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Que livro você está a devorar?

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Mensagem por Alquimista 3/4/2019, 16:37


Diz aí!
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Mensagem por Alquimista 3/4/2019, 16:39


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Mensagem por Eugene Hector 3/4/2019, 23:22


"The Cantos", Ezra Pound (há quase dois meses).

Os "Cantos" são pesadíssimos. Leio na frequência de um por dia, não mais que isso. Antes de lê-los, seria interessante ler o seu "ABC of Reading" (em inglês) e conhecer um pouco de todos aqueles poetas citados, é um exercício não apenas divertido, mas essencial para a compreensão da sua poética, ir notando as influências através dos cantos: olha! ali é Dante! aqui é Safo! lá é Ovídio!

Mas é preciso ler Pound criticamente. Ele foi, embora eu prefira o ascetismo de W.B. Yeats, talvez, o maior poeta do século em língua inglesa(?), mas muita coisa dele é mais que questionável. O estilo de seus cantos às vezes tende a um pernosticismo inócuo, tamanhas as citações desnecessárias em línguas estrangeiras, é impossível ler Pound sem saber um pouco de latim, grego, francês, italiano, chinês...

Além disso o uso de jargões que ele faz pode fazer algumas obras perderem sentido, como perderam sentido as baladas em jargão de Villon...

Mas todos esses poréns não diminuem o tamanho de sua obra, que, apoiada no pastiche e na superposição de imagens, é monumental.
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Mensagem por kbr 4/4/2019, 12:58


Que coincidência. Comecei a leitura dos Cantos depois de freqüentar durante algum tempo os poetas concretos, sobre os quais eu estava fazendo uma matéria. Quando comprei o livro, me propus a ler um canto por dia, como faz você. Não consegui nem isso, tamanha a densidade e a quantidade de referências dos textos. As alusões e citações, do meu ponto de vista, fazem parte desse conceito de literatura do "pastiche" que o Eliot também desenvolve. Isso em um sentido claro e nada pejorativo, o Pound era um erudito ("civilizadíssimo", como gosta de dizer o Alfredo Bosi). Fora o uso de muitas línguas, o próprio inglês dele vai do moderno ao medieval num estalar de dedos, a estilística confunde qualquer leitura menos atenta. Se você conhecer literatura secundária sobre os Cantos, por favor me indique: caí na bobagem de comprar uma edição não-crítica, o que me levou a ter alguns problemas com o chinês...

(Um poeta disse que E.P. estava se tornando "o melhor poeta chinês em língua inglesa", ou coisa parecida...)
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Mensagem por kbr 4/4/2019, 13:11


Leio Filosofia da Nova Música, de Theodor Adorno

Livro árido com um prefácio interessantíssimo, uma dialética cujos pólos são Schoenberg e Stravinski.

Enfim, o livro do Adorno é fantástico!!! Eu fiz o curso de Ciências Sociais na USP (Mas não terminei) e meu professor de Sociologia da Cultura era o Gabriel Cohn, um sujeito muito informado, e na época, considerado uma autoridade em Adorno. O meu choque foi ver a dimensão da ignorancia dos sociólogos no que se refere à história da musica no século XX. A tradução brasileira carrega este problema....Eu não consigo ler Adorno em alemão....Mas quando reli a obra dele em Frances (Edição Gallimard) percebi o quanto a edição brasileira me deixara confuso. O estilo de Adorno não é fácil! Meus anos de USP me deram a possibilidade de entender melhor o idioma dele (e de Hegel, outro autor fantástico para as artes). Mas a Filosofia da Nova Musica é um texto acessível do Adorno. Não é tão complicado assim. O que o torna complicado mesmo é a má tradução que nos é oferecida....Ao contrário de um outro texto, também ligado à musica, que é O Nascimento da Tragédia de Nietzsche, magnificamente traduzido para o portugues por Jacob Guinsburg. Mas é realmente uma pena eu não conseguir ler estas obras em alemão...eu levaria um ano para ler cada um destes livros no original.....com muita ajuda de dicionário e dos amigos....
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Mensagem por Alquimista 4/4/2019, 22:58


Nunca li o Adorno em francês, não posso me pronunciar sobre a qualidade da tradução brasileira. Fundamentado apenas nesta versão, o que posso dizer é que nele o texto dele é compreensível, mas não é fácil. Quem tem o hábito da leitura rápida ou não-participativa se perde muito facilmente, mas só porque o Adorno não é esquemático, e só por isso. O método está definido com clareza no prefácio, e se alguém fizer um resumo do livro por parágrafos, vai descobrir nele aquele tipo de estrutura própria dos trabalhos acadêmicos (embora o texto seja ensaístico). Mas a estruturação não é visível superficialmente, pelo menos não mais do que uma série é sempre audível em uma composição dodecafônica. riso 2

O Décio Pignatari (creio que foi ele, se não, corrijam-me), referindo-se às vanguardas às quais se filiava o concretismo, uma vez escreveu uma frase-resumo mais ou menos nessa linha: "o desejo de construir superou o desejo de expressar". Acho essa frase um excelente ponto de partida para pensar a Filosofia da Nova Música. O Adorno tem bem claros os conflitos entre expressão e construção na arte de um Schoenberg, por exemplo (e – por que não? – em toda grande arte). Como explicar, de um ponto de vista meramente psicológico, que aquelas obras seriais tenham saído da mesma cabeça que compôs o primeiro quarteto de cordas ou a Noite Transfigurada? Do ensaio sobre Stravinski, então, nem é preciso falar. Ele e o Robert Craft falam por si. riso 1
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Mensagem por Alquimista 4/4/2019, 23:27


Já que estamos falando de música, recomendo:

A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera.

Este livro conta a história de um casal cuja vida é regida por um quarteto de cordas de Beethoven.



A Montanha Mágica, Thomas Mann.

O capitulo em que Hans Castorp aproveita a chegada dos discos no Sanatório na Montanha Mágica, que declaração de amor à musica esta do Thomas Mann... uma das cenas mais lindas da literatura alemã!



Doutor Fausto, Thomas Mann. (Doutor Fausto: A vida do compositor alemão Adrian Leverkühn, contada por um Amigo.)

Consta que dos grandes literatos do século XX, os que melhor entenderam e trataram da Música foram Thomas Mann e Marcel Proust. Ando meio enferrujado no francês, mas um dia pretendo fazer uma leitura cuidadosa de ''À la recherche du temps perdu''.

A este duo, acredito que poderíamos também acrescentar T. S. Eliot que, apesar de não falar explicitamente de Música, nos Quatro Quartetos, faz a melhor utilização que conheço das estruturas próprias da música para compor um poema.

Mas voltando à Thomas Mann, depois de ler A Gênese do Doutor Fausto, do próprio Thomas Mann, fica evidenciado o quanto seriamente o autor se preocupou com a verossimilhança e credibilidade do viés e da presença intrínseca da Música no romance Doutor Fausto. É preciso lembrar que a Música para Thomas Mann (ecos Schopenhauer?) era a coisa mais parecida com o sublime, o sagrado, o extratemporal que conhecia.

Assim sendo, além de assumir completamente Theodor Adorno como seu ''real secreto (secreto???) conselheiro'', como seu tutor, a cada passo do romance discutia com ele os próximos avanços. E, finalizados, os capítulos eram revistos com o Filósofo. Também, ao longo da composição do livro, relata inúmeras conversas com Schoenberg, para validar seus escritos.

Luxuosa consultoria. Qual poderia ter sido a de Proust?

Entretanto, apesar de Schoenberg ser seu inspirador e consultor sobre a teoria dodecafônica, na verdade, foi apenas através de um acordo jurídico imposto, que Thomas Mann se viu obrigado a colocar uma nota no livro creditando ao músico a autoria do dodecafonismo.

Os casos do livro de Thomas Mann e da Recherche são muito diferentes. Em Doutor Fausto, há descrições técnicas da música - e do sistema dodecafônico - que exigiam um conhecimento que Mann não tinha, por isso foi-lhe tão providencial Adorno, que era um filósofo que também compôs umas poucas obras musicais.
Quando lemos Em busca do tempo perdido, a presença da música é muito diferente. Há, claro, o personagem do violinista de moral suspeita, Morel, mas Proust não se dedica a essas descrições técnicas. Porém, a música está presente em todos os volumes do romance, muitas vezes por causa dos salões.

"Le pianiste ayant terminé le morceau de Liszt et ayant commencé un prélude de Chopin, Mme de Cambremer lança à Mme de Franquetot un sourire de satisfaction compétente et d'allusion au passé." (Du Coté de chez Swann, À la recherche du temps perdu, Gallimard, Ed. Quarto, 1999, p. 266) [O pianista tendo terminado o trecho de Liszt e começado um prelúdio de Chopin, Mme de Cambremer dirigiu a Mme de Franquetor um sorriso de conhecedor satisfeito e de alusão ao passado.]

Trata-se de uma cena de salão, mas a música não é mencionada só por motivo de esnobismo, ao contrário do que fazem muitos dos personagens nobres do romance. Ela é uma das formas de buscar o passado. Por isso, acho que a relação entre música e literatura nesse Proust é mais orgânica, por assim dizer, do que naquele romance de Mann - o escritor alemão teria escrito, em termos técnicos, o romance da mesma forma se o seu personagem principal fosse um arquiteto, por exemplo.
Já, em Proust, a música determina o estilo. E a sonata do Vinteuil, que também é um personagem (Proust muitas vezes se inspirava em mais de uma pessoa para compor seus personagens; Vinteuil é meio César Franck, meio Fauré...), associa-se ao amor de Swann e por Odette, depois, por metamorfoses desse motivo (como se estivéssemos em Wagner), ao próprio amor de Marcel:

"Ce fut un de ces jours-là qu'il lui arriva de me jouer la partie de la Sonate de Vinteuil où se trouve la petite phrase que Swann avait tant aimé. Mais souvent on n'entend rien, si c'est une musique un peu compliquée qu'on écoute la première fois." (Du Coté de chez Swann, À la recherche du temps perdu, Gallimard, Ed. Quarto, 1999, p. 422) [Foi num desses dias que ele teve a ideia de me tocar a parte da Sonata de Vinteuil onde se encontra a pequena frase que Swann tinha tanto amado. Mas frequentemente não entendemos nada, se é uma música um pouco complicada que escutamos pela primeira vez.]

Esse problema de recepção, acima referido, aconteceu com o próprio livro de Proust...
E há outros músicos, como Beethoven. Nesta passagem, que vem logo depois da anterior, lemos sobre a mesma questão:

"Ce sont les quators de Beethoven (les quators XII, XIII, XIV et XV) qui ont mis cinquante ans à faire naître, à grossir le public des quators de Beethoven, réalisant ainsi comme tous les chefs-d'oeuvre un progrès sinon dans la valeur des artistes, du moins dans la société des esprits, largement composée aujourd'hui de ce qui était introuvable quand le chef-d'oeuvre parut, c'est-à-dire d'être capables de l'aimer." (Du Coté de chez Swann, À la recherche du temps perdu, Gallimard, Ed. Quarto, 1999, p. 423) [São os quartetos de Beethoven (os quartetos XII, XIII, XIV e XV) que levaram cinquenta anos para fazer nascer, aumentar o público dos quartetos de Beethoven, realizando assim como todas as obras-primas um progresso, senão no valor dos artistas, ao menos da na sociedade dos espíritos, largamente composta hoje do que não se podia encontrar quando a obra-prima apareceu, isto é, seres capazes de a amar.]

Beethoven não era apenas uma moda para Proust, ao contrário do que Stravinsky, provavelmente ignorante da obra do escritor, afirmou com desdém.
Um exemplo menos comentado de como a música é determinante no Proust (muito mais do que em Mann) é aquele momento em que "O sole mio" se associa à incapacidade de agir e de decidir do protagonista:

"Sans doute ce chant insignifiant entendu cent fois, ne m'intéressait nullement. Je ne pouvais faire plaisir à personne ni à moi-même en l'écoutant aussi religieusement jusqu'au bout. Enfin, chacun des motifs connus d'avance par moi, de cette vulgaire romance ne pouvait me fournir la résolution dont j'avais besoin; bien plus, chacune de ces phrases, quand elle passait à son tour, devenait un obstacle à prendre efficacement cette résolution ou plutôt elle m'obligeait à la résolution contraire de ne pas partir, car elle me faisait passer l'heure." (Albertine disparue, À la recherche du temps perdu, Gallimard, Ed. Quarto, 1999, p. 2098) [Sem dúvida, esse canto insignificante ouvido cem vezes não me interessava de forma alguma. Eu não poderia dar prazer a ninguém, nem a mim mesmo, escutando-o tão religiosamente até o fim. Enfim, cada um dos motivos já conhecidos por mim dessa romança vulgar não poderia me fornecer a resolução de que eu precisava; mais do que isso, cada uma dessas frases, na vez em que passava, se tornava um obstáculo contra a tomada da resolução, ou antes me obrigava à resolução contrária de não ir embora, pois me fazia perder tempo.]

E há a ópera "La Juive", de Halévy, tantas vezes referida, por causa dos personagens judeus, de Rachel e do caso Dreyfus - um momento de grande anti-semitismo na França.
Vejam os absurdos que Charlus fala:

"Quand on donne dans la Semaine Sainte ces indécents spetacles qu'on appelle La Passion, la moitié de la salle est remplie de juifs, exultant à la pensée qu'ils vont mettre une seconde fois le Christ sur la Croix, au moins en effigie. Au concert Lamoureux, j'avais pour voisin un jour un riche banquier juif. On joua L'Enfance du Christ, de Berlioz; il était consterné. Mais il retrouva bientôt l'expression de béatitude qui lui est habituelle en entendant 'L'Enchantement du Vendredi Saint'." (Sodome et Gomorrhe II, À la recherche du temps perdu, Gallimard, Ed. Quarto, 1999, p. 1585) [Quando se executam na Semana Santa esses indecentes espetáculos que chamam de A Paixão, metade da sala está cheia de judeus, exultando com o pensamento de que vão colocar Jesus de novo na Cruz, pelo menos em efígie. No concerto Lamoureux, eu tinha por vizinho um dia um rico banqueiro judeu. Executava-se a "Infância de Cristo" de Berlioz; ele estava consternado. Mas ele recobrou logo a expressão de beatitude que lhe é habitual ouvindo "O encantamento da sexta-feira santa".]

A última obra mencionada é, curiosamente, do Parsifal de Wagner... E, muito antes do Coppola, esta comparação, em tempos de primeira guerra mundial:

"Il semblait avoir plaisir à cette assimilation des aviateurs et des Walkyries et l'expliqua d'ailleurs par des raisons purement musicales: 'Dame, c'est que la musique des sirènes était d'un Chevauchée! Il faut décidément l'arrivée des Allemands pour qu'on puisse entendre du Wagner à Paris!'" (Le temps retrouvé, À la recherche du temps perdu, Gallimard, Ed. Quarto, 1999, p. 2179) [Ele parecia ter prazer nessa comparação de aviadores e Valquírias e a explicou, aliás, por razões puramente musicais: "Dama, é que a música das sirenes era de uma Cavalgada! Decididamente, é necessária a entrada dos alemães para que se possa ouvir Wagner em Paris!"]

O mundo desse romance de Proust é tão rico... É preciso lê-lo. Há também, ao lado de Vinteuil, o pintor Elstir, o escritor Bergotte. Os leitores admiradores de música destE FÓRUM que ainda não tenham lido toda a Recherche, creio, encontrariam bastante para refletir.
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Mensagem por Gigaview 5/4/2019, 13:44


Estou devorando "O Capital" de Karl Marx de cabo a rabo.
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Mensagem por Apocalipse 5/4/2019, 17:24


''Um Antropólogo em Marte'' (Recomendo!), narra casos surpreendentes de autistas aspies e savants como a Dra. Temple Grandin e Stephen Wiltshire, o ''Câmera Humana''. Seu autor, Oliver Sacks, depois de um tempo descobriu que também se enquadrava no espectro do autismo.
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Mensagem por Alquimista 6/4/2019, 02:25


Deuses, Túmulos e Sábios, de C. W. Ceram.

O Livro das Escadas nos fornece informações sobre o Códice de Dresden, que é um dos quatro livros Maias que sobreviveram à destruição de Diego de Landa e que fala de rituais e também da astronomia e do ciclo de Vênus que os Maias já conheciam bem, além de uma descrição ímpar sobre um dos rituais mais macabros da civilização Maia: os sacrifícios das pobres donzelas que eram lançadas nos cenotes sagrados para aplacar a cólera do deus da chuva.

Muito do que sabemos sobre os costumes Maias e dos sacrifícios nos cenotes - e das culturas précolombianas em geral - vem de relatos de espanhóis, mas deve-se tomar muito cuidado porque nem sempre as fontes são confiáveis.
Um grande exemplo foi os espanhóis relatarem que os Astecas sacrificaram e desmembraram mais de 80 mil vítimas em apenas 4 dias! Claro que tal megaespectáculo de carnificina humana é impossível e não passa de exagero.
Outro espanhol que contou o número de crânios no Altar dos Crânios também exagerou: segundo o número que ele nos deu, o altar deveria ter a altura do Empire State Building!!!!

Agora quanto aos cenotes maias, muitos estudiosos achavam que também era fantasia dos espanhóis até Edward Thompson drenar um cenote sagrado e encontrar várias ossadas humanas, corroborando que os relatos de sacrifícios humanos nestes poços sagrados eram mesmo reais.
Edward Thompson explorou um em particular, o de Chichén Itzá, que era um cenote sagrado, e, mesmo tendo sido alertado de que iria cometer suicídio e tendo sua saúde agravada por conta de um acidente que teve lá, ele, além de achar ossadas, achou também vários artefatos de sacrifícios exatamente como Diego de Landa havia descrito, comprovando-se assim a veracidade daqueles rituais.
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Mensagem por Advogado da Verdade 6/4/2019, 14:07


Estou lendo ''A Bíblia do Diabo'' de Richard Dubell, romance baseado no polêmico Codex Gigas, ótimo livro para se ler no metrô, principalmente ao lado de um evangélico.

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Também estou lendo o Malleus Maleficarum (Martelo das Bruxas) que é um best-seller até hoje.
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Mensagem por Alquimista 7/4/2019, 00:24


Desafio vocês a lerem A Ilha do Dia Anterior do escritor italiano Umberto Eco. mal
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Mensagem por Gigaview 19/4/2019, 04:13


Confidências de um Inconfidente, famosa obra espírita sobre o poeta brasileiro (na verdade, luso-brasileiro) Tomás António Gonzaga.

Riquíssima em apontamentos históricos, recomendo.
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Mensagem por sombriobyte 28/4/2019, 04:21


Caros,

Venho de terminar a leitura de "Filosofia da Nova Música", de T.W. Adorno. Gostaria de comentar esse livro de passagem, porque não me é possível discorrer, minimamente que seja, sobre metade das questões que ele propõe.

A filosofia de Adorno está sendo para mim, desde o ano passado, uma descoberta absolutamente fantástica. Não domino, nem de longe, estes textos, a maior parte dos quais li em bancos de ônibus e metrô. Mas pretendo estudá-los em profundidade algum dia, ou ao menos relê-los. Os comentários que faço agora não têm a menor pretensão de serem resenha de coisa alguma, crítica de coisa alguma, nada disso. É só a dica de uma brilhante leitura o que quero deixar para vocês.

Trata-se de dois ensaios, um sobre Schoenberg e outro sobre Stravinski, redigidos nos anos 40 e 50 e intitulados, respectivamente, "Schoenberg e o progresso" e "Stravinski e a restauração". Logo aqui já se vê a perspectiva dialética, confrontatória, que anima a publicação conjunta dos dois trabalhos.

São ensaios no sentido próprio do termo, textos de caráter mais livre, embora essa liberdade não seja, em nenhum momento, pretexto para a "facilidade". Há uma enorme profusão de idéias fortes, procurando elucidar questões que, se tratadas em minúcias, renderiam assunto para vários livros. Uma idéia, no entanto, unifica todas as outras: a crença de que a situação da composição musical é a única que na verdade decide sobre a situação da própria música. Esta idéia, tomada às últimas consequências sem maiores explicações, nunca renderia um livro como o que Adorno escreveu, se não houvesse sido submetida a um método dialético. A grande habilidade do autor está justamente em fazer uma "ponte" conceitual entre a composição e aquilo a que ele denomina a "totalidade social".

O instrumental (ou "ferramental", como brinca o Tezza) de Adorno é bem diversificado: vem da filosofia moderna iluminista, do materialismo, da sociologia, da música e até da psicanálise. E como ambos os compositores objetos de estudo tiveram suas muitas fases estilísticas, o texto, para dar conta disso, parece mudar de foco a todo instante. No entanto, uma coerência profunda é mantida, graças a uma idéia unificadora, qual seja: pouco a pouco, o desenho do texto de Adorno vai traçando dois mundos - o "político", por assim dizer, em que se inserem conceitos e fatos como a totalidade social, a massificação, a guerra, o fascismo; e o "estético", que quase sempre se restringe, para efeitos de eficácia do texto, à composição musical e seus desdobramentos. Todo o esforço do autor consiste em fazer esses mundos coincidirem, ou, antes, mostrar que eles coincidem de fato e como isso acontece. Às vezes esse objetivo é plenamente atingido, e outras nem tanto. Mas é algo que não se pode deixar de ler.

Esta é uma das qualidades do livro, a tentativa de escapar à mera crítica musical e partir para a filosofia da música propriamente dita, nunca prescindindo de analisar as relações entre música e sociedade. Outro ponto a ser destacado é a não-ingenuidade do texto. Adorno ultrapassa tentativas de discorrer sobre o conflito verdade/mentira, coisa que todos somos capazes de fazer. Parte diretamente para a análise do choque de verdades entre si, situação infinitamente mais complexa. Partidários eventuais de uma e outra escola, dodecafonismo ou neoclassicismo, que porventura busquem aí legitimações fáceis para seus gostos pessoais, ficarão extremamente decepcionados com esses ensaios. É impressionante, não me lembro de jamais haver lido outro livro sobre música em que não houvesse o menor incentivo de "gostos" musicais, por menor que fosse, como ocorre com este: do ponto de vista "melômano", a Filosofia da Nova Música é um livro simplesmente frustrante. Mas esta frustração saudável é toda sua força, sua sustentabilidade.

A lucidez dos ensaios é algo impressionante, e não é possível discuti-la satisfatoriamente aqui, porque ela se mostra em mil detalhes a cada página. Em pobres termos gerais, o ensaio sobre Schoenberg contém longas digressões sobre Berg, em especial o Berg de "Lulu", e Webern, elucidando comparativamente as diferenças entre os três músicos da Nova Escola de Viena, não para que fiquemos a elogiar gênios, mas sempre em referência aos imensos problemas estéticos que o dodecafonismo levantou, ou antes denunciou. As últimas 50 páginas de "Schoenberg e o progresso" são provavelmente o melhor texto sobre música que já li até hoje. E para tentar dar uma idéia do que seja o ensaio "Stravinski e a restauração", desculpem, só posso recorrer a um chavão: ele não faz concessão nenhuma a nada. Para explicar a politonalidade em Petrushka, por exemplo, Adorno transcende a explicação do "motivo popular" e da "caracterização de personagens em cena", e recorre à imagem de uma "feira" (desordem ou simultaneidade) em meio a uma "ordem cultural" burguesa que primeiro a coopta como uma espécie de exotismo "interno", para em seguida repeli-la como ameaça à própria ordem. Segue-se uma análise da Sagração da Primavera, obra em que essa "feira" já está consolidada em ordem e o primitivismo já não precisa de máscaras humorísticas. Palavras como "burguesia" e "música burguesa" são recorrentes: repito, é a arte sempre em relação com a sociedade.

"Stravinski e a restauração" está centrado na seguinte idéia: a música de Stravinski se caracterizaria por um "simples meio de espantar o sujeito para mantê-lo mais seguramente acorrentado". Para Adorno, a música de Stravinski é capitulação, obediência, adaptabilidade – tudo nascido do "ódio à espiritualização da música". Confesso que, antes de ler este ensaio, esperava encontrar nele um amontoado de preconceitos. Grave engano: Adorno desconstrói toda a música de Stravinski, sim: é um espetáculo semelhante a Roma em chamas. Mas em nenhum momento há má-fé, parece-me. O trecho mais questionável é aquele em que o "infantilismo" de Stravinski é posto em discussão num paralelo com a psicanálise freudiana. Mas ainda este trecho é impactante. E Adorno explica cada sentença por meios que vão desde referências históricas à tradicional música alemã até citações precisas de compassos em partituras. Estranhamente, este ensaio só fez aumentar minha curiosidade por Stravinski.

Vamos às considerações finais. A "Filosofia da Nova Música" já passou por selvagem e incompreensível. Não o é, definitivamente. Quem quer que tenha, além de afinidades com as fontes teóricas de Adorno (acima citadas), um mínimo conhecimento de história da música, em especial do século XX, é capaz de ler este livro fantástico. A única dificuldade séria é o estilo, elaborado em demasia. A obra é toda escrita em torrentes, e há idéias complexas agrupadas em número de dois ou três em um mesmo parágrafo ou período, indicação clara de que o texto teve várias redações, e a versão final prioriza uma escrita totalmente anti-esquemática (nem capítulos há). Como diria Nietzsche, não é um livro para ser apenas lido, mas ruminado. Adorno bem poderia ter ajudado o leitor, por exemplo dividindo as imagens que desenvolve para explicar Stravinski (1 – "infantil-regressivo"; 2 – "especialista"; 3 -... etc.) ou ordenando seu texto de forma semelhante - e olhem que ali muitas formas eram possíveis.... Não o fez, no entanto, e nem por isso seu texto é menos profundo. A estruturação do texto existe, ela apenas não é imediatamente visível. Nada que uns bons grifos não resolvam, para dizer a verdade.

Fica aí dado o recado. Raramente leio um livro duas vezes. Ratos de biblioteca, entre os quais me incluo, frequentemente têm a sensação de que seu tempo útil de vida é curto demais para ler tudo o que se quer. "Filosofia da Nova Música" é um livro que seguramente lerei de novo.

Desculpem meu texto longo, povoado de falhas de estruturação e provavelmente muitas de análise também. Mas este é um livro que me ensinou bastante coisa, queria dar a dica pra todo mundo.

abraço a todos

sombriobyte

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Mensagem por Siegfried 28/4/2019, 20:17


Sombriobyte,
Eu li as primeiras páginas do ''Stravinsky e a restauração''. E é evidente que eu não gostei. A visão de música que Adorno tem é tão distinta da de Stravinski que acho que seria melhor que ele não comentasse.

Agora estou sem tempo e sem base bibliográfica para escrever sobre o assunto, mas prometo que apareço em breve comentando este ensaio do Adorno.

sds latinas
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Mensagem por Siegfried 28/4/2019, 20:20


Nos últimos tempos peguei para ler esses livros, alguns terminei, outros ainda leio:

"História Verdadeira" - Luciano de Samósata
"Das Knaben Wunderhorn" - Achin von Arnin, Clemens Brentano (*)
"História" - Heródoto
"Helena" - Eurípides
"Agamêmnon - Coéforas - Eumênides" - Ésquilo
"A Dama de Espadas" - Púchkin (*)
"Obras Completas" - Catulo

Os dois livros marcados com (*) têm alguma relação com a música. O Das Knaben Wunderhorn exerceu longuíssima influência sobre a música, desde Schubert (no quarteto "A morte e a donzela'') até Mahler, que usou bastante dessas meio toscas, mas profundamente belas, canções medievais.

A novela "Dama de Espadas" de Púchkin gerou uma divertida ópera de Tchaikovski.
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Mensagem por sombriobyte 29/4/2019, 01:53


Siegfried,

Concordo com você quanto ao Adorno ter uma concepção de música bem diferente da de Stravinski. Mas isso não quer dizer muita coisa, já que é simplesmente óbvio. Só não posso concordar com o seu desejo, de que ele ficasse calado.

Desenvolvendo uma ideia de minha mensagem anterior, uma coisa que me impressionou bastante nesses ensaios é a negação de uma crítica abertamente fundamentada no gosto, na ideia de leveza, de fruição.

A questão da fruição faz parte de qualquer discurso sobre a arte, mas provavelmente em nenhuma outra, que não a música, ela assume tão facilmente e de modo tão preponderante o papel de "fundamento" desse discurso. Eu sempre achei que isso se devia ao caráter abstrato da música. Imagine se comentássemos literatura como comentamos gravações de discos? Não é que eu não admita a fruição especificamente sensível da música, longe de mim isto. Eu apenas acredito que esse tipo de atitude, quando radicalizada, é capaz de levar à mais grosseira alienação por um mercado povoado de objetos que, quanto mais úteis, mais inúteis. A substituição da "vida" por um sistema de opressão econômica, só isso. Essa ideia nem é muito original, não é mesmo?

É justamente esta perspectiva que me atraiu nesses dois ensaios de Adorno. Não que ele não tivesse gosto musical, não fosse capaz de "apreciar", no sentido mais superficial da palavra, uma certa música. Mas esse gosto musical não funda a escrita dele, e é isso que é admirável. Não se esqueça de que esses textos foram produzidos em um contexto político (e espiritual, por que não?) tão distante de nós que só com muito esforço se percebem os "barcos queimados" de autores e artistas desse período, tais como Malraux, Sartre, Camus, o próprio Schoenberg, o cinema alemão...

Eu gosto muito da música de Stravinski, ao contrário do que possa parecer, e já li livros interessantes sobre ele. Alegra-me, no entanto, ter encontrado um que não tem a menor pretensão de despertar interesse, que trata do assunto de outro modo e a partir de outros pontos de vista.

Não se trata de "aposentar" o germanismo do pensamento musical. Trata-se de incorporá-lo, de admiti-lo, sem renunciar (na medida em que isso possa ser feito com coerência) a outras concepções possíveis. Antropofagia mesmo. Também conheço a força do caráter sensual da música, que existe em Vivaldi, Mozart, Stravinski. Mas o expressionismo (em sentido abrangente) atrai-me o suficiente para que eu me ponha afastado de niilismos.

Espero que você goste de "Stravinski e a restauração", e aguardo sua opinião assim que você terminar a leitura. As últimas 10 páginas são as menos interessantes do ponto de vista da análise, mas as mais ácidas quanto à opinião do autor, que julga aceitável, por tê-la fundamentado muito bem anteriormente, discorrer com mais liberdade sobre o "pior" da estética stravinskiana. Você aceita uma sugestão de boa-fé? Não se deixe impressionar muito por esses trechos: o melhor está bem antes.

Aliás, o ensaio "Schoenberg e o progresso" é bem mais pesado que o que o sucede. Gostei mais do primeiro, para dizer a verdade, embora sua leitura tenha me custado bem mais tempo e energia. Se você puder ler esse também, não vai se arrepender.

sds

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Mensagem por Eugene Hector 29/4/2019, 16:13


"Retrato de uma senhora" - Henry James
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Mensagem por Frederico Mercúrio 18/5/2019, 15:47


O Enigma Vivaldi, de Peter Harris, apesar de ser mais um pastiche dos thrillers de Dan Brown do que um romance que pudesse explorar mais a vida e a obra de Vivaldi.
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Mensagem por Trovador 5/6/2019, 19:35


Terminei o dr. Fausto, estou em êxtase.

Três temas para discussão:
.O próprio Dr. Fausto, o que acham dele.
.A ópera sobre Fausto proposta no "Adolescente" de Dostoievski.
.Os nomes dos protagonistas do Memorial de Aires: Tristão e Fidelia.

Para terminar, o que dizem das adaptações de obras literárias para a música, como os Faustos (Goethe e Lenau) de Gounod, Liszt e Berlioz, o Dr. Fausto (Mann) de Busoni, Memórias da casa dos mortos (Dostoiévski).
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Mensagem por Alquimista 5/6/2019, 20:05


Só para começarmos a discussão, porque não estou com tempo para escrever muito:

- O Dr. Fausto é uma obra sublime, que traz em si um genial paradoxo: a doença da Alemanha (colocada como algo demoníaco) que prometia àquele povo o Reich de mil anos (a realização do ideal fáustico de poder), e que acaba por arruiná-lo (e que também surge de uma espécie de paixão) é posta em paralelo com a doença do protagonista, que, durante o período de vida que lhe resta, poderá realizar um ideal fáustico estético. Ambas as "doenças" surgem de paixões: o irracional arrebatamento nazista e a efêmera e misteriosa paixão pela prostituta que o deixa sifilítico. O paradoxo reside no seguinte: o mesmo "diabo", sob formas diferentes, permite, no escoar da ampulheta, a realização do ideal estético (que ocorre porque o protagonista sabe que não pode adiá-lo, pois seu termo final está definido) e, simultaneamente, castra e essa mesma criação estética (a doença da Alemanha faz da obra do compositor algo clandestino, proibido, tido por decadente). Subjacente a isso, está a idéia de Goethe do "sou o espírito que nega". Nega a si próprio.
Há muito mais. Mann escreveu uma obra magnífica, cheia de metáforas, repleta de aspectos políticos, emocionais e estéticos, impossíveis de abordar em uma só mensagem.
Nunca ouvi o Fausto de Busoni. Creio que, alguém que tenha ouvido, poderá alavancar a discussão.
Li o Memorial de Ayres há mais ou menos uns onze anos. Vou reler e pensar no assunto.

Não li o "Adolescente"de Dostoiévski.

Fausto de Gounod. Divertido. A cena de Margherite na Igreja tem grande efeito dramático. Salut Demeure é uma bela ária. Só. Lizt: ouvi só duas vezes. Gosto, mas nunca parei para analisá-la de verdade. A Danação de Fausto de Berlioz: belíssima obra. Berlioz faz uma leitura interessante de Goethe, embora, quando do lançamento do Segundo Fausto, ele tenha se agarrado, possivelmente, em Lenau (que, a seu turno, é uma releitura do Primeiro Fausto de Goethe).
Apesar de usar a estrutura do primeiro Fausto de Goethe (salvo o final), a atmosfera da obra é fruto de uma leitura muito pessoal de Berlioz. Margherite é muito bem delineada. Fausto, porém, é mais contemplativo (em sua música), que o Fausto de Goethe.
Se eu fosse capaz de compor uma ópera sobre o tema, meu Fausto seria barítono e meu Mefistófeles um tenor de voz sedutora.
Creio que o Fausto, com as duas partes, é praticamente inexequível como ópera.
Boito tentou. O prólogo é antológico. O resto não passa de uma boa tentativa. A cena final, com um Fausto carola, demonstra que Boito não entendeu muito bem o espírito da obra ...

Recordações da Casa dos Mortos de Janacek: Boa tentativa. Consegue, em muitos momentos, uma atmosfera: "Dostoievskiana". Na verdade, devo reconhecer que ele fez quase um milagre. Recordações... é um monumento literário, um dos meus romances favoritos, mas é, talvez, um dos romances mais psicológicos do autor. Mais que ele, acho que só o Crime e Castigo. Dostoievski, na verdade, não descreve fatos ou pessoas: descreve impressões e personalidades. Além disso, a obra é toda formada por episódios. Fazer um libreto de ópera em cima disso é um trabalho hercúleo. Janacek até que conseguiu criar uma ópera que mantém muito de Dostoiévski e, ao mesmo tempo, tem alguma unidade narrativa, necessária ao teatro lírico.

Continuamos depois.
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Mensagem por sombriobyte 6/6/2019, 02:02


Alquimista,
Você escreveu pouca coisa, hehe.
Um fato interessante, que, embora falem tanto de Schönberg, Adrian é mais um Nietzsche, em muitos aspectos, até com um pouco de Zaratustra. Outra coisa bastante interessante é quando Adrian diz querer apagar a Nona de Beethoven, inclusive fazendo sua Lamentação do Dr. FAusto com uma estrutura (como é relatado no próprio livro) inversa à Nona de Beethoven. Significando o fim e a negação do passado, na minha opinião, do Romantismo, da Alemanha, e do próprio Goethe. O pacto com Diabo é mais uma fuga, uma desadaptação do artista em seu mundo, ao mundo normal (fato típico de Mann), há um trecho (na casa dos Rodle) em que há um metaforazinha da arte de massa, significando que a Guerra (menos ela e mais seu mundo, algo como vai ser O Tambor) e a doença levarão toda a glória apenas ao passado. A Lamentação (assim como o próprio livro) e a consciência desse fato, Alemanha e Adrian são paralelos, na verdade são ambos. Adrian é o espírito alemão, que é esmiuçado em cada parte desse livro, e Zeitblom, o humanista, não é ninguém mais que Thomas Mann. É essa minha primeira ideia do livro.

A música está muito presente no Memorial de Aires, Machado, várias vezes, já ironizou a montagem de óperas alemãs no Rio (não desmerecendo eles, mas a nós). Tristão e Fidélia (que vieram da Europa) são como se fossem filhos para um casal brasileiro, me parece ter uma pequena referência à nossa produção artística.

Para mim Fausto deveria ser um tenor heróico (típico do homem de ação e ambição) e Mefistófeles ou um Barítono Francês (Pelleás), ou ainda um tenor lírico, são vozes sedutoras e sensuais.

Sobre entender o espírito da obra, já ouviu a Oitava de Mahler, aquela é a cena final do Fausto?

Eu também não li o Adolescente (estou lendo), mas essa passagem já me relataram.

Estou doido para ouvir esta ópera (gosto muito de Janácek), quando, onde e quando você ouviu?

Sds

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Mensagem por Alquimista 6/6/2019, 06:26


Ouvi a ópera de Janacek - que se chama "Na casa dos mortos" - pela primeira vez em uma transmissão de rádio, em meu vetusto rádio de ondas curtas. Gravei a obra em fita, usando um microfone e, obviamente, um gravador. Você deve imaginar o resultado. Ouvi com esforço mais duas ou três vezes e resolvi desgravar. Hoje, em cima da Casa dos Mortos está um trecho do Lohengrin do Windgassen.
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Mensagem por Siegfried 20/6/2019, 01:11


Estou lendo a tradução brasileira da "Filosofia da Música", de Adorno, publicada pela Editora Perspectiva. São dois longos ensaios, de uma lucidez impressionante, sobre Schoenberg e Stravinski. Jamais vou compreender porque já tacharam este livro de "ilegível". Vai ver é ilegível em alemão... riso 2

Cito o livro porque foi uma enorme descoberta para mim. Tendo em vista os compositores que focaliza (ou seja, que já contam com vasta bibliografia), minha expectativa em relação a ele era a de ler uma "crítica antiga", portanto necessariamente sem nenhum tipo de "distanciamento histórico" e em que transparecessem um ou outro momento "profético" que afirmassem a habilidade do autor. Grosso engano: está ali toda a fundamentação da crítica atual de música, e talvez até mais. Difícil ver mais longe que ele. Coerente até no estilo, é um livro profundo sobre uma música profunda.

Está dada a dica.
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Mensagem por Siegfried 20/6/2019, 01:13


Um dos maiores expoentes da chamada Escola de Frankfurt, Adorno foi mais filósofo que músico - Adorno era compositor, no sentido de que ele estudou composição. Escreveu pouca música, que aliás nunca ouvi. Como crítico musical, foi provavelmente o maior de seu tempo, tendo sido árduo defensor da música nova (Escola de Viena principalmente). São dele conceitos polêmicos e discutidos até hoje como "indústria cultural" e "música séria".
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