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A Guerra de Tróia

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Hermes Trismegistus
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:37

O cavaleiro gereniano replicou:

— Nenhum dos argivos ficará, então, irado com ele ou se negará a segui-lo, quando ele pedir ou ordenar.

Assim concluiu, vestiu a túnica e colocou sobre ela um duplo manto escarlate. Pegou sua lança de ponta de bronze, e saiu com o rei para junto dos navios dos aqueus. Então, Nestor chamou Ulisses, acordando-o de seu sono; este, mal despertando, saiu da tenda e perguntou:

— Por que caminhas só, através do acampamento, no meio da noite? Que aconteceu?

— Filho de Laertes, nutrido por Zeus, Ulisses de muitos ardis, não te ires, pois uma grande desgraça caiu sobre os aqueus. Vem conosco acordar os outros, pois temos que decidir se deveremos fugir ou travar combate.

Ulisses, ouvindo isso, entrou na tenda e pendurou nos ombros o escudo. Seguiu-os, e foram procurar Diómedes. Encontraram-no fora da tenda, com suas armas. Em torno dele, dormiam alguns de seus camaradas, com os escudos embaixo da cabeça e as lanças cravadas no chão. O herói dormia e sob ele estava estendido, no chão, um couro de boi, mas sob sua cabeça havia um brilhante tapete. O velho Nestor parou junto dele e acordou-o, esfregando com o calcanhar.

— Acorda, argivo. Por que dormes a noite toda? Não sabes que os troianos estão na fonte da planície, bem perto dos navios, e é pequeno o espaço que ainda há entre eles e nós?

Diómedes, meio sonolento, virou-se para ele e respondeu:

— Velho desgraçado, jamais descansas. Não há outros mais jovens que pudessem andar por toda aparte, acordando os reis? És intolerável, velho!

— Disseste bem, meu amigo. Disponho de muitos homens, e entre eles dois filhos admiráveis que poderiam incumbir-se deste encargo. Mas uma grave situação, porém, surgiu para os aqueus. O aperto é demasiadamente grande, para que eu ceda a outro o que me compete fazer. A ruína ou a salvação de todos pendem do fio de uma espada. Vai acordar Ájax e Méges, pois sois mais moços, se tens piedade de mim.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:41

E Diómedes, convencido, levantou-se e lançou sobre os ombros a pele de leão, empunhou a lança e saiu, e foi acordar os outros em suas tendas. Os três, então, reunindo-se aos demais, foram passar em revista as sentinelas, e nenhuma delas dormia: estavam todos os seus guardas acordados e atentos. Nestor rejubilou-se:

— Velai assim, meus filhos. Que ninguém seja dominado pelo Sono, para que não nos tornemos um motivo de alegria para os que nos odeiam.

Tendo dito isto, afastou-se, e com ele seguiram-no os outros reis, todos aqueles que tinham sido convocados para o conselho. Com eles foram Meríones e o filho de Nestor, Antílocos, pois os nobres os convidaram também. Atravessaram o fosso e sentaram-se na clareira, onde já não haviam corpos no chão, o mesmo lugar onde o valoroso Heitor regressara, depois da matança que infligira aos argivos, quando caiu a noite. Ali se sentaram. Nestor, o dono da situação, foi o primeiro a falar:

— Meus amigos, não poderia algum guerreiro obedecer seu ousado coração e penetrar entre os troianos, na esperança de que pudesse encontrar algum inimigo isolado ou extraviado ou ouvir algum rumor entre os troianos, acerca dos planos que estão traçando, se pretendem ficar aqui, junto dos navios, longe da cidade, ou voltarão para a cidade, agora que derrotam os aqueus? Tudo isso poderá descobrir e voltar para junto de nós ileso, e grande será sua glória sob o céu e entre todos os homens e terá uma nobre recompensa, eis que cada um dos nobres que comandam os navios lhe dará uma ovelha negra com seu cordeirinho e ele sempre participará de cada festim e de cada banquete.

Todos permaneceram em silêncio. Entretanto, ergueu-se Diómedes, o filho de Tideus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:42

— Nestor, meu espírito e meu coração me impelem a ir ao acampamento dos inimigos, que estão muito perto de nós. Se, porém, algum outro guerreiro fosse comigo, maior seria a confiança e maior a ousadia. Quando dois vão juntos, um reflete antes do outro, para proveito de ambos, ao passo que, embora um só possa refletir, seu espírito é mais lento e a resolução mais fraca.

Os dois Ájax, Meríones, Antílocos, Menelaus e Ulisses se declararam dispostos a segui-lo. Houve tumulto. Agamémnon, acenando para que se calassem, disse ao valente argivo:

— Diómedes, filho de Tideus, escolhe o companheiro que preferires, o melhor dos que se oferecem, eis que há muitos dispostos. Não vás, por modéstia, deixar o melhor e escolher o pior, olhando para sua origem, nem mesmo se ele for o mais majestoso.

Isto lhe disse, pensando em poupar o irmão Menelaus. Diómedes, ignorando a intenção do rei, disse-lhe, porém:

— Se me permites escolher o meu companheiro, como poderia eu dispensar Ulisses que, em todos os perigos, se revela um dos mais corajosos e, além disso, é o favorito da deusa Atena? Se ele for comigo, regressaremos mesmo de uma fornalha, pois é homem que dispõe de recursos como ninguém.

Ulisses, meio espantado, retrucou:

— Ora, Diómedes, não me elogies demais nem me censures: dizes estas coisas a estes que já me conhecem muito bem. Vamos logo, antes que amanheça. As estrelas já percorreram boa parte do seu caminho, e só nos resta a terça parte da noite.

— É, vamos.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:43

E armaram-se com suas terríveis armas. O pílio Trasímedes deu ao tidida uma espada de dois gumes, pois ele deixara a sua no navio, e um escudo. Em sua cabeça, colocou um elmo de couro de boi sem crista nem pluma. Meríones, filho de Mólos, deu a Ulisses um arco, aljava e escudo e colocou em sua cabeça um elmo de couro, reforçado de várias correias por dentro e por fora, de ambos os lados, ornado por fora com dentes de javali, e dentro era enchumaçado. Autólicos o havia furtado há muito tempo, em Eléon, de Amíntor, filho de Órmenos, quando penetrara em sua bem construída casa, e oferecera-o ao cipriota Anfídamas, em Escandeia. Anfídamas dera-o a Mólos, como prova de amizade, e Mólos dera-o a seu filho Meríones, para que pudesse usar em Tróade. E, agora, o elmo ajustava-se bem à cabeça de Ulisses.

Assim munidos, os dois partiram, abandonando os nobres e o acampamento. Palas-Atena enviou-lhes uma garça à direita, perto do caminho. Não a puderam ver, mas ouviram seu grito. Ulisses regozijou-se ao ouvir a ave e ergueu uma prece à deusa:

— Ouve-me, filha de Zeus portador da égide, tu que estás ao meu lado em todas as provações, nem posso mover-me sem teu conhecimento. Protege-me, mais uma vez, agora especialmente, Atena, e faze com que eu volte com glória aos navios, tendo praticado alguma façanha que perturbe os troianos.

Diómedes fez o mesmo:

— Agora, ouve-me, ó Atritônia, filha de Zeus. Segue também comigo, como seguiste uma vez com Tideus meu pai até Tebas, quando ele foi como mensageiro dos aqueus. Ele deixou-os em Ásopos e levou uma amável mensagem aos cádmios. Ao regressar, praticou grandes feitos com tua ajuda, deusa das deusas, porque estavas ao seu lado, pronta a ajudá-lo. Assim, digna-te de ficar também ao meu lado e protege-me. Oferecer-te-ei uma vitela de um ano, intacta, que nenhum homem tenha colocado sob o jugo. Será a ti oferecida por mim, com ouro nos chifres.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:43

A deusa ouviu suas preces. Então, ambos continuaram a caminhar, como dois leões, noite adentro, entre cadáveres, através das armas abandonadas na luta e manchando as sandálias do sangue dos corpos estirados pelo chão.

Mas, enquanto os aqueus estavam reunidos em assembléia, ainda antes de Ulisses e Diómedes partirem, Heitor não permitira que seus troianos dormissem, e convocara todos os nobres, todos os chefes e conselheiros de Tróia e seus aliados. Tendo-os convocado, concebera um bem traçado plano:

— Quem, agora, prometeria essa tarefa e a executaria em troca de uma grande recompensa? Dar-lhe-ei um carro e dois belos cavalos, os melhores que há junto dos navios dos gregos, àquele que se atrever a chegar até junto deles e saber se estão guardados seus navios, como antes, ou se, já sobrepujados, os aqueus pretendem lutar entre si e não se mostram dispostos a montar guarda à noite, vencidos pelo cansaço.

Assim falara, e todos ficaram em silêncio. Houvera, entre os troianos, um certo Dólon, filho de Êumedes, um arauto muito rico, feio de rosto mas muito veloz e hábil. Ele se dirigiu aos demais:

— Heitor, meu coração e meu valente espírito impelem-me a aproximar-me dos navios dos inimigos e fazer-me de espião. Agora, segura teu cetro e jura que me darás os cavalos e o carro que conduzem o admirável filho de Peleus, e não serei um espião inútil nem te decepcionarei. Atravessarei o acampamento até chegar ao navio de Agamémnon, onde certamente os nobres irão discutir se vão fugir ou combater.

Heitor empunhou o cetro e jurou perante todos:

— O próprio Zeus seja testemunha: que nenhum outro homem entre os troianos e os aliados guiará aquele carro; tu, Dólon, hás de glorificar-te com ele para sempre.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:44

Heitor, assim falou e o mandou partir imediatamente, mais ou menos coincidindo com a partida de Ulisses e Diómedes do acampamento dos gregos. Dólon lançou aos ombros um arco e vestiu a pele de um lobo cinzento. Na cabeça, pôs um barrete de pele de doninha e, tendo empunhado um dardo, saiu do acampamento troiano, rumo à praia, caminhando apressadamente pela estrada, mas Ulisses o viu aproximar-se, e disse a Diómedes:

— Olha, vem aí um guerreiro do acampamento troiano. Ou é um espião, ou pretende despojar os cadáveres do campo de batalha. Deixemos que ele avance mais um pouco, depois investiremos contra ele, poderemos capturá-lo ou, se conseguir escapar, ele terá que fugir para a cidade, pois vamos persegui-lo.

Os dois afastaram-se da estrada, entre os cadáveres, deixando que Dólon passasse, sem nada perceber, a passos largos. Quando, porém, estava à distância de um tiro de flecha, puseram-se a persegui-lo. Dólon, ouvindo passos às suas costas, parou, pensando que fossem seus companheiros que estivessem vindo, ou para auxiliá-lo, ou para cancelar sua missão. Porém, à pouca distância, fixando melhor os olhos para aqueles vultos, percebeu que eram inimigos. Sem pensar duas vezes, deitou a correr como uma lebre perseguida pelos galgos, e os dois heróis fizeram o mesmo, afastando o troiano cada vez mais, em direção do acampamento grego. Desesperado, Dólon não percebia que aproximava-se cada vez mais dos inimigos; e Diómedes, dando-se conta que os aqueus poderiam matá-lo antes dele conseguir fazê-lo, correu mais e gritou para o fugitivo:

— Pára, ou te atingirei com a lança, pois não conseguirás te safar!

Com efeito, atirou a lança, mas errou propositadamente o alvo, indo cravar-se no solo depois de passar sobre o ombro direito de Dólon. Este, cheio de espanto, obrigou-se a parar, tremendo de medo; empalideceu ao ver Diómedes aproximar-se. Ulisses alcançou-o, e ambos o agarraram. O troiano teve que implorar:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:44

— Não me tirais a vida, suplico! Levai-me vivo e pagarei o resgate, pois sou rico, e meu pai não hesitará em dar-lhes bronze e ouro, se souber que estou vivo!

Ulisses, sensibilizado, tranquilizou-o:

— Coragem, não penses na Morte, e dize-me apenas a verdade. Aonde pretendias ir, assim sozinho, numa noite como esta, enquanto ainda dormem os outros? Por acaso ias buscar um dos cadáveres, ou despojá-lo, ou então Heitor te enviou para espionar-nos?

Dólon, com as pernas tremendo, respondeu:

— Heitor iludiu meu espírito com fantasias, pois me prometeu dar os cavalos do pelida e seu carro, caso eu saísse para espiar-nos. Eu não pretendia...

Ulisses largou o homem, Diómedes fez o mesmo, na tentativa de acalmá-lo. O herói ítaco, cinicamente, resolveu confortá-lo, para que lhe dessem informações úteis:

— Grandes em verdade são os presentes com que animaste o coração, companheiro! Os cavalos do grande Aquiles. É difícil, porém, para qualquer mortal, dominá-los e dirigi-los, para qualquer um outro além de Aquiles, que foi gerado por mãe imortal. Dize-me, porém, bravo guerreiro, onde deixaste Heitor, quando vieste para aqui? Onde estão suas armas, onde estão seus cavalos? Onde estão os postos de guarda e os leitos dos outros troianos? Que planos estão tramando? Pretendem ficar aqui, perto dos navios, longe de Tróia, agora que venceram os aqueus? Vamos, homem, pára de tremer, e dize a verdade!...

— Não me tirareis a vida?

— Prometo que não levantarei a mão contra ti. Agora dize tudo que queremos saber.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:45

— Vou responder com toda a sinceridade. Heitor, com todos que são seus conselheiros, está deliberando junto do túmulo de Ilos, longe do campo de batalha. Quanto aos guardas pelos quais perguntas, não há quaisquer deles escolhidos para proteger ou guardar o acampamento. Junto de cada fogueira, aqueles que não conseguem dormir ficam acordados e dizem uns aos outros para vigiar. Nossos aliados vindos de muitas terras, como a Trácia, a Lícia, a Meônia, a Cária, estão dormindo, pois confiam aos troianos os deveres de guarda, uma vez que seus filhos e suas esposas estão seguros, longe da guerra.

— Bárbaros, é o que são...

Ulisses, batendo levemente no ombro do troiano, continuou:

— Como dormem eles? Entre os troianos ou separados? Dize-me, para que eu possa saber...

— Zeus me proteja. Responderei francamente, já que me prometeste não levantar a mão contra mim. Perto do mar, estão os cários, que vem das regiões ao sul da Míssia, e os peônios, aqueles que habitam nas terras ao norte de vosso país, a Hélade... Os léleges, os caucônios e os pelasgos os acompanham. Na direção de Timbra, a sorte caiu para os lícios e os impetuosos míssios, também os frígios e os meônios, todos vindos do oriente e do sul de Tróade. Mas, por que me perguntas tudo isto, com tanto detalhe? Se desejas penetrar entre as hostes troianas, há os trácios, na orla, que chegaram há pouco e são os que se acham mais afastados dos outros. Entre eles, acha-se o rei Resos, filho de Eioneus. Seus cavalos são os maiores e mais belos que já vi, mais brancos do que a neve e tão velozes quanto o vento. Seu carro é feito de ouro de e prata, e ele usa uma enorme armadura de ouro, coisa maravilhosa de se ver, tal como nenhum homem jamais usaria mas apenas os deuses. Agora, levai-me par os navios, ou então deixai-me aqui agrilhoado, enquanto fordes verificar se falo a verdade ou não.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:45

Ulisses e Diómedes entreolharam-se, mas o tidida, encarando o troiano com desdém, disse-lhe:

— Covarde... Não acalentes ideia de salvação, ainda que tenhas dito a verdade, agora que caíste em nossas mãos. Se te libertarmos agora, virás mais tarde aos nossos navios, quer para espionar, quer para fazer guerra contra nós.

— Mas ele me prometeu não levantar a mão contra mim, se eu revelasse...

— Não a dele, mas a minha mão se incumbirá de evitar que continues sendo um perigo para nós.

Dólon, deixando verter lágrimas dos olhos, sem mais nada dizer, estendeu os braços para acariciar a barba de Diómedes, em sinal de súplica. Mas Diómedes, friamente, cortou-lhe o pescoço, e a cabeça do desgraçado rolou pelo chão. Imediatamente, tiraram o barrete de pele de doninha da cabeça decepada, a pele de lobo, e apoderaram-se também de seu arco e sua lança. Ulisses, erguendo os despojos ao Céu, orou:

— Aceita isto, ó deusa Atena, e regozija-te. A ti, antes de todos os Imortais no Olimpo, faremos oferendas, pois jamais nos abandona. Agora, traze-nos os cavalos e os leitos dos guerreiros trácios.

Erguendo ainda mais, em silêncio, os despojos, ofereceu-os à deusa. A seguir, colocou-os num tamariz e, perto dele, pôs um sinal, muito fácil de ser visto, traçando juncos e brotos de tamariz, para que reconhecessem o lugar, quando regressassem. Então, puseram-se a caminhar, rumo à hoste dos guerreiros trácios, acampados no caminho que dava para o acampamento troiano. Viram que os trácios dormiam, vencidos pelo cansaço, e suas armas estavam em um lado, bem arrumados em três fileiras, e junto de cada homem havia uma parelha de cavalos. Resos dormia no meio deles e, ao seu lado, seus cavalos amarrados pelas rédeas às rodas do carro. Ulisses viu-o em primeiro lugar e apontou-o a Diómedes.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:47

— Eis o teu homem, Diómedes, e eis os cavalos sobre os quais nos falou o troiano que matamos. Vem, põe em ação tua grande força. Não deves ficar com as armas inúteis: solta os cavalos, ou mata o homem e deixa os cavalos por minha conta.

Atena insuflou vigor em Diómedes, e ele matou em todas as direções. Um gemido espantoso escapava dos lábios de cada homem ferido pela espada do tidida, e a terra avermelhou-se de sangue. Matou doze trácios, sem causar tumulto. Ulisses, ardilosamente, por sua vez, parava junto de cada um e agarrava o corpo pelos pés e o arrastava para um lado, a fim de que os cavalos pudessem passar facilmente, sem se espantar caso pisassem nos cadáveres. Quando, porém, Diómedes chegou junto ao rei, este seria o décimo-terceiro a sucumbir. E o seu sono foi interrompido pelo último suspiro. Entrementes, Ulisses desamarrou os cavalos, prendeu suas rédeas uma na outra e levou-os para fora da hoste, batendo-lhes com o arco. Assobiou, então, fazendo sinal a Diómedes; este tentava ainda apoderar-se de alguma coisa mais valiosa que pertencesse a Resos. Diómedes tentou puxar o valioso carro, mas, indeciso ainda, desistiu; pensou até em continuar a abater outros trácios, que um e outro pareciam querer acordar, mas interveio Atena:

— Pensa em teu regresso aos navios, filho de Tideus, para que não voltes fugindo e algum outro deus acorde teus inimigos.

Diómedes percebeu ser Atena e, sem demora, montou um dos cavalos. Ulisses chicoteou-os com o arco, e eles fugiram.

Apolo, porém, que a tudo observava, revoltado pela maneira pela qual a deusa favorecia o tidida, irado contra ela, desceu ao acampamento e foi despertar Hipocóon, o conselheiro trácio, amigo e primo de Resos. Acordando de súbito e notando a ausência dos cavalos, ouviu o tropel e começou a gritar:

— Resos! Resos!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:47

Os trácios assustaram-se e todos levantaram-se, e foram pegar suas armas. Foi então que viram muitos cadáveres estendidos, semi-ocultos e espalhados, e, entre eles, o seu rei. Com aquela escuridão, não ousaram perseguir os homicidas.

Ao chegarem ao lugar onde haviam matado o espião de Heitor, Ulisses deteve os cavalos e Diómedes saltou ao chão e, depois de ter colocado nas mãos de Ulisses a ensangüentada armadura, tornou a montar. Incitou os cavalos, que correram até chegar nas proximidades dos navios.

Nestor foi o primeiro a ouvir o tropel dos cavalos e gritou:

— Amigos, chefes e conselheiros, falarei falsamente ou revelarei a verdade? O tropel de velozes cavalos chega-me aos ouvidos. Devem ser Ulisses e o valoroso Diómedes voltando do acampamento troiano, trazendo cavalos. Receio que os mais bravos dos argivos tenham sofrido algo no meio dos troianos.

Mal terminara de falar, os dois chegara,. Desceram, e seus felizes camaradas os cumprimentaram, com apertos de mão, tapas nas costas e palavras calorosas. Outros ajudaram a parar os cavalos e ajuntá-los. Nestor saudou Ulisses:

— Vem, dize-me, Ulisses, como tomaste estes cavalos, penetrando nas hostes dos troianos, ou algum deus te encontrou e te deu de presente? São maravilhosos como os raios do Sol. Tenho sempre enfrentado os troianos, não ficando junto dos navios apesar de ser um guerreiro já velho, mas jamais vi ou tive notícia de cavalos iguais a estes. Creio que algum deus vos encontrou, pois Zeus ama-vos ambos, assim como a filha Atena.

Ora, Nestor, um deus, se quisesse, poderia dar-nos cavalos ainda melhores que estes, pois os deuses são poderosíssimos, mas estes cavalos sobre os quais indagas são trácios, recentemente chegados. Seu dono foi morto pelo bravo Diómedes e, com ele, doze de seus melhores companheiros. Um outro homem, um espião, foi apanhado por nós perto daqui, mandado por Heitor e outros nobres troianos para observar o nosso acampamento.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:48

Tendo dito estas palavras, guiou os cavalos através do fosso, exultante, e o resto dos aqueus acompanhou-o, rejubilando-se, a fim de saberem mais detalhes. Chegando à tenda de Diómedes, filho de Tideus, amarraram os cavalos com cordas, junto da manjedoura, onde estavam os demais cavalos de seu dono. Ulisses depôs junto à popa do navio os sangrentos despojos de Dólon, até que preparassem uma oferenda a Atena. Em seguida, os dois entraram no mar e lavaram o suor do pescoço, dos braços, das pernas e das coxas. Depois, voltaram para as tendas, onde se lavaram por completo, em banheiras de pedra polida. A seguir, suas escravas ungiram-nos com óleo, sentaram-se para jantar e, tirando de uma cratera transbordante o doce vinho, derramaram-no em libação à deusa Atena, protetora dos aqueus.

Neste mesmo dia, chegava em Tróia uma frota aliada, vinda de Cábesos. Era Otrioneus que desembarcava nas praias de Tróade. Vinha para oferecer seus serviços ao rei Príamos, prometendo-lhe expulsar os gregos do país, mesmo contra sua vontade, se Príamos lhe desse a bela e virgem Cassandra em casamento, tanto que não trouxera presentes de núpcias. O velho rei consentiu e prometeu dá-la em casamento, desde que cumprisse Otrioneus o seu feito. Este, despedindo-se, foi descansar da viagem, pois o dia seguinte prometia muito labor.

Também, na manhã deste mesmo dia, já havia chegado da Ascânia, um poderoso exército de frígios comandados pelos irmãos Ascânios e Móris, filhos de Hipótion.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:48

SEGUNDA DERROTA DOS GREGOS

Eos, a Aurora, levantou-se de seu leito, junto ao senhor Títonos, para levar a luz aos Imortais e aos homens, e Zeus mandou a violenta Éris aos navios dos aqueus, com o terrível augúrio da guerra em suas mãos. Ela parou junto ao negro navio de Ulisses, que ficava no centro, de maneira a poder gritar para ambos os lados, quer para as tendas de Ájax, quer para as de Aquiles, pois estes dois acampamentos guardavam as filas dos belos navios nas duas extremidades, confiantes em sua bravura e na força de seus braços. De pé naquele lugar, a deusa lançou um grito alto e terrível com voz estentórea, e no coração de cada aqueu elevou indomável valor para a guerra e para a luta corporal. Sem demora, a guerra lhes pareceu mais doce que viajar nos côncavos navios de regresso à Pátria.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:49

Agamémnon ordenou, pela boca de Estentor, aos argivos, que se armassem, e ele próprio envergou o reluzente bronze. Primeiro, colocou nas pernas as belas, com fechos de prata nos tornozelos. Depois, pôs sobre o peito uma couraça que Cíniras lhe dera de presente, ao saber, em Cipros, que os aqueus iam partir em seus navios para Tróia. Deu-lhe, então, a couraça, como prova de deferência ao rei, já que os hititas eram mesmo seus inimigos e apoiavam a cidade do rei Príamos. Tinha dez placas de esmalte azul-escuro, doze de ouro e doze de estanho. Três serpentes de esmalte azul-escuro subiam ao pescoço, de cada lado, como o arco-íris que Zeus lança nas nuvens. Em seguida, Agamémnon pendurou sua espada nos ombros. Tinha o punho de ouro reluzente, ao passo que a bainha era de prata, com anéis de ouro. Pegou seu valoroso escudo, da altura do corpo; tinha, em torno, dez círculos de bronze e, por cima, vinte tachões de chumbo, brancos, e, no meio, um de esmalte azul-escuro. A terrível face da Górgona, com pavoroso olhar, estava nele representado, tendo ao lado o Terror e a Derrota. A correia era de prata e nela estava enrolada uma serpente de esmalte azul, que tinha três cabeças contorcidas saindo do pescoço. Na cabeça, ele colocou um elmo com duplo penacho de crina de cavalo e quatro cristas, e o penacho balançava-se ameaçadoramente por cima dele. Pegou duas pesadas lanças, de aguçadas pontas de bronze. Então, Atena e Héra travejaram em honra do rei de Micenas.

Cada herói, então, mandou o condutor de seu carro manter os cavalos em boa ordem, junto à beira do fosso, mas eles próprios avançaram a pé, todos armados, e gritos incessantes elevaram-se na madrugada. Os heróis estenderam-se perto do fosso, muito antes dos carros. O filho de Cronos elevou entre eles um fragor sinistro e lançou do alto éter uma neblina sangrenta, pois estava na iminência de mandar muitas cabeças poderosas para a casa de Hades.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:49

Os troianos concentraram-se no terreno mais elevado do outro lado da planície, em torno do grande Heitor e do admirável Polídamas, e de Enéias, que era reverenciado pelo povo troiano como um semi-deus. Estavam também, às ordens desses, Pólibos, Agenor e o jovem Acamas, filhos de Antenor. E Heitor, nas fileiras da vanguarda, sustentava o escudo. Logo, começou a percorrer as linhas de combate a fim de ordená-las.

Não tardaram, com um sinal de Heitor, que gregos e troianos se atirassem uns contra os outros. Os combatentes se igualavam e investiam fortemente no campo de batalha. Éris, a Discórdia, regozijava-se ao ver aquele cenário de morte, pois apenas ela, entre os deuses, estava ao lado dos combatentes: os demais deuses não se achavam com eles, e sim sentados, à vontade, nos vales do Olimpo. Todos censuravam Zeus por querer dar a glória aos troianos, mas o filho de Cronos não se preocupava com eles: sentava-se separado dos outros, exultante em sua glória, contemplando a cidade dos teucros e os navios dos dânaos, o brilho do bronze, os que matavam e os que morriam.
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A Guerra de Tróia - Página 17 Empty Re: A Guerra de Tróia

Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:50

Enquanto durou a manhã, houveram muitos que caíram, mas ainda não haviam perecido nenhum herói de renome, até que a ansiedade e a fome começou a abalar e a influenciar pesadamente em cada um deles. Agamémnon foi o primeiro a fazê-lo: matou o príncipe Biánor. Oíleo, áuriga e escudeiro, pulou do carro e enfrentou o átrida, mas, quando avançava, Agamémnon atravessou-lhe a testa com a lança e a viseira, embora de pesado bronze, não deteve a lança, que a atravessou e atravessou o osso, e os miolos se dispersaram, e ele morreu. Agamémnon, rei dos homens, deixou-os ali despojados de suas armaduras e com os peitos à mostra. Investiu, então, para matar Ântifos e seu áuriga Ísos, ambos filhos de Príamos, o primeiro legítimo e o segundo bastardo. Uma vez, por sorte, foram poupados por Aquiles, aos pés do Ida. Porém, Agamémnon feriu Ísos no peito com sua lança e atingiu Ântifos junto do ouvido, com a espada, e derrubou-o para fora do carro. Sem demora, despojou-os de suas belas armaduras, e logo reconheceu-os, pois já os vira antes perto dos navios, quando Aquiles os havia trazido do Ida. E os troianos, mediante a chacina, fugiram da presença dos argivos.

Então, o poderoso Agamémnon apanhou num carro o guerreiro Pisandros e o resoluto Hipólocos, ambos filhos do prudente Antímacos, que, na esperança de ouro e de brilhantes presentes por parte de Páris Alexandre, o fez negar-se a devolver Helena a Menelaus. Os dois troianos tentaram segurar as rédeas dos cavalos, que lhes haviam escapado das mãos, e os corcéis estavam tomados de pânico. O filho de Atreus ergueu-se diante deles, como um leão, e, do carro, eles imploraram:

— Leva-nos vivos, filho de Atreus, e aceita um resgate por nossas vidas. Muitos tesouros existem em nossa casa: bronze, ouro, o ferro dos hititas... o que quiseres, nosso pai Antímacos pagará a ti, se souber que estamos vivos!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:50

— Se em verdade sois filhos de Antímacos, então ireis pagar caro pelo imperdoável ultraje de vosso pai, que incitou os troianos a matar meu irmão Menelaus, que viera como mensageiro, e não deixá-lo regressar.

Os dois desgraçados troianos arregalaram os olhos de espanto e surpresa, e a lança argiva foi cravar-se no peito de Pisandros, que caiu ao chão. Hipólocos correu, mas Agamémnon alcançou-o e cortou-lhe as mãos com a espada; em seguida, decepou-lhe o pescoço. Devido à covardia de Pisandros e Hipólocos, o rei decidiu abandonar seus corpos e não teve o trabalho de despojá-los de suas armaduras. Atirou-se, então, entre os guerreiros troianos e continuou a matá-los, um após outro.

Ora, Zeus havia conduzido Heitor para fora das armas, da poeira, da matança e do clamor da batalha, mas Agamémnon, ainda sedento de sangue, investiu ainda mais, chamando impacientemente os seus gregos. Passou pelo túmulo de Ilo, no meio da planície, passou pela figueira, a única daquele lugar, perseguindo os troianos, na direção da cidade, sempre gritando para os seus homens. Quando, porém, os troianos chegaram às portas escéias e ao carvalho, se detiveram, esperando chegar os outros que fugiam. Os gregos, comandados por Agamémnon, estavam prestes a encurralar os troianos, quando Zeus desceu do Céu e sentou-se no pico do Ida, empunhando o raio. E ordenou a Íris:

— Vai, veloz Íris, e dá uma ordem a Heitor. Enquanto ele vir Agamémnon investindo na vanguarda, matando os teucros, que ele se retire e ordene ao resto dos homens que lute valorosamente com o inimigo. Quando, porém, Agamémnon descer de seu carro, ferido por alguma lança ou por alguma seta, então concederei ao grande Heitor o poder de matar até alcançar os navios dos aqueus, até o Sol se por e a Noite chegar.

A deusa Íris obedeceu e desceu do monte Ida à sagrada Ílion. Encontrou Heitor de pé no meio dos cavalos e dos bem construídos carros. Então, aproximando-se dele, disse-lhe:
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:51

— Heitor, filho de Príamos, semelhante ao rei dos deuses, o pai Zeus me manda dizer-te que, enquanto vires Agamémnon lutando entre os primeiros, matando teus fiéis guerreiros, deves retirar-te e ordenar aos demais que lutem valorosamente contra o inimigo. Quando, porém, vir Agamémnon ferido e inútil no combate, então Zeus conceder-te-á poder de matares tantos argivos até alcançares seus navios, ainda antes do Sol se por e a Noite chegar.

Heitor, ao ver Íris desaparecer, desceu do carro e caminhou apressadamente entre os guerreiros, empunhando a lança e incitando os seus ao combate. Assim, os troianos concentraram-se e enfrentaram os aqueus, e estes, por seu lado, fortaleceram suas linhas, tendo Agamémnon entre os primeiros, que passou ainda mais a atacar com terrível fúria as fileiras dos troianos e dos seus aliados. Ifídamas, bravo e valoroso, filho de Antenor, que havia sido criado na fértil Trácia, na casa de Císseo, teve o triste fado de enfrentá-lo. O rei dos argivos atirou sua lança por primeiro, mas acabou errando. Ifídamas aproveitou e, com sua lança, atingiu-o no cinto, por baixo da couraça. O troiano tentou ainda empurrar a lança ainda mais, mas a arma não havia perfurado o cinto, pois havia se chocado com a prata, e curvou-se. Agamémnon agarrou a lança e puxou-a com força, arrancando-a das mãos do filho de Antenor. Em troca, atravessou o pescoço de Ifídamas com a espada, que fraquejou e mordeu o pó da terra. Agamémnon, agachando-se, despojou-o e levou sua armadura para o meio das hostes dos aqueus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:51

Foi assim que o filho mais velho de Antenor, Cóon, contemplou de longe o cadáver de seu irmão Ifídamas. Seus olhos velaram-se com profundo pesar. Aproximando-se de um lado, pegou Agamémnon desprevenido, roçando-lhe o braço com sua lança, abaixo do cotovelo, e atravessou-o, arrancando-lhe um grito de dor. Agamémnon estremeceu, mas ainda assim não abandonou o campo de batalha, mas investiu contra Cóon, ameaçando-o com a lança. Cóon tratou de arrastar o corpo de Ifídamas, agarrando-o pelo pé. Vendo que Agamémnon o ameaçava, começou a gritar para os seus amigos e chamá-los para auxiliá-lo. Mas Agamémnon feriu-o por baixo de seu escudo, e Cóon teve que largar o cadáver, pois seus membros fraquejaram. E o átrida, louco e impiedoso, aproveitou o momento e cortou a cabeça de Ifídamas. No mesmo instante, Cóon, cheio de dor, não suportou o ferimento e caiu por terra. Ali, às mãos do rei dos argivos, os filhos de Antenor cumpriram seu negro destino e passaram à casa de Hades.

Mesmo ferido, Agamémnon avançou contra outros troianos; pôs o escudo nas costas e a espada na bainha e começou a lançar pedras enormes contra seus oponentes, enquanto o sangue quente escorria do ferimento. Mas, quando o ferimento secou e o sangue estancou, uma dor aguda o dominou, arrancando-lhe gemidos. Teve que recuar, subir ao carro e ordenar ao seu áuriga que o levasse aos navios, pois tinha o coração dilacerado. E gritou:

— Amigos, mantende a luta longe dos navios, já que Zeus não me permitiu combater contra os troianos durante todo o dia.

E o condutor conduziu o carro para os navios, envolto numa nuvem de pó, levando o rei ferido para fora da batalha. Foi aí que Heitor viu Agamémnon partir, e convocou os seus homens:

— Troianos e lícios, dárdanos e trácios, que combateis valentemente, sede homens dignos de Áres e relembrai de vosso valor. O melhor dos aqueus partiu, e Zeus, que governa do Ida, deu-me grande glória. Conduzi os cavalos contra os gregos e empurrai seus hostes para seus navios!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:52

Cada troiano e cada aliado elevou o valor e o espírito guerreiro. Heitor posicionou-se à frente dos seus e mergulhou na batalha. O filho de Príamos atacou e matou os chefes aqueus Asaeus, Autónous, Ópitos, o valoroso Dolopianos, filho de Clítios, Oféltios, Agelaus, Ésinos, Óros e o impetuoso Hipónous. E ainda matou outros tantos guerreiros gregos de menor importância.

Vendo a carnificina entre as hostes acaias, Ulisses chamou o filho de Tideus:

— Diómedes, meu amigo, que nos aconteceu que esquecemos nosso valor? Vem comigo e fica do meu lado, pois estaremos perdidos se Heitor chegar a tomar nossos navios!

— Certamente aqui ficarei e resistirei, mas de pouco adiantará, eis que Zeus tenciona dar mais força aos troianos do que a nós, Ulisses.

Diómedes, então, atirou um dardo contra o lado esquerdo do peito do príncipe Timbraeus, fazendo-o cair de seu carro no pó da terra. Por sua vez, Ulisses abateu Mólion, seu escudeiro, que também caiu do carro, já sem vida. Os dois corpos foram abandonados. Os gregos mais próximos, vendo que Ulisses e Diómedes destacavam-se, reanimaram-se, e os dois heróis continuaram a matança. Atingiram um carro e dois dos melhores guerreiros entre os troianos, os dois filhos de Mérops, um adivinho de Percote. Mérops, prevendo a morte de seus filhos, proibira-os de marcharem para a guerra, mas eles, desobedientes, encontraram o Destino, e a negra Morte os devorou. Diómedes tomou suas armas. E Ulisses foi para cima de Hipódamos e Hipeírocos, matando-os.

Então, Zeus, olhando do alto do Ida, apertou as linhas de batalha de ambos os lados. Diómedes feriu o lanceiro Agástrofos, filho de Péon, na junta do quadril; este avançou a pé e foi presa fácil do tidida. Heitor viu os destacados heróis gregos e avançou contra eles, com um grito. Ao vê-lo, Diómedes estremeceu e disse a Ulisses:

— Maldição! Heitor avança contra nós. Paremos e tratemos de nos defender, se não quisermos morrer!
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:53

Diómedes atirou a lança contra Heitor, que foi bater o bronze no bronze do elmo do herói, salvando-lhe a vida, pois houvera sido um presente do deus Apolo. Heitor, atordoado, teve que recuar e foi proteger-se entre seus troianos. Saiu cambaleante do carro e caiu de joelhos e apoiou-se no chão. Escureceu-se-lhe a visão e pensou ser o fim. Enquanto isso, Diómedes corria para pegar sua lança. Ao recuperá-la, viu que Heitor recobrava as forças.

— Ah, cão maldito, escapaste de novo da Morte, embora a Perdição tenha estado próxima de ti. Apolo salvou-te, pois sem dúvida dirigiste uma prece a ele. Mas hei de tirar-te a vida, se algum também me ajudar, mais cedo ou mais tarde. Não conseguirei terminar contigo, porque tu estás protegido, por isso perseguirei outros, seja quem for que eu possa encontrar.

Encolerizado, Diómedes voltou-se contra Agástrofos, que estava ferido, e matou-o. Em seguida, tirou-lhe as armas.

Páris Alexandre, escondido atrás de uma coluna do túmulo de Ilo, apontou o arco contra o filho de Tideus. Este já estava retirando a couraça do cadáver de Agástrofos de seu peito e o escudo de seus ombros, quando a flecha certeira lhe atravessou o pé, arrancando-lhe um forte gemido. Páris riu jovialmente, enquanto levantava-se do lugar onde estava, e gritou, com petulância ao tidida:

— Ora, vede, é o grande Diómedes, ferido pela seta certeira de Alexandre...! Oxalá tivesse eu acertado em teu baixo-ventre e te tirado a vida. Então os troianos ficariam livres desse mal, em vez de fugirem em tua presença como cabras diante de um leão.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:53

— Cala-te, mulherengo! Persegues as mulheres à vontade, mas, se quisesses enfrentar um homem frente a frente, teu arco e tuas setas de nada te valeriam. Te gabas de haver-me arranhado o pé, atacando-me pelas costas? Não me preocupo mais do que me preocuparia se uma mulher ou uma criança tivesse me ferido. Cega é a seta de um homem sem dignidade ou valor, ao passo que uma arma em minha mão deixa os inimigos mortos sem demora: suas esposas ficam viúvas e seus filhos órfãos; os inimigos caem, manchando a terra de sangue e, em torno deles, ficam mais aves de rapina que mulheres!

Páris sentiu-se ofendido e ameaçou atacá-lo novamente. Ulisses, acudindo, colocou-se entre eles para proteger o amigo, enquanto este pôde arrancar a seta do pé que lhe doía muito. Ao retirar a seta, uma dor cruciante trespassou-lhe as carnes. Pôde assim correr, subir no carro e dar ordem ao seu amigo e áuriga Estênelos de levá-lo depressa aos navios.

Ulisses ficou sozinho e nenhum dos seus ficou ao seu lado, pois o medo dominara todos. Perturbado, pensou:

— E agora, que acontecerá comigo? Será uma grande desgraça fugir de medo dos teucros, mas será ainda pior se for apanhado sozinho: Zeus me deixou sozinho. Por que diz isto minha alma? Sei que os covardes fogem e os valentes permanecem firmes, mesmo que seja ferido.

Enquanto debatia-se em dúvidas e insegurança, os troianos avançaram, e cercaram-no. Ulisses, sem mais refletir, atirou a lança contra Deiópites, no ombro, ferindo-o somente. Depois, matou Tóon e Ênomos. Atingiu Quersídamas, com uma lança, abaixo do umbigo, quando avançava em seu carro, e ele caiu no pó da terra com a mão contraída. Imediatamente, apanhando outra lança, feriu Cárops, filho de Hípasos. Seu irmão, Sócos, veio em seu auxílio e, parando próximo a Ulisses, disse-lhe:

— Ulisses, grandemente prezado pela sagacidade e pelos feitos, desta vez ou tu te gabarás de ter imolado os filhos de Hípasos ou perderás a vida na ponta de minha lança.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:54

E investiu contra o herói ítaco, atirando a lança contra seu escudo. A lança atravessou-o indo cravar-se na couraça, cortando-lhe a pele das costelas, mas a deusa Atena não permitiu que fossem atingidos seus órgãos vitais. Ulisses, gritando de dor, recuou.

— Desgraçado troiano, a destruição cairá sobre ti. Me impediste de combater, mas afirmo que a Morte e o negro Destino te alcançarão aqui e agora, e pela minha lança; isto dar-me-á glória e tua alma será lançada ao Hades!

Sócos, percebendo o significado daquelas palavras ameaçadoras, largou as armas e começou a fugir, mas Ulisses, adquirindo forças, mergulhou a lança em suas costas, que atravessou-lhe o peito. O herói de Ítaca, apressando-se, exultou sobre o seu corpo:

— Pobre troiano, o quinhão da Morte te alcançou primeiro, e não pudeste escapar, nem teu pai e tua mãe fecharão teus olhos, mas as aves de rapina te despedaçarão. Mas eu, se morrer, serei sepultado pelo meu povo.

Ulisses arrancou de sua carne e de seu escudo a lança de Sócos. Ao retirar, o sangue escorreu e seu espírito atormentou-se, quase querendo desprender-se de seu corpo. E os troianos mais próximos, ao verem seu sangue jorrar, elevaram um grito de júbilo e avançaram contra ele. Ulisses recuou e começou a chamar seus companheiros. Três vezes chamou e três vezes Menelaus ouviu seu grito. Menelaus avisou Ájax, filho de Télamon:

— Ájax! Ouvi o grito de Ulisses; parece em perigo! Vamos socorrê-lo, pois, bravo como é, seria uma grande perda se o perdêssemos!

Ájax e Menelaus correram à procura de Ulisses. Encontraram-no encurralado e muito ferido, defendendo-se com arremessos de lanças que encontrava pelo chão. Ájax, mais veloz, chegou primeiro e protegeu o amigo com o escudo. Os troianos, surpresos, assustaram-se e dispersaram-se. Menelaus agarrou Ulisses pelo braço e afastou-o da confusão, até que seu escudeiro aproximou o carro para assim retirá-lo do campo de batalha.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:54

O gigante Ájax, louco pela fúria, avançou bravamente contra os troianos e matou Dóriclos, um filho bastardo do rei Príamos, e depois feriu sucessivamente Pândocos, Lisandros, Pírasos e Pilartes. Ájax não distinguia seus inimigos, nem despojava-os de suas armaduras. Matava homens e cavalos. Nesse momento, Heitor estava combatendo à esquerda das hostes, perto das margens do rio Escamandros, perante os exércitos de Nestor e Idomeneus. Muitos corpos boiavam no leito do rio. E neste tempo também Páris atingiu o ombro direito de Macáon, filho de Asclépios, com uma seta de três harpas. Idomeneus, avisado disso, preveniu Nestor:

— Nestor, filho de Neleus, depressa, sobe em teu carro e faze com que Macáon suba ao teu lado, e dirige teus cavalos para os navios. Um médico como ele vale muitos outros homens para curá-los e cuidar de suas feridas.

E Nestor, mais do que depressa, tomou as rédeas do carro e correu para apanhar Macáon. Este, ferido, subiu ao seu lado e ambos fugiram o mais depressa possível. Cebríones, caminhando ao lado de Heitor, avisou-o:

— Heitor, lutamos aqui vitoriosamente contra os gregos, mas outros troianos estão perecendo num lugar perto daqui. Ájax, o filho do famoso Télamon, faz um grande estrago: sei muito bem que é ele, pois traz consigo um enorme escudo nos ombros e não há outro guerreiro tão alto quanto ele. Vamos, conduzamos nosso carro e nossos cavalos para lá, auxiliemos nossos amigos contra ele, onde estão matando uns aos outros, e de onde partem gritos incessantes...!

Assim falando, Heitor ordenou que lhe dessem um carro, e, junto com Cebríones, subiram no carro. Cebríones, tomando as rédeas, chicoteou os cavalos, que os levaram entre os troianos e os aqueus, esmagando escudos e cadáveres. E, pelo caminho, a tiros de lanças, derrubava cada grego que se colocava em sua frente, mas sempre evitando combate com Ájax, o baluarte dos aqueus.
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Mensagem por Hermes Trismegistus 3/3/2021, 02:56

De súbito, o senhor dos deuses infundiu temor na alma de Ájax, o qual, vendo Heitor, pôs nas costas o escudo de sete couros de boi, e recuou, voltando-se às vezes para enfrentar algum outro que o desafiasse. Ájax estava assaz contrariado, pois temia pelos navios dos aqueus, e teve que bater em retirada. Isto provocou confiança nos troianos, que o perseguiram, atirando lanças contra seu escudo. Algumas lanças chegaram a atravessar o escudo do grande Ájax.

Eurípilos, filho de Eusámnon, o viu perseguido; foi colocar-se ao seu lado e investiu contra Fáusios, filho de Apisáon. Sua lança perfurou-lhe o fígado, abaixo do peito, matando-o. Eurípilos avançou e arrancou-lhe a couraça dos ombros. Páris o viu despojando seu camarada e, sem demora, visou-o com seu arco e atingiu-o na coxa direita com uma seta. A seta quebrou-se, mas feriu gravemente Eurípilos, que teve que recuar e fugir para junto de seus companheiros.

— Amigos, voltai e afastai a Morte impiedosa de Ájax, que está em apuros. Enfrentai o inimigo e ajudai Ájax a impedir que os troianos alcancem os navios!

Os gregos ajuntaram-se em torno de Eurípilos a fim de protegê-lo. Ájax, porém, alcançou-os e, protegido pelos seus, voltou-se contra os agressores.

Entretanto, o velho Nestor ainda seguia com seu carro, levando consigo o ferido Macáon; e passaram diante do acampamento de Aquiles. O chefe dos mirmidões, que estava de pé na popa do seu navio, assistindo à derrota e à fuga dos seus, chamou Pátroclos, que, ouvindo o chamado, saiu da tenda, e, a partir daí, iniciaria seu infortúnio.

— Por que me chamas, Aquiles? O queres de mim?

— Filho de Menoécios, semelhante aos deuses, caro ao meu coração, penso agora que os aqueus cairão aos meus joelhos, em súplica, eis que se encontram numa situação insuportável. Vai, Pátroclos, e pergunta a Nestor quem está trazendo ferido da batalha. Daqui, parece ser Macáon, filho de Asclépios, mas não pude ter certeza, pois os cavalos passaram por mim muito depressa.
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