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A Guerra de Tróia

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Legolas
Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:56

E Pátroclos, obedecendo, saiu correndo entre as tendas e os navios. Enquanto isso, chegava Nestor com Macáon; Eurimédon, o escudeiro, ajudou a parar os cavalos e depois os tirou do carro. Nestor e os seus levaram Macáon para a tenda do velho rei, onde a escrava Hecamede preparou para eles uma bebida. Antes, porém, preparou a mesa. Na mesa, pôs um cesto de bronze com uma cebola como condimento da bebida. Pôs também mel e farinha de cevada, e uma bela taça ornada de tachões de ouro. Essa taça tinha quatro asas e duas pombas de ouro de cada lado e duas bases por baixo. Nela, Hecamede misturou vinho praniano e água, e ralou queijo de leite de cabra em cima, com um ralo de bronze, e espargiu cevada branca por cima. Enquanto esperavam pelos serviços de Hecamede, as servas cuidavam dos guerreiros, em especial de Mácaon, que estava ferido.

Depois, Hecamede trouxe-lhes a bebida. Saciaram a sede, confortados, Macáon em um leito e Nestor em uma cadeira, enquanto conversavam sobre os feitos no campo de batalha e os feitos de seus aliados gregos. Quando então apareceu Pátroclos à porta. Ao vê-lo, o velho Nestor levantou-se e tomou-o pela mão, convidando-o a entrar e sentar-se. Mas Pátroclos, porém, recusou:

— Não é ocasião para sentar-me contigo, venerável senhor, nem conseguirás persuadir-me. Reverenciado e temido é aquele que me envia para saber quem é o homem que trouxeste de volta ferido. Acabo de reconhecer o grande médico e guerreiro Macáon e vou imediatamente levar a resposta a Aquiles. Bem sabes, Nestor, como é violento o meu amigo, e com que rapidez culpa até o mais inocente dos homens.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:57

— Por que sofre tanto assim Aquiles pelos gregos feridos? Ele nada sabe sobre a nossa dor, a grande dor que impera no acampamento? Eis que nossos melhores homens se encontram feridos em seus navios. Diómedes foi ferido por uma seta troiana, Ulisses e Agamémnon pelas lanças inimigas. Eurípilos foi ferido gravemente na coxa por uma seta e este outro, Macáon, eu trouxe agora mesmo da batalha, também ferido gravemente na coxa por uma seta. Aquiles, porém, com todo o seu valor, ainda não sabe exatamente o que é compaixão. Estará ele esperando até que os navios sejam queimados e que sejamos todos mortos, um após o outro? Ah, se dispusesse ainda do vigor dos meus anos de mocidade, quando regressei vitorioso à casa de Peleus! Ah, eis que há muito surgiu uma pendência entre nós e os homens de Élis, por causa de um furto de gado, quando eu matei Itmoneus, valente filho de Hiperírocos, que vivia em Élis. Defendendo seu gado, ele foi ferido por um dardo lançado por mim, quando se encontrava nas fileiras da vanguarda, e caiu, e os camponeses fugiram em todas as direções. Reunimos nossa presa na planície, e grande era ela: cinqüenta rebanhos de vacas e outros tantos de carneiros, e não sei quantas varas de porcos e muitos rebanhos de cabras. Lembro-me que havia ainda cento e cinqüenta éguas castanhas, muitas com potros junto delas. Levamo-los para Pilos, em segurança, chegando à cidade de noite. Meu pai, o rei Neleus, regozijou-se ao ver que tanta coisa caíra em meu poder, apesar de ser tão novo na guerra. Quando a Aurora apareceu, os arautos convocaram, em altos gritos, todos aqueles que tinham dívidas na gloriosa Élis. Os principais homens de Pilos reuniram-se e fizeram a divisão, eis que os epeus prejudicaram a muitos, pois nós, em Pilos, sendo poucos, tínhamos sido vítimas de abusos. O valoroso Héracles, o filho de Zeus, aparecera e nos perseguira, há muitos anos, e matara todos os nossos nobres, pois éramos doze filhos do admirável Neleus e deles apenas eu fiquei, e todos os demais pereceram.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:57

Pátroclos interessou-se pelas histórias de Nestor, e isto não era novidade. Qualquer homem cativava-se pela forma com que ele se expressava, e dificilmente não se detinha a ouvi-lo. Pátroclos escorou-se em uma mesa e continuou a ouvi-lo, pacientemente. Macáon a tudo ouvia, sem nada falar. Até as dores já não mais sentia. Então, Nestor continuou:

— Os epeus cobertos de bronze, em sua arrogância, desprezavam-nos e perseguiam-nos. O velho tomou um rebanho de bois e um grande rebanho de carneiros, escolhendo trezentos carneiros e seus pastores, eis que tinha uma grande dívida com Élis: quatro cavalos ganhadores de prêmios com seu carro, que tinham ido para conquistar um prêmio, que era um tripé, mas Áugias, o famoso rei daquele tempo, reteve-os e devolveu o condutor, lamentando a perda dos cavalos. O velho meu pai, irado com aquelas palavras e aqueles fatos, tomou para si uma presa ilimitada e o restante deu ao povo para ser dividido, afim de que nenhum dos seus homens ficasse cada um sem a sua parte. Discutimos tudo isso e oferecemos sacrifícios aos deuses na cidade, e, no terceiro dia, os epeus invadiram Pilos, em grande número com cavalos, a toda pressa, e, entre eles, os filhos de Mólion, ainda muito jovens, não ainda bem afeitos à fúria da guerra.

Nestor andava de um lado para outro e procurava lembrar-se de tudo que ocorrera há tantos anos:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:58

— Há uma cidade chamada Triessa, num íngreme morro, longe, sobre o Alfeus, cidade limítrofe da arenosa Pilos. Eles a sitiaram, ansiosos por capturarem-na. Quando atravessaram toda a planície, porém, Atena desceu do Olimpo, à noite, como um mensageiro, para que nos armássemos, e incitou o povo de toda Pilos, que se mostrava não receoso, mas ávido de guerra. Neleus, porém, não me deixou armar-me e escondeu meus cavalos, dizendo que eu não conhecia os labores da guerra. Mesmo assim, contudo, marchei entre os cavaleiros, embora a pé, já que Atena conduzia a luta. Há um rio chamado Minieus, que desemboca no mar perto de Árene. Ali, os cavaleiros de Pilos aguardavam a clara Aurora, e as hostes a pé para lá acorreram, em grande número. Armando-nos apressadamente, marchamos dali, ao meio-dia, para o sagrado Alfeus. Ali sacrificamos belas vítimas a Zeus onipotente e um touro a Alfeus e outro a Poseidon, mas a Atena sacrificamos uma vaca do rebanho. Depois, comemos, por companhias, no acampamento, e estendemo-nos, cada um com sua armadura, ao longo do curso do rio. Os epeus de forte coração cercaram a cidade, ansiosos por capturá-la, mas, diante deles, erguiam-se os árduos labores do deus Áres, pois, quando o radioso dia se erguia acima da terra, entramos na batalha, dirigindo preces a Zeus e a Atena.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:58

E continuou:

— Quando se travou a batalha entre pílios e epeus, fui o primeiro a matar um homem, o lanceiro Múlios, e derrubei-o de seu cavalo. Era genro de Áugias, tendo se casado com sua filha mais velha, Agámede, que conhecia todas as ervas que crescem. Quando ele se aproximou, feri-o com a minha lança, e ele caiu no pó. Subi ao seu carro e tomei lugar entre as fileiras da vanguarda. Os epeus fugiram, quando viram cair o homem que os comandava e era o melhor entre eles. Investi contra seus guerreiros como uma negra tempestade e tomei cinquenta carros e, ao lado de cada um, dois mortais morderam o pó, atingidos por minhas lanças. Então, eu teria matado os jovens filhos de Áctor e Molíone, se seu pai, o poderoso Abalador da Terra, não os tivesse livrado da batalha, escondendo-os numa espessa nuvem. Zeus, então, incutiu grande valor nos pílios, que perseguiram os inimigos sobre a vasta planície, matando-os e ajuntando suas armaduras, até que levamos nossos cavalos a Bouprásios, rica em trigo, ao rochedo Oleniano e ao monte de Alésion. Naquele lugar, Atena fez voltar as hostes. Lá matei o último homem e lá mesmo o deixei: os aqueus trouxeram seus velozes cavalos de Bouprásios para Pilos, e glorificaram Zeus, entre os deuses, e Nestor, entre os homens.

Macáon e Pátroclos entreolharam-se, surpresos e satisfeitos com o valor desse sábio príncipe de Pilos. E Nestor concluiu:

— Assim estive naquele dia, como sempre, entre os heróis. Aquiles, porém, tirará sozinho proveito de seu valor. Irá, penso eu, chorar muito, de agora em diante, quando as hostes perecerem diante de seus olhos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:59

E Nestor, dirigindo-se ao atento Pátroclos, disse-lhe:

— Caro amigo, certamente Menoécios deu-te estas ordens no dia em que te enviou de Ftia para junto de Agamémnon. Eu e Ulisses estávamos do lado de dentro e ouvimos bem as ordens que ele te deu no salão. Tínhamos ido à casa de Peleus, recrutando os homens através da fértil Acaia. Ali encontramos em casa o herói teu pai, e tu mesmo, e contigo Aquiles. O velho Peleus estava queimando no pátio os gordos quartos de um touro, dedicando-os a Zeus. Empunhava um copo de ouro, derramando o vinho espumejante sobre o sacrifício que se queimava. Tu e Aquiles preparavam a carne do touro quando chegamos à porta. Surpreso, Aquiles nos tomou pelas mãos e nos fez sentar, e colocou diante de nós as oferendas da hospitalidade, que são o direito dos hóspedes. Depois de termos nos deleitado com a comida e a bebida, falei em primeiro lugar, pedindo-vos para nos acompanhar. Ambos vos mostrastes dispostos, mas os pais vos deram ordens. O velho Peleus aconselhou seu filho Aquiles a se destacar acima de todos. E as ordens de Menoécios, filho de Áctor e teu pai, foram que, mesmo sendo tu mais velho que Aquiles, o pelida é mais nobre e mais forte, e deverias ser seu conselheiro e instrutor. Aquiles, em troca, te conduziria para o bem, afinal.

Pátroclos baixou a cabeça. Nestor continuou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:00

— Assim ordenou o velho, mas tu esqueceste. No entanto, agora mesmo podes dizer tudo isso a Aquiles, na esperança de que ele te atenda. Quem sabe se, com a ajuda dos deuses, poderás persuadir seus coração? A persuasão de um amigo traz o bem. Se em teu coração ele guarda alguma profecia e sua majestosa mãe revelou-lhe alguma, partida de Zeus, faze com que ele te envie com o resto dos mirmidões, na esperança de que possas ser uma luz para os gregos. E que ele te dê suas belas armas, para usá-las na guerra, a fim de que, tomando-te por ele, os troianos arrefeçam seu ímpeto e os belicosos aqueus possam se refazer. Eis que mesmo um pequeno descanso refaz as forças, na guerra. E facilmente poderão os que estiverem descansados repelir, das tendas e dos navios, para a cidade, os homens cansados com a guerra.

Assim falou, e incitou o coração dentro do peito de Pátroclos, e ele se encaminhou, entre os navios, para junto do filho de Peleus, Aquiles. Quando, porém, Pátroclos passou pelos navios de Ulisses, onde se reuniam as assembleias e onde se erguiam os altares aos deuses, ali encontrou Eurípilos, filho de Eusámnon, ferido na coxa por uma seta, que vinha da batalha, coxeando. O suor escorria-lhe pela cabeça e pelos ombros, e o escuro sangue manava do horrível ferimento.

— Infortunados chefes, estais condenados, longe de vossos amigos e da Pátria, em Tróia, a saciar os vorazes cães com a gordura de vossos corpos. Vem, Eurípilos, dize-me: poderão os aqueus conter Heitor ou perecerão em breve por suas mãos malditas?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:00

— Pátroclos, já não haverá defesa para os aqueus, e eles terão que cair entre os navios. Eis que aqueles que eram antes os mais bravos estão agora em seus navios, feridos pelos troianos. A força de Tróia aumenta sem cessar. Agora, ajuda-me, leva-me para meu navio; tira a seta de minha coxa e lava o sangue com água quente e, se possível, espalha por cima ervas medicinais que, segundo dizem, ficaste conhecendo por intermédio de Aquiles, o qual adquiriu seus conhecimentos de Quíron, o mais virtuoso dos Centauros. De nossos melhores médicos, Macáon está ferido, não pode curar-me, precisando ele próprio de bom médico, e Podalírios, seu irmão, enfrenta o áspero Áres na planície troiana.

— Como podem acontecer tais coisas? Que faremos, bravo Eurípilos? Vou levar a Aquiles uma mensagem do gereniano Nestor. Mesmo assim, porém, não te abandonarei em teu sofrimento.

E pôs o braço em torno dos ombros de Eurípilos, e levou-o para a sua tenda, no acampamento dos tessálios. Quando seu escudeiro o viu, colocou couros de boi no chão. Ali, Pátroclos fê-lo deitar-se e, com uma faca, cortou a aguda flecha cravada na coxa e lavou o sangue com água quente. Esfregou nas mãos uma raiz amarga e colocou-a sobre a ferida para aliviar as dores, e as dores cessaram. Então, a ferida secou e o sangue estancou.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:00

A LUTA PELA MURALHA

Os argivos e os troianos combatiam encarniçadamente. O fosso dos gregos e a larga muralha acima dele não pareciam destinados a resistir por muito tempo: a muralha fora construída para defesa dos navios e o fosso fôra escavado em torno dela, mas não haviam sido feitas valiosas oferendas aos deuses para que a muralha pudesse proteger os navios e a rica presa de guerra que ela cercava. Fora construída contra a vontade dos deuses e não resistiria por muito tempo. Enquanto Heitor viveu, e Aquiles ainda acalentava a sua ira, e a cidade do rei Príamos não foi saqueada, manteve-se firme a estupenda muralha dos gregos. A guerra e a fragorosa batalha rugiam junto da muralha, e as traves das torres retumbavam ao serem atingidas, e os argivos, dominados pelo flagelo de Zeus, foram rechaçados e ficaram encurralados junto aos navios, temerosos de Heitor, mas ele lutava como antes, como um vendaval. Heitor começou a incitar seus troianos ao atravessar o fosso. Os cavalos não se atreviam, e relinchavam alto, parando bem à beira, eis que o largo fosso os assustava, pois era fundo e as bordas a pique, e havia, na beira, estacas cravadas, altas e próximas umas das outras, com defesa contra o inimigo. Polídamas, aproximando-se de Heitor, observou:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:01

— Heitor, tu estás louco de conduzires os cavalos através do fosso. É muito difícil atravessá-lo. Pontudas estacas estão cravadas junto dele e perto fica a muralha dos aqueus. Não há possibilidade, aqui, de atravessar o fosso ou de combater com carros. O lugar é muito estreito, e acho que nos daríamos mal. Se Zeus, em sua ira contra eles, derrotar e quiser ajudar os troianos, oxalá isso acontecesse, mas, se eles avançarem de novo, vindos dos navios, e nós formos lançados para o profundo fosso, penso que nem mesmo um mensageiro poderia voltar à cidade, eis que os aqueus o impediriam. Vamos, façamos todos o que estou dizendo. Que os escudeiros detenham os cavalos junto ao fosso e que todos os infantes combatentes te sigam, formando um só corpo. Então, os aqueus não nos enfrentarão, se os laços da perdição os estiverem prendendo.

Suas palavras agradaram a Heitor. Sem demora, desceu do carro, com suas armas, e os demais fizeram o mesmo, quando viram Heitor descer. Cada herói mandou que seu escudeiro e áuriga mantivesse os cavalos junto do fosso e, separando-se e formando suas fileiras, seguiram seus chefes em cinco companhias.

A maior parte deles, os mais bravos, os mais ansiosos a romper a muralha e combater junto aos navios, seguiu Heitor e o admirável Polídamas. Cebríones seguiu-os como terceiro comandante. Páris, Alcátous e Agenor comandaram a segunda leva, e os dois filhos de Príamos, Héleno e Deífobos, comandavam a terceira. O terceiro deles no comando era Ásios, filho de Hírtacos, vindo de Arisbe, na margem do rio Seleis. A quarta leva era comandada pelo bravo Enéias, filho de Anquises e Afrodite, e, com ele, estavam dois filhos de Antenor, Arquílocos e Acamas. Sarpédon assumiu o comando dos gloriosos aliados e escolheu, para ajudá-lo, seu primo Glaucos e o belicoso Asteropaeus, que eram os melhores depois dele próprio. Após terem formado as cerradas fileiras, com seus escudos, rapidamente avançaram contra os gregos, dispostos a não se deter e a atacar os navios.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:01

Então, os outros troianos e famosos aliados obedeceram aos conselhos de Polídamas, mas não Ásios, que, não querendo deixar ali seus cavalos e o escudeiro que os guiava, avançou com eles contra os navios, louco que era, e nem era seu destino escapar à negra perdição e regressar dos navios à Ílion, glorioso em seu carro e com seus cavalos. Ásios conduziu os seus homens para a esquerda dos navios, quando os aqueus estavam se retirando da planície, com os carros e os cavalos. Através daquele ponto estavam eles conduzindo seus carros e cavalos, e Ásios encontrou abertas as portas: os homens as mantinham abertas a fim de que pudessem ir para os navios alguns camaradas que fugissem da batalha. Ásios dirigiu seus cavalos no rumo da porta, e seus homens avançaram atrás, dando altos gritos, certos de que os aqueus já não poderiam resistir e recuariam para os navios loucos que eram; encontraram na porta dois dos homens mais bravos, os príncipes lápitas Polípoetes, filho de Píritous, e Leonteus, semelhante a Áres. Os dois estavam de pé diante da porta. Quando viram Ásios e seus homens se aproximarem, não fugiram. Os seguidores de Ásios investiram contra a muralha; entre eles estavam Iámenos, Orestes e Ádamas, filho de Ásios, e também Tóon e Onomaus. Enquanto os dois lápitas lutavam dentro da porta, incitaram os aqueus a resistir diante dos navios, mas quando os gregos viram os troianos investindo contra as muralhas, um grito de terror deles se elevou. Aqueles dois, porém, avançaram para fora da porta e lutaram como javalis, rudemente e confiantes em si próprios. Os homens lançavam pedras das torres, defendendo-se e defendendo as tendas e os navios. As pedras caíam no chão e, às vezes, atingiam os escudos dos troianos. Raramente conseguiam atingir o alvo.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:02

Então Ásios, filho de Hírtacos, gritou:

— Ó Zeus, parece que te mostras falso, pois pensei que os dânaos não fossem resistir ao nosso poderio e aos nossos braços invencíveis. Semelhantes, porém, às flexíveis vespas ou abelhas, que fazem seus cortiços num áspero caminho e não abandonam sua oca morada e sim enfrentam os caçadores e protegem a prole, assim estes homens, embora sejam dois apenas, recusam-se a abandonar a porta, até que matem ou sejam mortos.

Assim falou, mas não comoveu o divino coração de Zeus, pois este pretendia glorificar a Heitor.

Os outros, porém, lutavam nas outras portas. Os argivos, embora desanimados, combatiam encarniçadamente em defesa dos navios, e todos os deuses que ajudavam-nos na luta sentiram tristeza no coração.

Então, o valoroso Polípoetes atacou Dâmasos coma lança, atravessando o elmo, com suas peças de bronze. O elmo não deteve a ponta do bronze que esmagou e perfurou o osso. Os miolos espalharam-se e assim morreu, apesar de sua bravura. Em seguida, Polípoetes matou Pilos e Órmenos. Leonteus feriu o filho de Antímacos, Hipómacos, atingindo-o no cinto, com a lança. Depois, sacando da bainha a afiada espada, avançou pela multidão de guerreiros e, em combate singular, feriu primeiro Antífates, que ficou estendido no chão e, logo, em rápida sucessão, abateu Ménon, Iaómenos e Orestes, que ficaram estirados na terra.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:03

Enquanto os despojavam de suas armaduras, os jovens que haviam seguido Polídamas e Heitor, que eram os mais numerosos e mais bravos, que mais facilmente poderiam romper a muralha e incendiar os navios, estes ainda hesitavam diante do fosso. Eis que, quando avançavam, uma águia voou sobre eles, cortando as hostes para a esquerda, segurando nas garras uma enorme serpente vermelha, ainda viva, sem desistir da luta, pois, contorcendo-se, mordeu a ave que a prendia no peito, perto do pescoço, e a águia, com a dor, largou a serpente sobre a terra, e ela caiu no meio da batalha, enquanto a águia fugia empurrada pelo vento. Os troianos estremeceram ao ver a reluzente serpente estendida no meio deles, um augúrio de Zeus. Polídamas aproximou-se de Heitor e disse-lhe:

— Heitor, sempre me censuras quando falo nas assembleias, ainda que eu dê conselhos, pois dizes que não é lícito que um homem do povo discorde no conselho ou na guerra, devendo sempre aumentar o teu poder. Ainda assim direi agora o que me parece ser o melhor. Não combatamos os gregos em torno dos navios, eis que acho que assim sucederá, se em verdade foi para os troianos que veio aquela ave, quando eles atravessavam o fosso, aquela águia, voando sobre as hostes para a esquerda, levando em suas garras uma enorme serpente vermelha, cor de sangue, viva, e ela a largou, antes de completar o percurso, não a levou para seus filhotes, e, assim, se com grande poderio rompermos as portas e a muralha dos aqueus, e eles cederem terreno, voltaremos dos navios pelo mesmo caminho, em desordem, deixando para trás muitos troianos, que os aqueus matarão com o bronze, defendendo seus navios. Assim interpretaria um adivinho os augúrios, e o povo o seguiria.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:03

Heitor encarou-o com desdém e disse:

— Polídamas, isto que dizes não me agrada. Sabes dizer melhores palavras que estas. Se em verdade falas o que pensas, os próprios deuses te privaram do juízo, eis que nos aconselhas a esquecer as ordens do tronante Zeus, as promessas que ele me fez e confirmou. Queres que nos guiemos pelas aves de compridas asas, que não levo em consideração, seja que voem para a direita, rumo ao nascente e ao Sol, seja que voem para a esquerda, rumo à escuridão. Obedeçamos à ordens de Zeus. Há um melhor augúrio: lutar por nossa Pátria. Receias a guerra? Ainda que nós sejamos mortos junto aos navios argivos, não deves ter medo de perecer, eis que teu coração não pode enfrentar o inimigo, nem é belicoso. Se, porém, fugires do combate ou se, persuadindo algum outro com tuas palavras, o afastares da batalha, morrerás sem demora às minhas mãos, ferido por minha lança.

Dizendo isso, avançou, e os outros o seguiram, dando gritos retumbantes, e Zeus enviou do monte Ida um sopro de vento que levou a poeira bem em direção aos navios, e perturbou o espírito dos aqueus e glorificou Heitor e seus troianos. Confiantes em seus augúrios e em seu poderio, eles tentaram romper a grande muralha dos aqueus. Esforçaram-se por derrubar os muros das torres e demolir as ameias e levantaram os pilares que os aqueus tinham cravado na terra para servir de suporte das torres. Retiraram-nos e esperavam quebrar a muralha dos aqueus. Nem mesmo então, no entanto, os gregos recuaram, e sim protegendo as ameias com couros de boi, delas atiravam projéteis contra o inimigo que chegava à muralha.

Os dois Ájax andavam por toda a parte na muralha, estimulando o espírito dos aqueus, falando com palavras mansas a um, com palavras ásperas a outro, sempre que viam algum guerreiro fraquejar diante da batalha:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:04

— Amigos, bons, maus e indiferentes entre os argivos, já que nem todos os homens são iguais na guerra, agora há labor para todos e, certamente, sabeis disso vós mesmos. Que nenhum homem que ouça o grito de guerra volte as costas para os navios, mas avance, e que todos estimulem uns aos outros, que Zeus Olímpico, o senhor do raio, nos permitirá repelir o assalto e obrigar o inimigo a fugir para a cidade.

E os gregos tornavam-se aguerridos. De lado a lado, então, voaram pedras, algumas contra os troianos, outras contra os gregos, e ao longo de toda a muralha elevou-se o fragor da guerra. Nem mesmo então teriam Heitor e os troianos rompido as portas da muralha, se Zeus não tivesse incitado seu filho Sarpédon contra os argivos. Sem demora, levantou o escudo, empunhou dois dardos e avançou como um leão contra os argivos refugiados em cima das muralhas. E ele disse a Glaucos, seu primo:

— Glaucos, por que somos honrados na Lícia, recebendo mais carne e taças mais numerosas? Por que todos nos olham como deuses e por que possuímos um grande domínio sobre as margens do Xantos, repleto de abundância? É por isso que devemos ocupar as primeiras posições e enfrentar a furiosa batalha, para que os lícios nos honrem e aprovem o fato de sermos seus reis. Se fugindo desta guerra pudéssemos nos tornar imortais, não lutaria entre os mais destacados nem te enviaria para a guerra, mas agora, quando dez mil ameaças de morte se erguem diante de nós, vamos, seja para glorificar alguém, seja para que alguém nos glorifique!

Glaucos juntou-se a ele para juntos avançarem, comandando a grande hoste dos lícios, e o grego Menesteus, filho de Peteus, sentiu um tremor ao vê-los avançar contra sua torre, levando a destruição. Menesteus, procurando algum dos chefes poderosos do exército grego, viu ao longe os dois Ájax. Sem demora, enviou o arauto Tootes:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:04

— Tootes, vai correndo procurar Ájax, filho de Télamon, eis que cedo a destruição cairá sobre nós, pois investem os lícios, que sempre foram ousados e valorosos na luta. Pede para que venha também Ájax, filho de Oíleo. Mas, se não puderem vir ambos, que venha somente o telamônio, acompanhado de seu irmão Teucros.

E o arauto saiu correndo ao longo da muralha dos aqueus e, parando diante dos dois Ájax, lhes disse:

— Nobres senhores da Salamina e da Lócrida, o filho de Peteus, de Atenas, vos pede para irdes lá, compartilhar seus labores, pelo menos até o tempo de amenizar a situação. Ide, de preferência, ambos, eis que a destruição cairá sobre nós, pois nos afrontam os lícios de Sarpédon e Glaucos. Se, por acaso, não puderdes largar ambos vossas posições, vai tu mesmo, Ájax, filho de Télamon, e leva Teucros para auxiliar-te.

Ájax, virando-se para o filho de Oíleo, disse-lhe:

— Ájax, meu amigo, fica aqui com o valoroso Licômedes e incita os gregos a combater com valor. Vou atender ao apelo de Menesteus e voltarei tão logo tenha prestado a devida ajuda.

Ájax e Teucros seguiram rapidamente o arauto Tootes para junto dos atenienses; acompanhou-os Pandíon, que levava o arco de Teucros. Ao chegarem lá, por dentro da muralha, viram os lícios que estavam assaltando o baluarte, e eles se lançaram ao combate.
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A Guerra de Tróia - Página 18 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:05

Ájax atingiu Épicles, companheiro de Sarpédon, com uma pedra pontuda, que se encontrava do lado de dentro da muralha, junto das ameias. Era uma grande pedra e despedaçou o elmo de quatro cristas de Épicles, esmagando-lhe o crânio. O lício despencou da muralha e caiu entre os seus. Glaucos, tentando escalar a muralha, foi atingido no ombro por uma seta do herói Teucros. Glaucos, ferido, teve que pular ao chão e obrigou-se a sair da batalha. Sarpédon se perturbou, logo que viu Glaucos atingido. Então, furioso, feriu Alcamáon, filho de Téstor, com a lança, e puxou a lâmina, fazendo o grego soltar um gemido, caindo de bruços. Sarpédon agarrou o parapeito com suas mãos poderosas, puxou-o, e ele cedeu: a muralha ficou desguarnecida por cima e ele abriu caminho para os seus lícios.

Teucros feriu Sarpédon com uma seta, no momento em que Sarpédon vangloriava-se de ter derrubado o parapeito. Mas Zeus protegeu seu filho contra o negro Destino. Ájax atingiu seu escudo, mas a lança não o atravessou. Sarpédon recuou um pouco e chamou os lícios:

— Lícios, por que afrouxais vosso valor? Apesar de todo o meu vigor, é difícil sozinho abrir caminho até os navios. Vinde, acompanhai-me de perto: quanto mais forem os atores, melhor será o espetáculo!

E os lícios, confiantes, obedeceram à ordem de seu comandante e cerraram fileiras em torno dele, mesmo ferido. Os argivos fortaleceram suas hostes dentro da muralha, impedindo os inimigos de penetrarem nas muralhas. E, de outro lado, Zeus concedia glória a Heitor, que seria o primeiro a conseguir atravessá-las. Com um grito retumbante, convocou os troianos:

— Erguei-vos, troianos, atravessai a muralha dos aqueus e lançai fogo aos navios!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:05

Os troianos ouviram-no, acorrendo como um só homem para a muralha e galgando as torres, empunhando lanças. Heitor pegou e levantou uma pedra que estava diante das portas, larga de um lado e pontuda de outro, muito grande, e lançou-a contra as duplas e pesadas portas. Duas traves presas dos lados opostos as sustentavam pelo lado de dentro e uma chave as trancava. Heitor atirou-a ao meio, entre as suas portas, e quebrou as dobradiças. A pedra caiu do lado de dentro, as portas ressonaram alto, as traves não resistiram e as portas se abriram, ante a força bruta, e o glorioso Heitor entrou, causando desespero aos gregos. Seus olhos brilhavam como o fogo, estava furioso e satisfeito, como nunca antes estivera. O filho de Príamos, voltando-se, ordenou seus troianos que o seguissem: rapidamente, o fizeram. Os gregos, apavorados, fugiram entre os navios e elevou-se infindo clamor. Parecia que esta seria a derrota dos gregos, contrariando todas as previsões.

A LUTA PELOS NAVIOS

Zeus, do alto do Ida, vendo que Heitor e os troianos estavam prestes a alcançar a segunda grande vitória, ali os deixou, para enfrentar incessantemente os labores e as provações, e afastou os olhos para longe de Tróia; olhou para a terra dos trácios e dos míssios, que também combatiam, e para os hipemolgos, e para os ábios, os mais justos dos homens. Não mais voltou a olhar para Tróia, eis que já não acreditava em seu coração que qualquer dos Imortais pudesse prestar ajuda, quer aos troianos, quer aos gregos, interferindo no seu destino.

O poderoso Abalador da Terra, contudo, não se descuidou de contemplar a guerra, sentado no mais alto pico da Samotrácia. Dali, todo o Ida se estendia diante dele e se estendiam diante dele a cidade de Príamos e os navios dos aqueus. Ele saíra do mar e fora sentar-se ali, grandemente irado contra Zeus pela sua indiferença aos gregos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:06

Sem demora, desceu da montanha, com passos rápidos, e as encostas e bosques tremeram sob seus pé. Com apenas quatro passos, chegou em Aigaia (Egéia), onde, nas profundidades do mar, estava construída sua gloriosa morada. Ali chegou e atrelou ao carro seus cavalos de patas de bronze e crinas de ouro. Vestiu-se de ouro, pegou seu chicote dourado, subiu ao carro e avançou através das ondas. Os monstros marinhos, Tritões e Tritônidas, reconhecendo o amo e senhor, saíram dos abismos e o rodearam; jubilosamente, o mar e as ondas se abriam diante dele; nem ao menos o eixo de seu carro majestoso umedecia-se. Assim chegou Poseidon a uma profunda gruta, entre Tênedos e Ímbros, próximo às praias de Tróade. Ali parou os cavalos, tirou-os do carro e deu ambrosia aos seus animais. Depois, amarrou suas patas com cadeias de ouro.

Os troianos investiam incansavelmente contra os argivos, seguindo Heitor. Esperavam tomar os navios dos aqueus e matar junto deles todos os mais bravos, naquele mesmo dia. Mas Poseidon subiu das profundidades do mar e incitou seus preferidos argivos, apresentando-se no aspecto de Calcas, o adivinho. Primeiro, dirigiu-se a Ájax, o telamônio, que já havia voltado a ajudar os seus salamínios, e ao outro Ájax, chefe dos lócrios:

— Salvai as hostes dos dânaos, ó filhos de Télamon e de Oíleo! Sede bravos, não penseis em recuar. Não receio os braços invencíveis dos troianos, que atravessaram a muralha, pois os aqueus hão de detê-los. Mas receio que algo nos possa suceder onde ataca Heitor, investindo furiosamente, vanglorioso de ser ajudado por Zeus. Ah, se algum deus incutisse em vossos espíritos a resolução de resistirdes aqui com firmeza e incitardes os demais!... Então, poderíeis expulsá-los dos navios, embora o próprio Olímpico o instigue.

Poseidon tocou-lhes com seu bastão, incutiu-lhes valor e poder e tornou leves seus pés e suas mãos. O deus fez tremer a terra, sumiu-lhes dos olhos, transformando-se num falcão. Ájax, filho de Oíleo, reconheceu-o:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:06

— Ájax, algum dos deuses Olímpicos se apresenta sob a aparência do adivinho Calcas e nos incita a combater. Reconheci-o, e isto é um bom sinal. Meu espírito anseia pela guerra e meus pés e mãos estão dispostos a suportar a fadiga da batalha.

— Também estou ansioso para empunhar a lança e defender os navios. Meu vigor se fortaleceu e meus pés tendem a mover-se rapidamente. Sou capaz de enfrentar Heitor, que investe implacavelmente.

Poseidon incitava os aqueus, que, na retaguarda, descansavam junto aos navios. Estavam fracos pelo cansaço e se encontravam desanimados, perdidos pelo avanço de Heitor. Pensavam eles que não escapariam à destruição. Poseidon entrou no meio deles e facilmente animou-os. O deus dirigiu-se, primeiro, a Teucros e a Leitos, a Peneleus e a Toas, a Deípiros, a Meríones e a Antílocos. Incitando-os, disse-lhes:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:07

— Que vergonha, argivos! Pareceis débeis crianças. Salvai os navios, pois, se fugirdes da guerra, terá amanhecido o dia de vossa derrota pelos troianos. Loucos, é um milagre o que vêem meus olhos, tal como jamais acreditei que acontecesse, que os troianos conseguissem atacar os navios, eles que antes eram tímidos como gazelas indefesas. Assim, os troianos não se mostravam dispostos a enfrentar os aqueus. Agora, porém, estão combatendo longe da cidade, junto dos navios, graças à fraqueza de nosso chefe e à pusilanimidade de nossos homens, que, irados com ele, não se mostram dispostos a defender-se, e estão morrendo. Ainda mesmo que a culpa recaia sobre o filho de Atreus, por ter insultado grosseiramente Aquiles, de modo algum podemos renunciar à guerra. Remediemos a situação, imediatamente. Já não vos é lícito, vós que sois bravos, afrouxar vosso indomável valor. Eu não disputaria com um homem que, sendo fraco, se retirasse da guerra, mas me aborreço por vós. Amigos, com essa frouxidão, sereis, em breve, presa de uma calamidade maior. Que cada homem, agora, se envergonhe e se disponha a lutar. Heitor combate junto dos navios, pois arrombou as portas e suas trancas, e logo sereis seus escravos, ou então morrereis.

E, convencidos da fraqueza que imperava sobre eles, os argivos se reuniram em torno dos dois Ájax. Eis que os escolhidos por bravura dispuseram-se a enfrentar os teucros e o glorioso Heitor. Os invasores avançaram formando um só corpo, e Heitor os conduzia com firmeza. Os aqueus enfrentaram-no vigorosamente, com espadas e lanças, e conseguiram fazer Heitor recuar, cedendo terreno. Heitor gritou aos seus guerreiros:

— Troianos e lícios, também vós, dárdanos, que combateis em filas cerradas, não cedais. Os aqueus já não me deterão, por mais que cerrem suas fileiras. Creio que recuarão diante de minha lança, se é realmente o maior dos deuses que me incita.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:07

Heitor, assim falando, levantou o valor e o espírito de cada um. Deífobos, filho de Príamos, avançou entre eles, sustentando o escudo. Meríones arremessou contra ele a lança, e não falhou, mas atingiu-o no escudo. A lança não o atravessou: sua haste quebrou-se na base. Então Meríones recuou, irado com sua vitória perdida e sua lança quebrada, e foi ao acampamento apanhar uma outra lança que lá deixara, em sua tenda.

Teucros feriu Ímbrios, filho de Méstor e genro de Príamos, pois casara-se com Medesicaste, uma filha bastarda do rei de Tróia. Jamais ele voltaria a rever sua Pátria, em Pedáon, e deixaria de ser tão honrado quanto os filhos de Príamos, daquele dia em diante. Teucros feriu-o abaixo do ouvido com a lança. O filho de Télamon retirou a lança, e o inimigo despencou como um freixo. Teucros desejou despojá-lo da armadura, mas Heitor atirou a lança contra ele, que esquivou-se, escapando da Morte. Aproveitou e fugiu. Mas Heitor não desistiu e feriu no peito Anfímacos, filho de Ctéatos e neto de Áctor: Anfímacos caiu e sua armadura retiniu sobre ele. Heitor apressou-se a retirar-lhe o elmo. E Ájax arremessou contra ele a lança, mas a ponta do bronze atingiu a saliência do escudo, e o impacto empurrou Heitor, que se afastou de ambos os corpos, que os aqueus arrastaram. Estíquios e Menesteus, comandantes atenienses, levaram Anfímacos para as hostes dos aqueus, e os dois Ájax levaram Ímbrios e o despojaram da armadura. O filho de Oíleo cortou-lhe a cabeça, pela morte de Anfímacos, e atirou-a rolando entre os troianos: ela foi cair aos pés de Heitor.

Poseidon encheu-se de ira por causa de seu neto Anfímacos e caminhou entre as tendas e os navios dos aqueus, incitando-os e tramando a perdição dos troianos. Dele aproximou-se Idomeneus, e Posseidon, tomando o aspecto e a voz do etólio Toas, filho de Andrémnon, disse-lhe:

— Idomeneus, conselheiro e chefe dos cretenses, em que se tornaram as ameaças que os aqueus dirigiram aos troianos?
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:08

— Toas, nenhum homem está em falta no momento, ao que sei, pois nós todos sabemos combater. Nenhum está dominado pelo medo covarde e nenhum, cedendo à repugnância, se esconde da guerra. Certamente, deve agradar ao todo-poderoso filho de Cronos que os aqueus pereçam aqui anônimos, longe da Hélade. Tu, porém, que sempre tens sido bravo e que incitas os que fraquejam, não te afastes da batalha sangrenta: dá ordens a todos os guerreiros.

— Ora, Idomeneus, oxalá jamais regresse de Tróia aquele que fugir à batalha, e aqui fique, para júbilo dos cães. Vem, toma as tuas armas e vai à luta. Devemos nos apressar, se quisermos ser úteis, embora sejamos apenas dois. Até mesmo a coragem dos covardes tem valor, e nós sabemos combater com os melhores.

Tendo dito estas palavras, o deus entrou na peleja dos heróis, e Idomeneus, chegando à tenda, apanhou suas armas e partiu para a luta. Seu companheiro Meríones encontrou-o, pois ia buscar uma lança na tenda.

— Meríones, filho de Mólos, por que vieste aqui, deixando de lutar? Foste ferido? Vieste procurar-me como mensageiro? Eu mesmo não desejo sentar-me à tenda, mas vou ao combate.

— Idomeneus, és tu? Venho aqui procurar uma lança, se ainda resta alguma na tenda. Eis que a que tinha antes se quebrou, quando a arremessei contra o escudo do insolente Deífobos.

— Se desejas uma lança, encontrarás pelo menos vinte dentro de minha tenda, encostadas na entrada; são lanças troianas que tomei dos que abati. Eis que eu não acredito em combater os homens a distância: assim, tenho lanças e escudos, elmos e couraças.

— Junto à minha tenda e ao meu navio, eu também tenho muitos despojos troianos, mas não estão perto para que eu possa buscá-los. E, juro-te, não me esqueci da bravura, mas luto entre os primeiros na batalha, quando começa o combate. Qualquer outro homem pode deixar de me ver combatendo, mas tu, creio eu, sabes muito bem.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:18

— Sei quanto és bravo. De que vale falar nisso? Se todos nós, os mais bravos, fôssemos reunidos em uma emboscada, teus fortes braços não seriam passíveis de censura. E se fosses atingido no combate, a seta não se cravaria em tua nuca ou em tuas costas, mas sim em teu peito ou em teu ventre, quando estivesses avançando para combater entre as primeiras fileiras. Não mais falemos sobre isso, porém, como crianças, para que ninguém se enfureça. Vai à minha tenda e tira uma para ti.

Meríones, depressa tirou uma lança da tenda de Idomeneus e o acompanhou ao combate. Meríones disse-lhe:

— Filho de Deucálion, onde desejas combater? Parece-me que os aqueus perdem mais guerreiros à esquerda das hostes...

— Há outros que protegem contra o inimigo o centro da linha dos navios: os dois Ájax e Teucros, que é o melhor dos arqueiros. Eles podem rechaçar Heitor. Vai ser difícil, por mais ávido de guerra que seja, vencer o valor e os braços formidáveis dos gregos e incendiar os navios, a não ser que o próprio filho de Cronos lance o infortúnio aos navios. Ninguém fará recuar o grande Ájax, nenhum mortal que se alimente com o grão de Deméter, que possa ser ferido pelo bronze ou por grandes pedras, Ájax não seria vencido nem mesmo por Aquiles: não seria vencido em combate singular, pois, na velocidade dos pés, nenhum homem pode competir com Aquiles. Iremos para a esquerda do exército, para que possamos saber se glorificaremos alguém, ou ele nos glorificará.

E Meríones, ansioso, correu na frente. Quando, porém, os troianos viram-nos aproximar-se, um grito se elevou em suas fileiras e todos correram sobre eles, e travou-se acirrada peleja.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 03:18

Assim, os dois poderosos filhos de Cronos lançaram dolorosas provações sobre os heróis, com propósitos diversos. Zeus queria a vitória de Heitor e os troianos, a fim de glorificar Aquiles, embora não desejasse que a hoste acaia perecesse inteiramente diante de Ílion, mas estava honrando Tétis e seu filho. Poseidon, porém, estava entre os argivos, estimulando-os. Estava mortificando por ver seus preferidos sobrepujados pelos troianos e sentia grande ira contra Zeus, seu irmão.

Idomeneus começou a incitar os gregos e, avançando contra os troianos, provocou-lhes medo, pois matou um homem que vivia entre eles, Otrioneus, de Cábesos, que chegara há pouco, ao ter notícia da guerra. Idomeneus visara-o com a lança e atingira-o quando ele avançava. A couraça não protegeu o inimigo, e a lança penetrou em seu ventre, e ele caiu morto. Idomeneus começou a caçoar dele:

— Otrioneus, exalto-te, acima de todos os mortais, se cumprires todas as promessas que fizeste a Príamos, que te prometeu a mão de sua filha. Também nós te faremos uma promessa e a cumpriremos: a de dar a mais bela das filhas de Agamémnon, trazendo-a de Árgos para casar-se contigo, se conosco saqueares a cidade de Ílion. Vem comigo, para que, a bordo dos navios, possamos tratar do casamento, pois não somos avaros com os nossos dotes.

Assim falando, Idomeneus arrastou-o pelos pés, no meio da batalha. Ásios veio protegê-lo, a pé, diante de seus cavalos, que seu escudeiro mantinha perto. Ele ansiava ferir Idomeneus, mas este era muito rápido, e feriu-o com sua lança no pescoço, embaixo do queixo, e empurrou a lança, cravando-se ainda mais. Antílocos, filho de Nestor, vendo-o no chão agonizando, atingiu-o com a lança no meio da fronte. Arquejante, deu o último suspiro. O escudeiro e áuriga de Ásios pôs-se a fugir, e Antílocos levou os cavalos para as fileiras dos aqueus.
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