Mestres do Conhecimento
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A Saga de Teseu

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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:37

Amigos do fórum "Mestres do Conhecimento". Este tópico acumula todas as aventuras de TESEUS e envolve grandes heróis como Erecteus, Édipos, Héracles, Píritous, Jáson, Cástor e Pólux, Peleus, Télamon, Meléagros, Ceneus, entre outros.

É um tópico muito extenso, sendo necessário, talvez, algum tempo para sua finalização.

Como gosto de fazer em meus posts, procuro iniciar um mito com outros mitos a ele relacionados, mostrando como tudo começou. E ainda, gosto de finalizar o mito com algo mais, uma conclusão ou algum mito descendente a ele relacionado.

Boa leitura, boa diversão e um grande abraço.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:45

Os mitos de Teseus

MINOS E DÉDALOS

Erecteus, o sexto rei de Atenas, já havia feito guerra contra os trácios do príncipe Eumolpos, que comandava um contingente de Elêusis. A morte de Eumolpos provocou a ira de Poseidon contra Erecteus. Nessa época reinava Minos, em Creta, que havia tomado Pasífae, a filha do Sol, por esposa. Pasífae (Pasiphäe), a filha de Hélios, o deus-Sol, foi desposada por Minos, filho do rei Licastos. Minos tivera bom número de filhos com Pasífae, três belas moças, Astréia, Ariadne e Fedra (Phaedra), e quatro varões, Deucálion, Catreus, Andrógeo e Glaucos, o menor.

Glaucos, ainda pequeno, ao perseguir um camundongo, caiu em um pithos (grande jarro cerâmico) cheio de mel, e afogou-se. A informação de que quem só podia devolver a vida ao menino seria a pessoa que melhor soubesse descrever a cor de uma vaca cuja tonalidade mudava três vezes ao dia, trouxe de várias partes de Creta e da Hélade um bom número de adivinhos. Todos tentaram descobrir aquele mistério: a vaca passava da cor branca para a vermelha, e logo, para a cor preta. Foi um difícil desafio, que se prolongou por vários dias.

Havia um adivinho que era conhecido pelo nome de Políidos (ou Poleydos), filho de Céranos, oriundo de Árgos, que, depois de muito observar, chegou a uma conclusão:

— A vaca tem a mesma cor da amora, o fruto que começa branco, logo enrubesce e, já maduro, se torna preto.

Minos, ainda que meio desconfiado, decidiu arriscar, e mandou que o conduzissem até o cadáver de seu filho, e deixou-o sozinho. Logo, surgiu uma serpente, e Políidos, amedrontado, matou-a. E foi com grande espanto que presenciou outra serpente, que em seguida apareceu, trazendo na boca uma erva com que cobriu o corpo da companheira morta. E, miraculosamente, ela ressuscitou. Políidos apanhou aquela erva prodigiosa, e seguiu o mesmo exemplo realizado pelo ofídio, e foi com espanto que viu o menino acordar para a vida.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:45

Íon tornara-se o sétimo rei de Atenas, em seguida subiu ao poder Cécrops II e, após, Pandíon, o nono soberano. Abaixo da Acrópole, próximas ao mercado, existiam muitas lojas e salões de artistas. Ali trabalhavam escultores, pintores e muitos outros. Entre eles havia Dédalos, artista e hábil artesão, um perito afamado e descendente direto dos reis Erecteus e Cécrops II, por sua mãe ou por seu pai, apesar de sua origem duvidosa: uns diziam-no filho de Métion (filho de Erecteus), ou de Eupálamos, filho de Metíon, e sua mãe chamava-se Álcipe, ou talvez Mérope, também da casa de Erecteus.

Dédalos, ferreiro famoso de Atenas, devia sua maravilhosa habilidade a Atena e Hefaístos. Mas também havia sido discípulo do deus Hermes. Os moradores de Atenas admiravam as invenções de Dédalos e costumavam dizer que ele era protegido de Atena, a deusa da sabedoria e das belas-artes. Suas construções fizeram Atenas ainda mais bela do que já era. Além de ferreiro, era arquiteto, escultor, pintor, desenhista, cientista e construtor. Diziam ter inventado o fio a prumo, a machadinha, o nível d’água, a pua, a bússola geométrica, o machado, as vergas, o augúrio, a cola e os bancos dobráveis e reclináveis. E era um excelente escultor, melhor que qualquer outro. Nas obras dos artistas da época, os olhos eram sempre fechados e as mãos, junto à parte lateral do corpo, pendiam sem vida. Mas Dédalos foi o primeiro a abrir os olhos de suas esculturas humanas, e foi também o primeiro a esculpi-los com as mãos estendidas e abertas e parecendo em movimento. Chegou mesmo a inventar os autômatos, estátuas capazes de ouvir e movimentar-se sem ajuda humana. E fora ainda o primeiro a colocar mastros e vergas nos navios.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:46

Ácale, ou Tálos, seu sobrinho, filho de sua irmã Pérdix, tornou-se seu colega de profissão; era um menino muito esperto, e, juntos, haviam formulado muitos projetos revolucionários para a época. Em sua oficina, Ácale o ajudava; ele gostava do serviço que seu tio executava, ouvia-lhe os conselhos com atenção e dia-a-dia tornava-se cada vez mais habilidoso.

Já com doze anos de idade, certa vez, Ácale precisou cortar uma tora em duas partes. Para isso, resolveu usar o maxilar com dentes pontiagudos de uma serpente que havia encontrado. Resolveu experimentar, e foi que conseguiu cortar a madeira tão rápido e tão bem que, depois do feito, sentou-se e começou a nele pensar seriamente. Precisava que fosse maior, mais eficiente, de uso fácil. Então, copiou em bronze a forma dos dentes do réptil e experimentou seu novo invento. Com a ferramenta que acabava de inventar, foi capaz de cortar não apenas pedaços de madeira mas também um tronco inteiro, diante do tio Dédalos, que estava estupefato. Ácale (Tálos) havia inventado a serra.

Dédalos ficou impressionado com a descoberta do rapaz e, orgulhoso, mostrou a todo mundo a ferramenta inventada por ele.

— Vê, Pérdix, olha que excelente ferramenta teu filho inventou! Vem ver o que se pode fazer com isso.

Assim, mostrou à irmã que o serrote de Ácale era capaz de serrar madeira.

— Cuidado com a sua fama, Dédalos... Do jeito que a coisa vai, Ácale será um grande páreo para ti!

Apesar de Dédalos não ter gostado muito da cínica brincadeira de Pérdix, argumentou:

— É exatamente isso que desejo que aconteça.

Porém, Tálos, seu sobrinho, que também era muito habilidoso, sobrepujou-o em engenho; pois foi quem inventou, além da serra com dentes, o cinzel, o compasso e a roda de oleiro, com a qual a argila era modelada, chegando a sua fama a ameaçar e superar a do tio, o que provocava o ciúme de Dédalos, e tal sentimento foi notado pelos seus amigos e parentes. Certamente, Dédalos demonstrava-se um tanto rancoroso.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:47

Certo dia, tio e sobrinho estavam passeando pela Acrópole. Eles estavam no topo de uma rocha alta, junto do Templo de Atena, e admiravam, lá embaixo, a esplendorosa vista da cidade e as belas obras arquitetônicas que haviam produzido juntos. Mais no fundo apareciam as planícies da Ática e os cumes das montanhas que separavam o país dos reinos vizinhos. Viam os belíssimos marcos distantes que divisavam os muitos portos do mar de Égina. Observavam os bosques sagrados e o horizonte, quando, num momento de descuido, Ácale tropeçou, perdendo o equilíbrio e, antes que Dédalos o pudesse acudir, caía o garoto das alturas da Acrópole, indo despencar no meio da multidão de transeuntes.

Dédalos, imaginando que o acusariam de assassinato por seu ciúme, resolveu enterrar o menino secretamente, mas foi descoberto enquanto acabava de enterrá-lo. Dédalos tentou esconder o ato alegando estar enterrando uma serpente. Porém, foi desmascarado, e o cadáver foi desenterrado. O terrível acidente foi aumentado pelos inimigos de Dédalos, que haviam sido testemunhas oculares do acontecido. Eram homens cheio s de veneno na alma, além de serem de grande influência em Atenas. Com isso, acabaram levando Dédalos aos tribunais, no Areópago, onde o acusaram de haver empurrado Ácale para a Morte. Os amigos e parentes do infeliz nada puderam fazer, porque as provas eram evidentes. Segundo os acusadores, Dédalos, invejoso das habilidades de Ácale seu sobrinho, havia-lhe tirado a vida, atirando-o do alto do Templo de Atena. Contando com amigos entre os juízes, os acusadores pediram sentença de morte a Dédalos. Mas não conseguiram levá-lo à forca; conseguiram apenas condená-lo ao exílio, muito embora a maioria dos atenienses soubesse o quanto Dédalos amava seu sobrinho.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:47

Assim, Dédalos enfrentou um golpe atrás do outro. Atenas perdia para sempre um grande artista e um grande ajudante. Além do mais, devido à morte de Ácale, houve uma sentença injusta que impediu a Dédalos o direito de continuar vivendo e trabalhando em qualquer outra cidade do país. Quanto a Ácale, ou Tálos, a deusa Atena compadeceu-se dele e transformou-o numa perdiz

Escapando à forca, Dédalos teve que exilar-se. Seguiu em direção do Pireus na primeira embarcação que saiu do porto, ao sul de Atenas. Não se importava para onde deveria ir, nem buscou saber para onde iam os marinheiros que lhe davam carona. Só depois de estar em alto-mar que soube que navegava para o leste, rumo às Cíclades. Passando por Delos, Náxos, Théra, finalmente, pelo sul, chegou à grande ilha de Creta, aonde outrora reinava Minos, filho de Zeus e Europa, e, depois de ter passado o trono para Licastos, reinava o filho deste, também chamado Minos, homônimo ao avô. Era um rei de coração duro e governava nada mais nada menos que a terra mais poderosa do Mediterrâneo. Seu povo conhecia as lidas da navegação e possuía a maior frota do mundo, e seu império estava no auge da fama.

Em sua capital, Knossos, que rebrilhava toda em ouro e mármore, o luxo era espantoso! Havia, ao lado de outros belos e imponentes edifícios, luxuosíssimos palácios e templos. Minos não era um rei que escondia a sua riqueza, como fazia Midas, o rei da Frígia. Ao contrário, queria que todos os estrangeiros que chegassem à ilha ficassem maravilhados com o seu poder.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:48

Minos vivia se gabando de tudo que possuía, mas quando visitou Atenas onde viu aqueles templos e estátuas, a graça de seus prédios públicos e outras obras-de-arte, seu orgulho da beleza de Knossos acabou de uma só vez. Foi nessa oportunidade que ele descobriu que mesmo que alguém possuísse muito dinheiro, nem sempre seria capaz de criar o belo. Para isso, precisava de prática e dom de um artista. Assim, durante a sua permanência em Atenas, quando algo belo o deixava extasiado, ele sempre perguntava que o havia executado. A resposta era sempre a mesma: Dédalos. E foi assim que Minos tomou conhecimento do maior artista e mais hábil artesão que o mundo jamais havia conhecido.

Quando, impressionadíssimo com tudo que havia visto em Atenas, o grande rei voltou a Creta, Knossos pareceu-lhe uma cidade pobre e feia apesar de ser toda coberta de ouro e de impor respeito sobre todas as nações do mundo. E pensava:

— Se Dédalos trabalhasse para mim, eu nada mais teria a desejar!

Certo dia, quando Minos estava absorto em seus próprios pensamentos e sentado ao trono, um súdito aproximou-se todo contente:

— Salve, poderoso rei de Creta! Trago-te notícias que acabarão agora mesmo com sua tristeza. Será uma das maiores alegrias para o teu nobre coração!

— Nestes últimos tempos só tenho recebido boas notícias. Mas nenhuma boa demais para acabar com a minha tristeza!

— Desta vez, Majestade, acredito que receberás a notícia com a qual tanto sonhas: Dédalos está em Creta e deseja trabalhar para o rei!

Minos deu um salto.

— Dédalos, em Creta?! Pois vou procurá-lo pessoalmente!

Assim, com honras reais, Minos foi ao encontro de Dédalos. Mais que depressa lhe pôs à disposição tudo o que ele precisasse para começar sua vida em seu país; e propôs-lhe trabalho, pretendendo que começasse suas tarefas a partir do dia seguinte.

A partir de então, Knossos e todos os outros lugares da ilha passariam a possuir belos edifícios e maravilhosas obras-de-arte. E Minos não escondia seu entusiasmo de elogiar Dédalos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:49

Durante muitos anos, Dédalos viveria em Creta e trabalharia em prol daquele povo e seu rei. Lá, construiria a famosa sala de dança da princesa Ariadne, filha do rei, e faria para seu senhor estátuas falantes e andantes.

Estando em Creta, também haveria de realizar obras para outros povos, para os egípcios, por exemplo, como um pátio exterior do Templo de Ptáh (o Hefaístos grego), em Mênfis, onde colocaria uma estátua dele mesmo.

Dédalos casou-se com Náucratis, uma linda moça das ilhas Cíclades, e tiveram um filho chamado Ícaros. Mas, logo após o nascimento da criança, Náucratis não resistiu e encontrou-se com a Morte.

O LABIRINTO DE KNOSSOS

Pandíon, que era rei de Atenas, sofria com as pressões de seus irmãos para que dividisse o reino, especialmente Metíon, filho de Erecteus, que pretendia fazer de seus filhos reis absolutos. E conseguiu realizar seu intento: Metíon e seus filhos expulsaram Pandíon de Atenas, que teve que fugir. Ele foi refugiar-se na cidade de Cária, a corte do rei Pilas, onde casou-se com a princesa Pélia, que lhe deu os filhos Nisos, Palas, Egeus e Licos. Logo, Pandíon tornava-se rei de Cária (a futura Mégara).

Naquela época, Minos, o filho de Licastos, para impressionar o povo e se fazer rei, afirmou que os deuses lhe concederiam todas as graças e favores que exigisse. Pondo-o à prova, a população sugeriu que pedisse a Poseidon, o deus do mar, fazer nascer das águas um touro. Seguido pelos crédulos e os incrédulos, Minos se dirigiu à praia e fez uma invocação fervorosa à gigantesca divindade:

— Ó Poseidon, poderoso deus do mar! Dá-me algum sinal para mostrar que sou teu favorito! Faze um touro branco sair das águas, e eu o oferecerei em sacrifício!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:49

Para assombro de alguns e regozijo de outros, as ondas se encresparam, avançaram e recusaram e, finalmente, se rasgaram num profundo abismo do qual surgiu um magnífico touro branco. Imenso, belíssimo, fogoso! Nadou até a areia, em terra firme, e galopou por entre a multidão embevecida. Parou diante do rei Minos que o afagou emocionado.

— Vistes? Poseidon me protege... Portanto, o trono de Creta deve ser meu.

No entanto, observando melhor aquela criatura, livre nos prados verdejantes de Górtyne, Minos ficava cada vez mais deslumbrado, e pensou:

— É uma pena sacrificar um animal tão bonito!...

Decidindo guardá-lo para si próprio, em vez de sacrificá-lo a Poseidon como havia anteriormente prometido. Então, mandou buscar em seus rebanhos um touro qualquer e ofereceu-o em sacrifício, em lugar daquele que havia surgido do mar. Depois, feliz da vida, Minos voltou ao palácio e, em seguida, foi mostrar o seu presente à toda a população em praça pública. Maravilhada, a população o aclamou rei de Creta.

Mas o deus dos mares estava enfurecido com a deslealdade do mortal Minos. Poseidon convocou seus filhos e filhas, seus monstros e seus Gigantes para imaginarem um castigo à sua altura. Precisava ser qualquer coisa soberba que desencorajasse os homens de nova traição, pois matá-lo apenas seria pouco. Foi Tríton, filho do deus, quem sugeriu:

— Deves, meu pai, fazer a rainha Pasífae se apaixonar perdidamente pelo touro branco e conceber dele um filho que há de se tornar a vergonha e a desgraça do traidor e sua família. Não deverá ser nem homem, nem animal, mas uma insólita combinação de ambos, uma anomalia repulsiva e aterradora que há de espalhar o terror por aquelas terras.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:50

Assim, Poseidon inspirou o artesão Dédalos (ou Daídalos), que construiu uma vaca de madeira para Pasífae, com uma abertura logo abaixo da cauda, e ela, flechada pelo deus Éros, entrou secretamente no seu interior, ajustou-se e esperou. A sua criação era perfeita, enganaria qualquer ser humano ou animal, podendo ser confundida. E cumpriu-se a desforra do deus dos mares. A vaca foi levada para o campo aberto, a morada do touro branco, que não resistiu e acasalou a artificial fêmea, que fingia um mugido solitário e brando. E tal ato foi flagrado por um camponês chamado Axto, que tudo via a uma certa distância.

Pasífae devia ter sofrido muito, lançando todo o tipo de maldições, mas satisfez seus mais sarcásticos desejos. Ao seu tempo, deu à luz um ser. Logo ao nascer, a aberração mostrou sua perversidade, alimentando-se unicamente de carne humana. Chamava-se Astérios. Em dias, transformou-se num adulto com chifres imensos e pontiagudos. Os apavorados cretenses renomearam-no Minotauro, rotulado como filho do rei.

Minos veio a saber que Axto, o camponês, havia sido testemunha ocular daquele ato indigno da rainha Pasífae, por isso mandou capturá-lo para que ele confirmasse o acontecido. Por fim, Axto morreu em meio a uma das sessões de tortura a que foi submetido. Ao saber a verdade, que Axto confirmou antes de morrer, no terceiro dia, Minos mandou que trancafiassem Pasífae numa masmorra.

O rei de Creta respeitou o ser monstruoso, mas o temia, não ousando opor-lhe qualquer resistência. Além do pavor ao monstro, havia o medo de incorrer novamente na ira de Poseidon, pois intuiu a intervenção do deus naquele estranho nascimento. A Minos não agradava o aspecto nem a razão de ser daquele híbrido, e foi consultar o Oráculo, que lhe disse:

— Esconde tua vergonha com esperteza.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:51

Então, mandou chamar Dédalos, o ateniense exilado em seu país, e ordenou-lhe que pensasse no assunto. Deveria ele encerrar o monstro em um recinto de onde fosse impossível a sua fuga, já que, até o momento, mantinha-o acorrentado nas masmorras de seu palácio, construir um palácio que abrigasse o Minotauro e, numa sala vinculada à mesma construção, encerrou Pasífae, a causa de sua vergonha.

Dédalos pertencia à nobre raça de Cécrops e Erecteus, era um verdadeiro gênio, conhecedor das artes e da ciência. A par das plantas da cidade de Knossos, imaginou construir uma espécie de masmorra ou palácio-labirinto no subsolo do palácio real, cujo porão servia de ventilação. No entanto, se estenderia para além de seus limites, chegando a circundar o bosque que havia aos pés do palácio. Neste bosque, o Minotauro faria o seu covil. Com a ajuda de seu filho, Ícaros, Dédalos iniciou a obra que o tornaria imortal, o maior de todos os arquitetos da História. Usou para aquela grandiosa obra homens que só entravam vendados para que não encontrassem a porta de saída. Ali trabalhavam e, após uma longa jornada, saíam novamente de olhos vendados, guiados pelo próprio Dédalos, o único que conhecia os caminhos daquele palácio tortuoso, que mais parecia o curso do Meandros, o rio da Frígia, que tinha muitos afluentes. Chamou-o “Labirinto”. Foi construído de um modo tão complexo, com tantos aposentos e corredores, era cheio de câmaras, tudo muito confuso, e lá abrigou o Minotauro. Sua intenção era que fosse uma prisão, pois ninguém conseguia encontrar sua saída, nem mesmo o monstro. Só Dédalos, o construtor ateniense daquele palácio, conhecia o segredo. Seus corredores, de tal forma traçados e entrançados, que uma vez entrando neles jamais se poderia sair. Se algum prisioneiro daquele lugar não morresse devorado, conseguindo escapar do monstro, certamente enlouqueceria de angústia por não encontrar a saída. Ademais, quase todos os caminhos levavam ao Minotauro...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:51

Para acalmar o monstro e aplacar seus urros apavorantes, Minos permitiu que ele continuasse com seus repastos sinistros e lhe ofereceu, todos os anos, os mais graciosos adolescentes das cidades cretenses que lhe deviam favores. Nesse labirinto e na bocarra atroz do Minotauro acabavam todos os criminosos de Creta e todos os prisioneiros recolhidos nas guerras. Inclusive, nesse mesmo lugar, ameaçava trancar Pasífae, a progenitora daquela ameaça, e, talvez por causa do ato indigno de sua mulher, mantinha-a viva sofrendo o contínuo escárnio de ser ignorada, já que Minos tornou-se irremediavelmente infiel.

A INFIDELIDADE DE MINOS

E uma das primeiras escapadas extras do rei Minos foi com a ninfa Androgenéa, a “mãe de varões”. Pária, outra ninfa, lhe deu filhos: Eurimédon, Crisos, Nefálion e Filolaus. Também a ninfa Dexitéa, que foi mãe de Euxântios. Mas nenhuma lhe agradou mais que Britomártis, a “doce donzela”, muito bela, e era filha de Zeus e Cármis, a filha de Éubolos. A virgem estava em um lugar destacado do serviço de Ártemis, ocupando-se de seus afazeres; Britomártis havia inventado a arte da rede de caça e brilhava por seu conhecimento e destreza. Talvez por esta capacidade de seguir o rastro e ocultar-se da presa, Britomártis, quando chegou a hora de escapar do insaciável Minos, conseguiu evitá-lo por nove meses, correndo por montes e vales, ocultando-se entre folhas as secas e os arbustos. Mas acabou encurralada às margens de um precipício. A virgem preferiu a morte a cair nas mãos do rei, lançando-se do alto para as profundezas do mar. Mas foi resgatada pela rede de alguns pescadores, que a viram cair na água. Por isso, a deusa Ártemis decidiu premiar a sua firmeza e elevou-a à categoria de deusa, e batizou-a com um novo nome: Dictina, a “filha da rede”, e deu-lhe uma morada no monte Dicte.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:52

Naturalmente, destas aventuras teve conhecimento Pasífae, e não só ela, mas todo o povo sabia, já que o rei não se recatava em esconder, nem se importava em negar sua abundante prole. Por essa razão, a rainha lançou sobre seu descarado marido uma maldição — e conseguia com efeito, já que pertencia à família das feiticeiras da Cólquida. Em lugar de sêmen, Minos ejacularia escorpiões e víboras, e nenhuma mulher (ou varão) se atreveria jamais de fazer amor com ele, pois morreriam pelo adultério. E assim se sucedeu. E Minos, com essa maldição lhe acompanhando, já não sabia o que fazer, pois já era um hábito seu cometer adultério, não contentava-se com uma só mulher, sua própria esposa, a única com que a maldição não funcionava.

Em Atenas, no dia do casamento de Céfalos com a princesa Prócris, semelhante a Sélene, a deusa da lua, todos os atenienses elogiaram-no, declarando-o o mais feliz dos esposos, reinando num cantão, na costa leste, em Tóricos, bem perto da extremidade meridional da península ática. E nas montanhas do interior se estendiam os terrenos de caça dos recém-casados.

Mas esta felicidade não haveria de durar muito tempo. A filha do grande Erictônios, Prócris, “a escolhida acima de todas”, recém-casada com Céfalos, filho de Déion, manteve-se por pouco tempo fiel ao marido, até conhecer Ptéleos, o mesmo que havia fundado a cidade de Ptélea, na Ática, e o tomou por amante. Ele, seduzindo-a, deu-lhe de presente uma bela fita de ouro, que ela passou a usar para prender os cabelos. E Céfalos (de kephale, “cabeça”), tentando descobrir a origem daquele presente que usava, ao saber da infidelidade da esposa, surpreendendo-a nos braços do amante, repudiou-a publicamente e fê-la tomar a decisão de abandonar Atenas e, no anonimato, ir para junto de Minos, o rei de Creta, que também tentou seduzi-la. Mas ela só aceitou a ele entregar-se em troca de um presente: o cão Laelaps, mais veloz que o vento, uma dádiva da deusa Ártemis.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:53

Como Minos estava amaldiçoado por obra de sua ciumenta esposa Pasífae, pois suas amantes morriam ao entregar-se a ele, Prócris concedeu-lhe um antídoto, uma erva que obtivera outrora da feiticeira Circe, irmã de Pasífae. Em troca, Minos deu-lhe ainda um segundo presente: um dardo que jamais errava o alvo. Prócris curou-o e a ele se entregou.

A jovem, no entanto, temendo o ciúme violento e a vingança de Pasífae, que era uma feiticeira, voltou para Atenas, sob a forma de um rapaz. Assim disfarçada, Prócris levou ao ex-marido os presentes mágicos do rei Minos, pensando que assim haveria de se reconciliar com ele. Céfalos os cobiçou e quis comprá-los.

— Não quero tua prata nem teu ouro, porém tanto o dardo como o cão serão teus se jurares que nunca amaste sua esposa infiel; que a esquecerás e me amarás.

Céfalos, diante daquele ato efeminado, relutou, mas acabou afeiçoando-se pelo rapaz, que então lhe revelou a verdadeira identidade.

— Céfalos, somos ambos culpados tanto um como o outro. Esqueçamos o passado, renovemos nossos juramentos de amor, e amemo-nos de novo.

Céfalos não cabia em si de contente em ter de novo em seus braços sua linda esposa. Os dois se reconciliaram, pois cada qual tinha o que perdoar ao outro. Viveram em completa felicidade durante algum tempo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:53

EGEUS E AETRA

Havia um príncipe chamado Catreus, filho do rei Minos e da rainha Pasífae. Não era o primogênito, mas era muito respeitado no país, o que gozava de ser príncipe-herdeiro. Porém, o Destino lhe reservava uma vida nada tranquila: um Oráculo o advertira que um de seus filhos o mataria. Catreus, nessa época, tinha quatro filhos: as donzelas Aérope, Clímene e Apemósine, e um varão, Altêmenes. Apemósine e Altêmenes, com medo de morrer pelas mãos do próprio pai, fugiram do país e foram morar em Rodes, aonde fundariam a cidade de Cretênia. Já Clímene e Aérope, estas foram entregues ao navegador Náuplios para que as vendesse como escravas a estrangeiros que pelos seus domínios passassem. Porém, Náuplios haveria de se apaixonar por Clímene e com ela se casaria; e Aérope, por isso, seria levada para Árgos, aonde desposaria um homem chamado Plístenes, filho de Pélops.

Rebelavam-se os descendentes de Pandíon contra o poderio ateniense dos filhos de Metíon para a recuperação do trono. Os megarenses venceram a batalha e, com a morte de Metíon, os vencedores começavam a instalar-se nos territórios conquistados. Então, restando apenas Pálas e Egeus (Aigeus) na pretensão direta ao trono, iniciaram uma disputa acirrada pelo mesmo. E, enquanto as desavenças prosseguiam, Egeus retirou-se de Atenas disposto a retornar assim que recebesse um sinal de aprovação divina.

Abdicou Pandíon do trono de Mégara em favor de seu filho Nisos, que ocupou o seu lugar no trono junto com Megareus, filho de Poseidon e Énope. A este último coube uma parte de Mégara, enquanto que Nisos fortificava a outra metade da cidade e a chamava Nisa.

Egeus casou-se com Meta, filha de Hoples. Ela não lhe deu filhos.

Egeus esteve de passagem pelo reino dos feácios, do soberano Alcínous. Casou-se com uma de suas filhas, Calcíope, e pretendeu ter com ela filhos que não teve no seu primeiro casamento. Mas Calcíope não lhe atendeu, e Egeus, quando menos todos esperavam, abandonou-a e decidiu seguir viagem.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:54

Egeus não entendia porque não conseguia ter filhos. Talvez fosse problema seu, ou então uma maldição de algum inimigo ou ainda por vontade divina. Por isso, para ter certeza, foi a Delfos para consultar o Oráculo no santuário do deus Apolo. E um peregrino chamado Piteus, filho do grande rei Pélops, que era soberano de Troézen, também ali se encontrava. E chamou-lhe a atenção o que a Pítia anunciava àquele homem aflito que mais parecia um rei:

— Não te apartes do odre de vinho enquanto não chegares a Atena.

A Pítia, como sempre, referia-se com palavras enigmáticas, que Egeus mal entendeu. Mas Piteus, que ali estava, conseguiu interpretar as palavras sagradas de Apolo saídas pela boca da Pítia. Viu nele a real oportunidade de sua filha única ter um filho e seu sucessor no trono. Afinal, foi para isso que havia ido consultar o Oráculo de Delfos. E apressou-se a convidar o forasteiro a hospedar-se em sua casa, na comarca de Troézen, na Argólida.

Certamente, se Egeus seguisse direto para Atenas, teria gerado o filho que tanto desejava, mas não aquele que os Fados esperavam.

Piteus, filhode Pélops e Hipodâmia, interpretou a mensagem do Oráculo de maneira acertada e, com certo tato, propôs a Egeus que se deitasse com sua filha, Aetra, e lhe desse descendentes. Egeus, tendo visto a princesa pela primeira vez, no Templo de Atena, se apaixonou, mas sentiu-se inseguro, pois temia que não pudesse, pela terceira vez, ter filhos e, ademais, já tinha uma esposa. Mas o rei Piteus compreendeu que deveria ajudá-lo, e logo, se quisesse aproveitar, através daquele nobre príncipe, a possibilidade de uma continuidade para o seu reino na pessoa dos seus possíveis herdeiros. Para tanto, insistiu que Egeus ficasse mais uma noite em sua cidade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:55

No segundo dia da estadia de Egeus na bela Troézen, numa preparada noite de festa, Piteus mandou que servissem seus servos muita bebida ao seu hóspede, até embriagá-lo. Tudo fazia para uni-lo à sua filha Aetra, que, já cansada, retirou-se para seus aposentos. Entregou-se logo ao Sono, e teve um sonho em que recebia uma ordem de Palas-Atena, dizendo-lhe que fosse à ilhota de Esféria, “em forma de bola”, em frente de Troézen, a fim de oferecer a Ésferos um sacrifício. Esféria estava tão próxima de Troézen que podia chegar-se até ali a pé, sem precisar nadar. Ésferos era o fantasma de Mírtilos, o cocheiro que traiu Enômaus em favor de Pélops, e, segundo diziam, seu túmulo estava nessa ilhota.

Despertando, de súbito, vestiu seu traje e saiu sorrateiramente da casa de seu pai e da cidade, e foi para a pequena ilha, em bem pouco tempo, e ali, encontrou-se com o deus Poseidon, que a possuiu divinamente, e não levou muito e estava de volta nos seus aposentos. E, ainda muito confusa com o que lhe acontecera, despiu-se e deitou-se no leito.

Egeus, então, tomado pelo vinho e guiado por um fiel servo do rei, foi ter com a princesa, mas estava excessivamente bêbado e sem coragem, e mal conseguia chegar aos aposentos da princesa. Egeus parou, ferido pela flecha da insegurança, e o próprio deus Poseidon, vendo que mais uma vez Egeus falhava, e fazendo prevalecer o Oráculo, não adiando mais, pois poderia ser fatal a Egeus, deu-lhe força e coragem, e então entrou no quarto.

Ao amanhecer, Egeus mal conseguia lembrar do que fizera durante a noite, enquanto que Piteus tinha certeza de que Egeus se deitara com sua filha. O certo é que Aetra, comparando os beijos quentes e salgados de Poseidon e o bafo de vinho de Egeus, teve náuseas durante o resto da noite.

E após passar alguns dias agradáveis com Aetra, em Troézen, Egeus lhe disse:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:56

— Pena que terei que partir logo, querida. Caso tu tenhas um filho meu, será mais garantido dizeres que o pai da criança é o deus Poseidon. Meu sobrinho mais velho, filho de meu irmão Pálas, poderia tirar a vida dele se soubesse do nosso casamento, pois ele almeja ser o próximo rei de Atenas, depois que eu assumir o trono e abdicar, ou até morrer. Por isso, eu devo partir e reunir-me com meus irmãos. Atenas me espera.

Aetra, temendo que isso significaria perder Egeus para sempre, e temendo pela vida do filho que certamente carregava, convenceu Egeus de adiar sua viagem a Atenas e se casou secretamente com ele. Afinal, estava cansada de esperar por Hipónoos (vulgo Belerofonte), com quem iria se casar, pois se encontrava exilado na longínqua Lícia, e já há muito tempo desde que havia partido.

Chegando o dia da partida, Egeus foi agradecer a hospitalidade ao rei daquela terra, seu sogro, e prometeu-lhe voltar, depois que assumisse Atenas, a fim de buscar Aetra e seu filho. Não era exatamente isto que Piteus esperava, pois pretendia que Aetra ficasse em Troézen e pusesse no trono seu descendente. Por isso, começou a preparar o caminho da persuasão.

Porém, antes de partir, Egeus ergueu uma grande pedra e pôs debaixo dela um cofre contendo preciosidades destinadas ao filho que teria. E fez um pedido a Aetra:

— Precisas ficar na casa de teu pai, e, quando eu o julgar conveniente, virei buscar-te para seres minha rainha, sem nenhum risco. Permite que nosso filho me visite em Atenas, mas só quando estiver crescido e puder levantar a pedra e apossar-se do presente que lhe destinei.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:56

Depois foi para Atenas, a fim de assumir o trono que os deuses lhe destinaram, que havia pertencido a seu pai, e venceu eloquentemente o irmão Pálas, que teve que abandonar Atenas. E Egeus jamais tornaria a ver Aetra, sua mulher. Ela foi com seu pai para o portozinho de Celêndris, perto dali, que ficava no sopé de uma áspera montanha, aonde ficariam até que o Destino escolhesse o que fazer de suas vidas. Piteus procurava manter o menino um pouco afastado de Troézen e da pedra deixada por Egeus. Em seguida, ordenou a seus servos ocultar o lugar onde a pedra se encontrava, já que ninguém conseguia mesmo removê-la.

Egeus era inteiramente dedicado à tarefa de governar, de comandar os seus exércitos nas guerras, para enfrentar seus inimigos e os dragões que infestavam a Hélade. E, como primeira obra pública, Egeus, o novo rei, se propôs introduzir o culto à deusa do amor, Afrodite, em toda a região da Ática. Sua intenção era agradecer à deusa por ter-lhe dado a oportunidade de ter um filho, pela iniciativa do rei Piteus, e por ter acendido nele e Aetra a chama do Amor.

Quanto à ilha de Esféria, que serviu de abrigo aos amores de Poseidon e Aetra, passou a ser dedicada a Atena-Apatúria, devido aos seus artifícios, apate, e seu nome passou a ser Híera, “a sagrada”. E as virgens de Troézen, a partir de então, acostumaram-se a oferecer seus cintos no seu templo antes do casamento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:57

Finalmente, após alguns meses, Aetra dava à luz um filho, que seria tanto de Egeus como de Poseidon. Teseus, que assim foi chamado, nasceu no pequeno porto de Celêndris, bem próximo a cidade de Troézen, sob os cuidados do avô Piteus. Mas o nome da criança não deveria ser revelado, e Piteus espalhou a notícia de que o menino era filho de Poseidon. Isso porque os moradores da região tinham uma reverência especial por esse deus, honrando-o como protetor de sua cidade e oferecendo-lhe as suas primícias. O tridente do deus era o símbolo de Troézen. Por isso não causou nenhum espanto que aquele deus tão honrado tivesse concedido à filha do rei a honra de ter um filho seu. Mas não sabia Egeus que o menino, na verdade, era igualmente filho seu.

E, devido ao nascimento do menino, o porto ficou sendo conhecido pelo nome de Genetíon, “lugar do nascimento”.

OS PRIMEIROS ANOS DE TESEUS

Aetra tinha o filho Teseus como encanto e desespero. Encanto, porque era belo, obediente e corajoso. E desespero, porque não ignorava qual o destino de Teseus, seu filho. Piteus, rei de Troézen, pai de Aetra, sabendo que o menino já tinha o seu destino marcado, resolveu adotá-lo e fazê-lo seu sucessor. Mas o destino do menino era ser um grande herói. A sabedoria do avô e a bravura do pai brilhavam em seus olhos azuis. Alguns diziam que a revelação viera de algumas Pitonisas que Aetra consultara, por ocasião do nascimento de seu filho. Já outros diziam que era simplesmente pela intuição do amor materno. Mas a verdade é que Aetra conhecia e temia o futuro que esperava seu filho.

— Ele nunca terá paz, quando chegar o seu dia.

Aetra nunca sorria, a não ser quando olhava para seu filho.

Triste, ela subia à montanha que dominava Troézen e dirigia-se ao Templo de Poseidon, onde se sentava durante o dia inteiro, contemplando através da baía, acima de Metana, os cumes cor de púrpura de Égina, cingidos pelas praias áticas circundantes.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:58

Não bastavam os ensinamentos de Aetra e Piteus. Teseus exercitava seus dotes musicais e passava o tempo com exercícios físicos. Era preciso enviar Teseus a Quíron por algum tempo.

Teseus permaneceu com o centauro Quíron no espaço de um ano. Aprendera muitas coisas na escola do velho e sábio mestre do Pélion. Aprendera tudo o quanto precisasse saber sobre as virtudes e as ciências. Foi que lá Teseus aprendeu a ser valente, nobre e perspicaz. Aprendeu a manejar as armas e a lutar, a domar cavalos e touros. O centauro Quíron ensinou-lhe tudo para que se estivesse preparado para enfrentar o Destino. Ensinou-lhe todo o essencial, mas a sua formação de caráter familiar era mais do que importante, por isso, precisava voltar para a sua mãe.

Teseus foi enviado para Troézen, aonde continuaria a juventude em família, junto de seu avô e sua mãe.

Héracles, o filho de Zeus e Alcmena, encontrando-se na região de Árgos, depois de dar fim ao leão do monte Citéron, decidiu dar uma passadinha em Troézen, na casa de seu amigo Piteus, filho de Pélops. Foi lá que conheceu um garoto de sete anos de idade chamado Teseus, neto de Piteus e filho de Aetra. Junto com seus amiguinhos, o pequeno Teseus correu a espiar e matar a curiosidade: quem seria aquele homem forte que visitava a casa de seu avô.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:58

Héracles, antes de sentar-se à mesa, largou a pele de leão, seu troféu, e atirou-a num canto da sala, bem perto da porta onde estavam as crianças. De repente, viram a pele de leão a sua frente e fugiram horrorizadas; só Teseus não correu para os braços da mãe, em vez disso, correu para a cozinha e tomou um machado de um criado e caiu furiosamente sobre a suposta fera. E fê-lo em pedaços. Héracles impediu-o tarde demais; seu troféu já era. Nada podia fazer. Mas orgulhou-se do menino, reconhecendo nele um futuro herói, um homem corajoso. Gostou muito dele e resolveu tomá-lo por discípulo e, então, ensiná-lo a lutar. Desde essa visita Teseus sonhava por realizar algo semelhante às proezas de Héracles. Além do mais, ambos eram parentes consanguíneos, já que suas mães eram filhas de irmãos. E, desse dia em diante, Teseus passou a vê-lo de vez em quando, em Tebas ou na casa de seu avô Piteus.

Egeus governava em Atenas quando uma feiticeira chamada Medéia, filha do rei Eétes e da oceânida Ídia, vinda das terras longínquas do Cáucaso, pedia asilo em seu palácio. Se lhe desse proteção, em troca, lhe daria descendentes. Porém, Egeus, ainda se lembrava de Aetra, e pensava muito ir buscá-la em Troézen. Imaginava como seria e como estaria seu filho, e nem mesmo seu nome sabia. Estava muito pensativo, nada lhe tirava a ideia de não casar-se com outra mulher.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:59

Mas Medéia, pretendendo ser soberana na casa do rei, apelou para os recursos mágicos, enfeitiçou-o e fê-lo a ela se unir para que fosse aceita. E só conseguiu dessa forma, como era costume em sua família, na Cólquida. Afinal, a própria deusa Hécate foi sua professora. Suas tias, Circe e Pasífae, eram igualmente feiticeiras. E dessa união haveria de ter um filho e se chamaria Medos, do nome de sua mãe. E, para que nada ou alguém viesse atrapalhar seus planos, resolveu aliar-se aos filhos de Pálas, o irmão de Egeus, prometendo-lhes êxito e um lugar no trono de Atenas. O que foi atendida, e os cinqüenta filhos de Pálas, os Palântidas, passaram a ser os fiéis guardas do palácio.

Enquanto isso, em Tebas, acontecia que, numa tarde, enquanto observava seus filhos — garotinhos de mais de dez anos — que estavam brincando, Héracles se encontrava a oferecer aos deuses um sacrifício. Graças a um encantamento de Héra, lhe jogou um pó nos olhos, enviando-lhe alucinações, e Lissa, “a insanidade”, e Mania (ou Trela), “a loucura”, apossaram-se dele. Começou a mudar suas feições, soltando espuma dos lábios. E começou a exclamar furiosamente:

— Onde está o meu arco? Onde está a minha maça? Vou a Micenas. Armai-vos de alavancas e machados para demolir as muralhas construídas pelos Cíclopes!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 14:59

E, imaginando andar de carro, começou a correr, chicoteando o ar como se estivesse fazendo aos cavalos, segurando as rédeas. E avançou contra Íolas, que por pouco não o matou. O desventurado percorreu assim o palácio inteiro, demente, e, julgou ver os filhos se transformarem em perigosíssimos Gigantes com pernas terminadas em serpentes. Matou dois, Antímacos e Deícon, que inutilmente lhe imploravam piedade. Atirou-os ao fogo. A mãe, Mégare, arrastou seu outro filho, Democóon, para o fundo do palácio e fechou a porta. Em seguida, extremamente furioso e enlouquecido, derrubou o altar dos sacrifícios e quase fez o mesmo ao palácio inteiro. Héracles, adentrando-se em direção ao quarto aonde estava Mégare e Democóon, julgou-se em frente dos muros dos Cíclopes; abateu a porta e atingiu com uma flecha o próprio filho. Mégare, ao tentar atirar-se aos pés de Héracles, tropeçou e bateu a cabeça. Por isso, salvou-se da Morte. Héracles, julgando ter acabado com os monstros, continuou a busca e acabou matando também os filhos de Íficles e Pirra, sobrando apenas o jovem Íolas, o filho de Automedusa.

Por muito pouco Héracles não teria aniquilado sua própria família e seus amigos não fosse a intervenção de Atena, pois ele ameaçava ainda invadir o próprio Olimpo, que julgava ser o antro do maior dos Gigantes. E Atena, do alto do Olimpo, para acordá-lo daquele transe maldito, lançou contra seu peito uma grande pedra, lithos sophronister, a “pedra da sobriedade”, no momento em que Héracles levantava a maça contra Créon, seu sogro, e desabou no chão.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 27/3/2021, 15:02

Antíciros, chamado às pressas, curou-o de seu furor por meio de uma planta chamada heléboro. E, mal recobrou a consciência, Héracles viu toda a enormidade do crime cometido. O rei Créon mandou-o embora e proibiu-o de sequer voltar a olhar para Mégare, que Héracles descobriu estar viva.

Voltando a si, horrorizou-se com o que havia praticado.

— Zeus, meu pai, o que fiz? Por acaso sou o assassino daqueles que me são mais queridos?!

Rapidamente Atena voou do Olimpo e foi isentar-lhe a culpa, mas era imperdoável. E ela, tomando a forma de Anfitríon, seu pai que já havia atingido o Mundo das Sombras, tentou amenizar seu coração:

— Sim... mas estavas fora de ti.

— Matei meus próprios filhos! E minha mulher? Onde está minha mulher?

E, ao vê-la estendida no chão, entrou em desespero e começou a arrancar os cabelos e bater no peito com força, cujo estrondo ecoava por toda a sua casa. Ficou tão desesperado que quase morreu de tanto chorar.

— Devo então poupar a minha vida?! Vou vingar-me destas mortes em mim mesmo!

Héracles, em desespero, antes de se precipitar no suicídio, precisamente quando ia para o perpetrar, o seu propósito foi alterado e a vida salva. Esse milagre, que de repente trouxe a Héracles o esquecimento dos seus sentimentos enfrenesiados e violentos e a recuperação da razão sóbria e a aceitação resignada, não foi operado por um deus descido do Céu, como Atena; mas foi fruto da amizade humana. Tinha a seu lado um rapazinho que lhe admirava acima de todos: Teseus. Este lhe agarrou as mãos manchadas de sangue, tomando para si a profanação e partilhando com ele a sua culpa.

— Não interfiras, Héracles! Não impeças que eu partilhe contigo todo o mal, pois, nessas circunstâncias, não o sinto desta forma. E atenta bem no que te digo: os homens de alma nobre como tu sabem suportar sem vacilar os golpes desferidos do Céu!

— Mas viste o que fiz, menino?

— Sim, vi! Sei que as tuas penas não têm fim, que poderiam perfeitamente preencher o espaço entre o Céu e a Terra.
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