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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:01

Podalírios e Macáon acudiram, pressurosos, e, mal lhes comunicaram o Oráculo de Apolo, compreenderam, como sábios e experimentados filhos de Asclépios, o sentido das palavras. Limando um pouco do aço da lança, aplicaram-no sobre a ferida, e os presentes contemplaram, então, um prodígio; apenas a limadura foi aplicada a uma parte da chaga, começou esta a fechar-se ante os olhos dos heróis; em poucas horas, o nobre rei Télefos, segundo a profecia do Oráculo, estava curado por intermédio da lança de Aquiles que o ferira. Foi completo o júbilo dos heróis, então, pela esplêndida acolhida que tinham tido na Míssia. São e contente, Télefos reembarcou, e, como pouco antes os gregos com ele, abandonou-os, por entre expressões de gratidão e bênção, a fim de regressar ao seu reino, apressando-se para não ser testemunha da luta que os seus caros amigos se preparavam para iniciar contra seu sogro, tão caro como eles.

INÍCIO DA LUTA

Estavam ainda os gregos ocupados com a despedida do rei Télefos, quando as portas de Tróia se abriram, e o exército troiano, perfeitamente equipado, e às ordens de Heitor, se espalhou pela planície do Escamandros e atacou, sem encontrar resistência, os barcos dos argivos desprevenidos. Os que estavam na parte avançada do acampamento correram às armas sem ordem, todavia, esforçando-se por enfrentar os atacantes, mas não tardaram em ser esmagados pela superioridade do inimigo. Contudo, a luta manteve os troianos à distância o suficiente para que os gregos lograssem concentrar-se no acampamento e, formados em batalha, pudessem opor-se ao avanço. A luta revestiu-se, então, de aspecto bastante desigual; no ponto em que Heitor se encontrava, levaram os troianos vantagem, mas os gregos irrompiam vitoriosamente nas fileiras que combatiam distantes dele.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:01

O primeiro herói famoso que caiu, ferido pelo príncipe Heitor, foi Protesilaus, filho de Íficles, o qual partira para Tróia após tornar-se noivo, deixando sua casa semi-acabada; havia sido o primeiro grego a desembarcar. Segundo uma profecia de Calcas, estava destinado a ser a primeira vítima, e sua noiva Laodâmia, filha de Acastos, nunca mais tornaria a vê-lo. A espada do troiano atravessou o ventre do tessálio, que manchou de sangue a areia de Tróade, dando início ao ataque dos aqueus ao país. E Antílocos, filho de Nestor, presenciando tal perda, abateu o primeiro capitão troiano, Equílopos, atravessando-lhe com a lança sua cabeça. E a morte de Protesilaus dera a Ílion sua primeira iniciação, e os gregos, mais tarde, lhe ergueram um túmulo particularmente alto em Eleunte, do outro lado do Helesponto. Do seu topo dava para ver Tróia, e em seu interior o herói foi cultuado como num templo.

Aquiles estava distante do campo de luta, tendo ido acompanhar o rei míssio a quem um dia ferira com a sua lança; e ficara a contemplar, pensativo, o barco que se afastava. De repente, chegou seu amigo e companheiro de armas, Pátroclos, que, pegando-o pelo ombro, disse-lhe:

— Em que estás meditando, meu amigo? Os gregos precisam de ti, imediatamente. Acaba de ser deflagrado o primeiro encontro; o filho maior do rei Príamos, Heitor, combate furiosamente à testa dos seus homens, como um leão confrontando os caçadores. Já tombou Protesilaus, o comandante dos tessálios, tão semelhante a tina mocidade e no valor, embora inferior em forças. Se não acudires, a chacina entre os nossos heróis será ainda maior.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:37

Arrancado, assim, aos seus devaneios, voltou-se Aquiles e reconheceu o amigo; no mesmo momento, feriu-lhe os ouvidos o fragoroso estrondo da luta. Sem proferir uma palavra, deitou a correr pelas ruazinhas do acampamento em direção à sua tenda; ali, recobrando a palavra, chamou às armas os mirmidões e, com eles, atirou-se ao combate como se fôra um verdadeiro ciclone. Nem sequer o próprio Heitor logrou resistir à terrível acometida. Aquiles matou dois filhos de Príamos, o qual, do alto dos muros, os viu cair sob os golpes do jovem herói. Com ele, combatia Ájax, o telamônio, cujo gigantesco corpo ressaltava no meio dos outros dânaos; ante os golpes dos heróis, fugiam os troianos como bando de cervos fugindo dos cães. Finalmente, generalizou-se a fuga do inimigo, e os troianos, já satisfeitos, percebendo a vulnerabilidade do acampamento grego, fecharam as portas. Os gregos, por sua vez, regressaram aos barcos, a fim de continuarem tranquilamente a organização do acampamento. Agamémnon, com seu crédito renovado aos poucos, confiou a Aquiles e a Ájax a guarda dos navios, e os dois, por sua vez, designaram outros heróis como guardas das diversas divisões da frota.

A EMBOSCADA DE CICNOS

Em seguida, procedeu-se aos sepultamento do infeliz príncipe Protesilaus. Depois de colocado sobre elevada pira, enterraram-se-lhe os ossos numa ponta formada pela praia, sob formosos olmos. Não estava ainda terminada a cerimônia, quando um segundo ataque espalhou o terror no meio dos celebrantes despreocupados. Então, surpreendidos, agora sob o comando de Podarces, irmão de Protesilaus, reuniu os seus para a guerra, e os demais apressaram-se a tomar suas armas e organizarem-se, mas não tiveram tempo suficiente, caindo numa emboscada. Certamente não poderia ser o mesmo exército do ataque anterior.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:38

Havia um rei frígio, Cicnos, filho de Poseidon e de uma ninfa, Cálice, que, informado do desembarque das tropas estrangeiras, julgara-se obrigado a correr em auxílio de seus aliados troianos, embora Príamos ainda não houvesse enviado um pedido de auxílio a este príncipe. Príamos, sim, teria mandado seus emissários aos soberanos frígios Cicnos de Colonas e Adrastos. Entretanto, sentindo-se necessário, o filho de Poseidon, vestindo sua armadura branca, como um cisne, reuniu, pois, um exército e foi preparar uma emboscada nas proximidades do acampamento grego. Tinha acabado de chegar com os seus homens ao esconderijo no momento em que os gregos, de regresso do primeiro encontro com os troianos, tributavam as derradeiras homenagens ao herói tombado. Descuidados e deficientemente armados, em torno da fogueira, viram-se subitamente cercados por carros de guerra e homens bem armados, e, antes de poderem saber de onde haviam surgido, Cicnos, dando um grito, já produzia no seio deles tremenda carnificina.

Contudo, somente uma parte dos gregos presenciava o funeral de Protesilaus. Os outros, nos barcos e nas tendas, assim que soou o alarma, empunharam as armas, e, imediatamente, precedidos por Aquiles, acudiram em auxílio dos compatriotas, perfeitamente armados e em formação de batalha. O próprio chefe aparecia impávido no seu carro, espantoso no aspecto: a sua lança ia abatendo frígios e mais frígios. Na confusão, Aquiles só procurava o chefe dos inimigos, e não tardou em descobri-lo de longe pelos terríveis golpes que, ele também, do alto do seu carro de guerra, aplicava à direita e à esquerda, no meio dos gregos. Para lá dirigiu Aquiles os alvos cavalos, e, ao ver-se em frente de Cicnos, que lutava a pé, gritou-lhe, brandindo a arma, sem descer do carro:

— Sejas quem tu fores, homem, leva na morte o consolo de saberes que caíste vítima do filho da deusa Tétis!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:38

Assim falando, disparou a lança; mas esta, perfeitamente apontada aliás, chocou-se com um surdo golpe no peito do inimigo, e Aquiles notou com assombro que tinha pela frente um inimigo invulnerável. E, sorrindo, gracejou Cicnos:

— Não te admires, filho da deusa! Não é o elmo nem mesmo o escudo que seguro que me protege; para mim, essas armas defensivas constituem um simples adorno, assim como o deus da guerra, Áres, se reveste às vezes de couraças que, sem dúvida nenhuma, não lhe são necessárias como proteção ao corpo imortal. Ainda que me desfizesse de tudo, não conseguirias arranhar-me a pele com a lança. Deves saber que todo o meu corpo é duro como o ferro, e deves também saber o que significa, não digo ser o filho de uma ninfa do mar, senão o amado filho daquele a quem obedecem Nereus e suas filhas Nereidas, e todos os que habitam os mares. Estás na presença do filho de Poseidon!

Com tais palavras, atirou a lança contra Aquiles, atravessando-lhe o escudo, de modo que a arma penetrou através do bronze e das nove primeiras peles de touro, detendo-se apenas na décima pele.

Aquiles, arrancando a lança do escudo, atirou outra contra o filho de Poseidon, cujo corpo permaneceu incólume. Também não surtiu efeito o terceiro projétil atirado pelo grego que se enfureceu, como um touro. Mais uma vez atirou a lança de madeira de freixo contra Cicnos, atingiu-o no ombro esquerdo e deu um grito de alegria ao ver jorrar sangue. Mas foi inútil a sua alegria: não era o sangue do filho dos deuses, mas de Mênetes, um inimigo que se encontrava ao lado e que fora ferido precisamente no mesmo instante por outra mão. Rangendo os dentes, Aquiles saltou do carro e, correndo contra o inimigo, atacou-o de espada em punho; mas também esta nada logrou contra aquele corpo impenetrável.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:39

E Cicnos, para tratá-lo feito um cão, tomou seu chicote de ouro e começou a golpear o filho de Tétis, que, conseguindo finalmente tomar-lhe o chicote, furioso e desesperado, ergueu o escudo de pele décupla e, acercando-se do inimigo até tocá-lo, golpeou-o várias vezes na têmpora. Somente então foi que Cicnos começou a fraquejar, enquanto uma névoa se lhe estendia na frente dos olhos; recuando vários passos, tropeçou numa pedra, e Aquiles, agarrando-o pelo pescoço, o abateu. Depois, apoiando o escudo e os joelhos sobre o peito do caído, estrangulou-o com a correia do elmo.

A morte do chefe, que parecia imbatível, desanimou imediatamente os seus guerreiros, e abandonaram o campo de luta, fugindo para todos os lados. Pouco depois daquele assalto, restaram os numerosos cadáveres de gregos e frígios no chão, além de cavalos, em volta do túmulo inacabado de Protesilaus. Enquanto os gregos se ocupavam em perseguir os fugitivos, Cicnos foi colhido por uma força misteriosa que o transformou num cisne — Cicnos, ao nascer, gerado por Poseidon e pela ninfa Cálice, já havia sido milagrosamente criado por um cisne, o que lhe valeu o nome.

Pouco mais tarde, como resposta a tal agressão, invadiram os gregos o país do rei morto, e apoderaram-se dos filhos de Cicnos, fazendo-os reféns, na capital Metora. Em seguida, atacaram as cidades vizinhas Cila e Colonas, cidades fortes que lograram tomar com enorme despojo, e imediatamente retornaram, carregados, ao agora bem defendido acampamento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:40

IFÍDAMAS EM TRÓIA

Num desses dias, chegavam da Trácia doze navios comandados por Ifídamas, filho de Antenor e Téano. Vinha da Trácia, porque lá havia sido criado por seu avô Císseo, pai de Téano; criou-o em sua casa e, quando Ifídamas alcançou gloriosa juventude, resolveu mantê-lo consigo, dando-lhe a filha por esposa. E, há poucos dias, saiu da própria câmara nupcial, tão logo ouviu sobre a chegada dos aqueus, reuniu um exército e partiu para Ílion. Ao chegar nas praias de Tróade, sabendo que os exércitos gregos dominavam o Escamandros e o porto acessível a Tróia, Ifídamas deixou os navios em Percotis e seguiu, com seus trácios, a pé até a cidade.

A MORTE DE PALÁMEDES

Palámedes, ex-aluno do centauro Quíron, era o varão mais inteligente do exército grego. Atribuíam ao príncipe da Eubéia a invenção dos caracteres do alfabeto e sua disposição — baseado nos caracteres fenícios que o herói Cadmos havia ensinado a Linos, filho de Anfímaros e da musa Urânia. Diziam ter inventado os números, difundira o uso da moeda grega, calculara a duração dos meses, de acordo com a trajetória dos astros, criara o jogo de dados e o de damas, entre outras muitas invenções a ele atribuídas. Ativo, prudente, justo, firme, de porte delicado, hábil músico, cantava e tocava lira. A sua eloquência havia conquistado para os Átridas a maioria dos príncipes gregos na guerra de Tróia; ao seu encanto não resistira sequer a astúcia de Ulisses, descendente de Laertes. Exatamente por isso, granjeara ele um irreconciliável inimigo no seio do exército dânao, o qual pensava constantemente em vingar-se com tanta ferocidade quanto maior o prestígio conquistado pelo sábio eubéio entre os príncipes.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:40

Um Oráculo de Apolo mostrou aos gregos a necessidade de oferecerem a esse deus uma hecatombe para conduzir aos santos lugares os esplêndidos animais propiciatórios. Aguardava-o ali Crises, o sacerdote do lado inimigo, que realizou o sacrifício. O templo erguia-se numa colina pouco afastada de Crisa, onde foi sacrificada uma hecatombe, ou seja, uma centena de ovelhas sagradas, pelo sacerdote Crises, sob a direção de Palámedes.

A honra conferida pela vontade de Apolo ao herói foi a causa maior da ruína do eubéio. Ulisses, que, no íntimo, não era absolutamente homem de sentimentos ignóbeis, deixou-se naquela ocasião dominar pela inveja e imaginou um ardil que acarretaria a perdição de Palámedes. Com a sua própria mão e, apoiando-se no maior dos segredos, ocultou na sua tenda certa quantidade de ouro, e, em seguida, com o nome de Príamos, escreveu numa tabuinha uma carta dirigida aos heróis gregos; dizia-se-lhes nela acerca do ouro enviado, e davam-se graças a Palámedes por ter traído o exército invasor. A carta, colocada com destreza nas mãos de um prisioneiro frígio, que foi falsamente descoberta por Ulisses, que imediatamente ordenou se executasse o portador. Depois, exibiu o documento perante a assembléia de príncipes, no acampamento grego; os chefes dânaos, indignadíssimos, chamaram Palámedes à presença de um conselho de guerra escolhido por Ájax e Agamémnon, entre os mais notáveis príncipes, e no qual soube Ulisses arranjar o primeiro lugar. A pedido seu, foi revistada a tenda do acusado, e descoberta, finalmente, enterrada sob o leito, a quantidade de ouro ali ocultada pelo próprio Ulisses. Os juízes, desconhecendo a sórdida trama, condenaram por unanimidade o acusado à pena de morte. Palámedes não se dignou defender-se. Compreendia o que sucedera, mas não via esperança nenhuma de poder oferecer provas da sua inocência e da culpabilidade do adversário. Assim, ao ouvir a sentença que o condenava a morrer apedrejado, limitou-se a dizer, enquanto encarava Ulisses:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:41

— Ah! gregos, vós sacrificais o mais sábio, o mais inocente e o mais melódico rouxinol!

Riram-se os príncipes de tal defesa e levaram um dos varões mais nobres do exército ao suplício, sofrido pela vítima com heróica firmeza. E começou a predizer:

— Encontrareis a ira de Poseidon! Que meu sangue recaia sobre vossas cabeças no dia em que retornardes à Pátria!

Já abatido pelas primeiras pedras, gritou:

— Ânimo, Verdade, que tu morreste antes de mim!

Acabava de proferir essas palavras, encarando pela última vez o astuto e vingativo Ulisses, quando uma pedra, lançada pelo traiçoeiro herói, atingiu-o numa das têmporas, causando-lhe a morte. Mas Nêmesis, a deusa da vingança, que assistia a tão grande iniquidade, decidiu pedir contas do crime aos gregos e a Ulisses.

E, no outro lado do mar Egeus, tão cedo Náuplios soubesse da morte do filho, por uma trama de Ulisses, daí em diante, a vida dele seria consagrada à Vingança. Começaria tramando para que as mulheres dos heróis ausentes arranjassem amantes, ou arranjando-os para as mesmas. Conseguiria-o junto de Clitemnestra, mulher de Agamémnon, Meda, mulher de Idomeneus, e também Egialéa, mulher de Diómedes. Quanto a Penélope, conseguindo reunir cento e oito pretendentes à sua mão, não conseguiria persuadi-la a trair o esposo, o herói Ulisses, justamente o responsável pela morte de Palámedes, seu filho.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:45

A MORTE DE TROILOS

As mulheres da cidade só ousavam sair pelas Portas Escéias para dirigir-se a uma fonte ali perto, bem próxima do Templo de Apolo-Timbreus, assim chamado por causa da fragrante segurelha, thymbra. Faziam isso com muito zelo, apenas com o consentimento das sentinelas que vigiavam do alto das muralhas. Iam buscar água, acompanhadas por Troilos, que, cedendo à petulância, abandonara seu ofício e a cidade de Tróia para aproveitar a exercitar os seus corcéis em campo aberto. Não poderia imaginar que algum inimigo estivesse a espreita. Aquiles, acompanhado de Pátroclos e alguns guerreiros, estava escondido ali perto do poço, não com o fito de capturar as mulheres, mas de capturar ou matar alguém importante. Por isso, a pé, lançou-se em perseguição ao jovem troiano, agarrou-o pelos cabelos compridos e derrubou-o de seu cavalo, e ele, caindo no pó da terra, tratou de refugiar-se no altar de Apolo, onde era comum serem sacrificados galos, e não pessoas. E Aquiles, agarrando-o, ameaçou matá-lo.

— Não podes matar-me, mirmidão, pois sou filho do grande deus Apolo, e minha mãe é Hécuba, a rainha de Ílion!

— Como te chamas?

— Troilos.

— Ora, ora, então tenho comigo um rapazote importante...! Mas corres como uma donzela.

— Leva-as, mas deixa-me voltar para a casa de minha mãe!

Aquiles, ao vê-las indefesas e encurraladas, desinteressou-se e, apesar das súplicas do rapaz, o herói matou-o sem piedade. Não era de seu feitio agir de tal maneira, mas talvez Aquiles desejasse amolecer a Apolo, o deus que protegia a cidade. Deixou as moças escaparem e, só então, observou uma delas, que se destacava das demais; era certamente uma princesa.

— Hei, tu! Quem és tu? Como te chamas?

A moça ignorou-o e tratou mais ainda de correr, enquanto abriam os portões para dar passagem aos irmãos de Troilos, que corriam para defendê-lo. Então, a princesa parou e, voltando-se, gritou para Aquiles:

— Políxena!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:46

Dali a pouco, os troianos, tendo Heitor à testa, corriam para acudi-lo, e pararam de súbito quando viram a cabeça de Troilos ser atirada no meio deles. E Heitor, erguendo a cabeça, viu que Aquiles havia sumido. E só o que conseguiram foi dar sepultura ao cadáver. Foi a partir de então que Apolo guardou incorrigível rancor a Aquiles por lhe haver este profanado o templo e por ter tirado a vida de um de seus mais queridos filhos.

LICÁON APRISIONADO

Em outra oportunidade, não bastasse o que havia acontecido a Troilos, Aquiles, num ataque noturno, flagrou Licáon, filho de Príamos, que estava no pomar de seu pai, cortando galhos de uma figueira, com uma aguçada espada, para a borda de seu carro. E Aquiles atacou-o inesperadamente e o aprisionou. Foi então que decidiu mandá-lo à terra de Lemnos, sob o comando de Pátroclos, a fim de vendê-lo como um escravo muito importante, e o rei Eunéo, filho do argonauta Jasão e de Hipsípile, o rei Eunéo, comprou-o por cem bois e uma crátera de prata fenícia, e levou-o para seu palácio. E ali Licáon permaneceria por longo tempo, até os últimos anos da guerra, até o momento em que Eétion, o meio-irmão de Eunéo, de Ímbros, e amigo de Licáon, o libertasse com um bom resgate e o mandasse livre para Arisbe. Dali, Licáon conseguiria voltar à casa de seu pai, em Tróia. Durante onze dias, ele permaneceria entre os amigos e os irmãos, mas, no duodécimo dia, o Destino o colocaria de novo nas mãos de Aquiles.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:47

A TOMADA DE LIRNESSOS

Passava-se o tempo; ora os gregos triunfavam, ora triunfavam os troianos. Durante todos esses anos, os gregos não permaneceram inativos diante de Tróia; como os habitantes da cidade poupassem as suas forças, efetuando raros ataques, cansando os invasores, estes passaram a dirigir o seu poder contra as regiões vizinhas, a fim de apoderarem-se de provisões, armas, carros, cavalos e escravos. Era evidente para Agamémnon — que havia pretendido assaltar Tróia em poucos dias — que ele não poderia fazê-lo em seu soberbo poderio. Tinha Príamos muitos aliados dentro dos muros da cidade, e outros tantos milhares ou mais, aguerridos e valentes, prontos a acorrer de suas cidades a um chamado seu. Por isso, os chefes decidiram que os gregos acampassem em suas naus abicadas na praia, preparando-se para uma prolongada campanha. Havia algumas escaramuças com destacamentos de troianos aventureiros que faziam sortidas, porém, esses encontros não levavam os gregos a assaltarem as portas da cidade ou a escalarem os elevados muros da cidadela.

Muito mais efetivas, no sentido de enfraquecer a resistência de Tróia, eram as incursões feitas pelos gregos contra as cidades aliadas de Príamos, muitas das quais foram tomadas de assalto e saqueadas. Isto privava Tróia não somente de combatentes, mas, também, de armas e alimentos que, por outro lado, entravam livremente no acampamento do exército grego. Cavalos, prisioneiros e tesouros eram divididos entre os assaltantes, a maior parte cabendo aos chefes e aos reis, principalmente a Agamémnon, inda na qualidade de comandante mais respeitado, ainda que Ájax e Aquiles fossem os comandantes mais ativos e Agamémnon o mais ocioso.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:47

Este fato não deixava de desagradar a Aquiles, pois que Agamémnon nunca tomava parte naquelas incursões repentinas, conquanto fosse sempre o mais bem aquinhoado quando se tratava de dividir os despojos. Por ser esta prática aceita na guerra, entretanto, Aquiles calava seu descontentamento, e trazia fielmente para o tesouro comum tudo o que era conquistado pela sua audácia e iniciativa. Porém, todos sabiam que existiam ressentimentos entre Agamémnon e Aquiles, remontando à época em que Ifigênia fora atraída de Micenas para o altar em Áulis, sob pretexto de que se deveria casar com Aquiles. Cedo ou tarde esse desentendimento iria manifestar-se abertamente.

Aquiles, o maior conquistador, destruiu e saqueou, ao todo, doze cidades com a sua frota e outras onze conquistou por terra.

Sedento de vitórias consecutivas, Aquiles comandou seus exércitos em direção da cidade de Lirnessos, a capital dos léleges. Porém, passando pelo Ida, ali acamparam, e Aquiles e Pátroclos flagraram um grupo de dárdanos que guardavam um rebanho. Desejando apossar-se dos animais, avançaram contra eles, matando-os, sobrando apenas um, que oferecia resistência: era Enéias, o príncipe dos dárdanos, filho de Anquises e da deusa Afrodite. Aquiles, incitado pela deusa Atena, lançou uma chuva de dardos sobre ele, que foi obrigado a fugir, amedrontado; Zeus, resolvendo poupá-lo, deu-lhe vigor, ajudando-o a alcançar a cidade de Lirnessos. O herói Aquiles, indignado, jurou pegá-lo dentro dos muros da cidade, pois haveria de saqueá-la. Então, apossaram-se do rebanho e levaram-no para o acampamento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:48

Porém, Aquiles, muito ansioso por arrasar logo a capital dos léleges, organizou o exército e atacou-a e, em pouco tempo, entrou na cidade. E Enéias, querido de Afrodite, foi poupado mais uma vez graças à piedade de Zeus, que livrou-o da Morte, envolvendo-o numa neblina, tirando-o ileso da cidade. Enquanto isso, Aquiles, ao apoderar-se de Lirnessos, entrou no palácio do soberano Brises, o sacerdote de Dionisos, o qual, desesperado, enforcou-se, ao ver que morriam seus três filhos pelas mãos dos inimigos; sua filha, Hipodâmia, então chamada Briseis, em desespero, pediu piedade a Pátroclos, filho de Menoécios. Vendo-a em prantos e apiedando-se dela, Pátroclos percebeu que era uma princesa, filho do soberano. Haviam morrido os pais, os irmãos e o marido, e lamentava-se pela devastação à cidade de Mines. Tomando-a pelas mãos, confortou-a e prometeu-lhe proteção; jurou que ela seria entregue diretamente a Aquiles, não aos seus guerreiros. Ela, um pouco mais calma, chorou apoiada ao peito de Pátroclos, que se tornou, daquele momento em diante, seu protetor e confidente.

Aquiles matou ainda os lanceiros Mimes e Epístrofos, filhos de Évenos e netos de Sélepos, que tentaram enfrentá-lo juntos, mas perderam a vida.

Ao findar a resistência, dominando o povo lélego, o pelida mandou atear fogo à cidade e levou os sobreviventes como escravos ao acampamento dos aqueus. E, como presente ao seu amigo Pátroclos, deu-lhe a cativa Ífis, a “de belos quadris”.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:48

Enéias conseguiu chegar a salvo até a cidade de seu pai, o rei Anquises. Sua família havia herdado a Dardânia, enquanto o rei Laómedon reinava em Tróia. Acontecia, assim, que Anquises era primo do rei Príamos; as duas famílias, porém, não viviam em bons termos, porque Príamos suspeitava que Anquises conspirava para incorporar o reino de Tróia aos seus próprios domínios. Porém, Anquises não alimentava tais ambições, Mas como seu primo o tratasse com frieza, conservou Dardânia fora da contenda quando os gregos vieram acampar às portas de Tróia. Pelo menos até o presente momento. Porém, a expedição chefiada por Aquiles contra Lirnessos encolerizou o príncipe Enéias, e Anquises, seu pai, lhe permitiu comandar seus guerreiros em auxílio de Tróia.

Enéias tornou-se genro de Príamos casando-se com Creúsa. O filho da deusa Afrodite e do velho herói Anquises passou a ser o novo orgulho do povo de Tróade, aplaudido de pé pelo povo troiano que o acolhia. Até então, tendo participado apenas de umas poucas missões ao lado dos filhos de Príamos, passava a assumir definitivamente a posição de comandante dos dárdanos em Tróia.

A TOMADA DE PÉDASE

Logo após arrasar Lirnessos, os guerreiros mirmidões continuaram a invadir a terra dos léleges, e chegaram à beira do rio Sátnios, onde tomaram a escarpada cidade de Pédase, do velho rei Altes, que mal conseguiu resistir. Altes tinha por filha Laótoe, uma das concubinas do rei Príamos, da qual tivera dois filhos, Licáon, que já havia caído nas mãos de Aquiles, e o jovem Polidoros, que se integrara aos exércitos do rei seu pai.
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A Guerra de Tróia - Página 10 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:49

EM BUSCA DE ÂNIOS

Com o prolongamento da guerra e o desgaste físico e mental dos guerreiros gregos, estes sentiram que deveriam ir à procura do rei Ânios, em Delos; pois, tudo quanto precisassem, tomavam pela força, invadindo e saqueando cidades vizinhas de Tróia, perdendo aos poucos os seus guerreiros. Entretanto, desgastavam-se demasiadamente, e cederam às previsões de Ânios, o filho de Apolo.

Ulisses e Menelaus foram enviados, com alguns soldados e remadores, para procurar aquele rei e suas filhas, a fim de abastecerem o exército. As moças, Elais, Espermo e Oíno, apresentaram-se voluntariamente. Com seus dons mágicos, alimentados por forças divinas, faziam brotar do solo o óleo, o trigo e o trigo. Porém, com o passar do tempo, ao perceberem a presunção dos gregos e a forma como tratavam suas cativas, se cansaram, a tarefa em Tróia era grande demais e sem descanso, e, com a ajuda de Apolo, acabaram abandonando-os na primeira oportunidade que tiveram.

Perseguidas pelos insistentes gregos, suplicaram a Dionisos que as protegessem, e foram transformadas em pombas. Por isso, daqueles dias em diante, em Delos, passou a ser proibido imolar pombas, mesmo nos sacrifícios.

LESBOS DOMINADA

A ilha de Lesbos, ao sul, vizinha da Míssia, também foi dominada pelos ataques poderosos da frota grega de Aquiles. E trouxe mulheres habilidosas à guisa de botim. Deu quase todas elas a Agamémnon, mas guardou para si a bela de tez clara, Diómede, filha de Forbas, que passou a fazer companhia a Briseis como segunda amante.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:50

A CONQUISTA DE TEBE

Um dos mais fortes aliados do rei Príamos foi o rei Eétion de Tebe, cidade situada ao sul dos domínios de Tróia, que se erguia ao pé do monte Placos, na região de Cília. A sua filha Andrômaca (Andromákhe) era esposa de Heitor, filho primogênito de Príamos, e general das forças troianas. O rei Eétion, na qualidade de pai da futura rainha de Tróia, fazia tudo o que estava ao seu alcance para derrotar os gregos; por isso, os chefes gregos enviaram um forte destacamento contra Tebe-Hipoplácios, a cidade santa dos écios, sob o comando do valoroso Aquiles.

Sucumbiu aos seus ataques a cidade de Tebe. Viviam no palácio de Eétion sete de seus filhos, quando chegou Aquiles que, depois de atacar as elevadas portas, degolou-os. Somente Podes permaneceu vivo, pois se encontrava em Tróia, com um contingente de míssios. Eétion também foi passado a fio de espada. O jovem herói, vendo aos seus pés o corpo do ilustre soberano, cujo porte era majestoso, sentiu-se apoderado de enorme terror e não ousou tirar-lhe as armas, que lhe cabiam, como presa de guerra. Ao invés, lhe deu sepultura com honras heróicas. Depois queimou suas armas, e em seguida mandou lhe fosse erguido um grande monumento; rodeado de olmos, plantados pelas Ninfas, ornou o monumento aquelas paragens durante muito tempo.

Aquiles levou como escrava a esposa do soberano, mãe de Andrômaca, mas libertou-a posteriormente, em troca de bom resgate. Ela voltou à Pátria, onde morreu, enquanto tecia, atingida pela seta infalível de Ártemis.

Dos estábulos do soberano morto, tirou Aquiles o magnífico corcel Pédasos, que, embora mortal, rivalizava em vigor e velocidade com os seus próprios cavalos imortais, e com eles passou a apostar corridas de carros.

Apoderou-se também, na sala de armas do rei Eétion, de muitos outros objetos de valor, entre os quais um enorme disco de ferro, tão grande, que dele houvera qualquer camponês tirado ferro suficiente para todos os seus utensílios de agricultura por cinco longos anos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:50

O RAPTO DE CRISEIS

Durante a incursão à Míssia, Aquiles e seus exércitos invadiram Crisa, cujo rei, e sacerdote de Apolo, era Crises. Sua filha, Astínome, conhecida como Criseis, a sacerdotisa, foi raptada por Aquiles, retirada à força do templo do deus, e transformou Crisa num monte de ruínas, poupando a vida de Crises, que ali permaneceu, sozinho, lamentando e chorando pelo destino de sua filha e de seu povo.

ÁJAX E POLIMNÉSTOR

Depois de Aquiles, o mais valente herói grego era Ájax, filho de Télamon, o qual tampouco ficou inativo. Conduziu a sua frota ao Quersonesos da Trácia, onde imperava o castelo real de Polimnéstor, a quem o rei Príamos mandara, para ser educado, seu filho menor Polidoros, tido da concubina Laótoe, e que, como predileto, fôra livrado do serviço militar. Príamos, para que o filho fosse mantido como convinha, não poupava o rei da Trácia nem ouro, nem outros objetos de valor; mas o desleal soberano empregou tais tesouros em seu proveito, assim como do próprio pupilo, para negociar a paz, quando Ájax lhe invadiu o país e lhe sitiou o castelo. Negou a sua amizade com o rei Príamos, amaldiçoou-o, distribuiu entre os guerreiros gregos o dinheiro e o trigo recebido como pagamento pela educação do menino, e a Ájax deu ouro do aliado, acabando, até, por lhe ceder o próprio Polidoros, filho de Príamos, como escravo.

Por tudo isso, apesar de ser Polimnéstor um rei indigno e traidor, merecendo a pena de morte, Ájax cumpriu sua palavra e poupou-lhe a vida, entregando-lhe de volta o poder.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:51

TELEUTAS, REI DA FRÍGIA

Ájax não voltou imediatamente ao acampamento dos gregos. À frente da esquadra, rumou para a costa frígia aonde atacou os territórios do rei Teleutas, a quem matou quando este se opôs ao seu avanço, e levou-lhe, cativa, a filha Tecmessa, criatura de alma tão nobre quanto formosa de corpo. A sua formosura e a grandeza dos seus sentimentos fizeram com que Ájax por ela se apaixonasse, tanto que tratou-a com todas as honras e respeito, e, sem dúvida, a houvera desposado se entre os gregos tivesse imperado o costume de desposar mulheres bárbaras.

O TRIUNFO DE AQUILES E ÁJAX

Aquiles e Ájax chegaram, quase ao mesmo tempo, ao acampamento dos dânaos, de retorno das suas expedições, carregados de presas. Todos os gregos os acolheram entoando cantos de louvor e, em breve, rodeou-os grande número de guerreiros. Situando os heróis no centro, conferiram-lhes, por entre alegres e ruidosas aclamações, a coroa de oliveira.

Os heróis realizaram, então, um conselho, para decidirem do destino das presas, consideradas pelos gregos um bem comum. Diante das mulheres cativas, não houve herói grego que não exprimisse a sua profunda admiração. A formosa filha de Brises coube a Aquiles, e Ájax manteve a posse de Tecmessa. Aquiles logrou ficar também com a companheira de jogos de Briseis, a graciosa donzela Diómede, também chamada Xênia, que não queria separar-se da amiga, com a qual privava desde a mais tenra infância. Levada à presença dos heróis gregos, atirara-se aos pés de Aquiles e rogara-lhe, em pranto, não permitisse o seu afastamento da ama e amiga. A Pátroclos coube a formosa Ífis. Somente Astínome, filha de Crises, foi cedida a Agamémnon, em honra à sua dignidade. Hecamede, de Tênedos, foi feita escrava do velho Nestor. O restante, quer prisioneiros, quer vitualhas, foi distribuída pelos combatentes do exército grego. E Ájax, ouvindo as solicitações de Ulisses e Diómedes, desembarcou os tesouros do rei Polimnéstor, dos quais boa parte, em ouro e prata, coube ao rei Agamémnon.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:51

POLIDOROS

Por fim, passaram os heróis a deliberar sobre a parte mais preciosa da presa, Polidoros, filho do rei Príamos. Depois de rápida discussão, concordaram que se enviassem Ulisses e Diómedes ao monarca troiano como embaixadores encarregados de lhe propor a troca do jovem filho por Helena. Aos dois heróis, uniu-se o esposo da princesa Helena, Menelaus. Puseram-se a caminho os três, fazendo-se acompanhar de Polidoros, que permaneceu diante da cidade sob a guarda de alguns guerreiros. Os embaixadores, por sua vez, foram recebidos pelos troianos, segundo o que exigia o direito dos povos, com todas as honras e garantias devidas a embaixadores, e acolhidos no interior dos muros da cidade.

No seu palácio real, encravado na acrópole, longe da cidade, Príamos e seus filhos nada sabiam ainda do que ia ocorrendo, quando a embaixada já havia chegado à ágora de Tróia. Rodeado pelo povo troiano, Menelaus tomou a palavra. Com expressões violentas, queixou-se da violação do direito das gentes cometida por Páris no que lhe era mais sagrado e valioso, raptando-lhe a esposa. Foi tal a sua eloquência e empenho, que todos os troianos presentes, entre os quais os chefes mais velhos do povo, ficaram comovidos e viram-se obrigados a dar-lhe razão por entre lágrimas de enternecimento.

Ulisses, notando toda aquela emoção, tomou a palavra:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 02:52

— Parece-me que deveríeis saber, habitantes de Tróia, quer nobres, quer plebeus, que os gregos não empreendem nada sem antes refletir e que já os seus antepassados, ao realizarem os seus feitos, se empenharam em conquistar elogios e não reprovações. Sabereis que, uma vez consumada por Páris, filho de vosso rei, a incrível ofensa que para nós constituiu o rapto de Helena, antes de recorrerem às armas contra vós, enviaram os gregos uma embaixada pacífica procurando a solução do conflito. Somente quando vimos o malogro de tal medida foi que nos decidimos pela guerra, a qual, aliás, foi iniciada por uma agressão que partiu de vós. Mas ainda agora, depois de haverdes tido oportunidade de experimentar a força do nosso braço, depois de estarem todas as cidades vizinhas, que vos estão submetidas ou são vossas aliadas, convertidas em montes de ruínas, e vós próprios, após vários anos de sítio, vos achardes necessitados de muitas coisas, ainda neste momento, repito, tendes em vossas mãos a possibilidade de uma feliz solução de nossa disputa! Devolvei-nos o que nos roubastes, e não tardaremos em levantar o acampamento, embarcando e erguendo âncoras; abandonaremos para sempre estas praias com a terrível frota que tantos prejuízos já vos causou. Não vimos aqui de mão vazias, pois trazemos ao vosso rei um tesouro dificilmente inferior à estrangeira que, para seu mal e nosso, se abriga em vossa cidade. Trazemos Polidoros, seu filho menor e mais querido, raptado pelo nosso herói Ájax ao rei Polimnéstor, da Trácia, e que se encontra amarrado, fora dos muros de Tróia, aguardando a liberdade e a vida por vossa resolução e da resolução de seu pai que é o rei. Dai-nos Helena, ponde-a em nossas mãos hoje mesmo, e o mancebo voltará à casa paterna. Mas se nos negardes Helena, perecerá a vossa cidade, e o rei contemplará o que, para não ver, não vacilaria em dar a vida.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 05:19

Um profundo silêncio reinou no povo troiano, reunido em torno dos parlamentares, quando Ulisses terminou de falar. Não fossem as leis da hospitalidade e do direito dos embaixadores, de sua proteção e imunidade, do tratado de trégua e de outras leis que compunham a democracia dos povos gregos e assimilados, os troianos partiriam para cima dos embaixadores, os matariam ou os prenderiam em consideração de Polidoros. Tais leis eram divinas, formuladas e zeladas pelo maior dos deuses, irrevogáveis, imutáveis, e deveriam ser respeitadas, sob pena de castigo e morte. Não era à toa que os gregos passavam por terríveis provações, depois que mal receberam e trataram Antenor quando este havia ido como embaixador à Hélade, com o fito de resgatar Hesíone do cativeiro, no reino de Salamina.

Finalmente, o velho Antenor tomou a palavra:

— Caros gregos, que noutros tempos fostes meus hóspedes, já sabíamos o que nos contastes e, no nosso íntimo, somos obrigados a dar-vos razão. Não falta vontade de harmonizar as coisas, o que falta é o poder. Vivemos num país em que a ordem de um rei é a lei. Opor-se-lhe a ninguém o permite nem o costume do nosso reino, nem a fé que herdamos de nossos pais, nem a própria consciência do povo. Em todos os assuntos públicos somente nos é dado falar quando o rei nos conclama em conselho. E depois de exprimirmos a nossa opinião, resta-lhe a liberdade de agir a seu bel-prazer. Para que saibas, no entanto, qual é o critério dos melhores da nossa nação no caso presente, reuniremos os mais velhos e manifestaremos o nosso pensamento. Eis o que podemos fazer, o que não pode negar-nos o nosso rei.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 05:20

Assim se fez. Antenor convocou um conselho de anciãos e apresentou-lhe os embaixadores. Assumindo a presidência, começou a interrogar os chefes do povo, um por vez, sobre o erro cometido por Páris. Os mais ilustres varões de Tróia declararam considerarem tal ação o mais execrável dos crimes. Somente Antímacos, varão belicoso e mau, defendeu o rapto da princesa grega. Páris havia-o subornado, e ele o defendia e se opunha à devolução de Helena. Também dessa vez pelejou pelo mesmo fim, e, à revelia dos heróis, apresentou a vil proposta de assassinar os enviados gregos que eram três dos seus varões mais valentes e sábios. Repelindo os troianos, horrorizados, tal proposta, aconselhou que, ao menos, fossem retidos na cidade até que concordassem em ceder Polidoros sem resgate e sem compensação de nenhuma espécie. Também essa sugestão foi repelida, por indignação, e visto como Antímacos não cessava de injuriar os heróis, quer em público, quer na assembléia, esta, desejando mostrar aos gregos a desaprovação do seu procedimento, se apressou em expulsar aquele homem afrontosamente.

Exasperado, Antímacos rumou para o palácio e informou ao rei que havia chegado uma embaixada grega e o que se passava no conselho dos anciãos. Realizou-se, então, entre o monarca e os filhos, uma prolongada deliberação, à qual foi chamado um dos mais velhos, o nobre Pantous, que desfrutava da maior confiança do rei. Dirigiu-se este ao mais valente, justo e virtuoso dentre todos os descendentes do monarca, Heitor, e rogou-lhe que, cedendo à opinião dos melhores troianos, fosse devolvida a causa funesta de tão horrível guerra:

— O príncipe Páris já teve bom número de anos para gozar do seu injusto rapto e nele saciar o prazer. Hoje, quase todas as cidades vizinhas, aliadas, estão destruídas e a ruína delas pressagia evidentemente a nossa. Além do mais, mantêm os gregos em seu poder o terno irmão de Páris que também é teu, e não sabemos o que lhe acontecerá, se lhes não entregarmos Helena.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 05:21

Sentiu Heitor o rubor subir-lhe às faces, e aos olhos as lágrimas, ao lembrar-se do feito de seu irmão Páris. Todavia, não ergueu a voz, no conselho do rei, em favor da entrega da princesa:

— Uma vez, veio ela à nossa casa como suplicante, e como tal lhe demos acolhida, pois diversamente deveríamos ter tido que lhe impedir a passagem do limiar do palácio. Em vez de o fazer, construímos uma esplêndida casa para ela e Páris, onde por dilatados anos têm residido com todo o esplendor. Vós vos calastes, apesar de que percebíeis a aproximação da guerra. Por que deveríamos, pois, expulsá-la agora?

Retrucou Hélenos, o príncipe-profeta:

— Não me calei. Tenho a consciência tranquila. Transmiti-vos a predição de meu pai e adverti-vos, e faço-o hoje pela segunda vez. Suceda o que suceder,cooperarei lealmente convosco na defesa da cidade e do rei, mesmo que não sigais o meu salutar conselho.

Assim falando, Hélenos abandonou a assembléia.

Por proposta de Heitor, concordou a assembléia em não entregar a princesa Helena, mas em dar satisfação e reparações aos gregos por tudo quanto lhes fora roubado. Em vez da princesa, oferecer-se-ia a Menelaus como esposa, e com ela um dote real, uma das filhas do soberano, ou a prudente Cassandra, ou a encantadora Políxena, selando assim um tratado de paz entre os povos.

Mas quando os enviados gregos, introduzidos perante o rei e seus filhos, ouviram aquela proposta, Menelaus, revoltado, reclamou:

— Devo ter sofrido uma extraordinária queda, se ao termo de tantos anos de privação da mulher de minha escolha, me vejo finalmente reduzido à escolha de outra esposa pelos meus inimigos. Guardai vossas filhas bárbaras e devolvei-me a mulher que a mim pertence!

Ergueu-se, então, o genro do rei, Enéias, marido de Creúsa, que gozava de privilégios e participava dos conselhos entre os filhos de Príamos. Ofendido pelas últimas palavras de Menelaus, ditas com desprezo, dirigiu-se a ele e disse com voz áspera:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 2/3/2021, 05:21

— Não terás nem uma, nem outra, miserável! É a opinião minha e de todos os que estimam Páris e dão valor à honra desta antiga casa real. O reino de Príamos ainda tem defensores! Ainda que se veja obrigado a perder Polidoros, Príamos não ficará sem descendência! Poderemos, por acaso, ceder aos gregos o privilégio de raptar mulheres? Já foram ditas palavras demais! Se não partirdes imediatamente com a vossa frota, havereis de sentir o peso do braço troiano. Tombaram os fracos, mas resta-nos ainda suficiente mocidade disposta a lutar, e de longe continuam a vir todos os dias poderosos aliados.

As palavras de Enéias foram acolhidas com entusiásticas aclamações da assembléia de príncipes troianos. Só a intervenção de Heitor evitou que os legados fossem maltratados; eles, corroídos pela cólera, afastaram-se, protegidos pela guarda real, e saíram da cidade, indo juntar-se ao seus soldados que mantinham Polidoros prisioneiro a uma distância razoável dos muros de Tróia, a quem o rei Príamos via apenas de longe, mas o reconhecia, e voltaram aos barcos gregos. Difundindo-se entre estes a notícia do que sucedera em Tróia, as maquinações de Antímacos e a insolência de Enéias e dos filhos de Príamos, verificou-se enorme tumulto, e todos exigiram vingança com expressões e gestos selvagens. Numa assembléia extraordinária, concordou-se que o infeliz Polidoros, inútil para gregos e troianos, pagaria pelas culpas dos irmãos e do pai. E imediatamente, passaram todos da deliberação à execução do acordo. Polidoros foi elevado aos pés dos muros de Tróia, a uma distância segura. Pouco depois, do alto das ameias, veio um grito de dor, saído do peito de Príamos o qual, atraído pelo movimento de tropas, acudira aos muros em companhia dos filhos. Com os seus próprios olhos assistia à realização da ameaça de Ulisses no pobre moço. Contra a sua cabeça nua voavam pedras de todos os lados; e o apedrejamento continuou até expirar o desventurado rapaz.
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