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Música Colonial do Brasil

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Música Colonial do Brasil - Página 2 Empty Re: Música Colonial do Brasil

Mensagem por Cachorrão 18/12/2019, 18:24


Quando falamos de nossos compositores dos séculos XVIII e XIX, sempre os colocamos na categoria "música colonial brasileira".
Nunca nos referidos a eles como barrocos, clássicos ou românticos.
Outro dia, abrindo um site de partituras (free-scores), havia uma sinopse em inglês sobre Pe. José Maurício e nela dizia que ele foi um dos expoentes do classicismo nas Américas.
E aí???
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Música Colonial do Brasil - Página 2 Empty Re: Música Colonial do Brasil

Mensagem por Alquimista 18/12/2019, 18:42


Olha esse trecho de uma reportagem:

Difícil imaginar expressão mais desgastada que "barroco mineiro". ''Foi um equívoco desgraçado", afirma o regente Ernani Aguiar, membro da Academia Brasileira de Música. "O Curt Lange, que era engenheiro, disse para mim que usou a expressão para chamar a atenção, já que as igrejas de Minas eram barrocas." "A música mineira era pré-clássica, não tinha nada de barroca", afirma o historiador da música e produtor da rádio Cultura FM Maurício Monteiro. "Hoje, mesmo o caráter barroco daquelas igrejas é discutido."

Em sua tese, Castagna não só descarta o termo "barroco mineiro" como evita a expressão "música colonial". "O que é "música colonial'? Música que coloniza? Prefiro falar em música na América portuguesa, ou nos séculos 18 e 19, ou ainda em música tridentina, já que essa é a liturgia que vigorou até 1904."


Quem se interessar em ver essa reportagem na íntegra, e outras sobre a musica colonial, acha nesse site:
http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/musica_5.htm
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Mensagem por Freud explica 18/12/2019, 18:58


Mais um detalhe. Segundo o maestro Roger Cotte (já falecido) o termo correto deveria ser "música clássica", já que segue os canones clássicos de composição. O termo "barroco" tem sua origem na arquitetura e deveria ser empregado apenas nesta área.
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Mensagem por Arcano 18/12/2019, 19:08


O problema é que o que se chama de "música colonial" engloba estilos que vão desde o barroco (ou até antes) até o quase romântico. E esses estilos são um pouco diferentes dos equivalentes europeus, então é um pouco difícil classificá-los com os mesmos termos... Quanto ao Pe. J. Maurício, a meu ver seu estilo está mais próximo do clássico europeu.
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Mensagem por Cachorrão 18/12/2019, 19:16


Pois é, mas aí o termo "música colonial" não se torna um meio que "invertebrado gasoso"? Abrange um período cronológico mas não expressa quase nada?

A impressão que dá é que isso é como uma mesa cheia de papéis espalhados: como a gente não tem tempo para ficar separando e guardando cada papel no seu devido lugar, pega tudo, faz uma pilha e bota numa caixa pra "um dia" botar no lugar - só que dentro da caixa tem de tudo. E aí botamos uma etiqueta : "Papéis diversos", ou se quiserem, "Música Colonial". É isso?
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Mensagem por Freud explica 18/12/2019, 19:22


Na verdade é mais ou menos isso mesmo. Como disseram, Música Colonial abrange um período políto e não musical... Um estudo mais apurado, uma divisão de tempo e estilo deveria ser pensada. A nossa música de barroca mesmo nao tem nada....
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Mensagem por Freud explica 18/12/2019, 19:23


"Invertebrado gasoso"...

Esta é ótima. Falta especificar a "raça". MUAHAHAHAHAHAHA!
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Mensagem por Alquimista 18/12/2019, 19:42


E que tal Música do Brasil Colonial?
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Mensagem por Cachorrão 18/12/2019, 21:40


Melhorou.
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Mensagem por Cachorrão 18/12/2019, 21:40


Vamos fazer uma relação do que existe de obra instrumental profana do Brasil colonial?
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Mensagem por Arcano 18/12/2019, 21:55


Bom, até o início do período imperial vai dar em uma folha de almaço (e com letra grande). Meu grupo fez dois programas com música profana encontrada a duras penas e com ajuda dos nossos amigos musicólogos. A partir do século 18 fica bem mais fácil, mas é tudo (TUDO) modinha. Aí vai precisar de um fichário bem grande. Eu tenho um catálogo de partituras só de modinhas luso-brasileiras (quase impossível separar uma da outra), e são nove volumes.
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Mensagem por Alquimista 18/12/2019, 22:20


De Minas...

Instrumental profana? Só existem 3, sendo que uma das peças eu já falei aqui (a Sonata Sabará). Existe uma marcha que creio ser do Marcos Coelho Neto e uma abertura do Padre João de Deus de Castro Lobo. Existiam teatros em alguns lugares das Minas e se fazia ópera muitas vezes em praça pública, entretanto essas peças não tiveram a proteção que as peças religiosas receberam, pois estas ficaram nos arquivos das bandas mineiras e, mesmo assim, sob frágeis condições.
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Mensagem por Cachorrão 18/12/2019, 23:10


Eu encontrei Música de Câmara até 1820!
A saber, 2 Quartetos, 1 tema e Variações pra flauta e orquestra (1793) de J. F. Correa Lisboa, sem contar as Variações pra Fagote do Neukomm atribuídas a D. Pedro I...
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Mensagem por Alquimista 18/12/2019, 23:42


A propósito, colonial pra mim é até o ano da vinda da corte portuguesa para o Brasil. Esqueci de dizer, existe uma boa quantidade de música profana, especialmente modinhas brasileiras do século XVIII disponíveis até em partituras vendidas em grandes livrarias e universidades.
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Mensagem por Cachorrão 19/12/2019, 00:03


E a sonata Sabará que você falou, de que ano é?

Tem-se alguma ideia do período aproximado em que foi composta?
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Mensagem por Alquimista 19/12/2019, 00:29


Acredita-se que é do final do séc. XVIII ou princípio do séc. XIX (+-1800).

Ela é a única sonata integral para teclado do período colonial brasileiro.
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Mensagem por Frederico Mercúrio 19/12/2019, 00:57


Lobo de Mesquita é, na minha opinião e da maioria dos pesquisadores, o maior do período colonial (o padre José Maurício não seria considerado um músico colonial). Alguém gostaria de discutir sobre ele? Tenho músicas, sei de trechos de sua vida, etc.
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Mensagem por Frederico Mercúrio 19/12/2019, 01:00


Bem...

Ele viveu a maior parte de sua vida, de 17?? até 1798 no Arraial do Tejuco (atual Diamantina), onde produziu a maior parte de sua obra hoje conhecida. Tocava órgão em 3 igrejas, além de compor e reger para outras irmandades. Era membro da Ordem de Nossa Senhora do Amparo dos Pardos, donde se deduz que fora mulato. Em 1798 muda-se para Vila Rica por razões não totalmente esclarecidas. Lá fica amigo do grande músico Francisco Gomes da Rocha, e toca órgão para a Igreja do Carmo, e na matriz de Nossa Senhora do Pilar. Deixa Ouro Preto onde o amigo assume suas funções junto à Ordem Terceira do Carmo, e vai para a capital da colônia, Rio de Janeiro, conseguindo cargo permanente como organista na importante Igreja do Carmo do Rio. Sofre a restrição do trabalho de compositor por uma intriga de um músico apadrinhado por chefes da ordem, e é provável que tenha dado lições de órgão ao Padre José Maurício Nunes Garcia. Morre em Abril de 1805.
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Mensagem por Frederico Mercúrio 19/12/2019, 01:02


Tenho dele muita coisa gravada:

Missa em mi bemol, missa em fá com cello oblligato, antífona Salve Regina, várias ladainhas, responsório de Santo Antônio, Tercio, antífona benedicta est venerabilis, matinas para sábado santo, gradual para o domingo de ressurreição, um excerto da procissão para o domingo de ramos, etc.
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Mensagem por Alquimista 19/12/2019, 01:17


Obrigado pelas valiosas informações, grande Frederico!!!
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Mensagem por Alquimista 19/12/2019, 01:21


Marcos António da Fonseca Portugal, o compositor português mais famoso na Europa no início do século XIX, marcou com seu estilo a produção musical do período de D. João no Brasil.

Nascido em 24 de março de 1762 em Lisboa, aos quatorze anos escreveu sua primeira obra musical, um "Miserere". Mais tarde, já músico profissional, trabalhou como compositor e organista na Sé Patriarcal, e tornou-se maestro no Teatro do Salitre, também em Lisboa. Viveu na Itália de 1792 a 1800 patrocinado pelo Príncipe Regente D. João, onde suas primeiras óperas conquistaram grande sucesso nos principais teatros de Nápoles, Florença e Milão.

Ao retornar a seu país em 1800, coberto de prestígio, foi nomeado maestro do Teatro de São Carlos em Lisboa, e Mestre de Música do Seminário da Patriarcal. Apesar de sua proximidade com D. João, permanece em Portugal até 1811, quando o príncipe exige a sua presença na corte do Brasil. Ao chegar, foi nomeado professor de música dos filhos e filhas do Príncipe Regente, e tornou-se o compositor oficial de sua Capela Real.

Ao longo de sua vida, escreveu mais de 50 óperas e quase 200 obras sacras, notáveis pela exuberância e virtuosidade vocal, no estilo do bel canto italiano, que tanto agradava à corte portuguesa. Marcos não mais deixou o Brasil, até sua morte em 1830. As razões pelas quais não retornou com D. João VI a Portugal não são claras, dada a estreita ligação entre os dois. Apesar do reconhecimento que sua música encontra no público da época, a necessidade de afirmação de valores nacionais em fins do século XIX transformou Marcos no símbolo do alienígena indesejável. Esse sentimento cristalizou-se na Semana de Arte Moderna em 1922, quando considerou-se Marcos como o responsável pela sombra que ocultou a carreira de José Maurício. Enquanto que a música de Marcos era pintada como "vazia" e "insignificante", a Missa de Réquiem do mulato José Maurício era considerada "genial" por Mário de Andrade. A quase inexistência de gravações dificulta a apreciação de sua arte hoje. Seu nome, fadado ao ostracismo pela intelectualidade brasileira antropofágica, nem ao menos mereceu a honraria de batizar uma das cadeiras da Academia Brasileira de Música, fundada em 1945.

Seu Requiem foi escrito para as exéquias da Rainha Maria I, em 1816, e utiliza todo o instrumental da Real Capela, que contava com quase 50 músicos na época. As árias exigem cantores de grande virtuosidade e extensão vocal, como os "castrati" que haviam sido trazidos por D. João. O manuscrito original ficou esquecido no Arquivo da Catedral do Rio de janeiro por quase 200 anos e foi editado especialmente pelo pesquisador Antonio Campos Monteiro. Felizmente foi preservado da "queima de papéis velhos" promovida em algum momento entre 1902, em que a relação de obras enumerava 300, e 1922, quando menos de 100 manuscritos foram repertoriados.
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Mensagem por Alquimista 19/12/2019, 01:29


Antes de Marcos Portugal chegar ao Brasil, os religiosos portugueses que vieram com Dom João tentaram impor regulamentos que evitassem que "pessoas com defeito físico" (clara alusão à cor de José Maurício) entrassem na capela real.
E antes mesmo de Dom João sequer pensar em vir ao Brasil, José Maurício teve que implorar ao bispo que não levasse em conta seu "defeito de cor" para que lhe fosse permitido ingressar no seminário, alegando que o "defeito de cor" não era empecilho para as qualidades que ele tinha.
Entre 1808 e 1811 (quando Marcos Portugal chegou ao Brasil), quando José Maurício era sozinho Mestre da Capela Real, os músicos portugueses escancaradamente boicotavam os ensaios, faltavam, não estudavam, não se preparavam, comprometendo as apresentações programadas.
Enfim, com certeza Marcos Portugal tinha preconceito em relação a José Maurício, mas era apenas mais um. Não era "O" vilão, mas fruto de uma sociedade preconceituosa e escravocrata.

Mas também é fato que, após a independência do Brasil, houve excessos na corte que acarretaram uma situação financeira delicada, o que fez com que os salários dos músicos da Capela Real começassem a sofrer atrasos e reduções "não oficiais" que beiraram o insuportável. Assim, houve um período em que todos os músicos - incluindo José Maurício e Marcos Portugal - passaram por sérias dificuldades. E, coincidindo este período com os últimos anos de José Maurício, é de se pensar que morreu numa situação muito menos próspera.

José Maurício, enquanto Mestre de Capela, tinha que pagar os músicos, e estes recursos lhe chegavam com meses de atraso, e por vezes em valor menor que o necessário - possivelmente uma das maneiras de boicotar seu trabalho. Assim o compositor se via obrigado a adiantar o salário dos músicos com seus próprios recursos, e chegou certa vez a tomar um empréstimo vultoso que lhe desequilibrou seriamente as finanças. Até a casa da rua das Marrecas entrou no rolo, sendo hipotecada, e resgatada posteriormente com a ajuda de amigos.

Enfim, sobre a miséria de José Mauricio, estou acabando de ler o livro do Vasco Mariz (A música no Rio de Janeiro no tempo de D. João VI), e ele também fala dos problemas financeiros de José Maurício, iniciados principalmente após a volta de D. João a Portugal - sua pensão deixou de ser paga e as atividades da Capela Real diminuíram drasticamente - o Brasil de D. Pedro I estava quebrado.
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Mensagem por sombriobyte 19/12/2019, 02:33


Curioso como nossa história costuma ser um bordado de informações de segunda mão, patriotadas e ufanismos baratos. Na época da ditadura militar um político quase foi preso por atrever-se a falar mal do Duque de Caxias. Para provar santidade e dedicação acima do esperado, o padre Maurício precisou ter morrido na miséria. E por aí vai. Acho por demais útil estas informações que vão nos situando mais adequadamente no panorama político e musical brasileiro. Agradeço ao amigo que traz tantas novas informações. Por favor, continue.

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Mensagem por Alquimista 19/12/2019, 02:48


Assim como corre-se o risco de sermos ufanistas, também corre-se o risco de não contextualizarmos dados. Acho que muita pesquisa está por ser feita, e muitas coisas provavelmente nunca conseguiremos esclarecer por completo, porque nossos arquivos são tratados, na maioria das vezes, como papel velho que só serve pra jogar no lixo.
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Mensagem por Alquimista 19/12/2019, 02:52


Seria a miséria de José Mauricio apenas suposta?

Trecho do livro de André Cardoso - "A Música na Capela Real e Imperial do Rio de Janeiro" - publicado pela Academia Brasileira de Música (págs 79/80)

"Surpreendentemente, o compositor (Marcos Portugal) não retornou à Lisboa com D. João VI e parte da Corte em 1821. Seus problemas de saúde e a idade podem tê-lo levado a depositar suas esperanças no novo governo de seu aluno, D. Pedro I. A situação econômica do Brasil, porém, não discriminou nem mesmo o mais prestigiado compositor português. Com seu salário na Capela Imperial reduzido, Marcos Portugal passou a residir na casa da Marquesa de Santo Amaro, aonde veio a falecer.
A situação financeira de Marcos Portugal era mais confortável que a de José Maurício pelo fato dele exercer o cargo de professor de música das princesas imperiais, que lhe rendia anualmente 480$000 réis. É surpreendente, entretanto, que um compositor que foi um dos mais executados de seu tempo, com óperas encenadas pelos teatros de toda a Europa e que contou com a proteção especial do Rei, ocupando cargos importantes, tenha chegado ao fim da vida sendo obrigado a morar de favor na residência de outra pessoa."


Bom, se Marcos Portugal morreu nessa situação, não há porque pensar que o destino de José Maurício tenha sido melhor...

Na verdade, o que alguns pesquisadores alegam não é que o salário pago em 1808 era baixo, mas sim que, depois do retorno de D. João VI a Portugal e, principalmente, após a proclamação da independência, a situação financeira do governo entrou em crise, então que havia sim atrasos e reduções de salário... isso depois de 1822, e não em 1808. Além do mais, lembra André Cardoso que naquele tempo também havia inflação, e os salários recebidos em 1808 por José Maurício e Marcos Portugal eram exatamente os mesmos 22 anos depois, quando morreram em 1830.
As circunstâncias da morte de Marcos Portugal (morando de favor) e o fechamento da escola de música que o Pe José Maurício mantinha com seu salário são apontados como indicativos de que ambos andavam mal financeiramente.

Enfim, compare as leis trabalhistas do século XIX, quando até a escravidão era legal, com as de hoje...
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