê-la mãe das primeiras rainhas das Amazonas.

E lá, Cadmos e Harmônia tiveram mais um filho: Ilírios, onde cresceu e viveu. E, a fim de torná-lo forte, os deuses acalentaram o menino entre os anéis de uma serpente.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:09

ÓTOS E EFIALTES

Quando Aloeus e Ifimedéia viram no berço os seus dois filhos recém-nascidos, ficaram encantados:

— Este se chamará Ótos.

— Sim, meu esposo, e este se chamará Efialtes.

Eram dois belos garotos, sem dúvida, embora um pouco crescidos pra idade deles. E Ifimedéia tinha uma explicação.

— Isto é saúde.

Certamente, segundo Homero, eram os mais belos e robustos varões da época, depois de Oríon. Mas Ifimedéia sabia a razão para esse fenômeno — uma explicação que não convinha ao marido saber. Ela, Ifimedéia, esposa de Aloeus, o rei de Tégea, tivera de Poseidon. Ifimedéia, todos os dias, se dirigia às margens do Eniopeus para banhar-se. O deus dos mares havia-se transformado no deus-rio Eniopeus para poder se aproximar de Ifimedéia e possuí-la. Um belo dia, chegando à beira da praia, tomou a água na concha das mãos e derramou-a sobre os seios. No dia seguinte, repetiu o ritual, e assim foi até se unir ao deus de forma surreal.

No primeiro ano de vida, os meninos já haviam atingido meio metro de largura e dois de altura. E assim, todos os anos, iam crescendo nessa proporção, até o ponto em que, antes dos dez anos de idade, já tinham cada qual dezoito metros de altura e quatro metros e meio de largura. Ambos eram agora perfeitos Gigantes, descabelados e sujos, pérfidos e sinistros.

E, durante todos esses anos, Aloeus observava:

— Definitivamente, isto não é normal!

Mas o que mais constrangia aos pais era o ódio que tanto Ótos quanto Efialtes nutriam contra os mortais. Não havia dia em que não esmagassem alguém por pura diversão. Mas quando sua mãe os recriminava, sorriam perversamente e respondiam apenas:

— São somente formiguinhas, mamãe!

E assim continuavam alegremente a matar as suas formiguinhas. Então, não suportando mais tais atitudes, a mãe os abandonou à própria sorte, e retirou-se para outro país. O rei Aloeus, então, casou-se com Eriboea, que era mais rígida e poderia mantê-los sob controle.
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Ares, o deus da guerra Empty Re: Ares, o deus da guerra

Mensagem por Hermes Trismegistus 23/6/2021, 05:09

Até que um dia conceberam uma nova diversão, infinitamente mais ousada. Eram muito jovens ainda quando resolveram provar que eram superiores aos deuses. Pois estava profetizado: jamais morreriam às mãos de qualquer homem ou deus. Inspirados pela Mãe-Terra, que pretendia vingar seus filhos contra o Olimpo, os gêmeos Alóades resolveram:

— Irmão, que tal invadirmos a morada dos deuses? Poderíamos roubar o alimento da Imortalidade, bani-los de lá e ficarmos com o governo do mundo...!

— Grande ideia, Ótos!

Ótos era o que tinha idéias mais criativas, já Efialtes desenvolvera mais a parte física, era mais robusto.

E tiveram a sua primeira experiência com um deus: irritados contra Áres, a primeira coisa que fizeram foi capturá-lo em sua casa de campo na Trácia e, depois de lhe agrilhoarem os braços e as pernas, trancaram-no em uma arca de bronze, e lá permaneceu prisioneiro por treze meses. E era muito divertido vê-lo encolhido de forma tão humilhante, como se fosse um inseto.

Em seguida, Ótos agarrou o enorme monte Ossa e pôs bem do lado do monte Olimpo, e Efialtes, entusiasmado, depositou em cima dele o monte Pélion, criando assim um ponto mais alto de onde pudessem atirar pedras no Olimpo, tal qual haviam feito os filhos de Géa na sua revolta contra os deuses. A madrasta Eriboea tentou impedi-los de prosseguir, mas foi em vão. Escalando, então, essa massa pedregosa, ambos chegaram ao topo. Nunca haviam se sentido tão gigantescos quanto agora, olhando tudo do ponto mais alto. O Céu estava ao alcance dos seus olhos e o cume do Olimpo podia ser tocado. E Ótos vislumbrou um brilho intenso.

— Veja, Efialtes, que beleza! Eis o palácio de Zeus!

— Sim, e ali estão duas deusas! Quem serão?
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