Mestres do Conhecimento
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A Saga de Hércules

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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:49

Amigos do fórum ''Mestres do Conhecimento''. O tópico a seguir é um longo relato, em forma de prosa e diálogos, que trata sobre as preliminares relacionadas à origem e o nascimento de Héracles, a sua vida, os seus árduos trabalhos e algumas histórias sobre seus descendentes, os Heráclidas.

Trata-se de um mito mix de mitos um tanto longo. A exemplo de outros mitos longos que já foram postados, tenham um bom proveito, boa leitura, e desculpem os erros de digitação.

O tópico, assim que for totalmente postado, estará aberto a complementos, curiosidades, perguntas e debates.

Um abraço.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:50

CÉFALOS E PRÓCRIS E OS FILHOS DE PERSEUS

Após a morte de Perseus, Micenas e a Argólida entrou na disputa entre os seus filhos e a descendência de Acrísios e Proetos. E Estênelos acabou por ficar com Árgos, e Méstor com Micenas. Enquanto reinavam supremos os filhos de Perseus nas cidades de Micenas e Árgos, havia uma moça, muito jovem ainda, filha do grande Méstor, que foi raptada pelo rei dos mares, o deus Poseidon. Unida a ele, teve um filho, e o chamou de Táfos, destinado a reinar muito cedo, cuja descendência desencadearia a discórdia na casa de Perseus.

Um certo Táfos, muito jovem ainda, havia saído de Ebália, na Itália, onde reinava Ébalos, filho de Télon e da ninfa Sebétis, com um troço de fugitivos, e estabeleceu-se em uma ilha do mar Jônio, onde iniciou a construção de uma cidade: Táfos. E as ilhas mais próximas seriam povoadas e formariam juntas o reino das ilhas Táfias.

Teglatfalazar conquistava Babilônia, enquanto os hebreus, descendentes de Abraão, Isaac e Jacó eram escravizados no Egito. Nessa época, os filhos de Perseus reinavam sobre três cidades na terra de Árgos: Micenas, Tirinto e Midéia. Um desses filhos chamou-se Alceus, que reinava em Tirinto. Ele casou-se com Astidâmia, e tiveram um filho: Anfitríon.

Em Atenas, no dia do casamento de Céfalos com a princesa Prócris, semelhante a Sélene, a deusa da lua, todos os atenienses elogiaram-no, declarando-o o mais feliz dos esposos, reinando num cantão, na costa leste, em Tóricos, bem perto da extremidade meridional da península Ática. E nas montanhas do interior se estendiam os terrenos de caça dos recém-casados.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:51

Mas esta felicidade não haveria de durar muito tempo. A filha do grande Erictônios, Prócris, “a escolhida acima de todas”, recém-casada com Céfalos, filho de Déion, manteve-se por pouco tempo fiel ao marido, até conhecer Ptéleos, o mesmo que havia fundado a cidade de Ptélea, na Ática, e o tomou por amante. Ele, seduzindo-a, deu-lhe de presente uma bela fita de ouro, que ela passou a usar para prender os cabelos. E Céfalos (de kephale, “cabeça”), tentando descobrir a origem daquele presente que usava, ao saber da infidelidade da esposa, surpreendendo-a nos braços do amante, repudiou-a publicamente e fê-la tomar a decisão de abandonar Atenas e, no anonimato, ir para junto de Minos, o rei de Creta, que também tentou seduzi-la. Mas ela só aceitou a ele entregar-se em troca de um presente: o cão Laelaps, mais veloz que o vento, uma dádiva da deusa Ártemis.

Como Minos estava amaldiçoado por obra de sua ciumenta esposa Pasífae, pois suas amantes morriam ao entregar-se a ele, Prócris concedeu-lhe um antídoto, uma erva que obtivera outrora da feiticeira Circe, irmã de Pasífae. Em troca, Minos deu-lhe ainda um segundo presente: um dardo que jamais errava o alvo. Prócris curou-o e a ele se entregou.

A jovem, no entanto, temendo o ciúme violento e a vingança de Pasífae, que era uma feiticeira, voltou para Atenas, sob a forma de um rapaz. Assim disfarçada, Prócris levou ao ex-marido os presentes mágicos do rei Minos, pensando que assim haveria de se reconciliar com ele. Céfalos os cobiçou e quis comprá-los.

— Não quero tua prata nem teu ouro, porém tanto o dardo como o cão serão teus se jurares que nunca amaste sua esposa infiel; que a esquecerás e me amarás.

Céfalos, diante daquele ato efeminado, relutou, mas acabou afeiçoando-se pelo rapaz, que então lhe revelou a verdadeira identidade.

— Céfalos, somos ambos culpados tanto um como o outro. Esqueçamos o passado, renovemos nossos juramentos de amor, e amemo-nos de novo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:51

Céfalos não cabia em si de contente em ter de novo em seus braços sua linda esposa. Os dois se reconciliaram, pois cada qual tinha o que perdoar ao outro. Viveram em completa felicidade durante algum tempo.

Céfalos, filho de Déion e Diómeda, era belíssimo jovem, amante dos exercícios, e o consideravam filho do deus Hermes. Levantava-se antes do amanhecer, a fim de perseguir a caça. Éos, a Aurora divinizada, viu-o, apaixonou-se por ele, raptou-o e levou-o para a Síria. E, no seu devido tempo, Éos uniu-se ao seu amante mortal e deu-lhe dois filhos, Faéton e Páfos. No entanto, isso não prendeu o amor de Céfalos pela deusa, pois pensava seriamente em sua esposa, Prócris, pois a amava, e suplicava à deusa para que o deixasse ir. Este era o segundo amor falido de Éos, graças às maldições de Afrodite.

Céfalos, porém, havia-se casado novamente com sua ex-esposa Prócris, e a amava profundamente. A jovem era a favorita da deusa Ártemis, que lhe havia entregue, pela mão do grande rei Minos, um cão, Laelaps, mais veloz que qualquer outro, e um dardo, que jamais errava o alvo, e Prócris oferecera estes presentes ao marido. Céfalos sentia-se tão feliz com a esposa, que resistiu a todas as propostas de Éos, que furiosa com essa obstinação, disse-lhe:

— Pois bem, ingrato mortal, tu terás de volta a tua Prócris. Mas dia virá em que tu desejarás nunca tê-la visto.

Finalmente permitiu que ele voltasse para a mulher, mas preveniu-o antes de deixá-lo partir:

— Porém, é quase certo que quando voltares para tua casa, descobrirás que tua esposa já te esqueceu e está apaixonada por outro homem.

— Não creio, nem por um momento; nós nos amávamos com tanto ardor que preferiríamos morrer a sermos infiéis ao nosso amor.

Riu-se a deusa.

— Como são crédulos e ingênuos os homens...! Disfarce-te de maneira que tua mulher não te possa reconhecer, e faze-lhe a corte dando-lhe ricos presentes e prometendo-lhe outros mais ricos ainda quando ela se entregar a ti. Assim porás à prova sua fidelidade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:52

Essa sugestão maliciosa deixou Céfalos louco de ciúmes. Já fazia tanto tempo que ele estava ausente, e Prócris era muito bela. Afinal, no passado, Prócris já havia sido infiel. Resolveu, então, relutante, que não teria descanso enquanto não provasse a si mesmo que ela só amava a ele e jamais se entregaria a outro homem.

Enquanto corria de volta para casa, Céfalos não parava de pensar nas palavras da deusa, e finalmente o temor e a suspeita despertaram nele, ainda que Prócris lhe fosse fiel.

Afinal, Céfalos, de volta à Ática, antes de alcançar os portões de Atenas, penetrou em casa disfarçado de rico mercador para testar a esposa, e a própria deusa Éos consentiu em mudar-lhe os traços da fisionomia. Assim voltou à sua casa e ninguém o reconheceu. Era muito reconfortante descobrir que todos ansiavam pelo seu retorno, mas manteve-se firme em seu propósito de não se dar a conhecer. Ao ser admitido à presença de Prócris, porém, quase abriu mão de seu plano ao perceber-lhe a dor manifesta, o rosto triste e a depressão evidente. Pôs-se imediatamente a tentar fazer com que ela se apaixonasse por ele, um estranho a seus olhos. Não obstante, durante muito tempo ela se manteve impassível.

Um dia, porém, quando ele brindava com o derrame habitual de pedidos, ela hesitou. Na verdade não cedeu, somente não lhe opôs a mesma firmeza de sempre, mas isso foi suficiente para que Céfalos se pusesse a gritar:

— Infiel! A deusa tinha mesmo razão! Consegui desmascarar-te! Sou teu esposo a quem quiseste trair! Todas as mulheres são infiéis e os homens fáceis de enganar. Eu deveria saber que não podia confiar em ti!

Ela nada lhe respondeu e, irritada e cheia de vergonha, abandonou a casa. O amor que sentia por ele parecia transformado em ódio; sentia nojo e desprezo pelos homens e foi viver sozinha nas montanhas. Foi juntar-se ao séquito da deusa Ártemis, a deusa virginal, para quem todos os homens eram odiosos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:52

Céfalos, porém, voltou rapidamente ao bom senso e deu-se conta do triste papel que tinha desempenhado. Procurou-a por toda parte, até que a encontrou e, humildemente, implorou-lhe que o perdoasse, reconhecendo seus erros. Prócris perdoou-o, e foi com ele viver em Atenas. Céfalos conseguiu reconquistá-la e a ventura dos dois amados esposos durou alguns anos, mas triste fim lhes estaria reservado.

Nessa época, Eléctrion, filho de Perseus e Andrômeda, tornava-se o novo rei de Micenas. Enquanto Eléctrion assumia o trono de Micenas, seu parente Ptérelas reinava em Táfos, na costa da Acarnânia. Esse rei, filho de Táfos e neto do rei Méstor, também um descendente da casa de Perseus, entendia que Micenas poderia ser governada por sua família, tal como Eléctrion. Por isso, pretendeu reclamar os seus direitos, à frente dos teléboas, “de grito distante”.

De Táfos partiram os exércitos dos teléboas, por mar, rumo a Micenas, para reclamar o que acreditavam ser seu de direito. Sete dos filhos de Ptérelas, que eram Crômios, Néritos, Políctor, Méstor, Antíocos, Quersídamas e Ítacos — Evérion era ainda muito jovem para lutar —, todos piratas selvagens, apareceram diante de Micenas e exigiram o trono de Eléctrion. Mas Eléctrion rejeitou-os, e, à frente do exército dos teléboas, os sete comandantes sitiaram Micenas.

Nessa época, Anfitríon, filho de Alceus, filho de Perseus e rei de Tirinto, estava noivo de Alcmena, conhecida como “a donzela de Midéia”, filha do rei Eléctrion de Micenas e de Anaxo, sua sobrinha. Eléctrion era o filho primogênito de Perseus. Já tinham casamento marcado. Porém, o himeneu não aconteceu, porque inesperadamente os teléboas haviam invadido a Hélade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:53

Os teléboas foram derrotados, apesar de terem conseguido apoderar-se dos rebanhos de Eléctrion, depois de terem invadido Micenas e atacado o palácio, matando vários filhos do rei, entre eles Arquelaus, Gorgófonos e Celêneo. Por pouco Eléctrion mesmo não havia sucumbido. Porém, expulsos da cidade e do país, depois da morte de quase todos os seus príncipes, os teléboas, subindo em seus navios, partiram e foram obrigados a entregar os rebanhos roubados a Eléios (que era também chamado Políxenos), rei da região de Élide, para que os escondesse a peso de ouro. Em seguida, voltaram para Táfos.

ANFITRÍON E A DERROTA DOS TELÉBOAS

Anfitríon, ao saber que os rebanhos de seu futuro sogro estavam com o rei da Élide, viajou secretamente até aquele país, negociou a compra dos rebanhos com Eléios e rumou de volta para Micenas, a fim de entregar os rebanhos a Eléctrion, enquanto este preparava-se para uma campanha contra Táfos e seu povo, a fim de vingar a morte de seus filhos. Tencionava confiar seu reino ao seu futuro genro Anfitríon.

Porém, Eléctrion, ao invés de ficar satisfeito e grato pela atitude de Anfitríon, ao reaver seu rebanho roubado, disse-lhe que Eléios não tinha o direito de negociar gado roubado e que Anfitríon jamais deveria ter topado fazer negócio em tal situação. Preferia ter recuperado o que era seu pela força. E estava pronto a empreender uma expedição contra Táfos. Mas Anfitríon ficou louco de fúria:

— Eu preferia ter mandado o teu gado para Hádes do que ser obrigado a ouvir um sermão como este!

E, retirando a espada da bainha, atirou-a com toda a sua força contra a parede, mas foi bater no chifre de uma vaca, deu meia volta e acertou a cabeça de Eléctrion, matando-o.

Anfitríon sentiu tamanha culpa que teve que abandonar tudo, inclusive a pretensão ao trono de Micenas, e decidiu ir embora para Tebas, na Beócia, cidade governada pelo rei Créon, filho de Meneceus. Ademais, Estênelos, rei de Árgos e irmão de Eléctrion, o estava pressionando, acusando-o de assassinato.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:54

Anfitríon, sem a mínima condição de explicar acerca da verdade a Alcmena, teve que ir sem ela, mas conseguiu reunir sua família, até receber ordens de Estênelos para abandonar o país.

Chegando em Tebas, foi recebido pelo rei Créon, que o purificou da morte de Eléctrion. Então, com a morte de Eléctrion, Estênelos herdou o trono de Micenas e Tirinto, e, tendo como hóspedes Atreus e Tiestes, refugiados na Argólida pelo assassinato de Crísipos, filho de Pélops, entregou-lhes o reino de Midéia.

Anfitríon não conseguia esquecer Alcmena. Depois de um bom tempo, mandou um criado pedir-lhe perdão e a sua mão em casamento. Mais do que depressa, Zeus, com segundas intenções, inspirou a bela Alcmena a aceitar, porém com a condição de que só se casaria se, logo depois do himeneu, Anfitríon partisse para derrotar os teléboas e vingasse seu pai e seus irmãos mortos na guerra. Anfitríon de fato aceitou.

Alcmena, então, decidiu ir a Tebas e levou consigo seus servos, seus bens e seu jovem irmão Licímnios, o único a não ter participado da guerra contra os teléboas. Licímnios, mais tarde, conquistaria a mão da bela Perímede, irmã de Anfitríon.

Anfitríon, já pensando na guerra que faria contra Ptérelas, o rei dos teléboas de Táfos, não tendo soldados, pediu uma tropa emprestada ao rei Créon. Este pensou... pensou... e, como não era de fazer favores a troco de nada, concordou com a condição de que Anfitríon, antes, livrasse Tebas da malvada raposa de Teumesse. Era uma horrível raposa protegida por Poseidon, o rei dos mares, e enviada contra os tebanos pelo deus Dionisos. Ela vivia fazendo estragos nas vizinhanças e, para mantê-la em seus limites, os tebanos eram obrigados a oferecer-lhe, todos os meses, uma criança para ser devorada viva. E ninguém conseguia matá-la, que era mais veloz do que o Vento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:54

Entretanto, Anfitríon lembrou-se que havia um cachorro, Laelaps, o qual, conforme os Fados haviam decretado, não deixava presa alguma escapar. O cão pertencia a Céfalos, príncipe de Atenas e seu amigo. Anfitríon não pensou duas vezes e foi pedir o animal emprestado. Céfalos emprestou-o, porém exigiu que o trouxesse de volta, são e salvo, pois era um animal sagrado.

Ao por o cachorro em perseguição à raposa, tudo ficou mais confuso. Se a raposa conseguisse escapar, os Fados ficariam desacreditados e ninguém mais ia acreditar no Destino. Por outro lado, se Laelaps vencesse e apanhasse a raposa de Teumesse, certamente causaria a ira de Poseidon contra aquele povo. Zeus, preocupado, vendo os dois animais em corrida desenfreada, só restou-lhe transformar a ambos em pedra.

Anfitríon, mesmo tendo o problema solucionado, teve que convencer Céfalos de que era vontade divina a morte de seu cachorro, e prometeu-lhe que lhe daria um bom pedaço da terra dos teléboas, depois que os derrotasse. Céfalos, aceitando a vontade dos deuses, ainda emprestou-lhe um exército seu que se uniria ao exército dos tebanos. E, com estes, reuniriam-se as forças da Fócida e da Argólida.

Foi um belo casamento em Tebas.

Só que, mal acabou a festa de núpcias, Anfitríon pretendeu levar a esposa para o leito. Alcmena virou-se para o marido e disse:

— Agora vai lutar contra os teléboas...! Só depois que tu voltares que me entregarei, isso se tiveres vingado meu pai e meus irmãos...

Contrariado, Anfitríon, apenas beijando carinhosamente Alcmena, foi vestir a armadura, reuniu seus exércitos e partiu para as ilhas Táfias, a oeste da Acarnânia.

Na ausência de Anfitríon e seus exércitos, Trofônios construiu a câmara nupcial de Alcmena.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:55

Os aliados de Micenas, sob o comando de Anfitríon, tendo como capitães o príncipe Céfalos, o herói Panopeus e Hélios, o filho mais novo de Perseus, agruparam-se nas ilhas Táfias e cercaram a cidade de Táfos, cujas muralhas pareciam intransponíveis. De fato era, pois o destino dos teléboas dependia de Ptérelas, e a vida de Ptérelas estava ligada a um fio de cabelo de ouro, escondido em sua densa cabeleira. Cometo, a filha do rei, apaixonou-se por Anfitríon e decidiu entregar-lhe a cidade, facilitando o desfecho: cortou o cabelo fatal do próprio pai, que morreu.

Anfitríon, aproveitando a fragilidade dos teléboas, forçou a entrada na cidade, invadiu o palácio, apoderou-se das armas de Ptérelas, entregando a cidade e todo o território aos vencedores aliados. Em seguida, aclamado pelos seus, mandou punir Cometo por traição, condenando-a a Morte.

Anfitríon, a seguir, declarou Táfos domínio da Hélade e entregou a cidade aos seus aliados. Com a derrota dos teléboas, donos das ilhas conquistadas a oeste da Hélade, Céfalos, príncipe de Atenas, recebeu, como prometido, das mãos de Anfitríon, o trono do Heptanesos, e a ilha-sede passou a chamar-se de Cefalênia.

Então Zeus, do alto do Olimpo, achou que já estava na hora de unir todas as cidades em um único Estado. Portanto, começou a pensar o que teria de fazer para conseguir realizar tal intento. Chegou à conclusão que somente um herói, um homem com força extraordinária conseguiria realizar essa façanha — um homem de características divinas, um semi-deus — que uniria os reinos, acabaria com os tiranos e bandidos e mataria os monstros que infestavam todos os territórios. Daí, Zeus resolveu ter um filho com uma mulher mortal, o que era comum, o qual reinaria em Micenas, a mais bela, mais rica e mais poderosa cidade da Hélade, desde a Macedônia até os confins da Lacedemônia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:55

Micenas havia sido engrandecida por outro filho de Zeus: o herói Perseus, matador da Górgona e do titã Ceto. E o novo herói unificador deveria ser seu descendente. Pois bem, quando Zeus tomou tal resolução, já não reinava em Micenas Eléctrion, um dos filhos de Perseus, pai de nove filhos, dos quais já haviam perecido oito, e da belíssima Alcmena. Por longo tempo ela desejou que Anfitríon vingasse a morte de seu pai e de seus irmãos, mas, agora, cheia de saudade, ansiava pela volta do esposo.

Zeus olhou para Alcmena e pensou:

— Essa será a mãe do futuro herói que governará a Hélade!

Zeus preparou um plano: mandou seu emissário Hermes voar até Hélios, o deus-Sol, ordenando que ele ficasse trancado no seu palácio, até segunda ordem. Depois, Hermes voou até as Horas e ordenou-lhes que não aprontassem os cavalos de Hélios, caso o deus-Sol tentasse desobedecer as ordens do seu senhor. Hermes também conversou com Sélene, a deusa-Lua, mandando que ela ficasse mais tempo possível no Céu. Finalmente, ordenou a Hipnos, o deus-Sono, que fizesse a humanidade dormir durante três dias seguidos.

Então, depois que os teléboas, em Táfos, foram derrotados pelas forças de Anfitríon, Zeus desceu do Olimpo com o aspecto de Anfitríon, entrou secretamente em Tebas na qualidade do herói que voltava triunfador da guerra. Alcmena, sozinha, pensando no marido ausente, assustou-se com uma sombra que se aproximava de sua casa. E gritou quando duas mãos abriram a porta, mas reconheceu-o logo e respirou aliviada. Alcmena, mesmo achando estranho o aparecimento repentino do marido, sem ao menos uma entrada triunfal, diante da aclamação do povo, sentiu-se muito feliz ao vê-lo, mas custava a acreditar. E Zeus, para provar ser Anfitríon, tirou do alforje um objeto precioso: a taça de Ptérelas, o inimigo vencido. Em seguida, com voz disfarçada, disse-lhe suplicante:

— Alcmena...!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:56

Alcmena, abandonando suas dúvidas, foi abraçá-lo e beijá-lo. Zeus, disfarçado de Anfitríon, contou-lhe os pormenores acerca da guerra, narrando-lhe cada ato heróico, mostrando assim que Eléctrion e seus filhos haviam sido vingados.

E Zeus entregou-lhe um presente: um colar semelhante ao que dera a Europa, a esposa de Cadmos. Alcmena eliminou todas as suas dúvidas e recebeu-o como deveria receber uma mulher ao seu marido. Logo que chegou a Noite, daí em diante, durante três dias, Zeus, ou Anfitríon, ficou com Alcmena, até engravidá-la. E o filho que deles nasceria haveria de ser também chamado triselenos, o filho da “lua tríplice”.

Anfitríon, ao acordar, depois de três dias de sono, sem o saber, reuniu seus exércitos vitoriosos e voltou rumo a Tebas. Antes, pensando em agradecer aos deuses pela vitória, realizou magnífica cerimônia de sacrifícios. Logo estava de volta em Tebas, em triunfo, e foi recebido pomposamente por Créon e seu povo. Alcmena, entendendo que só agora o esposo retornava, percebeu que havia sido enganada e amada pelo próprio senhor do Olimpo. Mas resolveu, temporariamente, segurar a língua, até que o ato se consumasse com seu marido.

Na mesma noite, entregou-se a Anfitríon e, por obra divina, engravidou de novo. E resolveu denunciar a visita de Zeus na sua ausência. Anfitríon, ao saber que um deus havia chegado antes dele ao leito de sua esposa, indignou-se e, para confirmar a veracidade e saber que motivos levaria um deus a isto, foi consultar o adivinho Tirésias, e foi informado de que a esposa teria filhos gêmeos: um de Zeus e outro seu, e que o filho de Zeus se tornaria o homem mais forte do mundo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:57

Ao saber, de fato, da infidelidade de Alcmena, quis queimá-la numa fogueira. Agarrou-a e amarrou-a à força sobre galhos de árvores e ateou fogo. Mas Zeus enviou uma chuva repentina, que apagou as chamas. Anfitríon emudeceu, e uma inspiração divina penetrou em sua alma, apaziguando sua ira. Ele resolveu receber o filho de Zeus como seu, lembrando-se de uma velha profecia que dizia que um novo herói reinaria sobre a Hélade, unificando-a, um herói da casa de Perseus, visto que Alcmena era filha de Eléctrion e neta de Perseus, e ele próprio, Anfitríon, era filho de Alceus e também neto de Perseus. Por isso, deixou o tempo passar.

CÉFALOS E A MORTE DE PRÓCRIS

Céfalos, rei de Atenas, pretendendo empreender uma expedição contra o rei Minos, de Creta, onde outrora exilara-se sua adorável Prócris, chegara à ilha de Égina, a fim de contar com a ajuda de seu amigo e aliado, o rei Éacos. Céfalos foi cordialmente recebido e a desejada ajuda prometida sem demora. Disse-lhe Éacos:

— Disponho de bastante gente para proteger-me e fornecer-te a força que desejares. Reconheço o generoso auxílio que prestaste ao povo de Micenas, e igualmente ser-te-ei favorável.

— Regozijo-me, Éacos, e confesso que fiquei maravilhado de encontrar tantos jovens quantos vejo em torno de mim, todos aparentemente da mesma idade. Por outro lado, há muitos indivíduos que conheci anteriormente e que não vejo agora entre teu povo, por mais que procure. Que lhes aconteceu?

Éacos deu um suspiro e respondeu, com tristeza:

— Tencionava contar-te, e o farei agora, sem mais tardança, para que vejas como de um começo doloroso às vezes surge um resultado glorioso. Aqueles que conheceste antes são, agora, cinza e pó. Uma praga enviada pela cruel Héra devastou a ilha toda. Ela a odeia porque leva o nome de uma das favoritas de Zeus, seu marido. Enquanto a doença parecia derivar de causas naturais, nós a combatemos, da melhor maneira que podíamos, com os remédios naturais.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:57

E continuou:

— Não tardamos a verificar, porém, que a peste era demasiadamente poderosa para nossos esforços, e nos rendemos. No começo, o céu parecia ter baixado sobre a terra e espessas nuvens encerravam o ar aquecido. Durante quatro meses inteiros, soprou um mortal vento-sul. A desordem afetou os poços e os mananciais; milhares de serpentes arrastaram-se na terra e despejaram seus venenos nas fontes. A força da moléstia gastou-se, primeiramente, nos animais inferiores: cães, vacas, ovelhas e aves. O infeliz lavrador espantava-se ao ver os bois tombarem no meio de seu trabalho e ficarem inertes junto ao sulco inacabado. A lã caía dos carneiros e seus corpos definhavam. O cavalo, outrora o mais veloz na corrida, já não disputava a palma, mas gemia em sua cocheira e morria de uma morte inglória. O javali esquecia sua fúria, o cervo, sua rapidez, os ursos já não atacavam os rebanhos. Tudo enlanguescia; as carcaças jaziam nas estradas, nos campos e nos bosques, empestando o ar. Digo-te uma coisa que é quase incrível, mas nem os cães nem as aves de rapina, nem mesmo os lobos famintos as tocavam. A decomposição dessas carcaças espalhou a epidemia. A moléstia atacou os camponeses, depois os habitantes da cidade. A princípio, as faces congestionavam-se e a respiração tornava-se difícil. A língua inchava e endurecia e a boca ressequida abria-se com as veias alargadas, ofegante, em busca de ar. Os homens não toleravam o calor das roupas ou dos leitos, preferindo deitar-se no chão; e o chão não os refrescava, mas, ao contrário, eles é que esquentavam o lugar onde ficavam. Os médicos não podiam valer, pois a moléstia os atacara igualmente e o contato com os enfermos os infeccionava, de sorte que os mais dedicados foram as primeiras vítimas. Então, os homens entregaram-se às suas inclinações, sem cuidar de indagar o que era conveniente, pois nada havia conveniente.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:58

Éacos complementou:

— Pondo de lado toda restrição, ajuntaram-se em torno dos poços e das fontes e beberam até morrer, sem matar a sede. Muitos não tiveram forças para sair da água e morreram no meio da correnteza, na qual os outros continuavam a beber. Tal era o horror que tinham de seus leitos de enfermos que alguns se arrastavam e, se não tinham forças suficientes para se sustentar, morriam no chão. Pareciam odiar os amigos e fugiam de seus lares, como se, não sabendo a causa de sua enfermidade, a atribuíssem à localização de sua morada. Alguns foram vistos arrastando-se pelas estradas, enquanto conseguiam manter-se, ao passo que outros caíam em terra e lançavam os olhos moribundos em torno, para contemplar o mundo pela última vez, depois os fechavam para sempre.

Fez-se breve silêncio, e Éacos continuou:

— Que ânimo poderia ter eu, durante tudo isso, ou que poderia fazer, senão detestar a vida e desejar estar com meus súditos mortos? De todos os lados, estendia-se minha gente como maçãs caídas de maduras da árvore ou bolotas arrancadas, pela tempestade, dos carvalhos.

Éacos voltou os olhos para a janela de seu palácio e disse ao amigo, que mantinha-se calado:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:58

— Estás vendo aquele templo ali adiante, no alto? É consagrado a Zeus. Quantos aí ergueram preces, maridos por esposas, pais por filhos, e tombaram no próprio ato da súplica! Quantas vezes, enquanto o sacerdote se preparava para o sacrifício, a vítima caía, abatida pela modéstia, sem receber o golpe da lâmina? Finalmente, perdeu-se toda a reverência pelas coisas sagradas. Deixavam-se os cadáveres insepultos, faltava lenha para as piras funerárias, os homens brigavam disputando sua posse. Não restou mais ninguém para chorar os mortos; filhos, maridos e esposas, velhos e jovens pereceram sem serem lamentados. Então, de pé diante do altar, ergui os olhos para o céu e implorei — lembro-me bem das palavras: “Zeus, ilustre pai, se realmente eu for teu filho, e se não te envergonhares de mim, devolve-me os meus súditos, ou faze com que eu morra também.” A estas mesmas palavras, ouvi um trovão, e gritei: “Aceito o augúrio. Possa ele ser indício de benevolência para comigo!”

E continuou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 13:59

— Por acaso, havia, perto do lugar em que me encontrava, um frondoso carvalho consagrado a Zeus. Observei uma multidão de formigas ocupadas em seu trabalho, carregando diminutos grãos entre as presas e caminhando uma atrás da outra no tronco da árvore. Notando seu número, com admiração, exclamei: “Ó pai Zeus, quisera eu ter tantos súditos para povoar esta ilha quantas formigas posso ver...” A árvore agitou-se, produzindo um ruído farfalhante com os ramos, embora nenhum vento a sacudisse. Tremi da cabeça aos pés, mas mesmo assim beijei a terra e a árvore. Não confessava a mim mesmo que tinha esperança, mas esperava. A Noite chegou e o Sono tomou posse de meu corpo cansado de preocupações. Em meus sonhos, vi a árvore diante de mim, com todos os seus ramos cobertos de criaturas vivas e moventes. Tive a impressão de que ela se agitava, atirando ao solo a multidão daqueles laboriosos insetos, que pareceram aumentar de tamanho, cada vez mais e, pouco a pouco, ficar eretos, deixar de lado as pernas supérfluas e a cor negra e, finalmente, tomar a forma humana. Acordei, então, e meu primeiro impulso foi censurar os deuses, que tinham me privado de uma agradável visão, para me trazer de volta à dura realidade. Estando ainda no templo, chamou-me a atenção o ruído de muitas vozes do lado de fora, coisa com que, ultimamente, eu não estava acostumado. Pensei que ainda estivesse sonhando, mas meu filho Télamon exclamou, abrindo bruscamente as portas do templo: “Pai, vem ver! Zeus atendeu as tuas preces!” Saí e vi uma multidão de homens, tal como tinha visto em meu sonho, e que desfilavam da mesma maneira. Enquanto eu os contemplava, admirado e satisfeito, eles se aproximaram e, ajoelhando-se, saudaram-me como seu rei. Rendi meus votos a Zeus e tratei de entregar a cidade vaga à raça recém-nascida e de dividir entre seus membros os campos.

— Por Zeus, é inacreditável!...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 14:00

— Chamei-os Mirmidões, por terem procedido da formiga. Já viste esses homens; sua disposição parece idêntica à que tinham em sua forma anterior. É uma raça diligente e laboriosa, ávida de ganhar e perseverante na defesa do que ganha. Podes recrutar tuas forças entre eles, pois te seguirão na guerra, de idade jovem e coração valente.

E não houve melhor resposta do que a vitória sobre as forças do rei Minos, que decidiu recuar e manter-se temporariamente longe das terras helênicas, até o dia em que a morte de um de seus filhos lhe encorajasse novamente e o mandasse de volta, desta vez para conquistar a Ática.

Noutro dia, bem cedo, quando a Alvorada surgia nos céus, costumava Céfalos, agora senhor de Atenas e do Heptanesos, como forte caçador que era, erguer-se do leito para dedicar-se à caça. Saía sem servos para acompanhá-lo, sem corcel e sem cães, já que havia perdido Laelaps, seu melhor cão de caça. Quando apanhava a presa desejada, procurava uma sombra para repousar; fatigado e sentindo calor, chamava pela Brisa fresca que lhe soprasse em volta do desejado sono:

— Vem, Brisa suave! Vem, ó dileta, alentar-me, refrescar-me! Respira sobre mim o teu doce, lânguido hálito, ó deliciosa Aura! Vem afagar-me e leva o calor que me abrasa.

Alguém que ouviu, notou esse discurso e, enganado pelo duplo sentido das palavras, pensou que Céfalos estivesse a chamar pela ninfa do lugar, com quem costumasse encontrar em colóquios na floresta. O insensato correu a referir a Prócris o que ouvira. Facilmente se deixou o Amor enganar. Prócris caiu ao chão sem sentidos, ferido o coração pela profunda mágoa e, quando tornou a si, chorou e soluçou pela traição do esposo.

— Então se chama Aura a rival que me desviara a atenção!

No entanto, pensava bondosa:

— Não acusarei em vão meu esposo, talvez se haja enganado esse portador de más notícias ou mesmo queira enganar-me com falsa novidade.

E conturbada pela dúvida, pela dor e pela esperança, resolveu ir pessoalmente espreitar o companheiro.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 14:00

Na manhã seguinte, Céfalos, como sempre, depois da caçada, estendeu-se na relva e pôs-se a cantar:

— Vem, ó amorável Brisa, aliviar-me a fadiga!

Mas Céfalos assustou-se ao ouvir rumor na moita próxima, decerto alguma corça, pisando de leve. Pôs-se de pé rapidamente, arremessou-lhe o dardo mágico que nunca lhe falhava e foi atingir o alvo. E correu para apanhar a presa, quando uma terrível cena se lhe deparou: atingira a própria esposa, que ainda soluçava. Ela comprimia com a mão o peito mortalmente ferido. Céfalos permanecia imóvel, sem saber o que fazer, enquanto Prócris jazia no próprio sangue derramado. Debalde rasgou ele as vestes em lamentos, para ligar-lhe o ferimento terrível. E enquanto ajoelhava-se para acudir a amada, as forças foram abandonando-a e a custo conseguiu ela lhe dizer, murmurando:

— Ó marido cruel, ouve a minha súplica, pelos deuses imortais, pelo sagrado laço que rompeste deslealmente, eu te conjuro: quando eu estiver morta, não permitas que tua Aura compartilhe o nosso leito.

Só então ele conheceu o desgraçado erro que preocupara a infeliz. Soluçando, contou-lhe a verdade e jurou-lhe, entre quentes lágrimas, sua própria inocência e fidelidade. Mas era tarde. Ainda mais uma vez ela o olhou com carinho, doloroso sorriso lhe pairou nos lábios pálidos, tranqüilo, quase sereno era-lhe o rosto moribundo; e assim despediu-se a alma, nos braços leais do esposo, que lhe havia sido muito caro.

Céfalos, pela morte de Prócris, filha do rei Erictônios, foi julgado no Areópago, sendo condenado ao exílio. E teve que deixar a Ática. A caminho do Heptanesos, que ele mesmo ajudara a conquistar, foi pedir asilo no reino do famoso soberano Mínias, de Orcômenos, e lá contraiu núpcias com uma de suas filhas, Clímene.

Mas não demorou muito, aconselhado pelas visões do Sono, procurou estabelecer-se numa das ilhas do Heptanesos, aquela que levaria o nome de Cefalênia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 14:01

Um dia, na Cefalênia, cumprindo as previsões de um Oráculo, Céfalos encontrou uma ursa e, confiando ser obra dos deuses, decidiu com ela se unir. Logo, o animal se transformou numa bela mulher, que lhe daria um filho, Arcésios, destinado a reinar naquele país.

O NASCIMENTO DE EURISTEUS E ALCIDES

Chegando ao termo da gravidez de Alcmena, Zeus anunciou aos deuses reunidos em conselho que a primeira criança que nascesse na noite desse dia, em casa de um descendente de Perseus, seria o maior herói da Hélade. Ele receberia o nome de Alcides, em honra de Alceus, seu avô paterno. Houve júbilo no Olimpo. Entretanto, a deusa Héra, muito desconfiada, resolveu perguntar:

— Quem são os pais desse herói tão... importante?

Zeus, então, virando para os demais deuses, declarou:

— Ouvi-me, todos vós, para que eu anuncie o que me dita o coração em meu peito. Neste dia, Ilítia, minha adorável filha, trará à luz uma criança do sexo masculino, que dominará todos os que vivem sobre a Hélade. A mãe é Alcmena, de Tebas, e o pai... sou eu.

Héra quase caiu da cadeira. Ficou extremamente irada...

— Que verdadeiramente ele dominará todos os que vivem por aí, que neste dia caírem entre os pés de uma mulher, pois será do sangue dos homens que são da tua raça.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 14:02

Zeus não reparou na falácia da mente de sua esposa. Nunca antes Héra sentira tanto ciúme e desprezo por um nascimento, justo ela que zelava pelas crianças recém-nascidas. Não havia sido a primeira vez que Zeus fora infiel, mas percebia que o menino que iria nascer seria sua maior dor-de-cabeça. Atiçaria a discórdia de seus divinos filhos e arrasaria todas as criaturas da Terra, suas protegidas. Héra sentia que o menino seria um espinho em seu pé e não poderia aceitar tal infidelidade. Zeus havia ido longe demais, agora sendo pai do mortal mais poderoso do mundo, que, certamente, Zeus iria querer fazê-lo seu filho preferido e levá-lo ao Olimpo. Ademais, Zeus não poupou humilhação a Héra revelando publicamente aos demais deuses o nascimento de um filho seu com uma mortal...

Héra fez uma força danada, fingiu que não havia se ofendido, mas por dentro fervia, exigindo vingança. Aparentando a maior tranqüilidade, falou:

— Zeus, mau marido, tu acabas de dizer que o maior rei da Hélade deverá nascer antes que a noite acabe, em uma casa de descendentes de Perseus, certo?

— Sim!

Disse Zeus coçando a barba. Héra continuou:

— Juras? Quando tu dás a tua palavra, não podes voltar atrás, tu sabes!

— Claro, Héra!

Disse agora coçando a barriga. E prometeu:

— Eu juro pelas sagradas águas do Estige que será do jeito que prometi! Por que tu estás me perguntando isso, Héra?

Héra sorriu, tamborilou os dedos na mesa e respondeu com a maior calma:

— Por nada, meu bem... por nada!

Os olhos bovinos de Héra brilhavam como o fogo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 14:02

A deusa Héra mandou chamar a filha Ilítia, a deusa responsável pelos nascimentos, e cochichou-lhe qualquer coisa ao ouvido. Ilítia fez que sim e partiu voando para executar os planos de sua mãe. Primeiro, sentou-se de pernas cruzadas em frente à casa de Alcmena, na soleira da porta, em Tebas, e, entrecruzando os dedos, começou a gemer para que os trabalhos de parto de Alcmena complicassem, invocando as três terríveis e invisíveis Moiras, com seus joelhos cruzados e as mãos firmemente dobradas sobre eles.

Quando viu que havia atingido seu objetivo, atrasando o nascimento da criança, saiu voando e foi plantar-se em frente à casa do rei Estênelos, em Micenas, onde a rainha Nícipe, sua esposa, estava grávida de sete meses, e nem de longe estava na hora de parir. Ali, Ilítia fez outros encantamentos e, de repente, Nícipe começou a sentir as dores do parto antecipado. Em poucos minutos, nasceu-lhe um filho raquítico, pálido, feio de doer. Acabava de nascer um descendente em uma casa de Perseus... mas não era um filho de Zeus, conforme este havia planejado!

Em seguida, satisfeita, Ilítia voou outra vez para Tebas a fim de assistir ao parto de Alcmena, que sofria as dores do parto, e o menino demorava a nascer.


Ilítia, agora sob o aspecto de uma mulher velha, continuava do lado de fora a persistir na sua intromissão, e a criança não vinha à luz. Históris, “a sábia”, filha de Tirésias, que acompanhava os sofrimentos de Alcmena, percebendo a presença das deusas, que inspiravam má sorte, foi ter com Galântis, a ama de Alcmena, e contou-lhe o que estava acontecendo. Então, Galântis, a “rapariga-doninha”, saiu do quarto soltando brados de júbilo e anunciando falsamente que a criança acabara de nascer:

— Segundo a vontade de Zeus, Alcmena deu à luz um menino! Agora as deusas da má sorte não têm mais nada que fazer aqui!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 14:03

A deusa Ilítia acreditou e se distanciou, e as Moiras, atônitas, abriram as mãos, quando a Aurora já apontava no horizonte, e, nesse instante, Alcmena deu à luz um filho, Alcides, enquanto trovejava o Céu. Este era o filho de Zeus.

E as Moiras, assim enganadas, incentivadas por Ilítia, voltaram-se contra a astuta Galântis e transformaram-na na criatura que, conforme se acreditou por muito tempo depois, concebia pelo ouvido e paria pela boca, e lhe deram o nome de gale, “doninha”. Bem mais tarde, Héracles estabeleceu o culto de Galântis em sua casa, e todos os anos os tebanos fariam sacrifícios em sua honra antes de cada festival do herói.

Mas era tarde. Em Tirinto, já havia nascido Euristeus, “amplamente poderoso”, cujos pais descendiam da realeza: Estênelos era filho de Perseus e Nícipe era filha de Pélops. Euristeus reinaria sobre os gregos, e Alcides deveria submeter-se à servidão.

E, na noite seguinte, veio à luz outro filho de Alcmena, desta vez concebido através de Anfitríon, que recebeu o nome de Íficles, “famoso por sua força”.

Então Héra, toda satisfeita com o resultado, tendo o filho de Estênelos e Nícipe nascido primeiro, foi correndo dizer ao marido:

— Querido, sinto muito desapontar-te, mas a primeira criança que nasceu, à noite, em casa de um descendente de Perseus, foi um menino chamado Euristeus, filho de Estênelos e Nícipe, em Micenas. Quanto ao teu Alcides, ele só veio ao mundo depois que o Sol nasceu. Portanto, Euristeus será o rei de toda a Hélade... e teu querido filhinho terá de obedecer todas as ordens dele!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 14:04

Furiosíssimo, Zeus deu uma olhada ao redor e viu Ate sorrindo, quase gargalhando. Ate era uma de suas filhas, a deusa do mal que adorava ver todo o mundo cometendo erros. Imediatamente, ele entendeu que Ate era quem lhe havia ofuscado os pensamentos, fazendo-o jurar e cair na armadilha de Héra. Cego de ódio, agarrou Ate pelos cabelos e lançou-a para fora do Olimpo, e ela foi cair na Terra, sobre uma colina da Frígia. Desde então, Ate passou a viver entre os homens, fazendo-lhes cometer todo tipo de erros e maldades.

Depois, olhando ameaçador para Héra, falou:

— Está bem, não posso voltar atrás no que jurei. Alcides não será o líder que eu havia planejado e sofrerá muitos revezes na vida. Entretanto, dou a minha palavra de que ele realizará todas as tarefas impostas por Euristeus, se este o perseguir, e, por isso, será lembrado para sempre. E tem mais: depois que ele morrer, viverá para sempre no Olimpo, e tu serás obrigada a aturá-lo como um igual e um amigo!

Héra ficou branca de indignação e, mordendo os lábios, prometeu que faria as maiores sujeiras para evitar que a promessa se tornasse realidade.

Temendo as ciladas que Héra poderia preparar para seu filho, desde o seu nascimento, Zeus procurou a filha Atena, a deusa da sabedoria. Zeus pediu-lhe que protegesse a criança e que desse um jeito de torná-la imortal.

A deusa Atena, para tornar Alcides imortal, teve uma excelente ideia: certa vez, inspirou em Alcmena um inesperado medo da rainha dos deuses e, por isso, conduzida pelo deus Hermes, ela resolveu levar o filho até um lugar solitário, junto às muralhas de Tebas, onde, conforme acreditava, Héra não poderia fazer-lhe mal algum, pois Alcmena sabia que, provavelmente, a deusa tentaria matá-la ou matar o menino. Depois, abandonou-o.

Em seguida, Atena convidou Héra a dar um passeio, levando-a justamente até onde estava Alcides em prantos. Em seguida, ao vê-lo, Héra, com seu instinto maternal, exclamou:

— Coitadinha dessa criança! Deve ter sido abandonada por alguma mãe pobre ou desnaturada!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 15/3/2021, 14:04

— É, parece. Acho que ela deve estar com fome. Vê como chora!... Por que tu não o amamentas?

Héra, sem suspeitar de nada, deu o peito ao menino. Ele, terrível glutão, sugou com tanta força que o leite voou até ao Céu, manchando de branco o véu negro da Noite e fazendo surgir a Via Láctea. Héra ficou irada com a criança:

— Quanta gula! Não és um menino, mas um monstro!

Foi quando ouviu passos. Suspeitando que poderia ser a mãe da criança, largou-a no chão e se afastou com angústia. Quando viu que a mãe era Alcmena, Héra quase explodiu de ódio! Ela havia sido enganada, já que amamentara Alcides com o leite imortal! Porém, não tendo sugado leite suficiente para se tornar inteiramente imortal, Alcides passou a ter pontos vulneráveis, e deveria se cuidar já que estaria sujeito à Morte.

Atena, com a aproximação de Alcmena, tomou o menino e entregou-lhe nos braços. Essa passagem valeria ao menino um segundo nome: Héracles, a “glória de Héra”, e assim passou mesmo a ser conhecido. E, bem mais tarde, aquele lugar de Tebas levaria o nome de Campo de Héracles.

E, a partir daquele instante, Atena deixou uma coruja ajudante para tomar conta de Alcides, visto que Héra poderia matá-lo. A coruja ficaria de sentinela na cabeceira do berço de Alcides e Íficles. Tanto ela lhe transmitia pensamentos de sabedoria como o abanava nas longas e quentes noites de verão.

Alcmena deu à luz duas crianças gêmeas: Íficles e Alcides. A deusa Héra havia desconfiado da alegria de seu divino esposo. E aquele interesse de Zeus pelo menino mais corpulento causou-lhe ciúmes — parecia ser o pai da criança. Por esse motivo, completando as crianças dez meses de vida, deu ordem a duas horríveis serpentes de escamas azuis para que fossem ao berço das crianças e as devorassem, quando ainda não tinham um ano de idade.
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