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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:51

— Deixai esta luta, rapazes. Já sabemos todos que, desde que perdemos Aquiles, sois vós os mais fortes dentre os argivos.

Ressoou um grito de geral aprovação. Os lutadores, enxugando o suor da testa, abraçaram-se. Tétis deu-lhes de presente quatro escravas cativas que se distinguiam pelo trabalho e pelo bom procedimento, conquistadas em Lesbos por Aquiles. Uma delas era entendida na cozinha, a segunda sabia servir o vinho como ninguém, a terceira servia a água para lavagem das mãos e a última retirava os manjares depois de estarem servidos os convidados, com muita dedicação. Somente Briseis era melhor que as quatro em tudo o que faziam, pois era nobre da casa de Lirnessos, cujo pai era sumo-sacerdote. Os dois lutadores repartiram-nas entre si, e imediatamente mandaram-nas para os barcos.

Seguiu-se o pugilato. Apresentou-se Idomeneus, o mais destro dos pugilistas. Devido a sua experiência e a sua idade, ninguém ousou enfrentá-lo, pois o respeitavam. Por conseguinte, Tétis deu-lhe o carro de Pátroclos. Mas Fênix e Nestor, insatisfeitos, estimularam os moços ao combate. Por isso, levantaram-se Epeios, filho de Panopeus, e Acamas, filho de Teseus. Ambos envolveram as mãos em correias secas e experimentaram a sua agilidade; depois, erguendo-as e unindo-as, avançaram passo a passo, observando-se cuidadosamente, até que se atiraram um contra o outro, e não tardaram em trocar golpes. O filho do famoso Teseus defendia-se, esquivando habilmente os ataques incessantes do adversário. De repente, assestou-lhe tal murro no olho, que sangrou o adversário. Mas Epeios respondeu com um murro na testa que o derrubou. Mas reiniciaram a luta, até que intervieram os amigos, apartando-os, fazendo-os compreender que não se tratava de um encontro entre gregos e troianos. Deu-lhes Tétis duas esplêndidas ânforas de prata, trazidas de Lemnos por Aquiles.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:52

Ájax, filho de Oíleo, e Teucros, filho de Télamon, disputaram o prêmio da competição de arco e flecha. O alvo foi um elmo que Agamémnon colocou a boa distância. Vencedor seria quem cortasse, com a flecha, a crina de cavalo da extremidade posterior do penacho. Ájax foi o primeiro em atirar; atingiu o elmo, cujo bronze ressoou. Depois, atirou Teucros, que ainda coxeava, e deu a lógica: a ponta da flecha cortou o penacho, provocando grande entusiasmo nos espectadores. Tétis deu-lhe a armadura de Troilos, filho de Príamos, abatido por Aquiles há alguns anos.

Seguiu-se o lançamento do disco, do qual participaram muitos dos heróis. Nenhum, todavia, conseguiu atirar o pesado objeto a tão grande distância que Ájax telamônio, que o lançou como se fosse um galho de árvore. Tétis deu-lhe por prêmio a armadura de Mémnon, e o herói se apressou em vesti-la, notando os dânaos com assombro que, apesar de suas gigantescas proporções, se lhe ajustava perfeitamente, como se tivesse sido feita expressamente para ele.

Chegou, então, a vez da competição de salto, em que venceu Agápenor, valendo-lhe a vitória as armas de Cicno, comandante dos frígios morto por Aquiles.

No lançamento de dardo venceu Euríalos, que recebeu a taça de prata ganha um dia por Aquiles na tomada de Lirnessos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:53

Nas corridas de carros, cinco heróis prepararam simultaneamente os seus corcéis: Menelaus, Euríalos, Polípoetes, Toas e Éumelos. Cada um no seu carro na linha de saída, látego na mão, a um sinal convencionado se atiraram a correr, levantando nuvens de pó. Em poucos instantes, os cavalos de Éumelos deixaram para trás os restantes; em segundo lugar vinha Toas, depois Menelaus. Os outros dois iam-se atrasando cada vez mais. Toas começou a dar sinais de cansaço, e os corcéis de Éumelos, que corriam muito, tropeçaram, de repente, e, quando o áuriga pretendia endireitá-los à força, os animais encabritaram-se e viraram o carro de rodas para cima. Éumelos rolou pela areia. Ressoou um grito na multidão de espectadores, e os fortíssimos cavalos do átrida passaram para o primeiro lugar, chegando à meta com grande vantagem sobre os demais. Menelaus alegrou-se com a vitória, embora sem se envaidecer, e Tétis concedeu-lhe a taça de ouro conquistada por Aquiles no palácio de Eétion, em Teba. Tal vitória glorificou Menelaus, e o rei passou, daí então, a ter mais confiança no fatal destino de Tróia, que haveria de sucumbir.

O DRAMÁTICO FIM DE ÁJAX

Terminaram, assim, os jogos fúnebres em honra de Aquiles. Dentre todos os principais chefes do exército grego, foi Ulisses o único que deles não havia logrado participar, exceto Nestor pela sua velhice, em virtude de, no curso da luta em torno do corpo de Aquiles, haver-lhe o troiano Álcon lhe ferido gravemente.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:54

Finalmente, Tétis ofereceu as armas de seu filho, Aquiles, como derradeiro prêmio, e o mais valioso, almejado por todos. De longe brilhava o escudo do herói, uma magnífica obra de Hefaístos. No chão, perto dele, via-se o poderoso elmo com a efígie de Zeus na abóbada celeste lutando contra os Titãs. Lá estava também a formosa couraça que adornara o peito invulnerável de Aquiles. As pesadas e famosas caneleiras, a brilhante e invencível espada com empunhadura de marfim rematado de ouro, na bainha de prata, e o pesadíssimo dardo, mais parecido a um tronco de abeto, e ainda tingida do sangue de Heitor.

Por trás das armas, Tétis, de pé, envolto a cabeça em negro véu de luto, disse aos dânaos, com profunda tristeza:

— Já foram entregues todos os prêmios mais valiosos aos vencedores nos jogos do funeral de meu filho. Adiante-se agora o melhor dos gregos, o que salvou o cadáver, para que eu lhe entregue suas armas, maravilhoso presente dos deuses.

Ájax adiantou-se, muito feliz por saber ter sido o conquistador de tal prêmio, quando notou que outro herói estava, em pé, ao seu lado: era Ulisses, que também havia-se adiantado a proteger Aquiles. Ambos começaram a discutir. Radiante como a estrela vespertina, colocou-se Ájax ao lado das armas, chamando Idomeneus, Nestor e Agamémnon como testemunhas do seu feito, protegendo o corpo do pelida, no campo de batalha. Ulisses, porém, voltou-se para os mesmos príncipes, os mais sábios e íntegros de todo o exército, e justificou a sua tentativa de defender Aquiles, quando então havia sido ferido. Nestor, levando para um lado Agamémnon e Idomeneus, disse-lhes com preocupação:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:54

— Estamos diante de um grave conflito: os dois guerreiros mais ilustres do exército disputam a armadura mais valiosa. Quem não a obtiver, seja ele quem for, retirar-se-á da luta ofendido, e todos sofreremos as tristes conseqüências. Por isso, peço-vos que aceiteis o conselho de um ancião experimentado. Temos aqui no acampamento inúmeros prisioneiros troianos. Deixemos que eles decidam o pleito entre Ájax e Ulisses. Serão imparciais e não favorecerão nenhum dos dois.

De conformidade com o conselho de Nestor, os três juízes supremos designaram como juízes diretos os mais nobres prisioneiros de guerra. Ájax falou:

— Que mau gênio te cegou, Ulisses, para que ouses competir comigo? Estás para mim como o cachorro para o leão. Não lembraste, talvez, de como te houveras prazerosamente subtraído a esta guerra? Prouvera aos deuses que tivesses permanecido em casa! Foste tu quem nos persuadiu a abandonar Filoctetes em Lemnos; foste tu o culpado da morte de Palámedes, eu o sei, por te superar ele em força e inteligência. Agora, no entanto, esqueces dos serviços que prestei aos gregos, e esqueces-te também de que te salvei a vida, quando abandonado de todos, estavas no aceso da refrega procurando inutilmente uma fuga. Quando se travou o combate em torno do corpo de Aquiles, não fui, por acaso, eu que carreguei suas armas? Poderiam ter sido levadas pelos troianos...! Tu não terias tido forças nem para carregá-las, muito menos ajudaria a carregar o corpo. Portanto, afasta-te! Não somente sou o mais forte como também venho de estirpe mais nobre, sendo até parente do herói cuja armadura está agora em litígio.

Mas, com um sorriso de sarcasmo, Ulisses falou-lhe:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:55

— Para que perdermos tempo com palavras vãs, Ájax? Me chamas de covarde e de fraco, e não pensas que é apenas a inteligência que constitui a verdadeira força. Ela é que ensina o marujo a conduzir o navio através do mar enfurecido, ela é que doma os animais da selva, panteras e leões, ela é que transforma o touro em servidor do homem. Assim, tanto na necessidade como no conselho, é melhor um homem inteligente que um tolo dotado de grande força física. Foi por isso que Diómedes me escolheu para acompanhá-lo ao acampamento de Resos, dos trácios, e não tu; e os dois gregos a mim foi que deveram ter sido conquistado, para a guerra, o filho de Peleus, por cujas armas estamos competindo. Se jamais os dânaos tivessem necessidade de um herói, crê no que te digo, Ájax, não seria o teu pesado braço nem tampouco o talento de outro componente qualquer do exército quem o proporcionaria, senão eu, que saberia persuadi-lo com palavras elogiadoras e convincentes. Os deuses, por outro lado, não somente me concederam talento, mas também a força necessária, e, aliás, não é verdade que me salvaste quando eu fugia das mãos do inimigo. Pelo contrário, enfrentei o ataque e matei os que me perseguiram, enquanto tu ainda estavas longe, cuidando da tua segurança.

Assim discutiram, e, finalmente, ouvindo os troianos as palavras de cada um deles, consideraram mais valiosas as razões apresentadas por Ulisses e, por unanimidade, lhe atribuíram a esplêndida armadura de Aquiles. Talvez, essa decisão tenha sido tomada pelos prisioneiros, por ter sido Ájax um exterminador de troianos, e estavam eles rancorosos com o filho de Télamon.

Ájax, ouvindo tal decisão, mal acreditando nisso, estremeceu violentamente. O sangue ferveu-lhe de raiva, e a bílis se lhe misturou ao sangue. As têmporas bateram-lhe com violência e todas as fibras de seu ser vibraram. Durante longo tempo, permaneceu imóvel, como uma estátua, de olhos fitos no chão, até que os camaradas, entristecidos, dirigindo-lhe palavras de consolo, conduziram-no aos barcos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:56

Saiu, então, do mar a tenebrosa Nix. Ájax, sentado na sua tenda, não comia nem pensava em entregar-se ao Sono, nem pelo convite de sua amada Tecmessa. Pelo contrário, armando-se completamente e empunhando a espada, começou a pensar em despedaçar Ulisses, queimar os barcos ou cair sobre todos os gregos e castigá-los. Tecmessa perguntou-lhe aonde iria, e ele nada respondeu. Ela o seguiu, mas Ájax desapareceu. Tecmessa voltou para dentro da tenda, tomou nos braços o filhinho, Eurísaces, e foi procurá-lo.

Sem dúvida, faria qualquer dos três pensamentos, mas a deusa Atena, preocupada com o seu amigo Ulisses, feriu-o de loucura. Com o aguilhão da tortura cravado no coração, saiu Ájax da tenda e precipitou-se sobre os rebanhos dos dânaos, ofuscado como estava, supôs fossem uma legião de gregos. Os pastores, vendo-o furioso matando os animais, fugiram horrorizados, para escapar à Morte, nas matas da margem do Escamandros, enquanto ele atirava-se contra as ovelhas, matando-as a golpe de espada, causando terrível carnificina. Varando, depois, o corpo dos grandes carneiros, gritou-lhes com uma gargalhada sarcástica, como se estivesse possuído:

— Mordei o pó e ficai para pasto dos abutres, cães imundos! Nunca mais emitireis outro juízo injusto! Desavergonhados! E tu que te ocultas num canto e cuja má consciência te obriga a esconder a cabeça, de nada hão de valer-te as armas de Aquiles que me roubaste e que exibes, orgulhoso, pois de que vale a armadura de um herói no corpo de um covarde?

Assim falando, julgando ser Ulisses, agarrou outro carneiro e, arrastando-o à tenda e amarrando-o ao poste da porta, empunhou um chicote e começou a chicotear o desgraçado animal com todas as suas forças.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:57

Naquele momento, aproximou-se-lhe Atena por trás, e, tocando-lhe a cabeça, ordenou à Loucura que o deixasse. Recobrando a razão, Ájax viu-se com o chicote na mão e, diante dele, o carneiro já com o ombro aberto. Percebeu o que fez ao olhar para trás e notar que quase todo o rebanho estava dizimado. Aquilo tudo falou-lhe com eloquência. Caiu-lhe das mãos o chicote, e ele sentiu que se lhe ia a força heroica. Tombou ao chão, de joelhos, com o pressentimento de ter sido vítima da cólera dos deuses. Indizível dor se lhe estampou no rosto, e quando tornou a recobrar os sentidos, não conseguiu mover as pernas. Assim ficou por longo tempo imóvel, como se tivesse enraizado. Finalmente, dando um profundo suspiro, disse:

— Ai de mim, por que me odeiam tanto os Imortais? Por que me atiraram a tão enorme vergonha, para contentarem o astuto Ulisses? Eu, o homem a quem nunca desonra a luta contra os homens, transformado em objeto de riso de todo o exército e dos meus inimigos.

Estava assim a lamentar-se, enquanto Tecmessa o procurava ainda por todo o acampamento grego, e não o encontrava. Preocupada, a filha de Teutras, falecido rei dos frígios, com o filhinho nos braços, teve um fúnebre pressentimento, e voltou para sua tenda. E, verificando o que temia, deparou-se com uma cena lamentável: no caminho, pelo Escamandros, viu a carnificina feita por Ájax. Desesperada, correu para a tenda, e nela se lhe deparou o amo envergonhado e aniquilado, chamando pelo irmão Teucros e pelo filho Eurísaces, que tanto amava, como que implorando morte honrosa. Tecmessa, chorando, aproximou-se dele, e, abraçando-lhe os joelhos, rogou-lhe que a não abandonasse, ela que, apesar de cativa, era a companheira de sua vida, e aprendeu a amá-lo como a um esposo. Lembrou-lhe de seus pais que permaneciam em Salamina, e, estendendo-lhe o filhinho, disse-lhe que se lembrasse da sorte que aguardava aquela criança, sem um mentor, crescendo sem a proteção de um pai.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:58

O herói salamínio, pegando Eurísaces e estreitando-o ao peito, exclamou:

— Meu filho, praza aos deuses que superes em sorte teu próprio pai e, no demais, o iguales! Se assim fizeres, nunca serás um homem indigno. Sem dúvida, terás um excelente protetor em meu irmão Teucros, mas agora quero que os meus escudeiros te levem para Salamina, para a casa de meus pais, Télamon e Peribéia, a fim de que passes a ser a alegria da velhice de ambos, até que desçam ao Reino das Sombras.

Neste momento, chegaram os criados de Ájax, e assustaram-se ao vê-lo morrendo. Entregando-lhes o menino, pediu que recomendassem a Teucros a querida Tecmessa. Depois, afastando-a dos braços desta, e desembainhando a espada que um dia pertencera a Heitor, cravou-a no chão. Depois, erguendo os braços ao Céu, proferiu:

— Peço-te apenas um favor, Zeus! Manda-me meu irmão Teucros no momento em que eu morrer, para que o meu inimigo, chegando primeiro, não me atire aos cães e aos abutres. E a vós, Erínias, uma coisa rogo-vos: quando me virdes morrer, fazei que sejam os Átridas vítimas de traição, sacrificados pelo seu próprio sangue. Vinde, nada perdoeis, saciai a vossa vergonha em todo o exército! Tu, Hélios, que atravessas radiante o céu, quando fizeres passar o teu carro sob a minha Salamina, pára e dize a meus velhos pais qual foi o meu amargo destino. Adeus, sagrado raio de luz! Adeus, Salamina, terra dos meus antepassados! Adeus, mansão da minha raça, Atenas, com os teus rios e os teus mananciais. Adeus, campos troianos, que durante muito tempo me cobiçastes! Agora vem tu, ó Tânatos, e olha-me com piedade!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:00

Ájax viu diante de si Tânatos, o deus da morte, que vinha-lhe fechar os olhos. O herói apanhou a espada e, antes que Tecmessa pudesse impedi-lo, atirou-se sobre a espada e tombou ao chão. Nesse exato momento, entrava Teucros, que horrorizou-se de surpresa, seguido de outros salamínios. Teucros, a quem seu pai Télamon ordenara que não regressasse de Tróia sem Ájax, pretendeu matar-se também, mas os amigos lhe arrancaram a espada das mãos e o agarraram. Deitando-se, então, sobre o cadáver, chorou mais tristemente que um órfão de pai e mãe. Todavia, sua alma de herói falou mais alto. Levantando-se e dirigindo-se a Tecmessa, aniquilada ao lado do morto, com o filhinho nos braços, prometeu-lhe apoio e proteção à criança, da qual seria um segundo pai, temendo a cólera de Télamon, em Salamina.

Amanhecia, quando todos os aqueus já sabiam do acontecido, e Teucros preparou-se para sepultar o corpo do querido irmão, mas Menelaus, que antes havia consultado Calcas, interpôs:

— Não ouses sepultar este homem, que nos foi muito pior que nossos inimigos troianos. Com o seu perverso atentado, não merece uma campa honrosa.

Enquanto Menelaus discutia por causa do corpo de Ájax, Agamémnon pôs-se do lado do irmão e chamou Teucros de filho de escrava — visto que sua mãe era Hesíone, irmã do rei Príamos, há muito raptada por Télamon e Héracles do reino de Laómedon. Foi em vão que lhe recordou Teucros todos os benefícios devido pelos gregos ao guerreiro tombado — Ájax salvara o exército quando os troianos já se preparavam para incendiar e saquear os navios. E continuou:

— Quanto a me chamares de escravo, meu pai Télamon é um grande herói e minha mãe é legítima filha de Laómedon. Por conseguinte, descendo da melhor nobreza. Deveria envergonhar-me do meu sangue? Sabe que com o herói morto atiras fora do acampamento sua querida esposa e seu filho, e a mim, seu irmão. Pensa bem, Agamémnon, e todos vós, que prestígio tereis entre os homens e que bênção recebereis dos deuses!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:01

Continuava a discutir, quando Ulisses aproximou-se, dirigiu-se a Agamémnon e perguntou-lhe:

— Pode um amigo leal dizer a verdade, sem correr o risco de ser mal entendido?

— Fala! Considero-te o meu melhor amigo.

— Ouve-me, então. Pelos deuses, não atireis este varão sem piedade e sem sepultura. Não pretendas que o teu poder te desvie a ponto de praticares um ato de puro ódio. Lembra-te de que, insultando um herói como este, nem por isso o infamarias; pelo contrário, desprezarias o direito e a vontade dos deuses.

Os Átridas ficaram estupefatos. E Agamémnon lhe perguntou:

— És tu, Ulisses, que te incubes de defendê-lo? Não te lembras de que é teu mortal inimigo aquele a quem desejas seja concedida tamanha honra?

— Foi meu inimigo, e o odiei enquanto viveu. Mas agora que tombou para sempre e que nos vemos obrigados a chorar a perda de tão grande herói, não posso nem devo continuar a persegui-lo. Eu próprio estou disposto a enterrá-lo e a ajudar-lhe o irmão no cumprimento de tão sagrado dever.

Teucros, que, com a chegada de Ulisses, retirou-se de indignação, ouviu suas palavras e voltou os olhos para ele. Adiantando-se, estendeu-lhe a mão:

— Ulisses, tu, o maior inimigo de meu irmão, és o único apoio dele. Não me atrevo a permitir que toques o seu corpo. Talvez a sua alma que partiu sem que vós vos tivésseis reconciliado, não gostaria. No resto, se quiseres, podes ajudar-me; há muito que fazer!

E Teucros, com um sinal da cabeça, mostrou Tecmessa a Ulisses, ela que permanecia sentada, calada e muito inconformada. O príncipe de Ítaca, fitando-a, benevolamente, disse-lhe:

— Mulher, ninguém mais te olhará como escrava. Enquanto vivermos Teucros e eu, terás cuidados para ti e para teu filho, como se o próprio Ájax estivesse ao teu lado, ele que foi o protetor dos aqueus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:02

Envergonharam-se os Átridas pelas censuras a Teucros. A força reunida de vários heróis ergueu o gigantesco corpo do chão e o levou para os barcos, onde lhe limparam o sangue e o pé que o cobria. Finalmente, foi queimado numa fogueira tão majestosa quanto a de Aquiles. Com a sua morte, representava para os gregos outra irreparável perda E os gregos erigiram-lhe um monumento sobre o promontório de Roeteon, em Tróade. Futuramente, os atenienses lhe prestariam honras divinas, anuais, em Salamina, onde, na praça do mercado, foi erigida a sua estátua de ébano. E, no monumento de Ájax, brotou uma flor, cujas primeiras letras, “a-i”, viam-se traçadas naquela formosa planta, que passou a ser chamada jacinto. Reconhecendo o seu valor, os atenienses aderiram ao seu culto. Inclusive, séculos depois, antes da batalha de Salamina, todo os gregos oraram para Ájax e seu pai Télamon.

MACÁON E PODALÍRIOS

No dia seguinte, os dânaos reuniram-se em assembléia convocada pelo príncipe Menelaus, que lhes falou:

— Ouvi-me, príncipes dânaos! Sangra-me o coração ao ver como se vão enfraquecendo as nossas tropas. Foi por minha causa que empreendestes esta guerra, e, como andam as coisas, ninguém tornará a ver a terra natal nem os familiares. Abandonemos, então, o Helesponto, esta praia maldita, antes que tal coisa aconteça. Enveredem os que restam pela rota de regresso, nos seus barcos, pondo a proa na direção das suas respectivas cidades, na Hélade. Desde que morreram Aquiles e Ájax não temos a menor esperança.

Menelaus disse-lhes isso para pô-los à prova, já que no seu íntimo nada desejava mais que a total destruição dos troianos. Mas Diómedes, não percebendo a cilada, levantou-se e atirou palavras amargas aos ouvidos de Menelaus:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:03

— Não te compreendo, Menelaus! Que vergonhoso medo se apoderou de tua alma de herói, para que nos fales dessa maneira? Contudo, estou tranqüilo; sei que jamais te seguirão os valorosos filhos da Hélade, enquanto não puserem abaixo as muralhas de Tróia! E se um deles resolvesse seguir-te, este brilhante aço lhe cortaria imediatamente a cabeça.

Disse, desembainhando a espada. E tornou a sentar-se. Levantou-se, então, o adivinho Calcas para intervir na aparente desinteligência com uma prudente proposta:

— Todos vós vos lembrais ainda de que, já faz mais de nove anos, quase dez, tivemos de abandonar na desolada Lemnos, o ilustre herói Filoctetes, o amigo de Héracles, que tinha um ferimento terrível, que poderia alastrar-se entre todos. Sem dúvida, o mau cheiro exalado pela repugnante chaga e os gritos de dor do infeliz eram insuportáveis, mas não obstante procedemos injusta e desapiedadamente, afastando-o de nós. Hélenos, o adivinho prisioneiro, filho de Príamos, que capturamos refugiado nas montanhas, acaba de revelar-me que Tróia somente poderá ser expugnada com o auxílio das flechas , sagradas e infalíveis, que Filoctetes herdou do amigo Héracles, assim como com a presença dele e de Pirros, o jovem filho de Aquiles. Certamente o troiano me comunicou a sua profecia por considerar totalmente irrealizável; terá pensado: “como poderá Filoctetes, com o ódio que deve nutrir pelos gregos, os quais tão vergonhosamente o abandonaram, entregar as flechas e vir pessoalmente a Tróia?” Isso, se Filoctetes já não estiver morto. Portanto, aconselho enviarmos sem perda de tempo o mais forte dentre nós, Diómedes, e o mais eloquente, Ulisses, à ilha de Ciros, aonde o filho de Aquiles está sendo educado pelo avô materno, o rei Licômedes. Com o seu auxílio, não tardaremos em persuadir Filoctetes, em Lemnos, que se reúna de novo a nós, e traga as armas infalíveis de Héracles, envenenadas do sangue da Hidra. Com elas, lograremos apoderar-nos de Tróia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:05

Apesar de saberem que Pirros era apenas um garoto e que Filoctets poderia não estar vivo em Lemnos, os gregos aplaudiram, clamorosamente, a proposta, e os dois, acompanhados de um grupo de guerreiros e de bons remadores, embarcaram, enquanto gregos e troianos aprontavam-se para reiniciar a luta. Em auxílio dos troianos chegara Eurípilos, filho do rei Télefos e Astíoque, da Míssia, à frente de fortíssima tropa, apesar da promessa do pai de que nem ele nenhum dos seus descendentes combateria contra os gregos. Porém, Astíoque, que era filha de Príamos, se deixou persuadir e enviou o filho à guerra. Para convencê-la, tinham-na corrompido com um presente, a vinha de ouro que Zeus oferecera outrora a Ganímedes.

Em troca, ausentavam-se aos gregos os dois melhores heróis. Assim, a luta reiniciada foi-lhes desfavorável, e nela tombou ferido o herói Nireus, o mais belo dos dânaos, abatido pela lança de Eurípilos, que passou a rir-se dele, com zombarias, e já se dispunha a despir o cadáver, tirando-lhe a formosa couraça, quando se lhe opôs Macáon, filho de Asclépios, que presenciara, encolerizado, a morte de Nireus. Macáon cravou a espada no ombro do míssio e lhe abriu um enorme ferimento. Eurípilos voltou-se contra Macáon, como um javali ferido. Macáon tentou defender-se ainda, atirando-lhe uma enorme pedra, mas o elmo protegeu a cabeça do adversário, que, arrojando-se contra o grego como um raio, cravou-lhe a lança na metade do peito de tal modo que a ponta penetrou na medula espinal. Macáon tombou, e Eurípilos, ferido, conseguiu extrair a arma do corpo de Macáon e dirigir-lhe pesadas palavras de sarcasmo. E ainda avançou contra outros dânaos, mas não resistiu, perdendo muito sangue, tendo que recuar e pedir auxílio.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:05

Teucros, vendo cair ambos, Nireus e Macáon, chamou os gregos a lutarem pelos cadáveres. E conseguiram arrancá-los das mãos dos troianos. Mas quando Ájax, o lócrio, foi ferido por uma pedra lançada por Enéias, que o derrubou ao chão, viram-se os aqueus obrigados a retirar do combate o herói que respirava com tremenda dificuldade, e levá-lo aos barcos. Os troianos infligiram grande derrota aos fugitivos, e só não foram aniquilados graças ao aparecimento da Noite, a trégua natural em todas as guerras.

No entanto, antes do anoitecer, Eurípilos e seus míssios afastaram-se para a desembocadura do Símoeis, onde, muito contentes, armaram o acampamento. Os dânaos, por sua vez, acampados na margem arenosa perto dos navios, transcorreram a noite lamentando e deplorando amargamente a perda de seus irmãos caídos, em especial Macáon, filho do famoso médico Asclépios e irmão mais velho de Podalírios.

Apenas surgiu Éos, a Aurora, tornaram os gregos ao ataque, desejosos de vingar-se. Outros aqueus levaram Nireus para perto dos barcos, onde o sepultaram, com Macáon, o sábio médico e muito esforçado lutador. Enquanto, ao longe, a luta fervia novamente, Podalírios estendia-se no pó, gemendo tristemente e recusando qualquer alimento, pela perda do irmão. Não se afastava do túmulo e na mente lhe vivia a ideia do suicídio; às vezes, levava a mão à espada, ou então, mostrava-se disposto a ingerir veneno, que sempre trazia consigo. Mas os amigos o impediam sempre e o consolavam. Mas só Nestor conseguiu evitar que ele morresse ao pé do túmulo de Macáon. O velho encontrou-o ali, golpeando o peito com as mãos e gritando o nome do irmão morto. Todos os criados e companheiros que o circundavam achavam-se terrivelmente impressionados.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:06

— Filho, põe cobro à tua dor. Não é próprio de ti, um varão tão nobre, chorar feito mulher no túmulo de um morto. As tuas palavras não o trarão de volta à luz. O fogo lhe consumiu o corpo, e os seus osso repousam no seio da divina Géa. Partiu como veio ao mundo. Deves suportar a tua dor, como suportei eu a minha, quando filho de Éos matou meu filho mais querido. Com a morte de Antílocos, continuei a me alimentar tal como antes, e resignei-me a continuar contemplando a luz do dia, para mim odiosa, pois julguei que todos nós devemos seguir o mesmo caminho para a mansão de Hades.

— Nestor, como pretendes que eu não me amargure pela morte de meu irmão? Foi ele que, no dia em que nosso pai Asclépios subiu ao Olimpo, me levou nos braços, como se eu fosse seu próprio filho. Juntos comemos à mesma mesa. Repartiu comigo o leito e todos os seus haveres, e me instruiu na sua arte de médico. Agora que morreu, estou sozinho, e não quero mais contemplar a luz do Sol!

— Lembra-te de que são os deuses que nos traçam o Destino, bom ou mau, e que sobre todos reina a sombria Moira que, cegamente, abate todos nesta terra. Por isso, faz suceder uma grande desgraça que fere os homens honrados, sem que haja quem consiga ficar seguro contra ela. A vida nada mais é do que incessante luta; umas vezes conduz a enorme tristeza, outras a um estado melhor. Daí crerem os humanos que o bom sobe ao Céu ou aos Campos Elísios, e o mau mergulha nas eternas trevas do Tártaros. Teu irmão foi um benfeitor dos homens e, ademais, é de ascendência divina. Portanto, deves confiar na sua ascensão à morada dos deuses e dos bem-aventurados.

E Nestor estendeu a mão a Podalírios, e o levantou do chão, afastando-o daquele lúgubre lugar. Ao afastar-se, Podalírios voltou-se inúmeras vezes par fitar o túmulo.

Entretanto, o míssios Eurípilos regressara ao campo de batalha, e os dânaos, após várias investidas, acabavam tendo que recuar, pois estavam debilitados e não lhes sobraram muitos heróis poderosos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:07

EM BUSCA DE NEOPTÓLEMOS

Enquanto tudo isso se verificava diante de Tróia, Diómedes e Ulisses, com seus companheiros, chegavam à ilha de Ciros, onde encontrariam Pirros, o jovem filho de Aquiles. Lá desembarcando, e achegando-se à cidade, encontraram o garoto diante da casa do avô, exercitando-se no arco, no lançamento de lança e no governo dos corcéis atrelados ao carro de guerra. Por algum tempo, contemplaram-no com prazer, observaram quão parecido era ao seu falecido pai, e notaram-lhe no rosto uma expressão de tristeza, pois o jovem já soubera a algum tempo da morte do pai. Finalmente, aproximando-se dele, chamou a atenção de Pirros, que foi-lhes ao encontro e saudou-os:

— Sede bem-vindos, estrangeiros! Quem sois? De onde vindes? Desejais ver meu avô, o rei desta terra?

Ulisses respondeu-lhe:

— Somos amigos de teu pai, Aquiles. Temos a certeza de que estamos falando com seu filho: assemelhas-te muito a ele no rosto e no porte.

— Lamento muito, mas não soubestes que meu pai aqui não se encontra e já partiu desta vida, cujo corpo repousa em algum lugar nas praias de Tróade.

— Sabemos, Pirros. Eu sou Ulisses de Ítaca, filho do rei Laertes, e o meu companheiro é Diómedes, filho do famoso herói Tideus.

Pirros sentiu-se surpreso e quis fazer reverência àqueles tão famosos heróis, mas Ulisses não permitiu tal coisa. Mas o jovem, estranhando que estivessem tão longe de Tróia, disse-lhes:

— Já ouvi falar muito de vós. Por que viestes?

— Aqui vimos, seguindo o conselho do nosso adivinho Calcas, a fim de levar-te ao campo de batalha em Tróia, para que se conclua felizmente. Os aqueus te oferecerão inúmeros e esplêndidos presentes, e, quanto a mim, ceder-te-ei as armas de teu pai, que me foram entregues.

Pirros ficou ainda mais surpreso, e disse-lhes:

— Se os aqueus me chamam obedecendo à voz de um deus, zarpemos amanhã mesmo. E pretendo vingar a morte de meu pai, que mal conheci. Mas agora, vinde ao palácio de meu avô, o rei, e sentai-vos à mesa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:09

No palácio de Ciros, ao entrarem, deparou-se-lhes a viúva de Aquiles, Deidâmia, ainda debulhada em lágrimas. O filho, indo-lhe ao encontro, apresentou-lhe os dois forasteiros, muito embora já os conhecesse, os mesmos que vieram buscar Aquiles e levá-lo para Tróia, há muitos anos atrás. E começava a temer pelos motivos que os levaram a visitar aquele país novamente. Sendo assim, Pirros evitou dizer à mãe quais os motivos da presença daqueles homens tão importantes.

Os dois heróis comeram à mesa de Licômedes, que os tratou com todas as honras, e perguntou-lhes tudo quanto quisesse saber sobre a guerra que acontecia no país de Tróade. E, depois de saciarem-se, trataram de recolher-se para descansar, mas Deidâmia não logrou cerrar os olhos, visto que não conseguia esquecer-se de serem aqueles mesmos heróis culpados por ter de chorar como viúva. Eles é que tinham persuadido Aquiles a partir para a guerra. E temia ela que tivessem vindo para fazer o mesmo com o filho. Assim, levantando-se com os primeiros alvores do dia, arrojou-se ao peito do filho e disse-lhe, chorando:

— Pirros, meu filho, já sei, apesar de nada me haveres dito, que pretendes partir com esses estrangeiros para longe de mim, para aquele lugar funesto onde morreram tantos heróis, e entre eles teu pobre pai. És muito jovem e não tens nenhuma experiência nas artes da guerra! Ouve-me, filho, ouve-me! Sou tua mãe! Fica nesta casa, ao meu lado, ao lado de teu avô e de teu irmãozinho, para que aos meus ouvidos não chegue depois a notícia de que tu também caíste morto, como acontecera com Aquiles, teu pai.

— Minha mãe, não profiras tão fatídicas palavras. Ninguém tomba na guerra contra os desígnios do Destino. Se o Fado impõe que eu morra, como poderei proceder melhor de que morrendo pelos gregos, fiel à minha raça?

Do assento onde fingia Licômedes estar dormindo, levantou-se o rei e aproximou-se do neto, dizendo-lhe:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:13

— És um jovem corajoso, e noto perfeitamente que te pareces em tudo a teu pai. Mas, supondo que consigas safar-te felizmente de Tróia, quem sabe se não há de te perder a jornada de regresso, visto que o mar é sempre extremamente perigoso?

Assim falando, beijou o neto, sem impedir-lhe a partida. Pirros, cujo rosto de herói estava iluminado por uma aparente felicidade, desprendeu-se dos braços de sua mãe e, aprontando-se, em silêncio, abandonou o palácio, acompanhado de Diómedes e Ulisses, e ainda vinte homens resolutos, fiéis servidores de Deidâmia, que foram-se reunir aos demais que esperavam no barco. Embarcando, deixaram a ilha.

Poseidon concedeu-lhe uma feliz viagem. Não tardaram em ver diante deles, à luz do dia nascente, o topo do monte Ida, a cidade de Crisa, o cabo Sigeus e, pouco depois, o túmulo de Aquiles. Todavia, apesar do questionamento do jovem, Ulisses não lhe disse de quem era aquele túmulo, e assim passaram em silêncio diante da ilha de Tênedos, até as proximidades de Tróia, no Helesponto. Chegaram à costa no instante em que mais acesa andava a luta contra Eurípilos, perto do muro que formava o baluarte dos barcos. Diómedes, sem perda de tempo, saltou do barco à praia, seguido dos tripulantes, e atirou-se ao encontro do príncipe Eurípilos, dos míssios, para júbilo dos gregos.

Imediatamente correram para a tenda de Ulisses, que era a mais próxima da praia e continha as armas de Aquiles. Cada um escolheu o que mais lhe agradou, mas Pirros vestiu a armadura do pai, demasiadamente grande para os outros, mas,com a ajuda de Atena, perfeitamente adequada a Pirros. Ademais, apesar de tão jovem, era robusto e de boa estatura; além disso, manejava com facilidade a lança, a espada e o escudo do pelida, como se fosse o próprio Aquiles: parecia mesmo obra dos deuses. Semelhante em tudo a Aquiles, atirou-se imediatamente à refrega, seguido dos demais guerreiros de Ciros.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:14

Aos olhares e júbilos dos mirmidões, Pirros adiantou-se a comandá-los e avançou, e não tardou a fazer com que os troianos e míssios começassem a recuar, pressionados por todas as partes. Os míssios foram-se refugiar em volta de Télefos, que se encontrava em Tróia, hóspede de Príamos. E, muito assustados, afirmavam que Aquiles continuava vivo, ou era algum deus que havia-lhe tomado o aspecto. Cada projétil atirado por Pirros era a Morte a varrer o inimigo. Os troianos, desesperados, julgavam ter pela frente, sem dúvida alguma, o terrível Aquiles, que muitos passaram ter saído do túmulo. O espírito do glorioso herói revivia no filho que, ademais, lutava sob a proteção da deusa Atena e a orientação dos mais experientes; os dardos inimigos passavam rente a ele, mas nem sequer o feriam. Em troca, ele ia abatendo um por um dos inimigos. Pirros abateu, simultaneamente, os filhos gêmeos de Méges, Élasos e Astínous. Pirros atravessou o coração de um com uma lançada e atirou uma enorme pedra à cabeça do outro, despedaçando-lhe o elmo e esmagando-lhe o crânio. Tombaram, assim, numerosos inimigos. Ao cair da Noite, Eurípilos e as suas tropas empreenderam a retirada diante de Pirros e seus mirmidões e cirotas.

Então, quando Pirros descansava, aproximou-se-lhe Fênix, e, admirado, contemplou o jovem tão parecido a Aquiles. Ao mesmo tempo, sentiu-se Fênix triste, por lembrar da morte de Aquiles, se pupilo, e alegre por ver na sua frente aquele jovem vigoroso. Lágrimas jorraram dos olhos do ancião que, abraçando-o, beijou-lhe a testa e disse-lhe:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:15

— Filho, tenho a impressão de estar revendo, vivo entre nós, teu glorioso pai, por quem choro todos os dias. Mas basta de lamentos; o pesar pelo pai não deve enfraquecer-te agora o espírito. Pelo contrário, com a cólera no coração, deves socorrer os gregos e matar o feroz filho de Télefos, que tamanha desgraça nos ocasionou. Tu o superas em força, não deves temê-lo. Há muito torcíamos que não participasse da guerra, mas Eurípilos foi trazido para atormentar; era o que temíamos. Mas é só um homem, apesar de pertencer à raça de Héracles, e tu podes derrotá-lo.

— Nobre ancião, a luta e o Destino é que decidirão quem é o mais valente! Mas dize-me: quem és?

— Sou Fênix, velho amigo de teu avô Peleus e preceptor de teu pai, Aquiles. E digo-te: por unanimidade, de hoje em diante, tu serás chamado pelo nome de Neoptólemos, o jovem guerreiro.

E saíram juntos, trocando gargalhadas. Então, voltaram para o acampamento dos mirmidões, onde um lugar adequado estava preparado para Pirros, ou, agora, Neoptólemos. E foi repousar.

Ao raiar do novo dia, reiniciou-se a batalha. Cruzaram-se as lanças e as espadas, e os homens se atiraram uns contra os outros. O combate esteve, por longo tempo, indeciso. De ambos os lados caíram numerosos heróis. Eurípilos, vendo cair um dos seus amigos, redobrou sua fúria e começou a derrubar aqueus aos montes. Finalmente, viu se destacar um jovem argivo, em seu carro, e resolveu enfrentá-lo:

— Quem és tu, garoto? De onde vieste para lutar comigo? És demasiadamente jovem para lutar, e teu destino vai levar-te para o Reino dos Mortos!

— Por que desejas saber, quem eu sou, como se tu fosses meu amigo, se não passas de um inimigo? É assim que se luta por estes lados? Interessas saber que sou filho do grande Aquiles, que um dia feriu teu pai?

Eurípilos ficou estupefato. Estava diante daquele que todos pensavam ser o próprio Aquiles ressuscitado. Era apenas um garoto. Poderia vencê-lo, mas deixou-o continuar:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:17

— Se pretendes vencer-me, Eurípilos, saibas também que os corcéis do meu carro são imortais, filhos das Hárpias e do vento Zéfiros, capazes de superar a velocidade dos Ventos. Pretendes obtê-los? E se pretendes tirar-me as armas, este dardo é oriundo do topo do Pélion, uma arma divina, que foi de meu pai e imolou muitos guerreiros famosos, e agora tu vais experimentá-la!

E, saltando do carro, brandiu a lança. Por sua vez, Eurípilos, ansioso por matá-lo, ergueu do chão uma pedra e atirou-a contra o escudo do inimigo, o qual, todavia, nem sequer estremeceu. Neoptólemos media forças com Eurípilos; eram descendentes dos Imortais: Neoptólemos descendia de Éacos, filho de Zeus, e da deusa Tétis, e Eurípilos descendia de Héracles e Zeus. Depois de muita luta, finalmente, a lança de Neoptólemos encontrou o caminho da garganta do míssio, que tombou no chão como uma árvore. O pelida, louco de alegria, começou a dançar ao redor do cadáver, para o espanto de gregos e troianos; ele havia inventado a dança pírrica.

O deus Áres, resolvido a ajudar Tróia, lançou-se pessoalmente ao meio da batalha, montado no seu carro de guerra, puxado por corcéis que vomitavam fogo pela boca. Empunhando a lança, instigou os troianos, com fortes gritos, que pasmaram ao ouvir a voz divina, pois não o conseguiam ver. Héleno, filho de Príamos, reconheceu o deus e gritou aos companheiros:

— Não temais! O poderoso deus da guerra está conosco. Não ouvistes o seu grito de guerra?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:18

Os troianos, após se refazerem do susto, reiniciaram a luta. Áres infundiu enorme valor a eles. Finalmente, as fileiras gregas começaram a vacilar. Somente Pirros não parou para descansar, um só momento, abatendo um a um os inimigos. Áres, encolerizado com tamanha temeridade, estava decidido a aparecer aos olhos do filho de Aquiles. Foi aí que Atena abandonou o Olimpo e correu ao campo de batalha. A terra e as águas do Escamandros estremeceram com a chegada da deusa, de cujas armas brotavam raios cintilantes, enquanto as serpentes de seu escudo soltavam fogo pela boca. E avançou contra Áres, mas Zeus, do alto das nuvens, temendo uma desgraça aos dois, intimidou-os com um raio de advertência. Ambos, assustados, compreenderam a vontade do senhor dos deuses. Áres retirou-se para a Trácia e Palas-Atena rumou para Atenas, na Hélade.

Com a ausência do deus da guerra, e sentindo isso, a força dos troianos começou de novo a fraquejar, e eles recuaram depressa para a cidade, seguidos de perto pelos gregos, que tentaram invadi-la e escalar seus muros, pensando arruiná-la naquele mesmo dia. Mas Zeus, conhecendo os desígnios do Destino, envolveu Tróia nas trevas, causando terror aos dânaos que, com o conselho de Nestor, viram-se obrigados a recuar para os navios, pois acreditavam que Tróia cairia pelas próprias mãos de rei dos deuses. Assim, voltando ao acampamento, enterraram seus mortos e, depois, descansaram.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:19

No dia seguinte, puderam ver os dânaos, estupefatos, que a cidade se erguia para o céu azul da manhã, pelo que reconheceram nas trevas da véspera que se tratava da intervenção de Zeus. Aí, os gregos perceberam que Tróia não cairia tão cedo quanto pensavam. Naquele dia, não houve luta, e os troianos aproveitaram a trégua para enterrar solenemente o míssio Eurípilos, na presença do pai, Télefos, que decidiu retirar-se de Tróia e voltar para o seu palácio, na Míssia. Por sua vez, Pirros, chamado então Neoptólemos, foi visitar o túmulo do pai, e beijando a coluna que sobre ele se erguia, chorando e suspirando, exclamou:

— Muito embora estejais morto, venho saudar-te, meu pai. Jamais te esquecerei. Ah, por que não vim para cá antes, a fim de te encontrar vivo? Mas tu só me viste um recém-nascido, e eu jamais vi teu rosto, ou pelo menos não me lembro de tê-lo visto. Seja como for, continuas vivendo dentro de mim, como continuas vivendo na tua lança, que leva terror aos inimigos, e os dânaos me vêem com alegria, dizendo que sou igual a ti, tanto no aspecto como nos feitos. Depois, voltou aos barcos e aproveitou o dia para conhecer os exércitos dos aqueus, ao longo da praia.

Durante todo o dia seguinte, ferveu a luta em torno dos muros de Tróia, mas os gregos não conseguiam escalar os muros, e muitos deles morreram às margens do rio Escamandros. Ali, Deífobos, filho de Príamos, acossava os inimigos. Pirros, ao saber do que se passava, ordenou ao áuriga Automédon que para lá guiasse os corcéis imortais.

Deífobos viu-os aproximarem-se, atônito, e o coração lhe vacilou. Não sabia se deveria fugir ou enfrentar o filho de Aquiles. Pirros, vendo-o indeciso, perguntou a Automédon:

— Quem é?

— É Deífobos, um dos muitos filhos de Príamos que ainda restam. Junto com Páris, Hélenos e Enéias, sustenta o poderio de Tróia no lugar de seu irmão Heitor.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 15:20

E Pirros, pensando em provocá-lo, gritou:

— Tu, filho de Príamos, que estás fazendo tamanha carnificina entre os aqueus! Não é de estranhar que te julgues o mais valente dos heróis. Se assim fores, então luta comigo!

Desafiou-o e atirou-se a ele como um leão. Apolo, temendo que Pirros imolasse um dos poucos heróis de Tróia que ainda restavam, envolto em densa nuvem, jogou areia nos olhos de Pirros, e aproveitou o momento para retirar Deífobos da batalha, incitando-o a recuar para Ílion, seguido de todos os troianos. Pirros, conseguindo recuperar-se, viu que fugiam , e gritou a Deífobos:

— Miserável! Fugiste, e não foi por arte tua, senão pela intervenção de um deus que daqui te arrancou!

E saiu em perseguição dos troianos. Mas Apolo, sempre contrariando aos demais deuses, defendia a cidade dos ataques. Assim, Calcas, o adivinho, que a tudo observava, aconselhou os gregos a se retirarem para os navios, interrompendo a luta que só estava servindo para imolar os gregos.

— É inútil, meus amigos, não devemos insistir em lutar contra essa cidade, enquanto não tivermos executado a segunda parte da profecia que já vos apresentei. Temos que ir a Lemnos procurar Filoctetes e as suas flechas infalíveis, talvez assim, os deuses nos perdoem por termos abandonado lá aquele homem.

E Agamémnon cedeu àquela profecia. Ficou decidido mandar a Lemnos Ulisses e Pirros. Os dois embarcaram, sem perda de tempo, com uma seleta tripulação.
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