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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:33

A SECA NA HÉLADE

Muitos anos se passaram, e Éacos tornou-se rei da Enópia, agora chamada de Eácia, que se encontrava povoada por agricultores e pescadores. Esta era a época em que o grande Héracles andava pela Hélade cumprindo os seus árduos trabalhos.

A Hélade inteira sofria com as calamidades da seca, por causa do mal que Pélops havia causado à casa dos árcades, tendo assassinado o seu rei, Estínfalos, e espalhado os seus membros por inúmeros pontos do Peloponeso.

Os gregos então acorreram ao Oráculo de Delfos e a sacerdotisa anunciou que a seca terminaria se Éacos, o melhor dentre os mortais, fizesse uma súplica a Zeus. E assim todos os reinos da Hélade enviaram emissários ao rei da Eácia para pedir a sua súplica. Éacos galgou o Panelênios, o mais alto monte da ilha, ergueu as mãos e suplicou misericórdia ao seu divino pai. Mal terminara a sua prece e já uma grossa camada de nuvens escuras cobria a Terra. E uma chuva grossa desabou.

Entrementes, havia uma jovem ateniense, Mírmex, que, por seus bons costumes e sua habilidade manual, merecera a afeição e a estima de Atena. Desvairada de orgulho, pôs-se a se vangloriar de ter inventado a charrua, que tinha sido invenção de Atena. Para castigá-la, a deusa transformou-a num inseto, a formiga cortadeira, prejudicial às colheitas.

Assim, o filho de Zeus vivia como sacerdote e rei poderoso, honrado pelos homens e amado pelos deuses. Casou-se com uma ninfa, Endeis, “que vive na inimizade”, filha do bom centauro Quíron. E teve com ela dois filhos, os gêmeos Télamon, “o suportador”, e Peleus, cujo nome foi tirado de pelós, o solo argiloso.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:37

Mais tarde, Éacos, enamorado de Psámate, “da areia”, nereida que circulava perto da Beócia, passou a persegui-la, a fim de possuí-la. Mas Psámate, para escapar ao assédio, transformou-se em vários seres, mas sua derradeira transformação foi em foca, só que isso não lhe valeu. Éacos, que tinha Zeus por pai, não importou-se e possuiu-a assim mesmo. A criança que nasceu de sua união com a nereida tomou o nome de Fócos, “o homem-foca” ou “relativo à foca”, em memória da metamorfose da mãe. Psámate levou seu filho para a Salamina, aonde pôs-se a criá-lo, enquanto que Peleus e Télamon foram levados ao centauro Quíron, seu avô, para dar-lhes educação e ensinar-lhes as ciências e as artes da guerra.

ÉACOS E OS MIRMIDÕES

Não podendo Héra permitir que uma ilha tivesse o nome da amante de seu marido, Zeus, resolveu vingar-se despovoando a então ilha de Eácia. Nuvens sombrias cobriram o céu, reinou um calor sufocante, os lagos e as fontes contaminaram-se. O mal atacou a princípio os cães, as ovelhas, os bois, as aves, enfim todos os animais. O agricultor, consternado, viu morrer diante dos seus olhos, no meio dos sulcos, os touros que trabalhavam. As ovelhas, despojadas da lã, magras e descarnadas, enchiam os campos de gritos lúgubres. O vigoroso corcel, desdenhando os combates e as vitórias, languescia. O javali esquecera a sua ferocidade natural; a corça já não tinha a habitual rapidez; o urso não ousava atacar os rebanhos. Tudo morria; as florestas, os campos e os grandes caminhos estavam juncados de cadáveres que infeccionavam o ar com o seu mau cheiro; os próprios lobos não ousavam tocá-los, e eles apodreciam na terra espalhando por toda parte o contágio.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:41

Dos animais, espalhou-se o mal às aldeias, entre os moradores dos campos, e daí penetrou nas cidades. Todos sentiram a princípio as entranhas arder com um fogo cujos reflexos, que apareciam no rosto, denotavam a força. Respiravam com dificuldade, e a língua seca e inchada obrigava-os a manter a boca aberta. Certos de que morreriam desde que fossem contagiados, abandonaram os remédios, e fizeram tudo quanto a violência do mal os impelia a desejar. Todos correram aos poços, às fontes, aos rios, para matar a sede que os devorava; mas só a mataram morrendo, e o langor impediu os que a tinham saciado de pôr-se novamente de pé e afastar-se da água em que expiraram. Por onde quer que se relanceassem os olhos, perceberam-se montes de mortos; foi inútil oferecer sacrifícios; os touros conduzidos aos altares para ser imolados caíram mortos antes de serem feridos; as almas das crianças e das mães, dos jovens e dos velhos, desceram, sem ser choradas e veladas, às margens do Estige. Não havia lugar para sepulturas, não havia lenha para as fogueiras. Morriam quase todos os habitantes de Égina.

— Zeus, ilustre pai, se realmente eu for teu filho, e se não te envergonhares de mim, devolve-me os meus súditos, ou faze com que eu morra também.

Um raio então caiu e o ar abafado retumbou com os trovões. Satisfeito, Éacos viu o sinal propício e agradeceu ao pai divino por ter atendido à sua prece:

— Aceito o augúrio. Possa ele ser indício de benevolência para comigo!

Havia na ilha um velho carvalho consagrado a Zeus, a semente que o produzira vinha da floresta de Dodona. O olhar do rei subitamente caiu sobre um galho dessa mesma árvore e ele então contemplou uma grande quantidade de formigas que subiam e desciam pela casca do tronco, carregando grãos de cereais. Vendo-lhe o número incalculável, chorou ao lembrar-se do seu reino despovoado.

— Ó pai Zeus, quisera eu ter tantos súditos para povoar esta ilha quantas formigas posso ver...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:43

Então a copa da árvore oscilou e as folhas ressoaram. O rei escutou, atento. Depois abaixou-se, beijou o chão e o tronco sagrado e prometeu generosas oferendas de gratidão ao seu salvador.

Ao cair da noite, o rei Éacos adormeceu sob o carvalho sagrado. E teve um sonho. Via o carvalho diante de seus olhos e ininterruptamente as formigas carregavam os grãos de um lado para o outro. De súbito, viu que os minúsculos animais começavam a crescer, tornando-se cada vez maiores, erguiam-se e, por fim, assumiam a forma humana. Éacos, ao acordar, ainda meio zonzo, viu-se rodeado por algumas pessoas que o observavam e rendiam-lhe as homenagens devidas à sua posição de rei. E, olhando para a árvore e para o chão, e não mais encontrou as formigas, em lugar algum.

Éacos, passando por aquelas pessoas, meio confuso, foi para sua casa e entrou em seus aposentos para refletir. E começou a ouvir um murmúrio distante, como se fossem almas humanas, e não eram as vozes de seus filhos, nem de sua mulher, Endeis. A porta de seu quarto abriu-se impetuosamente e seu filho Télamon entrou correndo, exclamando:

— Pai, vem ver! Zeus atendeu as tuas preces!

Éacos saiu precipitadamente e, chorando, presenciou o milagre: exatamente conforme ele vira em seu sonho, uma multidão se achava à sua frente. Todos se aproximaram e o cumprimentaram como seu rei.

Éacos deu graças ao rei dos deuses; depois, distribuiu os novos habitantes pela cidade e pelos campos, cuja peste já havia passado, de um momento para outro. E para conservar a recordação da origem daquele povo, chamou-o de mirmidões, “formigas”, em homenagem à Mírmex, que também havia retomado sua forma natural. E a sua característica de insetos se manteve: era um povo laborioso, ativo, ardente no amontoamento de bens, empregava o maior cuidado em conservar o que havia adquirido.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:49

O CURTO REINADO DE ASSÁRACOS

Assáracos, o segundo filho de Trós e Calírroe, ocupou o trono de Tróia, antes do irmão Ilos. Tomou por esposa Hieromneme, com quem engendrou Cápis. No entanto, seu reinado foi curto, e logo seu irmão tomaria as rédeas de Tróia. E muitas coisas importantes ocorreram antes, durante e depois desse curto período: Atreus e Tiestes, filhos de Pélops, quando este reinava na Elide, foram acusados da morte de seu meio-irmão Crísipos, tiveram que se exilar e pedir asilo ao rei Estênelos, na Argólida. E a deusa Ate, personificação do Erro, por ter incitado Ilítia a adiantar o nascimento de Euristeus e atrasar o de Héracles, tornando este submisso ao outro, Zeus, furioso, precipitou a deusa do alto do Olimpo, e ela foi cair numa colina da Míssia, que passou a chamar-se “colina de Ate”.

ILOS E A CONSTRUÇÃO DE ÍLION

Ilos, visitando de uma feita o vizinho país dos frígios, que diziam ser descendentes de Frígia, filha do famoso rei Cécrops, o primeiro rei da Ática, foi convidado pelo soberano aos Jogos Atléticos, que acabavam de ser organizados, e saiu vitorioso na prova de pugilato. Como prêmio recebeu cinquenta escravos moços e igual número de moças, além de uma vaca de pele mosqueada que o rei lhe entregou, concordando com as indicações de uma velho Oráculo, o qual mandava se fundasse uma cidade no ponto em que o animal se detivesse.

Ilos seguiu a vaca, para o norte, e parando esta num povoado aberto que, desde os tempos de seu pai constituía na capital do país, e já se chamava Tróia, projetou construir, perto dali, sobre a colina de Ate, a cidadela de Ílion (ou Ílios), e a chamaria também Pérgamos, pelos montes que a abrangiam, pelo que, a partir de então, toda a colônia se chamaria Tróia, Ílion e Pérgamos, indistintamente.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:51

Contudo, antes de iniciar a construção da fortaleza, rogou a Zeus, cabeça de sua estirpe, que lhe enviasse um sinal indicador da sua aprovação. Foi então que Atena incitou Ábaris, um habitante da Cítia, a construir, com os ossos de Pélops, que havia morrido a pouco tempo, uma estátua representando a deusa Palas, sua antiga companheira, morta numa luta simulada com ela, e viria a ser padroeira de Ílion. Ábaris era um adivinho hiperbóreo, servidor de Apolo que viajava pelo mundo sem necessidade de comer. Apolo lhe havia dado o dom da adivinhação e o de apaziguar as tempestades. E Ábaris, inspirado pelos deuses, produziu tal obra ordenada por Atena no mesmo dia. Ao terminar, a deusa cobriu o peito da estátua com um pedaço da mesma pele de cabra que a do escudo, colocou a imagem perto da de Zeus, e tributou-lhe grandes honras. Em seguida, Atena adotou o nome de Palas-Atena, como passou a ser conhecida.

A história da estátua foi a seguinte: a deusa Atena, desde o nascimento, foi educada por Tríton, um deus marinho que tinha uma filha chamada Palas, da mesma idade que Atena, e sua querida companheira de folguedos. Um dia, estando ambas entretidas nos seus exercícios guerreiros, iniciaram, por gracejo, um combate singular. Palas apresentava-se a assestar um golpe à companheira, quando Zeus, preocupado por algum acidente à filha, pôs-lhe na frente o seu escudo de pele de cabra, a égide. Assustadíssima, a tritônida ergueu os olhos e no mesmo momento recebeu das mãos de Atena um ferimento mortal. Profunda foi a dor da deusa Atena, e para que existisse sempre uma recordação da querida amiga, deu uma ordem a Ábaris, que construísse a estátua.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:53

Ábaris, que era sumo-sacerdote de Apolo, por ter cantado a viagem do deus ao país dos Hiperbóreos, havia recebido dele o espírito de divinização e uma flecha sobre a qual podia atravessar os ares. E naquele mesmo dia, transportado por sua flecha mágica, o cita surgiu em Tróia, enviado por Zeus, que veio oferecer ao rei uma belíssima estátua da deusa Atena, que viria a descer milagrosamente do céu. Ábaris, no dia seguinte, retornou para junto dos troianos, e Ilos, ao acordar, encontrou, diante da sua tenda, a estátua de Palas, tombada do céu, e chamou-a de Paládio. Media três cúbitos, tinha os pés unidos e segurava na mão direita uma lança e na esquerda a roca e o fuso. Ábaris vendeu-a ao rei, dizendo-lhe tê-lo prevenido desse fato no dia anterior e que teria ajudado a descê-la do céu. Ilos, depois de comprá-la, para abrigar a estátua, mandou construir um templo, que seria o belíssimo Templo de Atena, em Tróia. No entanto, a deusa Palas caiu no esquecimento, e a estátua passou a designar definitivamente uma imagem simplória da deusa. E fabricou-se certo número de réplicas da imagem, de tamanhos diferentes, para que ninguém pudesse saber qual era a genuína, pois a continuação da cidade passou a depender da posse do Paládio; se ela um dia caísse nas mãos do inimigo, Ílion cairia.

Ilos tornou-se rei de Tróade, no lugar de seu irmão Assáracos, e casou-se com Eurídice. Juntos tiveram dois filhos, Laómedon e Temístea.

Ilos desejava ardentemente que este lugar recém construído pudesse constituir um reino, vizinho de Tróia, para se sentir seguro, ou talvez na intenção de unificar o reino todo, aliando-se a frígios, ascânios e dárdanos. E foi o primeiro rei a fazê-lo.

LAÓMEDON
O NOVO REI DE TRÓIA

Na época em que Atreus herdava o reino de Argos, assim que Laómedon assumiu o controle de Tróia, resolveu definitivamente dar continuidade ao que seu pai Ilos havia iniciado: a região circunvizinha de Tróia foi dividida em três distritos, Frígia Menor (Phrygía), Ascânia (Askanía) e Dardânia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:55

A Frígia Menor, parte a noroeste de Tróia, tornava-se uma extensão da Frígia propriamente dita. Estendia-se na região do rio Sangários. Cedo, a Ascânia seria incorporada à Frígia. E a Dardânia estava localizada bem próxima de Tróia, com sede em Dárdanos.

Finalmente, Tróia ocupava a parte mais central, governada por Laómedon, que pretendia cercar a cidade-sede com uma inexpugnável muralha, pois temia que seus vizinhos da Dardânia e da Frígia a tomassem. E iniciou um projeto para tal façanha, circundando a colina do Pérgamos, a Skaia (Escéia, a cidade e o seu povo) e a colina de Kallikolone, onde erguia-se a cidadela de Tróia.

ÉOS E TÍTONOS

Títonos era um belo rapaz, filho de Laómedon, o novo rei de Tróia. Certo dia, Éos-Rhododáktylos, a deusa de dedos róseos, viu-o nos campos e por ele se apaixonou. E, aproveitando o momento em que ele dormia, antes do amanhecer, raptou-o secretamente, depositou-o em sua carruagem e levou-o para bem longe, ao país dos etíopes.

Éos desposou Títonos, e ambos passaram a ter uma felicidade completa. Chegaram a engendrar dois filhos, em lugares distintos: primeiro, perto da Trácia, tiveram Emátion, que se tornaria rei de uma região da Macedônia. Mais tarde, para além do Egito, tiveram Mémnon, destinado a governar sobre os etíopes.

Mas Títonos não era imortal, assim, apesar de toda a felicidade que viviam, Éos sabia que um dia iria perdê-lo. O terceiro amor falido de Éos mostrava-se como objeto da vingança de Afrodite. Mas Éos não se entregou às perfídias de Éos e, certa vez, após uma noite de intenso prazer, decidiu ir falar pessoalmente com Zeus, e lhe pediu:

— Ó Zeus, peço que tornes minha felicidade eterna, como é a tua ao lado de tua esposa Héra, que é imortal como tu és...

— O que tu queres exatamente? Deixa de rodeios.

— Gostaria, deus supremo, que tu concedesses a Títonos o dom da Imortalidade!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:56

Zeus sabia que não podia desaprovar às atitudes de Éos, pois costumava ser infiel à sua esposa Héra e cometer raptos secretos. E, após muito insistir, Éos conseguiu convencê-lo.

No começo, após Títonos nutrir o néctar divino, foram muito felizes, vendo o pequeno Mémnon crescer em harmonia. Passavam o tempo todo comemorando, com todos os meios para gozar a vida intensa e proveitosa. Mas, sendo o menino diferente dos pais, não podendo estar onde andavam seus pais divinos, foi levado para muito longe, nos limites do mundo, onde foi criado e educado pelas Ninfas Hespérides.

Mas as Moiras teciam os fios segundo a vontade do Destino. E seria por causa de alguns fios de cabelo que tudo iria mudar. Muito tempo se passaria desde que Éos viu Títonos pela primeira vez, belo e radiante. Pois, um dia, Éos notaria um fio prateado sobre a cabeça de seu amado, o que não lhe despertaria maiores preocupações. No entanto, com o passar do tempo, outros fios brancos haveriam de aparecer, e rugas também, preocupando a deusa:

— Será que Títonos virou mortal outra vez?
Éos teria uma conversa com Zeus, que lhe diria:

— Não há nada de errado, está tudo normal.

— Mas como, se percebo meu querido Títonos envelhecendo diante de meus olhos?

— Sim, e daí? Você pediu para ele o dom da Imortalidade e não o da eterna juventude...!

Títonos, aos poucos, iria envelhecer, envelhecer, perderia a sua virilidade e a sua beleza, também perderia os dentes, tornando-se cada vez mais decadente, sem a sombra da Morte como companheira. Mesmo assim, Éos, apiedada, ainda lhe daria ânimo:

— Vamos, Títonos, faz ao menos um esforço para prolongar a tua saúde e a tua juventude!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 05:58

Não adiantaria. Títonos entregaria o ânimo à Velhice. E ele, ao invés de conformar-se ou fazer algo para amenizar o seu estado, exigiria de Éos, a Aurora, que abandonasse o seu dom divino e o acompanhasse à decadência, tornando-se senil, decrépita, ranzinza e gasta como ele. Mas Éos não queria nem mesmo conseguiria fazer isso, já que a Imortalidade fazia parte da sua natureza.

Com o tempo, Títonos perderia os movimentos das pernas e dos braços. Já não seria mais homem nem deus, mas um monstro, tão feio quanto as mais horripilantes criaturas do Ínfero.

E Éos já não mais suportaria. Não bastaria a morte de seus dois filhos. Mas chegaria a um termo diante de Zeus, o senhor do Olimpo.

— Quem se tornou uma vez imortal não pode jamais deixar de sê-lo. No entanto, permitirei que ele se transforme num outro ser, libertando-o desta forma decaída. Faz a escolha, e se realizará.

A deusa de volta à sua morada, na Etiópia, junto de seu esposo, o encontraria na cama, em pele e ossos, feliz escutando uma cigarra a cantar em cima de um galho de árvore.

— Antes fosse eu esta cigarra.

Éos lhe daria conforto ao pé do ouvido:

— Que assim seja, meu querido.

No mesmo instante, suas formas ressequidas desapareceriam e dariam lugar a uma formosa cigarra prateada, que levantaria voo e pousaria sobre a cabeça de Éos, como forma de agradecimento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 06:00

O DOM DE AUTÓLICOS

Havia um homem de má fama chamado Autólicos, que gabava-se de ser filho do deus Hermes. O deus dos ladrões gerou-o numa das amadas de Apolo, que já havia lhe dado um filho, Filámon, no mesmo dia. Ele assumira o aspecto de seu irmão, à noite, junto de Quíone, a “donzela da neve”, filha de Dedálion, num esconderijo do monte Párnassos, onde caía neve em abundância. Assim, Autólicos, o “próprio lobo”, nasceu e reverenciou seu pai Hermes acima de todos os deuses. E Autólicos recebeu do divino pai o poder mágico de transformar touros em vacas, bem como o de mudar a sua cor, de branca para vermelha, ou de preta para malhada. Ele, pretendendo ser mais rico que seu vizinho, Sísifos, de Corinto, que entregara ao filho Glaucos o poder, acostumou-se a roubar gado do pasto alheio, transformando touros brancos em vacas vermelhas e vacas pretas em malhadas.

— Estranho! Enquanto meu rebanho diminui, o de Autólicos aumenta, dia após dia. Sei que ele anda me roubando, mas sou um rei justo e não posso acusá-lo sem provas...!

Finalmente, concebeu um plano: marcou os cascos do gado que lhe restava com as letras S I S, de Sísifos, e, quando mais reses sumiram, ele mandou seus soldados até o pátio onde o ladrão astuto, Autólicos, prendia o gado. Levantando as patas de todos os animais, eles encontraram cinco deles com a marca S I S.

Autólicos afirmou:

— Não as roubei. Essas vacas são minhas. Essas marcas que encontrastes devem ser truques de algum inimigo meu. Quando, por acaso, teve Sísifos vacas com essas cores? Ele deve ter entrado no meu pasto e marcado os cascos. Portanto, ide embora!

Os soldados levaram a notícia para Sísifos, que não se convenceu, e resolveu planejar sua vingança.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 06:34

Enquanto todos pareciam estar envolvidos em uma briga sem fim, com acusações sobre roubo de gado, tornando-se inimigos os vizinhos das regiões ao redor de Corinto e Árgos, Sísifos resolveu vingar-se do roubo de Autólicos, cometido anos atrás. Para reaver seu rebanho, desconfiando de Autólicos, decidiu ir à casa do ladrão. Entrou sorrateiramente na casa do inimigo, na noite anterior do dia de núpcias de Laertes, filho de Arcésios, e Anticléia (Antíkleia), filha de Autólicos. O palácio, em Árgos, estava cheio de convidados, e Sísifos não foi reconhecido.

Sísifos, entrando secretamente no quarto escuro de Anticléia, fingindo tratar-se de Laertes, e possuiu-a violentamente. Anticléia não pôde evitar, temendo ter que esconder o ocorrido a Laertes, seu noivo. Mas Sísifos forçou-a a segui-lo para Corinto.

Nessa época, Hipocóon destronava seu meio-irmão Tíndaros, que teve que, em companhia de seu irmão legítimo, Icários, abandonar Esparta e ir exilar-se junto do rei Téstios, em Cálidon, na distante Etólia.

A MORTE DE SÍSIFOS

Sísifos tornara-se insuportável. Os deuses não conseguiam fazê-lo morrer, já que soube enganar a Morte. Só restaria levá-lo à força para os Infernos. Por isso, com o consentimento de Zeus, Hádes mandou Hermes buscá-lo de uma vez por todas.

— Mas, por quê? Por acaso as Moiras cortaram o fio da minha vida?

— Elas cortaram, eu mesmo vi. Tu não devias ter revelado a Ásopos o segredo de Zeus. Provocaste a sua ira.

Sísifos, desconfiado e duvidoso, chegou a querer enganar o deus, mas, vendo que não havia mais jeito e que já havia vivido tempo demais, muitas gerações, dom que jamais algum mortal havia recebido em vida, suspirou:

— Bem, de qualquer modo, pelo menos consegui uma boa fonte de água para Corinto.

— Vem logo, e nada mais de truques!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 06:36

Com isso, a cidade de Corinto ficou sem um rei, e o valente Laertes foi buscar Anticléia. A pedra que os juízes dos mortos ordenaram que Sísifos ficasse para sempre empurrando morro acima, no Tártaros, tinha exatamente o mesmo feitio daquela na qual um dia Zeus se transformara ao se esconder de Ásopos.

Mas os coríntios continuaram a amar Sísifos por tudo o que havia feito por eles e, anualmente, passariam a realizar uma festa em sua honra. Afinal, havia sido ele mesmo o herói-fundador dos Jogos Ístmicos, em memória de Melicertes, o filho de Átamas e Ino. Por isso, os coríntios ergueram em sua honra uma estátua com seu nome gravado no pedestal.

Glaucos, seu filho, longe se encontrava e precisava ser encontrado para assumir o seu lugar no trono.

O NASCIMENTO DE ULISSES

Então, com a morte de Sísifos, consumou-se as núpcias de Laertes e Anticléia. Mas foi da união de Sísifos e Anticléia que nasceu um menino, no monte Néritos, em Ítaca, durante uma tormenta. Autólicos estava passando em Ítaca algum tempo como hóspede do genro Laertes. Assim que nasceu a criança, colocaram-na nos joelhos do avô e pediram-lhe que achasse um nome para o recém-chegado.

— Que tal Nano?

Mas a pedido da destinada ama Euricléia, que foi falar-lhe ao ouvido, replicou:

— Está bem, está bem, ele será chamado de Ulisses. Nano Ulisses.

O fato de que Sísifos era o verdadeiro pai da criança, haveria de ser guardado segredo durante muito tempo, tanto que Laertes decidiu adotar e criar o menino. Para tanto, mais tarde, surgiria um boato sobre o nascimento de Ulisses (Uliksés), que, sendo filho de Sísifos, teria ele nascido no Templo de Atena-Alalcômene, na Beócia, e que por esse motivo Ulisses, no futuro, ergueria uma cidade na Ítaca e lhe daria o nome de Alalcômene.

Autólicos prometeu, então, dar ao neto recém-nascido um régio presente, quando ele chegasse à adolescência e fosse visitá-lo no palácio onde morava, no monte Párnassos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 06:38

A EXPANSÃO DOS MIRMIDÕES

Ao tornar-se adulto, Fócos deixou a Salamina, onde crescera, e ganhou a Hélade, fixando-se numa região que passou a chamar-se Fócida. Lá, desposou Astéria, filha de Déion e Diómede, e foi pai de gêmeos, Crisos e Panopeus.

Mais tarde, Fócos voltou à Eácia, a fim de reclamar o trono de seu pai, Éacos, que acabara de renomear a sua ilha em homenagem à sua mãe: Égina. Télamon e Peleus, filhos de Éacos e Endeis, ciumentos da habilidade de Fócos nos exercícios físicos, durante os Jogos Atléticos, resolveram tirar-lhe a vida, e tiraram a sorte para decidir a quem caberia realizar o crime. Télamon foi o sorteado. E, durante uma prova de arremesso de disco, Télamon fingiu um acidente e arremessou-o contra Fócos, matando-o. Então, Fócos, o filho bastardo, foi enterrado em Égina, e um túmulo foi erguido em sua honra.

Éacos, repudiando tal atitude, descobrindo a trama dos dois filhos, expulsou-os daquela terra: Télamon refugiou-se na Salamina e Peleus foi para a Hemônia, procurando asilo na corte de Eurítion, filho de Áctor, na região de Ftiótis. Ambos foram purificados e, também, admitidos naqueles reinos.

Peleus teve o consentimento de Eurítion para desposar sua filha Antígone, recebendo ao mesmo tempo um terço do reino de Ftiótis. E nada disso livrou-o de continuar mergulhado em profunda sombra e arrependimento, e trazia consigo o infortúnio. E de sua união com Antígone, nasceu-lhe uma filha: Polidora.

Devido a essa atitude inesperada de Peleus, Psámate o abandonou para sempre, entregando-se aos assédios do deus Proteus.

Mas Psámate, decidida a vingar a morte do filho, Fócos, decidiu enviar um lobo para dizimar os rebanhos de Peleus, em Ftia. Todavia, a pedido de Tétis, uma nereida, ela consentiu em transformar o feroz animal em pedra. Esta foi a primeira intervenção da deusa na vida de Éacos; a segunda seria em relação ao seu filho Peleus.
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A Guerra de Tróia - Página 2 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 06:40

Os habitantes de Égina, através de Peleus, espalharam-se em direção do norte, migrando para as regiões da Hemônia (a Tessália) e do Épiro, fundando colônias diversas. Éacos, depois de tal acontecimento, fundou um templo e cerimônias às quais todos os gregos deveriam assistir. Zeus recebeu nessa ocasião o apelido de Pan-Helênico, ou seja, adorado por todos os gregos.

TÍNDAROS E LEDA

Um dia, diante das queixas da Terra sobre-povoada, Zeus, o senhor do Olimpo, resolveu, novamente, aniquilar boa parte de seus habitantes. Já havia feito isso antes, através do Dilúvio, e pretendeu destruir a humanidade com raios e inundações, pelo menos em parte, para que pudesse controlá-la. Mas Momo, o deus da censura e do sarcasmo, censurou-o e persuadiu-o, em vez disso, a gerar uma filha tão bela que causasse a discórdia entre os príncipes de nações diversas e ocasionasse uma disputa entre eles; tal empreendimento daria um fim à raça dos heróis e à sua prole numerosa.

Anos se passaram, e poucos discípulos do Sábio Centauro continuavam com ele. Começavam a retornar para a casa dos seus pais. Héracles já havia-se transformado em herói famoso. Enquanto isso, em Cálidon, na Etólia, havia uma princesa tão bela que os próprios deuses suspiravam quando a viam. Chamava-se Leda, filha do rei Téstios, descendente de Plêuron. Protegida na corte, esperava que um príncipe dela fosse digno. Tivera muitos pretendentes, mas a todos recusou, pois pretendia partir à aventura e conquistar ela própria o seu reino. Não lhe agradavam os príncipes que acorriam para cortejá-la a fim de desposá-la. Dizia que eram jovens imaturos e fúteis. A todos repelia, e regressavam às suas terras, frustrados pelo fracasso. Já o rei seu pai desesperava de lhe arranjar casamento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 06:42

Foi quando chegou à corte um jovem príncipe diferente dos demais. Chamava-se Tíndaros e vinha acompanhado de seu irmão, Icários. Dizia ter sido alvo de uma conspiração e expulso do trono que lhe era de direito; o trono de Esparta. Eles haviam sido expulsos de sua casa pelo próprio irmão Hipocóon, guerreiro cruel que, com a ajuda de seus vinte filhos, tinha usurpado o trono. Planejava vingar-se e estava para reunir aliados para regressar e defrontar Hipocóon. E já contava com a ajuda do grande Héracles, que lhe prometia tomar o comando e invadir Esparta.

A determinação de Tíndaros conquistou Leda. As aventuras do jovem príncipe comoveram-na e a sua determinação de recuperar o trono fê-la ver nele um pretendente à sua altura.

A LUTA CONTRA OS HIPOCOÔNTIDAS

O espartano Hipocóon, filho do famoso rei Ébalos e da ninfa Bátia, era irmão de Tíndaros, Icários e Arne, e vivia à espreita, já que não era filho legítimo da rainha Gorgófone nem sucessor ao trono. Foi pai de uma numerosa prole, e chamavam-se: Dorycleus, Scaios, Enaróphoros, Euteiches, Boúcolos, Lycaithos, Tébros, Hipóthoos, Eurytos, Hippocorystes, Alcínous e Álcon — todos varões.

Com a morte do pai, decidiu reunir forças para conquistar o trono de Esparta, já que não era o sucessor legítimo. Por isso, reuniu guerreiros a seu comando, os seus próprios filhos, marchou contra Esparta e apoderou-se do trono à força, expulsando do reino seus irmãos Tíndaros e Icários, legítimos herdeiros, que foram refugiar-se em Cálidon, mas ouviram falar do cruel hábito de seu rei, Évenos, que matava os pretendentes de sua filha, e decidiram buscar asilo na corte do rei Téstios, em Plêuron. Lá asilados, Tíndaros desposou Leda, filha do rei e de Eurítemis (Eurythemis), e teve dela os filhos Cástor e Clitemnestra, e ainda Filónoe e Timandra. Pólux e Helena nasceram de Zeus, o senhor do Olimpo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 06:50

Tíndaros, mais velho que Icários, desejava recuperar o trono algum dia, e o seu desejo e a sua esperança foram ainda maiores quando soube que Éonos, primo de Héracles, havia sido morto em Esparta. Éonos (Oionos), filho de Licímnios (Likymnios) e sobrinho de Alcmena, um dia, ao ser atacado pelo cão de guarda da casa de Hipocóon, tentou defender-se e acabou matando-o. Os filhos de Hipocóon, ao surpreendê-lo, mataram-no a pauladas.

Héracles, ao voltar para Tebas, sabendo do que havia acontecido em Esparta, declarou vingança e prometeu a Tíndaros, exilado na região da Etólia, recuperar-lhe o trono, já que era seu de direito. Hipocóon era fruto de uma união clandestina entre Ébalos e a ninfa Bátia — portanto, Hipocóon era usurpador do trono.

Héracles, junto com Íficles — já muito arrependido de servir ao rei Euristeus —, e alguns heróis, partiu para a Lacedemônia, a pedido de Tíndaros e Licímnios, em expedição contra os filhos de Hipocóon. Para tanto, foi a Mantinéia solicitar a aliança dos árcades de Cefeus, filho de Aloeus, que tinha vinte filhos varões. Mas Cefeus, temendo que, na sua ausência, o povo de Árgos lhe invadisse o território, vacilou e esteve a ponto de recusar o pedido de Héracles, seu amigo. Entretanto, Héracles lhe deu uma mecha de cabelos da Górgona, encerrada num vaso de bronze, presente de Atena. Disse-lhe que, se os inimigos atacassem a cidade na sua ausência, bastava que Estérope, sua filha, erguesse o vaso no ar, agitando-o três vezes acima dos muros da cidade, e o inimigo fugiria. Então Cefeus reuniu as suas três filhas Estérope, Aérope e Antínoe, que tivera de sua esposa Mantinéia, deu-lhes todas as recomendações e, após reunir os seus vinte filhos varões e um exército, partiu com Héracles para a Lacedemônia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 13:44

Durante a guerra, pereceram todos os filhos de Cefeus e todos os de Hipocóon. Durante a batalha, o filho de Zeus foi ferido na mão, mas conseguiu assim mesmo prosseguir no seu intento. O rei foi morto pelo próprio Héracles, que, depois de receber os cuidados do médico Asclépios, no Templo de Deméter-Eleusina, sobre o Taígetos, retornou e restabeleceu Tíndaros no trono de Esparta. Os cidadãos aclamaram-no e até chegaram a considerá-lo imortal e semelhante aos deuses. Héracles erigiu um templo em honra de Atena, sua protetora, e outro a Héra, para agradecer-lhe não tê-lo prejudicado nessa empresa.

ECO, CÚMPLICE DE ZEUS

Ártemis, a deusa dos bosques, um dia, segredou a uma de suas Ninfas:

— Não aguento mais essa tagarela da Eco!

Mas não era a única a reclamar. Nenhuma de suas amigas suportava o falatório nem podiam mais vê-la pela frente sem fugir de sua língua incansável. Apesar de ser tão bela, Eco tinha a mania incontrolável de falar pelos cotovelos.

— Por que não te calas de vez em quando? Homem algum suportará uma mulher que fale sem parar. A tua beleza não compensa o esforço de te ouvir.

Mas Eco não se corrigia e prosseguia atormentando, até a exaustão; sempre tinha um assunto, sempre dava opinião aos assuntos alheios, sem tinha uma história pra contar e não sabia guardar segredos. Melhor mesmo era manter distância, especialmente de divindades maiores e mais vingativas.

Leda, filha do rei Téstio e Eurítemis, da distante Etólia, recém-casada com Tíndaros, restabelecido no trono por Héracles, havia agradado aos olhos e ao coração de Zeus, que, desejando aproximar-se dela, quis metamorfosear-se em cisne e misturar-se com os outros cisnes que Leda cobiçava afagar, mas temia que sua esposa Héra descobrisse. E o deus Hermes, seu filho, veio até Zeus avisá-lo de que Héra o procurava no intuito de acabar definitivamente com seus encontros com suas amantes. Para isso, precisava despistá-la, e foi recomendar a oréade Eco:

— Por favor, Eco, impede que Héra me siga!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 13:46

— De que maneira, se eu...?

— Fala com ela. Diz o que te vier à cabeça. Inventa mentiras, digas que não me viste.

Em seguida, rogou à filha Afrodite que se transformasse em águia e fingisse persegui-lo. E puseram mãos à obra. Quanto a Eco, que não teve tempo de continuar a conversa com Zeus, percebeu que deveria evitar fofocas. Afinal, meter-se com o deus-supremo podia trazer-lhe problemas funestos.

E assim Eco, conquistando facilmente sua estima e confiança, distraía-lhe a atenção, contando-lhe muitas histórias. Porém, depois de lhe perguntar sobre o paradeiro de Zeus seu marido, Eco disse à rainha Héra que ela havia visto Zeus sair disfarçado em pica-pau. Héra ficou com o ouvido atento até ouvir o barulho de um pica-pau bicando a casca de uma árvore, e então correu para apanhá-lo. Mas se tratava apenas de um pássaro comum, e o mesmo aconteceu com o pica-pau que conseguiu apanhar em seguida.

Héra, depois de muito tempo perder, percebeu que a oréade lhe tinha feito de boba e resmungou, interrompendo as novas ladainhas da ninfa:

— Está muito bem, menina. Cala a boca! Pensas que me enganas com tua conversa mole, atrevida?

Eco, assustada e com as mãos da furiosa deusa impressas nos ombros, calou-se. Mas era tarde demais.

— Porque pretendeste fazer-me de tola, teu castigo será o de ficar invisível aos olhos de todos para sempre e de ser capaz de falar repetindo o que os outros disserem. Espera, e verás...

— ... e verás-verás...!

Repetiu Eco, em cuja boca o feitiço já começava a atuar.

— Aí está o que ganhaste com teu atrevimento.

— ... atrevimento-vimento...!

— Adeus, idiota!

— ... idiota-diota...!

Repetiu Eco e tapou rapidamente a boca com as duas mãos.
A notícia da maldição de Héra espalhou-se instantaneamente por entre as Oréades, e caçoaram:

— Bem-feito, sua ordinária!

— ... sua ordinária-dinária...!

Respondeu Eco, que ao menos podia, às vezes, responder à altura os desaforos que escutava.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 13:48

Então, terrivelmente amaldiçoada, tentou a pobre ninfa pedir perdão à rainha, mas de sua garganta não lhe saiu nenhum som senão as últimas e intrigantes palavras que algum deus pronunciasse. Emudecida, abandonou o Olimpo e voltou aos bosques para se isolar. E duas Ninfas mais amigas, ao vê-la tão triste, se aproximaram para lhe consolar e contar-lhe algumas histórias mais alegres. Mas Eco, entre lágrimas, só podia repetir o que elas diziam. Havia ficado reduzida a imitar o fenômeno sonoro da palavra.

ZEUS UNE-SE A LEDA

No dia do casamento de Tíndaros, o rei de Esparta, Leda, sua noiva, foi banhar-se num lago construído especialmente para ela, atrás do palácio real, com as águas do Eurotas. Zeus, como sempre, sobrevoava aquela região, e ao olhar para baixo, viu Leda, exuberante e totalmente nua num lago cheio de cisnes. Apaixonado, Zeus resolveu transformar-se num cisne branco e ordenou que sua águia-real o perseguisse. Então, perseguido pela águia, o cisne foi acercar-se das margens do Eurotas, no sopé do Taígetos, e, no momento em que a águia ia atingi-lo, refugiou-se aos pés de Leda, como que a pedir-lhe proteção. Habitualmente, era ela que se abeirava com cuidado dos cisnes, que sempre fugiam, temerosos, quando alguém se aproximava. Leda afugentou a águia, e o cisne começou a bater as asas e permaneceu perto da protetora para lhe dar provas do seu júbilo e do seu reconhecimento. Deslumbrada e seduzida pelo cisne, a rainha adormeceu suavemente, caindo na armadilha de Zeus, que, aproveitando o aconchego, apoderou-se dela com o poder que só os deuses conheciam.

Leda, ao acordar, estranhamente exausta, mas muito feliz, levantou-se e correu de volta para o palácio. Devia aprontar-se para o casamento com seu noivo Tíndaros ao cair da Noite.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 13:51

Alguns meses depois, estando com seu esposo em Pelana, Leda deu à luz, estando grávida de Tíndaros. Nasceram seus filhos, um casal, e deu-lhes o nome de Cástor e Clitemnestra. Em seguida, quando já não se esperava acontecer mais nada, em seu leito, no mesmo parto, nasceu um grande ovo azul, que somente Leda seria capaz de entender. O ovo foi divinamente transportado para um pequeno recife chamado Pefnos, no golfo da Messênia, e lá foi depositado sobre um ninho. Daquele ovo nasceram duas crianças, gêmeos dos primeiros, filhos de Zeus, aos quais chamou-os Pólux (melhor Polideuces) e Helena. A estes dois, especialmente, foi-lhes dado dons divinos: a Pólux deu o privilégio da imortalidade, e a Helena, a eterna beleza e a mocidade. E, assim que nasceram, o deus Hermes foi apanhá-las e levá-las até Leda, em Esparta.

No entanto, havia uma versão que contava que a segunda filha que nascia não era de Helena, mas da deusa Nêmesis, marcando na menina um espírito maligno. Nêmesis, para fugir à tenaz perseguição de Zeus, a própria fecundidade, percorreu o mundo inteiro, tomando todas as formas possíveis para despistá-lo, até que, chegando na Ática, no outono em Ramnunte, próximo de Maratona, já cansada, se metamorfoseou em gansa. O deus se transformou em cisne e a ela se uniu. Dessa união, Nêmesis pôs um ovo que foi escondido num bosque sagrado. O ovo azul, diferente de qualquer outro já visto, foi encontrado por um pastor e entregue a Leda, a filha do rei Téstios, que já tinha filhos. Ela guardou-o num cesto e, no tempo devido, nasceu dele uma menina, que Leda criou como sua própria filha.

Apesar da confusa paternidade das crianças, as duas filhas e os dois filhos formavam pares de gêmeos. Tanto Polideuces como Cástor, ambos passariam a ser conhecidos como Dióscuros (Diòs kûroi), filhos de Zeus, e Tindáridas, filhos de Tíndaros.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 13:52

Polideuces e Cástor estavam destinados a protegerem suas irmãs, por isso, Zeus lhes deu a faculdade de crescerem rapidamente, em poucos anos, e, assim que atingiram a adolescência, receberam dos deuses dois gorros redondos, pilos, que passariam a usá-los daí por diante. E foi nesse tempo que Leda ficou novamente grávida de Tíndaros, e teve as filhas Filónoe (ou Febe) e Timandra.

O EXÍLIO DE APOLO E POSEIDON

Em determinada altura, Zeus sentiu-se demasiado orgulhoso do seu poder sobre os outros deuses, e esta soberba aborreceu-os. Houve uma conspiração contra Zeus no Olimpo, apesar dos conselhos desfavoráveis de Héstia, que não quis fazer parte. Foi planejada por Héra, que já estava demasiadamente farta de ser traída pelo marido, e Apolo foi o protagonista. Encorajado por Héra e pressionado pela divina avó, a deusa Géa, que exigia um castigo pela morte da serpente Píton, achou que ele precisava de uma lição. Ele, Poseidon e outros deuses agarraram-no, enquanto dormia, e prenderam-no com cordas de couro cru, as mesmas produzidas por Hefaístos, atadas com cem nós. E, na sua frente, imóvel, discutiram qual o deus que havia por bem suceder-lhe, e ele compreendeu que se não acontecesse qualquer coisa seria suplantado, tal como fizera ao próprio pai Cronos.

Todavia, enquanto Zeus lutava em vão para se libertar, ameaçando-os de morte instantânea, outros deuses ficaram preocupados com a possibilidade de uma nova guerra no Olimpo. Entre eles estava a ninfa Tétis, que tomou uma decisão e foi buscar o gigante Briareus, filho de Úranos, que guardava os Titãs nos Infernos. Os deuses rebeldes, preocupados com as ameaças de Zeus, esconderam os seus raios, enquanto outros riam-se dele.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 13:55

Enquanto isso, Tétis conduzia Briareus ao sítio onde estava Zeus espumando de raiva. Com cada uma das cem mãos, o gigante desatou, com cuidado, os nós que prendiam o rei dos deuses. Num instante, antes que os demais deuses percebessem, Zeus ficou mais uma vez livre e sedento de vingança. Furioso, o senhor do Olimpo atacou os deuses no Olimpo, fulminou os que resistiam e encurralou os demais; trovejando e faiscando, Zeus condenou Apolo ao exílio, juntamente com Poseidon, que tentou defendê-lo. E ambos, como simples mortais, desprovidos de seus poderes, foram mandados ao rei Laómedon para que o ajudassem a construir as muralhas de Tróia e deles se servisse como melhor o aprouvesse, ele que arduamente se empenhava na construção de suas muralhas sob a direção de um amigo seu, o herói grego Éacos. E mandou-os para lá sem aviso, e o seu castigo duraria nove longos anos a contar a partir de então.

Poseidon e Apolo andaram maltrapilhos pela Ásia em busca de seu senhor, em exílio, até que aprendessem e se arrependessem amargamente. Poseidon havia sido, até então, um deus ambicioso, invejoso e intratável, não bastasse o poder que tinha sobre todos os mares e oceanos, pois disputara a Ática com Atena, a Argólida com Héra, as ilhas Cíclades com Apolo, e agora foi capaz de apoiar uma conspiração contra Zeus, seu irmão.

No entanto, seu castigo não foi maior do que o de sua irmã Héra. Como mentora da conspiração, foi pendurada no céu com um bracelete de ouro em cada punho e uma pesada bigorna de bronze suspensa de cada tornozelo, e assim permaneceria até que todos os outros deuses jurassem solenemente nunca mais se revoltar contra Zeus e sua vontade. E, apesar dos gritos comoventes de Héra, ninguém tentou resgatá-la. Zeus somente livrou-a do martírio depois que os deuses lhe juraram obediência.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 13:57

LAÓMEDON E OS MUROS DE TRÓIA

Laómedon, filho de Ilos e Eurídice, tinha em mente rodear de um muro a cidade aberta de Tróia, ainda não fortificada como a cidadela, o Pérgamos, e fazer dela, assim, uma verdadeira cidade, tão poderosa quanto Micenas, Árgos, Atenas e Esparta.

Naquela ocasião erravam por aquelas paragens os deuses Apolo e Poseidon, os quais, tendo-se rebelado contra o soberano Zeus, haviam sido expulsos do Céu. Por vontade de Zeus, ajudaram, como homens, o rei Laómedon a erguer os muros de Tróia, para que a cidade fosse inexpugnável. Assim, levou-os o Destino às cercanias de Ílion no momento em que iniciavam os trabalhos, sob as ordens de Éacos, um herói da Hélade.

Os deuses ofereceram os seus préstimos ao rei Laómedon, e visto que na Terra não podiam permanecer ociosos, nem, no caso de não trabalharem, ser nutridos de ambrosia, estipularam uma recompensa, que lhes foi prometido se o servissem no prazo de um ano. Puseram então mãos à obra; enquanto o deus dos mares usava força bruta, Apolo tirava um tempo para dedilhar a sua lira.

Poseidon reclamava:

— Só entro em fria, mesmo! E além de tudo ainda tenho de aguentar este tagarela preguiçoso dedilhando a lira o dia inteiro.

Poseidon trabalhou na construção dos muros que, sob a sua direção, não tardaram em ser levantados, grandes e altivos formando um cinturão impenetrável. Apolo, por sua vez, guardou os rebanhos do rei nas tortuosas gargantas e nos frondosos vales do monte Ida. Enquanto que Éacos encarregava-se de comandar os homens que construíam os muros de outro lado da cidade; sendo assim, construído por homens comuns, tornava-se a única parte das muralhas que era expugnável. E, assim que as muralhas ficaram prontas, Apolo inventou o sistema para abrir e fechar as portas da cidade. O mais comum era usar gonzos nas portas, mas Apolo criou a forma de abri-las mediante rodas e correntes.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 1/3/2021, 13:59

Expirado o prazo e pronta a esplêndida muralha, o monarca traiçoeiro se negou a cumprir com o trato. Recusou dar a recompensa devida. Protestaram ambos, e ele não vacilou em expulsá-los com maus modos, ameaçando Apolo de lhe atar pés e mãos, de mandar cortar as orelhas dos dois. Os dois deuses, na qualidade de mortais, enfurecidos e já inimigos mortais do monarca e do povo troiano, retiraram-se prometendo vingança. Também Atena deu as costas àquela cidade, até então sua favorita depois de Atenas. Até mesmo Éacos injuriou e amaldiçoou a cidade, prevendo a sua destruição futura. Dessa maneira, a capital, que acabava de ser dotada de soberbas muralhas, foi abandonada por aqueles deuses, com o tácito consentimento de Zeus, à perdição, com a família real e o povo. Pouco depois, uniu-se aos imortais Héra, também vítima de um ódio ardente. Éacos, sentindo a coisa esquentar para os lados de Tróia, percebeu que já era hora de retornar para sua casa em Égina.

Poseidon então, retomando o seu poder sobre os mares, com o consentimento do irmão Zeus, suscitou imensa inundação, e da cidade não ficou pedra sobre pedra, arrasando parte da muralha que havia construído. Apolo, por sua vez, fez a peste cair sobre o povo troiano, acabando com os rebanhos do reino.

AS VÍTIMAS DE CETO

Laómedon e o povo troiano pretenderam reconstruir a cidade. Para fazer cessar a peste, consultaram o Oráculo. Foi declarado que o castigo seria suspenso se sacrificassem uma jovem, escolhida por sorte, anualmente, ao titã Ceto, um terrível monstro marinho a serviço de Poseidon.
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