O Diabo na Encruzilhada

Existe algum vídeo que aparece o Robert Johnson?

Não. Os únicos materiais confirmados são duas fotos.

Tem também uma suposta terceira foto de Johnson com Johnny Shines:

Racismo na música.

Primeiramente, digo que eu não estou aqui pra levantar bandeira de nenhum movimento, bem pelo contrário. Só quero deixar um desabafo, quem sabe alguém venha a ler isso.

Robert Johnson foi um ícone de rebeldia, um ícone jovem, um ícone negro.
Não sei se o Rock'n'Roll teria surgido sem a figura dele, não sei mesmo.

Sei que não teria surgido sem o Lindon Johnson e o Big Joe Turner, e depois ainda com o Ike Turner e o Fats Domino, e mais além ainda, com a entrada de tantas figuras como Chuck Berry, Bo Diddley, Little Walter, Muddy Waters, Little Richard, todos eles músicos NEGROS.

O Rock'n'Roll é um ritmo com raízes negras, e isso é inegável.

Mas essa história, realmente escrita, é posta de lado, e tu pode muito bem observar que a moda da juventude hoje, e isso ocorre principalmente em algumas cenas do Heavy Metal, e pior e mais ridículo ainda, dentro do Rockabilly, um ritmo com raiz declaradamente negra, é se vangloriar da cor da pele, de uma suposta superioridade racial, isso no BRASIL. E ainda fazem isso escutando Rock. Fazem isso vestindo a imagem do Rock, o que é mais doente.

Não sei se estou vivendo mentalmente em outra época, me importando com a origem das coisas, ou de como as pessoas se comportam, mas gosto de saber onde estou me enfiando, e tô percebendo que muita gente pensa assim. Muita gente mesmo. Algo tem que ser feito, e já tenho maturidade pra perceber que simplesmente partir pra violência é algo que não funciona mais, pois se funcionasse, já tinham parado com isso, de boa.

O que rola em relação á história do Rock é o pessoal ficar mordido, por que não consegue se identificar com músicos negros. Por isso mesmo a Sun Records literalmente "criou" o Elvis nos anos 50, colocando ele pra tocar músicas do Ike Turner e outros artistas negros que não tiveram a mínima vontade de destacar, e porra, foi muita gente que sacaneou em cima de uma figura. Tinham já artistas brancos, mas eles não eram bonitos, com jeito de bom moço tipo o Elvis. Não que o Elvis não tivesse talento, mas ele foi puro marketing da Sun Records. Isso aconteceu pro público branco da época poder se identificar com o som e o Sam Phillips, da Sun Records, poder vender mais discos.

Até já rolava no Jazz e no Blues do público quebrar a segregação nas apresentações, e as meninas brancas dançarem com os rapazes negros, e vice versa, nos bailes. Pode parecer pouco, mas pra época isso era horrível para as matronas racistas, era literalmente o fim do mundo. Por isso, as organizações racistas já caíam em cima dos donos dos bares, mas quando o Rock chegou, e as mamães e papais de bem viram suas meninas loiras malucas por artistas negros, que faziam danças estranhas no palco, a cultura racista não conseguiu manter mais controle.

Diz que nos shows, os jovens brancos que estavam no alto da arquibancada desciam pra perto dos negros pra poder dançar com eles e ficar mais perto do palco. A KKK, aqueles lances de WASP, Igreja e outros setores conservadores, todos caíram em cima. Por isso o Elvis teve que ir pro quartel e o Chuck Berry foi preso, foi perseguição.
Sem falar que o Rock, além de ter uma origem negra, foi produzido por judeus, turcos, e abriu portas pra latinos. Além de artistas negros, como o Sam Cooke, ficarem ricos, e poderem tomar conta do próprio negócio.

Enfim, postei tudo isso porque não tem razão uma abordagem racista dentro do Rock'n'Roll. E quando falo em racismo aqui, não estou falando de racismo calado, mas sim de racismo expresso mesmo, violento. É pura estupidez apenas. Isso que me deixa irritado.

Rola até na letra de Figth the Power do Public Enemy, eles falando sobre racismo à cerca de Elvis, não havia entendido muito bem o que eles queriam dizer, porque Elvis cresceu em uma igreja Batista (me corrijam se eu estiver errado).

E o interessante é que na mesma época, final da década de 50 e começo da década de 60, começaram a chegar imigrantes jamaicanos à terra da Rainha, e, ao contrário dos States, tiveram boa aceitação em partes, pois os Mods, uma cultura juvenil da época, já escutavam Ska, assim como Northern Soul, músicas negras. O que posteriormente veio a "criar" uma cultura que nasceu meio que junto com o som Reggae, os Skinheads, que eram os jovens proletários e filhos de proletários, que outrora foram Mods e gostavam das músicas citadas acima.

Hoje em dia eu já ouvi falar em Ska Nazi!!! Dá pra acreditar?!?!

Você tem toda razão!
Apesar da incontestável raiz negra, acredito que a música rock não tenha cor, nem bandeira!
As pessoas que levantam uma bandeira, do racismo e violência, é que são o pior da espécie humana!
Também acredito que o Elvis Presley só foi considerado "rei do rock" porque era branco!
Na minha humilde concepção, Robert Johnson ele sim é "REI" porque ele ouviu que não tinha talento, mas não se deixou se abalar!
Pra mim Robert Johnson é o REI...!!!

Tem também a molecada do Black Metal, que cultua o bosta do pinta do Burzum, ou os Boneheads. Até fãzinho de Guns and Roses, já vi uns que tem um ''Q'' de nazismo.

Masses Crusher escreveu:
Tem também a molecada do Black Metal, que cultua o bosta do pinta do Burzum, ou os Boneheads. Até fãzinho de Guns and Roses, já vi uns que tem um ''Q'' de nazismo.

Cuidado para não fazer generalizações.

Rock n' roll é música de preto!
O blues é pai do jazz e avô do rock, e quem não entender isso fica difícil.

A segregação racial dos EUA tem várias faces.
Eu já li numa entrevista do Clapton em que ele afirma que os brancos iam escondidos pra ver Muddy Waters, e os negros faziam a mesma coisa para ver o Elvis.

Alucard escreveu:

Masses Crusher escreveu:
Tem também a molecada do Black Metal, que cultua o bosta do pinta do Burzum, ou os Boneheads. Até fãzinho de Guns and Roses, já vi uns que tem um ''Q'' de nazismo.

Cuidado para não fazer generalizações.

Não não, não tava generalizando. Tava apontando que há uma cultura de racismo entre algumas pessoas nesse perfil, não que todo fã de Guns and Roses ou Black Metal é racista. NSBM, assim como temas de racialismo, supremacia branca, e o caralho, andam obtendo um certo sucesso entre essa gurizada.

Ser "politicamente correto" tá na moda agora. A maneira que encontram de radicalizar é ser "tradicionalista", não respeitar a diversidade, a liberdade de opinião, sexualidade e por aí vai. Já ouvi comentários do tipo "não gosto dos jovens de hoje que se vestem como negros". A pessoa se referia ao uso de brincos, tatuagens, drogas e por aí vai (como se isso fosse algo próprio apenas da cultura negra, nossa. O homem branco um santo, sempre comportado então?). Mais nova que eu, nesse perfil que apontei antes, de hard rocker e pá e pagando de matrona velha "tradicional".

"Os 'black metallers' provavelmente continuarão se drogando, 'chapando', e de todas outras formas agindo como o estereótipo negro; eles provavelmente continuarão a usar tatuagens tribais, vestir, andar, falar, olhar e agir como homossexuais, e assim por diante." - Varg Vikernes, Burzum

Isso como pode observar é um discurso que tem embasamento em determinadas figuras que essa gurizada idolatra.

Havia uma banda na Inglaterra que tocava Street Punk no final dos anos 70, uma banda muito boa diga-se de passagem, porém essa época foi quando começaram a falar que o Punk tinha morrido, e essa banda não teve apoio da Cena ainda que decadente, mesmo bandas como Sham 69 acabaram nessa época. Pois então, mais pra 81, 82 outras bandas como Cockney Rejects renasceram a Parada, agora chamada de Oi! (por ser uma gíria de 'ralé' londrina), e essa banda, a do começo, seu nome é Skrewdriver, e voltou com muito apoio da cena Nazi!! Partidos políticos de extrema direita como National Front. E essa banda antes 77 se tornou a maior banda nazi de todas, precursora que criou o termo White Power, intitulando sua música mais famosa, que soa como uma convocação de Guerra:

White Power, for England
White Power Today
White power for Britain
before it come's to late!

E de quebrada criaram o termo RAC, Rock Against Comunism, para se diferenciar da cena Oi! e Punk, que havia muitos mais apolíticos, mas também esquerdistas!

Por falta de quem apoiasse surgiu a maior banda Racista de todas, a primeira a encarar o racismo como movimento, e chamar soldados para a guerra!

Sobre o National Front,

O Ian Stuart era um zé ninguém, um fracassado, e foi usado como figura do National Front só pra atrair a gurizada pras alas do partido, assim tinham passe livre pra ser "skinheads" à maneira do partido, os chamados boneheads, que se observar bem é como fazem também muitos partidos hoje com a cultura Hip Hop, infelizmente (mas por falta de outra maneira de arranjar apoio, acaba cedendo, por uma questão maquiavélica, não no sentido de maldade, mas de esperteza, de se sobressair das adversidades).

O RAC agora passou a englobar mais que o Punk rock e o Hatecore. Os NSBM já se dizem RAC também.

Ian Stuart foi de um nada pra alguém considerado e com moral. TODOS que o conheceram diziam que ele era um cara com um puta carisma e que sabia como argumentar sobre suas ideias.

E ao contrário do Brasil, onde os NS (nacional Socialistas) são riquinhos fortões a fim de diversão, ou sei lá... lá nessa época, eram trabalhadores, operários, revoltados com a situação financeira do país, e por ver em suas ruas mais estrangeiros do que ingleses, e por pensar que eles roubavam seus empregos. O que torna esse pensamento racista ainda mais difícil de ser combatido! Eram a segunda geração desde que começou a imigração em maior número, e se eram operários filhos de operários, seus pais poderiam ter sido tradskins, o que nos leva ao fato de que não era um racismo hereditário e sim criado por ideias, concepções e conclusões próprias. Outro fato é que eles "não" eram racistas contra negros, e sim contra todo e qualquer imigrante de um país subdesenvolvido, ainda que europeu, eles tinham meio que uma ideia que nacionalidade e raça eram quase a mesma coisa! Tipo, quem era originalmente daquela Terra, eram os brancos. Logo quem não era Branco, não era dali.

Não estou justificando, apenas apontando fatos.

E tem também os chamados arianos solares, segundo alguns neo-nazistas.
Sério mesmo, eles tem uma defesa até pra isso. Sei que tem um teórico nazista (aliás, teórico white power ou sei lá o quê) inclusive que defende isso, então branco acaba sendo mais um sentimento do que uma etnia no nazismo atual. Doente.

Acho engraçado que eles chamam quem é anti-racista de racista, porque tem um suposto preconceito com a raça branca. Vê se pode essa.
Esse pós-modernismo é de matar.

Certíssimo! Hoje em dia é foda, eu tenho sorte de ter encontrado um grupo de pessoas (seleto) que entendem a essência do rock n' roll.

Você só esqueceu de mencionar Charlie Patton, que já fazia algum ritmo rock n' roll no seu blues...

O lance é fazer a propaganda contrária. Mostrar que o rock vem da música negra, que tem seu berço no seio da cultura negra. Não precisa sair por aí batendo em nazi, se fosse pra mudar, já tinha mudado há muito tempo atrás, o lance é tomar uma atitude. Segregar quem tem esse tipo de pensamento racista, que aliás adoram segregar os outros. É como diz a letra do som do The Specials, Racist Friend:
"If you have a racist friend
Now is the time, now is the time for your friendship to end"

Concordo que racismo velado também é tenso. Mas Racismo é algo não tão anormal de ser visto por aí, pois vem da nossa cultura imbecil que é racista, mesmo num país tão miscigenado quanto o nosso. Mesmo quando tomamos uma posição contrária, há sempre uma fagulha bem pequena de preconceito, que resiste provinda da nossa educação. O que mais muda esse sentimento é o convívio com a diferença, pelo que percebo.

Só não gostei do "fãzinho de Guns N' Roses"... Pô, eu curto Guns, na verdade curto MUITO!...

Mas entendi o que você disse cara, o preconceito é péssimo, de qualquer tipo... E acredite, eu sofro por gostar de rock (moro no interior) rs.... Mas enfim...

Mas acho que essa questão brasileira é que o Rock no Brasil é de predominância branca e isso é claro, não que seja preconceito, mas é diferente, para não dizer estranho, um negro que more em uma comunidade carente gostar de Blues, Rock, Metal e por aí vai... Não que eles não possam...

E o Heavy Metal, mesmo tendo raízes no Rock é uma música que nasceu na Europa (predominantemente branca), em países nazistas, soviéticos, fascistas, socialistas e por aí vai... Não é de se estranhar que músicas tenham algo sobre isso...

Mas realmente, qualquer tipo de preconceito é péssimo...

A propósito, vi muita gente aí defendendo o Eric Clapton, mas ele foi apoiador do National Front, da figura do Enoch Powell e fez diversos comentários xenofóbicos, e isso já me dá uma baita razão pra ter antipatia pela figura dele.

É da "cultura" nazista (se é que se pode chamar isso de cultura) usurpar características de outras culturas, como o conceito do arianismo e o uso do símbolo da suástica, ambos derivados de culturas orientais, e infelizmente acontece com o rock também... e dá-lhe usurpação nisso!!!!!

Tanto é que a maioria associa a suástica e o skinhead ao nazismo... Infelizmente é apenas uma parcela do que acontece na nossa sociedade, onde tudo se interpreta por cima, não se procuram os motivos... e eu não falo apenas de Brasil, pois isso acontece praticamente no mundo todo...

Os skinheads são o caso mais engraçado... Porque na realidade o movimento skinhead é de origem negra, ligado ao estilo musical reggae...

E a suástica é um símbolo hindu, que significa boas vibrações, bom espírito, que foi invertido... Tendo simbolicamente o significado oposto...

E não é só a ideologia nazista que "usurpou" coisas, na verdade todas as ideologias o fazem... Lembrando também que os nazistas se utilizavam de rituais pagãos das religiões européias antigas, não só como uma forma de resgatar a ideia da superioridade... Mas também para funcionar como outra ferramenta de lavagem cerebral e controle de massas...

Poxa, foi mal Kbr, mas tô me referindo a um grupo especial de pessoas, não a todo fâ da banda.

Na verdade não é só o Nazismo que tem esse comportamento, mas qualquer movimento ou linha política. É o chamado maquiavelismo, no sentido de criar técnicas pra que se arrebanhe um maior grupo de pessoas pra dentro dessas ideologias. Nisso, a esquerda também não foi lá muito santa não.

Sobre a cultura Skinhead, sinceramente, realmente teve casos de violência e intolerância, e a gurizada de hoje meio que passa um pano por cima, com medo de dar razão a esses Nazis. Isso aconteceu porque é uma cultura oras, não um movimento (o que eu não curto), com regras semelhantes à de uma ditadura. Não era imposto um modo de pensar, mesmo porque não havia ninguém controlando isso. Nem tem como controlar, se desenvolve e se espalha nas mãos de quem curte, impregnada de impressões pessoais (e não é algo ruim, mas acontece). E se analizar, a época em que se iniciou, tinha outro sentimento, outro comportamento. Problema que hoje a gurizada escuta mais Oi! que o som de raiz, que é o Early Reggae, Northern Soul, Rocksteady, Ska, e os outros ritmos que fundamentaram a cultura Skinhead. Não tô sendo conservador, mas já dá pra perceber que esse sentimento logo logo não vai ter muito em que se embasar, caso não haja a manutenção da tradição, para que em breve a figura do Skinhead tradicional não seja a de um Bonehead às avessas, o que eu chamo também de pilantra.

Analisando a cultura Skinhead, se percebe que foi o que aconteceu com o Rock. Se percorreu um caminho na música, em que afastou-se da raiz (nada contra essa evolução). É um caso diferente nesse aspecto. Mas conforme foi se afastando dessa raiz, a importância de manter essa chama acesa não foi valorizada. O Rock deixou de ser tocado nos bailes dos guetos negros, e de ser confraternizado dentre as classe mais humildes, pra ser acessado, como a gurizada aê falou, pelas classes mais altas.

Isso se deu com o início do Twist. Até as elites brancas das classes mais altas começavam a se embalar nos bailes. Não era mais uma coisa essencialmente negra. Nem era mais um som jovem, pois o rock também representou isso, o primeiro estilo de música que encontrou audição entre os jovens, e por ser de origem negra, causou desespero com os papais racistas. Semelhante às culturas Mod e Skinhead, na Inglaterra, foram bailes que promoviam uma integração entre negros e brancos.
Quando o Rock se popularizou com o Twist, a partir daê essa conotação anti-racista (mesmo que não exatamente intencional, mas que brotou naturalmente, através do convívio) meio que se perdeu. Claro que voltou a surgir, e com motivação política. Mas é a partir daí que deixa de ser algo tão essencial, tão perceptível.

Também não dá pra ser inocente que naquela época esse sentimento era tão abrangente assim. Dentro do Rock de raiz mesmo, haviam racistas. Não dá pra esquecer o exemplo do Johnny Rebel (Clifford Joseph Trahan) que se referia nas músicas de forma pejorativa aos negros.

Mas ao que realmente interessa: Pra mim a única forma de combater uma ideia é informando e boicotando quem merece ser boicotado, e mantendo próximos aqueles que têm a ideia correta, quem vai pelo caminho certo. É isso que muda, na minha opinião. Esse choque que é impor o respeito congregando quem importa e segregando quem adora segregar em nome dos preconceitos. Ó, isso também é Maquiavel, e aplicado em uma maneira correta de se aplicar. Só que eu desabafei porque queria ouvir mais opiniões sobre o modo de agir em relação a essa problemática.