A Guerra de Tróia

Príamos, o grande rei de Tróia, desposou em segundas núpcias a princesa Hécuba, de nome divino, filha do rei Dimas, da Frígia, fortalecendo assim suas alianças e seu poder. Além do filho Ésacos, que Príamos tivera com Arisbe, teve com Hécuba vários filhos: Heitor, Páris, Deífobos, Polites, Ântifos, Hélenos, Pámon, Hipónoos, Democóon e Méstor, e as filhas Ilíone, Creúsa, Cassandra, Laódice e Políxena, além de Príamos assumir a paternidade de Troilos, filho de Hécuba com o deus Apolo. Com sua concubina Laotoe, teve os filhos Polidoros e Licáon, e com outra teve Deiópites. Com Castinira, teve um filho chamado Gorgítion. Teve um filho com a cunhada Cila, irmã de Hécuba, mas para cumprir um Oráculo, teve que sacrificar mãe e filho. Além desses teve ainda, com mulheres desconhecidas, Ideus, Filêmon, Hipótoos, Glaucos, Agáton, Quersidamas, Evágoras, Hipódamas, Atas, Melânipos, Híera, Forbas, Cáon, Dóriclos, Dríops, Bias, Crômios, Astígonos, Telestes, Evandros, Cébrion, Mílion, Arquêmacos, Antifontes, Díon, Áxion, Laódocos, Équefron, Idomeneus, Hiperíon, Ascânios, Áretos, Clônios, Equémon, Hipérocos, Egéonos, Lisítous, Polimédon, e as filhas Medusa, Medesicastis, Astíoque, Licasta, Lisímaca, Arquêmace e Aristodeme.

Diz-se que Escamandros (Astíanax) foi trocado por outra criança na hora em que os gregos invadiram o palácio do rei Príamos, e eles mataram o menino por engano. Astíanax foi levado como escravo, junto de Andrômaca, como parte dos despojos de Neoptólemos, filho de Aquiles. Somente ele sabia da verdade, e resolveu adotar o menino. Mais tarde, após a morte de Neoptólemos, Astíanax foi enviado à Ásia, juntamente com Ascânios, filho de Enéias, com o fito de fundar a nova Tróia, sobre as ruínas da antiga transformada em cinzas.

FIM

Não foram encontrados arquivos em Tróia que esclareçam sua história em detalhes - aparentemente, foram depredados pelos invasores ou destruídos nas reconstruções posteriores (principalmente a reconstrução romana, que resultou na Tróia IX).

Os hititas, ao que parece, conheciam a cidade de Tróia com o nome de Wilusa (Wilion ou Ílion para os gregos) e a consideravam uma aliada ou satélite. Ao menos no início da Idade do Bronze (Tróias I a V), a língua falada nessa região na Idade do Bronze era o luviano (e foi encontrado um selo em luviano numa casa de Tróia). O luviano era uma língua anatólia aparentada com o hitita e que era usada em seu império como "lingua franca". Deveríamos, então, imaginar os troianos como gente parecida com os hititas - homens baixos, morenos, de cabelos longos e densos, com costumes mais parecidos com os da antiga Síria ou Mesopotâmia do que com os dos gregos clássicos, apesar de terem raízes indo-europeias.

Alguns acreditam que na época da guerra homérica, a região já havia sido conquistada pelos frígios, que sem dúvida a povoavam depois de 1200 a.C. Na mitologia grega, os troianos aparecem como frígios e falam a língua frígia (a Ilíada também dá a entender que os aliados dos troianos falam muitas línguas diferentes). Claro que isso pode ser uma falsa recordação: séculos depois, quando a Ilíada foi composta, os gregos podem ter esquecido que povo vivia na região naquela época e presumido que eram os mesmos frígios que então conheciam (mais ou menos como tendemos a pensar, antes de refletir sobre o assunto, que o rei Artur falava inglês e usava uma armadura da baixa Idade Média, mesmo sendo mais razoável imaginá-lo como um bretão usando equipamento mais primitivo).

Essa relação dos hititas com seus vizinhos ocidentais daria um tópico à parte, é muito interessante mesmo.
A ideia que me dá é que o poder central hitita sempre considerou o Ocidente como um cenário de menor importância porque seus olhos engordavam com a Síria/Retenu/Kanaan. Gostaria de ouvir a opinião de vocês.
O norte também parece ter sido relegado a segundo plano. Os montanheses da Cadeia Pôntica, Kaskas/gasgas, chegaram a ocupar importantes cidades do império pertinho de Hatusa (!!!) ainda no apogeu do império.

O curioso é que a Ilíada nem menciona os hititas - que, mesmo que não tivessem sido os responsáveis diretos pela guerra, eram a potência dominante da região. É como se contassem a história da guerra do Vietnã sem mencionar os Estados Unidos.

Segundo as fontes hititas, Wilusa era uma cidade-estado que se juntou em uma rebelião em que o aventureiro Piyamaradu liderou juntando várias cidades vizinhas contra o jovem rei hitita Muwatali II (1320 a.C.). A rebelião foi abafada com a ajuda dos ahhayiawa (aqueus?) e alguns participantes, como Alaksandu, rei de Wilusa (Alexandre?) foram perdoados
P Leveque e P Garelli narram ESTE episódio no governo de um Mursili (não, Muwatalish) II, quando houve o pior (ou mais bem documentado?) choque entre arzawanos (Uhhaziti) e hititas (Mursili II), com algumas diferenças.
O tal Uhhaziti de Arzawa levantou quase todos os ocidentais contra os hititas. Ainda convence Milawanda (Mileto?) a passar para os ahhijawa (aqueus?). Alaksandu de Wilusa (= Alexandre de Tróia?, Páris do mito homérico?) não topou. Um Mashuiluwa de Mira (= Luka? Lícia?) também não. A reação não tarda. Milawanda é retomada. Uhhaziti é atingido por um meteorito!!! Mashuiluwa e as tropas da capital hitita vencem um Piyama-Inara (esse é o Piyama-Addu/ Priamo?), um filho de Uhhaziti. Tomam a capital arzawana, Apasa (Éfeso?), vencem os restos arzawanos mais duas vezes. A família de Uhhaziti foge para os ahhijawas que cinicamente os deportam para os hititas.
Mashuiluwa é recompensado por sua fidelidade, mas no fim do reinado de Mursili II ele se revolta também. É deposto pelos hititas e trocado por seu filho adotivo, Kupanta-Inara.
Se estes dois autores estão certos fica difícil encaixar a guerra de Tróia versus aqueus (Príamo e Páris em lados opostos).
Mas mesmo entre Garelli e Leveque há divergências... Piyama-Inara, filho do rei de Arzawa é PiyamaAddu, um pirata baseado em Milawanda?

Outro episódio é citado por Garelli: A tal "carta de Tawagalawa", que seria um pedido de um rei hitita (Mursili II ou Muwatalish, o Garelli mesmo tem dúvida) para o rei dos "aqueus" ( não diz qual) ou extraditasse o pirata Piyamaradu, na opinião do rei hitita, um súdito hitita que vinha pilhando Luka a partir de Milawanda, ou o confinasse nos domínios aqueus.
De quando é esta carta? Isto poderia responder qual era o rei hitita. Dá a entender que o hitita ainda não tem domínio sobre "Mileto".
Mursili II como já citei pôs os pingos nos "i" após algum tempo, inclusive em Mileto.
Muwatalish também teve que intervir no ocidente, quando entronizou Alexandre em Tróia/Wilusa. Mas depois todos os ocidentais estavam bem obedientes nas fileiras convocadas para dar uma coça em Ramsés II em Kadesh.
Garelli continua dizendo que o agente aqueu Atpa em Mileto "deixou" Piyamaradu escapar por mar. Será que nem o rei aqueu controlava Mileto? Ou ele ou seu agente se fizeram de bobões?
A carta prossegue: o rei hitita pergunta se, como o pirata se refugiou entre os "aqueus", ele não poderia ser trocado pelo irmão do rei aqueu mais um tal Tawagaluwa (transcrito meio forçadamente como Etéocles), ambos "hóspedes em Hatusa".
Milawanda/Mileto foi colocada sob controle mais severo com a intervenção de Mursili II e a ajuda de Mashuiluwa, fiel aos hititas.
Tal carta então seria anterior a isso tudo, quando Mileto se passou para os aqueus a pedido de Uhhaziti?
Qual é a chance de um rebelde ser atingido por um meteorito? Qual a repercussão dessa notícia (falsa ou verdadeira, não importa) entre arzawanos, hititas e "aqueus"?

Ainda fica-se com a impressão que Príamo/Piyamaradu e Páris/Alaksandu de Wilusa são troianos, mas estão em lados opostos, respectivamente, pró-aqueu e pró-hitita.

P. Garelli e P. Leveque citam o episódio de um Maduwata, um reizinho da Anatólia ocidental que é aprisionado por um rei aqueu chamado Atarisiya (Atreu?), fugiu, implorou e conseguiu apoio hitita em troca de vassalagem e recuperou um trono (talvez não mais da região original). Mas a figura tinha sede de autonomia e declarou guerra por conta própria aos arzawanos de Kupanta-Inara (ainda vassalo fiel dos hititas?). Foi vencido, mas de novo recuperou poder com ajuda hitita. Então declarou guerra novamente a aqueus e arzawanos, o rei hitita Thudaliya deve ter abandonado o chato, que sentindo-se lesado, então monta uma coalizão com seus inimigos (arzawanos e aqueus) contra os hititas que perturbou Thudaliya e seu herdeiro Arnuwanda!!!
Problema: Garelli situa o fato com Thudaliya IV e Arnuwanda III (no final do império e uma chance para entender este final). Leveque, com Thud I e Arnuwanda I, e cita seus motivos.
Qual o consenso atual? A ocupação de Chipre/Alashia não ocorreu com Thud4?
A minha conclusão com os episódios de Mashuiluwa, Tawagaluwa e Maduwata é que a história dos hititas e arzawanos é uma peça quadrada no espaço redondo do quebra-cabeça que é o mito homérico de Tróia. Com jeitinho encaixa?

Antes do cerco de Tróia....
1) A família de Agamenon, rei de Micenas e chefe da coalizão aquéia, segundo o mito grego pode ter tido origem anatoliana. Tântalo gera Pelops que gera Atreu que gera Agamenon e Menelau. O rei Euristeu de Micenas, o patrão de Herákles (o Hércules realiza as tarefas que este rei propõe) morre sem deixar herdeiros. Então os micenianos, obedecendo a um oráculo, convidam Agamenon a tomar o trono.
2) Antes da guerra mais famosa entre aqueus e troianos, houve outra derrota troiana, para o exército grego de Herákles/Hércules, onde o rei troiano Laomedonte é morto e seu filho Príamo só é salvo (e só tem chance de mais tarde ser rei de Tróia) por uma esperteza da irmã.
3) Antes do "rapto" de Helena de Esparta por Alexandre de Tróia, a belíssima Helena teria sido raptada ainda adolescente por Teseu, rei de Atenas. O episódio é contado pelo mito com alta voltagem erótica... Teseu, condoído pelo destino da princesa (uma princesa estuprada se torna diplomaticamente inútil porque perde sua virgindade), declara a Helena que vai devolvê-la. "Esta já cativada também em outro sentido, põe-se de costas para o rei e olhando por cima do ombro, oferece-se para ele como um efebo". Rapaz, que mulher é esta?? Por isso que houve uma guerra por ela!
Esses três episódios MÍTICOS também são difíceis de encaixar com a história conhecida de hititas e arzawanos?

Uma vez passou na tv sobre uma reportagem sobre as "treze troias" e dizia que a batalha não foi grandiosa como se pensava, foi um numero pequeno de homens e
se não me engano os gregos tinham vantagem numérica. Também dizia que o cerco de fato ocorreu por 10 anos mas não foi por resistência troiana mas sim pelos gregos ficarem saqueando e pilhando cidades; quando não tinham mais nada para roubar atacaram Tróia.

Na Ilíada, o próprio autor (Homero?) não chama os troianos de domadores de cavalos e não acusa o gosto do povo por cavalos como um dos motivos para cometer a bobagem de botar o cavalão para dentro da cidade?