Sexo na Antiguidade

Taí um tópico útil para se discutir sexualidade, e que está de acordo com o tema do fórum.
Este é o espaço destinado a todos os que querem discutir sobre os costumes sexuais, a prostituição, castidade, libertinagem, orgias dos povos antigos em geral. Mas só uma "regra" para todos os posts: não usem palavras chulas nem termos explícitos da modernidade quando se referir a sexualidade antiga. Creio que só assim poderemos evitar desentendimentos e até constrangimento por parte de alguns membros.

SOBRE AS POSIÇÕES COITAIS DESDE A ANTIGUIDADE

Já alguém parou a pensar se o ser humano praticou sempre as mesmas posições na hora de fazer o coito? Ou talvez cada cultura desenvolveu praticas coitais diferentes?

Segundo o antropólogo Edgar Gregersen, vejam uma coisa bem interessante. A postura coital denominada na literatura como a "postura do missioneiro" (de mamãe e papai na gíria brasileira) seria a o tipo de penetração coital mais praticada e difundida em todo o Hemisfério Norte do planeta. Esta técnica consiste na realização do coito (não interruptus) em posição decúbito prono, cara a cara (ventro-ventral), ou dito mais vulgarmente, "deitados". Esta técnica tinha diferentes variantes, como eram o homem em posição decúbito prono, e a mulher decúbito supino, e ao invés, ambas as duas ventro-ventral. Para nos entender, monta de homem sobre mulher ou mulher sobre homem "ao cavalinho", ambos os dois deitados. Havia uma terceira variedade que era o homem decúbito prono, e a mulher decúbito prono também, apresentando a mulher o "traseiro", também denominado "nádegas", sendo que a penetração se realizava com um ângulo maior oferecendo um bamboleio mais excitante se cabe.

Estas técnicas coitais baseadas na postura do "missioneiro" foram as mais utilizadas de maneira muito recorrente, como já disse, no Hemisfério Norte, diferentemente do que acontecia no Hemisfério Sul do planeta, onde os diferentes povos e culturas realizavam com maior frequência outro tipo de técnicas coitais como são o coito de lado, o coito sentados, o coito com penetração por trás, o coito de pé, a posição oceânica e as denominadas "posições infrequentes".

Neste senso pode-se afirmar que a variedade de técnicas sempre foi muito mais rica no Hemisfério Sul do planeta, que não no hemisfério Norte, onde (neste último) a posição do coito deitados e em posição de missioneiro chegou ser a mais importante prática coital, muito praticada fundamentalmente por todas as primeiras civilizações, desde a suméria, babilónica, assíria, egipciana, chinesa, tibetana, e por suposto, no mundo helênico e no mundo romano, até chegar aos nossos tempos. Neste quesito, uma exceção foram os russos, que curiosamente praticavam o coito indistintamente utilizando a técnica do missioneiro e a técnica da penetração por atrás na posição do "cachorro", quer dizer, a quatro patas.

Gostaria de saber mais sobre a mulher de um certo imperador romano, se não me engano de Claudios, a senhora digníssima Messalina. Que segundo me consta tinha desejos sexuais bem variados e extensos com outros homens (anões, caolhos e por ai vai) e que também frequentava prostíbulos... Confere ou é lenda?

Por falar em posturas... por que a posição de Andrômaca (homem deitado de barriga pra cima, mulher cavalgando com derriere virada para o macho, posição perfeita aliás) se chama assim?
Segundo Homero, Andrômaca era a esposa do todo-virtudes troiano Heitor.

Alguns pontos importantes

1) A postura sexual humana mais antiga realmente era a que cães e gorilas adotam. A postura deitada barriga-com-barriga foi uma discreta exigência feminina que queria saber com quem estava lidando. Todo ônus da gravidez cabia a ela, e ela queria saber quem era o pai de seus filhos (pra cobrar até direitos de sucessão)

2) Por muito tempo os humanos não souberam detectar nexo causal entre copular e ter filhos. Logo não se desconfiava da participação dos machos. Somente com criação da pecuária isto ficou claro

3) Harens eram o modo como homens de poder garantiam que seus filhos eram seus filhos. Eles não se iludiam quanto ao sexo que poderia rolar entre eunucos e suas esposas ou entre suas esposas entre si. Talvez até gostassem

4) Como não havia Ratinho ou teste de DNA, somente a maternidade de alguém era garantida (mesmo com harens), daí a matrilinearidade ter sido adotada como princípio pra legitimar o trono em dinastias egípcias e outras

5) O último motivo que as pessoas tinham pra se copular era estarem apaixonados (se é que isso existiu antes de Platonismo ou de Maniqueísmo). Antes vinham conveniências políticas (alianças entre clãs, econômicas ou simplesmente "fulana me sabe me dar muito orgasmo".

6) O incesto deve ter sido condenado mais por perda de chance de formar alianças com clãs que por chance de doenças (embora povos pecuaristas já tenham notado claramente isso). Quando uma família atingia o ápice do poder e considerava-se impossível lucrar com novas alianças prevaleceria o princípio da conservação da fortuna dentro do clã e o incesto ficava lindo.

8 ) A maioria das técnicas de produção de eunucos só castrava (arrancar os testiculos) e não emasculava (arrancar pênis), porque a chance do futuro eunuco morrer de infecção, hemorragia ou represamento de urina era muito grande. Portanto os eunucos não eram assexuados.

9) A expectativa de vida ou a aparência poderiam também afetar o bom desempenho destes cães de guarda humanos, por isso os poderosos donos de harens, às vezes, protelavam a castração para depois da puberdade. Castrados pré-puberais, são muito altos, têm menos massa muscular e óssea, tendem a distribuição de gordura corpórea feminina e manutenção de voz de criança. Castrados pós-puberais, não. Porém os castrados pós-puberais certamente transariam com tuas princesas.

Eu lembro de ter visto em algum livro uma foto de uma peça de cerâmica da Mesopotâmia com um casal na posição "papai e mamãe".

Agora uma coisa que não me entra na cabeça é o fato que os egípcios praticavam o incesto mais evidente (casamento entre irmãos) no caso dos faraós. Mesmo durante a dinastia ptolomaica esse costume permaneceu. Isso tudo não fazia com a maioria dos filhos dos reis egípcios viessem com alguma doença ou anomalia congênita?

Problemas de consanguinidade:

1 - Os riscos são os mesmos ou mudam conforme o grau de parentesco dos primos?

Os riscos mudam. No caso de primos em 1º grau, a chance de anomalias congênitas é de 6% a 7%. Para 2º ou 3º grau, cai para 5% e 4%, respectivamente. Para comparar: o risco de anomalias em casais não-consaguíneos é de 2% a 3%; nas relações incestuosas (entre pais e filhos ou irmãos) sobe para 35%.


2 - Quais as doenças mais comuns provocadas pela consanguinidade?

Estima-se um número entre 5.000 e 6.000, mas as mais comuns são: anemia falciforme, fibrose cística, fenilcetonúria (em que a falta de uma enzima pode afetar o cérebro e causar deficiência mental), além das congênitas como hipotiroidismo, cegueira, surdez, microcefalia e alguns tipos de deficiência mental, que se manifestam ao nascer ou até o primeiro mês de vida.

Nossos ancestrais não eram retardados mentais para perceber o nexo de causa e efeito entre praticar sexo com uma mulher e a produção de bebês.

Talvez não fosse tão claro, haja visto:
1) Mulheres, principalmente, não tem cio. Não há uma estação priocriativa entre humanos. E o evento fecundar ocorre em média a cada três a cinco cópulas humanas.
2) Os caçadores poderiam observar os animais copulando, mas via de regra eles são mais discretos que nós. Especialmente alguns. Todos já OUVIMOS gatos transando, mas quantos de nós já os VIU?
3) Não digo que não suspeitassem, mas que a coisa fica fato confirmado, categórica somente com pecuária (e chance de separar machos e fêmeas e escolher os pares que procriariam etc.) fica.

kkkkkkkkkkkkkkkkk

É mesmo...

É difícil ver gato transando. Mas as "orgias" deles no teto da casa incomodam qualquer um.

Os nossos parentes mais próximos, os bonobos, praticam sexo "missionário.

O genoma deles é bem similar ao nosso, mas não sei qual a preferência deles. Também não sei se nossos ancestrais teriam comportamento similar, provavelmente sim. De todo modo, a estatística pra todos os primatas e outros mamíferos aponta pra a postura do "cachorrinho". Vou então melhorar minha frase, nossos ancestrais pre-Homo sapiens, mas já hominídeos se usavam a posição missionaria, com certeza foi coisa recente. E uma consequência dela foi a mama se tornar objeto de atração sexual. Nenhum touro fica excitado vendo tetas.

Quando falei de "humanos" que não conheciam nexo causal fui errado, não queria dizer construtores de pirâmides, ou idealizadores de Estados e Filosofias e nem mesmo de criadores de agricultura ou caçadores habilidosos como os inuits e papuas, estava falando de pré-H sapiens sapiens. Hominídeos com pouco neocortex pré-frontal (parte mais frontal dos lobos frontais), onde estão circuitos que possibilitam a percepção de relações causais de imaginar consequências. Tais estruturas estão desconectadas em pessoas lobotomizadas e há até neurologistas que afirmam que o comportamento de risco de adolescentes de H sapiens sapiens atuais se deva a neocortex pré-frontal ainda pouco desenvolvido nos seus detalhes junto com o necessário afastamento da tomada de decisões por outros (pais).
Então em Homo erectus e mais recuados, alguns textos dos anos 80 chegam a dizer que talvez eles percebessem que seres a sua volta morriam sem imaginar que eles mesmo tivessem um dia o mesmo destino! E se não há percepção da própria morte talvez a percepção mais sutil de copula causar parto, pudesse ser mais inacessível ainda. Ainda mais porque não só as copulas de outros seres possa ser mais oculta como também o parto em outras espécies e mesmo os filhotes até certa idade sejam também escondidos.

"Anticoncepção" na antiguidade

Que tal falarmos um pouco disto?
Haveria coito interrompido (Yave castigando Onan na Bíblia), coito anal (Sodoma na Bíblia?), DIU (povos atravessando deserto com camelos), chás embriotóxicos, exposição de recém-nascidos, tabelinha, preservativos, relações homossexuais como armas propositais para não ter filho?

Interessante a sua colocação sobre a percepção da morte. Neste senso, os avanços da neurociência podem dar luz. Duas obras essenciais sobre neurociência que recomendo são a de Gerald M. Edelmann e Giulio Tononi, "O universo da consciência. Como a matéria se torna imaginação", e a obra de Humberto Maturana e Francisco Varela, "A árvore do conhecimento. As bases biológicas do conhecimento humano".

Segundo as aportações neurocientíficas, somente um grupo reduzido de animais, além de possuir uma consciência primária, também possuem uma consciência de ordem superior. São os elefantes, os primatas superiores e o homem. Talvez algum outro tipo de animal possa ter também. Mas fica muito reduzido quem possui o segundo tipo de consciência.

A diferença entre a consciência primária e a consciência de ordem superior, está em que a primeira só é capaz de captar o que os neurocientistas denominam o "presente lembrado", quer dizer, a maior parte dos mamíferos e outras ordens talvez, somente são capazes de perceber (percepção) cenas do presente de maneira global, mas não são capazes de elaborar uma memória simbólica capaz de percepções de cenas do passado, nem são capazes de projetar cenas de futuro (o devenir). Isso somente o fazem os animais citados: elefante, primatas superiores e o ser humano. Logicamente o ser humano com um nível de complexidade infinitamente superior que os outros, e graças no fundamental à linguagem articulada.

Neste senso, por exemplo, os chimpanzés sim possuem uma consciência de ordem superior igual que o homem, embora num nível de evolução precária em comparação com o homem. Mas essa sua capacidade de elaborar cenas do passado e do devenir, faz possível que eles consigam atingir a outra caraterística da consciência de ordem superior, que é a auto-consciência ou identidade de si mesmo, quer dizer, a elaboração de um "Eu" ou "Ego", e serem capazes de reconhecer aos "Egos" dos outros membros do seu bando. Se você dá um espelho a um chimpanzé, ele se reconhece como "ele mesmo", e também está capacitado para reconhecer a identidade dos outros. Neste senso, o mais provável é que eles sejam cientes da morte, e sendo que se reconhecem as identidades de cada um dos membros do grupo, isso explicaria o porque copulam na postura do missioneiro, exatamente para saber com quem estão fazendo sexo, igual que os homens. Sendo a evolução do sistema nervoso central e periférico dos australopithecus de uma complexidade maior que a dos chimpanzés, há que pensar que estes também compartilhavam as mesmas características.

O salto que o Homo Sapiens dá se deve no fundamental à inclusão em tudo isto da LINGUAGEM ARTICULADA, graças as áreas cerebrais de Wernicke e Broca que surgiram num estado da evolução.

O evangelho acho que de San Joao, sem querer, mostra a chave do assunto, quando diz: "E no princípio foi o Verbo", que é é uma tradução latina do grego "E no princípio foi o Logos", levando em consideração que "Logos" não é outra coisa que "pensamento" e "linguagem". E da unificação de ambos, surge a inteligência humana tão desenvolvida, o simbolismo evoluído. O tema é apaixonante. Porque é claro, fazendo uma interpretação semiótica do assunto, resulta que segundo o Evangelho, o Logos é Deus, ou seja, o pensamento ou inteligência criadora do mundo (Demiurgo). O que dá forma ao que não tem forma, ao que é caótico, é uma inteligencia ordenadora, um Logos, um Deus demiúrgico que ordena as coisas. Logicamente, os cientistas não estão pensando em Deus, mas no conceito de neguentropia ou negação da entropia, quer dizer, INFORMAÇÃO, termo que vem do latim "In-formare", ou seja, dar forma a aquilo que não tem forma. Quanta mais informação se introduz num sistema, menos entrópico fica, menos caótico. Convido a que leiam um artigo muito célebre (mas pouco conhecido, só pelos antropólogos e sociólogos) de Marcell Mauss, o "Ensaio sobre o Don", e onde se desenvolve um estudo sobre as formas de estruturação das sociedades totêmicas em função das classificações, e o que se vem a explicar é que o nosso cérebro o que faz basicamente é "CLASSIFICAR COISAS". Do meu ponto de vista, e é só a minha opinião, eu acho que seria necessário recuperar o Estruturalismo, especialmente o estruturalismo antropológico de Lévi-Strauss, fazer uma revisão do mesmo e adotá-lo às novas descobertas das ciências duras, como as ciências da complexidade, a neurociência, etc. Estou convencido que o Estruturalismo, devidamente revisionado e adaptado, daria hoje muito jogo para o estudo sistemático das organizaçoes sociais.

A castração de Sporus

Provavelmente atormentado por ter chutado Popeia Sabina até a morte, Nero mandou transformarem em mulher Sporus, que se parecia com ela, com quem se casou.

Minha curiosidade é sobre esses procedimentos adotados na antiguidade. Eunucos eram castrados, mas já li que alguns também tinha o pênis retirado (isso teria ocorrido com Sporus). Dado que na época não havia antibióticos, e (ao menos a meu ver) nem meios de fazer uma cirurgia de mudança de sexo, o que realmente ocorria?

Sporus perdeu os testículos e o pênis, mas os cirurgiões da época eram técnicos o bastante para, por exemplo, lhe conferirem um orifício análogo à vagina?

São muitas questões, só de pensar numa cirurgia complexa assim num período tão recuado. Procurei pela web, mas não encontrei detalhes.
Gostaria de saber dos colegas foristas se alguém já leu algo aprofundado a respeito.

Não acredito que tenha havido a operação. Seria um risco muito grande e naquela época não existia antibióticos.

Na verdade, foi o que eu disse, rs
Mas a penectomia era praticada por chineses e coreanos em seus eunucos. E sem antibióticos.

O que me deixa curioso era como o indivíduo urinava, principalmente no pós-operatório.

Que foda. Os antigos faziam muito com muito pouco (a custo de muita dor e sangue, claro).

Vocês todos estão certíssimos! Havia castração com ou sem penectomia. Com penectomia envolvia maior risco de sangramento, infecção e morte. A crer que os mitos são verdades semihistóricas, Atis não morreu à toa. A castração sem fim punitivo ou de resolver transsexualidade ou a libido do imperador Nero, era mais frequente NÃO envolver penectomia, exceto no Extremo Oriente. Eunucos eram funcionáros civis importantes em monarquias, por dois motivos:

1) Poderiam guardar haréns sem gerar descendentes que maculassem a dinastia

2) Poderiam até ser usurpadores, mas não gerariam outra dinastia

Desde a mais antiga data, os poderosos só tem como garantir a maternidade de seus herdeiros, o harém foi uma tentativa de garantir que só o patriarca/monarca fosse o pai das crianças vindas daquela mulheres reclusas. Mas nenhum destes senhores era ingênuo com relação a outra diferença nas castrações, além da penectomia: a idade no momento em que se castra!