Umberto Eco

Imhotep escreveu:
Também li Q - O Caçador de Hereges. Encontrei-o casualmente em uma livraria e só mais tarde vim a saber que Luther Blissett era um pseudônimo. Em algum lugar li que os autores seriam quatro italianos, mas a informação era muito vaga.

Alguém saberia dizer se de fato aconteceram movimentos anarquistas heréticos da natureza descrita no livro, inclusive com a ocupação de cidades importantes, na primeira metade do século XVI?

De fato houve uma série de levantes na região norte da Europa, no período em questão. Muitos personagens são figuras históricas que combateram na onda de questionamentos religiosos que balançou o período. Mas não podemos nos esquecer que se trata de um romance histórico escrito no final do século XX e que, portanto, muito do que ali está corresponde ao que se passa hoje, no tocante a concepções e perspectivas políticas. A própria noção "anárquica" está muito mais relacionada à onda de movimentos que questionam o pensamento único nestas últimas décadas. O principal personagem, acredito eu, simboliza a busca por alternativas à barbárie neoliberal. Um militante solitário, que vai de cidade em cidade, de movimento em movimento, buscando formas de "quebrar" a lógica de um perverso sistema.

Estou com problemas para le o Pendulo de Foucault. É muito pesado. A linguagem rebuscada ao excesso.. estou torcendo para ele se tornar mais interessante.. aidna estou na pag. 30.

Realmente concordo contigo cara. Mas o legal do Eco é isso mesmo. Sua leitura é desafiadora.

Vai firme que o livro é muito interessante.

Erudição... mas aí é que tá a graça do peão!!!

De repente tu vai ver que não tem jeito de parar de ler, e no final do livro você vai até sentir saudades, e provavelmente vai acabar lendo o livro de novo.

Se é para iniciar, tenta A ilha do dia anterior que é um texto mais leve!

O início do Pêndulo, talvez suas primeiras 50 páginas, é realmente difícil. Eu achei isso e conheço pessoas muito inteligentes que têm a mesma opinião. Creio até que o próprio Eco optou por ser desse jeito. Tinha seus motivos. Mas vale a pena continuar! Esse livro veio a se tornar minha obra preferida do autor. Na verdade em dado momento chegou a ter um papel importante na minha vida. Felicidades na leitura!

Tenho muita vontade de ler esse livro, mas o respeito. Estou me habituando a Umberto, primeiro com Baudolino, depois com A Ilha do Dia Anterior (divertidíssimo) e agora com O Nome da Rosa (maravilhoso), para depois tentar o Pêndulo...

Alguém já leu o livro ''O enigma do quatro''? Peguei ele agora e ainda não comecei a ler, mas já fiquei intrigada com o que está escrito na contracapa.

"Caldwell e Thomason criaram um romance excepcional; uma mistura perfeita de suspense com uma história sensível e eletrizante. Se Scott Fitzgerald, Umberto Eco e Dan Brown se juntassem para escrever um romance, o resultado seria o Enigma do quatro.(...)"

Não sei quanto a Fitzgerald, mas Eco é muito melhor que Dan Brown.

Sim, é um tanto quanto forçada a comparação. Mas, se serve de curiosidade, "O Enigma do Quatro" gira em torno de um obscuro volume medieval chamado Hypnerotomachia Poliphili, que é o tema de dissertação do personagem do livro de Eco, A Misteriosa Chama da Rainha Loana.

Não sei se é loucura minha, mas vocês já repararam que a obra literária do Eco (acredito que toda ela) é marcada por divisões?
O nome da Rosa, não é tão claro, mas há uma certa divisão entre o começo da obra até o momento onde Adso passa a comprender (ou se confundir mais) com a heresia de Dulcino através das conversas com William e Ubertino.
Na ilha do Dia Anterior também, ha duas fases, uma que vem antes do padre Caspar e outra depois que a personagem descobre quem é o intruso.
No Pêndulo de Foucault... antes do plano e depois que ele passa a ser executado.
No Baudolino (talvez seja o mais evidente), a primeira parte mais histórica, e uma segunda parte a do Reino de Preste João mais fantasiosa.

Cada obra de Eco tem toda sua temporalidade própria (é so ver a divisão de capítulos do Nome da Rosa e do Pêndulo, incrível)... fora que ele começa num tempo, faz flashbacks, etc, enfim... é um grande escritor...
Mas já repararam como é marcada esta divisão em suas obras?

Outra coisa, eu acho Umberto Eco muito mais interessante como escritor de ficção do que como teórico de comunicação, vocês concordam?

Acho o semiólogo por trás do ficcionista mais rico e interessante do que o teórico desnudo.

Eu já conhecia o "Eco Ficcionista" bem antes de saber que existia o "Eco Teórico da Comunicação" (não me linchem... eu li O nome da Rosa com sete anos...) e sempre me senti como se estivesse perdendo alguma coisa, como se as histórias fossem mais longe do que eu conseguia ver, até ter acesso ao lado não-ficcional dele. O que me impressionou foi a capacidade dele de tornar a semiótica algo tão interessante quanto um romance, e tornar um romance um estudo de semiótica, então eu me divirto tanto com o material ficcional quanto com o teórico. O cara é muito bom mesmo...

Alquimista,

E aos dez aninhos você lia o quê? O Ulisses, de James Joyce?

10 anos é uma boa idade para começar a ler James Joyce.

Acho que uma boa relação entre eles talvez seja o ensaio dentro da obra ficcional. Percebo vários permeando o romance, como que um Eco assinando junto do outro. Faz também muito interessantes certos trechos da história, mesmo que lidos isoladamente. Isso, principalmente quando se conhece o Eco semiólogo.

Gosto dos dois. Acho "O Nome da Rosa" um primor, até por ser um bom exemplo de exemplos do que o autor discute teoricamente. Gosto dos primeiros livros teóricos e, claro, daquele que fica in mezzo del camino: Viagem na Irrealidade Cotidiana.

O que dá raiva no Eco é ele saber fazer as duas coisas tão bem! E ainda entender tudo de Idade Média!

Gostaria de saber se vocês conhecem outros livros, romances, etc, com contexto medieval. Gosto muito de ler a respeito deste perí­odo histórico. Por favor, me quebrem este galho...

Do Eco, que eu saiba, apenas "Baudolino" e "O Nome da Rosa". Mas existem escritores como Bernard Cornwell que tem duas trilogias sobre Idade Média ("Crônicas do Rei Artur" e uma de baixa Idade Média "A Busca do Graal" - se não me engano).

Vamos ver se serve:

"Confissões do Mosterio" de José Saramago, "O Cavaleiro Inexistente" de Italo Calvino, "Conde Belisario" de Robert Graves, "Os Bórgias" de Mario Puzo, e se eu lembrar mais postarei novamente. Gostei de todos, cada um no seu estilo.

Que romance é esse do Saramago?

Eu tenho quase toda a obra do Saramago e, salvo erro de que já peço desculpa, desconheço esse.
Dele, sobre tema medieval: História do cerco de Lisboa.

Se por acaso está a pensar no Memorial do Convento, tem a ver com D. João V, nada de medieval...

Tem outros autores portugueses que se estão dedicando ao romance histórico, sendo que por vezes tocam assuntos medievais: Fernando Campos, Seomara Veiga Ferreira (?), João Aguiar, Agustina Bessa-Luís, etc.

Recomendação: por que não tentar ler umas coisas sobre Inês de Castro? - há montes!!!

Não sei se alguém aqui já leu Isaías Pessotti. É brasileiro e tem excelentes romances históricos. Aqueles Cães Malditos de Arquelau, O Manuscrito de Mediavilla e A Lua da Verdade. Um sobre Idade Média, outro sobre Renascimento e outro sobre a Inquisição em Portugal. Gosto muito!

Boa dica!

Pessotti é fera! Também gosto muito de Aqueles Cães Malditos de Arquelau.

Recomendo também ''A conspiração franciscana'', de John Sack. Muito bom!