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Mensagem por Flautista de Hamelin 8/6/2019, 06:21


Agógica.

É fácil, para alguns, compreender o significado desta palavra que, no entanto, é difícil de ser descrita com precisão. Ouvi falar por aí: "Agógica é uma coisa que nem mesmo você sabe que faz, mas todos percebem a diferença, de quando você faz para quando você não faz". Foi algo deste tipo.

Amigos, ajudem-me. Gostaria de saber a definição que cada um tem para isto, e a aplicação que cada um faz.

Abraços musicais a todos.
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Mensagem por Lilith 8/6/2019, 20:16


Desculpe minha ignorância, mas isso tem alguma coisa a ver com música?
Lilith
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Mensagem por Flautista de Hamelin 8/6/2019, 21:47


Sim, tem.
São inflexões, de tempo e de dinâmica, tão mínimas que não chegam a ser nem crescendo, nem diminuindo, nem rubato, nem ralentando, mas fazem uma tremenda diferença.
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Mensagem por Lilith 8/6/2019, 22:19


Você pode dar algum exemplo? Porque, pra mim essa agógica não é colocada pelo compositor, e sim pelo intérprete.
Lilith
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Mensagem por Arcano 8/6/2019, 22:40


Caros,

Segundo o Michaelis:

a.gó.gi.ca sf Mús (agoge+ica)

Doutrina das modificações do andamento de um trecho musical.

Penso que fazemos agógicas sempre, sem nem mesmo perceber, a não ser que sejamos daquele tipo de intérpretes-robôs, que invés de coração têm um metrônomo no peito.

Mas essas alterações não estão escritas na música: como o ritardanto final, o crescendo escrito pelo autor naquela nota importantíssima do acorde, etc...

Agógicas são aquelas alterações que nós colocamos na música, seguindo o nosso sentimento: o ritardando final, o crescendo nas notas longas, o staccato nas notas repetidas, etc . . .

Esse é o meu conceito de agógica, mas me parece que eu estou cometendo uma agógica na língua portuguesa . . .

Abraços
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Mensagem por Flautista de Hamelin 8/6/2019, 23:04


Obrigado por me compreenderem.

Aliás, a Lilith tem toda razão quando diz que a agógica não é escrita pelo compositor, é algo inserido naturalmente pelo próprio intérprete.

Na verdade (vocês vão concordar comigo), música não pode ser escrita. O que há na partitura é apenas uma mera ideia daquilo que o compositor concebeu. Já ouvi um caso de um compositor que escrevera uma peça para flauta solo e ouviu uma interpretação desta peça que diferia completamente da sua concepção. Mas ele disse ao intérprete: "Está lindo, continue tocando assim". Acho que é isto, o que se toca é a música, e não a partitura.
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Mensagem por sombriobyte 9/6/2019, 01:02


Arcano,
Obrigado por explicar a diferença entre o Pollini e o Baremboim...

Todos,
Agógica, se foi o que eu entendi é o que separa os bons dos maus interpretes, seria isto?

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Mensagem por Alquimista 9/6/2019, 01:39


O que o Flautista diz é a pura verdade. Música não foi feita para ser escrita. A partitura é apenas um quebra-galho, um modo da música subsistir quando a memória falha. Partitura é mais ou menos como um manual de instruções: siga os passos e faça essa música existir você também. É exatamente como o roteiro de uma peça de teatro.

Curioso é imaginar subterfúgios assim em outras artes, como a pintura, por exemplo. Já pensou se Leonardo da Vinci fizesse uma "partitura" da Gioconda? Quantas Giocondas diferentes não teríamos?

Na verdade, o melhor modo de guardarmos música foi inventado no final do século passado por Thomas Edison. Não há como negar isso. O problema é que o fonógrafo chegou milênios depois da própria música. Depois desse tempão todo, não havia mais jeito: estamos totalmente acostumados às imprecisões da partitura e da execução musical. Isso tem um lado muito bom: discutir quais são as melhores interpretações de tais obras é uma delícia, não é verdade? piscadinha
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Mensagem por sombriobyte 9/6/2019, 02:47


Alquimista,
Vou ter de discordar de você, para mim a invenção do fonógrafo "avacalhou" um pouco a música, pois os novos músicos tendem a seguir os consagrados, sem criar um estilo próprio.
Eu lembro de uma declaração parecida (não tem nada a ver com música!) de John McEnroe, tenista americano: "O fim das quadras públicas é a explicação para a pouca criatividade e habilidade de nossos jovens tenistas, hoje, todos eles criados em escolinhas, acabam imitando o estilo dos treinadores ou, o que é pior: dos seus ídolos. Quer dizer, eles começam a jogar tênis depois de assistirem o Sampras jogando, e, já que o Sampras ganha jogando assim, eu também posso ganhar."
Você não vê, cada vez mais, uma uniformização do estilo dos músicos?

Sds. Mahlerianas

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Mensagem por Trovador 9/6/2019, 14:57


Não estou querendo puxar a sardinha para o meu lado, mas nós cantores somos quem mais utiliza a agógica, pois fomos ensinados a sentir a música, a interpretar no mais pleno sentido a música e suas palavras. Não vemos muito disso no aprendizado dos instrumentistas, pois enquanto não são ótimos músicos eles tocam a música como está escrito nas sagradas escrituras.

A plena interpretação das músicas ficam com os virtuoses. Já no canto, a primeira coisa que nos é passada, se não é concomitante com o aprendizado musical, é a expressão da linha melódica, é o colorido que temos que dar à fria partitura.

Não estou aqui afirmando que os colegas instrumentistas não são bons intérpretes, mas estou relatando uma situação que ocorre não muito raramente.

Não há no mundo coisa pior que ter que cantar com um músico que não entende a agógica que o cantor quer imprimir na música que está interpretando. Imagina uma situação em que estamos nós, piano e voz: você faz um ritardando, ou um piano súbito, mas o pianista nem lembra do que foi combinado e passa, literalmente, por cima de você. A interpretação foi por água abaixo...
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Mensagem por sombriobyte 9/6/2019, 16:13


Trovador,
Mas já estamos acostumados a utilizar a voz... Quando você olha pela primeira vez para as teclas do piano você pensa "O Que que eu faço agora?"

Sds. Mahlerianas

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Mensagem por Alquimista 9/6/2019, 16:32


Sombrio, você não discordou do que eu disse! Eu não entrei no mérito da criatividade interpretativa, estava falando sobre outras coisas...
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Mensagem por Alquimista 9/6/2019, 16:33


Trovador, cantores acham que instrumentistas não têm criatividade; instrumentistas acham que cantores não estudam o suficiente; e maestros creem que ambos não entendem nada de música; e assim a banda toca. riso 2
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Mensagem por sombriobyte 9/6/2019, 18:49


Alquimista,
É que você disse que o fonógrafo foi uma grande invenção, eu acho que não...
Mas ele também tem suas vantagens (e que vantagens!) eu posso escutar Karajan e Toscanini (Karajan morreu quando eu tinha 5 anos...), eu tenho fácil acesso à gravações históricas, escutar a Berliner tocando a oitava de Bruckner tornou-se muito mais barato que dantes (você acha que a Berliner tocaria Bruckener em uma excursão?).
Mas eu creio que tivemos uma redução na variedade e qualidade dos intérpretes, e, além disso, a indústria fonográfica, tornou intérpretes em ícones que tem que gravar incessantemente, e, basta lembrar, que os grandes compositores foram grandes intérpretes.
Vamos pegar o exemplo de Mahler (sempre ele):
Ele foi, talvez, o maior regente de óperas de todos os tempos (é o que uns dizem...), então, a temporada é no inverno, Mahler regia no inverno, mas no verão ele ficava livre para trabalhar. Já atualmente, os intérpretes atuam no inverno e gravam no verão, então como ficam os potenciais compositores?

Sds. Mahlerianas

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Mensagem por Alquimista 9/6/2019, 20:20


Hehehehe, Sombrio, se você acha que o fonógrafo não foi uma grande invenção, então empacote todos os seus CDs e mande para mim! BIG LOL!

Continuo achando que você leu na minha mensagem muito mais coisa do que eu escrevi. Recapitulando: eu acho que o fonógrafo é o mais perfeito meio de se *guardar* música. Partitura é apenas um quebra-galho que o tempo consagrou como parte integrante da música (embora, na essência, não o seja). Já pensou a experiência de se ouvir a música de Mozart ou Bach sem intermediários?
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Mensagem por Frederico Mercúrio 9/6/2019, 22:21


Essa discussão é um tanto perigosa. Esse tipo de assunto tornou-se rapidamente um tabu em nossa época.

É muito arriscado falar da partitura como um "quebra-galho". Isso vale, aproximadamente, para o Barroco, Classicismo, até, vamos dizer, a metade do Romantismo.

Os compositores modernos (bom, a parte deles que se enquadra no neo-classicismo) escrevem partituras extremamente detalhadas e muitos mais-modernos até excluem a notação tradicional de notas e claves por notações mais "completas" e "formais".

Isso que chamamos de partitura não é simplesmente uma representação com a finalidade de armazenamento/memória de elementos musicais. Uma gravação não é equivalente a uma partitura!

Pular do abstrato, que existe na cabeça do compositor, diretamente até a "gravação" é um caminho perigoso e pecaminoso, que eu não considero nem como sendo música propriamente dita. Exclui-se deste processo talvez o elemento mais importante da Música que é o *gesto musical*. A agógica, que deu origem a essa discussão, está inserida neste gesto.

Na minha opinião, que certamente é diferente da de vocês, a invenção da gravação prejudicou a música em muitos aspectos. Ouvir um CD de Mahler não é a mesma coisa que estar presente a um concerto com tal sinfonia no programa. A música deixa de ser interpretada por um ser humano para ser "interpretada" por um feixe de laser, na verdade, repetida indefinidamente.
Conheço até alguns (doentes) que preferem manifestamente ouvir CDs a frequentar salas de concerto. Isso não é música, é como apaixonar-se por uma fotografia!

Voltando à partitura, ela não é destinada ao ouvinte. É destinada ao intérprete, e nela é traduzido, de forma obviamente não inequívoca, o gesto musical necessário para sua interpretação. Representa um elo no processo musical, e faz parte dele, sim. Um elo fundamental, posto que nossa noção de música hoje é impensável sem a sua representação. Alguém vê um cartaz com uma clave de sol, a associação é imediata: "música!".

Pensem sobre isso. É importante.
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Mensagem por Alquimista 9/6/2019, 23:08


É claro que assistir a Filarmônica de Berlim ao vivo é muuuuuuuito melhor do que escutá-la em CD. Por várias razões, entre as quais questões puramente físicas (nenhuma gravação é perfeita, etc).

Você disse: "Os compositores modernos (bom, a parte deles que se enquadra no neo-classicismo) escrevem partituras extremamente detalhadas e muitos mais-modernos até excluem a notação tradicional de notas e claves por notações mais 'completas' e 'formais'."

E eu continuo: isso levou ao dia em que vários músicos investiram suas forças em formas de música concreta e eletrônica. Varèse não dizia que seu objetivo era manipular diretamente sons? Ele não estaria ignorando por completo a "agógica" ou o "gesto musical"? Agora me digam: o que Varèse fazia, em termos de experiências eletrônicas e eletroacústicas, era ou não música? E quando Stravinsky pedia, "apenas toquem as notas, não tirem nem ponham nada", o que ele quer? Liberdade interpretativa ou precisão absoluta?

Mais uma pergunta (eu não sei as respostas, só quero provocar): não seria o "gesto musical" parte de apenas um dos modos possíveis de se fazer música?
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Mensagem por Frederico Mercúrio 9/6/2019, 23:42


A sua questão é interessante.

As razões para a interpretação ao vivo da Fil. de Berlim ser melhor do que qualquer gravação são muitas e não apenas de caráter físico (como banda, reverberação, percepção aural, etc) mas também psicoacústico, psicológico, social e até filosófico.

Varèse escreveu um longo artigo elogiando as possibilidades do mundo tecnológico quanto a novas possibilidades de representação musical, sugerindo até que fossem empregadas fitas semelhantes às dos eletrocardiogramas como "substitutos" da partitura.
A corrente concreta, como você bem citou, nega o gesto, concentrando-se na sonoridade pura e abstrata. Não preciso dizer que sou contra essas poéticas. Aliás, é justamente essa postura que as faz destituídas de qualquer sentido musical para mim.

Por outro lado, Stockhausen se volta para o gesto. Não abdica dele, pelo contrário. Suas obras, embora eletrônicas, em 90% dos casos requer intérpretes e possui partituras com bulas muito detalhadas sobre a execução.

(Aliás, é de se pensar, a corrente de Colônia insere-se na tradição serial ocidental. Schaeffer nem músico era, e procurou construir uma teoria nova, como se não existissem Arezzo, Rameau, Schenker, Schoenberg...)

A posição de Stravinsky é a dos neoclássicos. Deve-se tocar o que está escrito. Mas ele crê que o gesto está descrito completamente através da partitura. Se você der uma analisada numa partitura dele, vai ver que há indicações sobre os mínimos detalhes. Ele quer precisão absoluta.

Só existe um "modo" possível de se fazer Música, este modo é o próprio gesto musical. Talvez seja essa a definição de Música. Pelo menos, a minha é.
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Mensagem por Trovador 10/6/2019, 00:38


Apenas para responder ao amigo Sombriobyte, quando eu me deparo com o teclado do piano, a primeira coisa que me vem à cabeça é fazer o meu vocalize para aquecer a voz, a segunda coisa é chamar alguém que realmente saiba tocar, pois para acompanhar uma voz do quilate da minha, o instrumentista deve ser no mínimo muito bom ! He he he
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Mensagem por Trovador 10/6/2019, 00:39


Alquimista,

O maestro acha que os instrumentistas e cantores não sabem nada, mas a recíproca também existe!
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Mensagem por Trovador 10/6/2019, 00:40


Mas voltando ao assunto, em nenhum outro estilo musical se utiliza mais a agógica do intérprete que na música renascentista (e barroca, também), já que foi praticamente feita para ser cantada sem maestros, portanto cada cantor comandava a sua linha melódica naquele esquema piano/mezzoforte/piano, e quando uma passagem trazia um clima diferente, então vinha o fortíssimo.

Bom, eu não me responsabilizo por nenhuma das palavras acima, pois enquanto eu as escrevia eu escutava o Oratório de Natal de Bach, interpretado pela "Stuttgarter Kammerorchester", maravilhoso!

Abraços,

ps: Jauchzet, frohlocket!
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Mensagem por Frederico Mercúrio 16/6/2019, 00:13

Alquimista escreveu:
Os Pianos Fazioli

O piano Fazioli F308 é o piano de concerto mais longo do mundo com 3,08m. Os pianos Fazioli são fabricados com extremo cuidado, com madeira de Val de Fiemme, no norte da Itália. Fazioli fabrica apenas 60 pianos de concerto por ano, todos realizados inteiramente à mão em todas as etapas de fabricação. O pianista Muriel Chemin gravou algumas sonatas de Beethoven utilizando um piano Fazioli.

Não tinha lido essa mensagem! sorriso
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Mensagem por Frederico Mercúrio 16/6/2019, 00:30


Caríssimos: quero lhes mostrar o relato da visita à uma incrível fábrica de pianos. Um abraço do Frederico Mercúrio.

Pianos Fazioli


Minha esposa costuma ler jornais e revistas de cabo a rabo, de modo que quase nada lhe escapa. De tempos em tempos, ela me indica lançamentos de livros, entre os quais alguns sobre música, área em que ambos nutrimos um especial interesse. Assim é que, há alguns meses, pus-me à procura de um livro chamado ''A loja de pianos da Rive Gauche'', Editora Record, de Thaddeus Carhart, um escritor norte-americano radicado em Paris e perdidamente apaixonado por pianos. Esse livro, aconselhado para aqueles que amam a música, é um tratado sobre pianos, escrito, creiam, de modo emocionante. Um de seus capítulos é dedicado aos pianos Fazioli.
Nos anos 70, Paolo Fazioli, um jovem italiano recém-formado em engenharia mecânica pela Universidade de Roma, e em piano pela Academia de Música de Pesaro, sendo desde menino um apaixonado por esse instrumento musical, pôs na cabeça que iria construir um piano que pelas qualidades de sonoridade, potência, toque e acabamento, ultrapassasse os melhores pianos existentes. Plano ousado para o qual não faltaram ''conselheiros'' no sentido de demovê-lo da ideia, para eles, maluca ou impossível de se realizar.
Porém, o jovem sabia o que queria e sua mente vinha há muito tempo elaborando aquele projeto. Seus irmãos, mais velhos, bem como seu pai o apoiaram, pois conheciam de perto aquela determinação, tão própria e necessária para a criação e realização das grandes obras.
De sua família herdara a tradição de fabricantes de móveis e o conhecimento sobre madeiras, suas características e aplicações. Valendo-se de sua experiência como pianista, iniciada na infância, de sua formação como engenheiro mecânico e do assessoramento de técnicos e engenheiros de som, projetou o sonhado piano de cauda cujos protótipos de 156, 183, 228 e 278 centímetros, uma vez concluídos, foram apresentados em 1981 na Feira de Frankfurt, Alemanha.
Essa história, contada em outras palavras no livro de Carhart e também em entrevistas concedidas por Paolo Fazioli, confesso, aguçou de modo arrebatador minha curiosidade para ver de perto e ouvir esses pianos que, decorridas apenas duas décadas da apresentação dos protótipos, estão entre os melhores pianos do mundo. O que se pode comprovar tanto por depoimentos de grandes pianistas, a exemplo de Arnaldo Cohen, Nikolai Demidenko, Murray Perahia, Alfred Brendel, Martha Argerich e Aldo Ciccolini, entre tantos outros, bem como pelas avaliações realizadas por revistas especializadas, entre elas a francesa Diapason Harmonie onde obtiveram a maior pontuação em comparação com outras excelentes marcas de piano como os famosos Steinway (Estados Unidos), Feurich (Alemanha), Bösendorfer (Áustria), etc.
Assim foi que, valendo-me da Internet, encontrei na Itália, em Sacile, uma pequena cidade localizada aos pés dos Alpes, a pouco mais de 70 quilômetros ao norte de Veneza, a fábrica Fazioli Pianoforti Srl e para lá escrevi solicitando permissão para visitá-la em um dos dois dias em que estaríamos em Veneza, em sonhada viagem de férias.
Depois de algumas semanas de ansiosa espera, recebi um e-mail onde agradeciam meu interesse por seus pianos, comunicavam que, apesar de estarem muito ocupados, a visita poderia ser feita no dia 4 de junho, às 16 horas, e pediam que fosse confirmada. Minha felicidade foi tanta que saí correndo para dar a notícia a alguns colegas de trabalho a quem havia confiado meu ardoroso desejo. Liguei imediatamente para minha esposa que, pela afinidade que nos une, me apoia em minhas mansas loucuras.
No dia aprazado, às 11:42, tomamos na estação Santa Lúcia, em Veneza, o trem para Sacile e lá estávamos uma hora depois. Aproximando-nos da pequena estação ferroviária, vi grandes depósitos de madeiras destinadas à construção de móveis, uma das principais atividades econômicas da cidade. O dia estava ensolarado, a temperatura era amena e reinava a calma típica das pequenas cidades italianas no horário de almoço em que, obviamente, apenas os restaurantes e cafés permanecem abertos. Táxis, nem pensar. Somente depois das 15 horas. Caminhamos cerca de 5 minutos por uma alameda e nos deparamos com um rio de águas cristalinas que vêm dos Alpes, formando aqui e ali pequenas corredeiras e dando à graciosa cidade um ar bucólico e acolhedor. Pequenas praças, ruas com pórticos, pontes, igrejas, teatro, lojas finas, galerias de arte e alguns restaurantes e cafés compõem seu centro.
Almoçamos num pequeno restaurante onde o dono, muito gentil, quis ter certeza de que não iríamos, mesmo, tomar vinho. Disse-lhe que tínhamos um compromisso em seguida e que, para evitar uma provável sonolência, beberíamos somente água mineral. Ao perguntar-lhe como conseguir um táxi após o horário de almoço para me dirigir à fabrica Fazioli de pianos, disse-me que Paolo Fazioli residia ali perto e que poderia chamá-lo por telefone para que nos levasse até a fábrica. Contou-nos que há algum tempo havia indicado a ele, Paolo, uma senhora austríaca que acabara por adquirir um precioso Fazioli. Agradeci seu empenho, mas expliquei-lhe que havia sido marcado um horário e que, por essa razão, achava melhor não abusar da boa vontade daquele que prestes seria nosso anfitrião.
Às 15:30 chamei o Sr. Tartorini, um dos poucos taxistas da cidade, que, como se já soubesse do horário de nosso compromisso, compareceu numa luxuosa Mercedes somente 10 minutos antes. De qualquer modo, na hora marcada lá estávamos em frente à Fazioli Pianoforti. É uma grande construção moderna que substituiu a anterior ainda existente ao lado. Entramos por uma porta onde se lia ''Uffizzi'' e fomos recebidos por uma jovem de cabelos curtos, Patrícia Modolo, a mesma que havia, gentilmente, respondido à nossa solicitação de visita.
Da sala de espera confortavelmente decorada, passamos para um amplo salão de piso claro e limpo, onde a cada 20 ou 30 metros havia um funcionário compenetrado em uma das etapas de construção de um piano de cauda. Ao lado dos moldes de madeira enfileirados verticalmente por ordem de tamanho, vi uma caixa de piano sendo moldada com diversas camadas de madeira superpostas e coladas, prensadas em volta do molde por inúmeros grampos de ferro.
A cada etapa, Patrícia ia nos explicando o que estava sendo feito. Fiquei impressionado com a precisão mais que milimétrica dos encaixes de peças de madeira que formam a estrutura do piano, finamente lixadas como se fossem, e em verdade são, obras de arte. Mais adiante, um jovem manuseava uma goiva, recortando peças delicadas e havia no ar um perfume agradável de madeiras.
Chegamos ao coração do piano, o chamado tampo harmônico, uma grande peça colocada na parte inferior do piano, sob o quadro de aço e as cordas, e que tem a forma e a extensão da projeção horizontal do piano de cauda, ou seja, aquela forma curva vista por cima. Essa peça importantíssima, formada por lâminas justapostas de forma milagrosamente perfeita e de uma beleza incomparável, é feita com o ''abete rosso'' ou ''spruce'', a mesma espécie de madeira que foi utilizada nos violinos Stradivarius, proveniente do Val di Fiemme, localizado no Trentino Oriental, próximo, portanto, de Sacile e onde crescem as árvores de abeto, uma espécie de pinheiros da família das Abietíneas, cultivadas e cuidadas organizadamente há séculos por gerações de famílias da comunidade. Essa madeira quase mágica é responsável pela incrível sonoridade do piano.
Vimos também os moldes para o quadro de aço, confeccionados em madeira e utilizados na fundição dessas peças pesadas que representam um terço do peso total do piano. Sobre o quadro de aço são fixadas e esticadas as cordas que chegam a atingir a tensão dinâmica de aproximadamente 10 toneladas. Esses moldes são remetidos para a Alemanha onde se realiza, sob encomenda, a fundição.
Passamos diante de uma grande câmara onde se fazem envernizamento e pintura e vimos, através de um vidro, um funcionário trabalhando, protegido por máscara e roupas especiais.
Em seguida vimos duas grandes máquinas trabalhando sob o olhar atento dos operadores, uma para lixar e que ao mesmo tempo aspirava a poeira, e outra para o polimento de grandes superfícies planas já pintadas e envernizadas.
Em outro salão eram feitas as cordas e, ao lado, um funcionário as colocava, uma a uma, no quadro, prendendo-as em pinos fortemente fixados com um martelo próprio.
Por último, em outra sala com proteção acústica nas paredes, fomos apresentados ao técnico sob cuja responsabilidade está o complexo mecanismo de teclas, martelos de madeira finamente recobertos de feltro e os respectivos braços e junções que conduzem o movimento das teclas às cordas, fazendo-as soar. No momento em que nos aproximamos, ele alisava, uma a uma, a superfície recoberta de feltro dos martelos, valendo-se de um ferro aquecido, semelhante àqueles para alisar cabelos e, ao nos cumprimentar, brincou, dizendo que aquele ferro poderia ser usado também para passar roupa em casa. Depois, voltou à sua compenetração e, encaixando o mecanismo no piano, fez soar as cordas correspondentes àqueles martelos retocados, produzindo sons nítidos que perduravam por vários segundos, colorindo ainda mais aquele ambiente quase sagrado.
Aqueles funcionários, homens e mulheres, compondo uma equipe única no mundo, deixaram-me a impressão ou a certeza de que têm absoluta consciência de estarem criando obras-primas, à semelhança de seus grandes conterrâneos de outras épocas.
Mas, a visita ainda não havia terminado. Passamos a um outro salão onde havia dois pianos modelo F308, os maiores pianos do mundo, prontos e carinhosamente cobertos com grandes capas de veludo vermelho. Patrícia levantou a capa de um deles e, sem deixar de esconder uma expressão de orgulho, disse-nos: - Questo è il milesimo pianoforte che abbiamo fatto! Se não chorei naquela hora, confesso que choro agora ao me recordar. Lá estava ele, reluzente no seu acabamento especial e comemorativo, de mogno. Um sonho realizado.
Dali, passamos a uma sala menor onde havia dois pianos abertos e à espera de quem os pudesse tocar. O da esquerda era um modelo F156, o menor dos seis modelos fabricados, e o da direita era um F212. Lembremo-nos que esses números correspondem ao comprimento dos pianos Fazioli.
Senti que alguma coisa estava para acontecer e aconteceu. Patrícia disse-nos que os pianos estavam ali para que os visitantes pudessem experimentá-los. Sentei-me ao menor. Minhas mãos tremiam e não conseguia nem mesmo encontrar o dó central. Minha esposa, conforme me contou depois, tremia tanto quanto eu. Aos poucos, consegui dedilhar alguns acordes, mas as poucas músicas que venho estudando, bandidas, me sumiram da memória. Levantei-me, mas Patrícia instou-me a experimentar o F212. Querendo e ao mesmo tempo não querendo recusar, sentei-me e, mesmo arriscando alguns poucos acordes, pude vislumbrar a potência e a sonoridade daquela máquina divina.
Voltamos à sala de espera e antes de nos despedirmos comecei a passar à Patrícia algumas lembranças do Brasil para que fossem entregues ao senhor Fazioli como agradecimento pela oportunidade da visita. Eram a partitura para piano das Bachianas Brasileiras n.º 4 e uma coleção impressa de espécies de madeiras brasileiras. Ao receber a partitura, Patrícia pediu que aguardássemos um momento. Saiu e retornou em seguida dizendo que Paolo Fazioli iria nos receber.
Eu havia visto uma foto sua em um site australiano que noticiara a aquisição de um piano Fazioli F278 pelo Sidney Town Hall, em 1994, e, passados quase 9 anos desde então, ele não mudara muito, a não ser pelos cabelos, agora um tanto mais compridos.
Cumprimentou-nos efusivamente e ao receber a partitura disse gostar muito de Villa-Lobos. Perguntou-me se eu a tocava e disse-lhe que ainda não a estudara. Citou alguns nomes de pianistas brasileiros conhecidos no exterior, entre eles, Arnaldo Cohen, Nelson Freire e Eliane Rodrigues. Interessou-se bastante pela coleção de madeiras brasileiras, comentando sobre algumas que já conhecia e insistiu para que bebêssemos um refresco. Aceitamos de bom grado pois estávamos com a boca seca depois de tantas emoções.
Perguntou-nos se tínhamos um piano em casa e disse-lhe que possuíamos um piano digital. Com uma expressão jocosa de reprovação, disse-nos que para desenvolver a técnica de piano era imprescindível se exercitar num piano acústico, não necessariamente um piano de cauda, mas um piano! O digital, contudo, serviria para a recordação de alguma passagem num momento em que não se tivesse à mão o piano acústico.
Aproveitando o clima de descontração proporcionado pelo tratamento sincero e jovial de nosso anfitrião, lhe pedi, se fosse possível e de seu agrado, que tocasse para nós, no que aquiesceu. Pelas informações de Carhart, Paolo Fazioli tinha prazer em demonstrar as qualidades de seus pianos para os visitantes.
Voltamos à sala onde estavam aqueles dois pianos que eu havia experimentado há pouco, mas antes passamos pelo salão onde estava o ''milésimo'' e Paolo fez questão que o olhássemos de novo. Ali estava o resultado de sua determinação. Tive a sensação de estar ao lado de um homem feliz.
Ao chegarmos na sala onde o ouviríamos tocar, ele apontou para o F156 e disse-me: - O senhor primeiro! Agradeci dizendo que já o havia provado, mas ele insistiu: - De novo, por favor!
Agora, em vez de tremer, comecei a suar. Tirei o paletó e sentei-me. Alicia, minha esposa, acho que por solidariedade, ficou também ensopada de suor. Ensaiei os primeiros compassos de uma música que sabia de memória enquanto meu complacente ouvinte me incentivava dizendo: - Più forte! Più forte! Parei por ali, repetindo mal disfarçadamente o último acorde que havia tocado. Levantei-me e pedi que ele tocasse, ao que respondeu: - Va bene! Va bene!
Sentou-se, olhou alguns segundos para o teclado, e iniciou o Noturno de Chopin, um verdadeiro bálsamo para aquele momento. Tocou compenetrado e com desenvoltura. Ao terminar, levantou-se e disse, apontando para o F212: - Agora aquele. Sentou-se e tocou seguidamente duas outras músicas, também de Chopin, onde pôde demonstrar a sonoridade, a potência e sobretudo a nitidez daquele instrumento maravilhoso. Pela primeira vez eu percebia, separadamente, os sons que emanavam de cada uma das cordas, ainda que harmoniosamente entrelaçados.
Agradecemos a ele pela visita e nos despedimos. Ao saber que viéramos de táxi, pediu a Patrícia que nos levasse até a estação ferroviária onde tomamos o trem de volta para Veneza.
Ao terminar este relato, sinto-me como os antigos viajantes que, ao voltarem para o seu país, contavam, desenhavam e escreviam sobre as coisas que haviam visto. Sem exageros, é como se tivesse visto pela primeira vez a Capela Sistina e a descrevesse para pessoas que dela nunca tinham ouvido falar.
Frederico Mercúrio
Frederico Mercúrio

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Mensagem por sombriobyte 16/6/2019, 03:05


Que bela crônica. Gostei muitíssimo! Parabéns!

Eu já havia lido o livro "A Loja de Pianos de Rive Guauche", e recomendo a todos que gostam de música e principalmente de pianos.
É, sem dúvida, um dos melhores livros que eu já li.
Porém, devo admitir que o nosso amigo Frederico conseguiu transmitir mais emoção do que o próprio livro ao descrever a fábrica da Fazioli.
Realmente tiveste muita sorte em poder vivenciar este momento. Eu mesmo sem ter ido lá, mentalmente consegui viajar bastante com tua história.

Mais uma vez, obrigado.

sombriobyte

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Mensagem por Alquimista 19/6/2019, 05:02


Um pouquinho de Física Ondulatória

Série harmônica: Sequência infinita de tons que surge de uma oscilação estacionária fundamental, originada de oscilações elétricas, sons, etc.

Sinonímia: Escala Harmônica, Série matemática de Fourier.

Sem que se olhe para dois instrumentos musicais - por exemplo, uma flauta e um violino - que fazem soar alternadamente a mesma nota, de mesma altura e mesma intensidade, qualquer pessoa pode dizer qual foi o som da flauta e qual o som do violino. Mesmo que nunca tenha ouvido nenhum dos dois instrumentos, alguém pode notar distintamente a diferença entre dois sons. Por isso surge a pergunta: Se a nota de mesma altura e intensidade tem a mesma frequência fundamental, e o ar vibrando carrega até nossos ouvidos (tímpanos) essa mesma oscilação, como alguém consegue distinguir a diferança de som entre os dois instrumentos? Ou expressando-se de mesma forma: Como a oscilação do ar permite distinguir a diferença entre os sons, se a oscilaçao ocorre com a mesma frequência? A resposta está ligada ao conhecimento complementar da série harmônica.
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