Mestres do Conhecimento
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.

A Saga de Enéias

2 participantes

Página 1 de 9 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9  Seguinte

Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:38

UM POUCO DE VIRGÍLIO

Roma tinha atingido seu máximo esplendor, sob o governo de Otávio Augusto. Seus domínios estendiam-se para além das montanhas e dos mares. O exército era poderoso e invencível. Leis equânimes presidiam todos os povos. As letras e as artes desenvolviam-se sob a proteção do imperador e do seu ministro e conselheiro Mecenas. Neste grande ambiente de paz e prosperidade, viveu Publius Virgilius Maro (70 a 19 a.C.), o maior poeta romano, que em seu poema “A Eneida”, cantou as glórias da cidade eterna e do imperador do mundo e narrou as aventuras e as façanhas de Enéias, o herói troiano, fundador mitológico da raça romana. Era natural da região de Mântua (70-19 a.C.) e filho de uma família de camponeses. Alcançou pelo casamento uma situação estável, podendo então ouvir, em Milão e Roma, as lições de filósofos epicuristas. Amigo de Horácio, como ele protegido por Mecenas, entrou em contato com o imperador, de quem recebeu o incentivo para escrever a Eneida.

Admirador da cultura helênica, empreendeu uma viagem à Grécia, berço e viveiro da cultura, sonho que há muito acalentava: o destino concedeu-lhe a realização desse anseio, mas morreu no regresso, junto de Brindisi. O seu túmulo encontra-se hoje em Nápoles.

A obra de Virgílio compreende, além de poemas menores, compostos na juventude, as Bucólicas ou Éclogas, em número de dez, em que reflete a influência do gênero pastoril criado por Teócrito.

As Geórgicas, dedicadas ao seu protetor Mecenas, constam de quatro livros, tratando da agricultura. Trata-se de uma obra de implicações políticas indiretas, embora bem definidas: ao fazer a apologia da vida do campo, o poeta serviu o ideal político-social da dignificação da classe rural. Refletia a influência de Hesíodo e Lucrécio. Literariamente, as Geórgicas são consideradas a sua obra mais perfeita.

E, finalmente, a Eneida, aqui apresentada com mais detalhes, com preliminares e complementos.

A FUGA DE DIDO

Múton, filho de Pigmálion e Galatéia, ocupou o trono de Tiro, na Fenícia, e foi também chamado pelo nome de Belos, confundido com o terrível deus Baal dos fenícios e Bel dos sírios. Múton teve os filhos Pigmálion (como o avô), Alashia, Ana e Barca.

Alashia (Elissa) era uma princesa, filha de Belos, soberano de Tiro, na terra dos fenícios. Muito moça desposara Sicarbas (Siqueus), sacerdote do deus-marinho Melkart (identificado com o semi-deus Héracles). Sicarbas, seu tio materno, era homem de grandes posses e de muito prestígio. Entretanto, já havia-se desenrolado a guerra dos gregos em Tróia, o rei Belos recebera em seu reino o herói salamínio Teucros, que havia sido expulso de sua terra. E Belos foi levado do mundo dos vivos, ascendendo ao trono seu filho Pigmálion. Era este um príncipe cruel e avaro. Era tanta a sua ganância, que secretamente assassinou Sicarbas, seu cunhado, enquanto sacrificava a Melkart, e apossou-se de seus tesouros.

Pigmálion conseguiu por longo tempo manter encoberto o seu crime,e inventando mil pretextos, burlou com vãs esperanças a triste Alashia. Mas esta, advertida em sonhos pelo marido, que lhe apareceu com o peito nu mostrando a lâmina traspassada, revelando o crime, tomou uma decisão e, com a ajuda de alguns fiéis amigos, apoderou-se de vários navios que estavam ancorados no porto e neles recebeu todos aqueles que já estavam cansados da odiosa tirania de Pigmálion. Às ocultas, em companhia de seus irmãos Ana e Barca, transportou para os navios as riquezas que conseguiu apanhar, que estavam enterradas, tanto as de Sicarbas como as de Pigmálion, e se fez ao largo.

Depois de longo tempo, enfrentando os perigos naturais do grande mar que se estendia pela frente, desde a costa da Fenícia às águas ao sul de Creta, Alashia — conhecida agora pelo nome de Dido, “a errante”— , com sua frota, abordou a costa africana, onde encontrou terra firme e iniciou a construção de uma nova cidade: Cartago.

A FUGA DE ENÉIAS

Muitas batalhas se travaram na planície dos teucros entre gregos e troianos. Ambos os lados colheram vitórias e amargaram derrotas. Certa vez, os troianos quase chegaram a incendiar as naus inimigas; perderam, porém, muitos valentes, como o nobre Heitor, herdeiro do trono de Tróia, morto por Aquiles, o melhor dos gregos. Também Aquiles tinha sido ferido no calcanhar, o único ponto vulnerável de seu corpo, graças à flecha infalível de Apolo e do oportunismo de Páris, que também morreu, ferido pela flecha envenenada de Filoctetes, e vários príncipes, aliados de Tróia, também caíram. Os dois exércitos estavam extenuados e abatidos por aquela interminável guerra, que já durava dez longos anos.

Os gregos sitiaram Tróia durante dez longos anos, mas não lograram tomar a cidade, cujas muralhas pareciam invulneráveis. Porém, um dia, levantaram o cerco inútil e reembarcaram em seus navios, rumo ao mar. Tróia e seu povo exultaram de alegria. Abriram-se as portas da cidadela e saíram todos, salvo os enfermos e os anciãos. mais prudentes. Foram até ao abandonado acampamento grego e lá depararam com um grande cavalo de madeira, cuja finalidade ninguém era capaz de adivinhar. Alguns achavam boa ideia levá-lo para a cidade como troféu de guerra, ao passo que outros preferiam queimá-lo ou lançá-lo ao mar. Entre esses sobressaía Laocóon, da nobre família de Tróia, um sacerdote de Poseidon. Ele tentou convencer os nobres que se tratava de um plano dos gregos, até que encontraram um homem grego escondido sob o cavalo de madeira. Foi obrigado a revelar o que havia-se sucedido aos gregos e a origem daquele cavalo.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:39

A história parecia ser convincente, mas os argumentos e as previsões de Laocóon eram reveladoras, mas não foi ouvido, graças à intervenção dos deuses, que enviaram serpentes-marinhas para silenciá-lo para sempre. Tal cena foi feita motivo mais do que convincente para os troianos acreditarem que o cavalo de madeira era apenas uma oferenda aos deuses, e resolveram poupar a vida do espião grego e levar o “presente dos gregos” para dentro das muralhas de Tróia.

Em vista das suas dimensões colossais, os troianos tiveram que abrir uma enorme brecha no muro, por onde puxaram o cavalo com o auxílio de homens e animais. Quatro vezes o cavalo ameaçou desabar e quatro vezes ouviu-se um leve e abafado tinir de armas. Mas estavam cegos e surdos. Até a Pítia Cassandra, filha do rei Príamos, ergueu a voz e vaticinou grandes desgraças, mas o povo jamais acreditava em suas palavras e não ouviu suas advertências; entoou cânticos festivos, e à noite, concluída a difícil tarefa de levá-lo à cidadela, enfeitou os templos e realizou pomposa solenidade em homenagem aos deuses.

Sínon, o grego que havia convencido os troianos a conduzirem o cavalo de madeira à cidade de Tróia, excelente ator, astuto filho do famoso Sísifos, havia conseguido enganá-los. Os gregos, na realidade, não haviam ido embora: sua esquadra tinha navegado até a pequena ilha de Tênedos, onde se ocultou durante o dia e ao anoitecer regressou à costa dos teucros. Os troianos, que tinham comido e bebido à farta durante a festa da vitória, dormiam o sono solto quando o exército inimigo tornou a desembarcar nas praias desertas. E, conforme combinado, Sínon sorrateiramente deslizou até a praça onde os troianos tinham deixado o cavalo, e deu o sinal para que um exército de cem guerreiros gregos saísse do seu bojo e começasse uma carnificina entre os troianos bêbados e adormecidos.

E, em curto espaço de tempo, Sínon abria as portas de Tróia para toda a hoste grega entrar na cidade de armas em punho. E numerosos incêndios irromperam em todos os bairros da cidade invadida. Os troianos, apanhados de surpresa, não tiveram tempo de organizar uma resistência ordenada e foram rapidamente dizimados pelo inimigo.

Entre os troianos que resistiram ao ataque surpreendente dos gregos estava Enéias, o príncipe dos dárdanos, que, avisado por Heitor, em sonhos, foi incentivado a fugir da cidade em chamas e do país. Entretanto, o amor à Pátria falou mais alto, e, reunindo seus guerreiros, tentou dificultar a investida acaia, procurando defender o palácio do rei Príamos. Foi quando Enéias avistou Helena, a principal causa de toda aquela guerra, e decidiu matá-la, mas foi impedido por sua mãe Afrodite, que o convenceu a abandonar a desgraça e ir de encontro a uma nova vida longe daquele país.

Apressadamente, o príncipe correu para sua casa e tomou sua família e os penates de sua adoração, deu liberdade aos seus servos e tomou um caminho obscuro e incerto em direção das portas da cidade. Tentando evitar o tumulto da carnificina, teve que levar o pai, a esposa e o filho por ruas desconhecidas e escuras, por becos e labirintos nunca antes atravessados por alguém da realeza. Foi neste tortuoso caminho que perdeu a esposa Creúsa, que desapareceu misteriosamente. Levou o pai Anquises e o filho Ascânios para o santuário de Deméter, que ficava fora dos muros de Tróia, e voltou a procurar a esposa perdida, e só encontrou uma alma perdida — era Creúsa, que se preparava para seguir sua longa viagem ao Mundo dos Mortos. Ela, antes de partir, deu os últimos conselhos ao marido, que ele fosse para o Ocidente, para além da Hélade, e fundasse, na Hespéria, um novo reino, que daria início ao surgimento de um grande poderio: o Império Romano.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:39

ENÉIAS NA TRÁCIA

Os gregos transformaram a bela cidade de Tróia num monte de escombros fumegantes e, quando finalmente, partiram, levaram consigo grande número de prisioneiros. Muitos troianos, todavia, tinham conseguido escapar, indo ocultar-se nas montanhas, assim como Enéias, seu pai Anquises e seu filho Ascânios. No santuário de Deméter, agrupava-se um grande número de pessoas, como um exército, entre homens, mulheres, velhos e crianças. Ao saírem dos esconderijos, resolveram, reunidos, abandonar para sempre aquela terra devastada, onde não se sentiam mais seguros. Decididos a realizar seu intento, no mais curto prazo possível, amanhecia quando partiram para o porto de Antandros, onde puseram-se a cortar os pinheiros que cresciam nas encostas do monte Ida, a fim de construir uma frota de vinte navios. Maior do que o temor dos riscos de uma travessia marítima era o desejo de encontrar uma nova pátria, aonde pusessem viver em paz. E, com esse intuito, com afinco puseram mãos à obra.

Réia, a mãe dos deuses, olhando para o lado do trabalho dos troianos, achegou-se a Zeus, seu filho, dizendo-lhe:

— Filho, Enéias constrói navios com a madeira dos pinheiros que crescem nas encostas do meu monte. Estou muito contente com isso. Eu mesma lhe dei os pinheiros, mas não me agrada pensar que, sendo meus, possam ser destroçados pelos Ventos e vagalhões ao cruzar o Arquipélago. Por isso, ouve a minha súplica em favor do lenho crescido no Ida, e torna os navios indestrutíveis.

— Mãe, o que me pedes é impossível. Navios são obras mortais e estão sujeitos aos riscos dos Ventos e dos mares. Uma promessa, entretanto, te faço: as naus que lograrem alcançar a Itália jamais serão destruídas, pois eu as transformarei em Ninfas, como as filhas de Nereus.

Assim disse e prometeu Zeus, que mais nada poderia fazer contra os troianos, já que não deveria desapontar a seu irmão, o deus Poseidon. Deixaria Enéias e os seus destinados ao Acaso.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:40

Finalmente, quando chegou a primavera, os navios estavam construídos, todos os vinte. O mais velho dos troianos, Anquises, deu o sinal de partida, sendo o primeiro em proferir o adeus eterno à Pátria aniquilada. Ressoaram pelos barcos gemidos de desespero. Sob o comando de Enéias, após oferecerem sacrifícios aos deuses, iniciaram a viagem, cujo Destino ignoravam. Muitas lágrimas deslizaram pelas faces das mulheres e das crianças, e até dos homens mais endurecidos e orgulhosos, quando a costa troiana foi-se adelgaçando e esvaecendo à distância, avistando-se apenas, ao longe, uma enorme coluna de fumaça.

Pouco tempo depois, após alguns dias, chegavam à Trácia, país em que, noutros tempos, reinara o rei Licurgos, ímpio ofensor de Dionisos. Os atuais habitantes, no entanto, mantiveram relações amistosas com Tróia, e igualdade de culto, enquanto existira a cidade dos troianos. Nada obstante, tinham sofrido as suas relações um rude golpe, pois quando a sorte de Ílion começou a declinar e o grande Ájax empreendera uma expedição marítima de pilhagem contra os trácios, o perjuro rei Polimnéstor comprara a paz mediante a entrega, aos gregos, do filho do soberano de Tróia, Polidoros. Pouco depois, morrera o jovem apedrejado sob os muros de Tróia pelos assediantes, à vista do pai.

A princípio, desconheciam em que costa haviam tocado os seus barcos, e lhes pareceu a terra desejada, ainda que soubessem que deveriam atravessar muitos mares ao seu real objetivo. Desceram em terra, e, sem que os molestassem os habitantes, puderam os recém-chegados fixar-se ali. E, na planície trácia, Enéias lançou os alicerces das muralhas de uma nova cidade, a que pretendia dar o nome de Enéada.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:41

Iniciada a construção, desejou o piedoso herói rogar para o trabalho a proteção dos Imortais; para tanto, sacrificou a Zeus, pai dos deuses, e à sua própria mãe Afrodite, um touro, na praia. Erguia-se nas vizinhanças arejada colina, na qual cresciam mirtos e sanguinheiros. Rumara Enéias para o bosquezinho em busca de folhagem e ramos para cobrir os altares de relva levantados pouco antes, e viu-se obrigado a assistir a pavoroso prodígio. Quando arrancava um arbusto, começaram a correr da raiz negras gotas de sangue que deslizavam pelo verde chão do bosque. Aquilo gelou nas veias o sangue do herói. Angustiado, deitou-se por terra e rogou às Ninfas e a Dionisos, deus protetor dos campos trácios, que o livrassem dos terrores pressagiados naquele milagre. Em seguida, com renovada energia, agarrou outro arbusto e, fincando o joelho no chão, quis arrancá-lo; mas da terra saiu um gemido; finalmente, uma voz muito triste lhe disse:

— Por que me torturas, infeliz Enéias? Minha alma vive neste chão, nas raízes e nos ramos do bosque, onde brinquei, quando era criança. Sou teu irmão de raça, teu parente, sou Polidoros, filho de Príamos, que, vendido aos gregos pelo tutor, foi sacrificado diante dos teus olhos, sob os muros de Tróia. Alguns trácios piedosos me recolheram os ossos e aqui os sepultaram. Não firas o meu abrigo; pelo contrário, abandona esta costa, perigosa para ti e para os troianos, pois nela reina ainda a estirpe do traidor.

Era Polidoros, filho de Príamos, que anos antes fora enviado pelo pai ao rei da Trácia, Polimnéstor, com grande parte do ouro do palácio, a fim de que este tesouro não caísse nas mãos dos gregos, no caso de uma inesperada derrota. O corpo de Polidoros deslizara pelas ondas de um lado para outro, visto por gregos e troianos, em ambos os lados do Helesponto, em busca de merecida sepultura.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:41

Enéias compreendeu que o cobiçoso rei trácio, como então se via, em vez de dispensar a Polidoros boa acolhida, fizera assassiná-lo para apoderar-se da fortuna. E Enéias, após refazer-se do primeiro espanto, voltou para os seus e comunicou-lhes o sucedido, em primeiro lugar ao pai e, em seguida, aos chefes do povo errante. Todos se mostraram de acordo em abandonar os lugares malditos, onde fora profanado o direito de hospitalidade. Suspenderam-se os trabalhos, e desgostosos com aquele fato, desistiram de fazer da Trácia sua nova pátria e, finalmente, tendo dado a Polidoros uma sepultura digna, com todas as honras, retornaram aos navios e novamente se fizeram ao mar.

NO SANTUÁRIO DE APOLO

A frota de Enéias passou pelo litoral da Macedônia, aportou na Samotrácia e, logo, seguiu para o sul, margeando a Hélade e atravessando as inúmeras ilhas do Egeus. Passados alguns dias, desembarcaram na ilha de Delos, que outrora era uma ilha flutuante, na qual nasceram Apolo e Ártemis. Os que ali passaram a habitar, cheios de gratidão, consagraram-na ao deus; era gente bondosa e hospitaleira. Ali reinava Ânios, um sacerdote de Apolo, um dos deuses mais venerados pelos troianos. Correu-lhe ao encontro, quando a frota entrou no porto, com a testa cingida pelos sagrados diademas de lã e levando na mão um ramo de loureiro. No velho Anquises, reconheceu um antigo companheiro. Enéias e os seus foram acolhidos com saudações e apertos de mão, dentro do recinto rodeado por forte muralha, e o seu primeiro ato foi rumar em peregrinação ao antiquíssimo Templo de Apolo, que ficava no monte Cíntio, e, depois de uma oferenda, fez a seguinte invocação:

— Ó Apolo, poderoso protetor e amigo de Tróia, mostra-nos um lugar onde possamos fundar uma cidade bem protegida e iniciar uma nova nação! Não permitas que se extinga a raça dos teus protegidos, ajuda-nos a fundar segunda Tróia. Dize-nos quem deve ser o nosso chefe e para onde nos envias. Dá-nos um sinal, ó deus excelso! Revela-nos aos nossos espíritos!
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:42

Mal acabara de falar, o umbral do deus, o souto de loureiro que rodeava o Templo e toda a montanha tremeram visível e sensivelmente, e das salas abertas do santuário uma voz ressoou oriunda da trípode do Oráculo, e todo os teucros e lícios ouviram:

— Filhos de Tróia, povo imortal dos dárdanos, segui vossa jornada e procurai a terra de onde saíram vossos antepassados. Lá sereis bem recebidos e encontrareis um novo lar. Buscai vossa velha mãe, e dela reinarão sobre toda a Terra a casa de Enéias e os filhos de seus filhos e os que deles nascerem, haverá de crescer e de prosperar até dominar o mundo.

Ouvindo a voz do deus, todos se atiraram humildemente ao chão. Foi grande a alegria dos seguidores de Enéias quando todos tomaram conhecimento da promessa de Apolo, embora ninguém soubesse ao certo de onde tinham vindo os antepassados de Tróia. Enéias, apesar de ter ouvido pela boca de sua mãe Afrodite e de sua esposa Creúsa que deveria encontrar seu destino na Hespéria, para além da Hélade, a previsão de Apolo parecia dar-lhe novo rumo. E Anquises, o velho pai do príncipe dos dárdanos, tentando relacionar todos os seus conhecimentos deixados por seus pais, meditou longamente, para afinal dizer a todos:

— Chefes do povo, sabei o segredo das vossas esperanças. Há uma ilha, para o sul, chamada Creta, berço do grande Zeus. É o berço de nossa raça, uma terra fértil e possui cem cidades. Também ali, como em Tróia, se ergue o Ida, a selvagem cadeia montanhosa que dá relevo à ilha. Ouvi dizer que foi desse país que vieram nossos antepassados. Foi dali que deve ter saído, para as terras da Ásia, o nosso antepassado Teucros, dali procede o nosso culto, e não há dúvida de que para ali nos envia agora a ordem de Apolo. Com ventos favoráveis poderemos alcançá-la em três dias.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:43

Enéias, apesar das sábias palavras de seu pai, reconhecia que deveriam morar na terra dos seus inimigos, mas não ousou negligenciar as previsões de Apolo, e incentivou os seus a imolarem um touro a Poseison e outro a Apolo; uma ovelha branca, ao vento Zéfiros, e uma preta, aos Ventos tempestuosos. Em seguida, retornaram aos navios. E, ao içarem as velas, gritaram:

— Creta! Creta!

Em seguida, abandonaram o porto de Delos e os seus barcos, impelidos por vento propício, sulcaram as águas do arquipélago, das Cíclades, salpicadas de ilhas que emergiam em todas as direções, levantando as suas alvas pedras de mármore. Um céu imaculado favorecia a rota; os barcos rivalizavam em velocidade, e, por toda parte, ressoava o grito alegre dos nautas:

— Adiante, amigos, em busca de Creta, pátria dos nossos antepassados!

ENÉIAS NA ILHA DE CRETA

Tal qual havia profetizado Anquises, no terceiro dia, os vinte navios troianos, que até então não haviam encontrado grandes dificuldades, chegaram na ilha de Creta, onde foram bem recebidos pelos habitantes, e novamente Enéias se dispôs a traçar os fundamentos da nova cidade, na suposição de haver encontrado o lugar indicado por Apolo. Para a cidade projetada, escolhera o nome de Pérgamos, o mesmo da velha cidadela de Tróia. E, sob as mãos diligentes dos fundadores, não tardaram em ser levantados os muros e as casas. Ergueu-se também uma fortaleza sobre uma colina. Já trabalhavam na colina as primeiras instituições sociais; contratavam-se casamentos entre os jovens recém-chegados, repartiam-se os campos, e os chefes do povo se reuniam em conselho e deliberavam sobre as leis que iriam reger a comunidade, quando uma desgraça ameaçou de ruína total os infelizes troianos e lícios. Um quente estio queimou todos os campos da região, as sementes feneceram por falta de alimento, secou-se a relva, secaram-se as hortaliças, e nas árvores murcharam as frutas sem darem frutos.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:44

O ar que respiravam parecia contaminado, os Ventos, que sopravam, crestavam e mirravam o trigo, a peste dizimou o gado, e muita gente morreu, enquanto os vivos padeciam das mais estranhas moléstias. Uma terrível mortandade se produziu entre as pessoas, e as que escapavam à Morte se arrastavam doentes e enfraquecidas. Era uma terra maldita, pois haviam ficado na parte mais inóspita da ilha, já que a parte abençoada era dominada pelos minóicos, aliados da Hélade.

Numa assembléia convocada para tratar da aflitiva situação do povo que ia definhando, levantou-se Anquises com o coração oprimido e aconselhou os infelizes a, embarcando de novo, voltarem ao mar das Cíclades e à ilha de Delos, em busca de conselho com o Oráculo de Apolo, em torno do país para o qual deveriam dirigir-se, e do termo das suas tribulações. Aprovou-lhe as palavras o povo inteiro, e ficou resolvido carregar nos barcos todos os bens móveis e, sem demora, erguer âncoras, abandonando a cidade em construção. Aflito, e aconselhado pelo velho pai, resolveu Enéias voltar ao templo de Apolo; mas não chegou a fazê-lo, depois que os deuses domésticos, cujas imagens trouxera de Tróia, lhe falaram, enquanto o príncipe dormia:
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:44

— Dormes, Enéias? Por ordem de Apolo, podemos responder às perguntas que pretendias fazer-lhe no Templo de Delos. Fomos salvos das ruínas de Tróia incendiada; compartilhamos sua sorte, e devemos conduzir-te à terra que te é destinada e onde os filhos de teus filhos reinarão sobre o mundo. Foste designado para preparar para a tua grande descendência esse lugar; por conseguinte, não desanimes no longo afã das tuas peregrinações. É preciso continuar a peregrinação. Creta não é o lugar que Apolo vos conservou. Não é em Creta que deves fixar residência. Aqui reina um inimigo poderoso da tua velha terra natal. Existe, para as bandas do Ocidente, um país antigo de nome Hespéria, povoado por homens fortes e valentes, poderoso pelas armas dos habitantes, rico pelos tesouros do solo. Chamaram-se enótrios os seus primeiros moradores; os novos deram ao país o nome de Itália, e de ítalos aos que o habitam, como recordação de Ítalos, um dos seus reis, que era filho de Telégonos, que era filho de Enotros, que por sua vez era filho de Licáon, um antigo e poderoso soberano da Hélade. Aquele é o lugar que vos pertence de direito ancestral, pois dali vieram Dárdanos e Iásion, antepassados dos troianos. Por isso, levanta-te e comunica a teu velho pai a nova indubitável! Para a Itália é que ele deve ir. Zeus vos veda os campos de Creta.

Frio suor de angústia banhara o corpo de Enéias, enquanto os deuses lhe falavam; Enéias, estendido no leito, via e ouvia, claramente, os deuses falando pela boca dos Penates, como se estivesse acordado. Mal desapareceram, sentiu-se maravilhosamente reconfortado; erguendo-se imediatamente do leito, estendeu as mãos, de palmas abertas, segundo velho costume, para invocar o Céu, e ofereceu no altar uma libação aos deuses Penates. Findo o piedoso rito, já era de manhã, correu ao encontro do velho pai, que se encontrava pensativo, para lhe descrever a visão que tivera.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:45

Ao ouvir a mensagem de Apolo, o velho Anquises abriu os olhos e lembrou-se da dupla origem dos troianos; por um lado, de Teucros, por outro de Dárdanos, e compreendeu que se enganara, meneando a cabeça afirmativamente.

— Enganei-me quando afirmei que Creta foi o berço de nossa raça. Recordo-me de que a profetisa Cassandra muitas vezes mencionou Hespéria e Itália, e foi a única que predisse com certeza o destino. Sim, havia prometido ao nosso povo uma pátria, chamada Hespéria ou Itália; só que isso foi muito antes que Tróia cedesse. Mas quem poderia imaginar que nós, morando em Tróade, algum dia seríamos obrigados e impulsionados a viajar para tão longe, no Poente? Além do mais, naquele tempo ninguém acreditava no que Cassandra pressagiava, pois era tida por louca — terrível engano.

— Cassandra desde o início tem-nos alertado do que haveria de acontecer. Erramos todos em negligenciar seus conselhos. E, apesar disso, não levei em conta os conselhos de Heitor, que havia aparecido em sonhos em meu leito, nem os conselhos de minha mãe e da minha esposa. Fui incrédulo.

— Sim, cumpre-nos agora obedecer à ordem de Apolo e partir sem demora à Hespéria. Devemos partir imediatamente.

Entretanto, havia-se o povo reunido para empreender a viagem a Delos. Quando soube, todavia, da nova ordem dos deuses, prorrompeu em gritos de júbilo. Os troianos colocaram seus pertences a bordo dos navios e desfraldaram as velas, ficando apenas alguns enfermos e convalescentes na nova cidade. Graças a estes, conservar-se-ia a colônia troiana; viveriam tempos melhores, multiplicar-se-iam, e muito tempo depois floresceria ainda na ilha de Creta a cidade de Pérgamos.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:46

Ao se afastarem da costa, desencadeou-se formidável tempestade, e debaixo de relâmpagos e trovões aterradores, tiveram de enfrentar os Ventos enfurecidos e as vagas altas como montanhas. Durante três dias não enxergaram o Sol e durante três noites não viram sequer uma estrela, não tendo a menor ideia de onde se encontravam. Nem mesmo Palinuros, o experimentado piloto da frota, conseguiu fixar a situação dos barcos nem o rumo para o qual eram levados.

NAS ILHAS DAS HÁRPIAS

Finalmente, no quarto dia, foi a tempestade decrescendo de intensidade, aos poucos, e avistaram no horizonte, terra montanhosa, cuja vista ergueu o ânimo abatido dos desesperados marujos. Ao se aproximarem da terra, arriaram as velas e, empunhando os remos, abriram caminho por entre as ondas agitadas e espumejantes.

Uma cortina de fumaça elevando-se ao ar, talvez proveniente de habitações humanas. Remaram com todas as forças e chegaram em pouco tempo a uma ilha verdejante.

Enéias e os companheiros nada sabiam das moradoras da ilha, totalmente desconhecida. Cansados e famintos, apoderaram-se de algumas vacas e cabras e assaram-nas, matando a fome, ignorando que aquela ilha, uma das Estrófades, era inóspita, mal afamada pelos que a habitavam. Ali moravam as Hárpias, de rosto de mulher e corpo de abutre, constantemente amarelas de fome, produzindo aos olhos de todos espantosa impressão. Tinham garras nas mãos, e com elas arrebatavam tudo quanto fosse comida, enquanto, com o repugnante excremento, emporcalhavam todos os lugares por onde passavam. No passado, quando haviam atacado a Trácia, molestando o rei Fineus, este foi auxiliado pelos Argonautas, rumo à Cólquida para buscar o Tosão de Ouro, e os gêmeos Zetes e Cálais as haviam empurrado para o sul em direção das ilhas Estrófades, onde passaram a habitar, desde então.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:46

Assim, os nautas entraram no porto que se lhes abria na frente, contentíssimos por se verem de novo em terra firme. À primeira vista, aquela costa não apresentava nada que pudesse afigurar-se suspeitoso; manadas de bois e cabras pastavam tranquilamente, sem guardas. A Fome não permitiu que os recém-chegados vacilassem muito tempo; atiraram-se, de espada na mão, contra os animais, sacrificaram bom número deles e, após oferecerem a Zeus e aos demais deuses os costumeiros sacrifícios, sentaram-se em círculo para desfrutar do delicioso manjar. Eles ainda estavam banqueteando, quando ouviram um ruflar de asas e viram, apavorados, monstros se aproximarem, arrebatarem-lhes toda a carne que comiam e se afastarem velozes, deixando tão sujo e fedorento o que não puderam levar que ninguém suportava aproximar-se. Em vista disso, procuraram refúgio nas rochas, rodeadas de densas árvores, prepararam outra refeição e mal tinham começado a comer quando as Hárpias tornaram a investir com grande alarido e novamente lhes arrebataram a carne e sujaram o que deixaram. Irritados, mudaram outra vez de lugar e prepararam nova refeição, mas colocando ao lado as lanças, as espadas e os arcos e flechas, ocultos na relva.

Quando as Hárpias voltaram, avisado por uma sentinela, empunharam as armas e tentaram matá-las sem piedade. Todavia, as abjetas criaturas tinham pele tão grossa que os ataques não surtiram efeito. Embora não pudessem ser feridas ou mortas, foram rechaçadas e desapareceram, mas deixando espalhados restos de excrementos.

Foi quando, surpreendentemente, viram uma das Hárpias que persistia em ficar. Era Céleno, a rainha das Hárpias, que também era profetisa. Ela pousou numa rocha e os exprobou com gritos lamentosos:

— Troianos, não vos basta matardes nosso gado? Queríeis ainda enxotar-nos da nossa ilha, infelizes que somos? Marcai as minhas palavras: pela vontade de Zeus e Apolo, alcançareis a terra da Itália, mas, antes de construirdes a nova cidade, tereis de roer e devorar as próprias mesas para matar a fome!
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:47

Depois dessas palavras, a horrível criatura levantou voo e desapareceu na mata. Os troianos, aterrorizados, sentiram que se lhes gelava o sangue nas veias, não sabendo se lidavam com aves imundas ou com poderosas divindades. O velho Anquises ergueu as mãos e em voz suplicante pediu aos deuses que impedissem a realização de tão sinistro augúrio. Depois, aconselhou Enéias e os demais companheiros a empreenderem a fuga, embarcando quanto antes pudessem.

No mesmo dia, Enéias e seus companheiros abandonaram a ilha das repulsivas Hárpias.

ENÉIAS E HÉLENOS

Impelidos por brisa favorável, as naus sulcaram de novo o vasto mar. Com as velas enfunadas, contornando o sul da Hélade, costearam várias ilhas gregas, entre as quais Ítaca, berço do odiado Ulisses, onde Penélope olhava em vão para o mar à espera de seu amado Ulisses. No começo do inverno acolheram-se as embarcações às águas de outra ilha de praias alvas, aonde os troianos acamparam, aguardando a volta de tempo mais ameno. Prosseguiram então rumo ao Poente, até alcançarem o porto de Caônios, no litoral do Épiro.

Enéias mandou espiões para averiguar se aquele povo era amistoso ou não, se poderiam desembarcar e ali ficar por um tempo. Os navios ali permaneceram até a volta de seus espiões que, pelas feições, estavam animados.

Chegou ali aos ouvidos de Enéias a estranha notícia de que numa cidade próxima, em construção, reinava um rei troiano: Hélenos, filho de Príamos e marido de Andrômaca, a viúva do valoroso Heitor. Inacreditável.

— Quê?! Como isso é possível?

Enéias resolveu ir a essa tal cidade, que se chamava Ílion, e encontrou Andrômaca num bosque, junto de um pequeno rio chamado Símoeis, o mesmo nome do rio que corria pela várzea de Tróia, na Ásia.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:48

Andrômaca, diante de um altar, banhada em lágrimas, oferecia sacrifícios e celebrava ritos funerários em memória de Heitor. Ao reconhecer Enéias, sobressaltou-se e desmaiou. Voltando a si, depois de algum tempo, balbuciou:

— Vejo realmente Enéias ou seu espírito? Se és um espírito, responde-me como está Heitor!

— Sim, sou Enéias, e estou vivo. Como vieste para este país longínquo? Aliás, que país é este?

Andrômaca, comovida, redarguiu:

— Felizes são as filhas e as noras de Príamos que morreram assassinadas pelos gregos! Quanto a mim, fui levada através domar como escrava de Pirros, o filho de Aquiles, e embora ele me desse o título de esposa, aquele menino, muito mais novo que eu, um dia se apaixonou por outra e me entregou ao nosso cunhado Hélenos, que foi poupado pelos gregos por não ter oferecido resistência. Quando Pirros foi morto por ordem de Orestes, filho de Agamémnon, seu reino foi dividido e a terra em que estamos, no Épiro, coube por herança a Hélenos.

Andrômaca continuava a conversar, contando suas aventuras após a destruição de Tróia, quando chegou Hélenos, que dispensou a Enéias uma cordial acolhida e convidou-o a permanecer em seu palácio, em Ílion, por algum tempo. Enéias aceitou o convite e, em companhia do rei e de Andrômaca, passou dias agradáveis. Ao aproximar-se a hora da partida, lembrou-se do vaticínio da hárpia Céleno e ficou preocupado. Dirigiu-se com o rei ao Templo de Apolo, onde, após haverem imolado alguns novilhos sobre o altar sagrado, o deus assim lhe falou:
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:49

— Filho de Afrodite, de acordo com a vontade dos deuses, será longa tua peregrinação. Embora a terra da Itália não seja distante, não será do lado oriental, habitado por populações de origem grega, que encontrarás a nova pátria. Uma porca branca, rodeada de trinta leitões, servirá de sinal para que saibas que tua jornada chegou ao fim. Não te preocupes com a fome profetizada pela hárpia, pois eu te ajudarei. Leva os navios para o sul até a Trinácria. Ali verás um perigoso estreito, o qual convém evitares. À direita fica a caverna de Cila, um monstro multiforme, de aspecto terrível; à esquerda fica o sorvedouro de Caríbdis, sepultura de muitos navios. Contorna a ilha e, chegando à costa ocidental da Itália, parte para o norte até o lugar chamado Cumas, aonde vive uma sábia profetisa, uma sibila, assim o chamam. Ela te receberá e te guiará com seus conselhos. Agora segue teu caminho, e jamais te esqueças de que és troiano e que deves elevar bem alto o nome de Tróia!

Hélenos e Andrômaca ofereceram a Enéias e seus acompanhantes riquíssimos presentes — ouro, marfim, armas e muitos outros objetos, inclusive uma reluzente couraça de malha e um elmo com penacho, que outrora pertencera a Pirros. Presentearam-nos ainda com alguns cavalos e apetrechos para os navios, e distribuíram armas entre os guerreiros.

Andrômaca entregou ao menino Ascânios algumas vestes frígias e, abraçando-o, disse-lhe, comovida:

— Leva estes presentes e considera-os um sinal da afeição da viúva de Heitor. Teus olhos, teu rosto e teus cabelos lembram os de meu filho que, se estivesse vivo, teria a mesma idade que tu.

Andrômaca ainda escondia de todos que seu filho, Astíanax, estava vivo e em segurança, pois temia que fosse descoberto por algum espião grego, por isso ela evitava apresentá-lo em público e zelava pela sua segurança em segredo.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:49

NAS COSTAS DO JÔNICO

Os navios troianos tornaram a sulcar o mar Jônico, para eles desconhecido, navegando a noite inteira. Amanhecia, quando Acates gritou:

— Itália!

E todos começara a gritar juntos, em júbilo:

— Itália! Itália!

E Anquises, coroando de flores uma grande taça, encheu-a de vinho até a borda e, de pé na popa do barco, invocou o deus do mar, rogando-lhe vento favorável e rota fácil. Com efeito, o vento solicitado pôs-se a soprar com mais intensidade e os nautas aproximaram-se imediatamente do porto que se lhes abria aos olhos, exatamente no salto da bota da península. Do topo de uma colina do fundo, parecia saudá-los formoso templo de Atena.

Esperançosos, arriaram as velas e conduziram os barcos para a praia. O porto, escavado pelo rompente do leste, formava um arco. Num escolhos situados a pouca distância da terra rompiam-se as ondas espumejantes, e uma parede de rochedos amontoados mergulhava no mar, com braços que se estendiam para a direita e a esquerda, enquanto o templo, erguido no centro da baía, se mostrava no fundo. O primeiro presságio que Enéias e os companheiros viram na costa foram quatro corcéis de extrema brancura, pastando no meio de elevada relva. E disse-lhes Anquises:

— Os cavalos significam guerra. Este país, por mais hospitaleiro que se nos pareça, traz a ameaça de guerra. Roguemos a Atena e partamos imediatamente. Esta terra é habitada por colônias gregas, não nos aproximemos dela.

Navegaram, então, ao largo de inúmeras costas, sempre com rumo para o sul, deixando atrás o golfo de Táras (hoje Tarento), a cidade de Cróton (hoje Crotona) com o seu templo a Héra, os escolhos de Cila. Já se distinguia na distância a Trinácria com o seu vulcão Etna, e já podiam ouvir-se o estrondo das ondas rompendo contra os rochedos e o rumor do mar morrendo na praia. Do insondável abismo saltava a vaga, projetando no ar uma massa de areia e espuma. E Anquises reconheceu o lugar:
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:50

— É Caríbdis! É o medonho escolho! Mãos aos remos, meus companheiros! Safemo-nos de tão mortal perigo!

Todos os barcos viraram para a esquerda. Palinuros desviou a proa do seu barco. Por três vezes ergueram-se todos os barcos até as nuvens, levados no lombo das espantosas ondas, e tornaram a mergulhar nos abismos. Quando o perigo foi superado, arribaram a uma espaçosa enseada.

A ILHA DOS CÍCLOPES

Era um lugar bastante incômodo para passar a noite, perto do vulcão Etna, que se encontrava em erupção, lançando nuvens negras e vomitando chamas. A terra tremia sem cessar, e os troianos, aterrorizados, não conseguiram conciliar o sono. Acreditavam que as erupções vulcânicas do Etna eram nada mais nada menos que o hálito estrondoso do gigante Encélados, que ali havia sido aprisionado pelos Olímpicos, durante a sua batalha contra os Titãs. Dessa forma, atordoados, Enéias e os seus companheiros não conseguiram pregar os olhos.

Na manhã seguinte, enquanto se preparavam para logo continuar viagem, saiu do bosque próximo um indivíduo maltrapilho, de faces e peito encovados. Tinha o rosto esquisito e era de uma imundície medonha. Corria ao encontro deles, de mãos estendidas, em gesto de súplica, quando reconheceu, de longe, as armaduras troianas. Hesitou ao avistá-los, mas não tinha mais nada a perder, depois acercou-se do grupo e atirou-se ao chão, aos pés de Enéias.

— Troianos! Troianos! Ajudai-me, por favor! Sou um grego, ouvi o que tenho a dizer!

Os troianos se assustaram e ameaçaram-no, mas Enéias impediu-os e disse-lhe:

— Um grego?! Pois fala, homem!

Anquises acalmou-os e, estendendo-lhe a mão, fê-lo levantar-se do chão. Aos poucos, o sujeito foi-se refazendo do terror.

— Quem és, meu rapaz? Por que tanto desespero?
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:51

— Sou de Ítaca e fui um dos companheiros do herói Ulisses. Aquemênides é o meu nome e resolvi partir para Tróia, por ser meu pai excessivamente pobre. Prouvera aos deuses que ainda durasse a pobreza! Navegando por estes mares, Ulisses aqui desembarcou para reabastecer-se, levando-me à terra em companhia de mais onze homens. Explorando os arredores, deparamos com uma caverna habitada por Polífemos, um gigante... um cíclope, aquele de um só olho no meio da testa! Polífemos capturou-nos, encerrou-nos na caverna e imediatamente devorou dois dos nossos, outros dois na manhã seguinte e mais dois à noite. Escapei, depois de inúmeros perigos da guerra, mas aqui fiquei esquecido, na espantosa gruta do cíclope, quando Ulisses e os seus companheiros, que ainda não tinham sido devorados pelo monstro, conseguiram fugir mediante o emprego da astúcia. Estava eu, então, num dos cantos da caverna, doente e desesperado. Vira como o monstro comia, aos pares, os meus infelizes companheiros, e uni os meus esforços aos dos meus amigos, quando, depois de embebedá-lo com vinho, Ulisses cegou o gigante. Por verdadeiro milagre, logrei sair do antro, mas, rodeado por esses Cíclopes, tenho passado a vida, há muitos dias, faminto e constantemente presa da mais cruel angústia. Vós, se não quiserdes ser também vítimas do abominável bando de Gigantes, embarcai depressa e abandonai a praia. Faz três meses que me arrasto por entre grutas e abrigos de animais, comendo raízes, sempre vigilante, de medo aos monstros, tremendo com só lhes ouvir os retumbantes passos e as medonhas vozes. Vi aproximar-se a vossa frota e corri, para a ela entregar-me, pouco me importando de que país poderia ser.

— Ouvi uma história assim em Tróia, e por isso a cidade já não mais existe...

Enéias referia-se à perfídia de Sínon, meio-irmão de Ulisses. Aquemênides, entendendo que era sua única chance, agarrou os joelhos de Enéias e implorou:
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:52

— Ah... por favor, nobres troianos, afastai-vos daqui, pois embora o monstro esteja cego do seu único olho, incapaz de causar-lhes qualquer dano, há centenas de outros iguais, nestas paragens. Abandonai este país maldito e levai-me daqui, ou me tirai a vida; se me deixais aqui, não me restará esperança de salvação!

— Que coisa mais ridícula, homem. Vós gregos são todos mentirosos.

No mesmo instante assomou no topo do morro o vulto do cíclope. Era uma criatura horrenda, cega, disforme, monstruosa. Desceu à praia, seguido de vários companheiros, entrou na água e pôs-se a lavar a cavidade que ainda vertia sangue do olho vazio, soltando gemidos e rilhando os dentes. Ulisses realmente devia ter zarpado dali há pouco tempo.

Os troianos correram para os navios acompanhados do infeliz soldado grego e apressadamente se fizeram ao largo. Os monstros perceberam o rumor dos remos e viraram as enormes cabeças em direção dos barcos que se afastavam. Polífemos, que estava na água, rumou para eles, guiando-se pelo ruído que faziam. Com dificuldade escapou o último barco às mãos ansiosas, que, ao se fecharem no vazio, o fizeram dar horrendo bramido cujo eco, como prolongado trovão, foi ecoado pelas cavidades do Etna, atraindo a atenção dos demais irmãos. Por um longo tempo os troianos puderam vê-los parados à beira da água, seguindo-os com os olhos ameaçadores.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:52

A MORTE DE ANQUISES

Subitamente, soprou um vento favorável e, muito em breve, as naus teucras e lícias se viram em alto-mar. E, para se livrarem de Cila e Caríbdis, Enéias e os companheiros, retrocederam, costeando a ilha, aconselhados por Aquemênides, conhecedor do percurso por havê-lo feito com Ulisses. Seguindo pela costa da Trinácria, navegaram para o porto de Drépanos. Nesse país, Enéias passou por cruel dor: seu velho pai, Anquises, aniquilado pela fadiga, não estava destinado a chegar à Itália. Foi enfraquecendo, a língua se lhe paralisou e, sem poder proferir uma palavra de adeus, entregou a alma, nos braços do filho. Foi aí que morreu Anquises, o velho pai de Enéias. Tinha idade avançada, não resistiu aos labores da difícil viagem e não lograria conhecer a terra prometida pelo deus Apolo.

Ancoraram em Acesta e foram bem recebidos pelo rei local, Acestes, filho do deus-rio Crínisos e de Segesta, uma troiana. Sepultaram Anquises sobre o monte Érix, realizaram honras fúnebres e permaneceram em Drépanos somente o tempo indispensável ao reabastecimento dos navios. Enéias não se entregou por muito tempo à dor; a promessa dos deuses o impelia a conduzir o seu povo à terra dos antepassados, a fim de fundar o novo reino.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:53

O DEUS ÉOLOS

Logo que perderam de vista a costa da Trinácria, o mar escapelou-se, o céu, carregado de nuvens, enegreceu, soprou terrível tufão. A borrasca foi maquinada pela deusa Héra. Ela nutria desmensurado rancor contra o povo troiano. Esse ódio provinha dos seus exagerados amores pela cidade de Cartago, que estava sendo construída na costa setentrional da África pela formosa rainha Elissa, já conhecida pelo nome de Dido, “a errante”. A deusa ambicionava transformar a cidade incipiente na capital mais poderosa do mundo, mas ouvira profetizarem que um pequeno grupo de troianos deveria edificar em terras da Itália outra cidade que, no futuro, viria a dominar todas as nações e por termo à hegemonia cartaginesa. Via agora uma esquadra troiana sulcar o pélago dos sícanos, com as proas voltadas para o litoral italiano, e resolveu, aflita, impedi-la da chegada ao destino, evitando desse modo o cumprimento do antigo vaticínio.

— Como?! A minha obra ficará por terminar? Tróia não será inteiramente destruída e nem serão exterminados de vez o povo e a dinastia real? É possível que o genro de Príamos e seu neto se apoderem realmente da Itália? Por que devo resignar-me? Por que devo consentir que os troianos se estabeleçam no solo da Itália? Não incendiou Atena as naves gregas e sepultou no mar suas tripulações, devido somente ao ódio que votava a Ájax, o filho de Oíleo, que a ofendera? Apossando-se dos raios de Zeus, destroçou a frota grega, colhendo Ájax em vertiginoso turbilhão e o arremessando de encontro a pontiagudos rochedos, que lhe esmagaram o peito. Se a Atena foi consentido tamanho poder, por que não me seria permitido desbaratar esse pequeno grupo de Tróia? Se me falta força para tanto, como poderia eu, irmã e esposa do grande Zeus, esperar de alguém adoração e sacrifícios?
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:53

Com tais propósitos dirigiu-se à Eólia, uma ilha rochosa pertencente às Eólicas, que era a morada de Éolos, o rei dos Ventos, o qual, por ordem de Zeus, mantinha os Ventos presos numa grande caverna, a fim de que não varressem e assolassem terra e céu em sua fúria.

Héra, manhosa, disse-lhe:

— Zeus confiou-te o domínio dos Ventos e o poder de usá-los ao teu arbítrio. Uma esquadra navega neste momento da Trinácria para a Itália. Se soltares os Tufões e fizeres as naus soçobrarem, prometo que te darei para esposa a mais formosa das minhas Ninfas.

Respondeu-lhe Éolos, obsequioso:

— Poderosa Héra, não me cabe senão obedecer! Foi graças à tua bondade que tive a honra de ser o rei dos Ventos e de sentar-me à mesa das divindades do Olimpo.

Assim falando, Éolos tocou com a ponta da lança as grades da prisão dos Ventos, que, abertas as portas da caverna, saíram com grande ímpeto pelo mar afora, erguendo gigantescos vagalhões. Não tardaram a encontrar as naus troianas, pois as ilhas Eólicas ficavam perto de um dos ângulos que formavam a Trinácria, justamente onde os troianos se encontravam. Num abrir e fechar de olhos a luz do dia esmaeceu, faíscas fenderam as densas nuvens e no céu ecoou o ribombo de violenta trovoada.

Julgando-se perdida e condenada a morrer no mar enfurecido, a tripulação troiana, apavorada, implorou a misericórdia dos deuses, e Enéias, junto à amurada, exclamou em voz lastimosa:

— Felizes aqueles que tombaram junto das muralhas de Tróia, diante dos olhos dos pais! Ó Diómedes, bravo entre os mais bravos guerreiros, por que não me mataste, do mesmo modo como Aquiles abateu Heitor e muitos outros troianos, cujos corpos o rio Símoeis arrastou para o mar!
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:54

Violenta rajada de popa atingiu em cheio as velas e fez inclinar o barco. Três navios foram atirados sobre os abrolhos, numerosos naquele local; outros três encalharam em bancos de areia, e um deles foi destruído, a cujo bordo iam os aliados lícios com o seu chefe Orontes, tombou enorme vaga que arrebatou o timoneiro, jogando-o ao mar e que, após ter feito girar o barco, por três vezes, sobre si próprio, mergulhou-o no abismo. Enéias viu-o adernar e lentamente submergir no mar agitado. Destroços flutuaram sobre as ondas, enquanto a tripulação era tragada pelo turbilhão das águas. A tormenta abateu, outrossim, os barcos de Ilioneus e Acates, de Abas e Aletes.

A tempestade era tão violenta que fez estremecer as paredes do palácio de Poseidon, no fundo do mar. Intrigado, o soberano subiu à tona e pôs a cabeça por cima das ondas. Não tardou em compreender que a esquadra troiana estava sendo destruída pela fúria da borrasca, cada vez mais inclemente. E logo suspeitou que a tempestade devia ser obra de Héra, sua irmã, que, por seu desmedido ódio aos troianos, encontrara um meio de libertar os Ventos. Nublou-se a sua fronte, e com voz retumbante esbravejou, estendendo imperiosamente a mão possante que sustentava o tridente:

— Ventos rebeldes! Como vos atreveis a agitar o mar sem minha permissão? Voltai à vossa caverna e fazei ver a Éolos que o reino do mar me pertence! Que Éolos se mantenha em sua ilha rochosa e vos conserve presos, até que eu lhe dê ordem para soltar-vos! Dizei a vosso amo que não foi a ele, mas a mim que coube o tridente e a soberania do mar. Pertencem a ele as rochas e as grutas, que vos servem de morada.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Hermes Trismegistus 26/3/2021, 13:55

Em seguida, pôs fim à borrasca, aplacando as ondas, dispersando as nuvens, silenciando os trovões e fazendo ressurgir na abóbada celeste o Sol resplandecente. Usou seu tridente para retirar navios dos bancos de areia. Convocando outras divindades e animais do mar, conseguiu libertar as naves, soltando-as dos escolhos. Depois subiu em sua carruagem e atravessou o mar, e, à medida que passava a agitação das ondas serenava.

Alguns navios troianos, entre os quais o barco de Enéias, impelidos pela tormenta, tinham derivado para o litoral da África. Passada a borrasca, acolheram-se a uma enseada de águas tranquilas que descobriram naquele trecho da costa. Os troianos desembarcaram na praia, contentes por se acharem novamente em terra firme. Encontraram, no fundo da baía, uma gruta junto a uma fonte de água fresca e bancos de musgo, entre dois bosques, e ali esconderam os sete barcos restantes da frota. Os troianos puseram o pé em terra e, encharcados, acamparam na margem. Acates começou a golpear uma pederneira da qual saltaram chispas que atearam fogo a um monte de folhas secas; sobre elas colocou raminhos, e em breve estalou viva chama. Em seguida, foram desembarcados os utensílios necessários à panificação e o trigo, meio apodrecido pela água, além de se moer os grãos salvos.
Hermes Trismegistus
Hermes Trismegistus

Mensagens : 4041

Ir para o topo Ir para baixo

A Saga de Enéias Empty Re: A Saga de Enéias

Mensagem por Conteúdo patrocinado


Conteúdo patrocinado


Ir para o topo Ir para baixo

Página 1 de 9 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9  Seguinte

Ir para o topo

- Tópicos semelhantes

 
Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos