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Idade das Trevas?

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Mensagem por Martinho Lutero 14/4/2020, 14:59

Vlad, Justino de Roma precedera a Patrística...

Mas eu ainda fico na perspectiva que a Antiguidade perdurou após a queda da capital. Tem uns tempos que eu aderi àquela perspectiva da análise de sistemas históricos, e dentro dela há uns arranca-rabos no sentido de quando realmente houvera um Sistema-mundo, se só com o capitalismo histórico ou não, e se a Europa emergira em algo novo, ou se ela continuara um processo em que outros sistemas estavam prosseguindo, etc. Mas uma coisa essa perspectiva analítica deixa pra mim certo é que esse período de mil anos não pode ser amalgamado em apenas um nome.
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Mensagem por Vlad Tepes III 14/4/2020, 15:10

Interessante.
Fale-me mais de Justino de Roma, não o conheço.
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Mensagem por Vlad Tepes III 14/4/2020, 15:16

kbr escreveu:
Também gostaria de saber o que a filosofia medieval representou.

Como Martinho já disse, a filosofia da Europa Ocidental entre IV e XIV é bem diversificada apesar de ter em comum a Cristandade ou a negação dela, mas de algum modo se dirigindo a ela, e de variar também de sonolenta a inovadora.

Mas note que a grande importância do período medieval da Europa cristã ocidental é ser o PERÍODO FORMATIVO por excelência da civilização ocidental (que atualmente nem é exatamente cristã, mas agnóstica) que dominou o mundo todo para o bem ou para o mal. Neste período formativo foram formuladas todas as importantes perguntas que ainda nos assombra. Neste período foram dadas algumas respostas a elas, mas para outras perguntas somente após este período surgiram algumas respostas. A filosofia foi uma das formas de encontrar estas respostas. Algumas destas perguntas vitais:

1. Quem deve predominar, Igreja ou Estado? Resposta só foi dada no fim da fase "moderna" desta civilização. NÃO!
2. Devemos determinar nosso pensamento pelas nossas crenças ou o oposto? Pergunta sem resposta ainda hoje.
3. Que importa mais, a coletividade ou o indivíduo? Também permanece a ser respondida.
4. Preservar tradições seguras ou adotar inovações racionais, mas que ninguém conhece os riscos? A idade contemporânea optou pela ousadia da segunda opção.
5. Submeter todos a lei consentida por todo povo ou a lei criada por quem tem mais conhecimento no assunto? Há uma tendência a seguir a primeira opção, mas todos conhecemos o que pode gerar a decisão repousada sem tecnocracia.
6. Um sistema internacional previamente acordado deve ter mais força que um Estado nos negócios deste Estado? A opção realista é NÃO. Por outro lado, já diziam os romanos pré-cristãos: "quem nos protege de nossos protetores?"

A Igreja e a filosofia medievais sugeriram respostas a todas elas. Se eram as respostas corretas são outros 500...
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Mensagem por Martinho Lutero 14/4/2020, 15:29

Vlad, eu diria que algo que permeia a filosofia medieval no geral, com nuances variando, é claro, é uma questão pra mim prima facie em gnoseologia:

Se pergunta como começa a interrogação pelo saber, se se crê para compreender, ou se pela dúvida.

Eu diria que, entre os dois lados da moeda representados, digamos que entre Anselmo e Abelardo, havia um núcleo comum, mais básico, que unia e possibilitava o diálogo entre eles: o espanto, ou melhor, o pasmo. Algo já vindo de Platão, mas que com eles adquiriu o tom positivo, de "vislumbramento", enquanto em Platão predominava o negativo.

Isso seria importante hoje quando discutimos a questão entre a relação do conhecimento científico com a concepção de natureza, na busca de novos valores dado a situação-limite a que nos aproximamos. Também em resposta aos dilemas do conhecimento entre os mais "realistas", da modernidade, e os mais "quase solipsistas", da pós-modernidade. Eu tenho relido "O Homem Revoltado", do Camus, e o impasse que ele sempre evoca na tensão entre racionalismo e niilismo, que ele não consegue resolver, e isso não sai da minha cabeça.

Outra importância pra mim das filosofias medievais é a relativa convivência que faziam entre o transcendente e o imanente, entre a esfera da liberdade e a necessidade - longe de delirar num ideal, reconhecendo que nunca conseguiram uma sintonia perfeita, mas sempre uma tensão que possibilitava o empreendimento continuante e não-estacionário, que começou a se perder quando um realismo extremado suscitou uma resposta nominalista extremada.

Acho que se há algumas coisas a se revisitar nela, seria esse nível gnoseológico, entre o cosmo, a mente e os entes particulares, sobretudo o impacto de Francisco de Assis, paradoxalmente alguém alheio à querelas filosóficas, agregou mais ainda em termos de atitude positiva entre o tradicional e o novo.
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Mensagem por Martinho Lutero 14/4/2020, 15:41

Justino de Roma, ou Justino Mártir, não elaborara uma obra sistemática como Clemente, Orígenes, os Capadocianos, etc. Mas a abordagem e os escritos dele, dada a conjuntura, serviu como um imprescindível pilar para a Patrística. Vivem +/- entre 100 e 160 d.C. Ele antes empreendera uma busca em várias escolas filosóficas de então, não dando certo tanto por desavenças com os instrutores quanto insatisfação por não encontrar o que buscava. Primeiro no estoicismo, depois aristotelismo, os pitagóricos, e finalmente no platonismo.

Depois ele relata ter encontrado com um ancião, perto do mar, em Éfeso, e discutiram sobre o Velho Testamento e Cristo. Ele confessara que então já era intrigado com os martírios cristãos, e a partir daí ele se tornou um, e dissera que "assim e por esta razão eu sou um filósofo", e começara a usar enfim a capa de filósofo. Das obras que sobreviveram, temos "Diálogo com Trifo", um diálogo profundo com um mestre judeu sobre o cristianismo. I Apologia, endereçada ao Imperador, e II Apologia, endereçada ao Senado. Aquela ideia de Dante, que via os sábios "pagãos" como a altura relativa de grandes nomes do A.T., já vinha com Justino, que escrevera "o Verbo de quem toda a humanidade compartilha. Aqueles que viveram razoavelmente com o Verbo são cristãos, embora tenham sido chamados de ateus, por ex.: entre os gregos Sócrates, Heráclito e homens como eles; entre os bárbaros [não-gregos] em Abraão..."

Ele via assim uma continuidade entre a filosofia e o cristianismo, sendo que o último proporcionaria o que ela não poderia chegar por si mesma, na ótica dele, manifestando a razão mais profunda que habitava nela. Ele foi julgado por ser cristão, exortado a sacrificar aos deuses, e não renunciando, executado após 160.
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Mensagem por Imhotep 14/4/2020, 17:54

Pessoal, acho importante também neste tópico de tratar um pouco a respeito da ciência no Oriente, em especial no mundo muçulmano, na Índia e na China, que até por volta do século XVI ou XVII estiveram à frente da Europa nesse quesito. O mundo muçulmano produziu nomes como al-Khwarizm (dele deriva a expressão algarismo), Avicena, Averróis, dentre tantos outros nomes. O curioso é que quando chega lá para o século XIX só dá europeu na ciência. Como que essa inversão de papéis aconteceu? O que aconteceu com a ciência oriental após as grandes navegações e como a ciência européia a suplantou?
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Mensagem por Gárgula 14/4/2020, 19:24

O que aconteceu com a ciência oriental é que ficou parada e não evoluiu. Por outro lado, o que aconteceu é que houve sempre muito mito a respeito da ciência do oriente, e na verdade, entendida a ciência como se entende hoje, a ciência realmente emerge e explode no Ocidente a partir do século XVI, e por isso se lhe chama Revolução Científica. Porque antes dela a ciência havia sido muito escassa. O verdadeiro pulo da ciência moderna acontece no século XVI e é a Europa que faz possível isso.

Mais na frente terei sumo prazer em passar-lhe mais informação.

Por certo. A civilizaçao grega não era europeia? O que acha você? Eu considero os gregos um povo europeu, originário dos Balkans e que se instalam na atual Grécia. É verdade que eles se assentam também no litoral de Anatólia, mas não é menos certo que eles também se espalham pelo Mediterrâneo Ocidental. Seria bom deixar esclarecido isto desde o início, para o que vai vir depois. Tenho intenção de dar informações sobre a ciência chinesa, indiana, mesopotâmica e egípcia, mas não agora porque estou indo cear. Um abraço.
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Mensagem por Imhotep 14/4/2020, 19:39

Grécia não é lá o meu forte, mas a origem dos gregos é indo-européia. Independente de onde tenham se originado, os gregos por localização são europeus sim. Só com a tal expansão que eles colonizaram algumas áreas das atuais Turquia, Ucrânia, Itália, sul da França e Espanha.
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Mensagem por Monalisa 15/4/2020, 02:04

Bom, sobre a (possível) existência de uma "idade média" árabe, fiquei pensando... como pode uma idade média fora da Europa?

Se o termo surgiu observando a idade média como um período de atraso ou estagnação foi esta uma visão exclusivamente européia, através do que se foi observado neste continente, não fora dele.

Idade média fora da Europa então não é um termo aplicado...
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Mensagem por Monalisa 15/4/2020, 02:06

O que posso perceber é que as relações sociais, políticas e culturais Árabes de nada tem com as estruturas presentes na Idade Média do período (Séc. VI) observadas na Europa. Neste período, a Europa estava carregada de problemas relativos à Dinastia Merovíngia e seus obstáculos referentes às repartições do poder.

Um fator interessante é que segundo os árabes, este período era um período de avanços, uma "Idade da Luz", a Idade do Irã, ao contrário do nomadismo, da Arábia "menos civilizadada", da baixa do padrão de vida cultural observado antes. Seria este o período denominado por eles de Jahiliyya (Idade da Ignorância).

Existe assim uma certa distinção da "Idade das Trevas"?
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Mensagem por Dom Diniz 15/4/2020, 02:18

Acho que entendi sua colocação... Você questiona sobre a (possível) existência de uma "idade média" árabe. Em verdade, mais uma "idade das trevas"... Vou tentar te ajudar.
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Mensagem por Dom Diniz 15/4/2020, 02:20

Já li algumas coisas sobre os Califados e as suas influências políticas, bem como suas expansões. Sei que, por volta de 1099, a cidade de Trípoli possuía uma "Casa de Cultura" com mais de 100 mil livros - uma das mais importantes do período - com traduções de grandes textos gregos e persas. Este é um indicativo para nós, mas ainda não encontrei um texto que fale da história árabe sob o foco que queremos analisar.
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Mensagem por Dom Diniz 15/4/2020, 02:22

Só sei de um texto onde existe a afirmação de que os árabes consideram o período anterior a Maomé (ele é grande!) como um período de ignorância, mas isto se refere mais a uma ignorância de Alá (seja louvado!) do que propriamente um processo cultural.

Sabedouros que um dos grandes pontos de influência cultural do mundo árabe foi justamente a Andaluzia, conquistada (salvo engano) entre 711 e 714, será que podemos inferir que o processo de desenvolvimento cultural árabe é necessariamente posterior ao maometanismo?
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Mensagem por Dom Diniz 15/4/2020, 02:25

Se formos considerar alguns autores, que dividem a conquista árabe em 3 estágios, sim. Segundo eles, o primeiro período expansivo foi através da conquista, o segundo através da conversão e o terceiro, através da língua – considerada o supra-sumo da cultura árabe.

''A sabedoria desceu a três coisas, o cérebro dos francos, as mãos dos chineses e a língua dos árabes.'' - Ditado antigo.

Acho que isso encerra a nossa pergunta, mas dá para estender mais o assunto, se você quiser. Sobrou alguma coisa da fonte que eu tenho! (risos)

Espero agora uma proposta de pesquisa sua, se ainda quiser continuar a troca de informações. Abraços.
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Mensagem por Norman, o herege 15/4/2020, 13:55

Frederico II Hohenstaufen- Stupor Mundi

Afinal quem foi ele? Um Leonardo da Vinci da política que nasceu em época errada? Uma avant premiere do doutor Mengele? Um cara que peitou a Igreja ou que a seguiu antes de mais nada? Era belicoso, mas conseguiu acesso para peregrinos cristãos a Jerusalém dos ayubidas na lábia. Poderia ter mantido a Alemanha unida? Era realmente causa de espanto para o mundo de então? Tinha potencial, mas qual foi seu legado prático?
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Mensagem por Norman, o herege 15/4/2020, 13:56

Nos livros escolares de segundo grau "o cara" nem é citado! Por que?
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Mensagem por Imhotep 15/4/2020, 14:10

O Ernst Kantorowicz tem uma biografia do Frederico II. Conheço edições em francês e em inglês, não sei se traduziram pro espanhol. O título é (inovadoramente) "Frederico II".
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Mensagem por Arcano 16/4/2020, 02:15

Sobre o pensamento científico na Idade Média central, todos os materiais que consulto sobre o assunto sempre falam da baixa idade média, como se durante 6 séculos nada teria ocorrido de importante para a ciência.

Claro que é importante destacar o papel da Igreja Católica durante o período, mas mesmo quando se procura por pensadores ligados à Igreja, fica escasso o material.

Grandes avanços surgiram com Santo Agostinho no séc. IV (mas ainda no pensamento aristotélico) e com São Tomás de Aquino no sév. XII, vejam, no início e no final da Idade Média.

E no séc. X?
Alguém me aponta um material que fale de pensadores, alquimistas, pré-cientistas, qualquer coisa desse tipo que tenha sido perseguido pela Igreja ou tivesse sua atividade registrada?

Por favor, discutam e, principalmente, coloquem referências bibliográficas pra que eu possa consultar pra minha análise...
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Mensagem por Baphomet 16/4/2020, 02:21

Você quer especificamente do séc X??

Acho que você deve pesquisar por pensadores islâmicos, eles foram os responsáveis por reintroduzir antigos textos perdidos de grandes pensadores clássicos.
E também por pensadores bizantinos, já que a Constantinpla era o centro da europa medieval.
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Mensagem por Arcano 16/4/2020, 02:54

Eu consultei um dos livros do Koyrè (Estudos de história do pensamento científico), muito útil mas que fala pouco dos primeiros 6 séculos de Idade Média. Não sei se serve, mas estou gostando de um livro de Edward Grant (1996) entitulado "The foundations of modern science in the Middle Ages", muito bom.

Baphomet, não precisa ser só do século X, só quis situá-los, mas valeu pela dica, não tinha pensado nos tradutores dos textos islâmicos. Vou conferir!
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Mensagem por Arcano 16/4/2020, 02:58

Eu até consultei um livro do Le Goff, Os intelectuais na Idade Média, mas meu foco mesmo são as grandes correntes (aristotelismo e platonismo, entre outras). A respeito dos médicos e alquimistas, são muitíssimo importantes pra mim, se você puder me passar qualquer referência ficaria muito grato. Aliás gosto muito de filosofia e é importante pra mim material do século VIII ao XII (até São Tomás de Aquino na verdade), se puder me passar essas indicações talvez ajude muito...

Se alguém mais se interessar, existe um livro chamado "O Pensamento Medieval" de Inês Inácio e Tani Regina de Luca, que também é interessante...
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Mensagem por Baphomet 16/4/2020, 03:06

No seu lugar consultaria mais material de Jacques Le Goff, um dos maiores especialistas em Idade Média da Europa, se não o maior!

"Medieval Civilization" 400 - 1500
(Título original: "La civilization de l'Occident médiéval"). Deve ter tradução para o português!...

Boa sorte!
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Mensagem por Arcano 16/4/2020, 05:14

Obrigado, vou conferir...
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Mensagem por Eremita 31/1/2024, 22:27

A Universidade de Bolonha: um centro de excelência na Idade Média

“A justificativa para uma universidade é que ela preserva a conexão entre o conhecimento e gosto pela vida, unindo jovens e velhos na causa imaginativa do ensino. A universidade transmite informações, mas transmite-as com exaltada imaginação. Pelo menos, essa é a função que deveria desempenhar para a sociedade. A Universidade que falha nesse ponto não tem razão de existir. Essa atmosfera de excitação que nasce dos estudos imaginativos transforma o conhecimento. A imaginação não deve ficar separada dos fatos; é um meio de iluminá-los. Possibilita ao homem elaborar uma visão intelectual de um novo mundo e preserva o gosto pela vida ao sugerir finalidades satisfatórias. Ou a Universidade é imaginativa ou não é nada — pelo menos nada de útil.”
Alfred N. Whitehead


A Universidade é um dos maiores legados do medievo, que ainda nos contempla em sua existência com todo o seu brilho e esplendor por criar opinião, por formar o conhecimento e aqueles que o criam. Surgida em meados do século XIII, este centro de excelência é a verdadeira mola que impulsiona a criação das ciências modernas.


Inicialmente, muito mais teórica do que prática, prezava por doutrinar os grandes pensadores de um mundo europeu, predominantemente, cristão. A Universidade não buscou a princípio a especialização, a especificidade, característica esta da Universidade moderna, porém, buscou sim, uma formação ampla onde seus acadêmicos estudavam filosofia, astronomia, teologia, metafísica e moral. Ainda que tenha surgido nos séculos finais da Idade Média, as Universidades tornaram-se a mais elaborada e complexa instituição capaz de representar a civilização medieval no campo educativo (LE GOFF; SCHIMTT, 2002).


O período englobado entre os séculos XIII e XV é um momento de grandes transformações no mundo medieval, o comércio aflora no Mediterrâneo e entrelaça suas rotas para o interior da Europa conectando áreas, até então, incomunicáveis. As Universidades são, assim, filhas do renascimento comercial, urbano e intelectual que germina no século XIII, são filhas, também, da nova curiosidade originada pelo contato cada vez maior com o mundo mulçumano e bizantino.


A maior circulação de moedas, mercadorias, câmbio, contabilidade, feiras comerciais e rotas de comércio resulta no surgimento de uma classe social desvinculada do campo, assentada em uma terra com outra configuração: a cidade. A cidade e seu crescimento são centrais na expansão das Universidades sendo capaz de abalar, pela sua própria existência, hábitos de trabalho, condições de vida e até maneiras de pensar ao aproximar cada vez mais homens de origens e costumes heterogêneos. Na cidade podemos ver o nascimento do homo economicus, inicialmente de forma tímida e incipiente e, aos poucos, sentimos que o homem começa a priorizar a matéria, locando a salvação espiritual em um plano secundário. Estão lançadas as sementes do que no futuro seria conhecido como mercantilismo.


Agora faz-se necessário lembrar que o termo Universitas, designa a própria coletividade urbana com as suas liberdades e o seu governo autônomo, apenas, posteriormente é que o termo vai definir ou significar um grupo de intelectuais em específico (BONNASSTE, 1981; LE GOFF; SCHIMTT, 2002). Outro aspecto que não deve ser esquecido é a evidente intimidade entre a Universidade e a corporação de ofício: ambas defendem o interesse de um grupo, possuem um estatuto de associação, assembléias gerais e oficiais eleitos e, finalmente, a mesma autonomia. É baseada na estrutura das corporações de ofício que a Universidade se molda. Contudo, apesar de características gerais eminentes em cada centro de ensino, o molde não é o mesmo e as diferenças entre as diversas Universidades são consideráveis. É nesse contexto que surge a Universidade de Bolonha.


A Universidade de Bolonha foi fundada no século XI em conseqüência do ressurgimento do interesse pelo estudo do Direito, apesar de contemporânea de Oxford e de Paris, possui traços por demais peculiares: seus estudos centrais não são a Teologia (mais comum entre as instituições universitárias), ou a Medicina (como foi o caso da Universidade de Montpellier), mas o Direito Civil e Canônico. Não significa afirmar que o Direito era único: Medicina (1) , Artes, Filosofia Natural também constavam em seu currículo. Entretanto, foi o Direito que lhe deu a sua fama e no Direito a Universidade concentrou boa parte de seus esforços intelectuais, adquirindo assim grande prestígio. Consta que a fama de Bolonha tornou-se tal que, em meados do século XII, o imperador Frederico I convocou os doutores juristas, membros da Universidade, para emitirem um parecer sobre seus conflitos com as comunidades lombardas.


Se a fama de Bolonha alcançou tal prestígio no Direito, foi devido, principalmente, à obra de dois grandes acadêmicos: Inério, que por volta de 1080 separou o estudo do Direito das outras áreas, e Graciano. A obra de Graciano nos fornece maior margem de discussão, pois esse autor distinguiu o Direito Canônico da Teologia por meio da escrito de um livro voltado ao ensino do Direito Canônico, contudo para entender como isso foi possível torna-se necessário uma reflexão mais específica.


Como não podia ser de outra maneira, a primeira fonte do Direito Canônico é a própria Bíblia, principalmente na sua versão latina, chamada "Vulgata", que foi ratificada pelo Concílio de Trento e cuja interpretação a Igreja Católica se reserva. Isso constitui um dos pontos de conflito com outras igrejas cristãs, que reivindicaram uma maior liberdade de interpretação alguns séculos depois por meio da chamada reforma protestante. A essa fonte básica agrega-se a "tradição", dita "divina", quando foram registradas as sentenças orais de Jesus Cristo, ou "apostólica", quando derivou dos ensinamentos dos apóstolos ou dos seus seguidores imediatos.


As fontes propriamente legislativas são os "cânones" dos concílios, não apenas dos ecumênicos, ou universais, como, também, de alguns particulares, ou regionais que, por falta de maior universalidade, são reconhecidos como produção legal do cristianismo dos primeiros séculos. Ainda nos tempos remotos da Igreja, foram compiladas coleções não oficialmente autorizadas, como a Didaké ou Doutrina dos XII Apóstolos, as Constituições Apostólicas e os Cânones Apostólicos. Ao lado dessas coleções, pretensamente universais, abundam as compilações regionais: gregas, africanas, itálicas, irlandesas, visigóticas etc.


Na medida em que o poder pontifício se sobrepõe ao dos concílios episcopais, aumenta o valor das suas "cartas decretais", geralmente chamadas "decretais" ou "constituições". Pela primeira vez, aparecem formando parte de coleções canônicas. No século IX já eram objeto de coleções específicas atribuídas a Benito Levita ou Isidoro Mercator. Começava, assim, a prática de ordenar as normas por assunto, em contraste com as compilações anteriores, que utilizavam a ordem cronológica, fazendo apenas distinção entre concílios e decretais. Assim surgiram coleções mais organizadas, como as de Regino, abade de Prunn, de Burcardo de Worms, de Ivo de Chartres, de Alger de Lieja etc.


Graciano, monje de São Félix, morador da cidade de Bolonha, foi o responsável pela primeira reunião organizada dessas compilações que possuía o objetivo de ensinar os estudantes universitários. Essa coleção, tradicionalmente conhecida como Decreto de Graciano, passou a constituir matéria de estudo em todas as universidades e se transformou em ponto de referência obrigatório do Direito Canônico. Não foi compilada como código legislativo, mas como uma coleção privada, de intenção exclusivamente didática. Entretanto, o predicamento adquirido (ligado ao surgimento da própria Universidade de Bolonha) foi tanto que as coleções posteriores passaram a ser chamadas de "extravagantes". Cinco dessas coleções conservam singular importância, principalmente a terceira, encaminhada à Universidade de Bolonha pelo papa Inocêncio III, o que a constitui, pela primeira vez, em código oficial da Igreja. Similar sorte teve a quinta, enviada a Tancredo, professor da mesma Universidade, pelo papa Honório III.


As peculiaridades da Universidade de Bolonha não acabam em seu destaque no estudo da jurisprudência laica e eclesiástica. Bolonha não foi, como a Universidade de Paris, uma federação de escolas medievais, mas sim, uma organização só de estudantes. Os professores eram escolhidos pelos alunos e tornavam-se responsáveis, perante esses mesmos alunos, pelo ensino do conteúdo que ministravam em suas aulas. O reitor era um aluno eleito pelos alunos para reger a Universidade no período de um ano.


Dividida em quatro faculdades (Direito, Artes, Medicina e Teologia), como normalmente o faziam os outros centros universitários, Bolonha ultrapassa esta divisão quadripartida ao criar em sua estrutura as Nações e os Colégios. Os primeiros agrupamentos de estudantes ou “nações” estão documentados desde o final do século XII. A Comuna de Bolonha (formada essencialmente de clérigos) tentou em vão frear o surgimento dessas associações autônomas. Apoiadas pelo papa, as diversas nações acabaram por se reunir, no início do século XIII, em duas “Universidades”: a dos italianos e a dos estrangeiros. Apesar de inicialmente possuir um número restrito de alunos (cerca de 400), no século XV, Bolonha já possui em suas instalações quase 2 mil estudantes, número encontrado em diversas universidades de nosso tempo.


A Universidade de Bolonha era um centro de efervescência cultural universitária italiana liderada e administrada por estudantes, onde os mestres possuíam a responsabilidade, vinculada por meio de um pacto honorífico, de ministrar suas aulas de forma satisfatória. O esplendor do conhecimento permeava este centro de excelência medieval na leitura atenta das “autoridades”. Bolonha era um símbolo das modificações que se configuram durante o feudalismo, juntamente de outras universidades, era uma das responsáveis pela égide do Renascimento.


Ao fazer um rápido paralelo é perceptível que o exemplo deixado a nós por Bolonha deve ser seguido pelas Universidades contemporâneas, pois sua essência pareceu manter-se viva mesmo com o desmantelamento do mundo feudal: eleições diretas para reitor na garantia de um centro de ensino autônomo. A democracia plena era soberana em Bolonha, então, voltemos a ela, para se poder direcionar as universidades brasileiras para o cumprimento de seu papel social e acadêmico.



Notas

(1) Tornou-se também referência a partir de 1218, quando recebeu do papa Honório III uma maior autonomia.
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