A Saga de Teseu

Mas o Destino preparara um áspero caminho para Teseus. Recuperar o trono de Atenas era um plano distante, improvável. Menesteus tornava-se um aliado de Micenas, que gabava-se de seu poder sobre toda a Hélade e perseguia os filhos de Héracles. Poucos seriam os que tomariam partido para que Teseus ou seus filhos pudessem recuperar o trono de Atenas. Teseus, então, era um hóspede indesejado. Era perigoso dar-lhe abrigo. E Licômedes, invejoso da reputação de Teseus seu hóspede e corrompido pelos inimigos, levou-o até o pico mais alto da ilha, alegando querer mostrar-lhe de cima as vastas propriedades que Teseus herdara. Enquanto Teseus percorria os campos com o olhar, o rei empurrou-o pelas costas e precipitou-o do alto do rochedo. No entanto, segundo o povo de Ciros, a notícia se espalhou de que ele mesmo teria se suicidado, depois de tantas provações, e ninguém se importou pelo seu fim. Em todo caso, este era o fim do famoso e legendário soberano da Ática, Teseus, que conseguiu escrever na História o seu nome como sinônimo de coragem, espírito de liderança, dinamismo e impulsividade.

Quanto a Aetra, sua idosa mãe, servindo a Helena em Esparta, sem imaginar que seu filho Teseus jamais fosse buscá-la, foi levada para Tróia juntamente com a princesa raptada pelo belo príncipe Páris. E lá permaneceu durante dez longos anos, até que seus netos, Acamas e Demofóon, acompanhando seu rei, Eléfenor, puderam reavê-la e recuperá-la no final de seus dias.

Durante a volta de Tróia, Acamas permaneceu por algum tempo na Trácia, juntamente com seu irmão Demofóon. Este, porém, decidiu lá permanecer, e Acamas, tomando a avó, Aetra, e o filho, Múnitos, resolveu voltar para a Hélade, mas seus navios foram empurrados para o nascente, a caminho da longínqua ilha de Cipros, onde fundou uma colônia.

Foi então que encontrou o caminho de volta à Pátria. Bom tempo depois, chegou na Ática, onde encontrou Atenas órfã, já que Menesteus, que havia ido lutar em Tróia, para lá não retornara. Assim, retomou o trono que outrora pertencera a seu pai, Teseus, lá reinou e morreu em paz. Múnitos, certo dia, durante uma caçada na Tessália, morreria picado por uma serpente.

Quanto a Demofóon, que havia permanecido na Trácia, casara-se com Fílis, filha do rei de Anfípolis. Desejando visitar Atenas, aonde reinava o irmão, ela lhe deu um cofre, recomendando-lhe que não abrisse senão depois de abandonar toda a esperança de voltar para ela. Demofóon retornou à Hélade e reviu sua Pátria, a Ática. Foi visitar Acamas e reencontrar a avó, Aetra, que ainda insistia em permanecer viva, apesar da idade. Decidido a ficar, recebeu por direito o trono de parte da região, governando Fáleros. Decorrido muito tempo, Fílis, desesperada de tornar a vê-lo, suicidou-se. Demofóon ansiou abrir o cofre, e o fez: cheio de terror pelo que viu, subiu ao cavalo e, de cima, se atirou sobre a sua própria espada, morrendo em seguida. Jamais alguém ousou descobrir o que havia naquele cofre.

Em Atenas, Teseus logo foi esquecido pelo povo ingrato. Muitos séculos depois, em 490 a.C., quando os atenienses tiveram que enfrentar os persas em Maratona, o espírito do grande herói brotou de dentro da terra e conduziu à vitória os descendentes de seus ingratos súditos. Certos de que se tratava mesmo do herói ateniense, decidiram consultar ao deus Apolo. Por isso o Oráculo de Delfos ordenou aos atenienses que apanhassem os ossos de Teseus e os sepultassem com todas as honras. Mas não sabiam onde encontrá-los. E, ainda que tivessem encontrado seu túmulo na ilha de Ciros, como haveriam de arrancar os seus restos das mãos dos bárbaros? Aconteceu então que o famoso ateniense Címon, filho de Milcíades, conquistou a ilha de Ciros numa nova expedição. Enquanto procurava atentamente o túmulo do herói nacional, avistou uma águia que esvoaçava acima de um pico. Parou e viu como a ave mergulhou e desfez com suas garras um monte de terra. Nesse sinal, Címon reconheceu uma ordem divina. Mandou, então, que escavassem o lugar. Nas profundezas da terra encontrou-se um grande caixão e junto dele uma lança e uma espada de bronze. Ele e seus acompanhantes não tiveram dúvidas de que tinham acabado de encontrar os ossos de Teseus. Era o ano de 473 a.C. Os sagrados despojos foram conduzidos a Atenas num navio de guerra e recebidos com júbilo. Realizaram procissões e sacrifícios, como se seu fundador houvesse regressado com vida de seu exílio. E assim, depois de muitos séculos, os descendentes dos velhos atenienses prestaram ao fundador da liberdade e da constituição de Atenas a homenagem que uma geração vil ficara lhe devendo.

Este foi Teseus, o segundo maior herói dos gregos depois de Héracles. Seu templo comemorativo, o Thission, se encontra ao lado da Acrópolis ainda hoje.

FIM