Monoteísmo judeu

Se estamos falando dos judeus, na época que descobriram que cultuar um só deus serviria para manter o povo mais unido e aguerrido contra seus vizinhos eles já não eram nômades. Em 600 a.C. a maioria dos povos daquela região (desde o Egito até a Mesopotâmia) já tinham se sedentarizado.

Antes disso, lá por volta de 4000 a.C., época que o nomadismo estava sendo abandonado, a ideia de um deus superior a todos os outros, que tinha criado tudo (inclusive esses outros deuses) já existia. Mas não dispensava a existência do culto de uma quantidade enorme de outros deuses que, no modo de pensar desses povos semi-nômades, eram os responsáveis por determinados fatos e coisas da vida cotidiana. Exemplo? Havia deus responsável pela água, pelos grãos, pelo nascer do sol, pelo parto das mulheres, etc...

Isto dos hebreus começarem como nômades, pastores ou comerciantes, também é questionável.
Muitas festas citadas na Torá são festas de povos agricultores.
Mesmo se acreditando na também questionável migração de Terah/Taré de Ur pra Harran, note que o grupo inicialmente estava no sul da Mesopotâmia, logo a família de Tera era originalmente agricultora.
Depois que se é sedentário é difícil se tornar nômade, não?
Talvez você se torne comerciante se o acesso a terra for proibido, mas não sei se podemos chamar o povo de nômade. Os judeus dispersos após Roma, são nômades?

Obelix escreveu:Eu acho que o monoteísmo hebraico foi inspirado no zoroastrismo, que tinha um único deus, Ahura Mazda, ao qual se opunha o demônio Arimã (era uma espécie de biteísmo, portanto). Os judeus cativos na Babilônia com certeza conviveram com os persas e podem ter se inspirado neles para deixarem de ser politeístas e tornarem-se monoteístas.

Realmente, o Zoroastrismo influenciou vários povos da Antiguidade. Mesmo porque o Império Persa foi enorme e muitos desses povos faziam parte dele.

O monoteísmo, e "diabolização" de outros deuses inicia-se na época do profeta Elias.

A fé monoteísta javista é afirmada em um contexto nacionalista, na medida em que se pode retrojetar a ideia de nação para aqueles tempos.

Até mesmo a consorte de Jeová, Asherah é rebaixada, e paulatinamente proibido o culto a mesma, pois qualquer outra divindade masculina e feminina é óbice para o monoteísmo imperante.

A marginalização do feminino, das mulheres é um processo que também se dá e se sustenta por meio de escritos bíblicos justificadores de uma sociedade patriarcal, atuando assim no que podemos chamar de “desempoderamento” das mulheres a partir do sagrado, este foi o motivo da obliteração do culto ao feminino e a outros deuses.

Por volta de 600 a.C., os judeus libertos da Babilônia por Dario, ao voltarem para Israel precisavam readquirir o senso de cidadania, de união do povo. Um povo disperso e escravizado, se não tiver alguma coisa que o mantenha coeso, se perderá para sempre.
E a forma escolhida foi a adoção do monoteismo, o que o diferenciava do resto dos seus vizinhos, todos politeistas.
E funcionou, como funciona até hoje. Os israelitas mantém o monoteismo adotado naquela época de forma intocada. Ou seja, obedecem todos os preceitos do Torá, que começou a ser escrito justamente após o retorno da Babilônia. Esse o motivo também para que tenhamos algumas dúvidas quanto à época antes da escravização. As tradições não eram escritas. Ou, pelo menos, não se tem nenhum exemplar do Torá escrito antes de serem levados para a Mesopotâmia.

O centro de tudo era a questão da terra. Os sacerdotes elegeram-na como sagrada (Terra Santa) para fazer os hebreus lutarem por ela. A guerra com os cananeus exigiu essa unificação das tribos sob uma única crença, de um único deus. Isso independentemente de terem sido nômades no passado. Observe que a religião conta "histórias" que supostamente ocorreram no passado, mas isso não quer dizer que foi naquela época que ela foi construída. A religião é escrita a qualquer tempo...­

Não esquecer que descobertas recentes colocam os israelitas como sendo um ramo dos cananeus...

Inclusive, já li sobre o próprio Javé ter sido um deus originariamente cananeu.

Exatamente, amigo.
E tem mais... Parece que, como em todas as religiões daquela região toda, lá por uns três mil anos atrás, havia também uma deidade feminina, que era reverenciada pelos judeus...

Israel Finkelstein é um arqueólogo de Israel que vem, há muito tempo, escavando sítios arqueológicos muito antigos e tem levantado muitas hipóteses que são diametralmente ao que muitos estudiosos da Bíblia conclamam.

É daí que a gente pode concluir que o monoteismo judáico, surgido la por 600 a,C. teve realmente por motivação a unificação da população em torno de uma crença (religião naquele tempo era coisa muito séria) e não deixar que o povo judeu desaparecesse.
Se um séc. antes, população judias em Elefantine cultuavam uma deusa, essa é a prova que o monoteísmo foi uma necessidade de amalgamar o povo que retornava da Babilônia.

Iconismo

Assim como o monoteísmo foi uma conquista gradual começando como politeísmo e depois a tal monolatria, o aniconismo de Javé também deve ter passado por uma evolução lenta. Se foi assim, que ídolos de Javé foram registrados?

Ídolos de yahweh

O próprio tetragrama já foi tratado como ídolo. Mas antes disso tem:
1) A arca da aliança, que pode ter apenas albergado as tábuas da lei, mas que os israelitas a reverenciavam, reverenciavam, quando não a chamavam de Yahweh
2) Dentro dela haviam bétilos, que lembram o beben egípcio e a pedra negra da caaba islâmica
3) Que eram o terafim e o efode?
4) Os levitas originais adoravam o deus-serpente, Nahash, antes de serem incorporados como clã sacerdotal de Judá, quando surge um ídolo de bronze chamado de Nehushtan (cobrinha) com poderes curativos.
5) E o touro das tribos do norte seria um sincretismo de Hadad com Yahweh?

Iconoclastia e não-representação

Uma característica do judaísmo, aparentemente desde os tempos pré-exílicos, é a recusa a representar (ou mesmo pronunciar o nome de) Javé. No templo de Jerusalém, era adorado em um compartimento vazio. Essa recusa de ídolos foi transmitida ao Islã e também a vertentes do cristianismo, como os iconoclastas de Bizâncio e alguns protestantes.

Questões:
1) Existem atitudes semelhantes entre povos de religião ou cultura não relacionados ao monoteísmo bíblico?

2) Isso está relacionado a outras atitudes em relação à comunicação ou as artes, como a ausência de representações teatrais e de artes figurativas em muitos muçulmanos?

3) Há algo mais abrangente e profundo nessa atitude que a tentativa de evitar a multiplicação de deuses na forma de ídolos?

No caso das culturas africanas, acho que a comparação não cabe. Divindades supremas criadoras, como Olorum ou Nzambe, não são representadas, mas também não são objeto de culto. São mais conceitos metafísicos do que deuses.

Agora, quanto às religiões abraâmicas, não se trata tanto de "impossibilidade de representar", mas de proibição de representar iconicamente. Deus é representado pela palavra escrita.

O fetiche se desloca da estátua ou pintura para o livro sagrado, ou mesmo as suas letras individuais (como na Cabala). Judeus, principalmente cabalistas, e alguns povos muçulmanos, como os mandingas, atribuem poderes mágicos a versículos da Torá e do Alcorão, por exemplo. Há o mito do rabino cabalista ao qual a compreensão das palavras da Torá confere poderes quase divinos, como o de animar um golem.

Então, a questão não seria tanto proibir o homem de "criar" em geral quanto de criar por outros meios que não a palavra? Ou seja, um movimento de abstração e de racionalização, mais do que da "humildade" ante o divino?

Atitudes em outros povos

Segundo Yann Brekilien e Pedro Paulo May, o líder gaulês Breno que invadiu Delfos em torno de 280aC, explodiu em risos "interrogando como os gregos poderiam ser tão incultos ou infantis para representar os deuses com formas humanas", parece que ele era educado em um culto abstrato que não compreendia antropomorfismo. Embora isto não descarte iconismo nos bosques sagrados dos druidas.