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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 05:22

Não obstante, concordaram os gregos em entregar ao desditoso pai o cadáver do filho, para que recebesse honrosa sepultura. Os servidores do soberano apresentaram-se acompanhados do herói troiano Ideus e, no meio de lágrimas e gemidos, levaram o corpo do infeliz no carro fúnebre que iria conduzi-lo ao ancião. E, no peito de Hécuba, ficara o desejo de vingança pela morte do filho, que não era seu, mas lhe era muito querido.

ÂNTIFOS E ÍSOS

Numa onda de imprudência por parte dos troianos, que se aventuravam a cruzar os muros de Tróia, por algum motivo ou outro, certa vez, Aquiles, andando pelas imediações do vale do Ida, desta vez sozinho, encontrou dois troianos que pastoreavam carneiros: eram Ântifos e Ísos, filhos do rei Príamos. Pegando-os de surpresa, dominou-os facilmente, amarrando-os com flexíveis varas de salgueiro. Somente os soltara mediante resgate por parte da casa de Príamos, pois, como guerreiros, eram fracos e podiam ser libertados.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:34

A IRA DE AQUILES
(INÍCIO DA ILÍADA)

Entretanto, chegara o décimo ano da luta, e o herói grego Ájax regressava novamente de outras incursões felizes de pilhagem. A morte de Polidoros fez com que crescesse o ódio entre as duas nações, e os próprios deuses se prepararam para tomar parte ativa na luta, inclinando-se uns em favor dos troianos, ante a crueldade dos gregos, como Áres, Apolo e Afrodite, resolvendo outros sustentar o partido dos gregos, como Héra, Palas-Atena, Hermes, Poseidon e Hefaístos.

Os gregos, por ocasião da volta dos seus embaixadores, não tinham esquecido a ameaça dos troianos, pelo que, do acampamento, se preparavam para batalhas decisivas. De repente, chegou o sacerdote de Apolo, Crises, empunhando uma bastão de ouro, enfeitado com as guirlandas de Apolo, o arqueiro infalível, e munido de um pesado resgate, sobre uma velha carroça, a fim de libertar a filha das mãos dos gregos. Apresentando-se aos Átridas e ao exército, dirigiu-lhes esta súplica:

— Filhos de Atreus e vós, aqueus seus súditos, possam os deuses do Olimpo permitir que tomeis a cidade de Príamos e que regresseis sãos e salvos à vossa Pátria se, em troca do resgate que vos trago, consentirdes em devolver-me minha filha Astínome! Fazei-o em honra de Apolo, o filho de Zeus e Leto, e de quem sou seu sumo-sacerdote!

Todos os aqueus aplaudiram as suas palavras, e pediram que fosse ouvido e se lhe aceitasse o precioso resgate. Mas isso não agradou ao coração de Agamémnon, que não desejava perder a escrava, respondeu, irritado:

— Nem hoje, nem outra vez ousarás voltar aqui. Desaparece de minha frente, pois, do contrário, teu bastão e tuas guirlandas sagradas não te protegerão. Não a libertarei! É minha! Tua filha Criseis, suponho, é e sempre será minha escrava, e viverá comigo até a velhice, no meu palácio, em Micenas, sentada ao tear e compartilhando meu leito. Vai-te, não me provoques, pois do contrário, te arrependerás!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:35

Crises, assustado, apressou-se em obedecer, afastando-se em silêncio em direção da praia. Junto ao mar, ergueu os braços ao Céu e invocou Apolo a quem servia:

— Ouve-me, dono do arco de prata, tu que reinas em Crisa, Cila e Tênedos, agora destruídas pelas mãos dos inimigos! Eu soube ornar-te o templo e te ofereci gordos sacrifícios; retribuí-me, e faze com que os gregos me paguem por minhas lágrimas sob as tuas setas!

Apolo ouviu sua prece. Desceu do Olimpo, encolerizado, com o arco ao ombro e a aljava cheia de setas fatais. O deus movia-se, negro como a Noite. Firmou os pés a certa distância dos navios e começou a disparar uma chuva de setas, uma após a outra, com tal força que seu arco de prata ressoava sinistramente, levando a Doença e a Morte no meio do acampamento grego. Primeiro, limitou-se a atacar seus animais, os burros e os cães, depois disparou-as contra os homens, que foram caindo um após o outro. As piras dos mortos começaram a arder, incessantemente.

Durante nove dias, a epidemia causou sérios danos no exército grego, até que no décimo, Aquiles, inspirado por Héra, protetora dos aqueus, teve a ideia de reunir todos numa assembléia. Quando se reuniram, Aquiles dirigiu-lhes a palavra:

— Filhos de Atreus, creio que seremos rechaçados e fugiremos para a Hélade, se conseguirmos escapar da Morte, já que a peste se alia à guerra contra nós. Indaguemos de algum profeta, sacerdote ou decifrador de sonhos que possa nos dizer por que Apolo tão irado se encontra, se acha que faltamos a algum voto ou sacrifício, ou se estará querendo receber a gordura de carneiros ou
de bodes sem mancha para que afaste de nós esta praga.

Disse estas palavras e sentou-se. Levantou-se, então, Calcas, filho de Téstor, o mais sábio dentre os áugures do exército, assim falou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:36

— Aquiles, querido de Zeus,queres que eu explique a ira de Apolo, o arqueiro infalível. Falarei, portanto, atenta para o que eu disser e jura-me lealmente proteger-me com o braço e com a palavra, pois penso que irei provocar a ira do homem poderoso que governa todos os argivos e a quem os aqueus obedecem, pois um rei, em sua ira, é mais perigoso que qualquer outro homem. Mesmo quando ele guarda a ira durante um dia em seu coração, poderá satisfazê-la. Dize-me se me protegerás.

Aquiles, levantando-se, respondeu-lhe:

— Nada receies e dize as profecias que sabes por Apolo, a quem diriges tuas preces. Quando revelares os Oráculos dos deuses, nenhum dos heróis gregos levantará a mão contra ti nesta frota, enquanto eu viver e olhar sobre a terra, nem mesmo se nomeares Agamémnon, que se proclama o primeiro de nós todos.

Tranquilizado, Calcas encorajou-se e disse então:

— O que encolerizou o deus não foi por falta de voto ou sacrifício, senão o mau trato a que foi submetido o seu sacerdote por Agamémnon, ultrajando-o, ao deixar de aceitar o resgate e libertar sua filha.

Agamémnon irritou-se:

— Novamente? Pretendes desmoralizar-me? Quando prevês qualquer coisa em meu favor?

O velho e sábio Nestor fez-lhe um sinal para acalmar-se, e Agamémnon, inconformado, sentou-se. E Calcas continuou:

— Por sua causa, o arqueiro divino nos mandou e nos mandará tribulações. E não afastará a terrível peste de nosso povo, enquanto não devolvermos a seu pai a donzela Criseis, agora sem preço ou resgate. Devemos levá-la a Crisa, juntamente com um sacrifício propiciatório cem vezes superior ao seu valor. Somente dessa maneira, poderemos apaziguá-lo e convencê-lo.

E sentou-se. Agamémnon sentiu que o sangue lhe fervia. Então, ergueu-se, furioso diante deles; tinha o negro coração repleto de ira e seus olhos flamejavam como o fogo. E, com um relance ameaçador, dirigiu-se a Calcas:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:36

— Profeta do mal, jamais tiveste uma boa palavra para mim. Sempre te deleitaste em profetizar o mal, nada de bom disseste ou fizeste. Hoje também persuades o povo de que é o deus do arco de prata que lança a maldição sobre eles, porque me recuso a receber um magnífico resgate pela filha de Crises. Certamente a conservo comigo, de boa vontade, pois a amo mais que minha própria esposa Clitemnestra, à qual ela não é inferior em estatura, nem em beleza, nem em espírito, nem em habilidade. No entanto, estou disposto a devolvê-la, se necessário, uma vez que não quero a ruína do povo. Mas, em troca, exijo me seja entregue, sem demora, uma presa para mim, ou do contrário, serei no exército o único sem uma presa de guerra.

Aquiles, levantando-se de novo, retrucou:

— Glorioso átrida, o mais ambicioso dos homens, como podem os corajosos aqueus te darem uma presa? Não sabemos de grande acúmulo de bens comuns: o que tomamos no saque das cidades foi dividido e não é lícito que os homens o ajuntem de novo a fim de dividi-lo novamente. Põe em liberdade a filha do sacerdote. Se Zeus se digna conceder-nos um dia a tomada de Tróia, saberemos ressarcir-te da perda em três ou quatro vezes mais.

— Não busques em teu coração enganar-me, por mais bravo que sejas, Aquiles, pois não terás artimanhas que me persuadam. Julgas que me submeterei à tua ordem, e renunciarei ao que me pertence, enquanto tu conservas o que é teu? Não! Contudo, se os corajosos aqueus derem-me uma presa de guerra que me satisfaça, uma que me sirva... mas não darão, então eu próprio tomarei uma presa de ti, ou de Ájax, ou de Ulisses, e a levarei comigo. Que me importa se com isso provoco a vossa cólera? Mas falaremos disso em outra ocasião; agora, precisamos preparar um barco sem demora, coloquemos nele uma oferenda, e levemos Criseis de volta ao pai. Que um guerreiro do conselho seja o comandante, Ájax, ou Idomeneus, ou Ulisses, ou tu próprio se assim desejares, para que possas oferecer sacrifícios e apaziguar para nós o deus Apolo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:37

Franzindo o sobrecenho, replicou Aquiles:

— Homem egoísta e voraz! Como é possível haver ainda um grego que te obedeça? Não vim aqui para lutar contra troianos, que, ao meu ponto de vista, não são culpados, mas para ajudar-te a vingar teu irmão Menelaus. Os troianos jamais roubaram os bois ou os cavalos, ou devastaram as plantações da casa de meu pai em Ftia, eis que se estendem entre nós muitas montanhas sombrias e o ressonante mar. Não, foi a ti que seguimos até aqui, para nos vingarmos dos troianos, por causa de Menelaus e por tua causa! Jamais, porém, levaste em consideração tais coisas. Chegas, mesmo, a ameaçar tomar-me a presa pela qual tanto labutei e que me foi dado como partilha. Jamais ganho uma presa como as que tu acabas ganhando. Minhas mãos sustentam os pesados encargos da guerra, no entanto, quando, se faz a divisão dos despojos, tua presa é sempre a maior e eu regresso ao navio com pouco — talvez por eu ser mais jovem —, mas que bem mereço e me satisfaço. Agora, decidi regressar para minha terra, em Ftia, e não tenciono ficar aqui acumulando riquezas para ti.

— Foge, se assim te manda o coração! Não te implorarei para ficar. Restam-me outros heróis, muito menos briguentos do que tu. És para mim o mais odioso dos homens, pois só cuidas de lutas, guerras e batalhas. Se és muito forte, certamente foi um deus que assim te fez. Volta para a Pátria, com os teus navios e os teus companheiros, e reina sobre os mirmidões; não me preocupo contigo nem receio a tua ira. Mas uma advertência te faço: como Apolo me arrebata Criseis eu a enviarei em meu navio a Crisa, mas em troca tirarei da tua tenda a formosa Briseis, e com isto fiques sabendo quanto sou melhor do que tu, e para que, de hoje em diante, ninguém ouse comparar-se a mim!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:37

Aquiles encolerizou-se e ficou imóvel, com a mão na espada, a pensar o que devia fazer: se desembainhar a espada, dispersar os outros e matar o rei, ou se deveria dominar a ira e curvar o espírito. Enquanto hesitava, Héra enviou Atena para acalmá-lo; ela, achegando-se invisível a ele, por trás, tocou seus cabelos louros, chamando-lhe a atenção. Aquiles, atônito, voltou-se e viu que era Atena, que aparecia só para ele. E sussurrou:

— Por que estás aqui, deusa filha de Zeus? Tu, poderosa, vieste ouvir os insultos de Agamémnon? Vou dizer-te algo que estou certo há de acontecer: ele em breve há de destruir-se a si próprio, pelo seu insuportável orgulho.

Então a deusa Atena disse-lhe:

— Vim do Olimpo para dominar tua ira, se podes obedecer; Héra, a deusa dos alvos braços, enviou-me, ela que vos ama e vos quer bem no coração. Vamos, domina tua ira, não empunhes a espada, censura-o o quanto quiseres, dize-lhe mesmo o que acontecerá, pois assim profetizo e assim há de se suceder: um dia, terás o triplo de esplêndidos bens por causa dessa insolência. Domina-te e obedece a vontade dos deuses.

Àquela advertência, Aquiles deteve a mão na empunhadura da espada, e tornou a colocar a lâmina na bainha, e respondeu-lhe:

— Devo obedecer tua ordem, ó deusa, embora irado; é melhor assim. Os deuses ouvem acima de tudo aqueles que lhes obedecem.

E Atena, ouvindo isto, retornou satisfeita ao Olimpo. Mas Aquiles só não conseguiu segurar a língua, e dirigiu-se asperamente ao átrida:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:38

— Covarde, de olhos de cão e coração de gamo! Quando te colocaste numa emboscada, com os homens mais nobres da Hélade ou te atiraste à primeira linha da batalha em campo aberto? Tu achas que isso te leva à Morte. Sem dúvida, é preferível arrebatar a presa de guerra daquele que se atreve a contrariar-te. Um rei devorador de homens tu és, pois reinas sobre homens sem valor algum: de outro modo, filho de Atreus, esta seria tua última insolência. Mas juro-te por este cetro que sustento que, tão certo como nunca mais reverdecerá nem tampouco brotará, já que deixou seu cepo na montanha, nem há de florescer novamente, e agora é empunhado pelos príncipes e juízes... e este será para ti um juramento solene: chegará um dia em que será lamentada a falta de Aquiles por todos os aqueus. Inutilmente procurarás salvação quando Heitor imolar o exército grego. Tu sofrerás muito, quando te lembrares que não honraste devidamente o melhor dos aqueus.

Assim falou Aquiles e atirou ao chão o cetro, e tornou a sentar-se. O filho de Atreus enfrentou-o, furioso. De imediato, levantou-se Nestor, a fim de acalmar os ânimos, falando suavemente:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:38

— Ah, grande pesar caiu sobre os aqueus! Sem dúvida, o rei Príamos e seus filhos, e outros troianos, grandemente rejubilariam-se se soubessem do motivo pelo qual lutais, vós que sois os chefes dos aqueus, no conselho e na guerra. Ouvi-me! Sois ambos mais jovens do que eu. Há muito tempo, fui camarada de homens muito melhores que vós, e jamais eles zombaram de mim. Ainda não vi, nem verei, guerreiros como Píritous e Drias, pastor do povo, e Ceneus, Exádios e Polífenos, semelhante aos deuses, e Teseus, filho de Egeus, semelhante aos Imortais. Estes eram os mais poderosos homens criados sobre a terra e com os mais poderosos lutavam, com os monstros das montanhas, e bravamente os destruíram. Desses homens fui companheiro quando vim de Pilos, de uma terra distante, pois eles próprios me convocaram. Lutei em combate singular: com aquele inimigo nenhum dos mortais que ora se encontrava sobre a terra estaria apto para enfrentá-lo. Eles ouviam os meus conselhos e atendiam à minha palavra. Atendei-a, então. Por mais bravo que sejas, ó Agamémnon, não o prives de sua donzela, deixa-a com ele, pois ele a recebeu dos aqueus como presa de guerra, e porque mereceu. E não queiras, filho de Peleus, enfrentar um rei teu superior em igualdade de condições, pois um rei que empunha o cetro real e a quem Zeus outorgou a glória, não compartilha a sorte comum: ainda que sejas poderoso ou semi-deus, ele ainda é mais poderoso, pois reina sobre muitos. Tu, filho de Atreus, cessa tua ira. Peço-te, cessa tua ira contra Aquiles que, entre todos os aqueus, constitui um baluarte contra a guerra maldita.

Então, o poderoso Agamémnon respondeu-lhe:

— Na verdade, velho, falaste bem e com justiça. Este homem, porém, pretende estar acima de todos, a todos governar e dominar, e a todos dar ordens, e alguém não obedecerá, creio eu. Ainda que os deuses o tenham feito um guerreiro, terão por isso os outros de se resignarem a ouvir suas censuras?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:39

Aquiles cortou-lhe a palavra:

— Eu merecia ser chamado de covarde e de indigno, se me curvasse a tudo que dizes. Dá estas ordens aos outros, e não a mim. Faze o que bem entenderes, mas nunca mais contes com a minha obediência. Dir-te-ei também, que deves guardar estas palavras: por causa de Briseis, não mais erguerei o braço contra ti, nem contra outro qualquer. O que me deste então podes tirar-me. De tudo mais que é meu, contudo, além de meu negro e veloz navio, de nada poderás apropriar-te contra a minha vontade. Se quiseres, experimenta, a fim de que estes homens possam saber: teu negro sangue correrá em torno de minha lança.

O filho de Peleus foi para a sua tenda, acompanhado de Pátroclos, filho de Menoécios, e seus camaradas. Então, dissolveu-se a assembléia. Agamémnon, porém, fez lançar ao mar um navio, com vinte remadores, e colocou a bordo uma oferenda para o deus Apolo. Finalmente, levou para o navio a linda Criseis. Ulisses incumbiu-se da missão.

Estes, então, velejaram até Crisa, aonde Crises aguardava a filha e as oferendas. Porém, antes de partirem, o rei Agamémnon ordenou aos homens que se purificassem. Então, atiraram às águas suas impurezas e fizeram a Apolo imaculadas oferendas de touros e de bodes, à beira da praia.

Enquanto isso, prosseguiam os labores no acampamento. Agamémnon, no entanto, não pusera de lado a ira com que a princípio ameaçara Aquiles. O átrida, mandando chamar seus arautos, Taltíbios e Euríbates, ordenou-lhes:

— Ide à tenda de Aquiles, o filho de Peleus. Tomai pela mão a bela Briseis e trazei-a aqui. Se ele não a entregar, irei eu mesmo, com mais homens, e a tomarei, e isso será pior para ele.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:40

Assim falou e os enviou, severamente. De má-vontade, caminharam eles ao longo da praia do desolado mar e chegaram às tendas e aos navios dos mirmidões. Encontraram Aquiles sentado perto de sua tenda e de seu negro navio; seu aspecto não lhes pareceu muito acolhedor. Pararam ambos diante do herói, temerosos e assustados, e nenhum dos dois lhe dirigiu a palavra. Mas Aquiles sabia porque estavam ali.

— Bem-vindos, arautos de Zeus e dos homens! Aproximai-vos. Não tendes a menor culpa do que vindes reclamar, mas sim Agamémnon. Vem, Pátroclos, traze a bela Briseis e entrega-a!

E o amigo, vacilante, foi buscá-la.

— Mas quero que sejais testemunhas na presença dos deuses e dos homens, e perante aquele desumano rei: se houver necessidade, um dia, do meu auxílio, a culpa não será minha, mas dele, se eu não comparecer. Em verdade, ele está insano de ira e não pode olhar para diante e para trás, para que os aqueus possam lutar a salvo junto dos navios.

Então, Pátroclos, contra a sua vontade, trazia para fora da tenda a linda Briseis, que os acompanhou com aversão, pois estava apaixonada pelo amo. Então, Aquiles separou-se dos companheiros e foi sentar-se chorando junto à praia, com os olhos postos além do pélago sem limites. E estendendo os braços, dirigiu preces à mãe, Tétis:

— Mãe, já que me tiveste, por mais breve que a minha vida possa ser, pelo menos a honra de Zeus-Tronante deve me ter concedido. Agora, porém, não me está honrando, de modo algum, pois o filho de Atreus, rei dos argivos, ultrajou-me. Tomou minha presa de guerra, a mesma que eu tanto amo, e a conserva, tendo dela se apoderado.

Assim falou, em prantos, e sua majestosa mãe o ouviu, sentada no fundo do mar, ao lado do velho pai, Nereus. Sem demora, ela se ergueu como uma névoa, sentou-se ao lado do filho e acariciou-o, dizendo:

— Por que choras, meu filho? Que dor te atormenta o coração? Fala, nada escondas, a fim de que eu possa saber...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:40

Aquiles deu um suspiro profundo e disse-lhe:

— Tu sabes. Por que haveria eu de dizer-te tudo isso, quando já sabes? Fomos a Teba, a cidade dos écios, e a saqueamos e trouxemos para cá todas as presas. Os aqueus dividiram o resto entre si, equitativamente, e separaram para Agamémnon a linda Criseis, filha de Crises. O pai veio aos navios para libertar sua filha, trazendo um valioso tesouro para o resgate. Dirigiu-se a todos os aqueus, mas especialmente aos Átridas; todos se manifestaram em favor de Crises, para honrá-lo e receber dele o resgate, mas isso não agradou o coração de Agamémnon: ao contrário, ele despediu o sacerdote com rudeza. O velho retirou-se irado, e Apolo o ouviu, quando ele lhe dirigiu os lamentos, pois deveria lhe ser muito querido, e lançou sobre os argivos o raio maligno. Os gregos começaram a sucumbir em rápida sucessão: as setas do deus caíram por toda a parte, no vasto acampamento. Um profeta inspirado revelou-nos, então, o Oráculo do arqueiro infalível. Eu fui o primeiro que, sem demora, insistiu para que se apaziguasse o deus. A ira apossou-se do filho de Atreus, e ele logo se levantou e fez uma ameaça que foi cumprida, pois os aqueus estão mandando a donzela Criseis em um navio, levando oferendas para o deus; mas os arautos acabaram de sair de minha tenda levando a minha Briseis, que os próprios aqueus me haviam concedido, por merecimento, pois fui o mais valente.

— Meu filho...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:41

— Tu, porém, minha mãe, se podes, protege teu filho. Vai ao Olimpo e pede a Zeus, se jamais alegraste seu coração pela palavra ou pela ação. Muitas vezes, em verdade, no palácio de meu pai, ouvi-te gabar de que, única entre os Imortais, salvaste Zeus, o filho de Cronos, quando os outros deuses do Olimpo o queriam vencer. Tu, deusa, aproximaste dele e o libertaste de suas cadeias, chamando sem demora ao alto Olimpo o Hecatônquiro, a quem os deuses chamam Briareus, Egéon entre os homens: na verdade, ele tinha mais força que seu próprio pai. Sentou-se ao lado dele, exultando em sua glória. E os deuses bem-aventurados tiveram medo e não tentaram mais agrilhoar Zeus. Faze-o lembrar-se disso, senta-te ao lado dele e aperta-lhe os joelhos, na esperança de que ele possa ajudar os troianos e expulsar os aqueus para os seus navios, com grande carnificina, para que assim possam todos regozijarem-se com o seu rei, e para que o filho de Atreus, Agamémnon, que reina sobre muitos, reconheça sua loucura negando-se a honrar o melhor dos aqueus.

Então, Tétis, chorando, respondeu-lhe:

— Oh, meu filho, por que te concebi para um tão desgraçado destino? Por que não podes ficar, sem lágrimas e livre de pesares, junto aos navios? Será breve a tua vida, e terás que sofrer ainda inúmeras dores e agravos! Bem cedo te pesou a condenação e o infortúnio. Para dizer em prol de ti essas palavras a Zeus, que se deleita com o trovão, eu mesma irei ao Olimpo coberto de neve, na esperança de que ele seja condescendente. Tu, porém, senta-te ao lado dos navios e guarda tua ira contra os aqueus e afasta-te inteiramente da guerra, pois Zeus partiu ontem para o Oceano, a fim de regozijar-se com os impecáveis etíopes, e quase todos os deuses foram em sua companhia. No duodécimo dia, porém, ele voltará ao Olimpo e então irei, em teu nome, à mansão de Zeus, e apertarei seus joelhos e creio que o persuadirei.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:41

Tendo dito estas palavras, a deusa partiu, deixando Aquiles na praia com seus pensamentos. Este, levantando-se logo, foi sentar-se na tenda.

Nesse ínterim, o herói Ulisses havia chegado em Crisa, com a oferenda sagrada. Quando entraram no profundo porto, arriaram a vela e a enrolaram no navio, baixaram o mastro pelos estais, apoiaram-no na forqueta e impeliram o navio com os remos até o ancoradouro. Lançaram as pedras de ancoragem e amarraram os fortes cabos, desembarcaram e levaram as oferendas para Apolo, e tiraram a filha de Crises do navio. Então, o sagaz Ulisses conduziu-a ao altar aonde encontrava-se o pai Crises, a quem disse:

— Crises, sumo-sacerdote de Apolo; Agamémnon, rei dos homens, mandou-me trazer tua filha e fazer a Apolo uma oferenda sagrada em nome dos gregos, a fim de que possa ser apaziguado o senhor que lança sobre os dânaos provações lamentáveis.

Dizendo isto, entregou-a a Crises, e este recebeu a filha com alegria. Sem perder tempo, dispuseram as oferendas sagradas para o deus com a devida ordem, no bem construído altar. Lavaram, então, as mãos e tomaram a sacra cevada; diante deles, Crises ergueu os braços e rezou em voz alta:

— Ouve-me, tu que és o portador do infalível arco de prata, que proteges Crisa e a sagrada Cila, agora em ruínas, e reinas sobre Tênedos, com grande poderio. Na verdade, ouviste-me quando antes te dirigi uma prece, honraste-me e feriste cruelmente as hostes dos aqueus. Concede-me também agora este desejo: livra-os da ultrajante peste.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:42

Assim falou em sua prece, e Apolo ouviu-o. Então, depois de terem espargido a sacra cevada, puxaram para trás as cabeças das vítimas, mataram-nas e esfolaram-nas. Cortaram os pernis e envolveram-nos em gordura, formando duas camadas, e colocaram a carne crua sobre elas. Os velhos queimaram-nas em espetos e derramaram por cima o vinho. E os jovens, ao seu lado, empunhavam garfos de cinco dentes. Depois que os pernis se queimaram e de saborearem as entranhas, cortaram o restante, colocaram-no em espetos e assaram-no cuidadosamente. Quando terminaram o trabalho e o banquete ficou pronto, comeram. Depois, porém, que todos tinham comido e bebido à vontade, os jovens encheram de vinho as crateras e serviram a todos, tendo primeiro enchido as taças para as libações. Assim, durante todo o dia, os aqueus apaziguaram o deus com cantos e danças, cantando um belo peão em honra do Guardião. E ele regozijou-se a ouvi-los.

Quando, porém, o Sol se pôs e veio o Crepúsculo, eles se deitaram junto aos cabos do navio. Ao aparecer, bem cedo, a Aurora de dedos róseos, içaram a vela e rumaram para o vasto acampamento dos aqueus, nas praias de Tróade. Apolo mandou-lhes uma brisa propícia. Ergueram o mastro e distenderam a branca vela; o vento fortemente soprou sobre ela e em torno do leme, e o navio seguiu seu curso. Quando chegaram ao vasto acampamento grego, levaram o barco para terra e o colocaram sobre os cascalhos, pondo sob ele compridos suportes. Enfim, se dispersaram pelas tendas e pelos navios. Quando Ulisses achegava-se à sua tenda para refazer-se do cansaço da viagem, vieram-lhe dizer que a peste havia desaparecido e que todos os que estavam doentes, e ainda não haviam morrido, estavam curados.

Aquiles, o filho de Peleus, deixou-se ficar sentado, cheio de ira, junto dos navios. Jamais participaria do conselho ou da guerra, e ali ficaria, com a ira devorando-lhe o coração e saudoso do grito de guerra e das batalhas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:43

Finalmente, a décima-segunda Aurora, os deuses voltaram todos juntos ao Olimpo, tendo Zeus à frente. Tétis não esqueceu o pedido do filho: ela levantou-se de uma onda do mar e, cedo, pela manhã, ergueu-se ao alto céu e foi ao Olimpo. Encontrou o pai dos deuses separado dos outros, no pico mais alto do alcantilado monte. Sentando-se-lhe ao lado e abraçando-lhe com a mão esquerda o joelho, enquanto com a direita lhe tocava o queixo, segundo o costume dos suplicantes, disse-lhe:

— Zeus, se alguma vez te servi com palavras ou obras, concede-me, agora, um favor, e honra meu filho, condenado pelo Destino a emurchecer em breve. Acaba Agamémnon de ofendê-lo gravemente e de arrebatar-lhe o prêmio dos seus esforços. Rogo-te, ó Pai dos Deuses, que concedas a vitória aos troianos até que os gregos se decidam a tributar-lhe a honra que ele merece.

Mas Zeus não lhe respondeu, e guardou silêncio, insensivelmente. E Tétis, apertando-lhe ainda mais os joelhos, implorou:

— Promete-me isso e confirma com uma inclinação da cabeça ou negues, já que não receias que eu saiba que sou a menos honrada entre todos os deuses.

Assim, obrigou finalmente a Zeus responder-lhe:

— Em verdade, me empurras para uma discussão com Héra, quando ela me censurar com palavras acres, ela, que sempre contra ria as minhas ordens. Mesmo agora, ela sempre me censura entre os Imortais e diz que apoio os troianos na batalha. Afasta-te, agora, para que a ciumenta Héra não te veja. Farei com que isso se cumpra; por enquanto, satisfaze-te com o gesto de minha cabeça, equivalente à mais infalível das promessas, a fim de que possas confiar em mim, pois este é o maior compromisso que confirmo desse modo.

Assim dizendo, Zeus abaixou as pálpebras e inclinou a cabeça como sinal de assentimento. O cheiro de ambrosia espalhou-se, as escuras madeixas penderam a cabeça imortal do deus e ele fez o grande Olimpo estremecer.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:43

Contente, regressou Tétis aos abismos do mar; mas Héra não deixara de perceber a conversa do marido com a deusa. Todos os deuses levantaram-se de seus assentos, depois de Héra, diante de seu soberano, e nenhum se atreveu a permanecer onde estava, indo todos ao seu encontro. Héra dirigiu-se a ele, censurando-o:

— Qual dos deuses conversava contigo, traiçoeiro? Sempre te comprazes em ficar separado de mim, discutir e tomar resoluções em segredo. Jamais te atreveste espontaneamente revelar-me que planos discutiste.

— Héra, não esperes conhecer todas as minhas palavras, pois elas te seriam duras, muito embora sejas minha esposa. E o que deve ser ouvido por ti não será ouvido antes por nenhum deus ou homem. Não deves indagar-me, contudo, a respeito daquilo que não acho conveniente revelar aos deuses.

— Terrível filho de Cronos, que palavras foram estas que disseste? Jamais antes indaguei ou quis conhecer demais, pois sempre és tu que, sem seres molestado, resolves o que farás. Sabes que receio terrivelmente em meu coração que Tétis, de pés argênteos, filha do Velho do Mar, tenha te iludido, pois, ainda cedo da manhã, ela se sentou ao teu lado e apertou teus joelhos. Creio que lhe fizeste a promessa solene, por uma aceno, de honrar Aquiles e destruir muitos homens ao lado dos navios dos aqueus. Estou errada?

— Louca, és sempre desconfiada, nem eu escapo de ti. Nada poderás, no entanto, fazer: estarás ainda mais longe do meu coração e será pior para ti. Se é como dizes, é que assim desejo. Senta-te em silêncio e obedece à minha ordem; os deuses que moram no Olimpo não poderão valer-te, se eu me aproximar para lançar sobre ti minhas mãos invencíveis. Por isso, cala-te e obedece!

Assim falou, e a rainha Héra, assustadíssima diante do marido, sentou-se em silêncio.Os deuses celestiais da casa de Zeus ficaram perturbados, e Hefaístos, o famoso artesão, a eles se dirigiu, em favor de sua mãe Héra, a dos alvos braços:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:44

— Sem dúvida, este será um caso ruinoso, que está-se tornando insuportável, se estes dois lutarem desse modo por causa dos mortais e lançarem a desavença entre os deuses. Não haverá prazer em nosso nobre banquete, eis que se seguirá o pior curso. Aconselho minha mãe, que pensa ela própria o mesmo, a concordar com meu pai Zeus, de modo que ele não se irrite de novo e perturbe nosso festim. Se o olímpico senhor dos raios desejar nos expulsar de nossos lugares, pois é muito mais forte que todos nós... mas abranda-o com palavras doces. Então, sem demora, o Olimpo se mostrará tranqüilo para nós.

Assim falou e, levantando-se, colocou nas mãos de sua mãe a ânfora de duas asas e disse-lhe:

— Anima-te, minha mãe, e suporta isso, ainda que contrariada, para que, por mais querida que sejas, eu não te veja ferida diante de meus olhos: então, embora angustiado, serei impotente para ajudar-te, pois é difícil conter-se o Olímpico. Já uma vez antes, quando tentei salvar-te, ele me agarrou pelo pé e atirou-me para fora da soleira de sua porta. Caí durante todo o dia e, quando o Sol se pôs, fui tombar em Lemnos, e pouca era a vida que ainda restava em mim. Os sintianos, porém, cuidaram de mim, sem demora, após a minha queda.

Héra sorriu. Também sorrindo, Hefaístos entregou-lhe a taça nas mãos. Então, caminhando da esquerda para a direita, ele serviu o doce néctar aos outros deuses, tirando-o de uma crátera. E uma irresistível gargalhada irrompeu entre os deuses, ao verem Hefaístos azafamado pelo salão.

Assim, durante todo o dia, até o Sol se pôr, eles se entregaram à alegria, enquanto empunhava Apolo sua lira e a tangia, e as Musas cantavam com suas vozes encantadoras.

Quando, porém, o Sol se escondeu, cada um deles foi dormir, onde o coxo Hefaístos fizera, para cada um deles, uma morada, graças à sua grande perícia. E Zeus foi para o leito onde há muito costumava descansar, quando o doce Sono o tomava. Héra, ainda temerosa, também foi-se deitar com o marido.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:45

A ESPERTEZA DE AGAMÉMNON

Todos os deuses e guerreiros no cerco de Tróia dormiram durante o percurso de Nix, a Noite, mas o doce Sono não veio a Zeus, que imaginava, em seu coração, como poderia honrar Aquiles e destruir os gregos junto aos seus navios. Por conseguinte, invocou Onírios, o demônio dos Sonhos:

—Vai, Sonho enganador, para os velozes navios dos argivos; entra na tenda de Agamémnon e dize-lhe para armar, a toda pressa, os aqueus, eis que agora poderá tomar a vasta cidade dos troianos. Para os Imortais, que têm suas moradas no Olimpo, já não há divergência: Héra a todos convenceu, por seus rogos, e tribulações pesam sobre os troianos.

Onírios, rumando ao acampamento grego, acompanhado de Morfeus, o rei dos Sonhos, achegou-se a Agamémnon, encontrou-o sonolento em sua tenda, ao lado da desventurada Briseis, e Morfeus espalhou o sono ambrosíaco em torno dele. Onírios ficou de pé à sua cabeceira, sob a aparência de Nestor, o rei de Pilos, a quem Agamémnon honrava acima de todos os anciãos.

— Dormes, átrida, belicoso domador de cavalos? Não deve dormir durante toda a noite um herói cujo compromisso é comandar os homens que dele tanto dependem e ao qual competem tantos cuidados. Ouve-me, pois venho a ti enviado por Zeus, que, embora longe, tem grande cuidado contigo e se apieda de ti. Ordena-te o senhor dos deuses que prepares os argivos, eis que agora poderás tomar a vasta cidade de Príamos. Entre os Imortais já não existe divergência alguma: Héra a todos convenceu, e tribulações pesarão sobre os troianos. Conserva isto no coração e não permitas que o esquecimento te domine, quando o doce Sono te tiver deixado.

Tendo dito isto, deixou Agamémnon sonhando com coisas que não aconteceriam. Imaginava que iria capturar a cidade de Príamos naquele mesmo dia, louco que era, ignorando o que Zeus planejava: estava prestes a lançar mais sofrimentos e gemidos sobre os troianos, assim como sobre os gregos, em ferozes batalhas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:45

Agamémnon acordou, então, e a voz de Morfeus ecoou junto dele, fazendo-o lembrar-se do sonho. Levantou-se e vestiu uma bela túnica, pôs por cima um grande manto, calçou as sandálias e pendurou, no ombro, a espada de copos de prata. Depois, pegou o cetro real e saiu caminhando entre os navios dos aqueus. Reuniu os chefes gregos e disse-lhes:

— Ouvi-me, meus amigos! Um sonho, que me foi enviado pelos deuses, e que se me apresentou com o aspecto do príncipe Nestor, comunicou-me, que pela vontade de Zeus, paira a ruína sobre a cidade de Tróia. Vejamos se nos é possível empenhar em combate os homens desalentados pela cólera de Aquiles. Primeiro, porém, irei experimentá-los com palavras, como convém, e mandá-los fugir para os seus navios; e vós, de um lado para outro, devereis contê-los.

Dizendo isto, sentou-se e diante dele levantou-se Nestor. Com sábios pensamentos, falou:

— Amigos, chefes e conselheiros, se algum outro dos aqueus nos tivesse contado esse sonho, poderíamos chamá-lo de falso, e mais ainda desconfiaríamos. Mas quem teve a visão foi o príncipe de todos os dânaos. Vejamos, então, se nós poderemos pôr mãos à obra.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:46

Nestor, levantando-se, abandonou o conselho, e todos os príncipes o seguiram, empunhando os seus cetros., como um enxame de abelhas, marcharam os príncipes em direção da ágora; entre eles, corria Rumor, mensageiro de Zeus, estimulando-os. Assim se ajuntaram; o local de reunião era um tumulto só, e a Terra gemia sob os gritos de desordem, quando eles se sentavam e se levantavam. Os arautos apregoaram a ordem de colocação em círculo e, gritando, esforçavam-se por silenciá-los, na esperança de que parassem com o tumulto e ouvissem os reis. Pouco a pouco se foi apagando o murmúrio das vozes. Então, Agamémnon, levantando-se, pôs-se de pé no centro da ágora, apoiando-se no cetro real, o mesmo que o deus Hefaístos tinha feito para Zeus; este o deu a Hermes, o matador do gigante Árgos, que então passou ao mortal Pélops; o cetro, então foi parar nas mãos de Atreus, que sucedeu a Euristeus, e Atreus, logo ao morrer, perdeu-o para o irmão Tiestes, que o deixou involuntariamente a Agamémnon, a fim de que, empunhando-o, pudesse reinar sobre grande parte da Hélade. Agamémnon então falou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:46

— Amigos, heróis dânaos, filhos de Áres: o grande Zeus, filho de Cronos, lançou-me em ruinosa loucura, pois me prometeu e assegurou que eu saquearia Ílion de altas muralhas e partiria vencedor de volta à Pátria. Mas agora, depois de haver, na sua onipotência, destruído tão grande número de cidades, infligiu-se áspera decepção e me obriga a voltar sem glória para Árgos. Será para nós tremenda vergonha saberem um dia as futuras gerações o que nos sucedeu. Tão forte e tão grande hoste dos aqueus lutou, esforçou-se numa guerra infrutífera com homens menos numerosos. Se quiséssemos, tanto aqueus como troianos, prestar um juramento solene com sacrifícios, e fôssemos ambos contados e os troianos separados de um a um, e nós, agrupados de dez em dez, e cada grupo escolhesse um homem dos troianos para servir o vinho, muitas seriam as mesas sem vinho. Há, porém, aliados de muitas cidades e nações, guerreiros que dificultam e que não permitirão que Tróia seja saqueada, como eu pretendia. Já se passaram nove anos, o madeirame dos nossos barcos está apodrecendo, as velas se gastando, e nossas esposas e filhos nos aguardam em nossas casas. No entanto, não terminou a tarefa para a qual viemos. Vamos, façamos o que digo e que ordena Zeus: fujamos com nossos navios para a Pátria, pois jamais haveremos de capturar a vasta Tróia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:47

Assim falou e incitou o espírito dos guerreiros. Os chefes se entreolharam. Tais palavras provocaram um movimento semelhante ao das ondas do mar. O exército inteiro se agitou; diante dos olhos de Menelaus e Nestor, aos gritos, todos correram para os navios, e sob seus pés a poeira se levantou; uns animavam os outros no esforço de lançarem os barcos ao mar; foram tiradas as vigas que serviam de apoio às embarcações. Seus gritos subiram ao Céu, enquanto eles ansiavam por voltar à Pátria; chegaram a tirar as escoras que sustentavam os navios. Até os Olímpicos amigos dos gregos se assustaram, ao verem a atividade daquela gente. E teriam partido de Tróade se Héra não tivesse procurado por Atena, já que somente Zeus e Tétis conheciam as intenções de Agamémnon:

— Como, Atritônia, filha de Zeus, irão os argivos assim fugir pelo largo mar para suas casas? Deixarão a vitória a Príamos e aos troianos, mesmo à argiva Helena, pela qual tantos aqueus já morreram sob os muros de Tróia? Vai através das hostes, com tuas belas e persuasivas palavras, e não os deixes arrastar para o mar os recurvados navios!...

Palas-Atena desceu depressa dos cumes do Olimpo e encontrou Ulisses imóvel, diante do seu barco, sem ousar tocá-lo, e com o coração pesado. A deusa, aproximando-se e visível somente a ele, que era seu protegido, disse-lhe afavelmente:

— Filho de Laertes, Ulisses de muitos ardis, pretendes realmente embarcar e fugir? Deixarás a vitória ao rei Príamos e seus troianos, e também à argiva Helena, pela qual muitos já pereceram? Não, meu nobre e prudente Ulisses, tu jamais consentirás nisso. Vamos, corre ao exército dos dânaos, e emprega a tua eloqüência. Exorta-os, detém-nos!

Diante do apelo da deusa, atirou para o lado o manto, que seu arauto Euríbates, de Ítaca, recolheu, e foi ao encontro do rei Agamémnon, que parecia sorrir ironicamente, e tomou dele o cetro real; com ele na mão, atirou-se no meio da multidão, censurando os capitães que pudesse censurar:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:47

— Amigo, não é digno de ti tremer como tremem os covardes. Senta-te e faze também com que os outros se sentem. Não conheceis ainda a intenção do átrida; ele vos está experimentando, mas em breve vos castigará. Não ouvimos todos o que ele disse no conselho? Não o deixemos irado, que depois cause algum mal aos guerreiros dânaos. O espírito dos reis é orgulhoso e sua honra é de Zeus, e Zeus os ama!

Tal atitude começou a surtir efeito, e vários chefes começaram a barrar e dominar a ansiedade de seus guerreiros. Quando, porém, Ulisses visse algum outro aos gritos, incentivando seus guerreiros à partida, golpeava-o com o cetro e o ameaçava:

— Senta-te, desgraçado! E ouve o que te dizem outros que são melhores que tu, pois és covarde e fraco, tanto na guerra como no conselho. Nem todos nós, gregos, podemos ser reis. Quando os senhores são muitos, de nada servem. Que haja somente um governante, ao qual Zeus lhe concedeu o cetro e o poder de tomar decisões para seu povo.

Assim, impôs Ulisses a sua autoridade por todo o exército, conseguindo que a multidão voltasse dos barcos até a ágora. Pouco a pouco, todos foram se acalmando e permaneceram quietos. Mas ainda se ouvia uma voz, uma única voz, a de Tersites, que tinha por costume dirigir-se aos príncipes com provocações. Falava incansavelmente. Seu espírito estava repleto de muitas palavras desregradas, que lançava desordenadamente contra os príncipes, palavras que, segundo lhe parecia, iriam provocar gargalhadas entre os argivos. Era o homem mais feio que fora a Ílion. Tinha pernas tortas e era coxo de um pé, vesgo de um dos olhos, corcunda, e tinha os ombros mergulhados no peito. Seu crânio pontiagudo era revestido de cabelos ralos e grisalhos. Odiado particularmente por Aquiles e Ulisses, alvos constantes de suas censuras de mau gosto. Agora, lançava estridentes censuras ao nobre rei Agamémnon, contra o qual, em verdade, os aqueus estavam desgostosos profundamente. Gritou alto contra Agamémnon:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 14:48

— Filho de Atreus — ou seja lá de quem for — por que te queixas? O que te falta? Tuas tendas estão repletas de bronze e há nelas muitas mulheres escolhidas, que nós te concedemos, sempre que saqueamos uma cidade. Ainda queres ouro que alguns dos troianos trarão de Ílion como resgate para seu filho, que eu ou outro dos aqueus aprisionamos e trouxemos cativo, ou estarás procurando alguma jovem mulher, que possas te apoderar e conservar contigo? Não é justo que aquele que reina traga para o infortúnio os guerreiros dânaos. Covardes, desgraçados, mulheres acaias e não homens! Voltemos à Pátria com nossos navios e deixemos esse avarento digerir suas presas aqui em Tróia, a fim de que possa saber se constituímos ou não sua defesa. Ainda agora ele insultou Aquiles, homem muito melhor do que ele, apesar de tão jovem, pois tomou sua presa de guerra. O pelida não tem fel no fígado; se não fora assim, seria esse o derradeiro ultraje do tirano!

Tersites era um homem desprezível, com um passado não muito digno, já que havia conspirado com seus irmãos o trono de Cálidon, no tempo em que Oineus era rei. E foi graças a Diómedes e Alcméon que Oineus recuperou o que era seu, matando todos os seus irmãos, filhos de Ágrios, restando apenas ele, Tersites, que se safou e foi juntar-se ao povo. E foi nessa condição que passou a servir o exército dânao: como guerreiro comum — mesmo com algumas regalias por pertencer a uma família nobre.

Tersites, como era de costume, insultou Agamémnon quanto pôde, só então percebeu que Ulisses estava em pé, do seu lado, encarando-o severamente. E Ulisses bateu-lhe nos ombros com o cetro, que ainda portava, retrucando:
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