O Diabo na Encruzilhada

Alucard escreveu:
Sobre o pacto:

Na real, pra mim isso é um puta case de marketing pessoal!! Publicitários e marqueteiros, prestem atenção na história de Mr. Johnson!!! Mais de 80 anos já se passaram e as "lendas" ainda estão na boca do povo, hehehehe...

Só acho meio foda que tem gente que dá mais atenção pra este tipo de boato do que pra música e a técnica (esta sim) revolucionária do slide, que ele consolidou. Isso sim é coisa do demo. Assim, ele acaba sendo conhecido mais como uma figura folclórica e curiosa do que como o puta músico e violonista que era - com ou sem diabo.

Com certeza existe sim um puta Marketing em torno de tudo, sendo a figura mais "pop" do blues também, ahaha
Sobre o Slide e o músico acredito que a galera não esquece não viu, o blues de Robert é certamente o mais gravado até os dias de hoje, qualquer banda de blues tem mais de 5 no repertório e considero o cara lenda em todos os sentidos, musicalmente e folcloricamente falando....

Alucard escreveu:
A propósito, tem um filme, que obviamente a maioria já viu chamado Crossroads (não é o da Britiney, pelo amor de Deus) que conta essa história de Pacto na "encruzilhada", mas fala mais da vida de Willie Brown - que é o Seneca no filme... Lá no final aparece um duelo básico de Ralph Macchio (Karate Kid) contra Steve Vai... Sendo que Steve FEZ o pacto com o Exu-Caveira e o Eugene (Macchio) não...

ADIVINHA QUEM GANHA O DUELO???
- Aquele que preferiu o caminho mais dificil e recompensador ou o que teve preguiça e pediu pro Vermelhão dar o dom pra ele???

Paciência e Persistência meus queridos... assim que se ganha tudo nessa vida...

Eu pensei que o duelo fosse Steve Vai versus o Chimbinha.

E a historia de ajoelhar-se e uivar como cão antes de morrer, quem leu essa?

Essa é mais uma controversa história dele, está ligada à música Hell hound on my trial, se trata então de ele ter um cerberus ou um espírito maligno que ele compara com um cerberus, a interpretação é por conta de quem escuta, esses fatos eram espalhados por Son House, é bem fácil de achar na net e em materiais do próprio também, porém provar aí já é outra história!

Estão postando na área errada; ROCK NÃO É ARTE!

Gyodai escreveu:
Estão postando na área errada; ROCK NÃO É ARTE!

Babaca é elogio.

Conheço e aprecio muita coisa de Música Erudita. Realmente entendo bastante do assunto... E mesmo assim não troco Led Zeppelin por nada.
No fundo esse cara é apenas um zé mané (provavelmente fake) querendo causar polêmica.
Lamentável. Recomendo que o ignoremos e não deixemos o tópico desviar.

Da Artisticidade do rock.

O problema de qualquer discussão referente à musica englobar o Rock, é que o Rock não deve ser medido com os mesmos critérios que se utiliza para medir música erudita. O rock traçou seu caminho ao longo da história não buscando para si o título de música mas de anti-música, como reação, como protesto e rebeldia. Se analisarmos a pobreza melódica, a precariedade de arranjos e o amadorismo musical característicos do Rock, o depreciaremos na escala musical. Mas acredito que o critério para a análise do Rock seja outro, embora devo assumir que a anti-música não deixa de ser música, assim como a anti-arte dadaísta não deixava de ser arte.

Lembremos de quando Benjamin traça uma mudança de funcionalidade na arte, com sua reprodutibilidade ampliada; onde o carácter político se sobrepõe ao elemento aurático da obra. Pois bem, nascido no berço do entretenimento, o rock (no final dos anos 60 já atingia outros rumos), a reação da tradição contra a corrupção do jovens nos anos 50 já o tinha elevado à expressão da rebeldia juvenil contra a tradição, os mestres, os pais. Quando ocorrem os movimentos de 68, o festival de Woodstock, na figura de artistas como Lenon, Hendrix, Morrison, etc., o rock demonstra seu rosto, como expressão da rebeldia, da busca de novos rumos, da destruição dos velhos padrões, que será sua marca. Assim, traçando por este patamar, dentro do conceito de arte de Lukács, enquadraria o rock como arte. Embora assente que a questão mereça melhor estudo. Bem do final dos anos 60 passando pelo movimento punk do final dos 70, à onda sombria do post-punk, até a geração de Seattle, o Rock tem cumprido seu papel de enxergar o mundo e lutar contra suas contradições...

Da relação do Rock com a indústria cultural.

O Rock é por natureza político, político no sentido amplo, no sentido da irradiação das rebeldias, na crítica ao mundo existente e na busca por alternativas. Dentro destes 3 parâmetros podemos analizar o Rock, e em sua consciência ou não no decurso de sua pequena história.

Primeiro devo colocar que o rock sem rebeldia não é rock, rebeldia que pode se manifestar na simples negação do mundo, como uma crítica desiludida de mudança, como na proposta radical da mudança social. Se o Rock não contiver seu elemento característico, o que ele seria??? E digo, lixo cultural e estético.

Surgido no meio do entretenimento, o Rock não escaparia à sua assimilação junto à indústria cultural, e ela realmente se apropria de sua sonoridade, estética corporal e designação, lançando desde sua origem material destituído de conteúdo efetivo, enlatado a princípio pelas rádios, e depois massivamente pela televisão, estrelas que surgem, geram legiões de fãs e desaparecem ao relento após movimentar um mercado de cds descartáveis, camisetas com seu logo, e toda sorte de mercadorias. Será que podemos classificar o rock sem rebeldia ou portado de uma pseudorebeldia de Rock? Acredito que não.

Mas abro uma ressalva, o rock nunca deixou se englobar pela totalidade do mercado, e conseguiu abrir brechas para se manifestar, o que explicaria a criação de tantos estilos sonoros, quando outros já foram engolidos pelo grande capital. Sua força matriz sempre esteve dentro de garagens, bares sujos e na reação ao dito "pop". A fissura entre o Underground e Mainstream.

Da degeneração do Rock no pós-69.

Se o rock nasce como mera rebeldia juvenil, há um ponto que ele passa a direcionar esta rebeldia, quando a mesma juventude deve sofrer os horrores da guerra, em nome da defesa da pátria, da liberdade e da família, falo de todo movimento tumultuoso do final dos anos 60 e em específico à guerra do Vietnã. Foi no final dos anos 60 que o rock passa a buscar novas alternativas, que as guitarras se distorcem, que a ressonância aumenta, que novas experiências são feitas, que a rebeldia juvenil contra os pais, professores, tradição, se convertem na busca de uma nova sociedade, utopismos orientalistas, exotéricos, mas a busca de uma libertação sem limites, do corpo e da mente, a busca da paz paralela à luta contra a "moral escrava". Na recessão dos anos 70, com a incorporação midiática da estética deste rock, outra reação, acordes rápidos simplificados ao extremo, a incorporação da negação ao Estado, à Religião e ao "Sistema" (capitalista), a palavra de ordem anarquista que, mesmo sem reflexões alongadas se disseminou dos subúrbios londrinos, ao ABC paulista, onde se ligou ao movimento operário.

Os anos 80 já traçam uma crise deste movimento que já poderia ser sentida em seu germe na figura de Joy Division. Todo o grito punk começa a perder a visão de transformação, e o homem se encontra só em um mundo desencantado, o que remete à fuga nas trevas e na fantasia. As causas diminuem de tamanho, chegando a ser a aceitação da diversidade sexual (How soon is Now), e a luta contra a intolerância religiosa (U2), como exemplos.

Movimento que leva até o grito desesperado e sem esperança da geração de Seattle (soy un perdedor, i´m a loser baby - Beck), que gera um fôlego até a metade dos anos 90. Nos anos 90 aumenta o refluxo da rebeldia no rock, que já traçara sua amenização nos anos 80, paralelo a incorporação cada vez maior do império da indústria culural. Chegando aos anos 2000, sem muita diferença, onde massivamente as novas bandas já são incorporadas no berço ao padrão do mercado, e os últimos frutos que restam, descendem da tradição que passa pelos anos 60/70 e 80. Poderia me prolongar, mas deixo em abeto... esta questão merece uma análise mais esmiuçada que este esboço ensaístico.

Cachorrão escreveu:
E a historia de ajoelhar-se e uivar como cão antes de morrer, quem leu essa?

Essa é mais uma controversa história dele, está ligada à música Hell hound on my trial, se trata então de ele ter um cerberus ou um espírito maligno que ele compara com um cerberus, a interpretação é por conta de quem escuta, esses fatos eram espalhados por Son House, é bem fácil de achar na net e em materiais do próprio também, porém provar aí já é outra história!

A história que eu sei é que ele passou a última semana de vida andando e uivando como um lobo e que morreu de tanta dor por isso.

Ele começou a ter alucinações de cães latindo e etc., e morreu, agora a ''causa mortis'' não sei dizer se foi pelo envenenamento; mas pode ter relação de alucinação com um remédio e etc.

Ele não passou uma semana uivando, isso é mentira.

A "verdade" é bem complicada porque no blues as histórias se misturam com os mitos!
Eu acredito que ele morreu vítima de pneumonia causada por um envenenamento por estricnina, mas nada será confirmado porque Robert Johnson é cercado por lendas!
Acredito que ele hoje está na estrada tocando seu violão com Sonny Boy Williamson!

Cachorrão escreveu:
E a historia de ajoelhar-se e uivar como cão antes de morrer, quem leu essa?

Essa é mais uma controversa história dele, está ligada à música Hell hound on my trial, se trata então de ele ter um cerberus ou um espírito maligno que ele compara com um cerberus, a interpretação é por conta de quem escuta, esses fatos eram espalhados por Son House, é bem fácil de achar na net e em materiais do próprio também, porém provar aí já é outra história!

O Robert Johnson gravou ''Hellhound on my trail'' que significa ''Cãos do inferno no meu caminho''. Pode ser que ele já sabia que a hora da sua morte tava chegando.

Sobre ele ver cães ''demoníacos'' e afins, acho isso muita lorota. O cara até podia ver, mas isso, pra mim, não passa de esquizofrenia.

Não faço ideia sobre a veracidade dos inúmeros fatos e especulações que giram em torno de Johnson, sei que eles criam uma aura de mistério que serve de terreno fértil para a imaginação, no entanto o que para mim de fato interessa é que sua música é algo inexplicável e incomparável. Se é de Deus ou do Diabo, não sei, sei que pra mim me põe em contato com o que tenho de melhor. Como ele morreu sempre será uma dúvida; o fato é que ouvi-lo me faz sentir mais vivo.

A história da encruzilhada é uma grande mentira... boatos que espalham para fazer causar uma polêmica sobre o artista, o que pode atrair a atenção de alguns e causar o repúdio de outros. Naquela época era muito comum essa temática do blues. Robert Johnson era um grande músico, um dos maiores de todos os tempos para o blues, apenas as coincidências do dia de sua morte onde não havia médico para atestar a causa levam as pessoas a criarem essas besteiras em torno do que houve, até porque eu não creio em nada disso pois sou agnóstico e acho que qualquer coisa em relação a Deus ou ao diabo uma grande baboseira.

O que o pessoal incrédulo tenta debochar com piadinhas céticas e sem nenhum compromisso com a realidade como tentam se fazer passar, o lance é o seguinte:
Não se trata de lenda fazer pacto com o diabo, mas é um fato inegável. Não podemos usar dos nossos valores e da nossa descrença sobre uma época que nem sequer imaginamos como foi. É fácil dizer isso ouvindo um som sofrível com a bunda encostava na poltrona apenas apertando o botão do controle remoto. Há de se pensar que Johnson era negro, viveu na época da grande depressão... qualquer um na mesma situação faria algo que acreditasse ser sua salvação e mudança de vida... Tocar como ninguém era um sonho que consumia muitos negros da época, mas, ao contrário do que pensamos, não era pela fama que a mídia proporcionava como nos dias de hoje, pois os negros não tinham chance de aparecer. Entretanto tocar bem significava ter lugar pra tocar, nas casas de blues dos negros, significava ter comida, ter uísque, ter mulheres que iriam se apaixonar pelo artista, ter sua fama entre o meio negro e virar uma lenda... Não se imaginava ter fama e virar lenda entre os brancos... Portanto, não se trata de lenda, pois pactos desse tipo era muito comum entre os negros, pois as suas vidas eram piores que o inferno. Um pacto como esse soa até poético... Quanto à causa mortis, pode ser de uma forma ou de outra, pois era muito comum brigas entre negros. Patton mesmo foi morto num bar esfaqueado após mexer com a mulher de outro negro... O importante para quem se diz gostar de blues é respeitar todo esse sofrimento, entender toda essa época de dificuldades e desgosto, blues não é uma musica feita sem experiência de vida pra baladeiros... Pain created to heal pain... Se você ouvir o blues e não sentir a dor, procure ouvir outra droga de música que não te toca na alma e, por favor, deixe o Blues em paz...

Aconteceu também com Blind Lemon Jefferson (cego foi encontrado no meio da rua morto e congelado), o John Lee Sonny Boy (assassinado), o Little Walter de forma violenta, o Scrapper Blackwell (assassinado). O racismo nojento dos brancos sulistas. Hoje não se vive o blues como eles viveram...

Mas acredito que ele morreu envenenado mesmo.
Ele foi fazer uma apresentação no Three Forks e o dono do bar, marido da mulher que ele tava pegando, deu uma garrafa de whisky aberta pra ele. Curiosamente, quem tava lá também era Sonny Boy, outro tocador de blues, que jogou a garrafa no chão para que Robert não bebesse. Mas Robert brigou com Sonny Boy avisando para nunca mais fazer isso, e bebeu outra garrafa aberta dada pelo dono do bar. Alguns dias depois ele morreu de pneumonia.
O problema era com as mulheres que ele mexia, tinha que saber qual mulher podia pegar e qual era ''perigosa''. Ele não sabia disso, e diversas vezes entrou em confusão por causa disso. Porém dessa vez foi fatalidade.

Diz a lenda que ele morreu uivando como um lobo, mas essa história de que o Robert morreu envenenado por um marido ciumento realmente tem uma certa credibilidade, ele era extremamente preocupado com a aparência e fazia sucesso com as mulheres, então...

Sobre o pacto, eu ouvi falar que quem espalhou a história foi o Son House na década de 60.

Acredito que ele foi envenenado pelo dono do bar que estava com ciúmes de sua mulher, e acredito pois foi o Sonny Boy Williamson que avisou o Robert Johnson sobre o veneno na bebida, e isso o próprio declarou que avisou...

Eu acredito que é verdade a história que ele vendeu a alma para o demônio em uma encruzilhada, e em troca ele tocaria bem o violão, ele até fala sobre isso na música Crossroads e na música Me And The Devil Blues.

Me and the Devil, ooh
was walkin' side by side
And I'm goin' to beat my woman
until I get satisfied

Esse papo de "demônio" na encruzilhada do Johnson sempre me lembrou e me remeteu muito aos queridos Exus, da Umbanda.

Eu tenho impressão de que esse tal demônio que o Johnson falava - a figura do cara de terno e chapéu na encruza - remete muito, muito mesmo aos Exus da Encruzilhada.

1. A questão das mulheres: Era uma vez RJ que pegou a mulher alheia, era uma vez RJ que foi pro saco.

2. Exu: Exu é um orixá, orixás são divindades das religiões provenientes do povo Yoruba (Candomblé e Voodoo). Exu é conhecido como "senhor das encruzilhadas" por ser quem faz a conexão entre o mundo espiritual (dos Orixás) e o terreno (o nosso) além de suas oferendas serem postas nas encruzilhadas. Por causa da aparência dele e da função os cristãos criaram a correlação com a imagem do demônio cristão (por puro preconceito). Esses nomes valem mais pro Candomblé, mas é só questão de nome mesmo, no voodoo que é o que é praticado no sul dos EUA orixás são voduns e Exu é Papa Legba. O voodoo teve grande influência no blues, mas por não ser bem aceito pela sociedade as citações são relativamente discretas, depois da geração de Chicago essas citações se tornaram mais evidentes pelo crescimento da liberdade religiosa.