O Diabo na Encruzilhada

Tom Severo escreveu:
Sobre o pacto, eu ouvi falar que quem espalhou a história foi o Son House na década de 60.

Porque ele tocava mal pra cacete, depois de pouco tempo voltou arrebentando e, literalmente, a galera comentou.

Eu gosto de imaginar essa questão do pacto como um pacto com o blues, a partir daquele dia ele iria ter que viver o blues, afinal, se for analisar a história dele, o Robert se torna músico itinerante depois de perder a esposa grávida, depois disso ele desaparece por alguns meses e volta very foda no violão e com história da encruzilhada e depois disso ele provavelmente foi a pessoa que melhor viveu o blues.

Gigaview escreveu:
O voodoo teve grande influência no blues, mas por não ser bem aceito pela sociedade as citações são relativamente discretas, depois da geração de Chicago essas citações se tornaram mais evidentes pelo crescimento da liberdade religiosa.

Mas no caso de R. Johnson era Hodu (Hoodoo), e não Vodu (Voodoo).

Pessoal, será que alguém conhece alguns precursores do Robert Johnson, que tocavam mais ou menos o mesmo estilo dele?

Tava afim de conhecer um pouco mais sobre os blues antigos, mas não encontrei quase nada sobre os músicos antes do Robert. Quem puder me ajudar, agradeço muito!

Abraços!

Acho que Son House seria o maior nome mesmo...

Cara...
É bem complicado falar sobre isso.

Acho que a influência dele é beeem regional mesmo.

Como Luiz Gonzaga aqui no Brasil. Não temos nomes artísticos assim, que os influenciaram.

Talvez artistas que nunca ouviremos falar... Que viveram e morreram no anonimato, seja no Mississippi ou em Pernambuco.

Ovelha,

Vou te dar informações corretas sobre o assunto: O Robert viajou muito e nessas viagens conheceu muitos músicos. O que ouviu em discos também formaram o estilo dele.

Suas canções e as raízes:

KIND HEARTED WOMAN: Influenciado por LEROY CARR
I'LL BELIEVE I'LL DUST MY BROOM: Baseado em SAGEFIELD WOMAN BLUES de KOKOMO ARNOLDS e MR. CARLS BLUES de CARL RAFFERTY
SWEET HOME CHICAGO: Baseado em OLD ORIGINAL KOKOMO BLUES de KOKOMO ARNOLDS
COME ON IN MY KITCHEN: Melodia baseada em SITTING ON TOP OF THE WORLD dos MISSISSIPI SHEIKS
PHONOGRAPH BLUES: similar a THAT NASTY SWING de CLIFF CARLISLE (este era branco).
32-20 BLUES: SKIP JAMES 22-20 blues
IF I HAD POSSESSION OVER JUDGEMENT DAY: Vem de ROLL AND TUMBLE BLUES de HAMBONE WILLIE NEWBERN
FROM FOUR UNTIL LATE: Similar a FOUR O'CLOCK BLUES de SKIP JAMES e TOM RUSHEN BLUES de CHARLEY PATTON
HELL HOUND ON MY TRAIL: Baseado em DEVIL GOT MY WOMAN de SKIP JAMES
MALTED MILK: Inspirado por LONNIE JOHNSON
TRAVELING RIVERSIDE BLUES: Vem de ROLL AND TUMBLE BLUES
LOVE IN VAIN: Baseado em WHEN THE SUN GOES DOWN de LEROY CARR
MILKCOW'S CALF: Inspirado em MILKCOW BLUES de KOKOMO ARNOLDS
WALKING BLUES: Vem de SON HOUSE

Como informação adicional, tem um CD triplo chamado: BEG BORROW OR STEAL - The origins, music and influences of Robert Johnson. Se você puder ouvir algumas das músicas citadas originais, entenderá tudo. Eu tenho várias delas e outras. Um abraço.

Son House...

Muito bom mesmo... um dos melhores do Delta Blues pra mim...
Além do mais, esse foi o mestre de Robert Johnson, o cara que Robert escultou desde criança... Eu gosto...
Por falar nisso, tô escutando ele agora!!!

Pra mim o blues é isso, incerteza, a neblina do misticismo... como a lenda que o primeiro blues foi feito por um cara que estava em um vagão de trem, tocando um violão com um canivete... sou apaixonado por blues, a muitos anos... blues sempre blues!

Me recordo também do grande Black Ace, que tocava com um copo com seu violão deitado sobre suas pernas! E também Booker White!
Pra mim todos eles são mestres!

Na história do blues, quanto mais se volta no passado, menos sabemos. Veja isto: Em 1933, o pianista Roosevelt Sykes gravou MR CARL'S BLUES com Carl Rafferty. Esta música contém as imortais linhas: I do believe I'll dust my broom, and after i dust my broom anyone my have my room. Mais tarde, Robert Johnson gravou Dust my broom com a letra modificada. Em 1951, Elmore James fez a versão definitiva que virou clássica. Em 1955 ele regravou a mesma música com o nome Dust my blues. No entanto, Son Thomas disse que os HOLLERS nos campos já cantavam esse tema muito antes das gravações. Isto é apenas um detalhe sobre uma música. Nunca saberemos tudo.

Sei que o tópico é sobre o Robert mas, como estamos falando dos pioneiros, antes dos bluesmen haviam os songsters. Cantavam baladas como John Henry e outras. O Henry Thomas, que só gravou 24 canções era um deles. Ouçam isso: Nos anos 60 o Canned Heat a gravou com outro nome e virou clássico!

O blues sempre nos surpreende... só a pouco soube que Bukka White era o tio do BB King!
Já ouvi uma história que Sam Chatmon era meio-irmão de Charlie Patton... nem sei se isso é verdade!

Alucard escreveu:
A propósito, tem um filme, que obviamente a maioria já viu chamado Crossroads (não é o da Britiney, pelo amor de Deus) que conta essa história de Pacto na "encruzilhada", mas fala mais da vida de Willie Brown - que é o Seneca no filme... Lá no final aparece um duelo básico de Ralph Macchio (Karate Kid) contra Steve Vai... Sendo que Steve FEZ o pacto com o Exu-Caveira e o Eugene (Macchio) não...

ADIVINHA QUEM GANHA O DUELO???
- Aquele que preferiu o caminho mais dificil e recompensador ou o que teve preguiça e pediu pro Vermelhão dar o dom pra ele???

Paciência e Persistência meus queridos... assim que se ganha tudo nessa vida...

O filme é muito bom... O lance do Steve Vai eu não curti muito, acho que deveriam ter mais convidados especiais... mais caras tipo Buddy Guy, Eric Clapton, Keith Richards (podia ser o guitarrista do diabo... ou o próprio diabo!), John Lee Hooker (acho que ainda estava vivo na época), Muddy Waters... iria ficar melhor ainda...

Você não entendeu a razão do Steve Vai participar...

Entendo que o Diabo mostrou estar, digamos, atualizado, com sangue novo, tendo o Steve Vai nisso o diretor do filme acertou em minha opinião.

O próprio Steve Vai gravou as partes do duelo com o garoto, menos as partes com slide, essas foram garavadas pelo Ry Cooder. Aliás, todas as partes com slide no filme foram gravadas pelo Ry Cooder. Enfim, o diabo estava renovando, procurando sangue novo, acho que é uma visão muito boa do filme. E eu acho que em relação à técnica, a escolha foi muito boa sim. Claro que Muddy, Clapton, Hooker são muito mais "bluesy" que o Vai, mas pra um duel jam, a escolha foi boa. Talvez o único que se encaixasse mais no papel fosse o Stevie Ray Vaughan. Mas aí é só a minha opinião.

Cachorrão escreveu:

Tom Severo escreveu:
Sobre o pacto, eu ouvi falar que quem espalhou a história foi o Son House na década de 60.

Porque ele tocava mal pra cacete, depois de pouco tempo voltou arrebentando e, literalmente, a galera comentou.

No DVD do Clapton tocando Jonhson ele explica como é difícil reproduzir o que o Johnson toca, e olha que o deus (Clapton is god) tá falando isso! haha...

Adoro a versão dele de Terraplane Blues com o Doyle Bramhall II (que slide cara, que slide) e de Kindhearted Woman... Clapton mandou muito.

Estava ouvindo a música Mississipi do Celso Blues Boy pela primeira vez e não acreditei na letra:

Houve um caso estranho
Há muito tempo atrás
Que até hoje se escuta falar

Sobre um desconhecido
Que depois virou um mito
E sumiu pra nunca mais voltar

Teria feito um trato
Numa encruzilhada
Pra tocar o blues como nunca tocou

Dizem que vendeu
Sua alma ao diabo
Que em troca lhe ofereceu

Say hey, hey
He wanted to be repete
The eternal king of the blues

O velho Mississipi
Ficou desconfiado
Até que se enfureceu

O meu filho preferido
Não tem trato com o diabo
O corpo e a alma dele são meus

O diabo não gostou
Mas como a água apaga o fogo
Teve mais é que se contentar

E no rio Mississipi
Nosso herói vive até hoje
Como o eterno rei do blues

A história do nosso mestre em uma música perfeita de um dos maiores ícones do Blues nacional... Uma homenagem e tanto, quem ainda não ouviu vai chorar quando ouvir, é simplesmente perfeita tanto pela música quanto pela letra, é indispensável conferir hehe.

Alucard escreveu:

Baphomet escreveu:
Robert pode só ter deixado 29 músicas, mas elas foram o suficiente para conquistar o mundo todo com seu Blues.

O músico deixou 29 composições, porém 41 músicas sendo 12 takes alternativos. O cara, além de só ter duas fotos, fez só duas sessões de gravação.

Robert Johnson gravou seu repertório em sessões no Mississipi e clássicos no Texas. As duas versões de Crossroads, por exemplo, foram registradas em Santo Antônio (Texas). Coube a ele escrever a música a caminho, em uma parada em Forth Worth.

Gigaview escreveu:
Eu acredito que é verdade a história que ele vendeu a alma para o demônio em uma encruzilhada, e em troca ele tocaria bem o violão, ele até fala sobre isso na música Crossroads e na música Me And The Devil Blues.

Me and the Devil, ooh
was walkin' side by side
And I'm goin' to beat my woman
until I get satisfied

Na verdade, Crossroads não tem nada de satânico, Crossroads fala sobre dar carona na época e tal. Agora quanto a "Me and the devil blues" tudo bem...

Quem são os melhores Covers do Robert Johnson?

Mandem todos que vocês conheçem.

Até agora pra mim é o Eric Clapton.

Eu acho que foi o Johnny Shines. Até porque viajou com ele. Tem também o Elmore James que foi influenciado por ele. No momento atual, é claro que o único músico que fez um trabalho inteiro (cd e dvd) sobre ele foi o Clapton. Os tempos são outros.

Eu acho que o Led Zeppelin fez um ótimo cover de Travelling Riverside Blues, e o Cream um ótimo Cover de Crossroads Blues.

O Clapton gravou um disco inteiro de covers do Robert Johnson em 2004, se chama "Me and Mr. Johnson"... fora os covers que ele fez do Robert Johnson enquanto estava no Cream, no John Mayall & the Bluesbreakers e etc...

Alucard e a todos, valeu pelas informações!