Mitologia vs Hermes

O CONHECER A SI MESMO!

Qual a origem, onde surgiu, citações, terras, povo, época, tal preceito na Mitologia? Existe uma parte da religiosidade dos helenos como esotérica, oculta ao povo em geral, até em que ponto difere da mitologia que nos chega como estórias conhecidas popularmente?

Dizia o filósofo Sócrates (470 a 399 a.C.): "A virtude é uma ciência; ninguém é mau voluntariamente. É preciso conhecer-se a si mesmo."

Quanto ao esoterismo por parte dos gregos, nada sei. Possivelmente houve, já que os gregos eram sensíveis à inclusão de outras crenças.

A inclusão de outras crenças era até comum entre os antigos, especialmente entre gregos, egípcios e romanos. Os gregos assimilaram na sua religião deuses frígios, trácios, cretenses, egípcios e fenícios; deuses estrangeiros que passaram a pertencer ao panteão helênico, como Zagreus, Bassareus, Ísis, Magna-Máter, Cíbele, Odrísios, Osíris, Adônis, os Cabiros, os Télquines, etc. Pra se ter uma ideia, o povo grego, especialmente os que habitaram a Ásia Menor, foi o povo que mais rápido se converteu ao Cristianismo, pois os gregos eram extremamente sensíveis às novidades, e as incluíam na sua cultura.

Por exemplo, o mito-histórico de Semíramis (assírio-babilônico), o mito de Píramos e Tisbe (assírio-babilônico), o mito de Adônis (fenício), o mito de Osíris (egípcio), o mito-histórico de Dido (fenício-cartaginês), o mito de Cacos (greco-latino), o mito de Ámon (greco-egípcio)... São alguns dos mitos estrangeiros inseridos na cultura grega. São mitos nativos relacionados com a Mitologia Grega. Há vários outros, que seria preciso fazer uma pesquisa. Obviamente que os personagens desses mitos levavam outros nomes nas suas regiões de origem; os nomes foram adaptados à cultura grega.

"Conhecer a si mesmo"...
Essa frase do Templo de Apolo, em Delfos, é bem curiosa.
Acredito que de uma certa forma seria para separar o mito da religião.
Poderia ser também interpretado como uma denotação, afirmando assim que para quem conhece a si mesmo o oráculo estaria presente dentro dele.
É bem curiosa, pois assim diminuiria a responsabilidade dos oráculos e dos deuses.

Com relação ao esoterismo, existia o orfismo, que era um culto separado, e dizem os estudiosos das guerras médicas que os espartanos eram extremamente superticiosos. A astrologia controlava a vida deles, inclusive, se não me engano, ne ocasião da batalha de Salamina eles negaram ajuda aos atenienses usando como desculpa a astrologia.

Parabéns, Hermes, por compartilhar conosco essa diversidade de mitos e um pouco de sua sabedoria.

Você é o deus da mitologia!

Não sou nenhum deus da Mitologia, não. O que sei é pura pesquisa, nada mais. O que realmente vocês podem me elogiar é a respeito de minha boa vontade de ajudar e compartilhar o que possuo. Mas, acreditem, eu tenho também um montão de dúvidas mitológicas, e muita coisa que gostaria de conseguir. Mas fico feliz que vocês estejam gostando dos meus posts. Isso só me faz participar ainda mais.

Legolas escreveu:Existe uma parte da religiosidade dos helenos como esotérica, oculta ao povo em geral

Na religião tradicional grega, aquela que já estava muito bem estruturada (vários séculos, talvez mais de um milênio) quando Homero escreveu suas epopeias, e que foi inúmeras vezes reafirmada em toda a arte e cultura grega, da estatuária à filosofia, poesia e música, os deuses não são "ocultos", secretos ou escondidos: apresentam-se claramente e atuam de forma tão emaranhada e sempre presente na vida e na concepção de mundo do antigo grego que, sobre isso, Wilamowitz, um ultra conceituado filólogo e helenista, cuja fama não o liga ao misticismo, disse que, para os gregos "Die Götter sind da", ou seja, "os deuses estão aí"... E, sobre magia, a religião grega, embora se valesse de oráculos, sacrifícios e, como toda religião, de rituais, não dá subsídios aos ritos e concepções mágicos, pois sua teologia é destituída desse fator, a ponto de outro renomado filólogo e helenista, Walter Otto, dizer que a religião grega e seus deuses superaram a magia.

Sobre o que você expressou, bem, há duas alternativas de "o que pode ser":
A primeira é o culto tardio de mistérios, certamente sincrético, místico, mágico, como os mistérios eleusianos ou órficos, ou a doutrina pitagórica, etc... o problema é que sua doutrina secreta, bem, era secreta (!): ainda hoje sabemos pouco sobre isso, alguns textos que tecem comentários sobre (como Platão), alguns objetos, papiros enigmáticos e inscrições desconexas... vai ter muito trabalho para achar algo sério sobre isso, mas charlatanismo, teorias conspiratórias e literatura discutível há aos montes...
E, sim, há um certo aspecto sombrio e místico interno à religião grega, especificamente ao culto das divindades ctônicas, remanescente de períodos arcaicos ou importado da Trácia... não há muito a respeito, mas algumas tragédias, como Medéia e a Orestéia tratam bem do assunto...

Em resumo, se quiser algo sério, encontrará muito pouco, pois tais elementos não são propriamente gregos...

No livro "A cabala", de Eliphas Levi, ele coloca os gregos em alguma parte do Ocultismo. Bem, algumas considerações:
- A natureza é móvel, está sempre em movimento e há tambem os contrários que gera o equilíbrio, "Toda verdade é meia verdade". Isso me parece puramente Heráclito de Éfeso.
Agora, em relação aos deuses:
- Os deuses foram "perdendo força" perante a razão. Isso não quer dizer que os conhecimentos atribuídos aos deuses são falsos. Era a maneira que o homem da época tinha para sistematizar suas dúvidas e sintetizar o conhecimento. Sem dúvida foi uma época brilhante. Entretanto, o próprio Heráclito falou muitas vezes de Deus e não de deuses. Heráclito limitava-se a identificá-lo com os opostos, os quais persistem apesar de suas mudanças e assim são capazes de compreender sua própria unidade.
Esse pensador pré-socrático contribuiu para a Sagrada Ciência ou não?

Heráclito é chamado "o obscuro" por seus contemporâneos (e outras gerações também) mais por sua escrita aforismática e poética do que pelo conteúdo de sua filosofia, que é bem mais clara do que a de Parmênides, por exemplo. Certamente ele exerce influências ainda hoje, logicamente na filosofia e afins, mas até na física... Qualquer alegada relação dele com algum tipo de ocultismo deve-se, novamente, ao seu estilo literário, não propriamente ao conteúdo de sua filosofia (aliás, de sua "fisiologia", já que o principal interesse dele e de outros era a physis).

A ascensão técnico/científica/filosófica, muito ao contrário do que se pensa, não entrou em choque ou contradição com a religiosidade tradicional grega: nenhum filósofo, astrônomo, engenheiro ou seja lá o que for grego admitiu publicamente ou professou algum tipo de ateísmo: mesmo Sócrates, condenado por impiedade, não apenas uma vez mencionou e bendisse os deuses, mas possui uma sutil profissão quanto a Apollo. Como disse, a própria religião grega NÃO conflita com o empirismo, com a razão, com a abstração. Essa contradição religião X ciência há no judaísmo/cristianismo, em que a fé, necessariamente, sufoca a razão e as evidências materiais.
Tanto que o vocabulário básico matemático, científico e técnico, ainda hoje, deriva da religião grega: por exemplo, a palavra "teorema", muito utilizada na matemática, vem de theos + rema, ou seja, "voz divina", "voz de deus".

Ah, mesmo Homero nem sempre menciona deus por deus, quando quer se dirigir ao conjunto, ou indicar contrastes ou semelhanças dos deuses com outras coisas (os homens, etc), utiliza "divindade", raramente "os deuses": é esse o sentido de "deus" nos pré-socráticos.

Na mitologia grega, há, além de deuses, personificações. Eu faço constantes confusões, não sei quem é quem ou se representam a mesma divindade. Poderiam, por favor, me ajudar?

Caos (Confusão) - Nix (Noite) - Érebos (Trevas inferiores) - Éros (Amor ígneo) - Fanes (Luz) - Géa ou Gaia (Terra) - Heméra (Dia) - Éter (Ar luminoso) - Úranos (Céu) - Úreas (Montanhas) - Póntos (Mar) - Móros (Destino adverso) - Tânatos (Morte) - Aerumna (Aflição) - Hipnos (o Sono) - Epífron (“o que reflete sobre o acontecimento”) - Caronte (o barqueiro dos Infernos) - Guéras (Velhice) - Oizys (Pobreza) - Poenía (Miséria) - Óneiros (Sonhos) - Forbétor (Pesadelo) - Momos (Sarcasmo) - Queres (Morte violenta) - Hipocrisia (Fingimento) - Ácis (Desgraça) - Hybries (Arrogância) - Apate (Engano) - Fílotas (Ternura) - Apetes (Engano) - Leza (Fúria) - Epífrone (Prudência) - Éris (Discórdia) - Ftonos (Inveja) - Autos (Egoísmo) - Sigê (Silêncio) - Kryerous (Frio) - Eufrósine (Benevolência) - Styx (Ódio) - Limos (Fome) - Kakas (Vícios) - Elpis (Esperança) - Pento (Tristeza) - Kedea (Pesares) - Lysímele (Amor) - Léton (Dissolução) - Ergo (Trabalho) - Aletéa (Verdade) - Crísis (Credulidade) - Tétis (Nutriz) - Hiperíon (Fogo astral) - Crios (Tirania) - Céos (Inteligência) - Leto (a Noite clara) - Astéria (a Noite estrelada) - Jápetos (Mortandade) - Brontes (Trovão) - Estérops (Raio) - Argés (Relâmpago) - Nereus (Velho do mar) - Taumas (Espanto) - Fórcis (Espuma do mar) - Ceto (Terrores do mar) - Euríbia (Fúria do mar) - Hália (Salinidade) - Erínia (Castigo) - Electra (Faísca) - Dóris (Dádiva) - Plexaura (Vento açoitante) - Galaxaura (Calmaria) - Clímene (Glória) - Calírroe (Belo-fluir) - Díone (Luminiscência) - Plutó (Riqueza) - Eurínome ou Eunônia (Abundância) - Menesto (Resistência) - Polidora (Dons) - Métis (Prudência) - Tóe (Velocidade) - Ocírroe (Mobilidade) - Urânia (Celestial) - Peitho (Sedução) - Calipso (Ocultamento)) - Leuce (Branca) - Petraia (Rochas) - Xante (Ruiva) - Zeuxo (a Corrida) - Tiqué (o Acaso) - Admete (a Indomável) -Iídia (Conhecimentos Mágicos) - Estige (a Abominação) - Clímene (Glória) - Néfeles (Nuvens) - Proteus (novo Oceano) - Astreus (Luzeiros do Céu) - Pallas (Belicosidade) - Pérses (Destruição)

Átlas (“o que suporta”) - Mênetos (“o que se vangloria”) - Epimeteus (Reflexão tardia) - Ancila (“a angulosa”) - Prometeus (Precaução) - Hélios (Sol) - Éos (Aurora) - Sélene (Lua) - Finifóron (Outono) - Eiar (Primavera) - Térus (Verão) - Químon (Inverno) - Anemoi (Ventos) - Bóreas (vento Norte) - Zéfiros (vento Oeste) - Nótos (vento Sul) - Euros ou Argestes (vento Leste) - Córos ou Círon (vento Noroeste) - Cécias (vento Nordeste) - Apeliotes (vento Sudeste) - Lips (vento Sudoeste) - Clóris (Flora) - Éris (Discórdia) - Ate (Erro) - Disnomia (Confusão) - Neikea (Litígios) - Androktasias (Carnificina) - Algós (Dor) - Limos (Fome) - Logós (Fofoca) - Ponós (Trabalho) - Himínias ou Isminas (Combate) - Pseudo-logoi ou Pseudéias (Mentira) - Nicéias (Litígios) - Amfilogie (Disputa) - Lethe (Esquecimento) - Disnômia (Desobediência às leis) - Máquias ou Makahi (Batalhas) - Kydoemos (Balbúrdia) - Fonós (Homicídio) - Horkos (Juramento) - Febe (Brilhante) - Mnemósine (Memória) - Nêmesis (Vingança) - e muitos outros, que precisaria fazer uma boa pesquisa.

E cada uma dessas personificações tiveram uma participação forte dentro da mitologia grega?

A maioria dessas manifestações, divindades ou não, não tiveram participação ativa dentro dos mitos. São consideradas divindades alegóricas, sem mito próprio. Porém, divindades como por exemplo Géa, Úranos, os Titãs, os Hecatônquiros, os Cíclopes, os deuses Olímpicos, as Ninfas, os Centauros, os Sêmones, e outros mais, tiveram sim participação forte dentro da Mitologia Grega.

Os gregos referiam-se aos seus sentimentos, seus atos, as forças da Natureza, ou até mesmo a própria Natureza, como divindades. Se, por exemplo, as Preces (Litês) não poderiam ser exatamente deusas, mas sim uma forma de se expressar, os gregos acreditavam que houvessem divindades que intercedessem por eles na hora de erguerem suas preces aos deuses maiores, como Zeus, Poseidon, Apolo, Héra, Deméter...

Portanto, acreditavam nas deusas Preces, no deus do Amor, no deus Sol, na deusa Lua, na deusa da Vegetação, na deusa Semente, na deusa da Inteligência, na deusa Virtude, no deus da Guerra, nos deuses Rios, nos deuses Montes, mesmo que muitas vezes sem um rosto ou um corpo próprios, mas tinham um nome, uma representação ainda que ilusória.

Só pra me tirar uma dúvida secular...

Quem era o Sol? Hélio ou Apolo? E se um era o sol, o que fazia o outro?

O mesmo tipo de dúvida quanto à Selene/Ártemis e Posídon/Ponto/Oceano...

APOLO foi deus da inspiração poética, em outras palavras "luz". Não tem muito a ver com o Sol propriamente dito. Foi confundida a sua atribuição. Acredito que o Colosso de Rodes era a figura de Hélios, e não de Apolo.

HIPERÍON, o titã, era a personificação e a divinização do Sol. Foi mudado no próprio Carro do Sol.

HÉLIOS, seu filho, passou a representá-lo conduzindo o Carro do Sol puxado por cavalos flamejantes. Depois que foi afogado pelos Titãs, foi posto entre os Astros, passando a exercer o ofício. Este sim era o pai de Faéton, que teve a infelicidade de servir de áuriga do Carro do Sol por uma vez.

Mesmo caso para Febe, Sélene e Ártemis.

FEBE, a titânida, era a própria Lua. SÉLENE foi sua condutora. E Ártemis, a deusa da caça, confundida com Sélene, foi considerada deusa lunar por ser irmã de Apolo.

E ainda tem Leto e Astéria, as representações da Lua Cheia e da Lua Nova, ou "estrela".

OCÉANOS, o titã, o Rio-Oceano, rio imenso (o maior deles) que circundava a Terra, segundo a noção ilusória dos gregos, desconhecendo que a terra era redonda, ou melhor, piriforme.

PONTOS, o mar (a onda marinha), seja o Mediterrâneo, seja o Egeu, seja o mar Negro. Passou a representar todos os mares, e cada um deles passou a ter um nome.

POSEIDON, o rei dos mares (e de todas as águas), cujo poder adquiriu de Zeus depois da vitória sobre os Titãs.

E ainda tem NEREUS, o "velho do mar", representando especificamente o mar Egeu; PROTEUS, como senhor do Mediterrâneo Oriental; e TÁLASSA (o mar, da forma que eu nem mesmo sei como definir).

Mas por que os mitos colocam Apolo conduzindo o carro do sol?

Eu entendo como Apolo sendo a luz no sentido de "inspiração", porque era um deus venerado por poetas e músicos. Se a ele foi atribuído o sentido de "áuriga" do Sol, por mim tudo bem. Só que temos que ler sobre os mitos: eu não conheço nenhum mito, ou alguma passagem, em que ele estivesse conduzindo o Carro do Sol.

A verdade é, para mim, que ele foi confundido com HÉLIOS.

Ele era adorado como rei da luz do dia e da luz do entendimento. Segundo os ideais gregos, era a divindade que conduzia o carro do Sol e possuía todos os aspectos mais sagrados e preciosos, era a representação da beleza, verdade, harmonia e inteligência.

https://apolofc.webnode.com.br/voc%C3%AA%20sabia-/