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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:04

As divinas vozes se dividiram em número igual, entre prós e contras. Então Atena, entendendo que acabara a defesa de Orestes, deu por iniciada a votação que condenaria ou absolveria o réu. Cada qual dos doze juízes ergueu-se de seu assento e dirigiu-se solenemente à urna de votação, acompanhados sempre pelos olhares ávidos dos demais presentes. Ocultamente, introduziam na urna uma bola branca ou preta, conforme a natureza do seu voto.

As Erínias, sempre inquietas, sibilavam ameaçadoramente a cada julgador que por elas passava, agitando suas tochas. Apolo, que recebera Orestes em seu templo para proceder à sua purificação, consolava-o, incutindo-lhe ânimo.

Encerrada a votação, finalmente Atena começou a retirar as bolas da urna. Por seis vezes sua mão colheu de dentro bolas brancas. E, por outras seis, as bolas pretas.

— Os juízes não chegaram a um acordo.

Orestes, angustiado, não sabia o que dizer nem o que esperar. As Erínias abriram suas negras asas e entoaram seu espantoso hino, no qual clamavam pelo castigo mais cruel.

Atena, justa, decidiu, então, proferir ela mesma o voto decisivo, já que não havia votado, e pretendia ser a única dos deuses maiores apta a exercer tal função, imparcial a princípio, pois Apolo, como advogado de Orestes, não o seria. E Atena disse, olhando severamente para todos:

— Meu voto será irrecorrível, e ai daquele que ousar empregar palavras rudes para contestá-lo!

A deusa subiu os degraus até a urna e diante dela depositou o seu solitário voto (donde a expressão “voto de Minerva”). Em seguida, Asclépios, o mais novo deus do panteão, foi chamado para retirar dali o voto e proclamar a sentença.

— Atena, deusa da sabedoria e magistrada suprema deste tribunal, decide agora pela absolvição do acusado!

Houve um barulhento comentário entre os deuses que ali se encontravam, alguns satisfeitos com o resultado, outros contrariados, e os demais indiferentes, enquanto Pílades abraçava seu amigo Orestes. E Apolo, com o semblante luminoso, voltou-se para as Erínias.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:05

— Parece que se encerra, finalmente, a época cruel das selvagens punições e das terríveis expiações.

As três irmãs, contudo, esbravejavam, clamando contra o veredicto:

— Que ninguém invoque, nunca mais, o nosso nome! Do antigo Templo da Justiça restam, agora, apenas destroços! Guardai bem estas palavras, pois exatamente isto repetirão futuramente os poetas!

E Atena encerrou a sessão:

— Caso encerrado!

Orestes foi absolvido, então, e o horroroso ciclo de crimes em sua família cessou. Em agradecimento, Orestes consagrou à deusa Atena um altar, na colina do então Areópago. Mas as Erínias também foram lembradas, e os atenienses, temendo que a Justiça não se fizesse mais presente, dedicaram um templo às Eumênides, assim por eles chamadas, dando-lhes um caráter mais de justiça divina do que de vingança. E as Erínias, então, abandonaram seus chicotes e aposentaram suas víboras.

Já Orestes foi chamado à presença do velho Pandíon, que fora outrora o oitavo rei da Ática, e agora pertencia ao rol das divindades secundárias. Pandíon, antepassado de Egeus e Teseus, sentiu-se no dever de purificar o moço, reconhecendo sua personalidade e dignidade. Logo que Orestes chegou em Mégara, Pandíon apareceu e o purificou.

AS VIAGENS DE MENELAUS

Quanto à frota de Menelaus, há anos que violenta tempestade houvera empurrado seus navios a terras longínquas, e ficara muito tempo distante da Hélade. A não ser Ulisses, Menelaus foi o último dos heróis gregos a voltar para casa, depois de oito anos, viajando pelas terras de Cipros, a Fenícia, o Egito, a Etiópia e a Líbia.

Numa das investidas cruéis do deus Poseidon, quando os espartanos tentavam chegar na Hélade, quando sua frota e a de Nestor conseguiram alcançar um cabo da Ática, Menelaus perdeu seu piloto Frôntis, filho de Onétor, que caiu no mar e morreu. Desesperadamente, Menelaus tentou controlar a situação, e assumiu o posto o experiente Canopos, um hábil navegador. A Frôntis, na primeira oportunidade, foram-lhe prestadas honras fúnebres.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:06

Então, Canopos conduziu o navio e o restante dos barcos espartanos nas alturas do cabo Maleus, e uma nova tempestade arrastou-os de um lado para outro, e a maioria dos barcos afundaram, ou foram empurrados para a ilha de Creta, perto de Festos, onde poucos se salvaram, naufragando cinqüenta e cinco navios, enquanto a frota de Nestor continuava a seguir para Pilos sem maiores problemas. Os deuses não desejavam mesmo que Menelaus retornasse à Hélade, por algum motivo aparentemente importante. Por mais que tentasse achar o caminho certo, era empurrado para cada vez mais longe.

Foi quando, ainda na região do cabo Maleus, Menelaus notou que acompanhava seu barco um vulto na crista do mar: era Glaucos, o deus-ancião com corpo de peixe, um filho de Poseidon. Ele o conduzia entre ondas e recifes, desviando seu caminho para o alto-mar. O deus disse-lhe que seguisse para o longínquo Egito, pois lá encontraria sua esposa, Helena. O rei não compreendeu tais palavras, pois sabia que Helena com ele estivera todo o tempo de regresso, desde a sua partida de Tróia. Mas não a encontrou em lugar algum no barco. Ela havia desaparecido. Menelaus pensou ter caído ao mar durante a tempestade, mas os deuses do mar lhe apontavam o caminho do Egito, e para lá rumou, com seus últimos navios, apenas cinco, empurrados por forte ventania.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:07

Menelaus foi bem-recebido pelo rei Cetes (Seti I). Tinha ele um filho varão, Teoclímenos (Ramsés II?), “a quem glorificam os deuses”, e uma moça, Teónoe (Touya? Tia-Sitre? Hanutmiré?),”sagaz como os deuses”. Teoclímenos era um príncipe ambicioso que pretendia ao trono e queria Helena para si, mas esta soube preservar sua fidelidade e não deixou-se enamorar pelo príncipe, sempre ajudada por sua amiga Teónoe, que conseguia afastá-la do irmão e esposo sagazmente. Afinal, Helena tinha a certeza de que só se casaria novamente após saber que Menelaus, seu legítimo esposo, morrera aos pés de Tróia, pois esta guerra tornara-se famosa tanto quanto os feitos de seus mais valorosos guerreiros. Para tanto, Teónoe, que tinha o dom da adivinhação, sorrateiramente incumbiu-se de transportá-la ao rei Pólibos e sua esposa, a rainha Alcandra, para, assim, mantê-la distante das más intenções de Teoclímenos nesses últimos anos.

A respeito da família real, Ramsés I casou com Sitre e gerou Seti I, o qual presume-se ter sido o mesmo Cetes, tivera um filho que morreu jovem, depois teve Ramsés II, provavelmente chamado Teoclímenos pelos gregos, e as princesas Tia-Sitre e Hanutmiré, futura esposa de seu irmão, como era de costume no Antigo Egito. Ramsés II casou-se com Touya, filha do tenente Raia. Portanto, qualquer das três, Tia-Sitre, Hanutmiré e Touya, poderiam ter sido a mesma Teónoe.

O rei-sacerdote Cetes era conhecido por ser dono da Ciência da Respiração. Daí provinha toda a sua mágica, pois assumia várias formas, podia parecer uma árvore ou qualquer animal. Porém, nem seu poder tornava-o imune de conspirações, e foi alvo de seu próprio filho Teoclímenos, que tomou-lhe o poder depois de tê-lo morto secretamente. Este, mostrando-se cruel e inimigo de estrangeiros, decidiu impor resistência a Menelaus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:08

Menelaus soube através de Teónoe que Helena encontrava-se em Tebas, mais ao sul, no Egito, onde Alcandra, mulher do rei Pólibos, lhe prestava honras de hospitalidade desde os últimos anos. Inteirado de toda a história que envolvia a falsa identidade de Helena, que não passava de um embuste para levar os gregos à Tróia, Menelaus foi buscar sua adorável esposa em Tebas, e lá permaneceu durante cinco anos, acumulando grandes riquezas. E Teónoe, temendo a fúria do irmão, foi também para Tebas, onde passou a residir, na companhia de Menalaus e Helena, e onde apaixonou-se por Canopos.

Durante a sua estadia no Egito, realizando viagens à Líbia e à Etiópia, seu experiente piloto, Canopos, foi picado por uma serpente e morreu. Era muito amigo de Helena, que derramou por ele lágrimas que, caídas na terra, fizeram nascer a planta que levou o nome de relênio. Canopos, então, foi honrado pelos egípcios, tornando-se ele o piloto do barco de Osíris, o deus dos mortos, e em sua honra surgiu uma nova cidade: Canopos.

Finalmente, ao deixar o Egito, Menelaus, Helena e os seus guerreiros ficaram retidos na ilha de Fáros, na foz do grande rio Nilos, por uma calmaria que durou vinte dias, até que as provisões se esgotaram. Ao fim desse tempo, a Fome rondava os navios. E teriam morrido não fosse por uma ninfa benévola que, enquanto pescavam, apareceu a Menelaus.

— Bela ninfa, que aqui me vês perdido com meus barcos e homens nesta costa, para nós tão longínqua quanto a extremidade do mundo! Durante os últimos anos não temos feito outra coisa senão tentar regressar a nossos lares e retomar o doce remanso que eram nossas vidas antes dessa guerra cruel que travamos e que tantas vidas custou a vencidos e vencedores...

— Ó, bravo Menelaus! É necessário fazer alguma coisa para evitardes a Morte. A tua presença e o da tua esposa Helena só podem enobrecer estas águas que ora vos sustentam. Porém compreendo perfeitamente a razão das tuas queixas. Por isso, vou dizer agora o que deves fazer para alcançar o rumo de vossa casa.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:09

— Por favor, ó ninfa gentil, diz o que precisamos fazer e te seremos gratos por toda a vida!

— Sou Eidotéia, filha de Proteus, o pastor dos rebanhos aquáticos de Poseidon, e somente da boca dele podereis escutar o que as vossas almas desejam ouvir. Ele tornou-se um grande adivinho, recompensado que foi por seu pai pelos serviços que continuamente lhe presta, e saberá perfeitamente indicar o caminho que deveis seguir.

O rosto de Menelaus refulgiu, e a ninfa o alertou:

— Porém, cuidado! Meu pai, por ter sido tão importunado em razão desse seu dom, tornou-se o mais esquivo dos seres. Eis por que de nada valerão as artes da eloquência se tu desejares dele te aproximar. Para fazê-lo falar, é preciso surpreendê-lo durante o sono, e amarrá-lo de maneira que não possa escapar, pois ele toma todas as formas para espantar os que se aproximam: transforma-se em leão, dragão, leopardo, javali, algumas vezes transforma-se em frondosa árvore, e, quando realmente deseja escapar, transforma-se em água e até mesmo em fogo; mas, se tu conseguires conservá-lo preso, certamente retomará a primitiva forma e responderá a todas as tuas perguntas.

A respeito de Proteus, este morava em Pálene, na região da Macedônia, onde tinha dois filhos, Tmolos e Telégonos, Gigantes muito cruéis. Não podendo chamá-los ao sentimento de humanidade, tomou o partido de retirar-se para o Egito, com o auxílio de Poseidon, que lhe abriu uma passagem sob o mar. Lá, passou a servir Poseidon como pastor de seus rebanhos, de peixes e focas. Em paga, o deus deu-lhe o conhecimento do passado, do presente e do futuro. Mas não era fácil abordá-lo, e ele se recusava a todos que vinham consultá-lo.

Menelaus e três de seus homens, assim que amanheceu, esconderam-se perto da gruta, e Menelaus orientou-os:

— Atenção, todos! Devemos agora munir-nos de paciência e aguardar até que Proteus faça sua aparição.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:39

O Sol descia no horizonte, quando Proteus, o filho de Poseidon, chegou apascentando o seu rebanho de animais marinhos. A água salgada escorria de seus longos cabelos, enquanto peixes e outros animais marinhos turbilhonavam ao seu redor.

— Para fora, criaturas! Chegou a hora de meu descanso, na qual terei por companheiro apenas o discreto Silêncio.

Com efeito, Harpócrates, a divindade do silêncio, foi postar-se à entrada da gruta. Proteus, sabedor da natureza discreta da divindade em questão, quando invocada, sabia também que o melhor jeito de homenageá-la era passar por ela sem nada dizer.

Menelaus, esperou pacientemente, quando começou a ouvir o forte ronco do deus marinho, e Harpócrates, invisível aos olhos humanos, aborreceu-se com aquele som pavoroso e deixou-o sozinho naquele lugar. Menelaus e seus companheiros, munidos de uma corda bem grossa, adentraram. Assim que pisaram no interior da gruta, tiveram que tapar os ouvidos pelo excessivo barulho que o deus fazia e o eco que produzia.

— Pelos deuses, Menelaus, parece que escuto o ronco nas profundezas de uma enorme concha marinha!

— Quieto, ou daqui a pouco o escutará nas profundezas escuras de seu estômago!

— Come gente?

— Talvez...

Mas Proteus estava mergulhado num sono pesado, despreocupadamente, e nada além do estrépido de seu ressonar poderia tirá-lo do estado que os poetas chamavam de irmão da Morte.

Então, apenas com sinais, Menelaus ordenou a seus homens que amarrassem fortemente os membros do deus para imobilizá-lo. E, num aceno decisivo, os espartanos caíram em cima dele e dois seguraram-no firmemente enquanto outros dois o amarravam.

— Que significa isso? Maldição!

Menelaus lembrou-os:

— Segurai firme, com todas as vossas forças! E não o largai em situação nenhuma!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:40

O rei dos espartanos agarrou o pescoço do deus enquanto que, ironicamente, o lisonjeava:

— Ó Proteus, digno pastor dos rebanhos de Poseidon! Perdoa nossa rudeza, mas foi-nos dito que de outro modo as tuas sábias palavras não se fariam ouvir!

O deus se deu conta de sua desafortunada situação:

— Como vos atreveis, reles mortais?

E tentou desvencilhar-se. Mas foi em vão. Sentindo seus membros completamente imóveis, o deus recorreu, então, a um espantoso recurso: numa fração de segundos, transformou-se em um pavoroso leão de verdes.

— Não o soltai! Já enfrentastes coisa pior!

A fera debateu-se com fúria, porém inutilmente. Vendo seu insucesso, o deus mudou-se em dragão.

— Não temais! Ficai firmes, mais uma vez!

O dragão debateu-se terrivelmente, cuspindo fogo para todos os lados, e Menelaus, usando toda a sua força, segurou a cabeça do animal e pressionai a sua mandíbula fechada, impedindo que eles fossem carbonizados. O monstro continuava preso às amarras e aos braços dos cinco homens robustos.

E Menelaus percebeu uma nova transformação:

— Firmes, agora! Temos um leopardo em nossas mãos! Força, mais uma vez!

Dentro em pouco um enorme javali escoiceava sob as cordas, arremetendo com suas presas afiadas contra os seus raptores.

Apesar de suas divinas transformações, em feras, bichos rastejantes, águas e vegetais, porém, amarrado com tiras de couro de boi, foi devidamente dominado. E, ao assumir sua forma original, dado por vencido, Menelaus decidiu libertá-lo, e o deus resolveu atendê-lo, pois admitira finalmente que aqueles homens precisavam mesmo de sua ajuda.

—Tudo bem, vamos, satisfazei logo vossa curiosidade e deixai-me em paz! Quereis saber onde fica o Jardim das Hespérides, ou pretendeis alcançar as minas de ouro dos etíopes? Se quiserdes acessar as portas de Hades para apoderar-se de Perséfone, deixai isto para trás...
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:43

Proteus estava furioso. A entonação de sua voz era a de quem dava uma ordem e jamais daquele que admitia, humilhado, a derrota. No entanto, Menelaus não teve temor algum e se fez o seu dominador.

E foi assim que Menelaus obteve a sua resposta acerca da direção que devia seguir para chegar em casa. Antes, orientado por Proteus, Menelaus e seus espartanos deveriam voltar ao Egito e prestar aos deuses sacrifícios expiatórios, já que não os haviam feito antes da partida de Tróia, por isso, estavam irados contra os gregos. E soube dele também que Ájax, filho de Oíleo, havia perecido com seus homens no caminho para a Hélade, e que Agamémnon, seu irmão, depois de ter alcançado Árgos, foi brutalmente assassinado pela própria esposa e seu amante. Quis saber sobre Ulisses, e o deus disse-lhe tê-lo visto numa ilha distante, Ogígia, que pertencia à deusa Calipso.

E Menelaus e os seus voltaram para o Egito e fizeram tudo quanto Proteus os havia instruído.

Foi então que, finalmente, após descobrir o paradeiro de sua irmã, Teónoe, e saber de sua traição, Teoclímenos decidiu matá-la, e, a frente de seus guerreiros, foi reclamar a Menelaus que lhe entregasse Teónoe para que fosse executada por traição. Menelaus estava debilitado por suas perdas bélicas, e Helena viu-se obrigada a invocar seus poderosos irmãos divinos para lhes dar proteção. Foram em seu socorro os semi-deuses Cástor e Polideuces, que fizeram frente ao rei e seu exército, enfrentou-os e deu-lhes mostra de seu poder, fazendo-os recuar e retornar para sua cidade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:44

O RETORNO DE MENELAUS

No dia em que Orestes organizava a festa fúnebre em nome de sua horrível mãe e do covarde Egistos, Menelaus também chegou em Árgos, com Helena, de suas peregrinações. Depois de dezoito anos de ausência, uma das primeiras notícias que recebeu foi sobre a morte do irmão, Agamémnon, e ausência de Ulisses, que ainda não havia voltado para casa, acreditando-se que deveria ter morrido pela fúria de Poseidon. Mas não se surpreendeu, apesar da tristeza em seu coração, pois viu que tudo o que Proteus lhe dissera era a pura verdade. Então, em homenagem ao seu irmão, morto em sua própria casa, assim que chegou em Esparta, Menelaus ergueu um altar a Zeus-Agamémnon.

Nos primeiros tempos do regresso à Pátria, Menelaus e Helena viveram em paz e harmonia, acompanhando o crescimento e educando os filhos Córitos e Hermíone. Menelaus havia tido ainda, de sua serva Piéris, os filhos Nicóstratos e Megapentes, antes ainda de ter partido para Tróia. Helena, filha de Zeus, dava bons exemplos de todas as virtudes domésticas, bem diferente daquela Helena por quem Menelaus conduziu os gregos à guerra sangrenta.

Aconteceu que um dia, Pirros, o filho de Aquiles, chegou em Esparta, com uma escolta, para uma visita ao rei, com segundas intenções: obter a mão de Hermíone, que havia sido prometida pelo pai em Tróia. E Menelaus, muito honrado, prontamente atendeu-lhe o pedido de casamento. Pirros, então, abandonou Andrômaca aos cuidados de Hélenos, filho de Príamos, que já havia adquirido dele a liberdade.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:46

Celebrou-se, então, o himeneu entre Pirros e Hermíone, e deu-se também, no mesmo momento, o himeneu entre seu filho Megapentes e uma jovem de família nobre de Esparta. E foi durante a cerimônia que Menelaus recebeu a visita de Telêmacos, filho de Ulisses, que acompanhava-se de Pisístratos, filho do velho rei Nestor. Procurava notícias de seu pai que há muito deveria ter retornado à Ítaca, e não pôde ajudá-lo, pois muito pouco sabia sobre seu paradeiro.

Depois do himeneu realizado e seus devidos ritos, Pirros tomou sua esposa e partiu para Ftia.

O JULGAMENTO DE ULISSES

Ulisses havia sido aclamado rei e senhor de Ítaca e de todas as ilhas vizinhas que ainda a ele não se submetiam, por decisão unânime do conselho. Grupos alegres o acompanharam ao palácio, do qual, atraída pelas aclamações de vitória e paz, saíra Penélope, coroada e esplendidamente ataviada, no meio das suas ancilas. O casal, finalmente reunido, passaria desde então a viver longos e felizes anos. E, nesse tempo, Telêmacos ganhava um irmãozinho, que o chamaram Poliportes.

No entanto, Ulisses passou a ser pressionado por príncipes das ilhas vizinhas pelo massacre de seus parentes e amigos, ex-pretendentes de Penélope. Então, pensando em acabar logo com as pressões, pondo tudo em pratos limpos, mandou chamar o jovem Neoptólemos, que ocupava o trono do Épiros, achando-se assim inviolável e contando com o seu prestígio inabalável. Isso desagradou a sua protetora e amiga, a deusa Atena, mas não abandonou-o.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:47

Mas Neoptólemos, filho de Aquiles, que tornava-se herói nacional em toda a Hélade, recebeu o encargo de julgar os atos de Ulisses, mesmo contra a vontade, e, fazendo-se cumprir a profecia de Tirésias, condenou-o ao desterro. E Ulisses, surpreso e contrariado, lembrando-se das previsões de Tirésias, teve que entregar o trono ao filho Telêmacos, deixando Penélope pela segunda vez. Poucos meses após o seu regresso em Ítaca, Ulisses partiu novamente portando um remo bem talhado sobre seu ombro e foi de barco rumo ao continente, para a Acarnânia. Depois, a pé, seguiu para o país dos tésprotes, ao norte. Ali, ofereceu a Poseidon um sacrifício, para apaziguar a ira do deus.

Na Tesprótia, conheceu a rainha Calídice, que lhe ofereceu metade de seu reino, enamorada que estava, tornou-se sua esposa e teve dele o filho Polípoetes. Tal atitude, pela segunda vez, desagradou a Palas-Atena, que tinha sentimentos nobres de fidelidade e pudor.

Ulisses, já tomado pelo esquecimento e pela perda de suas virtudes, que sempre lhe foram caras, seduziu Evipe, filha de Tírimas, o rei do Épiros, e dela teve um filho, Euríalos. Esse foi mais um motivo para entristecer a deusa da sabedoria.

Anos mais tarde, após a morte de sua consorte, a rainha Calídice, Ulisses voltaria anonimamente para Penélope, em Ítaca. E um Oráculo o advertiria que tomasse cuidado com seu próprio filho, que poderia fazer-lhe algum mal. Pensando que se tratasse de Telêmacos, o expulsaria de Ítaca, mas tragicamente alcançaria a morte através de Telégonos, o filho que tivera com a feiticeira Circe.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:49

A MORTE DE NEOPTÓLEMOS

Entretanto, em Ftia, Hermíone, filha do rei Menelaus, não conseguia, após muitas tentativas, engravidar de Pirros. E o filho de Aquiles, inconformado por não ter filho de Hermíone, resolveu ir a Delfos pedir ao Oráculo as razões da esterilidade. Foi no caminho que Orestes, seguindo-o, mandou matá-lo Macareus, um descendente de Brancos, pois desejava desposar a filha de Menelaus, que, desde a infância, Orestes e Hermíone eram noivos, e se casariam no regresso de Menelaus da tão odiosa guerra em Tróia.

E Hermíone, acreditando que fosse maldição de Andrômaca, ciumenta, desejou mandar matá-la e também aos filhos que tivera de Pirros. Mas o velho Peleus, descobrindo tal plano, conseguiu salvar Andrômaca e os filhos. Tétis, vendo que Mólossos, filho de Pirros e Andrômaca, era a última vergôntea da raça de Éacos, ordenou à troiana que fosse para o Épiro, aonde seria desposada por Hélenos, que lá reinava por vontade de Pirros Neoptólemos. Andrômaca assim o fez, e seguiu para o Épiro, onde, com Hélenos, seu antigo pretendente, se casaria e dele teria um filho, Cestrinos. Mólossos tornar-se -ia o próximo sucessor ao trono, dando seu nome aos habitante da região, os mólossos. Hélenos reinava em Ílion, uma cidade que ele mesmo fundara, e passou a acolher os compatriotas que por ali passavam. A cidade era a primeira a suceder a antiga cidade dos teucros e dárdanos, então destruída pelo poderio grego. E, em seu reino, no Épiros, que Hélenos receberia Enéias, dos dárdanos, com os sobreviventes de Tróia. Ficaria naquele país por pouco tempo e logo seguiria viagem para a Hespéria.

Hélenos e Andrômaca, sabendo da morte de Pirros, filho de Aquiles, partiram para Delfos e o enterraram na soleira do templo da cidade, e teve honras divinas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:50

A MORTE DE MENELAUS E HELENA

No entanto, as andanças de Orestes não haviam terminado ainda. As Erínias continuavam a persegui-lo; o Remorso o perseguia. O herói, então, prostrou-se no chão diante do altar de Apolo, em Delfos, e suplicou-lhe que lhe desse um conselho final, pois de outro modo não poderia continuar vivo. A disputa entre os deuses do Olimpo e das Erínias, filhas da Noite, sobre o crime de Orestes, somente terminou com um compromisso. Uma solene expiação era necessária, segundo a ordem da Pítia de Delfos, e Orestes teve que se preparar para empreender perigosa viagem à Táurida em busca de uma antiga imagem da deusa Ártemis.

Naqueles dias, morria em Esparta o grande rei Menelaus, seu tio. Com a morte de Menelaus, “o que espera as pessoas”, cuja vida fora longa, Nicóstratos e seu irmão, Megapentes, muito jovens ainda, resolveram expulsar Helena, repudiada por ambos, do reino da Lacedemônia, e ela teve que se refugiar em Rodes, junto de Polixo, uma antiga amiga, mulher de Tleopólemos, que havia morrido em Tróia.

A princípio, bem recebida, Helena logo começou a sofrer censuras por parte de Polixo, mais velha que ela, que a criticava por ter ela levado Tleopólemos à Morte. E Polixo ordenou que duas de suas servas a ameaçassem constantemente e lhe perturbassem. Atormentaram-na de tal maneira, que a filha de Zeus, desesperada, mesmo sabendo que a culpa não lhe pesava nas costas, se enforcou sob uma árvore. Os deuses, apiedados de Helena, levaram-na à Ilha dos Bem-aventurados, aonde foi encontrar-se com Menelaus, pois para lá havia sido levado. Diz-se que teria se unido a Aquiles e ter dele concebido um filho.

Mais tarde, em Rodes, depois que Polixo foi castigada, Helena foi adorada sob o nome divino de Deudritis, a Helena de Rodes. E junto da árvore em que pereceu nasceu uma planta chamada quelenion, formada de suas lágrimas. Essa planta tinha a virtude de restituir a beleza às mulheres.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:51

EM BUSCA DE IFIGÊNIA

Para então apagar definitivamente de sua vida a mancha sangrenta de suas mãos, pelo assassinato de sua mãe, seguindo o conselho de seu amigo Pílades, dirigiu-se Orestes ao oráculo de Apolo em Delfos, para saber do deus como se poderia livrar do castigo e do remorso. E a Pítia, sentada em seu tripé sagrado, situado em cima de uma fenda da rocha da qual escapava uma cortina de fumaça, inalando-a, inspirou-se convulsivamente sob delírios, proferindo uma linguagem estranha que só o sacerdote podia interpretar. Assim, pois, quando Orestes, tendo exposto o seu problema, escutava, desvairado, as palavras que saíam dos lábios da Pítia, foi somente depois da explicação do sacerdote que veio a conhecer a resposta de Apolo para seu propósito.

— Teu castigo não terminará, mesmo que tenhas sido absolvido pelo Divino Tribunal, pois te consome o Remorso. A menos que viajes até o país da Táurida; deves ir até para trazer a estátua de Ártemis que se encontra em um templo daquele país.

— Não sei onde fica esse país. Quem poderá saber?

O sacerdote, limitado apenas a traduzir as palavras da Pítia, calou-se e voltou para o seu posto.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:52

Ninguém sabia dizê-lo, a não ser o seu coração. Assim sendo, Orestes e Pílades, decididos, empreenderam sua viagem ao país que ficava do outro lado do Euxinos e da Trácia, guiados apenas pela esperança de encontrar o que procuravam. Não sabiam, mas a própria deusa os guiava. Velejaram para o norte e para leste, passando de ilha em ilha, e de longe avistaram uma vasta planície, e imaginaram ser a mesma onde os valentes aqueus travaram sangrentas batalhas contra o poderio troiano e de seus aliados. Havia, na praia, uma fila enorme de escombros, uma extensa muralha arruinada e, ao longe, uma cidade escura e abandonada, como se um terremoto a houvera posto abaixo. Depois, ordenaram os tripulantes a seguirem adiante, através do perigoso mar que banhava ao norte da Frígia, até alcançarem o Bósforo, passando por inúmeros recifes, onde, outrora, ficavam as terríveis rochas flutuantes. Atingiram assim o Euxinos, seguindo mais ou menos a rota dos heróis Argonautas.

Então, avistaram uma grande península situada na costa setentrional do grande mar. O povo que a habitava, os tauroscitas, não vivia em cidades ou povoações, porém deslocava-se por todo o território em seus cavalos e carroções, dormindo debaixo de tendas. Havia, entretanto, uma colônia bastante importante no litoral, onde se encontrava o templo da deusa Ártemis-Órtia, que os bárbaros do lugar chamavam-na de Parthenos. Próximo ficava a moradia do rei Toas, governador dessa tribo primitiva.

Ora, o rei Toas era o mesmo que tinha sido expulso, havia muito tempo, da ilha de Lemnos, quando as mulheres daquele reino massacraram todos os homens. O filho de Dionisos, depois de muitas aventuras e contratempos, exilou-se na Táurida onde estabeleceu uma colônia, e onde os meninos que com ele escaparam de Lemnos cresceram, casaram-se e constituíram família. Os tauros fizeram de Toas seu rei, e ele contentava-se em respeitar seus antigos hábitos e costumes, contanto que não se intrometessem com a colônia dos lemnianos estabelecida no litoral.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:53

Uma das práticas dos tauros, que pertenciam à grande raça dos Citas, consistia em sacrificar à deusa Parthenos (ou Ártemis), não animais, mas seres-humanos, especialmente os estrangeiros que naufragavam em suas costas; e isto Orestes e Pílades ignoravam. No entanto, precavidos, mandaram que escondessem o barco e aguardassem o seu retorno. Contudo, os heróis foram descobertos por um pastor do país.

— Sacerdotisa, sacerdotisa! prepara-te, pois desembarcaram magníficas vítimas para a deusa! Os nossos guerreiros estão se encaminhando para a praia a fim de levá-los ao nosso rei.

Foram ambos aprisionados e levados à presença do rei com as mãos atadas.

— Quem sois e a que vindes a este país?

— Viemos das terras da Hélade, e estávamos a caminho para fundarmos uma nova colônia; porém nosso navio naufragou no teu litoral, e todos os nossos companheiros morreram.

— Tu acabas de proferir tua própria sentença, pois é nosso costume sacrificar à deusa Parthenos todos os estrangeiros que naufragam em nossas praias.

Sem deixar a Orestes ou Pílades a oportunidade de dizerem mais uma palavra, ordenou que fossem levados ao templo da deusa, e ali oferecidos em sacrifício. Ficaram presos numa pequena cela, meditando sobre o triste fim que os esperava, enquanto os mensageiros iam avisar a sacerdotisa do templo que havia dois estrangeiros para serem sacrificados.

Quando se abriu a porta da prisão e entrou uma mulher com vestes talares e coberta de um véu, Orestes e Pílades pensaram que sua hora tinha chegado, e prepararam-se para enfrentar a Morte com coragem. Pílades fez menção de reagir, mas não teriam chance alguma. Mas decidiu tomar a frente nos interrogatórios que lhe fossem dirigidos. E a sacerdotisa, reconhecendo nele roupas gregas, pretendeu fazer-lhe algumas perguntas.

— Sois aqueus... de Micenas ou de Esparta? Sou argiva de nascimento, e estimo por demais àquela terra.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:54

Os dois entreolharam-se, e Pílades respondeu:

— Sou fócio, da região central da Hélade. Meu companheiro vem de Árgos. Se nos interrogar pode nos ajudar, então nos questiones. Somos jovens e não pretendemos deixar este mundo tão cedo.

— Lamento muito, estrangeiro, Conquanto não possa salvar a ambos, posso pelo menos libertar um de vós, para que volte para a Hélade e leve uma mensagem para meu irmão. A vítima para o sacrifício é uma só, e estes homens me são fiéis. Por isso, vou deixar-vos a decidir qual de vós terá a felicidade de retornar são e salvo.

A sacerdotisa não se preocupou em reparar no outro que se encontrava atrás do que ela interrogara. Certamente afeiçoara-se a este, e se lhe fosse dado a escolher, o salvaria da Morte. Mas interrogou ao homem que se ocultava covardemente:

— E tu? Quem és? Quem são teus pais?

— Chamam-me “miserável”, pois o melhor será se eu continuar a ser desconhecido; pelo menos não serei objeto de críticas e gracejos.

— Teu amigo afirmou que vieste de Árgos, e chegou-nos a notícia de que Tróia foi arrasada. Helena voltou para Esparta?

— Sim...

A sacerdotisa, percebendo que o prisioneiro “sem nome” era de poucas palavras, dirigiu-se a Pílades, agora com voz mais serena:

— Havia um rei, comandante das tropas em Tróia, e se chamava Agamémnon. Voltou são e salvo da guerra?

— A desgraça se abateu sobre sua casa; foi morto pelas mãos da própria esposa.

Um grito de espanto escapou-se dos lábios da sacerdotisa.

— Vive ainda essa mulher infeliz?

— Não, pereceu às mãos de seu filho, que tomou sobre si a vingança de seu pai; e foi bem pago!

A sacerdotisa baixou os olhos e percebeu que de fato uma maldição havia caído sobre a família daquela gente, iniciada no tempo de Pélops.

— O que sabes da filha menor de Agamémnon, a que foi sacrificada no porto de Áulis?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:55

— Que um maravilhoso animal tomou o seu lugar, enquanto ela desapareceu sem deixar vestígios. Provavelmente, para aliviar o sentimento de culpa de seu pai, o soberano Agamémnon, os deuses a transformaram numa corça.

— E... onde está o seu filho agora?

Pílades olhou para trás, rápido e silenciosamente, e dirigiu-se de novo à sacerdotisa, tentando esconder a sua identidade, já que não convinha mais falar sobre o assunto:

— Orestes sumiu na miséria, perseguido por todos os lugares, precisando apenas encontrar a paz. Já sofreu o suficiente, e não tenho mais para te dizer, é tudo o que sei.

A sacerdotisa, que parecia muito interessada no assunto, suspirou e, dirigindo-se para fora da cela, disse-lhes:

— Agora, escolhei entre vós quem ficará para o sacrifício e quem retornará para levar a mensagem ao meu irmão.

Então, saiu da cela e deixou-os a sós.

— Tu deves ir, Pílades, pois que se não podemos roubar a estátua da deusa, preferiria morrer a continuar sofrendo de remorso. Tu não tens nada a perder.

— Não, Orestes, tu ocuparás o trono de Árgos, és meu primo e meu amigo, e como tal deves viver. Como poderia eu abandonar-te à Morte e voltar sem glória para a Hélade? Morramos os dois, então.

— Pílades, eu te trouxe até aqui. Por favor, não tenho mais do que me orgulhar; viverei pelo resto da minha vida com um peso insuportável nas costas. Vai, te peço. Sê feliz e desposa quem te faça ainda mais feliz. Este é o meu destino, e eu o escolhi.

Durante muito tempo discutiram; porém, afinal, muito a contragosto, concordou Pílades em levar a carta da sacerdotisa para a Hélade. A sacerdotisa voltou, de rosto coberto, e ambos foram conduzidos logo ao altar onde um deles seria degolado pela sacerdotisa de Ártemis. Então, Pílades recebeu das mãos da sacerdotisa a missiva e, para o caso da carta se perder, a sacerdotisa leu para ele o seu conteúdo:

— Comunicarás ao meu irmão que Ifigênia, a que foi arrebatada em Áulis do altar do sacrifício, vive e lhe pede o que se segue na mensagem.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:56

Interrompeu-a Pílades:

— Ifigênia? Onde ela está?

— Está aqui, mas não me interrompas: “Querido irmão Orestes, vem buscar-me na Táurida, leva-me para Árgos antes que eu morra”. Então, mostrarás a ele o caminho.

Verificou espantado a carta que estava endereçada a Orestes de Micenas. Pílades voltou-se para a sacerdotisa e indagou:

— É este o nome do homem que tu dizes ser teu irmão?

— Sim. Sou filha de Agamémnon e Clitemnestra. Meu nome é Ifigênia. Conheces o meu irmão?

Orestes quase desmaiou, chamando a atenção da sacerdotisa, que até então não se importara muito de observá-lo. Pílades estendeu a carta para Orestes e disse-lhe:

—Toma, amigo, esta carta é para ti. É a tua irmã que mandou-me entregá-la.

E Pílades, pondo a mão na cabeça, riu-se e, com os olhos voltados para a sacerdotisa, apontou para o amigo.

— Aqui tens tu o teu irmão Orestes!

Orestes e Pílades entendiam que Ifigênia havia morrido há muitos e muitos anos. Mas ela, no dia em que iria ser sacrificada com o fito de os gregos partirem para Tróia, fora, num passe de mágica, substituída pela corça, por obra dos deuses, e levada, e levada por eles àquele país.

Ifigênia, de início, pensou que se tratava apenas de uma tentativa para ludibriá-la.

— Pretendes iludir-me?!

Mas, voltando fixamente os olhos no outro estrangeiro, retirou o véu que cobria o rosto e reconheceu Orestes, seu irmão, apesar de tê-lo visto pela última vez há mais de vinte anos atrás.

— Não devo acreditar! Como é que hei de ter certeza? Que provas me dás? Parece-te com meu pai, mas isto não é o suficiente.

Orestes, que deixava verter lágrimas de seus olhos, disse:

— Consegues lembrar do último bordado que fizeste antes de ires para Áulis? Aprendeste com nossa mãe... Pois vou descrevê-lo. E lembra-te do teu quarto no palácio? Posso enumerar-te tudo quanto havia nele, pois, depois que sumiste, eu passava horas e horas sem de lá sair.

Ifigênia, abraçando-o afavelmente, revelou-se, e que, por certo, foi difícil convencer-se.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:57

— Meu querido irmão! Eras um bebezinho quando te deixei! Aquilo que nos está para acontecer agora é mais que maravilhoso!

— Estás destinada à tristeza, tal como eu. E pensar que podias ter morto o teu próprio irmão!...

— Não, isto é horrível! Não me obrigues a acreditar que teria que fazê-lo! Mas aqui, tenho, na verdade, feito coisas horríveis. Estas mãos podiam ter-te assassinado. E, mesmo agora... como é que conseguirei salvar-vos? Que deus poderá ajudar-nos?

Contou-lhes tudo, todas as minúcias, e, com lágrimas nos olhos, revelou o que deveria se suceder. Ifigênia lembrou-lhes que o sacrifício de um só homem era o bastante, pretendendo ela poupar o irmão, mas deveria acontecer. Entretanto, uma nova luta de generosidade se travou entre os dois amigos; cada um deles queria morrer no lugar do outro. Ifigênia fê-los calar e, logrando trocar palavras com o irmão, perguntou-lhe que fatalidade o levara àquela costa inóspita. Orestes contou-lhe o trágico fim do pai, a vingança feita por ordem de Apolo, a perseguição das Erínias e o julgamento proferido na colina de Áres.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 04:58

— Quando cheguei e compareci ao tribunal, coloquei-me num dos assentos e a mais velha das Erínias no outro; Apolo, ouvindo e respondendo à acusação de parricida, me salvou com o seu testemunho. Palas contou os sufrágios recolhidos com as suas próprias mãos, iguais em ambos os lados, e eu fui absolvido da acusação. Dentre as Erínias, as que aquiesceram na minha sentença resolveram ter um templo perto do lugar em que haviam sido recolhidos os sufrágios; mas as que se não submeteram ao julgamento, me perseguiram sem descanso, até que, estendido à porta do seu templo, sem nutrir-me, jurei matar-me ali mesmo, se Apolo, que me perdera, não me salvasse. Imediatamente, fazendo ouvir a sua voz pelo tripé de ouro, ordenou-me o deus que viesse a este país, a fim de levar a estátua descida do céu e colocá-la no solo de Atenas. Eis a estrada da salvação que o deus me abriu; portanto, ajuda-me. Se conseguir apoderar-me da imagem da deusa, livre então dos meus furores, levar-te-ei no meu navio à Micenas. Assim, minha irmã, salva a casa paterna, salva teu irmão, pois estou perdido sem recursos, e comigo toda a estirpe de Pélops.

Pílades pensava que chegara a hora de entrar em ação.

— Conversaremos à vontade quando já estivermos longe deste lugar.

Sem outro recurso, Orestes propôs entusiasticamente:

— Matemos o rei!

Proposta não aceita por Ifigênia...

— Não! Não... O rei Toas sempre foi muito bom para mim. Não deveis levantar a mão contra quem me acolheu, apesar de seus costumes bárbaros.

Naquele momento, ocorreu-lhe um plano perfeito até ao mínimo pormenor. E revelou-o mais que depressa. Ifigênia, decidida a facilitar o roubo da estátua de Ártemis-Órtia, da qual era ela própria a guardiã, planejou fugir com Orestes. Para isso, persuadiu o rei:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 05:00

— Vou levar a imagem para a praia a fim de a purificar. E, uma vez à beira-mar, aproveitarei para fazer o mesmo aos dois estrangeiros, criminosos em sua Pátria. Só depois é que se poderá efetuar o sacrifício. Tudo isto tem de ser feito apenas por mim. Os cativos devem, portanto, vir comigo. Entretanto, urge proclamar-se na cidade que ninguém poderá de mim aproximar-se!

— Faze como quiseres, dispõe do tempo de que precisares.

Toas não duvidou de quanto se lhe dizia, e a sacerdotisa Ifigênia foi para a praia com Orestes, e os acompanhou Pílades. Logo a seguir, os servos da sacerdotisa transportaram as vasilhas necessárias aos ritos de purificação e depositaram-nas no barco de Orestes. Distanciando-se dos guardas citas, sob o pretexto de conservar secretos os ritos de purificação, embarcou com os dois e a estátua na embarcação, que se encontrava próximo dali.

Ifigênia orava em voz alta:

— Donzela e rainha, filha de Zeus e Leto, irás viver para onde há pureza e seremos felizes!

Tal oração acordou os guerreiros Citas, que perceberam a trama de sua sacerdotisa. Todavia, Poseidon atirou a embarcação para a costa do país, novamente, e eles teriam sido aprisionados se a aparição de Atena não tivesse feito com que o deus do mar cessasse a perseguição aos gregos.

Quando um mensageiro entrou correndo até o seu rei.

— Escuta, meu rei: a sacerdotisa do templo, ela está fugindo do país com os dois estrangeiros, e está levando a nossa excelsa deusa protetora!

— O quê?! Trazei-os de volta!

Mas a deusa Ártemis impediu o rei Toas de persegui-los:

— Basta, rei Toas! Detém o teu ódio! Tudo o que eles fizeram foi por ordem dos deuses. O homem que leva a minha estátua é Orestes, o futuro rei de Micenas, irmão da minha sacerdotisa Ifigênia. Descende ele de Pélops, sobre quem, há muito tempo, recaiu uma maldição. Chegou a hora de ser apagado todo o infortúnio. Por isso, volta para teu trono e não faças nenhum mal àqueles que neste momento têm a bênção dos deuses.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 05:07

Toas aquiesceu submisso:

— Oh! deusa, será feita a tua vontade!

Fugiram então para a Hélade e chegaram a Bráuron, onde Ifigênia, filha adotiva de Agamémnon, fundou um templo em homenagem à deusa Ártemis e propagou o seu culto no Peloponeso, tirando-lhe o que tinha de bárbaro na Táurida.

— Não é possível que a esposa de Zeus, Leto, tenha gerado uma divindade tão cruelmente estúpida... Os habitantes daquele país bárbaro, habituados a verter sangue humano, projetaram em seus deuses costumes inumanos, pois me recuso a crer que uma divindade Olímpica seja capaz de fazer tal maldade.

E no templo deixou a estátua de Ártemis, onde permaneceu durante muitos anos até ser levada por Xerxes, o rei dos persas, na época em que invadiu a então Grécia.

ORESTES, REI DE ESPARTA

Como Orestes e Pílades houvessem partido para a Táurida em busca da estátua de Ártemis, anunciou-se em Micenas que ambos haviam morrido. De imediato Aletes, filho de Egistos, apossou-se do trono, com o consentimento do rei Cilárabe, já que este não tinha filhos para ocupar o governo da cidade. Como louca, Electra partiu para Delfos e lá, encontrando uma sacerdotisa, arrancou do altar de Apolo um tição em chamas e quase a cegou não fosse a intervenção de Orestes, e fê-la reconhecer na sacerdotisa a sua própria irmã Ifigênia.

E Orestes, com suas irmãs Ifigênia e Electra, apoderou-se do governo de Árgos, destronando Cilárabe, que, não tendo filhos, morreu sem posteridade. Depois, voltando para Micenas, tramaram e executaram a morte de Aletes.

Em seguida, Orestes finalmente desposou Hermíone, com o consentimento do velhíssimo Tíndaros, avô de ambos. Hermíone lhe deu um filho, Tisâmenos. As autoridades argivas foram contrárias a este ato, principalmente por lembrarem-se de que Orestes havia sido o assassino de sua mãe e de seu parente. Mas levantar a mão contra seu legítimo soberano seria infringir as leis humanas e divinas; assim sendo, o povo de Micenas aceitou Orestes por rei.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 5/3/2021, 05:08

Sendo Megapentes e Nicóstratos muito jovens e filhos bastardos de Menelaus para governar em lugar do pai, o trono de Esparta acabou sendo revertido a Orestes, filho de Agamémnon.

Durante o seu reinado, Orestes chegou mesmo a combater e derrotar os Heráclidas, tal qual fizera seu avô Atreus, quando reinara no lugar do grande Euristeus. E mais uma vez os Heráclidas foram rechaçados.

A MORTE DE IFIGÊNIA E ORESTES

Ifigênia morreu em Mégara, onde lhe foi erguido um santuário, e a deusa Ártemis tornou-a imortal, dando-lhe o nome de Orilóquia. Mas pouco tempo antes de sua morte, a peste devastou o reino de Orestes. Interrogado, o Oráculo declarou que o flagelo seria conjurado se fossem reconstruídas as cidades destruídas durante a guerra de Tróia, rendendo-se então aos deuses dessas cidades as honras de que estavam privados. Orestes providenciou o envio de construtores e colonizadores às então colônias distantes, na Ásia Menor, para refazer as cidades destruídas. Inclusive, logo após a morte de Hélenos, Andrômaca acompanhou o filho, Pérgamos, até a Míssia, a terra natal, aonde ele, jovem rei, houve de fundar uma cidade que levou o seu nome: Pérgamos.

Um dia, quando a Velhice lhe dominava, o Oráculo aconselhou-o que se retirasse à mítica e maravilhosa região da Arcádia. Lá Orestes morreu, muito velho, com mais de noventa anos de idade, e setenta de reinado. Foi enterrado e teve seu túmulo na Arcádia. Mas seus restos foram roubados e expostos à contemplação dos espartanos.
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