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A Guerra de Tróia

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Legolas
Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:29

Divididos os pareceres, Polídamas, um dos homens mais sábios dentre os troianos, tomou a palavra:

— Se Mémnon vem realmente, não tenho nada que opor, meu rei! Receio, contudo, que ele e os seus seguidores encontrem a Morte entre nós e tragam mais dores ainda. Não penso também que tenhamos de abandonar esta terra. Talvez fosse o que de melhor poderíamos fazer, mas já é tarde devolver a causa deste flagelo, a princesa Helena com tudo quanto trouxe de Esparta, antes que o inimigo logre apoderar-se dos nossos bens e destruir esta cidade.

Os troianos, embora concordassem intimamente com tais palavras, não ousaram contradizê-lo abertamente. Levantou-se, então, Páris, e acusou de covardia a Polídamas:

— Polídamas, o defensor dos gregos. O varão capaz de dar esse conselho seria o primeiro em recorrer à fuga no campo da luta. Refleti, troianos! Faríamos bem em dar ouvidos a semelhante homem?

Bem sabia Polídamas que Páris jamais renunciaria a Helena. Preferiria, sem dúvida, sublevar o exército, e morreria se preciso fosse. Por isso, não respondeu, manteve-se calado, e com ele toda a assembléia.

Estavam ainda todos reunidos, quando um guerreiro entrou no palácio, trazendo a nova de que Mémnon se achava perto. Príamos, levantando-se pela surpresa, pois não esperava vê-lo tão cedo, ficou contente, pois acreditava na superioridade daquele povo guerreiro. E todos passaram a ficar alertas nas torres, olhando uns para o oeste, em direção do Helesponto, a fim de não serem surpreendidos pelos dânaos, e outros para o sul ou para o leste, esperando ver ao longe o exército que os ajudaria. E um grito veio de uma das torres mais altas: os etíopes estavam chegando. E não levaram muito tempo para baterem às portas de Tróia.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:30

Assim, mal chegou Mémnon, ilustre filho de Títonos e da deusa Éos, Príamos prestou todas as honras ao seu mais recente visitante, também aos seus acompanhantes, dando-lhes presentes e oferecendo-lhes grandes festejos. A conversação reanimou-se, e recordaram-se os heróis troianos tombados. Mémnon falou dos seus divinos pais, Títonos, um simples mortal em Tróia, da casa do rei Laómedon, que havia sido raptado pela deusa Éos. Tendo Mémnon nascido dos amores de Éos e Títonos, fora levado ao extremo-ocidente, além do país dos atlantes, onde fora criado pelas Ninfas Hespérides. Contou sobre seu trajeto e aventuras, até tornar-se rei dos etíopes, e sobre a bela cidade de Ábidos, onde havia famoso templo dedicado a Osíris e no qual Mémnon costumava ordinariamente passar longas temporadas. Falou, outrossim, dos heroicos feitos realizados durante o percurso, da Etiópia (o Egito estava em poder dos etíopes) até Tróade, pois muitas terras separavam os dois reinos: pelo sul, encontravam-se a Míssia, a Meônia, a Cária, a Lícia, separava-os o grande mar, e as terras do Egito e da Núbia; e pelo oriente, encontravam-se a Frígia, a Capadócia, as terras dos hititas e dos mitanos, a Fenícia, as terras dos hebreus e dos heveus (a Palestina), a Arábia, e novamente o Egito e a Núbia. E não deixou de pedir notícias acerca de seu irmão Emátion, que reinava na região a que denominou Emátia, na Macedônia.

O velho soberano de Tróia ficou a ouvi-lo com prazer; depois, apertando-lhe a mão, com muito afeto, disse-lhe:

— Mémnon, como agradeço aos deuses terem-me concedido, apesar da minha velhice, o prazer de ver-te com o teu exército e hospedar-te neste palácio! Tu és honrado até pelos deuses do Céu; por isso, espero que lograrás terrível carnificina entre os nossos inimigos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:31

Com tais palavras, levantando uma taça de ouro maciço, brindou em honra do novo aliado. Mémnon, pasmado, admirou a maravilhosa taça, obra do deus Hefaístos, e joia hereditária da família real troiana, para depois dizer:

— Não convém que me gabe à mesa e faça promessas. Por isso, não te respondo, rei, e limito-me a gozar da tranqüilidade do banquete, enquanto no espírito realize os preparativos para a guerra. Na batalha é que se vê se o homem é um herói. Agora, vamos descansar, pois o excesso de vinho e a noite perdida prejudica quem aguarda a luta.

Levantou-se o rei etíope, e junto seus comandantes. Príamos guardou-se de importuná-lo, pedindo-lhe que se demorasse. Os demais convidados afastaram-se também, rumo aos seus aposentos, e todos se entregaram a Hipnos e Morfeus.

Enquanto dormiam os mortais, no Olimpo os deuses, ainda participando do banquete, discutiam sobre os rumos da guerra. Zeus, para quem o futuro era transparente, por fim, falou:

— É inútil que vos esforceis uns pelos gregos, outros pelos troianos. Vereis ainda tombar de ambos os lados inúmeros homens e animais. Por mais que alguns dentre vós vos interesseis por este ou aquele, não ouse ninguém suplicar-me por um filho ou amigo, pois as Moiras são inexoráveis tanto para mim como para vós.

Não podendo contradizer o senhor do Olimpo, todos abandonaram a mesa, calados, e cada um regressou, triste, ao seu aposento, até que Hipnos, seguido de Morfeus, os acalentasse.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:32

Na manhã seguinte, Éos subiu ao céu, mesmo contra a vontade, pois ela também ouvira as palavras de Zeus, e o coração lhe profetizava o destino do querido Mémnon, seu filho. Mémnon acordara de madrugada, quando ainda luziam as estrelas. Afastando o Sono, pela derradeira vez na Terra, saltou do leito ansioso por iniciar contra os gregos a batalha decisiva em favor dos amigos, e vestiu sua armadura, outrora fabricada por Hefaístos. Também se armaram os troianos e, com eles, os incontáveis hóspedes, vindos da longínqua Etiópia, guerreiros de pele escura e estranhamente vestidos.

Sem perda de tempo, saíram pelas portas de acesso à planície. Todo o espaço estava coberto de densa multidão ondulante, e nuvens de pó se erguiam sob o passo dos exércitos.

Então, Tétis, a deusa filha de Nereus, procurou pelo filho para lhe dar a recente notícia:

— Meu filho Aquiles. Não lutes contra este terrível inimigo, pois se o fizeres, haverás de vencê-lo...

— E daí, minha mãe? Que mal haverá em vencê-lo?

— Deixa-me terminar, querido... Está determinado pelos deuses que após a morte de Mémnon tu serás o próximo entre os comandantes a baixas à sombria morada de Hades. É cedo demais para que isto aconteça. Desvia teu rumo e evita combater com aquele homem. Dá tempo para alcançares mais glória...

Aquiles, então, decidiu combater em outra frente, a fim de evitar um confronto que, mesmo lhe sendo favorável, seria o primeiro passo para a sua ruína.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:33

Vendo os inimigos que avançavam, de longe, correram os gregos às armas, admirados, e saíram-lhes ao encontro, com Aquiles na vanguarda, a suprema esperança, que avançava de pé sobre o seu carro, forte como um titã e semelhante ao raio na mão de Zeus. No centro do exército troiano sobressaía, igualmente majestoso, Mémnon, rodeado pelas suas tropas, disciplinadas e belicosas. Mais admirados ficaram os gregos, ao aproximarem-se dos inimigos, pois viram como eram aqueles homens, diferentes dos troianos, que já tinham pele mais escura que eles, os gregos. Era um povo totalmente diferente daqueles que habitualmente viam em seus confrontos pela Ásia, nesses dez anos de guerra. Mais escuros que os troianos, os lídios, os hititas e, até mesmo, os fenícios. Eram os etíopes.

E feriu-se a luta. Os dois exércitos atiraram-se um contra o outro. Não tardaram os gemidos dos que tombavam e o retinir das armas. Não tardaram os troianos em ceder, um após o outro, aos a ataques de Aquiles, que avançava como uma tempestade. No lado oposto, também Mémnon ia dizimando os argivos.

Porém, se Aquiles tinha uma mãe previdente para velar por seus atos, o gigante etíope não lhe ficava atrás, pois sua mãe Éos logo acorreu, também, ao campo de batalha, para lhe dar uma boa notícia.

— Nada temas, meu querido Mémnon. Segue ceifando vidas à vontade, eis que o cruel Aquiles, se te tirares a vida, estará matando a si próprio! Por saber disso, ele te evitará, e tu poderás retornar para teu país são e salvo.

Mémnon, então,com um sorriso que iluminou suas faces negras como o ébano, empunhou com mais vigor e gosto a sua lança banhada do sangue grego e, com os seus etíopes, tornou a lançar-se ao acesso da batalha, sem temer que a mão poderosa do invencível Aquiles se abatesse sobre ele.

Antílocos estava à frente das muralhas da sagrada Tróia, junto com seu pai Nestor, quando Mémnon retornou ao aceso da luta. E Antílocos, ao perceber que seu pai se expunha demais à lança inimiga, vendo que Nestor lutava enfurecido, alertou-o:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:34

— Cuidado, meu pai! Protege-te!

— Não temas, filho, porque ainda me restam forças em meus velhos braços para afrontar este cão negro!

Dois nobres companheiros de Nestor tombaram às mãos de Mémnon. E por pouco o próprio Nestor cairia ferido pela lança do etíope, pois um dos seus cavalos, atingido por uma flecha de Páris, mantinha parado o carro, enquanto Mémnon corria, brandindo a arma. Amedrontado, Antílocos chamou o velho pai, para não perdê-lo. O jovem acudiu imediatamente e, pondo-se na frente do pai, atirou o dardo contra o etíope, que se esquivou e salvou-se; mas o dardo foi ferir o amigo Étops, filho de Pírrasos.

Mémnon, arreganhando os dentes, investiu, então, contra o velho, ao mesmo tempo que disse:

— Grande glória caberá a mim por matar Nestor, o homem que reina sobre a terceira geração de súditos!

Antílocos, vendo que a funesta mão da Morte se aprestava a dar cabo da vida de seu pai, lançou-se entre ele e o seu inimigo. Este, enfurecido, disse-lhe:

— Melhor assim! Terei a glória de matar a ambos!

E atirou-se contra Antílocos, que atirou uma flecha contra o oponente, mas ela ricocheteou no elmo resistente, e Mémnon, com sua lança, empurrou-a com toda a força no peito de Antílocos, após atravessar o escudo de três couros de boi superpostos e mais uma camada de duro bronze. Lhe atravessou o coração. Antílocos, muito versátil em todos esses anos de guerra, pagou com a vida a salvação do pai.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:34

Vendo-o cair, os aqueus sentiram enorme dor, especialmente Nestor, seu pai. Mas o velho guerreiro, mantendo a presença de espírito, chamou outro filho, Trasímedes, e ordenou-lhe que protegesse o corpo de seu irmão. Trasímedes, vendo-o caído, sem vida, chamou Féres para ajudá-lo, a fim de enfrentarem ambos o enfurecido filho de Éos. Mémnon permitiu que se aproximassem e lhe atirassem os dardos, que não o atingiam, pois sua mãe o protegia, embora atingissem sempre outros alvos etíopes. Mémnon começara a despir o corpo de Antílocos; os gregos não conseguiam achegar-se para protegê-lo, e Nestor, dando gritos de dor, e suplicando ajuda aos gregos, saltou ele mesmo do carro e correu em defesa do cadáver do filho com as poucas forças de que dispunha. Mémnon, no entanto, afastou-se espontaneamente, ao vê-lo aproximar-se, respeitoso em sua presença.

— Ancião, não me fica bem lutar contra ti. De longe, pensei que fosses um jovem guerreiro; foi por isso que te desafiei. Depois te reconheci e sei que és Nestor. És um velho, e muito velho. Evita a luta, não me obrigues a imolar-te contra a minha vontade; não pretendas mergulhar no pó junto com esse jovem que abati, que muito estimas. Sem dúvida, haveriam de chamar-te louco, se insistisses em combate tão desigual.

— As tuas palavras são inúteis, estranho, sejas lá quem fores! Ninguém diz que é louco o pai que, enfurecido com a morte do filho, corre à luta desejoso de pôr em fuga o cruel algoz! Ah, se tu me tivesses visto, quando eu era moço! É claro que agora me assemelho a um velho leão que qualquer cachorro consegue manter afastado do rebanho. No entanto, não é assim, e ainda sou superior a inúmeros guerreiros. Poucos são os que me vencem!

Assim falou Nestor, e teve que recuar, deixando o filho estendido no pó. Ao mesmo tempo, afastaram-se Trasímedes e Féres.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:35

Nestor recorreu a Aquiles:

— Aquiles! Aquiles! Olha, meu filho está morto! Um homem a quem os troianos se apoiam matou-o e já lhe tirou as armas, e, daqui a pouco, Antílocos servirá de alimento aos cães. Vai proteger seu corpo, tu que sempre foste seu amigo...!

Apoderou-se de Aquiles um profundo pesar, vendo o extermínio dos dânaos por aquele povo bárbaro. Aquiles lutava contra os troianos, e já havia abatido muitos. Mas o seu destino breve o impedia de tomar uma decisão mais digna da sua coragem.

— Mãe Tétis! Outra vez as Moiras decidem me submeter à mesma dor! Depois de ter de suportar a perda de Pátroclos, terei agora de suportar, também, a de meu audaz amigo Antílocos?

Tétis não teve coragem de impedi-lo de lutar. Sabia que a sua hora chegava. Foi quando uma voz soou ao ouvido de Aquiles: era Atena, que vinha-lhe falar:

— É Mémnon, o rei dos etíopes, parente de Príamos. Vai e tira-lhe a vida, pois trata-se de um baluarte do exército troiano!

Aquiles, então, com ira implacável, resolveu enfrentar pessoalmente Mémnon. Chamou Automédon e subiu em sua biga, e ambos partiram à toda velocidade para o outro lado, aonde a batalha estava mais acesa.

— Vê, Automédon, por entre os reluzentes elmos, se destaca um elmo ainda mais alto e brilhante que os outros!

— Sim, Aquiles, é ele: Mémnon, o carniceiro etíope!

Aquiles desmontou e, empunhando suas armas, seguiu a pé contra o seu inimigo, ceifando etíopes pelo caminho. Ao vê-lo chegar a pé, Mémnon, agarrando uma pedra enorme, atirou-a contra o mirmidão, acertando-lhe o escudo.

— Ah! Eis que o filho de Tétis, criado entre virgens e delicadas moças, deixa finalmente a covardia e vem me enfrentar!

Aquiles, empunhando a lança, bradou também:

— Funesto momento é este que se prepara para ti, cão etíope, onde o teu sangue negro haverá de se misturar à tua pele!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:36

Aquiles atirou sua lança, que foi ferir o africano no ombro direito. Mémnon, não dando importância ao ferimento, avançou correndo e cravou a poderosa lança no braço do herói grego.

— Agora é a minha vez, mirmidão!

A princípio, Aquiles pensou ser aquele o homem que o mataria, mas lembrou-se que seu destino estava às mãos de um deus, não de um mortal. O etíope, arrebatado de alegria, gritou:

— Miserável! Sei quem tu és! Soubeste imolar os troianos sem piedade, mas agora tens pela frente um filho direto dos deuses, muito superior a ti, visto que Éos, minha mãe, deusa primordial, da raça dos Titãs, é maior que a tua, que vive entre os monstros asquerosos do Oceano, e meu pai obteve dos deuses a imortalidade.

Aquiles, sorrindo ironicamente, retrucou:

— A vitória dirá quem de nós descende de pais mais ilustres, Mémnon! Vingarei em ti a morte de Antílocos, muito jovem ainda, assim como há pouco vinguei em Heitor a morte de meu melhor amigo.

O pelida empunhou com as duas mãos a sua enorme lança. Mémnon imitou-o. E atiraram-se um contra o outro. Naquele momento, Zeus se incumbiu de engrandecê-los, tornando-os fortes e incansáveis do que costumavam ser. Assim, não havia golpe de um que lograsse abater o outro. Aquiles, finalmente, encontrara um homem páreo para lutar de igual para igual; era a luta de dois Gigantes. Isso acontecera uma vez, quando há muito tempo fora desafiado pelo frígio Cicno, filho de Poseidon, mas o abatera, depois de muito sofrimento.

Então, sacou da espada e desferiu um golpe terrível sobre o ombro do gigante negro, que deu um grande grito de dor.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:37

Finalmente, investiram-se à curta distância, que chegaram a se tocar, dando socos e pontapés um no outro, na coxa, na linha do fígado, no rosto. O pó redemoinhava sob os pés dos combatentes, e enquanto os chefes lutavam, os soldados também se empenhavam com fúria. Os deuses permaneciam no Olimpo, uns torcendo para os gregos, outros para seus inimigos. E Zeus, vendo que rivalizavam os deuses, mandou que duas Moiras se unissem, uma a Mémnon e outra a Aquiles. Como rochedos, os dois chefes combatiam, com lanças, espadas e pedras.

Notando a presença de Móros sobre os dois valentes guerreiros, Tétis e Éos, as mães sofredoras, voaram, aos prantos, até os pés de Zeus para implorar pela vida de seus filhos. E Tétis foi a primeira a suplicar:

— Pai supremo, que nutre os nervos e os ossos dos combatentes! Poupa a vida de meu Aquiles, eis que é o maior dos guerreiros que combatem diante destas malsinadas muralhas!

— Se é por isto, então que vença meu amado Mémnon, eis que ousa enfrentar o maior e mais valente dos guerreiros!

Zeus, então, tomando a balança, fez pesar as kéres de ambos os combatentes, e o peso de Mémnon baixou mais que o de Aquiles; o grande Móros decidiu encurtar a luta.

— As poderosas Moiras decidem que o fio da vida do sobrinho de Príamos deve ser rompido.

Então, o pelida vibrou um golpe com sua poderosa espada, lançando para os céus o gigantesco escudo de Mémnon. Em seguida, tendo à sua mercê o inimigo, largou fora a espada e tomou da sua lança de freixo, herança de Peleus, seu pai. E Mémnon, muito atrevido, expôs sua couraça aos temíveis golpes de Aquiles.

— Escolhe um lugar, mosquito arrogante, e ainda assim vibrará teu golpe em vão, pois que minha armadura é invulnerável como a tua, produto que é da arte consumada dos deuses!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:38

Aquiles, mais do que depressa, divisou uma fenda na parte inferior do queixo, desprotegida pelo elmo de negro penacho, e cravou ali a lança com tanta força, de baixo para cima, que ela entrou pela boca adentro, cortou-lhe a língua e saiu do outro lado do crânio, abrindo uma brecha em seu elmo. Pedaços de miolos do gigante espirraram para o alto e ele o maldito etíope permaneceu ali, em pé, apoiado à lança. E um grito ecoou, vindo do Céu: era o desespero de Éos por seu querido filho.

E Aquiles, apoiando a mão esquerda no seu peito, puxou a lança de volta e gritou:

— Agora cai, gigante, como cai o cedro!

Mémnon, com os olhos virados ao contrário, desabou, cuja armadura retiniu intensamente sobre o chão cobrindo-se de pó misturado com seu próprio sangue.

Os troianos, sentindo a derrota cercando-lhes, pela morte de Mémnon, deitaram a fugir, perseguidos por Aquiles, como um furacão: o cadáver ficara aos cuidados dos mirmidões, para que o despissem. Éos, suspirando, ocultou-se atrás de uma nuvem e, num instante, cobriu a Terra de trevas. Ao seu chamado, seus filhos, os Ventos, caíram sobre a planície e apoderaram-se do corpo de Mémnon, arrebatando-o aos ares, fora do alcance dos gregos. De Mémnon só restaram as gotas de sangue que continuavam a cair do corpo de Mémnon, enquanto era transportado pelos Ventos. As gotas, conforme iam caindo, formavam poças que, por sua vez, transbordaram, formando um rio sangrento e inesgotável que, posteriormente, correria ao pé do monte Ida, todos os anos, no dia da morte do herói etíope, e exalaria um mau cheiro insuportável.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:38

Mas os etíopes, não desejando separar-se do amo, correram atrás dos Ventos e de Mémnon, procurando alcançá-lo, até desaparecerem da vista dos troianos e dos argivos, que ali ficaram a contemplar aquela cena estupefatos. Os Ventos conduziram Mémnon morto à foz do rio Ésepos, na Propôntida,cujas filhas lhe ergueram um túmulo num bosque, ajudadas por sua mãe Éos, que descera do céu, e por inúmeras tristes Ninfas. Os troianos, por sua vez, de volta à cidade, lamentaram-se por tão grande perda — motivo que levaria Príamos a enviar o mais breve possível emissários a Aquiles para tentar uma aliança. Quanto aos argivos, não lhes foi o deleite completo, pois, se celebraram a glória de Aquiles, vitorioso, também choraram com Nestor a morte de Antílocos, dividindo o acampamento entre a dor e o júbilo.

Enquanto isso, os etíopes, transtornados por perderem de vista o seu rei, jogaram-se no chão, fatigados e tristes, e começaram a rezar pelos seus deuses estranhos, para que os ajudassem e os poupassem do sofrimento. Foi então, que Zeus-Ámon, soberano olímpico dos povos africanos, desde a Líbia até a Etiópia, apiedado, transformou-os em aves, as memnônides. Foi então que, a partir daí, todos os anos, essas mesmas aves passaram a voar, desde os seus longínquos páramos, em direção do túmulo de Mémnon, no Helesponto, onde, divididas em dois grupos rivais, lutavam um contra o outro, até que metade perecesse. Mémnon foi admitido ao seio dos Imortais, por súplica de Éos. Foi juntar-se ao seu pai, Títonos, que havia obtido de Zeus a imortalidade, a pedido da divina esposa. Porém, tendo-se Éos esquecido de pedir ao mesmo tempo a mocidade eterna, Títonos de tal maneira envelhecia, com o passar do tempo, a sua decrepitude, seria tão horrível, tornando-o tão infeliz, que Éos o transformaria em cigarra.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:39

Quando, posteriormente, se soube que nas proximidades de Tebas, no Egito, existira uma gigantesca estátua, chamada de Colosso de Mémnon, construída por Amenotep III, a qual, antes do nascer do Sol, deixava ouvir sons maravilhosos, surgiu a lenda de que se tratava de Mémnon, o qual saudava com os seus cantos a chegada de sua mãe, a Aurora, e que, por conseguinte, continuava vivo. Éos, em resposta, chorava o filho querido, e suas lágrimas caíram, na terra, daí então, como gotas de orvalho.

A MORTE DE AQUILES

No dia seguinte, os compatriotas de Antílocos, os pílios, levaram aos barcos, por entre lamentos, o cadáver daquele valente príncipe, filho de Nestor, o soberano, e sepultaram-no nas margens do Helesponto. O velho Nestor não dava vazão à sua dor. Antílocos havia deixado um filho, não em Pilos, mas na Ática, e seu nome era Péon, o tronco dos péones de Atenas.

Aquiles, após abater Mémnon, sobrinho de Príamos, sentia que sua hora estava chegando e, portanto, preferiu ver concretizada a promessa do rei de Tróia sobre o seu casamento com uma de suas filhas, Políxena, antes que a Morte lhe estendesse os negros braços. Sabia que Príamos cumpriria a sua promessa pela devolução do corpo de Heitor. No entanto, somente seus guerreiros mais fiéis tinham conhecimento desse fato. Por isso, para desviar a atenção dos Átridas, ainda com a mágoa e a indignação no coração, disse-lhes:

— Agamémnon, meu coração não pode mais suportar tanta arrogância por parte dos troianos, que já há quase dez anos nos mantêm humilhados do lado de fora destas malditas muralhas! Sim, meu coração anseia por derrubar de uma vez estas portas que nos impedem o acesso à cidadela! Ele anseia também pela volta à nossa Pátria, com os côncavos navios repletos das riquezas que Ílion inteira esconda em suas casas, templos e palácios!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:40

E, referindo-se a si mesmo, pelas palavras de sua mãe, que constantemente vinham em sua mente, continuou:

— O que tiver de ser repousa sobre os joelhos dos deuses, no Olimpo. Jamais um guerreiro deixou de cumprir os mandamentos de seu coração por receio de meros presságios ou vaticínios. Aos adivinhos, os presságios; aos guerreiros, a glória. Além do mais, uma nova morte pesa sobre meu coração, a de Antílocos, filho do sábio Nestor e leal companheiro que a crueldade troiana fez baixar recentemente à morada das sombras.

E tomando de sua lança, Aquiles bradou aos chefes argivos:

— Vou comandar os meus mirmidões, a esta hora, e recomeçaremos a batalha. Assim que estiverdes prontos, segui também, e finalmente tomaremos este país. Comandarei meus mirmidões contra os portões que dão acesso ao Templo de Apolo. E vós podereis tomar os demais portões.

Então, apesar de toda a dor que sentia pela morte dos amigos, Aquiles, com seus mirmidões, fingindo partir para a guerra, armados até os dentes, bem cedo da manhã, dirigiram-se ao Templo de Apolo-Timbriano, fora dos muros de Tróia, no mesmo instante que as demais tropas acaias se preparavam para a luta aos pés de Tróia. O rei Príamos, na calada da noite, havia enviado emissários a Aquiles, confirmando as núpcias com sua filha Políxena, já que não via outro caminho senão tentar uma aliança com o melhor dos guerreiros gregos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:41

Tudo corria bem, durante a cerimônia, que contava com a presença de vários príncipes e autoridades troianas. Entretanto, haviam ainda aqueles que não aceitavam tal aliança e não admitiam que Políxena se unisse àquele que havia causado tantos estragos nas hostes de Tróia. Aquiles demonstrava-se ainda muito agitado pela morte de Pátroclos, e facilmente poderia ele ser provocado. Mas este não era o desejo de Príamos, que pretendia ter Aquiles e os mirmidões como seus aliados, ou, através do pelida, concluir um tratado de paz entre gregos e troianos. Por várias vezes, teve o sacerdote que interromper a cerimônia por causa da imprudência dos rebeldes, contrários àquele ato de união. Até que, por intervenção de Apolo, generalizou-se um conflito entre mirmidões e teucros, apesar das tentativas frustradas do velho Príamos e de alguns anciãos mais prudentes, que pretendiam o fim da guerra. Foi inevitável. A última tentativa de um tratado de paz havia chegado ao fim. Incitados por Apolo e Páris, os troianos provocaram o noivo, Aquiles, que não suportou as críticas pela morte de Heitor, e revidou. Houve tumulto geral, e, enquanto os guerreiros troianos lutavam, os demais convivas e a noiva trataram de fugir.

Aquiles não poupou aqueles que caíam em suas mãos, enchendo novamente o Escamandros de cadáveres, e a outros perseguiu até a entrada da cidade.

— Avante, mirmidões! Grandes recompensas vos aguardam atrás destes muros!

Ali, certo de sua sobre-humana força, dispôs-se a tirar as portas dos gonzos, e, correndo os ferrolhos, abrir aos mirmidões as portas de Tróia, pensando em recuperar a noiva Políxena, mais um motivo que levaria Aquiles a conquistar a cidade, naquele mesmo dia. Enquanto isso, já refugiado, no alto das muralhas, Príamos acompanhava apavorado o massacre dos seus homens. Ao seu lado estava seu filho Páris.

— Páris, meu filho, parece que desta vez aquele terrível homem transporá as sólidas portas de nossa sagrada cidade!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:42

Páris, sem responder, cogitava sobre as terríveis conseqüências que estavam prestes a se abater sobre si e toda a cidade. As recriminações de seus irmãos e os olhares de ódio de seus compatriotas ainda estavam bem presentes em sua mente. Agora que tudo parecia perdido, podia perceber, mais do que nunca, aqueles mesmos olhares acusativos caírem sobre si como dardos envenenados.

Mas era real. Aquiles estava agora diante das portas Escéias. Apenas alguns bravos combatentes troianos ainda restavam diante da sua fúria incontrolável.

Apolo, que, contemplava o monte de guerreiros caídos, sentiu-se dominado por inexorável cólera. Então, como animal furioso, apanhou sua aljava repleta de flechas e rumou ao encontro de Aquiles, e Zeus não o impediu. Os olhos do deus Apolo desprendiam chamas, e, sob os seus passos, tremia a terra. Pondo-se atrás do mirmidão, fez ouvir a voz estrondosa:

— Deixa os dárdanos, furioso Aquiles! Não continues a experimentá-los! Evita ser aniquilado por um dos Imortais!

Aquiles reconheceu a voz do filho de Zeus. Não obstante, decidido, não se intimidou e, desdenhando o aviso, retrucou:

— Queres instigar-me a lutar contra os deuses, e pretendes continuar a favorecer os troianos que fogem, Febo? Um dia me encolerizaste, quando, pela primeira vez, me arrebataste Heitor. Ouve o meu conselho, agora, e volta para o meio dos outros deuses, para que não te machuques, por imortal que sejas!

Assim falando, afastou-se de Apolo, e Aquiles atirou-se de novo contra o inimigo, jogando pedras contra as portas Escéias, pretendendo conquistar Tróia sozinho.

Então, Apolo voou para as muralhas a fim de passar instruções aos ouvidos de Páris.

— Páris, filho de Príamos, não te acovardes. Desce ao campo de batalha e prepara-te para o acerto de contas. Já está na hora da guerra tomar novos rumos. E tu encontrarás glória e todos haverão de te respeitar.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:43

O deus, então, percebendo que o filho de Tétis conquistaria a glória se não fosse tomada uma medida cabível, desceu e pegou-o pelo ombro, ameaçando-o de novo:

— Temerário Aquiles, recua teus passos, eis que já foi determinado que jamais colocarás os pés dentro destes muros!

E Tétis, oculta sob a forma de um de seus guerreiros, tentou fazê-lo retroceder:

— Valoroso Aquiles, vamos recuar um pouco, pelo menos até as hostes argivas chegarem!

— Cala-te, covarde! Retrocede sozinho, se assim te apraz!

E empurrou o guerreiro rudemente, sem saber que afastava a própria mãe de olhos chorosos.

— Hei de arrancar estas portas com meus próprios braços, e não serão vãs ameaças, de homens ou deuses, que me impedirão de levar adiante um ato de justa vingança!

E a voz, vinda de algum lugar, tornou a alertá-lo:

— Aquiles, a ira te faz blasfemar e invocar os deuses ao mesmo tempo! Lembra-te que és mortal como todos os outros que usam lanças e escudos ao teu lado. Até Sarpédon, filho do deus supremo, também foi alcançado pela Morte. Se tu teimares na impiedade, terás, ainda com mais razão, o mesmo destino.

Mas Aquiles não lhe deu atenção, permaneceu surdo. De espada em punho avançava resolutamente, enquanto sua mãe, Tétis, afastava-se, vencida pelos Fados inexoráveis.

— Avante, mirmidões! Arremetei às portas com o tronco de carvalho! Vamos derrubá-las! Agora!

E seus homens, empurrando um enorme tronco de carvalho, com a ponta afiada, faziam tremer os portões, que ameaçavam desabar. E Apolo, envolvendo-se em densa nuvem, disparou uma seta contra o calcanhar do herói. Uma agudíssima dor percorreu todo o corpo de Aquiles até o coração. Suas pernas fraquejaram, e a direita mal podia suportar o peso do corpo. Relanceando o olhar em volta, gritou com voz cortante:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:44

— Quem me atingiu covardemente? Ah, por que não me enfrentou em luta aberta? Eu lhe houvera arrancado do corpo as entranhas e derramado o sangue até que a maldita alma voasse até Hades! Mas todos sabem que os covardes sempre atacam pelas costas! E digo isto, mesmo que seja um deus quem me persegue!

Aquiles esperou por uma resposta. Mas o deus não se identificou. Seus homens o olharam e nada compreenderam, porque o viam intacto. Mas Aquiles continuava:

— Foste tu, Apolo? Um dia, minha mãe, Tétis, me predisse que eu sucumbiria pela tua flecha, sob as portas Escéias. Então era verdade... mas não esperava que fosse covardemente!

Assim gritando, arrancou a flecha, que só ele via, e arrojou-a para longe, deixando escorrer seu nobre sangue. Apolo pegou-a e, envolto ainda numa nuvem, voltou ao Olimpo, apreensivo, e foi-se sentar à mesa dos deuses. Héra, vendo-o, repreendeu-o severamente:

— Fizeste péssimo trabalho, Apolo! Assististe às núpcias de Peleus, comendo à sua mesa e cantando como os outros deuses. Brindando pela saúde do rei, desejaste-lhe descendência, e, agora, favoreceste os troianos e, para cúmulo dos males, feriste gravemente o filho. Fizeste-o por inveja. Louco como és, como poderás, daqui por diante, apresentar-te aos olhos de Tétis?

Apolo, calado, foi sentar-se apartado dos demais, conservando os olhos baixos. Alguns o desprezavam, outros lhe agradeciam o ato, no fundo do coração.

Entretanto, o sangue fervia nos membros do grande Aquiles, e ainda nenhum troiano ousava aproximar-se para atacá-lo, visto que nada sabiam do que fizera o deus Apolo. Pondo-se de pé, com um salto, num pé só, mancando, atirou-se contra os inimigos, cravando a lança na cabeça de Oritáon, amigo de Heitor, varando-lhe o cérebro. Feriu num dos olhos Hipónous, atravessou o rosto de Alcátous e tirou a vida de muitos outros que fugiam.

— Hei de cair somente depois que meus homens transpuserem os portões desta maldita cidade!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:45

De repente, sentiu gelarem-se os membros, e ele se viu obrigado a parar e apoiar-se à lança, enquanto fugiam os troianos e surgiam as demais hostes argivas aos pés de Tróia.

— Podeis correr, covardes! Nem depois da minha morte fugireis à minha ira, pois sereis perseguidos pela minha sombra!

Aquiles avançava, cambaleante, quando a sombra da Morte estendia seus longos braços sobre ele.

— O destino de Tróia está,desde sempre, decretado! E tão certo quanto agora cumpro meu negro fado, chegará muito em breve a vossa vez! Não podereis escapar, então sentirei espumar em minha boca, mesmo nas moradas sombrias, o gosto delicioso da vingança!

Os troianos fugiam, sem ao menos saber que Aquiles fora ferido por Apolo. Mas ele sentiu que os membros se lhe enrijeciam, e não tardou em tombar semi-morto, diante dos olhos de Páris, que por ali já se encontrava, tendo saído por uma passagem secundária, e, percebendo que algo errado lhe acontecia, aproveitou e foi cravar a espada em suas costas; porém Aquiles, antes, já havia encontrado a Morte, e os troianos, acreditando que fora Páris o homicida, reanimaram-se em júbilo, e o filho de Príamos instigou-os a se apoderarem do cadáver, que imediatamente foi rodeado por uma multidão de combatentes os quais, pouco antes, lhe haviam esquivado a lança ou sofrido os golpes. Os que fugiram acabaram por retornar à batalha, e Príamos, aliviado, viu exterminado, de uma vez por todas, o flagelo grego, matador de troianos e de seu querido filho Heitor.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:46

Só então os demais aqueus, que haviam chegado em auxílio dos mirmidões, se deram por conta. Ájax, mal acreditando no que estava vendo, pôs-se a proteger o corpo e, de lança erguida, afugentava todos os que se aproximavam, abatendo os que se atreviam a fazer-lhe frente. Finalmente, desistindo de permanecer apenas na defensiva, arremeteu contra os troianos e matou-os aos montes. Caiu o chefe lício Glaucos, que havia conseguido laçar os pés de Aquiles e puxá-lo para o lado troiano, e foi varado pela arma do terrível Ájax, aliás, a maior perda para os lícios desde a morte de Sarpédon, o que levaria os lícios à orfandade, perdidos sem um grande líder, precisando ser comandados por algum chefe troiano. Nesse momento, levantou-se o pó da terra, e ninguém pôde notar que os Ventos transportavam o corpo de Glaucos, que, carregado pelas nuvens, foi levado para a Lícia, por ordem de Apolo. A este, Glaucos remontou a dinastia dos reis daquele país.

Aos golpes de Ájax, caiu ferido o nobre herói Enéias, que foi retirado do campo de batalha. Ao lado de Ájax lutavam Ulisses e os dânaos, mas os troianos aumentavam a sua resistência, e Ulisses sofreu profundo ferimento no joelho esquerdo, atingido pelo troiano Álcon, e também foi salvo pelos seus. Páris também ousou atacar Ájax, embora este, escolhendo o momento oportuno, atirou-lhe enorme pedra que lhe esmagou o elmo e o fez tombar ao chão, e suas flechas espalharam-se. Os amigos mal tiveram tempo de afastar o príncipe ferido, que respirava com dificuldade, e colocá-lo no carro puxado pelos corcéis de Heitor, conduzindo-o a Tróia. Enfim, Ájax obrigou todos os troianos a fugirem para a cidade e logo voltou ao Helesponto correndo, com as armas do pelida, seguindo os seus que conduziam o corpo de Aquiles.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:47

Chegando lá, os aqueus depositaram o corpo de Aquiles em um leito e o rodearam, mergulhados na mais negra dor. Os mais sentidos lamentos saíam do peito de Ájax, o qual, no herói morto, chorava o amado filho de um tio seu, pois Télamon e Peleus eram irmãos. Também Fênix se desfazia em queixas, abraçado ao corpo do pelida. Lembrava-se do dia em que Peleus lhe confiara a educação do filho. Lembrava-se também do dia em que ambos se puseram a caminho de Tróia. E agora o pai e o preceptor sobreviviam ao herói. Choravam os valorosos Átridas, e todos os gregos.

Nestor, finalmente, pensando ao mesmo tempo em seu filho, pôs termo aos lamentos, relembrando a conveniência de lavar o corpo do herói, de colocá-lo sobre um leito preparado e de tributar-lhe as derradeiras honras.

Assim foi feito. Lavaram o corpo do pelida com água quente. Em seguida, os amigos vestiram-no com formosa veste que lhe fora dada por sua mãe, Tétis, ao partir ele para a guerra. Quando, finalmente, e estenderam no pavilhão, a deusa Atena, filha de Zeus e Métis, volveu um olhar de compaixão para o seu favorito, verteu-lhe sobre a cabeça algumas gotas de ambrosia, bálsamo dos deuses, que preservava os mortos de qualquer decomposição. Assim, refrescou o corpo, tanto que parecia estar vivo ainda. Colocou-lhe na testa a terrível expressão que lhe animara o rosto por ocasião da morte de seu amigo Pátroclos, e conferiu ao corpo aspecto de enorme beleza e vivacidade. Os argivos, que iam vê-lo, sentiam-se dominados por admiração diante da formosura e da majestosidade do herói no seu leito fúnebre, desaparecendo aquele terrível aspecto furioso que antes tivera. Aquiles, com aspecto mudado, sereno, parecia apenas adormecido num sono tranquilo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:47

Os lamentos dos gregos pelo maior dos seus heróis chegaram ao fundo do mar, e foram ouvidos por Tétis e pelas demais Nereidas, que lá viviam. Uma dor infinita se apoderou delas, que prorromperam em lágrimas e gemidos tão fortes que ressoaram pelo Helesponto inteiro. Todas, ainda de noite, se precipitaram para a margem. Rumaram para o lugar onde estavam os barcos dos mirmidões, e os Tritões e Tritônidas as acompanharam, até que chegaram próximas ao cadáver, e Tétis apertou o filho entre os braços, deu-lhe um beijo na boca, chorando de tal maneira, que suas lágrimas misturaram-se às águas do mar. Os aqueus, não os vendo, mas sentindo a presença divina, retiraram-se respeitosamente, somente retornando quando elas se afastaram, ao nascer do dia. E Tétis, ao cruzar-se com Ájax, o grande, fez-lhe um sinal mágico, que ele entendeu.

Os gregos foram apanhar lenha para a pira, no sopé do monte Ida. Depois de a prepararem, colocaram sobre ela as armas dos troianos que morreram, animais sacrificados, ouro e metais nobres. Os heróis gregos cortaram uma mecha de seus próprios cabelos. Também Hipodâmia, filha de Brises, a escrava preferida do herói morto, levou ao amo as madeixas como derradeira homenagem. Em seguida, derramaram-se inúmeras jarras de azeite como oferta propiciatória sobre a lenha acumulada, colocaram-se vasilhas contendo mel e vinho, que tinham o aroma do néctar e estavam cheias de especiarias escolhidas, e por cima de tudo foi posto o cadáver. Depois, todos armados, desfilaram, uns a pé e outros a cavalo, diante da pira, que em seguida recebeu o fogo, cujas chamas se ergueram por entre os gritos de dor de todos os dânaos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:48

Por ordem de Zeus, Éolos mandou os seus mais velozes Ventos que, soprando com fúria tempestuosa sobre os troncos, fizeram com que em pouco tempo o fogo transformasse em cinzas a lenha e o cadáver. As derradeiras chamas foram apagadas com vinho, e ali, no meio dos restos, sobressaindo de tudo, surgiram os ossos do herói. Os companheiros pegaram-nos, chorando, e colocaram-nos numa grande arca, feita de prata e ouro, a qual foi enterrada no ponto mais elevado da margem, ao lado dos de seu amigo Pátroclos, e imediatamente recoberta por elevado túmulo.

Também os cavalos imortais de Aquiles, Xantos e Bálios, que não presenciaram a morte do seu dono, notaram sua falta, e, arrancando as correias que os prendiam, foram conferir o que se passava, e compreendendo tudo, negaram-se a permanecer ali, mas os amigos de Aquiles, que conheciam as faculdades daqueles maravilhosos animais, os acalmaram, com muito custo.

Então, Tétis foi buscar a alma de seu filho morto e levou-a para Leuce, a “Ilha Branca”, distante de tudo, possivelmente localizada diante do estuário do Istros (o Danúbio) ou então na ilha de Borístenes ao largo do estuário do atual Dnieper, onde os colonos gregos erigiram um templo e um túmulo em honra de Aquiles como Pontarces, o “Senhor do Ponto”. E, conforme diferentes versões, o herói ali se casou com Medéia, a dama do Ponto, ou então com Ifigênia, a filha adotiva de Agamémnon, sob o nome de Orsíloque, ou ainda com Helena, após a sua morte.

FUNERAL EM HONRA DE AQUILES

Em Tróia, realizava-se também uma cerimônia fúnebre: Glaucos, o chefe dos lícios, que morrera no último combate contra os gregos e cujo cadáver fora salvo das mãos do inimigo. Não havia um corpo, mas foi-lhe prestado honras fúnebres e lhe erigido um suntuoso túmulo.

No dia seguinte, de manhã, Diómedes, filho de Tideus, erguendo-se na assembléia dos heróis argivos, aconselhou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:49

— Reunindo todos os recursos, devemos atacar a cidade e nela entrar de assalto, antes que os troianos possam explorar o efeito da morte de Aquiles.

Ájax, filho de Télamon, manifestou-se contra:

— Seria abandonar a deusa Tétis, sem ouvi-la? Não devemos antes celebrar jogos solenes em torno do túmulo de Aquiles? Ontem, quando passou pela minha frente, de regresso ao mar, Tétis disse-me com um gesto que não deixássemos de lhe honrar o filho, pois ela assistiria pessoalmente ao funeral. Os troianos muito dificilmente resolverão atacar-nos, apesar da ausência do filho de Peleus, enquanto viveres tu, eu e Agamémnon.

— Seguirei teu conselho, Ájax, se Tétis realmente aparecer hoje. Os seus desejos devem, sem dúvida, ser antepostos a qualquer combate. Quem sabe ela interceda junto a Zeus para nos dar glória e a vitória.

Mal proferiu estas palavras, e as ondas do mar, abrindo-se, deram passagem à deusa que, semelhante ao sopro da manhã, emergiu e avançou para o centro dos gregos, seguida das Ninfas, suas irmãs, que traziam nas dobras dos véus magníficos galardões, os quais foram postos sob os olhos estupefatos dos aqueus, que a maioria deles jamais houvera visto um deus em sua frente. A própria Tétis instigou os heróis a iniciar os jogos. O velho Nestor, levantando-se, proferiu um discurso em louvor da divina filha de Nereus. Falou das suas núpcias com Peleus, às quais tinham assistido também os Imortais, e contou como as Horas haviam trazido divinas iguarias em cestos de ouro. As Ninfas tinham servido a bebida dos deuses em taças de ouro, por entre as danças das Cárites e o canto das Musas. O Céu e a Terra, mortais e Imortais, todos estavam naquela festa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 14:50

Nestor, após estas palavras, narrou a longa história dos feitos do pelida, dignos de eterna memória, os feitos daquele que nascera de tão ilustre casamento. As suas palavras consolaram a alma da atribulada mãe, e os argivos, embora ávidos de luta, ouviram-no e uniram-se aos elogios do herói. Tétis deu a Nestor, como presente, dois dos melhores corcéis de Aquiles e começou a distribuir, no meio dos presentes que trouxera, os prêmios destinados aos vencedores da corrida: doze vacas, cada uma com um lactente. Conquistara-as seu filho combatendo nas alturas do Ida. Levantaram-se os heróis Teucros, filho de Télamon, e Ájax, filho de Oíleo. Para melhor locomoverem-se, ambos despojaram-se das roupas. Agamémnon marcou a meta, e eles, dado o sinal, deitaram a correr, sob os gritos dos espectadores. Correram muito, e, já próximos da linha de chegada, um ramo de árvore, no caminho de Teucros, o fez tropeçar e cair e perder a posição para Ájax, que ultrapassou-o como uma flecha. Vencendo a prova, ficou com as vacas que conduziu triunfantemente para os barcos. Teucros retirou-se coxeando, acompanhado dos seus homens, que o consolavam.

Avançaram então outros dois heróis para a luta de braço: eram Diómedes e o poderoso Ájax, filho de Télamon. Lutaram ambos com igual força e denodo aos olhos dos companheiros, até que Ájax, abraçando Diómedes como se quisesse esmagá-lo, deu a impressão que venceria; mas Diómedes, também vigorosíssimo e muito hábil, escapou por um lado e, distendendo os músculos dos ombros, levantou o oponente; depois, escapando-lhe dos braços, atirou-o ao chão com um golpe do pé esquerdo. Os espectadores gritaram entusiasmados, mas Ájax, refazendo-se, tornou a levantar-se, e a luta prosseguiu. Dessa feita, Ájax agarrou Diómedes pelos ombros e, com irresistível força, atirou-o ao chão, de tal modo que o tidida caiu rolando, por entre os aplausos dos heróis que assistiam. Mas ele também se refez, preparando-se para a terceira acometida, quando Nestor, intervindo, disse:
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