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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:34

— Em verdade, poderoso como é, ele falou com arrogância, se, pela força e contra a minha vontade, pretende conter-me, eu que sou seu igual em honrarias. Ele se esquece que somos três irmãos, filhos de Cronos e Réia: Zeus, Hades e eu. Todas as coisas estão divididas de três modos, e cada um de nós tem seu quinhão. Quando se tirou a sorte, a mim coube o mar, para nele morar para sempre, e Hades recebeu o nebuloso reino das sombras, embaixo da Terra. A Zeus coube o alto céu, entre o ar e as nuvens. A Terra , porém, ainda é de todos em comum. Não viverei, portanto, seguindo o espírito de Zeus. Que ele, apesar de mais poderoso, viva em paz no lugar que lhe coube. Que não tente assustar-me pela força do braço, como se eu fosse um pusilânime, e é melhor censurar com palavras ameaçadoras seus filhos e filhas, que ele mesmo gerou, e que, por força, terão de atender, quando ele mandar.

— Poseidon, deverei levar a Zeus estas tuas palavras rudes e violentas, ou deverei mudá-las? Eis que o coração dos homens bens pode se mudar. Sabes que as Erínias sempre ficam ao lado do primogênito. E tu e Hades são mais jovens que ele.

— Divina Íris, tuas palavras foram sensatas. Boa coisa é saber um mensageiro o que convém. Essa terrível dor, porém, fere-me sempre o coração e o espírito, quando ele se compraz em injuriar com palavras rudes um de igual posição e direito. Vou dominar minha ira, todavia, mas uma coisa também posso dizer-te, e ameaço com todo meu coração: se, contrariando a mim, a Atena, a Héra, a Hermes e a Hefaístos, ele poupar Tróia de ser saqueada, ou não der grande poderio aos argivos, que fique sabendo disso, nossa ira será inexorável.

Tendo dito estas palavras, o deus dos mares deixou as hostes acaias e dirigiu-se para o mar. Os gregos perceberam que haviam sido abandonados. Então, Zeus, com um ar de satisfação, dirigiu-se a Apolo:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:35

— Vai, filho, procura Heitor. Eis que Poseidon abandonou a batalha e foi para sua morada, evitando nosso confronto. Foi melhor assim, tanto para mim como para ele, e não precisaremos lutar e provocar a Discórdia entre nós. Toma, então, a égide em tuas mãos e, brandindo-a com força, desbarata os heróis aqueus. E que Heitor mereça teus cuidados. Incute nele grande valor, até que os aqueus, derrotados, fujam para os navios e para o Helesponto. Depois disso, planejarei sobre de que modo os aqueus possam descansar dos labores.

Apolo, com isso, desceu do Ida, na forma de um falcão. E, passando pela planície de Tróade, no caminho de Tróia, encontrou o filho de Príamos, Heitor, sentado e não mais prostrado no chão. Mostrava-se desanimado, pois acabara de recuperar os sentidos e de reconhecer seus camaradas que o cercavam. Cessara de arquejar e de suar, mais ainda não estava totalmente encorajado.

Apolo dele aproximou-se e disse-lhe:

— Heitor, primogênito de Príamos, por que estás sentado, meio desfalecido, longe dos outros? Algum pesar te atormenta?

Heitor, aturdido e surpreso, respondeu:

— Quem é tu que me interrogas face a face? Não te reconheço... És um deus? Por acaso não sabes que Ájax atingiu-me no peito com uma pedra, enquanto eu matava seus guerreiros, detendo meu furioso valor? Em verdade, pensei que iria juntar-me aos mortos no reino de Hades, hoje mesmo, enquanto arquejava.

— Anima-te agora, Heitor: sou Febo-Apolo, o deus da espada de ouro, o companheiro que Zeus enviou do Ida para ficar junto de ti e te proteger, assim como já o fiz antes, e não o soubeste, a ti e a tua altaneira cidade. Vamos, incita teus guerreiros a avançarem contra os côncavos navios. Irei na frente e abrirei caminho para os cavalos e derrotarei os heroicos aqueus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:36

E o troiano, reanimado por Apolo, chamou seus companheiros. Estes, surpresos pela imediata recuperação do príncipe, correram para junto do carro e dos cavalos. Heitor também correu, e juntos partiram para o campo da batalha. Os troianos, ao vê-los, gritaram de alegria, pois pensavam que ele não havia resistido e já tivesse ido encontrar-se com Hades. E os gregos, apavorados, tiveram muito medo e pararam estupefatos.

Então, Toas, filho de Andrémnon, valente em combate, tendo sábios e benevolentes pensamentos para com os seus, disse-lhes, animando-os:

— Grande é a maravilha que meus olhos contemplam. Heitor escapou do Destino e investe mais uma vez. Esperávamos que tivesse morrido nas mãos de Ájax. Mais uma vez, algum deus defendeu e salvou Heitor, que tem quebrantado os joelhos de muitos gregos, como creio que tornará a fazer agora. Se não tivesse a ajuda de Zeus, ele não ficaria assim, impetuoso, na frente de seus troianos. Vamos, deixemos que recuem nossos guerreiros, e nós, todos os que se vangloriam de ser os mais bravos dos exércitos, resistiremos, vamos enfrentá-lo e fazê-lo recuar. Penso que ele temerá penetrar nas fileiras acaias.

E assim se fez. Os mais bravos, que se encontravam em torno de Ájax, Idomeneus, Teucros, Meríones e Méges, cerraram fileiras, convocando seus melhores guerreiros, incitando-os a enfrentar Heitor e os troianos, enquanto os demais, amedrontados retiraram-se para os navios.

Heitor avançava a pé, a passos largos. Diante dele e dos troianos, ia Febo-Apolo, envolvido por uma nuvem. Carregava a égide, terrível e gloriosa, que outrora Hefaístos presenteara a Zeus, que a entregara a seu filho Apolo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:36

Já os gregos permaneciam no lugar, à espera dos inimigos, e altos gritos elevaram-se de ambos os lados, e as setas começaram a cortar o ar, voaram dos dois lados, e muitos foram atingidos e morreram. Eis que, aproximando-se cada vez mais, Heitor causava pânico geral nas hostes acaias. Heitor matou o herói Estíquios e Arcesilaus, chefe dos beócios e fiel companheiro de Menesteus. Enéias matou Médon, meio-irmão de Ájax, filho de Oíleo, e, em seguida, matou Iásos, um chefe ateniense, filho de Éfelos e neto de Coucolos. Polídamas matou Mecisteus, Polites e Équios, no primeiro ímpeto, e, depois, Agenor matou Clônios. Páris matou Deícocos pelas costas, abaixo do ombro, quando fugia entre os guerreiros da primeira linha.

Os argivos puseram-se a correr, atravessando o fosso e a paliçada, e foram obrigados a recuar pera dentro da muralha.

Heitor ordenou aos troianos, subindo ao carro guiado pelo seu áuriga:

— Correi para os navios, deixai os despojos para depois. Matarei todo aquele que eu vir longe da batalha e dos navios dos aqueus, e os parentes verão seus corpos serem devorados pelos cães diante de Tróia!

E seu condutor chicoteou os cavalos, enquanto Heitor convocava os troianos. Com um grito, todos incitaram seus corcéis, com um barulho ensurdecedor. Diante deles, Apolo desfez com os pés, facilmente, as bordas do profundo fosso, e fez uma ponte e um caminho largo e comprido, tão depressa, que só um deus poderia fazer. E chamou os troianos a atravessarem o fosso. E, em seguida, derrubou a muralha também com facilidade, dando livre passagem aos troianos.

Os gregos entraram em pânico, parecia ser o fim. Nestor ergueu os braços aos Céus, suplicando ao Olimpo:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:37

— Pai Zeus, se jamais algum de nós, mesmo em Árgos, queimando gordos quartos de touro ou carneiro, dirigimos uma prece em prol do regresso, e tu consentiste, com um aceno, lembro-te disso, e livra-nos do dia cruel, Olímpico, e não permites que os aqueus que os aqueus sejam subjugados pelos troianos.

E Zeus, ouvindo sua prece, manifestou a sua piedade com um trovão. Os troianos, interpretando o sinal no céu como presságio favorável, atiraram-se para dentro da muralha. Assim, os troianos se lançaram, com grande alarido, e lutaram de perto junto das popas,encurralando os gregos aos pés dos navios e no alto deles, pois estavam sendo obrigados a se refugiar neles.

Enquanto os aqueus e os troianos combatiam em torno da muralha e no seu interior, perto dos barcos, Pátroclos esteve sentado na tenda de Eurípilos e deleitou-se com sua conversa e com a aplicação de drogas em seus ferimentos, para aliviar a dor. Quando, porém, viu os troianos atacar a muralhas e a fuga dos gregos, bateu nas coxas com as mãos e disse:

— Eurípilos, não posso ficar aqui contigo por mais tempo, por mais que desejes, pois uma grande luta se iniciou. Teu escudeiro cuidará de ti: irei procurar Aquiles, sem demora, e incitá-lo a combater. Quem sabe se conseguirei persuadi-lo e incitar-lhe o coração? É sempre bem o conselho de um camarada.

E Pátroclos retirou-se, correndo para fora, enquanto os gregos puseram-se a resistir ao ataque dos troianos, mas não conseguiram repeli-los dos navios, embora fossem em menor número. Também não podiam os troianos romper as fileiras dos gregos e alcançar inteiramente as tendas e os navios. Heitor investiu contra o glorioso Ájax. Os dois lutaram disputando um navio.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:37

Então, quando Calétor, filho de Clítios, lançava fogo ao navio, Ájax feriu-o no peito com a lança, fazendo-o largar o facho das mãos. Ao ver seu sobrinho caído no pó diante do navio, Heitor convocou seus camaradas:

— Troianos, lícios e dárdanos, não vos retireis da batalha, salvai Calétor, para que os aqueus não o despojem de suas armas.

Assim falando, arremessou contra Ájax uma lança, mas o aguçado bronze errou o alvo; entretanto, foi atingir a cabeça de Licófron, filho de Mástor, que se encontrava junto de Ájax, de quem era escudeiro. Licófron era um cipriota que passara a morar com Ájax, depois que matara um homem em seu país e fugira para a Salamina. Ájax, vendo-o estendido no pó da terra, gritou para o irmão Teucros:

— Teucros, nosso fiel Licófron está morto, aquele que amávamos tanto quanto a nossos pais. Heitor o matou. Onde estão teu arco e tuas setas?

Teucro ouviu-o e, correndo, aproximou-se dele, carregando a aljava cheia de setas e o arco. E começou a lançá-las contra os troianos. Feriu Clitos, filho de Pisénor e amigo de Polídamas, quando segurava as rédeas. Estava ocupado com os cavalos, servindo a Heitor e aos troianos, mantendo os cavalos onde as hostes se estendiam em maior número. A desgraça caiu sobre ele, pois uma de suas setas foi cravar-se em sua nuca. Ele caiu do carro e os cavalos espantaram-se, arrastando o carro vazio. Polídamas, sem demora, foi o primeiro a deter os cavalos. Entregou-os a Astíonous, filho de Procianos, e ordenou-lhe manter os corcéis perto e vigiá-los com segurança.

Teucros lançou outra seta, desta vez contra Heitor que, mais uma vez, Zeus o protegeu, roubando a glória de Teucros, filho de Télamon. Ao atirar a seta, a corda do arco rompeu-se ao distendê-la, fazendo a seta partir sem rumo, e o arco caiu de sua mão. O herói Teucros estremeceu e disse ao irmão:

— Algum deus interfere em nossos planos e arranca o arco de minha mão, que eu mesmo prendi a corda, hoje cedo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:38

— Irmão, deixa o arco e as setas, já que um deus irritado os estragou. Empunha uma lança e um escudo e combate ao meu lado, e incita os outros. Que não seja sem luta que eles tomam os navios, ainda que nos vençam.

E Teucros, descendo para sua tenda, apanhou um escudo e algumas lanças e retornou a colocar-se ao lado de Ájax. Heitor, vendo-o, gritou:

— Guerreiros de Tróia, sede homens e lembrai-vos de vosso valor, pois vi como combate um homem muito bravo entre os gregos, cujas setas Zeus desviou de mim e me protegeu. Pela glória de Zeus, combatei todos juntos! Deixai morrer todo aquele que for atingido por algum grego, pois não é vergonhoso morrer lutando.

Ao mesmo tempo, Ájax convocou os seus camaradas:

— Envergonhai-vos, argivos! Estamos diante de um dilema: ou perecemos ou nos salvamos, afastando o perigo dos navios. Esperais que poderemos voltar a pé à Pátria, se Heitor lançar fogo em nossos navios? Não ouvistes Heitor concitando todos a incendiá-los? Ele não nos está convidando para uma festa, senão para o combate. Por isso, cerremos fileiras com os braços e o valor. É melhor morrer ou viver de uma vez, que ficarmos ainda por muito tempo preocupados com esse terrível combate sem finalidade, contra homens inferiores a nós.

Assim, incitou o espírito e o valor de todos os homens.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:39

Heitor matou Equédios, filhode Perímedes, chefe dos fócios, enquanto que Ájax matou Laódamas, filho de Antenor. Polídamas abateu Ótos, de Cílene, uma camarada de Fileides e chefe dos epeus. Quando Méges o viu morrer, avançou contra o troiano e atirou uma lança, que Apolo desviou, evitando sua morte. Porém, a mesma lança foi atingir Cresmos no meio do peito, matando-o. Méges retirou a couraça dos ombros do cadáver. Dólops, filho de Lampos e neto de Laómedon, investiu contra Méges, que, bem dotado de furioso valor, atingiu o escudo do filho de Fileus com sua lança, no centro, mas a couraça do herói grego protegeu-o, a mesma couraça que seu amigo Êufetes lhe dera, para que a usasse na guerra. Então, Méges virou-se e atirou a lança contra o inimigo, mas só arrancou-lhe o penacho de cor púrpura do alto do elmo. Dólops continuava a lutar contra Méges, quando Menelaus aproximou-se para defender o amigo. Postou-se ao seu lado, com a lança, sem ser visto, e feriu Dólops no ombro, por trás. A ponta atravessou até o peito, e ele caiu de bruços. Os dois príncipes trataram de arrancar a armadura de bronze de seus ombros, mas Heitor convocou os seus irmãos e, em especial, censurou o poderoso Melânipos, filho de Hicetáon, que morava em Tróia e era honrado como todos os filhos de Príamos.

Heitor falou-lhe:

— Devemos ceder terreno assim, Melânipos? Não te comoves com a matança de teus primos? Não vês como estão avançando nas armas de Dólops? Vem comigo: não podemos combater os argivos de longe. Bem cedo, ou os matamos, ou eles tomarão Ílion e escravizarão nossas famílias.

E saiu correndo, seguido por Melânipos e outros guerreiros. O grande Ájax incitou seus homens:

— Amigos, sede bravos, conservai a honra e pensai em vossa reputação perante os demais, em combate. Daqueles que dão valor à honra, mais permanecem vivos que perecem, ao passo que para os covardes não há glória sem salvação.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:39

Animaram-se ainda mais os dânaos. E Zeus incitou os teucros contra eles.

Menelaus incitou Antílocos, filho de Nestor:

— Antílocos, nenhum dos aqueus é mais jovem que tu, que és ainda muito veloz e bravo. Mostra o quanto podes avançar e abater os troianos.

Antílocos correu para a frente da hoste acaia e arremessou sua lança contra Melânipos, filho de Hicetáon, perfurando-lhe o peito, quando este avançava. Antíloco correu sobre ele, como um cão raivoso e faminto, para despojar o troiano de sua armadura, mas Heitor viu-o e atacou-o. Antílocos, prudente e amedrontado, pôs-se a fugir sob uma chuva de lanças.

Zeus estava resolvido a glorificar Heitor e seus troianos e aliados, para que pudessem atacar de vez os navios dos gregos. Aquiles devia ser vingado com honra, a pedido de Tétis, sua mãe. Por isso, Zeus incitou Heitor no meio dos navios. Por sua vez, Heitor investiu de novo, voltando a atacar os navios. Os gregos, vendo-o aproximar-se, ficaram temerosos, menos Perífetes, filho de Copreus, que resolveu enfrentá-lo. O Destino faria de Perífetes um mártir: não mais retornaria para a casa de seu pai, nem reveria mais a grande Micenas, onde seu pai outrora fora o mensageiro do rei Euristeus ao grande herói Héracles. Perífetes era o guerreiro mais valente e honrado de Micenas, depois de Agamémnon. O herói, ao virar-se contra Heitor, tropeçou na borda do próprio escudo que lhe chegava aos pés. Desastrado, caiu de costas. Heitor, aproveitando esse embaraçoso acontecimento, tocou o carro e os cavalos contra ele e, aproximando-se, mergulhou a lança em seu peito, matando-o. E o corpo foi abandonado.

Os gregos foram empurrados para os navios e para perto das tendas. Nestor passou a apelar para cada homem em nome de seus pais:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:40

— Amigos, sede homens, e envergonhai vossos coração diante da humanidade. Lembrai-vos de vossas esposas, de vossos filhos e de vossos pais, tantos os vivos como os que já pereceram. Em seu nome, embora estejam distantes, peço-vos para vos manterdes firmes e não fugirdes derrotados!

Isto elevou o espírito de cada um, e Atena dispersou sua falta de coragem. Ájax, filho de Télamon, não aceitou sua posição e decidiu encarar o inimigo. Avançou a passos largos pelo convés dos navios, empunhando uma grande lança, e convocou os seus a defender a frota acaia e revidar. Então, Heitor agarrou a proa do navio tessaliano de Protesilaus, tomou a ponta do cadaste e gritou aos troianos:

— Trazei fogo e elevai o grito de guerra. Agora, Zeus nos concedeu um dia que vale mais que todos os outros, para nos apoderarmos dos navios daqueles que nos trouxeram tantos males, devido à covardia dos mais velhos, que, quando eu queria combater junto das popas dos navios, me faziam recuar. Zeus, porém, exaltou nosso espírito: agora ele próprio nos comanda e nos guia!

E os troianos foram para cima dos dânaos. E Ájax, sob uma chuva de setas, teve que recuar para ponte entre a proa e a popa do navio. E, meio oculto, atirou lanças contra os que tentavam avançar com tochas nas mãos.

— Amigos argivos, sede bravos! Achais que há muitos de nossos que nos protegem, ou alguma muralha para nos defender? Pois não há mais, e estamos na planície dos troianos, de costas para o mar, longe de nossas famílias. A salvação está em nossas próprias mãos, e não podemos esmorecer.

E Ájax feriu doze guerreiros inimigos que se atreveram a incendiar algum navio.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 02:56

A MORTE DE PÁTROCLOS

Pátroclos chegava à tenda de Aquiles. Ele, derramando lágrimas, viu seu amo e amigo assentado, à vontade e refletindo. Vendo-o, Aquiles reparou que chorava, alguma coisa o aborrecia.

— O que te preocupa, amigo? Por que choras como uma menina, como se quisesse colo ou afeto? É isto que fazes. Queres dizer algo aos mirmidões ou a mim mesmo? Tiveste alguma notícia de Ftia?

Pátroclos, de cabeça baixa, nada lhe respondia. E Aquiles continuou:

— Dizem que teu pai Menoécios ainda está vivo e que o meu também ainda vive. Em verdade, deveríamos chorar se ambos morressem. Por acaso, tu estás chorando por que os argivos perecem junto dos navios, por sua própria culpa? É isto?

Aquiles fixou o olhar no rosto do amigo e, vendo que nada dizia, insistiu:

— Fala, homem! Nada escondas, pois preciso saber.

Então, Pátroclos deu um profundo suspiro e disse-lhe:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 02:57

— Aquiles, filho de Peleus, o melhor de todos os aqueus, não te ires, tão grande é a desgraça que caiu sobre nós. Aqueles que eram outrora os mais bravos jazem feridos ou mortos nos navios. Diómedes... Ulisses... Agamémnon... Eurípilos... Macáon, o próprio médico dos gregos, está ferido e tenta recuperar-se. Tu, porém, és inflexível, Aquiles. Oxalá jamais eu sinta na alma tanta ira quanto esta que acalentas e guardas! Que proveito outros terão de ti, ainda os que venham a nascer de agora em diante, se não afastares a lamentável desgraça dos aqueus? Cruel! Peleus não pode ser teu pai, nem Tétis tua mãe. O mar cinzento e os rochedos é que te geraram, tanto é duro o teu es
pírito. Mas, se por acaso, temes alguma profecia, ou se Tétis te revelou alguma de Zeus, deixa-me, pelo menos, partir e incitar o resto dos mirmidões, para que possamos ser uma luz para os gregos. Empresta-me tua armadura, na esperança de que os troianos confundam-me contigo e recuem amedrontados, para que os gregos possam respirar um pouco. Eis que mesmo um breve descanso é uma bênção, na guerra. Descansados e ansiosos como estamos, poderemos facilmente repelir nossos inimigos para dentro da cidade de Tróia.

Grandemente perturbado pelas súplicas do amigo Pátroclos, Aquiles disse-lhe:

— Pátroclos, o que me dizes? Não me preocupo com oráculo que conheço, nem minha mãe revelou-me algum vindo de Zeus. Invade-me o coração e a alma esse terrível rancor, que surge quando um homem pretende lesar um outro que lhe é igual e tomar-lhe sua presa de guerra, porque o ultrapassa em poder. É, para mim, mui terrível, pois sofri grande pesar no coração. A donzela que me foi dada, a mesma que eu conquistei gloriosamente, quando saqueei sua cidade, essa mulher Agamémnon arrancou-me de meus braços, como se eu fosse um desprezível vagabundo!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 02:58

Aquiles deu uma pausa, depois continuou:

— Mas deixemos de lado o que aconteceu. Não pensei em abandonar minha ira antes da batalha chegar aos meus navios. Põe em teus ombros minha gloriosa armadura e leva meus mirmidões à batalha, que é o que eles mais desejam, se em verdade uma nuvem negra de troianos envolveu os argivos na praia de Tróade. Toda a cidade de Tróia avança com coragem, eis que não vêem eles meu elmo reluzente. Eles teriam, sem demora, fugido e enchido o fosso com seus mortos, se o poderoso Agamémnon tivesse se reconciliado comigo.

— Certamente.

— É, e agora, estão combatendo em torno do acampamento grego. Diómedes não está levando o temor entre os teucros, nem ouvi a voz do rei átrida saindo de sua odiosa boca. A voz de Heitor, esta sim se faz ouvir. Assim, Pátroclos, transformando-se em Aquiles, cai sobre eles, com todo o vigor, e salva os navios da destruição, permitindo nosso futuro regresso. Obedece, então, às minhas palavras e conquista a vitória, trata de não combater longe de mim, e não vás, exultado na guerra, ao venceres os troianos, avançar contra Ílion, pois algum deus entrará no combate para protegê-los, eis que Apolo os ama muito. Temo por tua vida. Volta, quando tiveres lançado a luz da vitória entre os navios. Deixa-os lutando na planície. Zeus, Atena e Apolo tratarão de conceder as devidas mortes. Volta e, juntos, romperemos o sagrado diadema de Tróia.

Enquanto isso, o grande Ájax já não se mantinha firme, pois os projéteis eram lançados contra o escudo do rei da Salamina, que, no momento, ainda era o último baluarte que sustentava a resistência do lado dos gregos. Mas foi vencido pelo cansaço. Seu escudo estava crivado de setas que insistiam em feri-lo, e o suor escorria em abundância por seus membros fatigados.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 02:59

Heitor aproximou-se e, com sua espada, cortou a lança de freixo do salamínio. Ájax reconheceu que aquilo era obra dos deuses e estremeceu, sabendo que Zeus estava lançando no combate seu poderio e que queria a vitória dos troianos. Assim, recuou, e os troianos aproveitaram e lançaram suas tochas ao navio desprotegido, e as chamas se espalharam, desde a popa até a proa.

Aquiles, olhando de cima de seu navio, acompanhado de Pátroclos, seu fiel amigo, disse-lhe:

— Rápido, Pátroclos, eis que vejo a fumaça negra , do outro lado do acampamento. É o fogo sendo ateado nos navios dos aqueus. Vai, antes que tomem os navios e não haja mais salvação. Arma-te depressa e eu convocarei os guerreiros.

Pátroclos, correndo para a tenda de Aquiles, cobriu-se com o reluzente bronze. Pôs, primeiro, nas pernas, as belas grevas, com fechos de prata nos tornozelos. Em seguida, prendeu no peito a couraça bem trabalhada e coberta de estrelas. Em torno dos ombros, pendurou a espada de bronze com cabo de prata e, depois, o grande e pesado escudo. Na cabeça, colocou o elmo, com seu penacho de crina de cavalo, que sacudia-se ameaçadoramente. Tomou dois fortes dardos, mas não a enorme lança de Aquiles, que sé ele próprio podia empunhá-la, pois era a mesma que o centauro Quíron dera a Peleus no pico do Pélion. Em seguida, Pátroclos ordenou a Automédon, que era o homem que mais estimava depois de Aquiles, para preparar os cavalos, Xantos e Bálios, velozes como os Ventos, que foram criados pela divina égua Podarge, para o vento Zéfiros, num prado junto da corrente do Oceano. Ao seu lado, ele pôs o admirável Pédasos, que Aquiles capturara quando havia tomado a cidade do rei Eétion e que, embora mortal, corria como os dois outros, que eram de raça imortal. Automédon preparou então uma triga.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:00

Aquiles, caminhando entre os mirmidões, viu-os tristes e ociosos. Ele sabia que seus homens necessitavam lutar, pois passavam todo o tempo treinando com lanças, espadas e flechas, e realizando torneios entre eles. Aquiles, posicionando-se no meio deles, viu que eles não lhe davam atenção. E o pelida, mudando a tática de sua convocação, gritou:

— Vamos, homens! Levantai e alegrai-vos! Os argivos precisam de nós. Vamos à luta!

E os guerreiros, mal acreditando naquelas palavras, arrancaram um grito de júbilo de suas gargantas, famintos e sedentos de luta, como lobos prontos par avançar contra o cervo de grandes chifres. Assim, os chefes e conselheiros dos mirmidões, ergueram a voz, uma voz ouvida no campo de batalha, por gregos e troianos, que nada entenderam. Eles, imediatamente, correram para suas armas e marcharam em torno do bravo Pátroclos e de Aquiles, mas eles não esperavam que Aquiles não iria participar da batalha, deixando-os inseguros.

Havia entre eles, mais de dois mil homens, comandados por cinco chefes escolhidos por Aquiles. Uma companhia era comandada por seu sobrinho, Menéstios, filho do deus-rio Espérquios, já que Polidora o havia gerado, às escondidas, pois era esposa de Bóros, filho de Perieres. Outra companhia era comandada pelo belicoso Eudoros, que fora gerado por mãe solteira, Polímele, filha de Filas, e o deus Hermes era seu pai. A terceira companhia era comandada pelo valente Pisandros, filho de Mémalos, que era o melhor no manejo da espada, entre os mirmidões, depois de Aquiles, que era perfeito em todas as armas. O velho cavaleiro Fênix comandava a quarta companhia, e a quinta, comandava Alcimédon, filho de Laerces.

Aquiles, depois de tê-las dispostas todas em ordem, com seus chefes, ordenou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:01

— Mirmidões, que nenhum de vós se esqueça das ameaças que lançastes aos troianos, enquanto eu estava entregue à minha dor, quando cada um de vós me perguntava se teria a minha mãe me amamentado com fel, para que eu mantivesse meus camaradas na ociosidade, contra a minha vontade. E ainda me dissestes que regressaríeis à Pátria, já que essa cólera maligna havia caído sobre o meu coração. Assim me falastes muitas vezes, reunidos em torno de mim. Agora, está à mão o grande labor do combate, que tanto desejastes. Agora, que cada um vá para junto dos navios e enfrente o seu troiano!

Isto elevou ainda mais o valor e o espírito de todos. Diante deles, dois homens revestiram suas armaduras, Pátroclos e Automédon, decididos a chefiar os seus. Aquiles, porém, entrou em sua tenda e abriu a tampa de uma bela arca cheia de túnicas, mantos e tapetes de lã. Ali, encontrou uma bela taça, muito bem trabalhada. Nela, somente Aquiles bebia, nem mesmo fazia libações a nenhum deus, a não ser Zeus. Tirando-a da arca, limpou com enxofre, lavou e, em seguida, lavou as mãos. Enchendo-a de vinho, pôs-se de pé no meio do pátio e, levantando os olhos para o céu, derramou todos o vinho, e Zeus percebeu, que se regozijou e fez trovejar, um bom augúrio.

— Senhor Zeus, pelasgo de Dodona, que moras longe e governas do Olimpo; em torno de ti, moram os teus intérpretes, que não lavam os pés e fazem sua cama no chão. Tens ouvido antes minhas preces e me honrado, castigando as hostes dos aqueus. Satisfaz, agora, esse meu desejo. Eis que ficarei aqui, mas estou mandando meu camarada com muitos mirmidões, para combater. Concede-lhe glória e torna bravo seu coração, de maneira que Heitor possa saber que Pátroclos também sabe lutar sozinho, ou se suas armas só se mostram invencíveis quando eu participo da fúria de Áres. Quando ele tenha afastado a batalha e os gritos de guerra, possa voltar incólume, com todas as suas armas e seus camaradas.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:02

Zeus ouviu-o, mas concedeu-o um pedido e recusou a outro. Pátroclos não conhecia seu destino. Depois de ter feito a libação e dirigido a prece a Zeus, Aquiles voltou à tenda e guardou a taça. Saiu da tenda, ainda desejando contemplar o terrível combate.

Os troianos, confiantes no seu poderio, começavam a tomar conta da batalha, incendiando os primeiros barcos que encontravam. Não havia dúvidas: enquanto Aquiles permanecesse inativo, os troianos venceriam; acreditavam que jamais retornaria à guerra. Foi então, que muitas vozes retumbaram ao mesmo tempo, chamando a atenção dos demais. Seria o trovão de Zeus? Algum deus irado pela perda de um filho seu? Os guerreiros pararam a batalha, por um instante, até virem que os gritos partiam de um exército de mirmidões. Os aqueus, em júbilo, festejaram e partiram, confiantes, para cima dos inimigos: todos viram à frente do exército o inigualável e terrível Aquiles. Pátroclos, fazendo-se passar pelo pelida, grito aos seus mirmidões:

— Mirmidões, camaradas de Aquiles, sede homens e lembrai-vos de vosso valor. Fazei que Agamémnon reconheça sua fatal loucura e saiba honrar o melhor dos aqueus!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:02

E, como vespas furiosas, caíram em cima dos troianos, que, inconformados com o repentino retorno de Aquiles e com um pavor irreconhecível, não sabiam para que lado correr; em debandada, puseram-se em fuga. Pátroclos, esperando atingir algum troiano importante, atirou a lança no meio deles, cujo bronze foi ferir Piraecmes, dos peônios de Ámidon, às margens do Áxios. Atingiu-o no ombro direito, e ele caiu gemendo, de costas, no pós da terra. Seus peônios, apavorados, não detiveram-se em recolher o corpo. No mesmo momento, os aqueus trataram de apagar o fogo que ardia no barco de Protesilaus e seus chefes, e os mirmidões passaram a perseguir os fugitivos. Alguns ainda ousaram encarar frente a frente os heróis gregos. Pátroclos, com sua lança, feriu Areílicos na coxa, quando este se voltava. A lança quebrou o osso, e ele caiu de bruços. Menelaus feriu Toas no peito, que estava desprotegido, e seus membros fraquejaram. Méges, o fileida, aproveitou o momento em que Ânficlos investia contra ele e, atacando-o antes, feriu-o na coxa. Os tendões romperam-se diante da lâmina da lança e a escuridão velou seus olhos. Antílocos, filho de Nestor, feriu com sua lança Atímnios, filho de Amisodaros, o rei lício que havia criado a terrível Quimera, morta outrora pelo famoso Beleforonte. O bronze atravessou-lhe o flanco, e ele caiu de bruços. Máris, irado pela morte do irmão, investiu contra Antílocos, com a lança, e colocou-se diante do corpo. Mas Trasímedes, irmão de Antílocos, atacou-o no ombro, antes que ele pudesse feri-lo. A ponta da lança cortou os músculos do braço, e esmagou inteiramente o osso.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:04

Ájax, filho de Oíleo, por sua vez, atacou Cleóbulos e aprisionou-o vivo, atordoado pelo tumulto. Mas Ájax, querendo continuar a perseguir os troianos, passou-lhe a espada pelo pescoço. Peneleus atirou a lança contra Lícon, que fez o mesmo, e ambos erravam. Então, investiram um contra o outro com espadas. Lícon atingiu a empenachada crista do elmo de Peneleus, e a espada se quebrou no cabo. O herói beócio feriu-o no pescoço, abaixo do ouvido: a espada enterrou-se toda e a cabeça pendeu, ficando presa apenas pela pele. Meríones sobrepujou Acamas, filho de Antenor e Téano, e feriu-o no ombro direito, quando ele subia no carro. Ele caiu, e uma névoa espalhou-se sobre seus olhos. Idomeneus feriu Erimas, na boca, e a lança penetrou por baixo dos miolos, e os ossos do crânio despedaçaram-se. Os dentes foram quebrados, e ambos os olhos se encheram de sangue.

Heitor foi um dos poucos que não fugiu e decidiu enfrentar os gregos, pois acreditava que Zeus ainda o protegia. O grande Ájax lançou o dardo contra o troiano, mas este, com sua perícia na guerra, e protegido pelo escudo, estava atento ao sibilo das setas e ao retinir das lanças. Reconheceu que a batalha mudara de rumo, mas ainda assim se mantinha firme e ágil para salvar seus fiéis companheiros.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:05

Os teucros não recuaram em boa ordem. Os cavalos levaram Heitor, e teve que deixar seus guerreiros, que o fosso retinha contra sua vontade. Muitos troianos caíam no chão quando os cavalos percebiam o fosso e as estacas, e os abandonavam. Às vezes, cavalos fugiam puxando seus carros, outros fugiam sem seus carros, cujos temões se quebravam. Mas Pátroclos estava convencido a persegui-los, tanto era a sua coragem. Desejando dirigir-se ao lugar aonde reinava maior confusão nas hostes troianas, Pátroclos tentou dirigir os três cavalos de Aquiles para uma saída do fosso, mas os animais, desconhecendo a voz do áuriga, desobedeceram-no e decidiram correr em direção do fosso. Pátroclos, amedrontado por isso, deu um grito e tentou pará-los, mas os cavalos, especiais como eram, dotados de inteligência, saltaram o fosso, avançando sempre, e Pátroclos, mal acreditando no que passou, pois haviam sido os únicos animais a terem realizado tal feito, animou-se a perseguir Heitor, pois acreditara que Zeus ouvira as preces de Aquiles e que o deus o protegia. Tomando essa decisão, estava desobedecendo às ordens do pelida, pois deveria retornar para junto dele no acampamento dos mirmidões. Os cavalos de Heitor, em disparada, levaram-no para longe, enquanto que Pátroclos, em seu percurso, nas hostes dos lícios, feriu Pórnous, com a lança, na parte desnuda da couraça, entre o pescoço e o peito, e seus membros fraquejaram.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:06

Em seguida, Pátroclos, semelhante a Aquiles, atacou Téstor, filho de Énops, que estava sentado, acovardado, em seu carro, eis que perdera o ânimo, e as rédeas haviam-lhe escapado das mãos. Pátroclos aproximou-se dele e feriu-o com a lança à direita da mandíbula, furando-lhe os dentes. Fisgou-o com a lança e arrastou-o até a borda do carro, como se fosse um peixe, até que foi atirado de bruços, e seu espírito o abandonou. Então, Eurilaus investiu contra o filho de Menoécios, que o feriu em cheio na cabeça, com uma pedra, depois de ter parado os cavalos, pois ficara sem dardos. O crânio de Eurilaus se abriu e foi esmagado dentro do pesado elmo. Ele caiu de bruços, e a Morte lançou-se sobre ele. Então, Pátroclos, ainda a pé, fez tombar, em rápida sucessão, Erimas, Anfóteros, Epaltes e Thepólemos, filho de Damástor. Então, matou Équios, Píris, Ifeus, Euipos e Polímelos, um após o outro.

Quando Sarpédon viu seus companheiros caídos no chão, todos mortos pelo terrível Aquiles, pois pensava ser Aquiles, admoestou com um grito os seus lícios:

— Que vergonha, lícios! Para onde fugis? Vamos, retornai, pois enfrentarei este homem, para conhecer a que ponto o valor do mirmidão o enobrece, que fez fraquejar os joelhos de muitos nobres guerreiros.

Assim falou e, com suas armas, desceu do carro. Pátroclos, quando o viu, também desceu do carro, à longa distância, desejando enfrentá-lo em combate singular, pois sabia que Sarpédon era homem nobre e muito importante baluarte de Tróia. Zeus, do alto do Ida, ao vê-los, encheu-se de piedade e disse a Héra, sua irmã e esposa:

— Ah! Este é o destino de Sarpédon, o homem que me é mais querido, morrer às mãos de Pátroclos. Meu coração é despedaçado pela dúvida, enquanto decido, se o retiro com vida de batalha e o levo para a Lícia, ou se o deixo cair agora.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:07

Terrível filho de Cronos, que pretendes? Salvar um mortal cujo prazo já faz muito tempo que venceu? Faze-o, mas de modo algum, os demais deuses aprovarão. Outra coisa dir-te-ei e deves guardá-la no coração: se mandares Sarpédon de volta à Pátria vivo, algum outro deus pretenderá fazer o mesmo, retirando da guerra seu filho. Eis que muitos filhos dos Imortais estão combatendo em torno da grande cidade de Príamos. Neles, irás despertar terrível rancor. Se, porém, ele te é caro e teu coração se apieda dele, deixa-o morrer lutando, mas, quando sua alma e sua vida o tenham abandonado, manda Tânatos e seu irmão Hipnos levá-lo à Lícia. Ali, seus irmãos e amigos lhe farão solenes funerais, com um túmulo e um monumento, pois esse é o quinhão dos mortos.

De repente, enquanto os gregos perseguiam troianos e aliados, e quando ainda Pátroclos e Sarpédon não haviam se enfrentado, Zeus mandou uma chuva de sangue sobre a Terra, em honra de seu querido filho, Sarpédon.

Pátroclos interpretou o augúrio como favorável e avançou contra Trasímelos. O mirmidão feriu o escudeiro de Sarpédon, no baixo-ventre, e seus membros fraquejaram. Sarpédon atirou seu dardo contra Pátroclos, mas errou, e a lança foi cravar-se no cavalo Pédasos na paleta direita. O cavalo relinchou, ao expirar a vida, e caiu no pó da terra. Os dois outros corcéis, que eram imortais, assustaram-se, e o jugo gemeu e as rédeas distenderam-se. Automédon, ao ver o desespero dos animais, resolveu libertá-los: sacou a afiada espada e cortou o cabresto do cavalo. Xantos e Bálios aquietaram-se e permaneceram à meia-distância.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:08

Sarpédon, de novo, deixou de acertar a reluzente lança: agora, a lâmina passou sobre o ombro esquerdo de Pátroclos e não o feriu. Pátroclos, por sua vez, lançou o bronze contra ele, atingindo-o no ponto em que o diafragma cobria seu coração. Sarpédon caiu, como um orvalho, e ficou estendido no chão, quase morto, diante dos cavalos e do carro. Assim como um animal atacado pelo leão faminto, Sarpédon, sob a chuva de sangue, gritava pelo nome de seu amigo:

— Glaucos! Glaucos, meu amigo! Ajuda-me, depressa, vem e faze os lícios lutar por mim. Vem defender-me, pois serei motivo de vergonha e uma desgraça para ti, se os aqueus me despojarem. Glaucos!!!

Tânatos, aproximando-se, envolveu-lhe os olhos e as narinas, e Pátroclos firmou o calcanhar em seu peito e tirou a lança de seu corpo, e o diafragma saiu com ela, arrancando-lhe, ao mesmo tempo, a lança e a alma. Então, a chuva de sangue cessou de cair.

Uma dor profunda caiu sobre Glaucos, mas nada pôde fazer senão apertar na mão o próprio braço, ferido pela seta de Teucros, ainda quando fora assaltar a muralha dos aqueus, e dirigir uma prece a Apolo:

— Ouve-me, Apolo, seja onde estiveres, atende a um homem em tal provação, àquele que apela para ti. Eis que sofro penosamente com o braço ferido e não posso empunhar a lança contra aquele homem. Sarpédon, o filho mais querido de Zeus, acaba de perecer. Nem mesmo ele pôde defendê-lo; pelo menos, cura-me e dá-me forças para convocar meus guerreiros e enfrentar o filho de Peleus.

Febo-Apolo ouviu-o e, num piscar de olhos, fez cessar as dores e estancou o sangue da ferida, enchendo o coração de Glaucos de vigor. Glaucos, percebendo a transformação repentina, regozijou-se e correu entre seus principais homens, incitando-os a combater sobre o corpo de Sarpédon. E, na mesma corrida, foi procurar Polídamas, Agenor, Enéias e Heitor.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:09

— Heitor, esqueceste inteiramente teus aliados, que, por vossa causa, estão perdendo a vida. Vós não estais dispostos a defendê-los. Meu primo Sarpédon, o chefe dos lícios, os melhores aliados de Tróia, está morto.

Espantaram-se e lamentaram-se os heróis. E Glaucos continuou:

— O terrível deus Áres matou-o usando as mãos de Aquiles. Vinde e resisti, resolvei que os mirmidões não o despojarão da armadura e mutilarão seu corpo, em seu rancor por todos os gregos que pereceram junto dos navios.

Os cinco guerreiros, baluartes de Tróia, sem perda de tempo, retornaram à guerra e abandonaram a covardia, liderados por Heitor. Neste momento, os gregos já haviam reconhecido Pátroclos mas alegraram-se pela investida do filho de Menoécios e de seus mirmidões. Pátroclos, porém, incitou os aqueus. Primeiro, dirigiu-se aos dois Ájax:

— Vós ambos, de nome Ájax, agora podeis vos regozijar com a defesa, mostrando-vos como tendes vos mostrado entre os heróis, ou ainda mais bravos. Jaz morto Sarpédon, o primeiro que galgou a muralha que construímos. Oxalá possamos capturar, mutilar seu corpo, despojá-lo da armadura e matar o guerreiro que o defende bravamente.

E partiram para o combate, a fim de tomar posse do corpo de Sarpédon. Encontraram-se, gregos e troianos, e lutaram pelo corpo do rei da Lícia, com alarido ensurdecedor. Alto retiniam as armaduras dos homens. Zeus, então, lançou a calamitosa Noite sobre a furiosa luta, para que houvesse as provações da árdua batalha sobre seu querido filho.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 4/3/2021, 03:10

O mirmidão Epigeus, filho de Ágacles, ao tocar o cadáver, foi ferido por Heitor na cabeça com uma pedra, e seu crânio rompeu-se e ficou esmagado dentro do pesado elmo. Caiu de bruços sobre Sarpédon. Pátroclos, vendo seu camarada sucumbir, apoderou-se dele uma dor terrível, e ele investiu contra os troianos, como um falcão. O herói Pátroclos feriu no pescoço Estenelaus, filho de Itaemenes, com uma pedra, esmagando-lhe os músculos. Heitor e seus soldados recuaram um pouco, até a distância de um tiro de lança. Glaucos, reagrupando as hostes, deteve-se e matou Báticles, filho de Cálcon, o mais rico dos mirmidões. Feriu-o, no meio do peito, com a lança, quando, ao voltar-se, deparou-se com Báticles, que o perseguia. Báticles caiu com fragor e profunda dor se apoderou dos aqueus. E iniciaram também uma luta pelo seu cadáver.

Então, Meríones abateu Laógonos, filho de Onétor, que era sacerdote de Zeus no Ida e reverenciado pelo povo como um deus. Atingiu-o por trás da mandíbula e do ouvido. Sem demora, seu espírito abandonou os membros e a odiosa escuridão o dominou. Enéias arremessou uma lança contra Meríones, esperando atingi-lo no ombro, enquanto ele avançava. Meríones, porém, curvou-se para frente, e a lança foi enterrar-se no chão. Enéias, irado, de longe gritou:

— Meríones, esquiva-te como um dançarino; minha lança te teria imobilizado se tu não tivesses te mexido tanto!

— Enéias, por mais poderoso que sejas, é difícil abater o valor de todos os homens que te enfrentam, e tu também é mortal. Se eu te atingisse em cheio, embora sejas forte e confies em tuas mãos, me darias glória e tua alma ao deus Hades.

E Pátroclos, vendo-os trocando insultos, disse a Meríones:

— Hei, Meríones! Por que perdes tempo com palavras, bravo como és? Os troianos não serão rechaçados do cadáver com palavras ásperas. A guerra tem que ser feita com os bravos, e não com as palavras. Portanto, luta!
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